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O filósofo francês Michel Foucault foi um dos maiores estruturalistas e mais plurais pensadores da

contemporaneidade. Seus escritos ramificam-se para diversas áreas contribuindo imensamente para
a formação de categorias, evidência de estruturas e mecanismos que silenciosamente instalam-se
nas relações sociais atrelada às ações das pessoas na sociedade. Múltiplo, radical e metódico, o
pensador francês teve como epicentro de seus escritos a ontologia do saber-poder,
governamentalidade e ética. Seus trabalhos avisaram todos sobre algo que até então estava em
“estado de dormência”, a forma do controle! Atrelado a isso, um ponto marcante de sua filosofia é a
problematização das estruturas que coagem e acabam encarcerando as pessoas. Dessa forma, a
maioria de seus estudos partiu de uma análise histórica, repleta de achados do tipo documental:
diários, narrações de fatos comuns, principalmente no período clássico, XVI a XVIII. Michel
Foucault não se interessa pela escrita institucionalizada. Dedica-se a tudo que pode escapar a isso, o
discurso anônimo, o discurso do cotidiano, o que dizem os loucos, os operários é esta linguagem
que lhe interessa cada vez mais. (FOUCAULT, 2001 apud THIRY-CHERQUES, 2010) O ambiente
escolar não ficou de fora das anotações realizadas na produção de Foucault. Para ele, a escola é um
ambiente parecido com uma prisão em sua disposição física, seus mecanismos de disciplinarização,
sua organização hierárquica, sua vigilância constante. Essa analogia refere-se ao sistema
penitenciário no contexto apresentado por Foucault, em que as prisões disciplinares tinham por
objetivo a readaptação e integração de “corpos dóceis” à sociedade. (BORGES, 2004) A genealogia
foucaultiana ofereceu um importante modelo teórico para entender o surgimento não apenas da
escola moderna, mas também da prisão, do hospital, manicômio e da fábrica, instituições por
excelência da modernidade. Seguindo as pegadas de Foucault, Gilles Deleuze compreendeu a crise
da sociedade disciplinar como uma crise dos modos de confinamento centrados na prisão, no
hospital, na fábrica, na escola e na família. (CÉSAR, 2010) O filósofo acredita que o objetivo da
disciplina é aumentar as forças do corpo em termos econômicos de utilidade, ao mesmo tempo em
que diminui suas forças em termos políticos de obediência. Interessante que a “criação” dessa nova
anatomia política não é de forma alguma repentina, mas é o resultado de processos pequenos, de
origens diferentes e localizações esparsas que ao se reencontrarem, repetirem-se, reforçam-se
mutuamente e aos poucos surgem como um “método-geral”. (SANCHES, 2013) As utopias
modernas, segundo Bauman (1998 p. 21 apud XAVIER, 2014 p. 03), concordavam que o mundo
perfeito era “um mundo transparente - em que nada de obscuro [...] se colocava no caminho do
olhar; um mundo em que nada estragasse a harmonia; nada ‘fora do lugar’; um mundo sem
‘sujeira’; um mundo sem estranhos” (BAUMAN, 1998, p.43 Educação: Desafios, Perspectivas e
Possibilidades 113 apud XAVIER, 2014 p. 03). O que é possível afirmar é que a discussão da
questão disciplinar causa certo desconforto entre alguns profissionais ditos progressistas, talvez por
estar associado ao autoritarismo, com falta de democracia. (XAVIER, 2014) Nesse sentido, os
dispositivos pedagógicos estão implicados em processos de conhecimento da conduta humana,
tendo em vista melhor administrá-la, viabilizando estratégias de regulação e governo. E, como
comenta Silva (1995 APUD XAVIER, 2003), uma democracia liberal está baseada não em
estratégias puramente externas de controle, mas no pressuposto do autogoverno dos indivíduos. AS
INFLUÊNCIAS SOFRIDAS POR FOUCAULT O filósofo Michel Foucault foi um exímio leitor e
talentoso na releitura de obras filosóficas clássicas. Debruçou-se especialmente em dois filósofos
clássicos: Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Nietzsche (1844-1900). Esse modo de escrita,
investigação e crítica foucaultiana partiram de vários pontos legados por esses filósofos. Cabe
mencionar que as ideias organizadas nesse capítulo pautar-se-ão no intuito de destacar as
influências filosóficas sofridas por Michel Foucault para composição da relação entre saber-poder
das instituições atrelado à historicidade e os limites que compõem os sistemas que controlam as
pessoas. Nietzsche: o legado da historicidade A utilização que Foucault faz do pensamento de
Nietzsche vale-se, naturalmente, da leitura e interpretação de seus textos. Estes têm a finalidade de
obter um modelo a ser convertido em ferramenta de trabalho. (OROPALLO, 2005) Esse
pensamento transparece no trabalho de Foucault no que tange aos estudos dos sintomas e ao
diagnóstico do presente, permitindo-se lançar-se fios ao porvir. Nietzsche teria oferecido a Foucault
um modelo a partir do qual se poderia trabalhar de uma maneira original e pensar historicamente.
Ressalta-se que esse arquétipo parece surgir a partir de uma inversão do “modelo platônico” e à
filosofia ocidental de tradição racionalista, fornecendo, não apenas uma metodologia praticada
através de um trabalho diferencial, como também, uma nova maneira de pensar a história.
(OROPALLO, 2005) O modelo platônico implementa a trajetória dos acontecimentos no âmbito da
historicidade. A consciência da historicidade ocasiona nos trabalhos de Foucault três eixos de
discursos distintos que conceitualmente seriam: reconhecer que está ligada [historicidade] à noção
de absolutamente ao mesmo tempo; pensamento do acontecimento; e uma crítica à problematização
entre prática filosófica e histórica. (REVEL, 2005

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