KOSELLECK Reinhart O Conceito de Historia

Você também pode gostar

Você está na página 1de 114

I

! Coleçã o
HISTÓRIA & HISTORIOGRAFIA
v
S? Coordenação
I Elí ana de Freí fos Dutra
%.
V

s
Reinhart Koselleck
! Christian Meier
I Horst Günther
\

I
Odilo Engels
; •

O conceito de História

Traduçã o
:•
.
Rene E Gertz

!
:
Revis ã o técnica
Sérgio da Mata

aut ê ntica
-
^; ^%>: ^ ^
v -V/ :: ^ v: ?:V- - > :
v
.... . •

--
. . *
,
l
í ;

V- L

V; j /: ?.;
^
'

^ :
'
:
:?
; •;• \ .y:Jvj \\¿rto ;;;::¿:|f .>:;.;; >;:¿>: =:. v
• • •
>

:/ -y : ? y^ .

975. Klett Cot ú


ô bft; Stuttgart
- > ^
TG;Cotta'sche Ouch handlung ^ •

*• NOTA DO TRADUTOR
V..: r .;
ftschfolgéryGr
^^
'

cU
- i

j
* *
:
' ’
* ' '

W 0rV M0: i-:.iMsM v . . .. '

René R. Gertz*
V . i‘. s Y»iw »V. ; V; .: ;.> . ' > \ " .
^ ^^ ^

? s --: ' - '
>: : > ' | - -

* » . * • •\ : • • •

¥?W& ¥&<àÒRÒWAt

áRÁ OA COIE ÇÀ O HISTÓ RIA f HISTORIOGRAFIA CAPA *
1
Ètiariç cfé FrèitâS Dutra Teco de Souza .1
• '; - •••;’•- •
' •
• • •; .- - . . .
'

(Sobre imagem de Chaosdna)


:- .:': iv : íri: TT íTISA
Jvjvgv ^AôAftWGMAC
írtWAi

V Ç&<bichte, Historie
;

TftAOUÇÀO
.
DIAGRAMAçâO
Conrado Esteves 1 Este livro apresenta a tradução do verbete “ Geschichte, Historie”
René E Gertz
REVIS ÃO TÉCNICA f D £ TRADUÇÃ O
fitví sAo
Di!a Bragança de Mendonça
da obra Geschichtliche Grmdbegrijfe: historisches Lexikon ztirpolitisch -
Sé/g/o o'a Mata EOfTOPA RESPONSÁVEL sozialen Spmche in Deutschland, editado por Otto Brunner, Werner
Ra fan a Mac Conze e Reinhart Koselleck, e publicado pela editora Kiett Cotta, -
de Stuttgait /Alemanha, em 1975 (volume 2, p. 593-717). Na re-
produ ção dos nomes pró prios da Antiguidade e da Idade Média ,
Reviwdo conforme o Acordo Ortográ fico da Língua Portuguesa de 1930,
em vigor no Brasil desde Janeiro de 2009. fez-se um aportuguesamento na medida em que se constatou que
Todos os direitos reservados pela Aut ê ntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduada, essa versã o é corrente entre historiadores de fala portuguesa espe-
seja por meios mecá nicos, efetròrfcos, seja via có pia xerográ f íca, sem a autoriza çã o prévia
da Editora. cializados no respectivo tema. Quando nao foi possível encontrar
AUTÊNTICA EDITORA LTDA. referências a uma versão aportuguesada, os nomes foram mantidos
na forma em que se encontram no original alemão. Nas referências
Belo Horizonte
Rua Aimorés, 981, 8® andar . Funcioná rios
30140 071 . Belo Horizonte . MG
S ã o Paulo
.
Av Paulista, 2.073 . Conjunto Nacional
! bibliográ ficas, mantiveram-se os nomes dos autores e das obras na
*

Te!.: (55 31 ) 3214 5700


. .
Morsa 1 23° andar Conj. 2301 . Cerquelra César forma em que se encontram no original alem ã o, porque nao foi
-
01311 940 . Sã o Paulo SP .
Televendas; 0 Q 00 283 13 22
.
Tel í (55 11) 3034 4468 .? possí vel realizar uma pesquisa para apresentar eventuais publica çõ es
www.autentkaeditora.com . br com traduções para o portugu ês. O sistema alem ão de referencia çã o
bibliográfica é diferente do brasileiro, nã o citando, via de regra , as
editoras que publicaram os respectivos textos, restringindo-se ao
Dados Internacionais de Catalogação na Publica ção (CIP) local de ediçã o. També m nã o foi possí vel sanar essa lacuna.
——
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
— -— — — .— . - —
O conceito de História / Reinhart Koselleck . .(et af . J ; tradu çã o Ren é
-
E. Gertz. Selo Horizonte : Autêntica Editora, 2013 (Cole çã o Hist ó ria )
Duas pessoas foram fundamentais na realizaçã o desta tradu-
ção: Temístocles Amé rico Corrê a Cezar ( UFRGS) e Sérgio da
e Historiografia , 10) Mata (UFOP). O primeiro por ter insistido durante anos para que
Outros autores: Christian Meier, Horst G ünther, Odifo Engeís a tradução fosse feita ; o. segundo, por ter feito uma minuciosa e
Título original: Geschichte, historie . enloquecedora revisão. Se o texto na versã o aqui apresentada possui
ISBN 978*85 8217-150 9 * *
algum mérito, ambos s ão correspons á veis. Pelos erros, o tradutor,
-
1. Conceitos 2. História Filosofia 3. História - Teoria I. Koselieck,
Reinhart. II. Meier, Christian . III . G ü nther, Horst. IV. Engels, Odilo. V. Série.
evidentemente, responde sozinho,

13 06383
*
-
CDD 901 * René Getlx h doutor cm Ciê ncia Política pela Frcie University Berlin (1980), onde tamb é m fez
índices para catá logo sistemá tico: -
cstigto de p ó$-doutorado (1995), Professor titular na Pontificia Universidade Cat ólica do Rio
1. História : Filosofia 901 -
Grande do $ul ( PUCRS) e prolesíor assodado (aposentado) da UFRGS, é organizador ô tradutor
dos voluntes A nova historiografia afemã (UPRGS, 1987), Max Weber & KartMarx (Hucttec, 1997)
e Htuorí cgnifia alemã p famuro: experiências t perspectivas ( UPF/ EDUNISC, 2007).
'
1
i;
3
S
SUMÁRIO
I

-L-

!
i
i
$
I Prefácio
5:
Arthur Alfaix Assis
è Sérgio do Molo ^
i
O CONCEITO DE HISTÓRIA

í
* I. Introdução 37

I II. Antiguidade 41
í .
1 Terminologia 41
;;

ti 2, Conceito de historia e concep ções de "História" 49


V
HL Compreensã o do conceito na Idade Mé dia 63
I s 1. Sobre o significado das palavras
1V " historia" e " res gesta" 63
\y 2. A escrita da História, sua classificação e
o horizonte em que ela é experimentada óó
3
.
3 Lugar e função da Historie na rede do saber. 80

I IV. Pensamento histórico no inicio da Idade Moderna 85

Ii 1. Pressupostos
2. Darite e o Humanismo
.
3 O século XVI
85
88
92
4. O desafio da nova ciência 101
'

? 5. A respeito da altera ção no topos


de "Historia" e " Geschichte 109

1
I
1i
V. A configuração do moderno conceito de História
1.0 percurso histórico do termo
119
119
. 2. "A História" como Filosofia da Hist ória 135
1

Ai
. .
3 A "História" se define como conceito 165
'
•I

I
1


VI. '"História" como conceito mestre moderno 185 '
k PREFÁCIO
1. Funções sociais e politicos do conceito de História
2. Relatividade histórica e temporalidade
185 f O conceito de história lugar eo
191 i
3. A irrupção do distanciamento entre experiência dos Geschichtliche Grundbegriffe
e expectativa 202 1 na história da história dos conceitos*
4. "História" entre ideologia e crítica da ideologia 209
I
%
Vil. Perspectiva
VII. Referê ncias
223
227
íe Arthur Alfaix Assis
Sé rgio da Mata
n:=
%
| O profundo processo de reconfiguração vivido pela história dos
1% conceitos a partir de meados do século XX foi motivado, em larga
medida , pelo desejo daqueles que a ela se dedicavam de construir
s uma alternativa à antiga história das ideias. Meio século depois de
iniciados os primeiros grandes empreendimentos na Alemanha , não
I
" F] h á quem ignore a grandiosidade dos resultados obtidos e a virtual
i% globalizaçã o desse gê nero de pesquisa histórica e de historiografia.
-
Chega se, assim, como é natural, ao momento em que são produ -
I zidos os primeiros retratos retrospectivos, os primeiros esboços de
1V um gênero que , na ausê ncia de melhor palavra , se poderia chamar
“ história da hist ória dos conceitos” . De modo algo embara çoso,
poré m, a história da história dos conceitos talvez esteja condenada
•fl a se colocar muito mais nas proximidades da história das ideias e dos
4 intelectuais que da disciplina que toma por objeto. Ela deve situar
e reconstruir trajetórias individuais, constela çõ es intelectuais e um
S
Os autores deste prefiri ó, bem como o tradutor, gostariam de expressar sua gratid ã o para com
! o Prot Tem ístocles Am é rico Corrê a Cezar ( UPRGS) e a Profa , Eliana Regina de Freitas Dutra
(UFMG) pelo entusiasmo com que incentivaram e abraç aram , desde o início, a realização
i deste projeto editorial .
Arthur Ajfaí x Assis 6 doutor pela Universidade de Witten (2009) e professor de Teoria e Meto -
í .
dologia da Hist ó ria na Universidade de Bras í lia Especialista em Teoria da hist ória e História do
pensamento histó rico, com ê nfase em temas e autores alemã es do s é culo XIX, publicou entre
,
b outros, A teoria da história de Jótn Rfí sen: uma íntrcdtqdo ( Ed . UFC , 2010} e What is History for?
Johann Gustav Droysen and the Functions of Historiography (Berghahn , no prelo).
S érgio da Mala doutorou se em hist ó ria pela Umversitat zu Koln cm 2002. Professor de Teoria
-
e Metodologia da História na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi pesquisador
3 convidado do Instituto Max Weber para Ciê ncias da Cultura e Ci ê ncias Sociais da Univorsit á t
-
Erfurt (2008) e bolsista da Funda ç ao Alexander von Humboldt (2009 2010), É autor dos livros
Chào de Deus (Wissenschaftliche Verlag Berlin, 2002), História & uUgUio (Autê ntica , 2010) e
.
A fa*( ind( 2ô weberhtta ( Fino Tta ç o, 2013)

9
f
VV -
: •
O CONCEHO Dê HSTOâ IA

W30 o& altamente complexo de interconexões disciplinares, teóricas


I “ Geschichte, Historie” -vezé ,este
Pttf ÁOO

o título original do verbete que ora


^
W ÊÊZ& é á&üno políticas. Numa palavra: o aparato teórico-metodológico
'

e òs problemas perseguidos pela hist ó ria da história dos conceitos •b:


i
§
I
se apresenta pela primeira em sua extensã o integral, ao leitor bra-
sileiro. Trata-se dos dois termos alem ã es que equivalem à palavra por-
«ã o se confundem com os da história dos conceitos. Se uma per- tuguesa “ história” . E é precisamente uma excelente história do con-
í '
'
segue as muta çõ es de termos e significados em sua relação com o ! ceito de história o que o conjunto dos textos dos quatro autores nos
• invólucro sociocultural, a outra se ocupa com o$ atores sociais e oferece. O seu fio condutor é a transforma ção que prepara a rede de
suas respectivas ideias e prá ticas científicas, assim como os grupos 3 significados característica da moderna utilização desse termo. A palavra
.
e instituições em tomo dos quais se organizam Se numa o sujeito
1 história , cujo primeiro registro conhecido remonta a Heródoto, no
eventualmente nao é personagem principal, na outra ele faz toda a T século V a.C., é um património de diferentes culturas ocidentais,
1I diferença. Se uma ainda nao logrou estabelecer um amplo consenso que há quase 2.500 anos é cultivado, expandido e ressignificado.
a respeito do que é o seu objeto, na outra tal dificuldade nem sequer O verbete acompanha de perto essa longa trajetória, analisando os
se apresenta. Caso seja verdade que todo confronto com o próprio usos do termo e as concepções de hist ória vigentes na Antiguidade

i
passado traz consigo um ganho de reflexividade, o lento surgimento
de uma Geschichte der Begriffsgesckichte poderá significar um ganho
substancial n ão apenas para a história das ideias e da historiografia,
i :
í
clássica, os rearranjos semâ nticos decorrentes da absorção do termo
no horizonte cultural cristão, os diferentes gêneros historiogr áficos
medievais, as reconfigura çõ es do pensamento histórico sob o$ influ -
devendo se estender à própria Begriffsgeschichte. :>
xos do Renascimento e da Reforma , entre diversos outros temas.
O argumento conflui para um exame da gesta ção do moderno
I. conceito de história, o que se teria dado entre 1750 e 1850, per ío-
I r do que Koselleck já havia caracterizado como a Sattel Zeit, a era da -
Ao contr á rio do que muitas vezes acontece com o estudo passagem .1 Por essa altura , Iluminismo, ascensão social da burguesia e
•V

de manuscritos antigos e medievais, na interpreta ção histórica de industrializa ção se combinam para, a partir do espaço cultural alemão,
textos contemporâ neos as questões relativas à atribuição de autoria estimular uma alteração sem precedentes no significado dos diversos
costumam ser ponto pacífico. Mas esse n ã o é exatamente o caso do I conceitos polí ticos fundamentais a partir dos quais se organizava a
texto que queremos aqui apresentar. Formalmente falando , trata se
- I experiência no mundo ocidental. Dessas transformações histó ricas
2

de um verbete de obra de referência. Cada uma das suas quatro 1


:> n ão escapa o pró prio conceito de história. Antes utilizado predomi-
grandes seçõ es possui um autor individual: Christian Meier (1929), 1:
*
nantemente ou na forma plural (“ as histórias” ) ou como indicador
especialista em culturas polí ticas da Antiguidade clássica; Odilo En- :Í
gels (1928-2012), medievalist* especializado em história da Espanha .
i 1 KOSELLECK , Roinhart. Richtlinlen fflr das Lcxikon poUtWch-sozialer Begriflfe dor Neuzcit
e na dinastia dos Hohenstaufen; Horst G ü nther (1945), filósofo e ArehtvJílr Befirljffsgeschfihu, vol. 11, p. 88-99, 1967 (cif . p. 82). No Brasil e em outros " ",
pa íses,
conhecedor das modernas teorias políticas e filosofias da história ; .
diTundiu- so a tradu çã o nada evocativa "tempo dc sela" De fato, Satlelsignifica literalmente sela
1 mas o termo cunhado por Koselleck também se associa a BergutUel, que se poderia traduzir por
alé m de Reinhart Koselleck (1923-2006) , historiador que se dedi
- . -
"passo de montanha” , "colo” , "porto” ou "portela” Trata se justamente de uma palavra que
de passagem de
cou ao estudo da trajetória dos conceitos formadores da linguagem remete ao terreno, em região montanhosa , situado entre duas elevações e que serve
uma à outra . O pr ó pjio Koselleck esclarece o significado do termo, ao mesmo tempo que chama
do
político-social moderna e contemporâ nea . Ao “ usuário” do texto a atenção para as suas limitações enquanto conceito organizador da interpreta ção histó rica
>
••• mundo moderno. Cf: Reinhart Koselleck Javier Fernandez Sebasti á n & Juan Francisco Fuentes
.
Entrevista com Reinhart Koselleck. In; JASMIN, Marcelo; FERES JR., Joio (Orgs.). Hist
resta decidir se este verbete deve ser referenciado como um ú nico :
• ória
des reñidlos: debates e perspectivas . R ío de Janeiro: Ed. PUC- Rio, p. 135 -169 (cit. p. 102
),
trabalho escrito por quatro autores, ou se, antes, cada uma das suas >
\ 1 KOSBLLECK, Reinhart. Futurepasusdo . Contribui çã o à sem â ntica dos tempos hist ó ricos . Rio
partes deve contar como uma entrada individual.
de Janeiro: Contraponto; Ed . PUC-Rio, 2006, p. 101.
V

10 V:
11
'
!
.
O COtK UK> D£ HlSTÓUA r
i
PflfActO

de relatos particulares, o termo historia ganha, à luz da


experiencia í de hist ória e a prá tica da liistoriografia passaram por transformações
moderna, um grau de abstração e generalidade tão elevado que passa
a ser capaz de se referir a todas as histórias particulares
Em consequência disso, na variante alema do moderno conceito
possíveis. 1 fundamentais entre o final do século XV11I e a primeira metade do
século XIX . Na verdade , nos anos 1820, Hegel , na introdu çã o à
sua Filosofia da história^ já falava na então contemporâ nea transição
de história passa a predominar a forma singular Geschichtc
.
da flexão plural die Geschichíe( n) E a tal circunstâ ncia que
cm lugar
se refere
I» da “ história refletida ” para a “ hist ória universal filosófica ” , cujo
fundador seria ele próprio.5 No influente Mamai do método k ÍstÔricoy
-
a categoria gramatical “ singular coletivo ” ( Kollektivsingulat ,
) com
que o verbete qualifica o novo conceito de historia. Paralelamente, f
I de Ernst Bernlieim, publicado pela primeira vez em 1889, sugere -
se que a transição de uma concepção “ pragm ática ou instrutiva
a generalidade do conceito também é reforçada em decorrê
uma outra transformação semâ ntica, através da qual o termo Ges
ncia de

n ( lehrhafi )” de história para uma histó ria “ gené tica ou evolutiva ( en -
chichte passa a absorver os significados anteriormente reservados ao - ' twickelnd)” só há pouco se havia consolidado, com a adesão a esta
termo de origem latina Histor
s por parte da imensa maioria dos grandes representantes da ciê ncia
í e, que desde a Idade Média tendia a
ser associado primariamente à narrativa de acontecimentos e ão aos I histórica alemã oitocentista .6 Em 1936, Friedrich Meinecke des-
n $ tacava que por volta do fmal do s é culo XVIII teria se dado “ uma
acontecimentos propriamente ditos. No moderno campo sem â ntico
do termo Gcschichte se encontra , por isso, tanto a noçã o de história
4 das maiores revoluções espirituais” já vivenciadas pelo pensamento
como realidade ou síntese do processo de constituição do mundo
! ocidental . 7 A lista de registros poderia ser estendida , mas será sufi-
humano, quanto a referê ncia à história como forma de conhecimento
I ciente para ilustrar a preexistência da percep ção de que, ao menos
no espa ço cultural alemã o, modificaçõ es no conceito de histó ria
do passado dos seres humanos, isto é, como historiografia.3 1
.
similares à s descritas no verbete tiveram lugar ao início do que
O verbete foi escrito no contexto de um dos projetos de pes
*4
- chamamos de Idade Contemporâ nea , Ainda assim é importante
quisa coletivos que mais fortemente marcou a cena historiográ fica I% sublinhar a originalidade das interpretações de Koselleck acerca
alemã da segunda metade do século XX, os Conceitos his íóírcos fun
- da modernização do conceito de história , que sã o marcadas pela
damentais: Léxico histórico da linguagem político social na Alemanha.4
Editado entre 1972 e 1997 pelo próprio Koselleck em parceria
- 1
1
preocupa ção em entrecruzar contextos intelectuais, políticos e
sociais; pela distribuiçã o bem balanceada de aten ção analí tica entre
com outros dois importantes historiadores, Otto Brunner e Wemer
1js os grandes e os n ão t ão grandes autores que lhe servem de fonte;
Conze, o léxico abrigaria no seu segundo volume o verbete sobre
bem como pelo emprego inovador de dicion á rios e enciclop é dias ,
o conceito de história.
Quando da publicaçã o do verbete de At í antes largamente ignorados na história das ideias s .
óer, Engels , G ü nther
e Koselleck em 1975, já nao era inédita a tese central de que a
ideia 1

5
.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fiiosojia da história Brasilia : Ed . UnjB, 1999 p, 13 -21 ,
3
6
BERNHEIM, Ernst. Handbudi der historiuhen Methodc* l. Au ft. Leipzig: Dunckcr und Humblot,
Anteriormente ao verbete dos Gesdrlditlidic Crundbegriffe , tanto a catacteriza ç ao
do moderno 1889 p. 15 -21.
-
conceito de história como um termo “ singular coletivo" quanto a teje da absor o
nificados do termo Historie pelo termo Gesdmhte j$ haviam aparecido num
çã dos sig- 7 MEINECKE, Friedrich. Ei histor .
í nsmy su genesis Mé xico: Fondo de CutiuraEconomics, 1943, p. 11.
famoso ensaio de
autoria de Koselleck , publicado pela primeira vez em 1967. Ver: KOSELLECK,
Reinhart . 5 Desde meados da dé cada de 1950, Hans FreyeHnsUt í a nesta ampliação do repert ó rio das fontes.
Historia magistra vitae. Sobre a disjoluç Jo do topos na histó ria moderna em Ele se queixava da hist ó ria das ideias que “ geralmcnte se detém muito em grandes obras que,
movimento. In :
4
- .
Futuro postado* op. cat., p. 41 60
BRUNNER , Otto; CONZE, Werner; KOSELLECK, Reinhart . GeuhUhtlidit
de fato, s ão representativas mas que se elevam muito acima das cabeças". Freyer toma como
Gruitdbtg/ iffe. exemplo a ser segutdo o eítiido de 1927 de Bernhard Groethuyseo , sobre a formação da visã o
Historisches Lexikonzurpolkisch - sozlalen Sprache in Deutschland , 8 voh , Stuttgart de mundo burguesa na Fran ç a , o que ele caracteriza como uma “ história do espí rito an ó nimo"
: Klett-
-
Cotta, 1972 1997; HOFFMANN, Stefan-Ludwjg. Rdnhatt Koselleck (
1923-2006): The baseada em "sermões, livros did á ticos, cartas, literatura recreativa, documentos do cotidiano
.
Conceptual Historian . Gentian History, v. 24 , n 3, p. 475 -478, 2006 (cit . p 476).
. casualmente obtidos’ *. FREYER, Hans. 7><m<í da tpixa atual. Rio de Jaueiro: Zahar, 1965, p. 74.

12 13
O coNcero oç Hí STóíL\ IB PMJ Á.QQ

*
Salta aos olhos, em todo caso, que o segmento moderno da ao longo do século XVIII mudan ç as fundamentais ocorreram nas
formas de experiência e representação do tempo. Tais mudan ças,
y?
história do conceito de história parte de urna perspectiva alema tS
destes problemas, o que nao é de espantar, posto que o verbete se evocadas pela palavra-chave "temporalizaçao ” ( Verzeitlichung ) , se
insere numa obra de referê ncia dedicada a dar conta da história da
«* relacionam , por exemplo, à crescente disjun ção entre experiê ncias
e expectativas alimentada pela difusão da percepção da aceleraçã
linguagem sociopolí tica no espaço cultural alemã o. Recentemente, o
tal orientação deu azo ao surgimento de uma consistente cr ítica à a£ do tempo; à abertura do futuro, dantes fechado nos quadros de uma
tese-chave de que nas décadas finais do sé culo XVIII o conceito •Jf concepção escatológica de história; ao reconhecimento da natureza
êt
de histó ria teria ganhado a forma de um singular-coletivo, com a %i perspectiv ística da apreensão da experiê ncia ; à ê nfase no cará ter
absorçã o pelo termo germâ nico Geschichte das principais camadas de 4 individual dos sujeitos históricos; à admissão da "produtibilidade ”
.
significado relacioná veis ao termo história Uma importante matriz * ( Machbarkeit ) do processo histó rico; ao enfraquecimento do padrão
dessa cr exemplar de justificaçã o da historiografia. Todos esses e muitos
11
ítica é a demonstração feita por Jan Marco SawilJa de que no
espa ço lingu ístico francês o termo histoire já era , no ú ltimo terço do X outros processos são muito bem apresentados e analisados no verbete,
século XVII , comumente mobilizado na forma singular para conotar, $ e com uma abrangência e profundidade que, parece-nos, ainda nã o
:.sM
às vezes até mesmo simultaneamente, tanto o conhecimento histó- tê m rival na literatura especializada .
rico como a realidade dos acontecimentos passados. Com base em •s

citações de autores como Jean Bossuet, Jean Racine, Saint-Real e II.


Fontenelle, SawilJa busca refutar a interpretação de Koselleck de que :s
o velho conceito de história teria adquirido o cará ter de um conceito
•I Projetos coletivos das dimensões do lé xico dos conceitos po-
l í ticos só podem ser realizados com uma incomum disposi çã o para
>
A
coletivo-singular apenas no bojo das transforma ções da Satteízeit 9
A partir desses e de outros argumentos, Sawilla sugere que os elos o trabalho em conjunto , abdicando o$ envolvidos de veleidades
entre a história da palavra história e a história da ideia de história , .
"autorais” 12 Isso n ã o significa que na confecçã o de cada uni dos
t ão bem amarrados no texto de Koselleck, "precisamser desfeitos ” .10 .u
Decerto, a cr ítica de Sawilla coloca em questão um aspecto 1
, l JUNG, Theo. Zelchen des VtrfaUs, Semantischc Studien zur Bntstehung dcr Kulturkritik
importante da tese de Koselleck, nomeadamente, o de que a lí ngua .
Jra 18. und fiuhen 19 Jahrhundcrt . Gtíttíngen: Vandcnhoeck & Ruprecht, 2012, p. 68;
alema teria sido pioneira na disponibiliza çã o de um conceito coleti-
. 5

. .
STOCKHORST, Stcfanic Novus ordo temporum Reinhart KosclJccks These von
der Verzeitlichung dei Geschichtsbev/ uBtse í m dutch die Aufkl á rungsliistor íographk in
.
vo-singular de história Mas aqui seria sem dúvida apressado deitar £ .
methodenkritischec Perspektive. In: JOAS; VOGT (Hrsg ) Btgriffene Gtuhkhte, op. cit , p. .
:i . .
359-386 (cit. p. 379); FULDA , Daniel Rex ex historia Komodienzeit und verzeitliehte Zeit
.
fora o bebe junto com a á gua do banho e simplesmente afirmar que . -
In ‘Minna von Barnhdrn* DasachtzehntcJahrhimderi, v. 30, n. 2 , p 179 192, 2006 (cit p. 182):
. '
a tese central do verbete não mais dispõe de potencial explicativo. “ Von SawilUs Kritik bcuoflcn ist niche dieTemporalisieruugsthesc Insgesamt , sondem mu’
ihre Stutzung dutch Kosellecks Kollektivsingular 'Gejchichce ' ” .
Afinal de contas, continua, hoje como ontem, sendo inegável que Um depoimento do sociólogo í rancêsjulien Freund , por ocasiao do aparecimento do primeiro
volume do l éxico, nos d á uma vaga ideia do modus operatuil estabelecido pelos editores. Depois

SAWILLA, jan Mateo. ‘Geschichte*: Kin Produkt dcr deutschen Auflclarung? Eine Kritik
J de presenciar algumas das reunites de trabalho do grupo na Alemanha , Freund escreve que
com os pesquisadores encarregados de redigir o verbete Poder "estavam reunidos historiadores,
5

an Reinhart Kosellecks BegrifFs dcs 'Kollektmingulars Geschichte’. Zeitsehtjftfile hhtcrisehe


i .
sociólogos, filó sofos, economistas, juristas, cientistas pol íticos , te ó logos , etc (cerca de vinte e
,
.
Forschunfr v. 3t , p. 381- 428, 2004 (cit . p. 388 -394) !i . -
cinco pessoas). (.. ) Seguiu se um grande debate e uma confronta çSo que podia se basear na
maior parte, em um volumoso dossi ê composto de trechos fotocopiados de dicion á rios latinos,
10
SAWILLA , Jan Marco, ‘Geschichte’: Bin Produkt der deutschen Aufklá rung?, p. 419. Ver > .
alero àes, ingleses, franceses, italianos, etc , c que tratava do conceito do sé culo XVI a nossos
també m: SAWILLA , Jan Marco. Geschichte und Geschichten zwischon Providenz und .
dias Assim , foram reuni õ es de trabalho em equipo que permitiram ao autor designado para o
Machbarkeit. Oberlegungen zu Reinhart Kosellecks Semantik historischcr Zeiten. In:JOAS, !
• .
verbete obter o maior nú mero possível dc dados eruditos , liter á rios o cient íficos" FREUND,
Hans; VOGT, Peter (Hrsg.) Begtijftm Gnthithlt. Bcitrage zuro Wcrk Reinhart Kosellecks . .
Julien. Compic rendue de 'Geschíchtlichc GrundbegriftV Remte PtanfaUe de Socichgie, v. 15
,
-
Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2011, p. 387 422. t . -
n. 2 p 287 289, 1974 (aqui p. 287-288) .

14 15
i '
!r .; ;
i O CONCHO 02 H-4T0S.'A i
'
PfcEf ÂOO

i ví
;
£
verbetes as preferencias e opções individuais tenham sido simples
mente eliminadas, nem que na distribuição das tarefas executadas
- n ã o se prestava fosse ao entendimento do presente, fosse ao das
pelos editores-chefes tetilla havido um perfeito equilíbrio. Se é •T instituições jur
ídicas e sociais da Idade Média ,
a Sv: Nesse sentido, foi particularmente influente para o léxico a sua
Koseíleck, indiscutivelmente, que se deve atribuir centralidade na 3
concepçã o geral dos Geschichtliche Gmndbegiifjc, in ú meros comenta rr tese a respeito de uma transi çã o epocal na histó ria do continente
ristas têm sido levados, porém, a ignorar a real importâ ncia de
- europeu . O conceito de “ nova Europa ** ganhara força no â mbito
Otto T- do pensamento nacional-socialista . Brunner adere a ela, desenvol-
Brunner e Werner Conze. Ocupemo-nos agora com algumas das

&
razões que levaram estes dois historiadores a dividir a editoria do vendo, por oposição, a noçã o de “ antiga Europa ” : nada menos o
íl
léxico com Koseíleck e com a influência por eles exercida sobre a espaço de tempo que se estende de Homero a Goethe , Brunner
arquitetura geral do projeto. propõe, assim, um esquema evolutivo tripartite: “ antiga Europa ” ,
Dos três, Brunner era , no começo da d é cada de 1970, o mais -P
“ era limítrofe” ( Schwellenzeit ) e “ sociedade moderna *'. Reinhard
conhecido. O já septuagen á rio medievalista austr Blã nkner acredita ser essa a concepção de fundo do léxico: “ sem
íaco não assumiu V a antiga Europa de Brunner [...] nem a Sattelzeít , nem o léxico
praticamente nenhuma tarefa organizacional importante na ediçã o *í
Geschichíiche Grimdbegriffe poderiam ser pensados” .15
do léxico, tendo aportado um ú nico verbete: "Feudalismo” 3 Se essa
' . 4r
Ao lado de Koseíleck, o grande animador do léxico de con-
muito modesta participa çã o se deveu à idade, a alguma idiossincra
sia pessoal ou a um possível constrangimento de natureza pol í tica ,
- 1Í
:P:
ceitos fundamentais é Werner Conze. Personalidade admirada
34

por amigos e alunos , Conze vinha de uma família do chamado
é uma questã o ainda em aberto. Em todo caso, a importâ ncia de =
Brunner se d á em outro plano, Seu livro Tena e dominação (1939) Bildungsbiirgeríum ~ o segmento da burguesia alemã mais direta-
é um clássico da moderna história dos conceitos e pode talvez ser s.. mente afeto à educa çã o e à cultura. Seu avô , o arque ólogo Ale-
considerado uma das primeiras tentativas bem-sucedidas de se in VS xander Conze, tinha sido aluno de Leopold von Ranke. Como
corporar o pensamento político-jur
-
ídico de Carl Schmitt à historio-
S
.Ü :
Koseíleck , Conze lutou e foi ferido na Segunda Guerra mundial .
grafia . À inova çã o teó rica e metodológica assim promovida se liga, Ambos tinham ainda em comum seu ceticismo em rela çã o à fun ção
.AD-

emancipatória que a geraçã o do maio de 1968 atribu ía à ciê ncia


porém, e de forma indissociá vel, uma inegá vel Belastmg polí tica
Sabe-se que desde 1937 Brunner estava entre os que acreditavam no
. 3
4 histórica. Para Conze a grande ruptura moderna se dera com o
advento de uma “ nova realidade ” na Alemanha ap ós a ascensã o do aparecimento de uma cesura e uma crescente polariza çã o entre
nacional-socialismo. Em consonâ ncia com Schmitt, ele constatava í. Estado e sociedade a partir de fins do século XVIII. Até então,
o esgotamento dos conceitos fundamentais at é então vigentes.14 Essa um nã o se dissociava nitidamente do outro . Com a Sclnvellenzeit,
á
convicçã o é projetada em Terra e dominação, onde se afirma que o
aparato conceituai do século XIX deveria ser “ destruído” porque

3
3 Freycr empregou o neologismo ZtitecfavtlU * praticamente idê ntico à SthwelUnzeil de Brunner.
$ Infelizmente n ü o nos foi possível verificar qual dos dois autores teve preced ê ncia nesse caso.

11
Dentre os aurores que escreveram verbetes para o lé xico, apenas vinte contribu í ram com mais
de 100 p á ginas . A lista é encabeç ada pot Conze e KoseUeck (nesta ordem)
Die ’ Geschichtliche GrundbegrifiV. Von der Begriflsgesehichte zur Thcorie
. DJPPER, Christof.
1í Cf. BLÃ NKNER , Reinhard . Bcgriffsgeschkhte in der Gcschichmvissenschaft Otto Brunner

.
*

101-107 2012 (cit . p. 106); SCHULZE, Winfcied. German historiography from the 1930 to
the 1950’s. In: LEHMANN , Harcmut; MELTON, James (eds.) Paths of continuity. Central
.
und die Geschichtliche Grundbegrifie. Fotnm lntirdiszipUndre 8egrijfsgesd\i( htet v I , n. 2, p.

Zeiten. In : JOA $; VOGT (Hrsg.) Begrijftne Gothithlt, op. c í t, p. 297.


der historischen
i eu rope an historiography from the 1930’$ to tho 1950’s. Cambridge: Cambridge University
Press, 1994, p. 40. Naimrodu çJoao primeiro volume do léxico, Koseíleck afirma que o objetivo
M O topos d ? “ nova realidade ” é analisado por OEXLB, Otto Gerhard
— . Wirklichkeit - Kiise der
Wirklichkeit Neue Wirklichkeit, Deutungjmuster und Pmdigmenkampfc in derdeutschcn
Wissenschafr vor und nach 1933. In: HAUSMANN, Frank Rutger ( Hrsg.) D/e Rolle der
-
i
§
ali perseguido era o de investigar o "desaparecimento do mundo antigo c o surgimento do
mundo moderno” . KOSELLECK , Reinhart . Einleiiung. In: BRUNNER , Otto, CONZE,
Werner ; KOSELLECK Reinhart . ( Hrsg.) Geuhtdiittclte Cnwdiegrlffc: Hhtorisches Lexlkon
-
Grhteswiutmdiafun im D/ itten Reiá 1933 1945. M ü nchen: Oldenburg, 2002, p. 1 20.
- $
:ê . .
zur poHtisch -sozialen Spraché in Deutschland , v. 1, Stuttgart: Klett-Cotta , 2004 , p xvi

16 l 17
i
' lili -
f.
j: O cONano D£ Hsr
ó
^A w?
M
vV
PíEf ÁOO

surge a “ sociedade ” . Conze pretendia compensar analiticamente 1 É com razão que se costuma sublinhar a ascendência da socio-
I logia dos conceitos de Carl Schmitt sobre os editores do lé xico.
18

ji . ; essa divisã o ao promover uma aproximaçã o radical entre ciê ncia


hist ó rica e sociolog í a. I Curiosamente, pouco tem sido escrito fora da Alemanha sobre uma
j: i
Sua carreira se inicia na chamada Ostforschungy campo de I figura n ão menos influente que Sclnnitt naquele contexto o já
citado Plans Freyer. Da obra desse brilhante sociólogo e historiador,

j:
pesquisas dedicado ao leste europeu e sobre o qual pairou , por
muito tempo, a pecha de ser urna especie de ciencia auxiliar do
I Brunner assimilou o princípio segundo o qual os conceitos usados
expansionismo alem ã o. Estuda sociologia em Leipzig, tendo como
mestres o historiador Hans Rothfels e os sociólogos Hans Prcyer
I por um campo do conhecimento sempre estão “ historicamente
impregnados” , de que “ mesmo os conceitos mais gerais (...] têm
e Gunther Ipsen . 16 Conze se tornou assistente de Ipsen e escreve $ em si este elemento hist órico ” . De suma importâ ncia para Conze
seu doutorado sobre unia comunidade de lí ngua alemã na Livônia. I foi a tese de Freyer (desenvolvida em obras da década de 1930 e
Depois de aprender russo e polon ês, prepara sua tese de acesso à I<
• 1950) a respeito do surgimento moderno da oposição entre Estado
cá tedra ( Habilitation ) sobre a estrutura agrá ria e populacional da 1 e sociedade , assim como da “ ruptura histórico - universal de primei -
Litu â nia e Bielorr ú ssia. Esses trabalhos n ã o acompanham a tradi - ra grandeza ” ocorrida na passagem entre os séculos XVIIl XIX.
19
-
ção de alta contamina ção ideológica e geopolí tica da Ostforschung. -5
p
Apontado por WinfHed Schulze como um dos mais influentes livros
alemães da década de 1950, a Teoria da época atual (1955) de Freyer
Em 1938 Conze chega a ter um artigo vetado pela Zeitschrift fií r s

Volkskunde porque havia sido demasiado isento em suas an á lises.17 foi adotado por Conze como o ponto de partida dos trabalhos do
Mesmo num ambiente intelectual pouco favorá vel , ele se abriu à I Grupo de Trabalho em Hist ó ria Social Moderna Nessa obra , Freyer .
influ ê ncia da sociologia norte-americana e posteriormente à obra subscreve inteiramente a visã o de Karl Lõwith sobre a filosofia da
de Fernand Braudel. Em 1965 funda o Grupo de Trabalho em % história como uma forma de escatologia secularizada , e que sabemos
ter exercido forte influ ê ncia sobre Koselleck.
20
Histó ria Social Moderna, no qual Koselleck tomará parte entre :4
.
1960 e 1965 Tendo marcado época na historiografia alemã do pós - Não resta d ú vida, contudo, de que foi Reinhart Koselleck o
-guerra , esse grupo publica nada menos que 43 livros entre 1962 e :• v
£
grande propulsor do empreendimento de organização do léxico
1986 . A primeira incursã o de Conze pela hist ó ria dos conceitos se S de história dos conceitos na Alemanha ao qual o texto do verbete
dera antes, num artigo de 1954: “ Vom ‘PobeP zum ‘Proletariat ” , “ Geschichte , Historie ” foi originalmente destinado. Por isso, será
em que mostra quais processos sociais est ã o por detr ás da gradual 1 importante considerar, com especial aten çã o, a sua trajet ória bio -
gráfica e acad êmica.
s*
substitui çã o do termo “ ralé” ( Pòbel) pelo de “ proletariado” « A
hist ó ria dos conceitos abre para Conze um acesso novo ao estudo Segundo o pró prio testemunho , Koselleck cresceu num con-
da din â mica histórico-social; ela possibilita um controle lexical
que , com o auxílio da hermenê utica , deveria fundamentar histo-
1 texto familiar em que se valorizavam a leitura , a m úsica , as visitas

ricamente a an á lise cient ífico-social. Koselleck viu nesse estudo -i * lí


As linhas bá sicas de cal abordagem foram desenhadas ainda na d é cada de 1920. Cf, SCHMITT,
de Conze uma verdadeira “ obra de mestre” . Cari . Teohgfa política. Belo Horizonte : Del Rey, 2006 , p . 42- 43.
i;
• i
l) .
FREYER , Hans. La sociolog ía,ciencia de la realidad Buenos Aires , 1944 , p. 23, 108; FREYER ,
Teoria da tpoca aluai , p. 73.
n Tr¿$ tio mes que Koielteck classificou como “ conserva flores e nacional is tas” KOSELLECK .
10
SCHULZE , Winfricd . Deutsche CrschUhtswissenscha/t iiaeh 1945. MU when: DTV, 1993, p .
il 295-297. A import â ncia da visto de Lõwith para Koselleck e as dificuldades da í resultantes
.
Reinhart . Vom Stnn und Unsinn der Gesehichte Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2010, p. 324. slo analisadas por JOAS , Hans. Die Konlingenz der Sâ kubrisicrung. Ü berlegungen 2 urn
11 SCH 1
EDER , Wolfgang. Sozialgeschichte zsvischen Sozlologie und Geschiehte . Das Problem derSã kularisierungim Work Reinhart Kosellecks . ln: JOAS; VOGT ( Hrsg.) Bcgnffenc
wisjenschaftlichc Lebcnswork Werner Conzes. Geschiehte und Gescliscluft , v. 13, n , 2, p. 244 - Geschichte , op. cit ., p. 319 -338. Ver també m; OLSEN . History in /Ac Plural. An Introduction
266, 1987 (p. 254). to the Work of Reinhart Koselleck . New York : Berghahn , 2012, p . 21-23.

18 19
mm"
O ccNO/ ro ot HSTó.íIA
m:
i-
'
PFE/ACK)

iji a museus, a escrita de cartas , O seu pai foi professor ginasial e de


# a queda do HI Reich havia se tornado “ maldito” , o jurista Carl
institui ções de formação de professores. A mã e , de abastada familia
f Schmitt.22 E com a persona de Schmitt e com o diagnóstico do
jfj burguesa de origem hugenote, fez estudos superiores em francés, :§ mundo politico do século XX por ele desenvolvido que se trava
história e geografia, além de ter se formado como violinista de f o glande diá logo intelectual que estruturou a tese de doutorado
.
concerto Nascido em 1923, Koselleck n ão escaparia de vivencia $
diretamente a II Guerra Mundial. Foi recrutado para a artilharia* I defendida por Koselleck em outubro de 1953 e intitulada Crítica
%f e crise: um estudo sobre a patogénese do mundo burgués 2* .
; -
do exército nacional socialista em maio de 1941 e enviado para a
k Esse trabalho é muito mais do que uma erudita e desinteressada
frente leste de batalha, mas um pequeno acidente na marcha para investigaçã o do pensamento político moderno com foco no desen-
?%
Stalingrado ensejou a sua transferência para operações de suporte A volvimento da crítica iluminista à ordem absolutista. É também,
na Alemanha e na Fran ça , Em maio de 1945, foi capturado pelo f na expressão do próprio Koselleck , urna tentativa de “ explicar a
>
exé rcito sovi é tico e , depois de um curto período de trabalho na
desmontagem de instalações da planta da IG-Farben nos arredores *
1
r
formaçã o da utopia com a qual a sociedade burguesa se rompe” ?4
Trata , assim, tanto do passado setecentista quanto do cená rio presente
.
do campo de concentra çã o de Auschwitz, foi enviado para um Culag
no Cazaquistlo , de onde escaparia , depois de 15 meses, com a ajuda I
£
HS
que se desenhou com o final da II Guerra Mundial. Partindo de
postulados teóricos desenvolvidos por Carl Schmitt ~ como os de
de um médico que fora amigo de um dos seus t ío$~avôs Koselleck . 3$
que a soberania é o poder de decidir sobre o que constitui o caso
teve a vida fortemente marcada pela experiê ncia da guerra e da
derrocada da Alemanha em 1945 . O seu irmão mais velho inorreu
1 excepcional e de que a polí tica é uma arena marcada por um eterno
em combate , enquanto o mais novo faleceu em decorrê ncia de
um bombardeio . Uma de suas tias, que sofria de esquizofrenia , foi
Is
:?
áIS
.-
conflito que não pode ser anulado pela supressão do inimigo, Ko-
selleck pretende chamar a atençã o para a nocividade dos conceitos
estmturantes das ideologias polí ticas modernas. A sua critica incide
vitima do programa nacional-socialista de eutanásia.21
Com essa dupla bagagem fornecida pelo universo cultural
da burguesia educada e pela experiê ncia da guerra e da prisã o
i não somente sobre o nacional-socialismo, mas também sobre os
dois polos ideológicos da ent ão emergente Guerra Fria ; liberalismo
Koselleck iniciaria os seus estudos em 1947, aos 24 anos, na Uni
- i e comunismo. Para Koselleck, a vulnerabilidade propiciada pela afir-
mação de todos esses “ -ismos” configura uma crise política de dif ícil
versidade de Heidelberg. Frequentou cursos de importantes figuras
da vida acad ê mica de entã o, tais como o soci ólogo Alfred We
ber, o jurista Ernst Forsthoff, o mé dico Viktor von Weizsá ckcr,
- in resolu çã o. Tal crise seria o desdobramento de uma maneira utópica
e moralizante de lidar com as coisas polí ticas , iniciada com a crítica
os filósofos Hans-Georg Gadamer, Karl Jaspers e Karl Lõwith
* polí tica no contexto do Uuminismo e cristalizada nas modernas filo-
si
e os historiadores Johannes Kiihn e Hans Rotlifels , Contudo, a f sofias substantivas da histó ria . No diagnóstico schmittiano assimilado
por Koselleck, liberalismo, comunismo e nacional-socialismo seriam
principal influencia sobre o jovem Koselleck n ão seria exercida
:#
por nenhum desses professores; ao contrá rio, por um acad êmico
que no contexto da desnazifica çã o operada imediatamente após 1 22
Schmitt atuou , na prá tica , como um orientador da tese doutoral de Koselleck , ainda que
formalmente a orientação tenha sido assumida por Johannes Kiihn. Sobre 3 rela ção entre
if Kojelleck e Schmitt, ven MEP1R Í NG , Reinhard . BegrifFsgeschichte mit Carl Schmitt. In:
* KOSELLECK , Reinhart ; HETTLING , Manfred; ULRICH , Bernd . Formen der I JOAS; VOGT, ( Hrsg.) Begriffene Geschichte , op. dt; OLSBN, Niklas. Carl Schmitt, Reinhart
Bü rgerlichkeic . Ein Gesprach mil Remhatt Koselleck . In: HETTLING, Manfred; ULRICH , à Koselleck and the Foundations of History and Politics. History of European Ideas , n. 37, p. 197-
BcrrtdfHrsg.) Bilrgetlum nach 1945 Hamburg ; Hamburger Edition , 2005, p. 40 - 60 (cit . p. 46 - A 208, 2011.
52); OLSEN , Niklas. History in tht Plural, op. cit ,, p. 10 - 16; MEYER , Christian. Gedenhredeauf
Reinhart Koselleck . In: BULST, Neithard; STEINMETZ , Willibald (Hrsg.). Rchi Wf Kosdkck
I 11
KOSELLECK , Reinhart . Critica e crise . Uma contribuiçã o à patogê nese do mundo burgu ês .
Rio de Janeiro: Contraponto; Ed . PUC- Rio , 1999.
- .
1925 2006 Reden zur Gedenkfeier am 24. Mat 2006. Bielefeld, 2006, p. 7-34 (cit . p. H- I 2) . 24 KOSELLECK; HETTLING; ULRICH, Formen der Biugerlkhkeit , op. cit . , p. 54 .
j
20 W 21
$
r
J?y:
-
"
pAlf ÁOO
O CONCetTO PS H S1Ô?íA
i-
i .
a cat á strofe da Segunda Guerra Mundial O fato é que a história da
. os frutos diretos do utopismo íluminista; donde a importancia de
se estudar este para se compreender aqueles.25 I4 histó ria dos conceitos se inicia muito antes.
i Nos anos I 960, Koselleck daria continuidade à sua reflexão i A despeito de algumas iniciativas no século XVIII e XIX, so-
sobre a natureza e os problemas da modernidade na sua tese de Ha- 4 mente em meados do XX a história dos conceitos iria se emancipar
e adquirir o estatuto de disciplina autó noma , compreendendo-se ,
'
Vi
bilitation sobre a histó ria constitucional e administrativa da Prussia ,s

entre 1791 e 1848, orientada por Conze. Publicada em 1967 , A • ¿si


’ ao longo da maior parte de sua história, como um instrumento
1
heurístico necessário ao desenvolvimento de uma teoria filosófica.
"
Prussia entre reforma e revolução é fruto de uma investiga çã o cuidadosa I Desde a dé cada de 1960 seu programa só fez se alargar, no sentido
em que a abordagem hermenê utica das fontes da época é comple- J
I seja de urna metaforologia , seja de uma tó pica histórica ou uma
mentada com an álises de corte estrutural e estatístico, para produzir
uma histó ria que abarca nao só conceitos polí ticos, mas também a 6
• história dos conceitos científico -naturais. Em nenhum outro campo
interface entre intelectuais, instituiçõ es e atores sociais na Prussia da historiografia se realizou tã o plenamente a concep çã o pioneira
£ .
da primeira metade do século XIX .26
:S
• de Ernst Cassirer da história enquanto um ramo da semâ ntica 28
Logo após publicar este livro, Koselleck se volta para um novo I Mas se o conceito é simultaneamente um fator e um indicador, nem
projeto, desta vez um grande empreendimento editorial coletivo que
% por isso se deve supor que seja capaz de produzir milagres. Como
marcaria época na cena historiográfica alemã da segunda metade do
i sublinhou Gunter Scholtz, a coisa muitas vezes existe antes do termo
.
século XX Em 1967, publica no Arquivo para a história dos conceitos i vV
que a designa - coisas nem sempre são feitas de palavras De fato, .
e como veremos a seguir, a história dos conceitos se coloca como
um artigo , redigido quatro anos antes, detalhando as linhas mestras I projeto e mesmo como uma incipiente prá tica disciplinar antes do
de um “ léxico dos conceitos polí ticos e sociais da modernidade” ,27 $
a surgimento do conceito “ hist ória dos conceitos” . Que a história
que em 1972, por ocasião da publica çã o do seu primeiro volume,
i jamais se esgota na linguagem, é algo que o próprio Koselleck nunca
seria rebatizado como Conceitos históricos fundamentais: Léxico histórico
deixou de ressaltar.29
da linguagem política c social na Alemanha. ‘

i Com seu Léxico flosójko (1726) , o teólogo luterano Johann


Ill Georg Walch foi o primeiro a insistir que o cará ter “ histórico ” dos
1 conceitos deveria ser estudado à parte do seu cará ter “ dogmá tico ” ,
A fim de adquirir uma compreensão mais ampla do significado I de modo a esclarecer os conceitos filosóficos . O esforço de ex-
do léxico dos conceitos fundamentais para a história da historio- % plicação e definição não poderia ser dissociado de uma “ narrativa
grafia , deve-se levar em considera ção a evolução da hist ó ria dos
:v histórica ” dos conceitos e controvérsias filosóficas. Em 1774, Jo-
I hann Georg Heinrich Feder (professor de filosofia em Gottingen) ,
conceitos dos seus primórdios at é a d écada de 1970. Esquivar-se
de tal tarefa significa de$istoricizá-la , reforçando a impressão de que defendia que, para a preparação de um dicioná rio filosófico, seria
essa disciplina é a expressão de um fiat ocorrido na Alemanha após imprescind ível o estudo histó rico daqueles conceitos em torno dos
quais se produziam polê micas. Christoph Gottfried Bardili, em
'
* 1788, elaborou urn programa de pesquisa dos principais conceitos
u DUARTE
. JoJoria .
de Azevedo e Dias Tempo e crise na teoria da modernidade dc Reinhart
¡
5
-
'

.
Koselleck Hist ó da Historiografia , n . 8, p. 70 90, 2012 (cit. p. 81 82); OLSEN, History in
-
. -
the Plural , op cit ., p. 46 48.
'


4
?
. .
n CASSIRER , Ernst Antropologiafilosifiea, México: Fondo dc Cultura Económica, 1992, p 287.
n KOSELLECK, Reinhart. Pitnatti ¿ivistken Reform mid Revolution , Allgemeines Landrecht , n SCHOLTZ, Gunter, Begrifisgeschichte ais historischc Philosophic imd phslosophische Historic.
Verwaltung und soziale Bewegung von 1791 bK 1848. M ü nchen: DTV, 1989, p 17. . 1 liuJOAS; VOGT(Hr$g.) Begrifftm Geuhkhte,op. cit., p.273. Para Koselleck , "Geschichte gehcnie
21
KOSELLECK, Reinhart. Rtchtlinien, op. cit., p. 81 99. -
••

. .
in Sprache auf \ Cf. KOSELLECK , Reinhart Vom Slnn itrJ Unsirtn der Geuhlchfe, op cit., p. 88.

22 23
O COMí mo o* R $rí*iA

filosóficos. Para Baidili também era importante investigar a presenç a


*mf ®r .
Ptíf ÁOO

individual ou a um anónimo trabalho de elaboração coletiva. Ela


dos termos filosóficos na linguagem cotidiana , na literatura e ñas mi permitiria avaliar em que medida a linguagem técnica dos filósofos
religiões. Helmut Meier identifica um evidente “ sotaque hist órico é
,'
| conceituai” percorrendo essas diversas obras, 30
- :**
e a linguagem do mundo da vida são mutuamente permeáveis. Eu-
cken percebe também a grande importâ ncia de se articular dinâ mica
Em 1806, é a vez de Wilhelm Traugott Krug, sucessor de Kant .' M .
liistó rica e din â mica conceituai: “ toda grande transformação da vida
| em Konigsberg, estabelecer seu plano de um Dicionário histórico í tico -cr i histórica faz com que conceitos e termos de cí rculos limitados se
1r
ciajilosofia nestes termos: “ Seria muito instrutivo caso houvesse um tomem o$ da coletividade ” .33 A história dos termos e conceitos fi-
dicioná rio dc todos os conceitos e proposiçõ es ( Satzen ) filosóficas » :-!i4*;
r losóficos espelha, assim , o movimento da história humana .
que os colocasse em ordem alfab é tica e indicasse suas origens , evo- 8 Para os argumentos de Eucken , tão ou mais importante que
lu çã o, transformações, contestações e defesas, deturpa ções e retifi-
& a de Trendelenburg foi a influência de Gustav Teichmü Uer, autor
ca çõ es, com indicaçã o de fontes, autor e das épocas at é o momento
de Estudos para a história dos conceitos (1874) e dos Nonos estudos para
atual ” .31 Em seu Do conceito da história da filosofa (1815) , Christian
a história dos conceitos (1876-1879) . TeichmüUer via na Geschichte
August Brandis chega ao ponto de conceber a história da filosofia v

der Begriffe a pré- condiçã o para o progresso da filosofia , na medida


como a história dos conceitos filosóficos. a
•if-
em que seria capaz de revelar os caminhos por meio dos quais um
Nao obstante todas essas declara ções de boas inten çõ es, na pri- dado conceito ascende à condição de “ conceito fundamental” . Para
meira metade do XIX a história dos conceitos se limitou a poucas x esse fim, a hist ó ria conceituai deveria levar em conta nã o apenas
iniciativas isoladas, n ã o chegando a conhecer nenhum empreendi- &
o estudo dos estados de consciê ncia individuais daquelas pessoas
.
mento sistemá tico Em 1870 , enfim, Friedrich Adolf Trendelenburg
*
V;
que formulam os conceitos, mas també m as “ condições sociais, da
- autor cujas marcas se fizeram sentir no pensamento de Dilthey - Ty
atmosfera religiosa e polí tica” em que isso acontece. TeichmüUer
escreveu uma história do conceito filosófico de “ pessoa ” . Com isso, concebia a história conceituai como uma tópica cronológica. Depois
Trendelenburg pretendia entender por que o conceito de persona, i de lecionar na Universidade de Basileia entre 1868 e 1879, decide
que para os antigos evocava uma m áscara, mera aparência, assumirá *
$
retornar à Alemanha. Os principais aspirantes a sua sucessã o sã o
mais tarde, com e a partir de Kant , o sentido daquela inst â ncia que -
£v ningu é m menos que Nietzsche e Eucken , sendo este (um ex-aluno
expressa a essência moral do homem 32 . de Teichm ü Uer) o escolhido.
O impulso decisivo só vem em 1872 com RudolfEucken, que -Í

i -
A O fracasso de Nietzsche significou , curiosamente » a continui-
ambiciona editar um léxico histórico da terminologia filosófica. Se-
dade do desenvolvimento da hist ó ria dos conceitos a partir de seu
guindo de perto as concepções de Trendelenburg, Eucken entende ?!
Vi
berço su íço. De fato, na virada para o século XX, diversos estudos
que a história dos conceitos não deve ser uma coleção de curiosidades,
mas revelar “ a história interna de cada termo específico ” . Somente <
histórico-conceituais viriam atestar a influ ê ncia do programa esta -
belecido por Eucken. Sua História e critica dos conceitos fundamentais
a pesquisa liistórico-conceitual estará em condi ções de decidir se
da atualidade (1878) passa a se chamar, na segunda ediçã o (1893), Os
um determinado termo filosófico deve sua origem a um ato criador
; conceitos fundamentais do presente e se estrutura a partir de uma série

II
-
de pares antit é ticos: subjetivo / objetivo; a priori / a posteriori; monis
3a
Estasc çSo it baseia ampla mente em MEIER , Helmut. Begriflsgeschichte. in: RITTER ,Joachim mo /dualjsnio; orgâ nico/ mec â nico; te óí rco/prá tico; imanência /
(Hrsg.) Hittõíruhes WttUtMt dir Phitowphie (vol. 1). Basel: Schwabe, 1971, cols. 788-808. transcendê ncia , etc.
. .
Apud MEIER Begfiffesgeschichtc, op clt., col. 792.
I
Publicado postumamente TRENDELENBURG , Friedrich. Adolf. ZurGeschichte des Wortes >.
Person. - . -
Studiett , v. 13, p. 1 17, 1908 (clt. p 3 4). u Apud MEIER, Begriftesgescbichte, op. cit, col. 795.
;i

24 25
O CONCOTO CE HtSrÓííA ife
Mm ir '
PkltAOO

Sí . - '

il Na introdu ção de seu livro » Eucken diz que os conceitos sr \



Guerra, lugar de destaque cabe a Erich Rothacker. Rothacker
“ nã o são filhos do momento, mas se enraízam no passado ” . Não se 0' :;
/ * iniciara seus estudos de filosofia em Kiel e ainda na gradua ção
l:É!¡ pode falar em história do conceito enquanto um de seus elementos
centrais se mant ém constante na diacronia , A tarefa da história do
M -
:
percorrera os livros de Karl Lamprecht e Kurt Breysig, os mais
controvertidos representantes da história cultural na Alemanha de
;{
tSf
fins do século XIX. Entre o$ professores que o marcaram estavam o
'
I Mr

.' : conceito estaria em identificar quais seriam esses elementos centrais


;;
• :
invariantes, Mas Eucken reconhece a historicidade dos conceitos e, m:
m sociólogo Ferdinand Tõnnies, o historiador da arte Carl Neumann
Vi':
portanto, a necessidade de adequ á-los ao tempo presente, a essa “ era Mt
V: e , em especial , o filósofo Max Scheler. Em sua tese de doutora-
l. f dos jornais di á rios e de má quinas” . Insistindo num ponto que será mento, concluída em 1911, Rothacker se dedicou ao pensamento
igualmente sublinhado pela gera çã o seguinte de historiadores dos M histórico de Lamprecht . Para a tese de Habilitation, se transfere para
! i conceitos, ele percebe com clareza a indissociabilidade entre experi- m Heidelberg e escreve uma Inlroduçdo às ciências do esp írito que é, em
Ií ê ncia histórica e vocabulá rio filosófico: “ uma intangível quantidade m Larga medida , uma história da escola histórica alemã. O trabalho
i! de novas experiências implodiu , junto com as antigas formas, os --u
:n n ão deixa de ser notado por historiadores de prest í gio como Georg
i\ antigos conceitos” . Assim, “ nao surpreende que hoje se negocie e .
M
vs
.
von Below e Friedrich Meinecke Em Heidelberg, cidade que viria
discuta tanto por causa de conceitos!” 34 É importante observar que a se tornar um dos principais centros irradiadores da história dos
Eucken fala em Geschichte des Begriffes e em Begriffsforschung. conceitos em sua acepçâo atual, Rothacker chega a atuar algum
Em 1899, surge o Dicion ário de conceitos filosóficos, do filósofo 1 tempo como Privatàozent > mas seu caminho à cá tedra não parece
'

austríaco Rudolf Eisler. Em sua segunda edição se lê que “ o objeto M muito promissor na “ aldeia mundial” de Baden.
; : deste dicioná rio é a histó ria , baseada nos escritos dos filósofos , dos I Em 1926 publica sua Lógica e sistemá tica das ciências do espírito,
f conceitos e expressõ es filosóficas” . Seu objetivo expresso era “ dar Ia

em que manifesta uma primeira aproximaçã o em rela ção à antro-
a conhecer esta mudança no sentido dos conceitos e expressõ es, pologia filosófica. Corno a obtençã o de um cargo universitá rio
esta altera çã o de quantidade, qualidade , valor e conteú do concei-
i
• V n ã o se apresentava ainda como uma possibilidade real, Rothacker
tuai ” . Para Eisler, seu dicioná rio “ de forma alguma pretende ser ou
substituir uma histó ria da filosofia ” , mas apenas “ completá-la ” , 35 A
I vê sua grande oportunidade na inten ção anunciada em 1927 pela
“ Sociedade alemã de apoio à ciê ncia” de editar um grande dicioná-
despeito de toda essa aparente sofistica ção, posteriormente se cri- IM rio filosófico cultural . Rothacker abra ça entusiasticamente a ideia .
-
ticou essa obra por se concentrar principalmente em definiçõ es e U Ele elabora um projeto no qual esse dicion á rio deveria se estruturar
em tomo de conceitos filosófico-culturais fundamentais e de uma
] :
na tentativa de solucionar problemas filosóficos, ficando o trabalho
especí ficamente histórico-conceitual praticamente obliterado. 1 concepção auténticamente interdisciplinar, uma vez que “ todo o
: trabalho de esclarecer filosoficamente os conceitos fundamentais
IV. b não dá em nada caso a filosofia não $e mostre capaz de colocar seus
conceitos numa rela çã o viva com os conceitos fundamentais da$
S*

Na transição entre essa titubeante primeira gera ção de trabalhos ci ê ncias específicas” .36 Em abril de 1927 esse projeto é enviado ao
i?
em hist ória dos conceitos e a que tomaria forma depois da Segunda
-

ministé rio da educaçã o. Para concretizá lo, Rothacker acreditava ser


v;
necessário fundar um instituto de pesquisa nos moldes dos Institutos
il
.
BUCKEN, Rudolf. Die Grundbegriffe der Gegtnwri Historisch und Kridsch Entwickeh . I
.
Leipzig: Veit & Comp., 1893, p 7-12.
. .
beatbtiUt.Berlin: Ernst Siegfried Mittler und Sohn , 1904, v I , p. iii vii
. - .
-
EiSLER , Rudolf Vorwort in; Wdrierbueh der philcsoyhiichcn íf egrtjfc historií ch qndktinirisflg ! ;?
.
Cludo por STÕV/ ER , Ralph. Etlch Rothacker Sein Leben und seine Wmensctuft vom
.
Menschen. Bonn: Bonn University Press 2012, p. 97.

j
26 I 27
r j .
O CCNaflQ OE H> 5 l 6?JA
wy
0
Psy Acó

S¿K'

, Kaiser-Wilhelm (atual Sociedade Max Planck ). Seu intento era in- m-.::
m
M:: razão ” . Insiste na importâ ncia de se explorar os conceitos filosófico-
j! i crementar o contato entre as diferentes disciplinas nas humanidades m
m culturais fundamentais e sonha com algo das dimensõ es da grande
j: e, simultaneamente, preparar o léxico em conjunto com urna equipe m enciclop édia protestante Religião na historia e no presente. Rothacker
M
i1 sob seu comando. Tal empreendimento, acreditava , seria condiçã o m toma o exemplo das obras de Troeltsch, Heussi e Meinecke para
iii necessá ria para se chegar a uma “ ciê ncia do homem ” assentada em mostrar que, nao obstante sua importancia , elas n ã o bastavam para
¿ I bases histórico -culturais e antropológicas. Seus planos, entretanto, mm se obter uma visã o ampla da história e do significado do conceito
n ã o sensibilizaram as autoridades educacionais prussianas. Ralph ;í
m > de “ historicismo” . Em ultima inst â ncia , o Arquivo deveria fornecer
Stower acredita que se tenha visto na ideia do léxico e do instituto as bases sobre as quais se erigiria, mais tarde, um grande dicionário
algo além das possibilidades de um pesquisador que sequer chegara -
- KS

&,
V de conceitos."10
.
à cá tedra ainda 37 Com sua nomea çã o para a Universidade de Bonn m
m Simultaneamente a esses movimentos de Rothacker, davam-se
em fins de 1928, Rothacker passa a se dedicar a outros temas, mas \
il os primeiros passos para o surgimento do primeiro e mais ambi-
fe
o desejo de levar adiante o dicioná rio permanece vivo. •• cioso l éxico de história dos conceitos do p ós-guerra: o Dicionário
jí Ainda que sejam evidentes os sinais de sua aproxima çã o com •a histórico da filosofia ( Historisches Wôrterbuch der Philosophic ) . Em 1957,
o regime nacional-socialista , Rothacker n ã o enfrentou maiores ü a editora Schwab , de Basileia, adquire os direitos do dicioná rio de
j
problemas para reiniciai sua vida acad êmica ap ós 1945.38 J á nos
*
-Ai
T ?
Eisler com a inten çã o de fazer uma reedição atualizada . Dois anos
anos posteriores ao fim da Segunda Guerra , ele percebe que há um depois, o projeto é assumido pelo filósofo Joachim Ritter. Ritter
clima favorá vel à retomada do seu antigo projeto. A partir de 1949, Jí coloca como condição que o trabalho seja realizado em conjunto
-
tenta viabilizá-lo através da recém fundada Academia de Ciê ncias com alguns de seus alunos na Universidade de Mü nster. Do grupo
.
de Mainz 39 Em 1955, finalmente funda o prestigioso Arquivo para a •; yr
inicial fazem parte, alé m do pró prio Ritter: Hermann Lübbe, Odo
história dos conceitos , primeiro periódico especializado nessa á rea . Para .‘¥fi Marquard , Robert Spaeniann, Karlfried Grü nder (que assumirá
[ •
A Y
m
-

Rothacker o dicioná rio de Eisler se limitava a um amontoado de Í V¡


r-751 a editoria depois da morte de Ritter), Ludger Oeing HanhofF,
cita ções e n ã o oferecia uma “ história do conjunto da terminologia Heinrich Schepers e Wilhelm Kambartel. Um protocolo de urna
relativa à filosofia e is visões de mundo [que fosse] realizada com
i das reuniões, realizada em 13 de agosto de 1959, mostra que nao
%
esmero histó rico -filológico ” , A nova história dos conceitos deveria
i se buscava apenas uma atualiza ção , mas urna total reestrutura çao
do antigo dicioná rio de Eisler. O novo lé xico deveria fugir das
aliar o rigor da pesquisa histórica à tradição da história dos problemas
(que remontava às pesquisas em hist ória da filosofia de Wilhelm
Ii definiçõ es até entã o existentes, inclusive da influ ê ncia de quaisquer
Windelband) , abrindo espa ço nã o apenas para a inova çã o no campo *
1
“ doutrinas” , com vistas a produzir “ uma hist ó ria dos conceitos a
partir da história lexical” .41
da história das ideias, mas também para uma “ aprofundada crítica da
1• Entre fins de 1959 e inicios de 1961, ainda durante os trabalhos
3 preparatórios, Ritter e seus alunos tentam trazer Hans-Georg Gada-
57
ys
.
STÕ WBR , Erieh Rothctcktr ©p. cu., p. 100 .
Embora tenha declarado num question á rio preparado pelas forç as de ocupaçio aliadas, em 19*16,
3_
!
mer (então presidente da “ Comissão de Investiga ções em História
que “ a pol í tica es t á , dentre as coisas que me interessam, quase no 12° lugar” , sabe -se que na d écada

i dos Conceitos da Sociedade Alemã de Pesquisa ” ) para o grupo, na
de 1920 Rothacker se sentia pr óximo do campo conservador. Nã o se sentiu atra ído pelo famoso

J)
c írculo intelectual mantido por Alfred Weber e Marianne Weber em Heidelberg, por cons [ der £-!o
.
demasiado liberal e mesmo “ impatrió tico” STÕWER , Eríé Rothacker, op. cit ., p. 53, 78
KRANZ, Margarita. Geistige Kontiauirft? Rothackers Projekt eines begrifTsgeschichtUchen
. i 40

41
. .
ROTHACKER, Erich. Gelcitwort ArchivJúr BzgiijJigtschichU , v, ) > p 5 ~9, 1955.
Citado por TINNER , Walter. Das Umernehmcn ‘Hmorischc Wôrterbuch der Philosophic'.
.
Woí terbu ç hs von 1927 \ md dessen Wiederaufnahme 1949 Forum JnUfdiszipUn ü re
'
•i
.
In: POZZO, Ricardo; SGARBÍ, Marco (Hrsg.) Elm T/ pologic der Formen der Btgiljfsgeschhhle
. -
Re$i{ ffsgesí híchte, v. 1, n . 2, p 46 48, 2012 . ! .
Hamburg: Meiner, 2010, p 10.

28
í
29
í
I
&
i
O CONCITO Oz HlSlÓé-R mm
m ' Psí f Àao

i
% condiçã o de editor-chefe ao lado do pr óprio Ritter. As negocia ções fto :: f entre ciência hist órica e história dos conceitos ocorreu, segundo
da década de 1930, confundindo-se com os
feí !
<) fracassam diante do volume dos honorá rios pedidos por Gadamer e
de sua demanda de que os direitos do dicion á rio fossem passados aos
mm ICoselleck, ao longo
nomes de Rothacker na filosofia, de Brunner na história45, de Cari
mm
Ir editores-chefes , e não à editora Schwab.42 Pato é que ao longo das
décadas de 1950 e I 960 ocorre uma evidente pluralização de concei-
Schmitt na ciência do direito e de Jose Trier na linguística. Significa
dizer: entre os principais inspiradores da virada teórico- metodológica

I
.
tos a respeito da história dos conceitos Em 1965, no seu conhecido
estudo sobre a história do conceito de secularização, Hermann Liibbe
defende a histó ria dos conceitos como uma história do uso das pa-
lavras (Wortgebrauchschichte), vendo nela um instrumento poderoso
«
ssfe-u

w ;:
y vivida por essa disciplina, n ão poucos estavam próximos do espec-
tro maís conservador da polí tica alema do per íodo entreguerras,
quando não do nacional-socialismo. Nas derradeiras páginas de
46

sua Filosofia da História (1934), Rothacker chega a evocar passagens


p
.i
no sentido de lançar luz sobre aquelas crises recorrentes na história Jf de discursos de Hitler com menções à “ mentalidade heroica da ra ça
da filosofia e das ciências humanas, situaçõ es “ caóticas” no uso de nórdica ” e insiste na “ necessidade de apoiar energicamente todas as
m
m
I! determinados conceitos. Ela serviria, portanto, como instâ ncia de
controle e de antídoto em épocas de anomia conceituai.45
Conclu ído em 2007, o Dicionário histórico da filosofí a abarca o w% T
medidas eugênicas” levadas a cabo pelas autoridades Antecipando
47

um argumento que seria empregado por Bmnner cinco anos mais


.

i
• i *
.
universo de 3,670 conceitos Para tanto, foi mobilizado um exército
de 1.500 autores (inclusive um presidente da Rep ú blica: Roman
mm
m
tarde em Terra e dominação, Rothacker afirma que diante da vit
da “ revolu ção nacional-socialista ( ) os conceitos ...
fundamentais
de encontrar a sua confirma ção nos acontecimentos recentes tanto
ória
tê m

íj Herzog), a um custo final estimado em quinze milhõ es de euros. m quanto nos preté ritos” .48 O próprio Koselleck, numa carta enviada
¡
¡;

Ante os outros grandes projetos similares, como o Léxico dos conceitos a Carl Schmitt em 18 de fevereiro de 1961, comenta as razões pelas
-
político sociais na França e os Conceitos históricos fundamentáis , a marca quais “ a irrupção revolucioná ria de 1933 se perdeu ” .45
i
I —
distintiva do Dicionário histórico da filosofia sua força, mas possivel-
ii

.

mente, tamb ém , sua fraqueza radica na não subordina ção a uma


í- tese constitutiva central ou a uma concepçã o unitá ria de história KOSELLECK, Reinhard. Sozialgeschichte und Begriffsgeschicbte. Ia: SCH Í EDER ,
$ Wolfgang: SELLIN , Volkcr (Htsg.) Soziaigeschhhtt in Dettisehhnd , vol. I. Gottingen:
. dos conceitos / 4 .
Vandenhoeck & Ruprecht, 1986 p. 91.
ff < s Da vasta íiteraturasobre Schmitt , cf. a excelente biografia esctiuporMBHRING, Rçinbartl.
V, 1 . .
Çatl sá miit Aufsrieg und Fali. M ü nchen: C. H Beck, 2009. Sobre as rela çõ es de Trier,
s -
Rothacker e Brunner com o nacional socialismo, ver os estudos de HUTTON, Christopher,
.
Lbrguistta and theThirdRíüh London: Rout!edge, 1999, p. 86-105:BÕHNIGK, Volkcr. Hakung,
Esta breve exposição sobre a histó ria da história dos conceitos
na Alemanha e pa íses de língua alemã nao poderia ser concluída sem
1
1
.
Stil , Typos, Kultur Rothackers begrifisgeschichtlicher Bnuvuif einer nationalsoziaBstisehcr
KuhujtheOric. Forum bitenUszlpUnitc Begrijfsgesátihte , v. 1, n. 2, p. 70-82, 2012; MELTON ,

que enfrentássemos uma questã o polêmica, mas da qual nao estamos Janies van Horn. Otto Brunner e as origem ideológicas da Begriffsgcschkhte. In: JASMIN,;
no direito de nos esquivar. O momento decisivo de aproxima ção í .
FERES JR.(Orgs.) História dos «muitos, op. cit., p. 55- 69; ALGAZI , Gadi Otto Brunner .
-h
.
Konkreter Ordnung und Sprachc der Zeit In: SCH ÔTTLER , Peter ( Hrsg.) Gcuhichte ah

§ - .
n ROTHACKER , Erich . GesákhispHilosophie M ü nchen: Oldenbourg, 1936, p. 147 148.
-
Legifimtionswissentihdfi , Í 9 Í & Í 945. Frankfurt am Main; Suhrkamp, 1998, p. 166 203,
-
°
TINNER , Das Untetnchmen, op. eic., p, 10-11.
L Ü QBE, Hermann. SãkufarisUrttng. Geschichtc eines ideenpolitischenBcgíifR Freiburg: Karl
Alber , 2003.
RITTER , Joachim. Leitgedanken und Grundsiitze des Histomchcn Wõrterbuchs der
s

4
« ROTHACKER , Gesákhlsphiksophíe , op, cit., p. 145-
” %..] wacumderrevolution'arc Aufbiuch von 1933 ver spick wurdc", Citado por MEHRING.
Begriffsgeschicbte mit Carl Schmitt , op. cit., p. 151. Sc levarmos em coma que o uso de
Philosophic. Archlvjiir Bcgnffsgeithtehte , v. 1 í , p. 75 80, 1967. Um bom exemplo das vantagens determinados conceitos permite , no interior dc um dado campo semâ ntico,¡mediatamente
-
e desvantagens da ausê ncia deliberada de uma tese “ Corte" subjacente ao dicionirio de Ritter 1 identificar e "localizar" um determinado interlocutor no espectro pol ítico, pode-se imaginar
ê o verbete escrito por SCHOLTZ, Gunter. Gcschichte, Historie. In: ttitforisthes W&rtcrbutk o que significa , sobretudo num pa ís como a Alemanha do pós-guerra, referir -sc â 1933 como
Ser Philosophic, vol. 3. Basel: Schwab, 1974, cois. 344 -398. !:5 uma "revolu ção".
1
30 "í
31
I
*
;
r
£ O CONC ÉÍIO Di H>3 TÓ *W PrtMoo
fi . ..
mm
..
;f
- V •}
.

Essa associação entre historia dos conceitos e a chamada
“ Revolu ção conservadora ” da Rep ú blica de Weimar e a sua
do campo conservador ? A quest ã o está longe de ser simples, mas

£ continua çã o sob o nacional-socialismo terá contribuido para o imm


@ deve-se sublinhar aqui ao menos um aspecto importante. Uma
das dimensões da vida social sobre a qual o nacional socialismo -
I> : grau de reconhecimento relativamente modesto de que gozou o .
é® atuou de forma programada, e em proporções desconhecidas até

¡
í, projeto do léxico no meio historiogr á fico alem ã o entre as d éca
das de 1970 e 1990 ? Em seu balan ço da historiografia do século
- ent ã o , foi precisamente a esfera da linguagem Um precioso tes- .
: temunho de Ernst Cassirer nos d á uma pá lida ideia do que isso
XX, o papa da historia social da Escola de Bielefeld, Hans-Ulrich •
representou na prá tica . De seu exílio norte-americano, ele escre-
§
i Wehler, procurou inflacionar a influencia de Brunner (a quem
se refere como “ o historiador nazista mais influente até hoje” )
sobre o Grupo de Trabalho em Historia Social Moderna e sobre
# ve: “ Atualmente, se alguma vez acontece que eu tenha de ler um
livro alemao publicado nestes últimos dez anos [...], descubro com

1 os Geschichtliche Gnmdbegriffe, falando ainda em “ contaminaçã o”


1
'
grande surpresa queja n ão entendo o idioma alemão. Cunharam-
se palavras novas, e as antigas são empregadas com um sentido
A do lé xico pelo pensamento de Schmitt .50
1I

ú / novo; sofreram uma mudança profunda de significado” . Cassirer


E rigorosamente irrelevante para a história da historiografia , afirma que “ aquelas palavras que antes eram usadas num sentido
assim como para a história das ciências em geral, a tentativa de descritivo, l ó gico ou semâ ntico , se empregam agora como palavras
valorar a contribuiçã o dos pais fundadores da moderna história dos má gicas, destinadas a produzir determinados efeitos e a estimular
conceitos a partir de crité rios extracientíficos; mesmo porque os
inspiradores da Escola de Bielefeld (Theodor Schieder e Hans Ro
1 determinadas emoções” 52 »

thfels) tinham igualmente pertencido ao campo conservador. Nã o


- Í
:
ríp
Em um de seus mais importantes ensaios, Koselleck postula
M que transforma çõ es “ no meio social ou polí tico se correlacio-
é incomum , na história das ciências humanas, que justamente de nam com inova ções metodológicas” , transformações essas que
autores politicamente conservadores possam advir grandes avan ç os, ..-Ãi
V Ú não raro sao experimentadas de forma relativamente homogé nea
enquanto aqueles situados no campo liberal ou progressista se man-
têm, muitas vezes, firmes na sacralização da tradição. Os nomes de I no interior de “ unidades geracionais ” específicas.53 Tal conex ã o
ilumina bastante bem o nosso problema. Pois nã o resta dú vida
¡ Otto Bnrnner, de um lado, e de Gerhard Ritter, de outro, ilustram de que a gradativa tematiza çã o da linguagem enquanto pot ê ncia
.Ai-:í
esse “ paradoxo ” à perfeiçã o.51 histórico-social , embora já se manifestasse nos trabalhos de diver-
:
A pergunta que se deve colocar - sitie ira et studio - é de outra
natureza: por que a (re) descoberta da linguagem enquanto po-
I 4}
sos autores ligados à “ Revolu ção conservadora ” , ganha impulso
decisivo com o advento do nacional-socialismo e suas iniciativas
é
tência histórico-social foi originalmente realizada por acad ê micos mais ou menos sistem á ticas de criar um vocabulá rio pró prio. E
compreensível que, nessas condições , a linguagem se tornasse
I um dos mais privilegiados campos de an álise histórico-social para
-
WEHLER , Ham UJrich. Ijlstorisches Denken am Ende des 20.JM ¡undens. Gottingen: Walhtcin ,
1
iy

2002, p. 48- 49, Sobró as wnsõcj entte a h í st ó tia social de Bielefeld e a historia dos conceitos, a gera çã o de pesquisadores e intelectuais que viveu a ascensã o e
cf. DIPPER , Die ‘Geschichtliche GrimdbegrifiV, op. cit., p. 304 305.
-
51 Para Koselleek , Brunner c um bom exemplo de como “ interesses cognitivos politicamente
condicionados podem conduzir a novas ideias teó ricas e metodológicas, as quais sobrevivem
1 queda do nazismo. Sinal evidente disso. é que tal movimento se
estendeu inclusive aos crí ticos do regime nacional-socialista , entre
a seu contexto de origem” KQSEtXECK , SozUJgesduchte und Begriffsgescliichte, op,
.
cit ., p . 109 Gerhard Ritter foi um dos poucos historiadores alem ã es de prest ígio que S
$c op ôs resolutamente ao nazismo. No â mbito da disciplina , contudo, st
opôs de forma
igualmente decidida i recep çã o da Escola dos Amt â fcs na Alemanha , tendo ainda criado
dificuldades ao estabelecimento da história social na década de 1950. Cf. SCHULZE , Deulsdte
1 M

w
CASSIRER , Ernst . El mito del Estado. M é xico: Fondo <le Cultura Económica , 1992, p. 335.
. .
KOSEIXECK , Reinhart Erfahrungswatuiel und Methodenwechsel Bine historisch
.
anthropologisehe Sk¡2 ze In: ZeUsMiUn. Studien zur Historik , Frankfurt am Main: Suhrkamp,
-
Gesdikiuswvsett .
í dí aft naeh 1945 , p. 285-289
i ..
s
2000 p 3205.

32 33
éA.
m WM :l
n
£rjg
- L
;
:
O CQNCUro DS HtSTÓfiA
-
mvvvsv .
'

l
eles, os pioneiros da chamada crítica da linguagem ( Spmchkrí tik ) :
s Victor Klemperer , Dolf Stenberger , Eugen Seidel e Ingeborg ipr ./
i Seidel-Slotty , e cujas obras, por razõ es óbvias, $ó puderam ser
I publicadas depois de 1945.54 mm
¡a *** m
!.
mm
•. . '
Os leitores de Koselleck sabem que para ele a história - nos
éV ;

dois sentidos do termo - se constr ói numa dial é tica infinita de crise


i
«9
K
e continuidade. Aplicado à historia da historia dos conceitos, esse
princípio se deixa traduzir pela máxima Zukmft braucht Herkunft. Em
-
que pese o uso de uma retórica anti historicista em um ou outro de
m
§
iMs! i seus textos da década de 1960 , Koselleck parece ter evolu ído, em

\.
!
;
i i.

u
\
sua fase mais madura, para uma posição francamente conciliat ó ria a
esse respeito. Ele reivindicará para o léxico dos conceitos as rubricas
de “ historicismo sólido” e “ historicismo reflexivo” .55 Dono de uma
perspicácia e de uma sensibilidade que ainda hoje nos surpreendem,
* m
m
M
I
• :¿
Vi
L!
Sé rgio Buarque de Holanda foi, provavelmente, um dos primeiros
a se dar conta disso. Nos ú ltimos parágrafos de seu grande ensaio À
1!
sobre Leopold von Ranke, publicado em 1974 na Remia de His-
tória , ele comenta o aparecimento dos dois primeiros volumes dos
4
i O conceito de Historia
Geschichdiche Gnmdbegriffe e conclui que a “ notável vitalidade ” ali
f
manifestada era “ uma demonstra çã o de como se pode remo çar, sem t
! tra í-lo, o espí rito da ‘escola’ hist órica alemã ” .56
ã
I
I
;
t il
1
'

5
ii KLEMPERER , Victor. LTl * A UngHtigem do Terceiro Retch. Rio de janeiro: Contraponto,
3j
2009; STERNBBRGER , Dolf; STORZ , Gerhard; S ÜSKIND, Wilhelm. Aus don W ôtUrbtuh
.
des Urttnensrftett Hamburg: Claassen , 1957; SEJDEL, Eugen; SEIDEL-SLOTTY, Ingeborg.
1
6
Spracfnt'á ndtl ¡m Dritten Reich: eine krfc ísche Untersuchung feschistischer Emfíü sse. Halle:
Verlag Sprache und Liceratur, 1961. 4
5i “ Wir befleissigen uns eines soliden Histonsnius” “ reflekderien Historismus” . Citado por
DIPPER, Die 'GeschichtKche Gnmdbegriffe’, op. cit ., p. 290. I
HOLANDA , Sí rgio Buarque do. O atual e o inania!e Leopold von Ranke. In: HOLANDA ,

sjil
51

Sergio Buarque de (Org.) Ranke. São Paulo: Á tica , 1979, p. 60.


34 it'
4
\ t'l
.
£ V

ill!
vi ;
ill
I; i ! :

M:
¡i I Introdução *
. *
OÁ v ::

RewWf Koselleck

v
i .
•í * V:

*
Vi

m:
m
‘ M O fato de “ Historia” ser um conceito histórico bá sico parece
decorrer da própria palavra. Mas a expressão possui sua própria

aii hist ó ria, a qual somente ao final do século XVIII lhe permitiu
. i
Vi ascender à condição de conceito mestre, político e social. Abran-
.\*¿ri í gendo tanto passado quanto futuro, “ a Hist ória” se transformou
>í;
num conceito regulador para toda a experiência já realizada e ainda
a ser realizada. Desde então, a expressão ultrapassa em muito os
M limites de simples narrativa ou de ciê ncia histó rica.
I. -Al '
Por outro lado, a “ Historie” , como conhecimento, narrativa
• s
e ci ê ncia , é um fen ô meno antigo da cultura europeia . Nao h á
a
i
m
duvida de que a narra çã o de histó rias faz parte da sociabilidade
dos homens . Mais: sem hist órias n ão h á memória , n ã o h á nada
m em comum , nã o há autodefinição de grupos sociais ou de uni-
i! T dades de a ção políticas, os quais só conseguem se constituir em
r
•i '
elementos agrcgadores através de mem órias comuns. Esse tipo
SI de “ hist órias” naturalmente n ã o sã o conceitos bá sicos, mas se
• Ni mantê m como narrativa daquilo que estava em jogo numa deter-
minada hist ória. Pode se tratar da história de uma batalha , de um
ato jurídico, de uma viagem, ou de um milagre, do assassinato
• v
de um rei, ou de um amor , Sempre se narra de quem trata e de
ê
f
i que trata a hist ória. At é esse ponto, a expressã o “ uma histó ria ”
i n ão constitui qualquer conceito básico, no m á ximo aquilo que ,
V

* Agradeç o aos estudantes de dois semin á rios por coment á


íí rios, ajudas e correções, em especial
aos senhores Horst Gilnther» Jõ rg Fisch , Rotí R.eichardt e Rejnhaid Stumpf!
1
*

1
. 37
• ! i

m .
O CONCHO 06 H STÔ.Í1*
Mmm: tf /IRCPOÇAO

umB como um somatório de urna narrativa, pode, ao $eu final, ser sub - mm reflete a conscientiza çâo daquilo que era vivenciado como nova era ,
$
Si ;
sumido num conceito,
O fato de que a História se refira à “ própria História ” [ Geschi -
li#
Ijte

justamente naquilo que se considerava como ú nico e diferente de


tudo aquilo que houvera até então. O in ício da Neuzeit , do novo
Ui
chte selbet], e nao a urna historia de algo, constitui uma formulação mm tempo, da Era Moderna , evidentemente, constitui um processo de
í da Era Moderna . Somente assim, pouco antes da Revolu ção Fran- longo prazo, e somente no seu final se encontra o reconhecimento
ív;: i
m cesa , a amiga palavra usual se transformou num conceito central #i do cará ter processual desse período: isto é, a descoberta da “ Hist ória
:

i l
da linguagem polí tica e social.
Esse conceito de “ História em si e para si ” [Geschichte m and
m
#
. •
como tal ” [Geschichte ilberhaupt ] , como resultado do Iluminismo.
Antes disso, existia uma multiplicidade de Histórias, que em
í! :
il
*-
fiirsich] incorporou uma teia de significados, seguidos como trilhas é
m
geral apresentavam similitudes entre si ou que até se repetiam -
i .:
neste texto: a Hist ó ria como acontecimento e sua narrativa , como histórias com alguns sujeitos que agiam ou eram objeto da ação,
;

M
y destino e como informa ção a seu respeito, como providência e
sinal a respeito, todo conhecimento da Historie como coletâ nea #
ou ainda (na narrativa) com objetos determin áveis. Desde o século
XVIII existe uma “ Hist ória propriamente dita” [ Geschichte schle-
u de exemplos para uma vida piedosa e justa, prudente e até sábia. chthin] , que parecia ser seu pró prio sujeito e seu próprio objeto, um
i
.

Iñ Sem renegar todas elas, o moderno conceito de Hist ória articulou


y» sistema e um agregado (como se dizia na época).


muitos dos sentidos antigos. m, Espacialmente corresponde-lhe a Hist ó ria mundial [Welt -
i i'
Em contrapartida , a novidade est á no fato de que o conjunto 1 geschiehte] ú nica, e temporalmente o cará ter ú nico do progresso,
do emaranhado de relações polí tico-sociais deste mundo, em todas
as suas dimensões temporais, deva ser entendido como “ História” .
1 o qual somente com a “ História” foi guindado a conceito - isso
antes que ambos os conceitos fossem se afastando um do outro ,
í[ j Em todos os sentidos em que antigamente se podia evocar justiç a 1 gradativa mente , no decorrer do século XIX ,
Uma das caracter ísticas estruturais dessa nova História é que
ou castigo, violência, poder, provid ê ncia ou acaso, Deus ou o des- II
tino, se podia recorrer, desde o final do século XVIII, à Histó ria .
Novos significados, que antes não se conseguiam resumir
IS ela reduziu a um mesmo conceito a contemporaneidade de coisas
não contempor â neas, ou a nao contemporaneidade de coisas con-
§ linguisticamente num conceito ú nico foram agregados: a História
1
$ temporâ neas — aproximando-se também aqui ao progresso. Isso é .
como processo, como progresso, como evolu çã o ou como necessi- M v álido não só no sentido evidente de que toda e qualquer narrativa
l!
dade. “ História” se transforma num amplo conceito de movimento . traz o passado para o presente, eliminando, dessa forma , as dife-
De outro lado, se abre um novo espa ço de significados: “ His- renç as temporais que tematiza. Muito alé m disso, a realidade da
II História moderna se compõe de uma multiplicidade de transcursos
!
tória” como campo de atua çã o e como a ção, como liberdade. A M
História torna-se planejável, produtível , factível , De “ História” que, pelo calendá rio, são contemporâ neos, mas que pela origem,
decorre também um conceito de ação. As duas variantes - o lado

objetivo e o lado subjetivo , que se excluem mutuamente, conferem
! pelo objetivo e pelas fases de desenvolvimento n ão são contem-
porâ neos. Disso decorrem tensões, perspectivas de retardamento
ao conceito uma ambivalê ncia que lhe é inerente desde ent ão. Sua 1 e de aceleraçã o, distorções e uniformizações, que fazem parte da
utilizaçã o como palavra de ordem, sua suscetibilidade à ideologia
e sua capacidade de critica da ideologia derivam desse fato. II tem á tica de nossa História mundial [ Weltgeschichte] .
A contemporaneidade do n ão contemporâ neo já se delineia
A configuração do novo conceito indica um processo de aden- sI —
na Historie antiga , quando os helenos descobriram a partir de sua
samento de um tipo de experi ência pelo qual se passou no período perspectiva -, entre os bá rbaros, formas de comportamento caracte -
da Revolução Francesa , criando novas expectativas. A expressã o I r ístico de está gios culturais que eles próprios já haviam percorrido.

i
ñ
38 vf
íil
39
r
Y- :- O CONCITO D £ HlSJ ÓJ.IA isr
P
.i \
í
A tensã o temporal foi reforçada pela expectativa da vivencia crista. I
w II
-
i;

Ela inclui a esperança em um futuro cuja promessa de salvação
i :.
:*

determina o pró prio presente, enquanto um pagão ficaria preso i


y. :
• i -.
ao passado pré-crist ão. I
É
Antiguidade
Desde a descoberta de que nossa Terra é urna esfera , a con-
temporaneidade do n ã o-contemporâ neo se transformou numa i Christian Meier
experi ê ncia de todos os povos que habitam este globo. Desde =ñ
i
ent ã o, a Histó ria é temporalizada, em um sentido genuino. O
i
i
tempo passa a ser estratificado, nã o mais so como vivenciado ao
natural , mas també m como forma de realizaçã o e resultado da
a ção humana , da cultura humana e sobretudo da técnica humana.
II
• •
-i Somente a partir do momento em que acelera çã o e retardamento
Vj 1. Terminologia
:
' conseguem medir diferen ças de experiencias, cuja equaliza çã o se
transforma em Leitmotiv de uma a çã o polí tico-social , e só a partir 3
n{
do momento em que isso se vincula à expectativa de um futuro A palavra iaxopiv se encontra nas nossas fontes pela primeira
vez em Heródoto, o pater historiae> desde o século V a.C.1 Al í ela
planejável, é que existe o conceito de Histó ria . “ História ” - como
-
conceito legitimador - vai muito além de sua aplicaçã o cient ífica .
I designa tanto saber quanto busca, pesquisa e resultado de pesquisa.
Ele conseguiu reunir as experiê ncias e as esperan ças da Era Moderna 4 Por essa razão, hoje em dia , muitas vezes se utiliza a palavra como
termo para designar as descobertas geográficas e etnogr á ficas levadas
numa só palavra , a qual conseguiu se tornar, desde ent ão, termo de m .
a efeito a partir da J ô nia (“ Historie jónica” ) Ela aparece especí fica-
t:
discordia e palavra de ordem em nossa linguagem polí tico-social. 4 mente para a investigaçã o atravé s da interrogação de testemunhas.2
n Decisivo para a continuidade da história dessa palavra foi o fato de
que Heródoto utilizou faxopiv como t í tulo para suas vá rias formas
i de pesquisa , nas primeiras linhas de seu Prooimion: “ esta é a apre -
r
i-
I
i
senta ção da investiga çã o ( ioxopí vç á xóôeÇiç) de Heródoto de Hali-
carnasso” Aparentemente lhe pareceu a mais importante forma de
obten ção de conhecimento, não por último com vistas ao complexo
i; ?
:4ã
especialmente amplo dos fatos do passado, cujo conhecimento só
?.
t.
poderia ser obtido através de testemunhas.3
1&
1
. . . . . .
HERODOT, Proocmuiin. Cf. 7, 96 1; 2 99 1; 2 118 1; 2, 119 3; 2, 44, 5. A referê ncia
i-y
.
• .
C Í CERO De legibus, 1, 5 . -
apresentada no fragmento de Herá clito (n 129) provavelmente nao é autêntica." Pater hí stôírae" ;

i
-71
2
Cf. SNELL, Bruno. Die Ausdrfí eke fiir den Begrtjf da ÍViutns in der vo/ platcnisehen Phihsophie
Berlim, 1924, p. 59 e segs. Mai í bibliografia em: K1TTEL, Gerhard. Theohgisdus V/ Merbudi
.
xuM Nenen Testament (vol 3). Stuttgart, 1967, p. 394 e segs ., tub verbo iaxopèo).
.
i 3
.
Talvez tamb é m se poderia ter pensado em Oçcapia (cf HERODOT, 1, 29, J ; 1, 30, 1 e scg.).
% -
Nesse caso, a Historie hoje se chamaria “ Teoria'’ e o discurso sobre a deficiê ncia te ó rica
ia

visaría a um d é ficit de Historie.

40
$
1 41
I
O COí KUTO es H*rófcA

If ANTKSUOACS

foi a explica ção histórica através da reconstrução de um aconte-


Com isso , nao havia sido dita qualquer coisa sobre o objeto
dessa pesquisa , o conte ú do da obra de Heródoto. Pelo contrario,
naquela época, a palavra era neutra em relação a qualquer conte údo.
$
m
cimento multissubjetivo, que se compunha de m ú ltiplas ações,
de mú ltiplos acontecimentos, de múltiplas ocorrê ncias, com seus
'Iaxopiv poderia se estender a tudo aquilo que era empiricamente W '.- respectivos entrelaçamentos, e isso ao longo de aproximadamente
.
pesquisável (e, provavelmente, além) Parece paradoxal que a palavra i #::
'

três gera ções. Esse procedimento era novo , e através dele a “ His -
que mais tarde viria a designar “ História” nao podia ser aplicada
m. torie” surgiu entre os gregos. Mas não est á claro em que medida
em seu significado espec í fico original à pesquisa sobre a maior !
1 Heródoto tinha consciê ncia de que , através da tentativa de assim
parte da História , porque, metodologicamente o passado, segundo m responder àquela pergunta , estava constituindo um objeto espe-
Heródoto, só é pesquisá vel para as duas ou três ú ltimas gera ções.4 cial, Em todo caso, ele n ão possu ía um termo para esse campo ou ,
Heródoto foi coerente ao adotar como t ítulo a designação dito de forma diferente, para a forma específica de entrela çamento
metodológica geral, aberta em rela çã o ao conte údo. Sua obra atingia ( histórico) entre a ções , acontecimentos e transcurso ao longo das
sua unidade no fato de que era o relato de pesquisa desse homem 5 . m gera ções por ele percebidos. Ele também não possu ía uma palavra
Tem á ticamente ela abrange uma multiplicidade de objetos que para a forma específica de perguntar, de explicar e de representar.
hoje em dia designar íamos como histó ricos, geográ ficos e etno- m Mas aparentemente nao sentia necessidade disso.
lógicos. Para o recorte especí fico que interessava a Heródoto, nós Heródoto chamou seu tratado de ¿ó yoç * Isso significava algo
mM
ainda n ão temos uma palavra até hoje e provavelmente nã o a tere- mmfc como representa ção em prosa. Ele utilizava essa palavra para si-
mos.6 O pr óprio Heródoto diz que lhe interessa preservar “ aquilo multaneamente designar o fio condutor, e, nesse sentido, de forma
que aconteceu a partir dos homens (rá ysvópeva éÇ á vQpchncov), e m indireta mas n ã o especí fica , o contexto “ histórico” mais geral que
de grandes e admirá veis obras (êpyd) que foram apresentadas por ele estabelecia .
gregos e por bá rbaros” , bem como “ descobrir por que raz ão e por
m Mais tarde , em Tucídides, o acontecimento polí tico-militar
que culpa (Si rjv ahnjv) guerrearam entre si ” .7 Entre as épya não está clara e rigorosamente descolado da multiplicidade bem mais
apenas se incluem ações polí ticas e militares, mas também obras .- O ampla dc experiê ncias humanas de que trata Heródoto. Isso ocorre
arquitetônicas, e quanto à s yevópsva éí ávOpcbrccov provavelmente .-í.iu de forma paralela à abordagem muito mais profunda e ao conheci-
de tamb ém pensava nas maneiras institucionalizadas em que fatos mento mais objetivo desse campo. Mas també m em Tucídides n ã o
acontecem, como costumes e organizaçõ es, formas de vida. se consegue enxergar que ele estivesse consciente da especificidade
Na busca pelas causas da guerra persa (e - complementando - do objeto “ História” ou que até tivesse pensado que sua forma
da vitória grega), est á contemplado aquilo que em termos modernos daquilo que chamamos de “ escrita da História” fosse a correta, ou
se chamaria interesse histórico. E verdade que essa pergunta podia que Hist ória fosse, na verdade, História polí tica.9 Na introdu çã o,
ser respondida de muitas maneiras. A maneira de Heródoto, poré m , ••
m
M
8
. . .
ibil , t 5, 3; 1, 95, 1; 2 , 3, 2; 2 , 123; ‘I , 30, J ; 6, 19, 2 e 3; 7 152 3; 7, 171; 7, 239, 1. Cf
THUKYDIDES, 1, 97, 2. Respectivamente, loyonoiôç (HERODOT, 5, 125), cm oposiçã o
.
* Cf. SHIM RON, B flpãnoç t . , .
ôvrjpeiç íômçv Eranos n. 71, 1973, p 45 e segs. .
a éno c fiooaonoióç e Aoyojpá yoç ( THUKYDIDES, 1, 21, 1) Tíic í dides fala dc Çuyypayr} (1,
-
4
.
A esse respeito, e també m sobre aquilo que segue, cf, MEIER , Christian DíeEntstchung der . . .
97, 2 Cf 1, 1, 1 Alé m disso, Çvyypaç e óç para o historiador; XENOPHON. Hellaiik á, 7, 2,

. .
and Brzãhltwg Munique, 1973, p 251 e segs . - . —
Historie. In; KOSELLECK, Reinhart ; STBMPÊ L, V/olf D í eter (Eds.) Gesthidt íe Emgnts mi 1; POLYBIOS 1 , 2, l e passim ). Historiadores posteriores designam suas obras como tratados
.
{ zpayfmefa , por exemplo, POLYBIOS 1, 1, 4; 4, 20, 5; ovvtaftç, ibid , 1, 4, 2; 8, 2 ( 4J , 5 e 11).
é
Em todo ciso, n3o é possível compreender esse conglomerado temático a partir de hoje como a l 9
Essa n$o é nenhuma sutileza , porque - para poder peusar qual é a escrita correta da História
m-S .

História entendida em sua verdadeira abrangência - assim acontecido cm STRASSBURGER , 'a no m ínimo, se precisa saber que existe escrita da “ História" E verdade que Tuc ídides quer
.
Hermann . Die Weumbestinmutg derGcsehkhttdHnh die aniikt GtícMehlstthiâburig Wiesbaden, 1966. f à zer algo melhor que todos os seus antecessores, sobretudo melhor que Heródoto, mas í tso
?
.
HERODOT Prooemium. s. significa apenas que de quer obtere apresentar, de forma objetiva , determinados conhecimentos

42 •

il
v:s
- 43
H!
i O comarco o HSTóíIA
* # rw :
, ANTIGUIDADE

Ml - fc :
m- !
y* em todo caso ele apenas diz estar descrevendo a “ guerra entre ate - mm Um nome espec ífico para a escrita da Histó ria se encontra ,
|
nienses e peloponésios” . A palavra ioropía n ão aparece no sen texto.
Na qualidade de termos gerais para os objetos do interesse m: peia primeira vez na Poética de Aristó teles.13 A ícnopía trataria da
reprodu çã o daquilo que aconteceu (rà yevópsva X é ysiv). Não se
% “ histórico” , aparecem apenas designações para coisas individuais, pretenderia “ apresentar a unidade de uma a çã o, mas a unidade de
como participios de yiyveodai para acontecido, evento, épyov, palavra
que, sobretudo em Heródoto, significa a ção, plano; em Tucídides, 1 ’ um tempo ( ôijXcoaiç ... isto é, aquilo que aconteceu
W num determinado tempo com um indivíduo ou com mais indi-
també m evento10, npá ypa , que abrange urna ampia gama que vai de
ação, plano, procedimento, passando por tarefa , incidente, propósi- m
m
víduos que se relacionavam entre si, como acontecia por acaso” .
Os acontecimentos n ão convergem para um mesmo objetivo (£v
to, acontecido, indo at é “ complexo de eventos” , transcurso , e que ú .
xéX ôç ) Objeto da Historie sã o, segundo Aristó teles, os transcursos de
• )
também pode ser traduzido por “ Historia” (como da complicada
descoberta de um t ú mulo). Em Poíí bio, a palavra npf
mI
.¿
acontecimentos pol í tico-militares. O termo para essa categoria ele
âiç aparece, |
í
• (ou algu ém antes dele) aparentemente buscou na primeira linha de
¡ com frequência, em acepção semelhante. O fato de que com isso
diversas designa ções para fazer e agir se transformaram simultanea -
M
I
Heró doto14, quando erroneamente tomou loropiv como designa çã o
para o “ conte ú do histórico” , ou melhor, para o gênero esté tico
mente em termos utilizados para um conjunto de acontecimentos,
parece indicar o alto grau em que a Historie grega envolvia a a ção I determinado pelo conteúdo dos “ transcursos de acontecimentos
pol ítico-militares dentro de um espa ço temporal ” . Em Aristó teles,
em contextos relativos a eventos , em transcursos multissttbjetivos. Ú tamb é m se encontra, pela primeira vez, o termo lowpncôç }'* Somente
Isso decorria do fato de que a experiê ncia com a ções pol íticas es-
tava amplamente difundida nas sociedades das poleis , e o interesse
3 a posteriori , isto é, tendo em vista um gênero amplamente divulgado
de representa çã o liter á ria , ioxopia parece ter adquirido um sentido
nessas a ções inclu ía o interesse em seus condicionamentos.11 Acon- i.

espec í ficamente “ histórico” . A responsá vel por essa situação foi a


tecimentos de tempos passados eram frequentemente chamados de
rà naXaiá; xà M>]ôitcá se referia à guerra persa , rà Kepicopaim aos
I necessidade de classifica çã o. Alé m disso, havia o velho sentido geral
da palavra : saber, ciê ncia , pesquisa , como em neri tpóoecoç loropia
acontecimentos em torno de Kerkyra12, e assim por diante. (Plat ão, Aristó teles), ou , em latim , na naturalis historia ou nos naturae
historiaram Ubri de Pl í nio,16
.
sobré a çõ es humanas , em especial a çõ es polí tico - militares, e seu desenrolar E i «o de faz O
. I Num passo seguinte , é que, então, ioxopia assumiu o significado
íuo de que , pata ele, ‘‘Hist ória" seja apenas pol í tica e guerra , ou que a Guerra do Peloponeso
representa “ a paite mats importante fa Historia” (STRASSBURGER, Die Wttmbesiimmwg
...,
| de “ História” (no sentido de acontecimento). E em Poií bio que
.
p, 23), isso s ó lhe é atribuido a partir de nosso conceito de Hist ó ria Tucfdides apenas chama
a guerra de “ o maior movimento" ou "abalo ” ( xí vrjotç, í , I , 2) . è
10 Cf.
1MMERWAHR, Henry R . Ergon: History as a monument in Herodotus and Thucydides. ° .
ARISTOTELES. Potdk , 1451 a 36 c segs. (tradu çã o de acordo com Gigon ) A esse respeito,
.
u Of. como
.
Amt / katiJournalojPhilology, n 81, i 960, p. 261 e segs .
contratmagem extremada o caso da concep çã o sobre a pá ticamente ilimitada
capacidade de agir e de fazer acontecer do rei egípcio. HORNUNG , Krik. QesthUhU ais Ftn.
4 “
cf, Rheiorik , 1360 a , 36,
Arist ó teles aqui tamb é m pensa , sobretudo, em Heródoto ( Poetik , 1451 b 2; 1459 a 25 t seg.) .
Alé m disso, era usual citar os livros dessa época que úào tinham títulos - JACOBY, Felix.
Darmstadt, 1966, p. 14 c segí. i Auiiii. Oxford, 1949, p. 82 - com as palavras iniciais , ou com uma das palavras iniciais Cf
NACHM ANSON, Ernst . Dcrgr .
. .
11 Os
comprovantes sao facilmente encontrá veis nos respectivos dicion á rios. Complementa rmente,
I í ediitche Budititei G õ tenbocg, 1941, p 46, 49 e segs, Exatamemc
.
cabe apontar ainda para os participios de oüppaivát (cf. ARISTOTELES Metayhyiik ,982 b 22;
.
POLYBIOS, 3, 4 , 13: TÒ xapáàoÇovréivofJpaiV ó vzíov ) Al é m disso, parecem muito interessantes
..
as indica ções no estilo rà . npò aóvx& v ràín «alalrepa (THUKYDIDES, 1, 1, 3). O neutro
« isso parece ter acontecido com a loropiv de Heródoto (como, mais tarde, ainda em Dionisio
de Hallc â rnASso [ Eylí tuia ad Powpeltwi , 3)), De fornia muito parecida , ouyypayívç deve ter sido
modificado para o termo que se refere aos historiadores contempor â neos, com vistas â linha
plural dos adjetivos de nomes de cidades ou de povos també m serve para designaras "Hist ó rias”
dessas cidades e desses povos (cf. adiante) . Her ó doto utiliza, por exemplo, AtfivxoiX ô yoi (2,
1
:.5 lS
.
.
inicial de Tucídides (¿¿/ro/id m Dionysii Thrads ArUtn GramnuUkam , íl, 4 166, 4, Hilgard).
ARISTOTELES, Pcdik , 1451 b 1 No sentido geral de "pesquisador*' ou “ perito” : RJidorik ,1359 b 32.
161, 3). Para o estudo dos per íodos mais remotos, parece que já no s éculo V apareceu o termo
.
“ Arqueologia ” ( PLATON Hiypins Maior, 285 d).
í li
.
PLATON. Phaldoii 96 a 7; ARISTOTELES. Oration, 298 b 2; a* referê ncias latinas em
.
TiuS ãtí tus Linguae Latinat vol. 6/3, p 1936- 42, 2833 e seg.

I
44 45
P 5
E- ,
m • O CONCéíTO os Kisróaw AKTOOOAM
’í
£'4:
encontramos pela primeira vez a palavra utilizada dessa forma17, e
fpr " historia” , acabaram por assumir o significado de “ Hist ória” , de
^ V
:

Éft
m
& V
=
Ai
:•
ali a transposi çã o sem â ntica possui um sentido todo especial. E que forma que essa palavra se transformou num conceito que agregava
tudo aquilo que estava na literatura histórica. Significava então a
jp®
¿‘
:\

A'
Polí bio pensava que os acontecimentos e os transcursos do mundo
soma de tudo aquilo que fora transmitido pela tradiçã o e , nesse
¿i.

V
(al TFJ ç oifcovftévqç xpá&iç) antes de 220 tivessem sido individuali-
zados, isolados entre si, mas depois disso a Historia (imô pía) teria
tomado, por assim dizer, a forma de um corpo ( aoyparoeiSjjg )
m
m
sentido, a soma dos acontecimentos. Fala-se , por exemplo, de èK
tf ç latopíaç pádrjatç, ou ent ão se diz: plena exemphmm est historia , ou
i -;
V

que significa que ela se transformou num todo inter-relacionado , ^ m ainda: docet ... historiai Os casos em que se pensa exclusivamente
V;
Aii fazendo com que as ações e os acontecimentos nas diferentes partes na História, e nem um pouco na Historie são muito raros. Cícero,
:i
:
^ do mundo se relacionassem entre si, e todos eles se voltassem para numa ú nica vez, diz que a historia Romana é obscura (porque não
,
existem referências a determinado nome). Agostinho, a partir de
w
I

i um mesmo objetivo (evréX ôç) }0 O todo apresentava um conjunto


Mi : de a ções (êv êpyov), uma peça de teatro ( sv Oèapo)> com começo, seus pressupostos teológicos, distingue entre narratio histórica e historia
meio e fim, 20 Numa referência direta a Aristóteles, mediante re-
curso a categorias estéticas, se reivindica aqui uma unidade para os m*
m ipsa,n Em geral, parece ter sido difícil distinguir entre “ Historie” e
“ Hist ória” . Uma coisa nã o era imaginável sem a outra , a História
acontecimentos da é poca da conquista mundial feita pelos roma-
nos, as características de unidade literá ria (ou melhor, po é tica) sao
ai estava contida na Historie, cuja função Cícero define muito clara-
mente como testis temponm , lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae ,
.!
í vistas como concretizadas na História ; como autor figura Tique a .
ñ utida vetustatis ** Cabe destacar que a palavra muito frequentemente
!

(v. abaixo). Para isso, poré m , não havia nome provindo do â mbito ,4 aparece no singular e sem qualquer definição através de um genitivo
do objeto (que só conhecia npá&iç, ycvó peva etc.). Assim , Polí bio M ou de um adjetivo.24 (Em contrapartida obras históricas individuais
| muitas vezes são designadas pelo plural “ Historien” ) ,
designou a “ História” singular por ele constatada em sua é poca com 4P
o termo utilizado para a unidade literá ria “ Historie , Não se sabe se
"
Sem d ú vida , o conceito de “ História” existia , mas era utilizado
” li sobretudo para a forma, para o invólucro, e apenas secundariamente
ele tinha consciê ncia disso ou nã o, mas fato é que a História pô de
ser constitu ída pela primeira vez e somente no contexto liter á rio
* A
. 4 para todo o conjunto de ações, de acontecimentos e de transcursos
que ele continha . Do ponto de vista do conte údo, ele visava muito
E por isso que foi uma atitude coerente que a Hist ó ria constitu ída
Ú mais à soma dos acontecimentos do que à relação entre eles, que era
da e dentro da Historie tamb ém fosse denominada ioropla, quando if - estabelecida na forma das Historie(n). Não se visava um movimento
'

aparecia como singular (o que só aconteceu durante algum tempo!). 4í '


'

|
| din â mico, uma grande corrente, na qual se pudesse determinar
E verdade que Polí bio praticamente n ão fez escola. Mesmo
um lugar, cuja unidade se pudesse assumir, cujo sentido se pudesse
assim , faropía e a palavra latina que lhe correspondia de forma exata , |
-n
Vi

POLYBIOS, 1, a , 4. igualmente: 6, 58, 1; 8, 2 (4), II; 12, 25 a, 3; Cf. DIONYS VON


f
'

21
POLYBIOS I , í , 2; CICERO, De divinatiene, 1. 50; AUGUSTIN. De ( hítate Dei 5, 12, 13.
Cf. DIONYS VON HALIKARNASS, 1, 3, 1; CICERO, De divinal tone , 1, 38; De orator?> 1,
.
‘7
.
HALIK À RNASS, 1, 2, l Naturalmente o mesmo també m pod í a ser designado dc forma M
4 165; 2, 265; PROPERZ (Sextus Aurelius Propertius], 3, 4, 10; 3, 22, 20; PLINIUS. Epistolai,
plural (com xp á faç) (39, 8, 6. Cf. 1, 4, 1). 7.9, 8; FRONTO , 106* 4, Naher.
CICERO. De republica, 2 ,33; AUGUSTIN. De doctrina Christiana, 2, 28 (44). In: Corpus àristmwm,
a
n POLYBIOS, 1, 3, 3 e scg. Cf. 1, 4, 7 sobre a figura do corpo (o qual 22
tamb é m serve para caracterizar
oro/pmliter á rio), cf. PLATON. Pha ídros, 264 c; ARISTOTELES. Pcetik , í459 a 20; JDIODOR , Series Latina (vol. 32), 1962, p.63 (cf. AUGUSTIN, De tiritote Dei, 10, 32, 3, onde historia é utilizado
20, 1, 5; CICERO. Adfamiliares, 5, 12, 4: LUKIAN. Quomoài historia ( onscribenda sit , 23 55. mais ou menos como hoje em dia podemos falardo “ livro da História ', in qua ita narmUurpraelerita ).
1

” POLYBiOS, 1, 3, 4; 1> 4, 1 e seg. Cf. 3, 32, 7; 4, 28, 3 e seg.; 5, 105, 4 e scg., 9 e passim ,
.
*

rbi â i 3, 1, 4 e scg. Cf. 1, 1, 6; 1, 4, 5, onde, alé m de épyov,se fala de áycò viopa: provavelmente
também aqui se deve enxergar uma refer ê ncia ao drann (literá rio). Cf. ARISTOLTELES,
1I ”
Cf. CICERO. 0e jinlbut bonontm el materum, 5, 5; evenUtalmente Brutus , 44; GELLtUS, 3, 3, 8.
,
C Í CERO, D< oratore , 2 , 26- Cf. PLENIUS, Epistolas, 9, 27, 1:“ quanta potestas, quanta ¿ignitas,
quanta tnaiestas, quantum de ñique mimen sit historias\
Pottik , 1451 b 37. 21
Cf. as citações latinas em Thesaurus Linguae Latina , vol. 6/3, p. 2835 e seg.
|
: '
k
46
I 47
.
O CONCOTO Di H SlOíSX
V

mm ANUGUMDE
Mim
mPs-¿V
:
buscar. O significado liter á rio se manteve dominante , tanto no dR . Com toda certeza , ligava-se à palavra “ historia” sobretudo uma
geral quanto nos casos específicos, Aparentemente - abstraindo M -;:r grande pretensão literá ria. Cícero a chamava de “ opus ... oratiorium
de algumas exceções n ão podia existir um significado pró prio » máxime” , e Quintiliano de “ carmen quodammodo solutum” .31 Ela era
.
de “ História ” para “ historia” A História , como determinaçã o de
V
Pilfer:
rWM claramente diferenciada de simples “ apontamentos” sem cará ter
conteúdo, não conseguia se desvincular da forma Historie.
m .
art ístico (ónopvtipaza , commentarii) 32 Quando Cícero e Luciano,
A amplitude do objeto de“ historia” podia, assim, abranger toda
-
a humanidade. Fala se de KOIV í ) ioropia , Agostinho fala de historia
gentium (que teria muitos prefixos).25 Em geral KOIV í ) iaxopia designa
-m
mi ::: :
m
m:r- '
por exemplo, fazem reflexões teóricas sobre historia, eles o fazem
sobretudo a respeito de como ela deveria ser escrita. No caso, es-
tava em jogo també m o imperativo da verdade, mas muito mais
uma representa ção que abrange a História de v á rios povos.26 —m^ - fv - na perspectiva de que se deveria se ater a ela do que da perspectiva
A categoria historia abrangia as mais diferentes representa- f de como chegar a ela. 33
ções, incluindo genealogias e crónicas locais. Uma delimitação ú
clara nunca existiu.27 Como t ítulo, “ historia” concorre com muitos
outros sobretudo com formula ções do tipo EAÀ qviK á , Kopivdiaxá,
1 2. Conceito de historia e concepções de "Histó ria"
fM
etc , A Hist ó ria romana de Cássio Dio aparece citada tanto como
Vropa.wá quanto como Tcopam// iotopia , 28 Mas, por mais que a ca
tegoria “ sobretudo no tratamento de determinadas cidades e de
- n Não é possível imputar, a posteriori, um conceito de Hist
ria à Antiguidade. E verdade que lá encontramos determinadas
ó-
: m
determinados países - continuasse a incluir aspectos geográ ficos e correspond ê ncias para concepções que hoje em dia atendem pela
etnográ ficos, nao h á d ú vida de que dentro do â mbito histórico há
uma clara concentra çã o na Hist ória dos acontecimentos. O termo, 4I designa çã o de “ concepção de História” , e que ocupam algum es-
pa ço no conceito de História . Mas elas fazem parte da concepção
antiga de “ historia ” , na melhor das hipóteses , na medida em que
portanto, n ã o se estendeu à “ História” da Filosofia ou à “ Histó ria”
das invençõ es, e coisas parecidas.29 De urna forma geral, naquilo que a classificam determinados conte ú dos , e ajudam a entendê-los na
tange ao conte ú do, ele ficou restrito à s 7tpá&iç polí tico-militares. 54 forma em que estã o contidos na palavra Deve-se partir daquilo .
O que chama a atenção é que em Roma se sentisse a necessida- que a Antiguidade entendia por “ historia” .
de de distinguir “ historia” de “ amiales” , prá tica que, aliás, obedecia 4 O conte údo presente na forma “ historia” , e ao qual simultanea-
a crité rios muito diversificados.30 mente a palavra pode se referir, tinha em mente sobretudo a hist ória
í dos acontecimentos polí tico-militares. Por um lado, tratava-se das
25
DIOYNYS VON HAL1KARNASS, 1, 2, 1; AUGUSTIN, De Mate Dei, 6, 5 ( 7 ); 21, 8. Cf.
10, 16. Norm diz na “ Praefatio" de Epitome return Romanonwi, que Roma expandiu seu poder
1 :>
a ções, dos episódios, dos destinos sobre os quais cabia meditar (a

H
at é o ponto em que o fez, * Vl <¡iti res Ulitis tegunf , non imtuspopuU , sed generis hnmonijò ta condiswu'\
DIONYS VON HALIKARNASS, Epistufa od Pompe ium, 3; xoivai xpá&iç; DIODOR , 1, 1, *
I 31
-
CICERO, De ¡c¿ibus, 1 , 5; cf PBTZOLD, Kari Ernst. Cicero und Historie . Chiton , n . 2, 1972 ,
3; 5, 1, 4; H , 37, 6. f p. 253 t stp.; QUINTILIAN, 10, 1, 31; cf. STRASBURGER , Die Wesensbestimmm& p. 27;
.
POLYBIOS, 9, 1, 2 e segs .; JACOBY, Felix Ü ber die Entv/icklung der grieclmchcn
Historiographic imd den Plan einer neuen Sammlung der griechischen Hisioriketfragmente ,
a
6
-
.
KBUCK , Karl. Historia Geschichte des Wortcs und seiner Bedcutung in der Antikc und in
.
den romanischen Sprachen . M ü nster, 1934 , p 16 e segs. (tese de doutorado) .
.
Ktio, n 9, 1909, p. 88 (nota 4), 96 (nota 1) . n 3*
fsso fica especialmente claro na exceção, que confirma a regra: CICERO. Brutus 262. Cf. .
. .
w SCHWARTZ, E Verbete "Cassius Dio” In ; Realencydopddie (vol. 3), 1897, p 1685. . M LUKIAN, Quomodo historia ( onsaibenda sit , 16. For outro lado, Pol í bto podia chamar suas
w Mesmo quando tais progressos t é cnicos, que exerciam algum papel na histó ria pol í tica Historien de vnopvifoara , 1, 35, 6 .

.
naturalmente pudessem ser referidos na Historie Cf POLYBIOS, 9, 2, 5; 10, 47, 12
GELL1US, 5, 18; SERV1US. Commtntorii ad Aeneid, 373. GELZER, Matthias Der An & ng .
. 1 33 For exemplo, CICERO,
Dt crotore, 2, 15 e 62; QUINTILIAN, 10, 102; LUKIAN, Quomodo
historia eonieribaufasU ,39; a ú nica tarefa do historiador é “ dizer como foi” (íúçènpáxót¡cfirriV); sobre
rotnhch çr Gesch í chtsschteibuttg. In: STRASSBURGER , Hermann ; MEIER, Christian
.
(eds.) Kleinç Schrí fttn (vol . 3). Wiesbaden , 1964 , p 93 . . II i «o, no entanto, 50 c seg,; WEHRLI, Fritz. Die Geschicbtsscljreibung im Lichte der antiken
.
Theorie. fa: Ettmusic Festschrift fur Ermt Howatd. Erie nbach /Zurique, 1947, p. 54 e segs.

48 1 49
Inmr - O CONACHO Of KStôíiA S: -
HIF AMT*SI*OAO£
51 .
- i -i f lr
'

> '

r
W partir dos quais se podia aprender algo para a ação política - mas mm inimagináveis at é então. A ordem política repentinamente foi vista
também para os sofrimentos3* que em Roma eram interessantes mm como passível de ser configurada. Por essa razão, surgiu tuna nova
1
1
como exempla* ; é nesses “ detalhes” que se pensava quando falava
de historia magistm vítae; eles é que tornavam o genero esteticamente
dp
mm #
necessidade de orientação dentro da pol ítica : conhecimento de
causa e crítica a respeito se expandiram. A pol ítica não podia mais
atrativo36). Por outro lado, tratava-se da reconstru ção e da com-
»W
ser vista apenas como uma sé rie de grandes a çõ es, as mudanças não
a
YÍ 1
preensão hist órica de transcursos mais longos (literariamente, em Iff
m -
podiam mais aparecer como expressão de interconexõ es de sentido
í ete perpetuae37). Elas, no entanto consistiam
#l
-
monografias ou histor
sobretudo, ainda que nao de forma exclusiva como se mostrará — sp M
mais profundas (por exemplo, um entrelaçamento determinado pelo
destino entre crime e castigo ou de ascensão e queda) A partir de .

logo a seguir mas fundamentalmente no estabelecimento de IP então, a política també m não podia mais ser praticada como simples
conexõ es entre os acontecimentos. Isso significa , de forma con- rotina, sem qualquer compromisso. Dessa forma , a política podia e
!;! creta , que o todo de tais histó rias de cidades, de povos, de reinos devia ser avaliada de fora , mas de maneira competente , e relações tanto

i!
ou também da hist ória geral de varios povos n ão representava mais
do que a soma de suas partes. Ainda que com diferentes graus de fÈ as mais restritas quanto as mais amplas, agora “ só podiam ser explicadas
.
historicamente” 40 Assim, também a contingência do acontecimento
h consciência, aquilo que se fazia era encontrar um espaço de prática político-militar podia se transformar, de repente, no princípio para as
humana , sob condições bem específicas , com efeitos bem específi- 1 reconstru ções transgeracionais. E , então, consideraçõ es em torno de
cos, transformá ndolo em objeto de pesquisa c de representa ção. Esse }4 acontecimentos históricos acabaram conquistando status literá rio. A
tipo de percepção e de escrita da História correspondia , de forma i amplia ção do cará ter pú blico para amplos setores de homens livres e
i
bastante exata , ao tipo antigo de História e isso desde o começo.
Pois não foi simplesmente um acontecimento de cultura superior e
— Ifi
iguais correspondeu a publica ção de obras históricas cada vez maiores.
A concentração da Historie na História dos acontecimentos foi
de interesse científico mais amplo, ou ent ão um efeito retardado da
epopeia homé rica,30 mas foi sobretudo também uma consequ ê ncia mf fomentada , nos séculos seguintes, a partir dos modelos da epopeia
ou de Tucídides e atravé s das decorrentes regras para a categoria.
da peculiaridade da vida grega que, no século V, aparecesse um novo 5É
Mas ela não pode ser entendida simplesmente a partir da institucio-
interesse pela História do$ acontecimentos.351 Nos amplos cí rculos de
4Vi nalização de determinados interesses e de determinadas expectativas ,

cidad ãos que tinham responsabilidade e participa ção na pol ítica das
poleis - já parcialmente democratizadas surgiu um sentido especial
para acontecimentos pol í tico-militares. A polí tica recebeu - através
a entre historiadores e seus leitores. Pois a Hist ória dos eventos se
manteve - ainda que os cidad ã os tivessem uma participa çã o menos
ativa por um lado, como esfera central de destinos interessantes
do novo e descomunalmente forte destaque para o pertencimento 4 e de importantes identificações. O lado social e o lado pol ítico da
político - nova importâ ncia , ela se tomou mais intensa , e foram H
vida se mantiveram intimamente ligados entre si, para todos aqueles
abertas novas possibilidades de agir, de planejar e de modificar,
áI que exerciam alguma função importante, pertencimentos e identi-
54 POLYBIOS, 1, 1, 2.
n dades polí ticas concorrentes nã o exerciam papel significativo.41 Por
3S
.
í fitn (vol 3), p. 95 e seg. Cf. GBLZBR, Kltlnt Sduiften (vol. 2), 1963,
CELZBR , Kitiitt Sthr
.
p. 365; GBLZER , Kteine Sthrifun (vol 3), p. 234 (nota 48), 272.
iw .
*° A esse respeito, cf; LÜ BBE , Hermann Was heísse: “ Das kan » mau nuc histoiisch erktaren ? 4


H
CICERO, De cratore, 2, 36; cf. STRASBURGER , Die IVesembeftimmun , p 27
^. . . . .
In: KOSÊ LLECK /STEMPBL, Geahkhu (cf nota 5), p 542 e segs; MEIER , Die EmUehung

3S
CÍ CERO, Adfmiliares, S, 12, 2 .
Nene sentido, últimamente destacado por STR ASBURGER , Die Wtstnsbtstimmun$ ; e ...
i 41
.
der Historic, p. 265 c segs., 268 e segs , 295 e segs.
O conceito de “ pereencimemo” ser á esclarecido em outro lugar. À respeito desse tema:
STR ASBURGER , Hermann, Homer and die CesehUhtisthrdbmg. Heidelberg, 1972 . WEBER, Max. Wittsthafl rtttd GeseUsdtqfl . Colôma / Bcrí im , 1964 , p. 1026 c stgS ,; F Í NXEY,
39 Cf. MEIER , Die Entstehung der Historic (tamben naquilo que segue)
* . I . .
Moses í The undent tommy Londres, 1973.

50
II 51
i
a m.v
O «JNCííTO tí HSTóí Ií. mzm
:V
=; outro lado, a História dos acontecimentos se manteve como a ú nica
mm -
ANíIGUSUD É

a Hist ória sobretudo como um amplo processo de mudan ça , na


VI esfera de transformações importantes, interessantes e perceptíveis. Antiguidade tudo isso esteve desmembrado. Entre a Historie dos
É que a partir do aspecto intelectual , técnico, económico, social ,
as condições de vida da Antiguidade se modificaram relativamente Is acontecimentos (depois que ela surgira) e as grandes especulaçõ es

?J É históricas, do tipo da de Hesíodo sobre a idade do mundo ou a

11
pouco (depois dos primordios, decisivos, mas historicamente pouco
comprovados42). E verdade que algumas mudan ças processuais que m
xfc-
dos ciclos mundiais de Plat ão44, não houve qualquer aproximação,
quaisquer elementos que os interligassem. Nao havia perspectiva
iam surgindo foram registradas na historiografia , em geral, poré m,
apenas como resultado; mas isso era raro, ou , ent ã o, paralelo ao m
|
i =
superior sob a qual nem qualquer alternativa social a partir da qual
especula çõ es e expectativas históricas, acontecimentos e Historie
contexto hist órico. No todo, a din â mica hist ó rica era tã o fraca que
n ão conseguia romper o limite além do qual se poderia ter imposto
»m!
3 pudessem ter conflu ído. Ao menos no per íodo pagão da Antigui-
dade, nunca qualquer grupo social chegou ao ponto de entender
à Historie usual como parte da História. Praticamente n ã o havia m e legitimar sua ascensão de forma histórica, de determinar locais

jj
processos de mudanç a que fossem para além dos acontecimentos
f dentro da História (nem de poder estabelecer comparações en-
pol í tico-militares que se desenrolavam no palco da vida , e que
poderiam ter transformado setores mais amplos da humanidade - ê tre diferentes grandes transcursos) . Somente no século V a. C.,
encontramos em Tucídides o estabelecimento de um lugar com
independentemente de sua classificação política - em portadores
ou em tema de uma “ História” ,
-m1 vistas ao desenvolvimento das relações de poder e de grandeza na
hist ória grega .45 Mas essa foi uma exce çã o - como o movimento
¡V O fato de que a historiografia antiga encarasse o mundo de • r de inova çõ es revolucion á rias, dentro das quais esteve embutido46
¡ forma tao pouco hist órica esteve também determinado por um e ficou sem efeitos sobre a posteridade. Essa falta de senso histórico,
d éficit de História . E preciso tra ç ar, ao menos, um quadro simpli
ficado da “ posição intermediá ria” da Antiguidade. Ao contr á rio
- ii de mediatiza çao47 temporal esteve intimamente ligada a deter-
minada forma de contemporaneidade e de capacidade social , de
das velhas concepções orientais, n ã o se enxergava mais a política e M “ concretude” , e de baixa capacidade de ideologiza ção - isso sem
V;
a natureza como uma coisa só, n ã o se estabelecia uma vincula ção I falar de outras interdependências.
estreita entre tempo e ordem política . Pelo contrá rio, o mundo da
polis e da pol í tica era desvinculado da natureza circundante.43 O
Iâ 44 Cf. a esse respeito a se çã o “ Gcschichtc und Ontotogie ” ( Hist ó ria e ontologia], em GAfSER ,
tempo não era mais o tempo de determinadas configurações po- â Kowad . Phlons inigeseUrUbcnc Lehre. 2. Aufl , , Stuttgau, 1968 Especialmente interessante é
.
V
l íticas que se considerassem o mundo, e ainda n ã o era o tempo de
uma humanidade que, independentemente de classifica çã o política , I • •i
^
PLATON. NOMO ) , 677 c. d: a observa çã o de progressos como prova para a necessidade de
contar com catá strofes destruidoras de cultura , em vista da incomensutabilidade do tempo.
THUKYDIDES, 1.2 esegs.
aparentava estar no caminho do progresso. E, com isso, aquilo X* .
Cf. o verbete “ Fcrtíduitl” ( progresso), no vol 2, p. 355 e segs. (de GcfchúhtHche Gnwdbegrffi.
que na Era Moderna se integrou a partir de diferentes partes em Hhtorisches Lcxikon zur politisch -sozialcn Spxache in Deutschland , no qual est á també m o
presente texto ( N.T.)J.
um conceito de Hist ó ria , aquilo que fez com que se reconhecesse Ú 47
É verdade que foram reconhecidos muitos tipos de interconexõ es estruturais, como as entre

é% .
m úsica , moral e constitut ç Jo (SCHACHERMEIER , Fritz Damon. In: ST 1 EHL , Ruth ;
e STIER , Hans Erich (cds.). Betlrdge zur Alien GmhUhlt und deten Noehleben. Festschrift
** Interessaiuememe, eles ficam localizados entre as doutrinas constru ídas sobre o surgimento M .
f ü r Franz Aitheim (vol 1] , Bedim , 1969, p, 192 e segs .), entre Constituição o Retó rica
de culturas e os tempos historicamente mais bem testemunhados, como num tipo de terra de
..
ningu ém. Trata -se do tempo que fica mais ou menos entre o s é culo X e o s é culo VI a C , sobre | (TAC Í TUS. Ditifogus de OMforibus ), entre econom ía , técnica e formas de conduzir uma guerra

.
o qual ha relativamente poucos testemunhos na tradiçã o grega Mats tarde, os gregos encaravam n (THUKIDIDES, 1, 2 esegs.), entre demografia e Constituição (ARISTOTELES, Politlk , 1286
b, 8 e segs.), enue bem -estar geral c decad ência nos avanços cient íficos (PLIN 1US. Nafuralis

45
sua peculiaridade como tio natural que praticamente nâo se interessaram por seu surgimento.
.
MEIER, Christian Eatstthung des ^ Dtmokmtie". Fiankfurt , 1970, p Í 9 e segs.
. l historió, 14 [ pratfalla]}. Mas essas constata çõ es ficaram interesantemente isoladas e raras , e assim
n 5o h á como pensar que pudessem ter levado à pressuposi ção de uma mudan ç a geral .
3
52 II 53
§
i O CONCHO oí
•= i
£
-V .
•jv . AííTJCUOAOE
•V -

Os limites da percepçã o antiga de História também se refletem


:i - - -. :
JR ; •

A concep ção de muitos transcursos que se processam paralelos


nas concepçõ es gerais de transcursos e interconexões históricas.
M e sucessivos também se encontra em Pol í bio. A unidade da História
.
%M BA que ele observa teria sido criada por um plano (ofcovo/ / fa)5\ mas
• •

:r‘•
As suposições de Her ódoto sobre a relaçã o entre fazer e acontecer,
por exemplo, se referem exclusivamente às ascensões e aos des- ele é atribu ído a Tique.54 A interconexao dos processos de todo
censos individualizados de pessoas, de dinastias, de impérios.48 A
afirma çã o de que em Roma insucessos sempre eram sucedidos de
II o mundo foi a maior de todas as surpresas sempre inéditas que
Tique costuma preparar.55 Os pontos de partida eram sem d ú vida
novos sucessos apenas estabelecia rela ções entre acontecimentos
m- contingentes56, um sentido mais profundo n ão se enxergava no
individuais.49 Nessa e em outras concepções semelhantes, apenas “ drama” . Não se estabelece uma relação histórica com imp érios
se observam ou $e pressupõem relações um pouco mais amplas m:
t:
anteriores (apenas se faz uma compara ção est á tica com eles57). A
que no tratamento usual dos acontecimentos. Assim como ali se ?
m forma como a coisa irá continuar est á em aberto, não há nada que
procura entender a pol í tica, assim també m aqui se procura enten- a indique que a interconexao multilateral de a çõ es e de aconteci -
der interconexõ es peculiares e destinos de grandes polí ticos. Na if !
: SV: mentos durará por muito tempo.58 í ndependentemente de Pol í bio
pr á tica , não se pode falar de uma compreensão de História, apenas v* enxergar Tique mais como acaso ou mais como a ção de for ças
do acompanhamento de seu caminho através dos acontecimentos, divinas59, essa unidade de uma parte da Hist ó ria n ã o indica para
no geral ou nos detalhes. $
& uma unidade da Hist ória.
A história grega, desde o início, só podia ser concebida de Quem acreditou numa unidade dessas foi o continuador de
forma multissubjetiva - e isso correspondia à organização polí tica. sua obra , o estoico Posid ônio. Atribui-se a ele, aparentemente com
Não havia qualquer unidade, qualquer objeto cujas modificaçõ es de ;$
$ razã o, a seguinte manifestação; o historiador deve tentar “ enqua-
longo prazo pudessem ser apreendidas como “ História ” . O contexto drar toda a humanidade ( návxeç avBpojnoi) naquilo que tange a sua
A
dentro do qual todos os movimentos hist ó ricos se realizavam per- *

parentela , bem como a seu distanciamento espacial e temporal , sob


mnneceu mais ou menos igual.50 Dentro dele, impé rios podiam ser ¿i
uma ú nica ordem ( aóvm&ç) (representada), transformando-a, por
substitu ídos por outros impérios, situaçõ es e acontecimentos podiam * •••

i assim dizer, num órgã o da provid ência divina . Pois, da mesma forma
se repetir.5* O tempo nã o se prendia a configura ções especí ficas.
que ela unifica a ordem das estreias no cé u e as naturezas humanas
f

Nesse sentido, ele n ã o podia ser concebido como cíclico - a n ão ser numa analogia comum, fazendo-a $ circular numa mesma trajet ória
nas especula çõ es dos filósofos, que iam muito além dos objetos, e .\

abrangiam séculos. E se, mais tarde, ern Roma foi diferente, foram r
justamente os romanos aqueles que n ã o conseguiam compreender 1 - * POLYBIOS, 1, 4 , 3; 3, 32, 9; 8, 2 (4), 2; 9, 44, 2 .
sua História como um ciclo.52
‘'?
I
54
. .
ibil , 1 4 , 1 e segs. Cf. 1 1, 5; 3, 1, 10; 6, 2, 3; 8, 2 (4), 3 e seg.
Si
KCUVOKOTELOOAI: ibid ., 1 , 4, 5; 4, 2, 4; 9, 2, 4.
y
Cf. umbé m MOMOGLIANO, Time in Ancient Historiography, p. 18 e seg-
41 MEIER , Die Entstehung der Historie (cf. nota 5), p. 277 e segs. (com mais bibliografia),
st POLYBIOS, 1 , 2 .
AMM Í ANUS MARCELL1NUS, 33, 5, 10-16; VITTINGHOFF, Friedrich. ZumgeichichtHchen
54 Pol í bio at é já prevê uma nova
modificar ão profunda da Constituição romana (6, 9, 12 c segs.) Cf . .
” . .
Selbsc vemü ndnis der Spat andke Jiisforische Zeltschrift, n 198 , 1964 , p. 549 e seg,, 560; i-i 3, 4, 7 (onde sc perna no tempo em que o Imp ério Romano já 6 hist órico), bem como 3, 4, 12 5, -
PUHRMANN, Manfred. Die Romidcc der Spa tan(ike. Hlttoriuht ZtUithrifi,n. 207, 1968, p. 551. 6: depois da conquista aparece novamente xopax% Kal Kfvqt7tç (3, 4, 13), isto é, a peripetia , a mudanç a
Cf. ibid., p. 536 (nota 22), 553 e seg, (a respeto do c/esare posse malts, de Rutiláis* Naraatianus). brusca, já se anuncia. Pô r mais dif í cil que seja a interpretaçã o desta passagem - cf. WALBANK,
50 Naquilo que tange a Hccódoto, cf. MEIER, Die Entstehung der Historie, p. 286 c segs.

* y
Frank William. A historUal commentary on Poly bios (vol Í). Oxford , 1957, p. 302 e seg. esse tempo
51 Cf., por exemplo, AURELIUS VICTOR , Uber de Cattoribw , 35, 13.
>1 parece se localizar após 4‘o fim conscnsualmcnte constatado” da Histó ria unitá ria (3, 1, 4 e seg. Cf.
1, 4, 3: tfuwr&lç/a). Nada indica que Pol í bio contasse com uma sequê ncia de imp é rios mundiais.
Sí VfTT í NGHOEF, Zumgeschichtl ÍchetiSelb5 tvent ã ndnis..., p. 541, 572 e segs.; de formo geral; :5 w Cf. a re speito, FRITZ, Ku rt v. The theory of the mixed eoní titution in Antiquity, New York, 1954, p. 388
.
MOM Í GL Í ANO, Arnaldo, Time in Ancient Historiography History ar,d Theory, separate n . ri
.
6, 1966, p t e segs. e seg.; ZIEGLER , Konrat . Verbete "Polybios” , In; RealencydopSdic (vol. 21 /2), 1952, p. 1532 c segs.
i

54
I 55

! O coNccno os HsióaA 'i
AWNOIADAOE
3 vM :r :
por toda a eternidade, atribuindo a cada um aquilo que o destino n ¡m
lhe reserva , aqueles que registram os acontecimentos comuns do
mundo ( ai KOivai ríjç oiKovpè pç npá&K ), como se fossem de urna
if
: p
! :
bondade da constituiçã o romana 64 , e - n ão por ú ltimo - mostrar
os in ú meros exempla da virtus e da superioridade de comandantes
£* i :: e soldados , hem como a sabedoria dos homens de Estado roma-
ú nica cidade, transformam sua representação numa justificativa
unitá ria e num ato de administraçã o comum do acontecido ” .*0
mm nos.65 O desenrolar da História com essa longa lista de sucessos,

Nã o possu í mos um legado suficiente de Posid ônio para verificar


it: com a gradual conquista do mundo, fornecia simultaneamente a
confirma çã o sobre a correçã o dessas constatações religiosas, morais
em que medida ele transformou esse reconhecimento em programa mm .4

e político-militares. Nesse sentido, também a Historie romana no


de sua escrita da História , e como eventualmente colocou isso em .'
prá tica . A “ simpatia ” entre cosmos e Hist ória sugere que esta n ão mmÍ geral se manteve orientada pelos acontecimentos , distinguindo -se
mt - apenas pelos interesses especí ficos projetados sobre eles, e pelo fato
caminha em dire çã o a um fim. Nesse caso, sua ordem unit á ria m de enxergar neles e na sua sucessão um sentido especial.
deveria antes significar a regra dentro da sucess ã o de fases. Nes-
se caso, estar íamos diante de uma concepção de Hist ória muito m- Mas foi justamente após os sucessos, e a certeza de sucesso da í
> resultante,66 que se começou a pensar sobre a interdepend ê ncia
parecida com a de Heródoto. Isso combinaria com o fato de que, X- '
fi
da expansã o crescente com a crise e a decadê ncia dos costumes
na época , a crescente unificação do mundo entã o conhecido sob :L
"y da rep ú blica romana tardia , bem como sobre a transiçã o da
o domí nio de Roma estava relacionada com a crise crescente da constituiçã o romana , que estava no auge de seu prest ígio, para
rep ú blica .61 Aparentemente, Posid ônio se restringia, portanto, h o império.
histórias - como parte e no â mbito de uma ordem mais geral, que :AK
Xf?
Para a concepção de “ História” , sobretudo uma das respostas
ele postulava filosoficamente. Dessa forma , ele estaria pressupondo i encontradas nessa situaçã o é interessante: a compara çã o com a idade
mais ordem , mais provid ê ncia , mas menos interconexao entre os ill
de pessoas. Desde a rep ú blica tardia , h á registros da classifica çã o da
&
acontecimentos do que Polí bio. v? História romana de acordo com as etapas de vida de pessoas.67 Elas
As coisas se apresentavam de modo um pouco diferente em possibilitavam uma classifica çã o e em especial uma definiçã o da
Roma. A historiografia dali, desde o in ício, esteve concentrada
na história de um objeto unitário. Ela deveria explicar os sucessos mm pró pria posiçã o dentro da História romana . Nas versões variantes
dessa História abrangente, encarada em si mesma, aparentemente
de Roma, legitimar sua expansão e suas reivindica ções (e , alé m existia uma necessidade para isso. Parece que a comparaçã o com a
disso , transmitir os exemplos dos pais).62 Para isso, a Histó ria era •
Jt idade de pessoas também possibilitava uma valorização da pr ó pria
utilizada , sobretudo, como arsenal . Ela continha a anuncia ção do •
> idade tardia, valorizando as vantagens da idade, na qual a História
Rômulo deificado: cáeles( es ita ve He , ut mea Roma caput orbis terramm iV \
%\ i
sil 6* ; alé m disso, lhe cabia fornecer a justificativa histórica para a
:
44 CICERO, De repubUdt , 2, 1 e segs.
cS
-
Cf , por exemplo, L1VIUS 9, 17 19; ( pratfatb) 9 e segs.; DREXLER , Ha tu . Die morabsche
.
GeschichtsaufTassungdcr Rõroer. Gymnasium , n 61, 1954, p. 168 c segs., em especial p. 172 e
60
.
D Í ODOR , 1, I , 3. Of. REINHART, Karl Poseidonios , Munique, 1921, p. 32 e segs.; y
0i
, segs.; PÔSCHE, Viktor. Die rdmische Auftassimg der Gescbichte. Gymnasium , rt. 63, 1956,
. .
REINHART, Karl . Kostwsund Sympathk Munique, 1920 , p, 18*1 A tradu ção est ã no anexo .
p. 190 e segs. Paca os efeitos sobre 3 posteridade, cf. BUCHHEIT, Vinzenz ChristUche
. . . .
em REINHART, e em POHLENZ, Max Dk Stoa Gottingen 4. Aufl , 1970, p 213 e seg.
H Cf.
.
. v-
i - .
Romideologie im Lourentius Hymnm des Prudent í us In: W íRTH, Peter (Ed .). Polyí hrotmn.
STRASBU.RGER , H Poseidonios on problem* of Roman Empire Journal of Roman. .
Festschrift (Ur Franz Dõ lger Heidelberg, 1966, p. 128 e seg3.
. .
Studies, n 55, 1965, p. 40 e segs & M Cf. LIVIUS, 1, 16, 7.
.
w CELZBK , Kleine Schriften (vol 3), p. 51 « segs , 95 e segs.,
. .
258 TIMPB, Dieter. Fabius Pictor ZR
J
47
. .
H ÃUSSLER, Rein ha rd Vom Ursprung und Wandel des Lebensahetvetgleichs Hetmes , n .
und die An finge der ô r ndschen Geschtchwichreibung. In: TEMPORIN 1, Hildegacd (ed.). .
92, 1964, p. 313 e segs.; V1TTÍ NGHOFF, Zum geschichtlichen Seibstverstandnis..,, p 557
.
sUfstitg und NUdeyang derrtmisditn Welt (vol. 1/ 2). Bwiim / New York, 1972, p. 928 e segs íí;
"

e segs.; TRUYOL Y SBRRA, Antonio. The idea of man and world History from Seneca to
4J
. . .
LIVIUS, 1 , 16, 7 Cf. 1 , 55, 5 c seg; 5 54 , 7
%\
í
O rosins and Saint Isidore of Seville . Oshiers d'histoirt , n. 6, I 960, p. 698 e segs.
'
~
e=1
5Ó 57
:V¿;U
m
O CONCCRO DS HSTÓÍtA £- mV- - ANHGUTDADE
s h :+V

romana chegava à sua perfeição. Nã o se faia da morte de Roma - Srt T; foi eliminado no pensamento romano, e em que medida se dava a
V
í -- '
ç .v:
ao menos n ão durante o período pagão.*8 identificação do imperio romano com o quarto reino , na suposiçã o
Outra resposta para a suspeita de que se estava ficando para trás de que no imperio romano a “ História” $e consumava - ou em
em rela ção ao grande per íodo anterior consistiu na relativizaçã o - m*
m ¿ que medida essa doutrina visava apenas a urna classifica ção externa
das vantagens desse tempo a favor de uma avaliação histórica que km. da história do mundo.
distinguia entre prós e contras: 11nisi fortes rebus cund ís inest quídam Mas no tempo da monarquia aparentemente se contava em
velut orbis, ut qtmmdmodum temporum vices, ita mourn vertantur; nee m; diferentes oportunidades com a consumaçã o da Historia no imperio
omnia apud priores metiora, sed nostra qtioque aetas multa huí di$ ae artium ::W ;: romano. Essa ideia com certeza estava ligada com a consciencia
- Ym -
m
imitanda posteris tulit ” , lê-se em Tá cito.69 presente no sé culo II d.C. de que sob os abençoados efeitos da pax
:

&
Após os temores de desaparecimento da rep ú blica tardia e do Mix Romana se alcançara, em muitas á reas, uma posição que n ão existira
per íodo das guerras civis — Lucrecio até pensava que os campos .
nunca antes 73 Essa ideia se vinculava com as v á rias concepçõ es sobre
perderiam sua fertilidade70 afirmou-se que Augusto restabele -
cera a “ aurea aetas” . Virgílio atribuiu a J ú piter a promessa de um
1
i
a eternidade de Roma e de seu domí nio, que, numa petrifica çã o
ideológica , continuou sendo nutrida e defendida quando, havia
" imperium sine fine” , que seria ilimitado, tanto temporal quanto i% muito tempo, os sintomas da decadê ncia do império eram vis íveis
espacialmente. A incumbê ncia de u regere império populas ... pacique :
:X por todos os lados.74
imponere morem” \ aparentemente, visava a um dom í nio eterno.71 m Foi exatamente no confronto com os cristãos que se recorreu
:Y-
Já num per íodo anterior, no in ício do século II a. C., tinha mi a ela . Dentro do imp é rio romano, que abrangia todo o mundo
sido trazida para Roma outra concepçã o de Hist ória , a doutrina
‘ m
m (mediterrâ neo), aparentemente a concepção de História se vinculara
dos quatro reinos, que teve sua expressão mais conhecida no livro m
H
• de tal forma com Roma que dificilmente se conseguia imaginar
de Daniel, a qual, porém, na verdade, parece ter sido desenvolvida . y uma História n ã o romana ou pós- romana . Até para os cristã os, era
entre os persas, sob dom ínio grego, em continuidade ao esquema difícil fugir desse dado fundamental. “ Si Roma peril , quid salimn
dos três reinos, dentro do qual o grego Ctésias, no século IV a. C., - est?” - perguntou Jerónimo.75 Os crist ã os opunham aos pagã os a
em Persik á, havia escrito a História assí ria , médica e persa . Em sua finitude da Hist ória . Eles enxergavam na compara ção com a idade
:• JJ
forma original, persa e judaica , essa doutrina inicialmente opo- :*
dos homens uma confissão sobre o desaparecimento iminente do
sicionista fazia especula ções sobre o declí nio do quarto e ú ltimo ó?
v.tU impé rio romano.76 Mas o ponto de vista escatoiógico foi recuando,
reino.72 Nã o se pode reconstituir como e em que medida esse final -

no decorrer do tempo, deixando , no m ínimo, algum espaço para

:x a interpreta ção da Histó ria dentro d.a apologé tica crist ã.
vi
.
Lívio (o qual nao apresenta essa compara çã o) disse, certa vez que se deveria cuidar para que as
forças do conjunto de cidad ã os [der BUgentltaft ] , que deve ser imortal, não envelhe çam (6 , 23, 7).

i
69
.
TACITUS. Annates , 3, 55, 5; cJf o Dialogas de eiater Ibas. e segs., em especial sobre a continuidade da doutrina em Orósio e em Agostinho. A respeito de
70
LUKREZ (Titus Lucretius Carusj, 2, 1173 e seg. .
Pompcío Trogo: SEEL, Otto. Eítieròmische WcUgesehidile N ü rnberg, 1972 .
7
‘ . .
VERGIL. /letteis , 1, 279; 6, 851 a seg ; a respeito da "atirta actas” , cf ibjd ,, 6, 791 c segs. Cf.
74 Vide o verbete" Portschritt" ( progresso], vol. 2, p. 361 (dc GwhichtUriie Crundbegr .
í jfe Hntorischcs
.
LIV1US, 4, 4, 4; 6 23, 7. Lexikon zur politisch-soziale» Sprache in Deutschland , no qual está também o presente texto
( NT.)).
71
-
Kccsias, citado por DIODOR , 2, 1 34. Cf LESKY, Albí n , Qesekfthtt def grUchixhen Uuratar, 3 . í
. .
Aufl., Berna / Munique, 1971, p 697 eseg.; SWAIN,JosefWard The theory of the four monarchies. p .
74 MOMMSEN , Theodor E. St Augustine and the Christian idea ofprogress.
JoHMrf / of the History
.
Classical Philology, n. 35, 1940, p. 1 e segs,; KOCH, Ktaus Spatkraelitbches Geschichtsdenken
• rx . .
of Ideas, n 12, 1951, p 347; V1TT1 NGHOFP, Zum getchichtlklien Selbstverstandnis.. , p . .
.
am Beispifct des Buches Daniel. Hhtonsdic Zcitschrift , n 193, 1961, p. 1 e segs.; LORBNZ, Kurt . .
547 e segs ; FUHRMANN, Die Romidcc..., p. 529 c segs. Cf nota 71 . .
.
UiU â/siichangén xuttt Gttthkhtnvak des Polybios. Stuttgart , 1931, p 15 (a respeko do colaborador 74
HIERONYMUS. Bpiituhe, 123 16, 4. .
..
judaico da coleçã o sibilina); VITT1 NGHOFF, Zum gescliicht ü chen Selb & tvciifá ndms. , p. 551 •'t -. .
?s VITTINGHOFF, Zum geschictlichtn SelbstverstSudnis .., p. 538, 550 c seg, , 560 e seg.

58 59
-3í .
*i :
m 5?- í -f;- Á. v- :
."
V *
O CONCEITO DE H>5TÓ2tA
f¿ . ri AttnGUDAD É

¿¡ Essa interpreta çã o se manifestou inicialmente na cronografía mi messi â nicas ao Imperio Romano.81 Em alguns casos, ele aparece
í: j crist ã , que continha um tipo cie Filosofia da História.77 Nela se
como a concretização do reino de Deus na terra.82 Desde o final
y\ configurou um modelo de Historia providencial, que se desenrolava
do século II , encontramos a doutrina dos quatro reinos, que se
j? í desde a criaçã o do mundo, passando pela Historia judaica, indo em Sil!
lili encontra em Daniel, de tal forma modificada que Roma constitu ía
direção ao nascimento de Cristo, para desembocar na História do
o quarto reino, a fase final da Historia guiada por Deus, o mréxov
.
Império Romano Nesse modelo, se tentava fazer uma sincroniza ção n%
mm
íl i.
gtfU:
da Carta de Paulo aos Tessalonicenses.83 Imaginava-se que esse
entre Histó ria bí blica e História pagã. Assim, se tornou possível t
é ; gvA ;
M fe reino duraria até o aparecimento do Anti-Cristo. Nesse sentido,
determinar seu próprio lugar dentro da História guiada por Deus.
Como nova categoria , surgiu a História eclesi ástica , que enca - mi muitos crist ãos participavam da venera ção pagã a Roma84 ainda -
i
rava os cristãos como um povo próprio, cuja Historie ela pretendia
- S J ;
que nao conseguissem acreditar seriamente na eternidade de Roma .

Através da cristianizaçã o do imperio, sob Constantino, as expecta-
ser. Nesse contexto, as perseguiçõ es e as disputas dogmá ticas exer
ciam um papel todo especial - elas eram aproximadas à Historie,
- tivas depositadas no império romano foram fortalecidas, e a fe na
:
'-í P - sua determina ção através da providencia certamente se expandiu.
mesmo quando a historiografia da Igreja se mantivesse como um Frente as derrotas do imperio, que se seguiram , no confronto
si
'
í
.
*

gê nero próprio 73 Aí í com o problema se elas decorriam da ira dos deuses pagã os que
v .- '

A História terrena foi entendida por alguns apologetas como *


2X
foram abandonados, a questã o sobre a direçã o divina da Histó ria
j '
unit á ria e carregada de sentido , porque era guiada por Deus. Apa- foi reavivada . Orósio chegou a integrar os vitoriosos ataques dos
recia como providê ncia divina especial o fato de que o nascimento II-:% s
i
X
germanos e suas conquistas ao plano salvífico de Deus.85
de Jesus Cristo coincidiu com a consolida ção do Impé rio Romano ,
m Mas, apesar desses e de outros registros, n ão se deve esque-
sob Augusto. A unifica çã o do mundo sob seu dom í nio aparecia m cer que a medita çã o sobre a Histó ria - sobre isso que Tertuliano
como um pressuposto planejado por Deus para a missã o crist ã.79
mV .
chamava “ peregrinar no mundo estranho'’ ocupava um lugar -
-
Por outro lado, a paz e o bem estar do impé rio eram atribu í dos à
ação de Deus. Exatamente o fato de que o império ia relativamente
m
m limitado dentro da cristandade da é poca .86
bem desde Augusto era visto como ind ício da ação de Deus a fa-
i- M Fazendo um balanço, as concepções cristas da Historia não vão

vor de Roma. Prometiam-se mais melhorias, através da expansão


Ü muito alé m das concepçõ es pagãs . Em grande parte, as concep ções

do cristianismo, através das ora ções dos crentes Desenvolveu-se . ‘3?

l
81 MOMMSEN, St. Augustine and the Christian idea of progress, p. 361 e segs.
certa fé no progresso.80 Or í genes e Eusébio aplicaram profecias n STRAUB, Johannes. Christliche Geschichtsapologetik in der Krise dei rowischen Reiches.
•Vft
Historia, n. 1, 1950, p, 61 e seg.
3

55
MOMMSEN , St, Augustine and die Christian idea of progress, p. 3«í $ e scg.; V Í TT1 NGHOFF,
71
MOMIGLIANO, A . Pagan and Christian historiography in the 4 th century, in: Zum geschichdichen Selbstverstandnis.,., p. 554 e scg.
MOMIGLIANO, A_ (Ed ) . The {onflict bctwen Paganism and Christianity. Oxford , 1963, p. S3
e segs.; ef. VITTINGHOFF, Zum geschichtlichenSelbstverstSndnls,., , p. 53$ esegs.
t
viTTINGHOFP, ZumgeschichdichenSelbstverstandnis..., p. 562; BUCHHEIT, ChrmLiehe
Ji

di Romideologie... (cf, nota 65).


7:
1

MOMIGLIANO, Time in Ancient Historiography, p. 88 c segs. ' Ã n ÍS


STRAUB, Chrisdiche Geschichtsapologetik ..., p. 75.
5>
.
Vide o verbete " Forlsdiritt” [ progresso), vol 2, nota 53 [de Gesritlriulirite Gnwdbegtijfe . f*
TERTULL Í AN , Á pologetiíum , 19, 7. Cf. FUNXENSTE ÍN, Amos. Htihphm wild naUirikhe
presente texto ( N.T.)].
-
Hmorisches Lexikon zur politisch iozialen Sprúche in Deutschland , no qua ) est á tamb é m o
Enttoiriilung.Formen der GcgenwartsbesummungimGeschichtsdenken des hohen Mittelalters.
K‘
.
Vide o voibete “ Pcrtiihritt" [ progresso], vol. 2, nota 54 e seg. [de Gesdudttlúhe Grundbegtljfe V: iT -
Munique, 1965, p. 30. Em Hipólito, manifesta -se - para dar um exemplo ‘'desconfianç a
em rela çã o a um impé rio que reivindica uma ecumenickhde que só compete i Igreja”.
Hlstor -
íschcs Lexikon tur pol í tisch so2¡alen Sprache in Deutschland , no qual est á també m
o preseme texto ( N.T.)). A cs$e respeito, OROSIUS, Historia advenus paganos, í. 14 e segs.;
M í .
PETERSON, Erich . Theológlsehe ThtkUtU Munique, 1951, p. 85 e seg. Cf. sua interpret ólo
de que o impé rio romano se desmembrará em "dea democracias” , as quais estariam indicadas
COCHRANE , Charles Noris. Christianity and riassleat ( triture. Oxford, 1940, p. 243 e segs. a n ôs dez dedos dos p é s na est á tua do sonho de Nabucodonozor. MA 2 ZAR1 NO, Santo. Das
respeito do sentido enrí o surgido para transforma ções abrangentes da Historia.
Ende deraniiken Writ. Munique, 1961, p. 38 (tradu çã o de Fritz Jaff
m é).

Ó0 %
:i Ó1
m ..
V
mv :
O CONOCO D 2 HíSIÓWA &y
m
wyyv
pagas sao assumidas e cristianizadas. O que é novo é a fe de que a • III

História é finita. ísso juntamente com as esperan ç as escatológicas
S

I - modifica a posição dos homens dentro da História. Novas são as
suposições de uma melhoria generalizada das condições terrenas ,
-. V
1 II Compreensão do conceito na Idade Média
de um “ progresso” em Eusebio , Grosius e alguns outros, as quais, wSÊ .

i. - durante o período constantiniano, tiveram uma resson â ncia maior, ff Odilo Engels
mas que aparentemente já antes de Agostinho começaram a recu- mm
ar diante da pressã o exercida por evid ências contrá rias. Tamb é m mm
é novo o entendimento de que a Histó ria é obra de Deus. ísso,
poré m , levou, na Antiguidade tardia, a uma nova fundamenta ção
m í i íií
' p^ .v/. :

da concepção pagã de que o império romano seria o ponto final


da Hist ória (ao menos na medida em que ela transcorre na terra).
« ], Sobre o significado das palavras
Somente com o tempo, resultaria da í um novo potencial para o
"historia" e " res gesta"
!; pressupor um sentido.
Com um significado triplo (da mesma forma quejá fora usual
•y

em Cícero), Isidoro de Sevilha (cerca de 560 a 633) legou à Idade


m Mé dia o conceito de “ historia” , através de sua Enciclopédia 87 Ele .
!i mi- buscou a delimita çã o do conceito empreendida pelos veteres nas
! mm Nodes Atticae do gramá tico Gélio e no comentário sobre Virgílio do
V
j
m y
gramá tico Servio:“ Historia” é o registro exclusivamente daquilo que
j. ' o pró prio autor vivenciou , representando, portanto, conhecimento
h seguro, que, por consequ ê ncia , possui altíssimo grau de veracidade.
n :
C& n :
m
'

Esse aspecto da verdade - característico do conceito - pode ser


seguido até a alta Idade Média: “ historia est res visa, res gesta; historia
5: enim grece latine visio dicitur; imde historiografí a rei vise scriptor dicitur ”:88
Mas Isidoro recusava a ideia de restringir a historia à Hist ória
y
'
1 ?
* contemporâ nea - isso em consonâ ncia com a tradi ção educacional

.S? í :
de seu tempo subsumindo os armales à historia Em consequ ê ncia , .
“ historia” referia-se a: (a) forma de conhecer tudo aquilo que era
passado -“ historia est narrado rei g e s t a e p e r quae ea inpraeterito fada
l
A
í-
.
- ¿ir1 '

•:•>. c:
. . . .
Isidoro de Sev í iiia , In: LINDSAY, M W (Ed .) Elytnologiae (vol I ), Oxford , 1911, em especial
- .
1, 41 44
.
w Konrad von Htrsau In: HUYGENS R. B. C. (Ed .). Dtahgus super auetores. Berchem /
.
.
Bruxehs 1955, p, 17; cf. também FREISING, Otto von. Gesta Friderici jmperatoris 2 , 41.
. .
In: Montuinnta Germantee Seriptoris return Gemtanicamm in usum sdtoin/ ium (vol. 46). 3 ed ,
-
. .
1912, p 150; TYRUS, Wilhelm von Historia return inpartíbits iransmarims gestorum ( Prolojtts);
y

y
VJZENZ VON BEAUVAIS, Speculum doctrí nale, 3, 127,
:
y
- -V
T -
Ó2 63
tffcíy- .
m- .
O cctxtno CE H 5T
¥\ CaVififFN &O DO CONCSTO NA bfDS MfoA
SR iM
•v '• '

stmt, dinoscmtuf ' * 9 Comi$$ o, o destaque dado porSempronio Asélio


:
41* - Vv
! xr
i
£

:
:
v'
.
evento histórico individual bem como a própria totalidade desses
: ! de distinguir entre os anuales (como puta enumeração de aconteci
- i acontecimentos.
-
V -j"

mentos exclusivamente externos, e n ão mais pcssoalrnente vividos) a


e a historia (como materia autovivenciada e, por isso, apresent á vel i Vi:


Nao é possível afirmar que no in ício da Idade Mé dia se ti-
3 a partir de motiva çõ es internas), essa distin çã o se perdeu , em certa -yl
; vesse perdido de todo a necessidade por um conhecimento seguro
ii ii do passado, mas ela foi superada pela preocupa çã o com aquilo
f medida , na Idade Mé dia. E isso aconteceu , em parte, so porque o m fe -:
que merecia ser conhecido como tal. O acontecimento estava em
detalhamento no relato se manteve como característica da historia, ! primeiro plano, e nao tanto a pergunta pela confiabilidade do co-
tí com a tendencia de, para al ém da apresenta çã o narrativa, vincular :
mMñ .
nhecimento sobre acontecimentos Só assim se consegue explicar
aos relatos a transmissão de valores pedagógicos.90 mm a intercambialidade entre “ historia” e “ gesla” , que do neutro plural
A atribuiçã o de verdade à quilo que foi vivenciado por algu é m se transformou em uma flexão de feminino singular.
;
se estendeu por consequência como um problema sobre o passado O objetivo em conhecer aquilo que merecia ser conhecido
.
localizado mais distante; o lugar dos testemunhos oculares91 passou m-¥ -
:

contribu í a para romper a dimensã o histórica do objeto de conhe-


a ser ocupado pela tradiçã o oral ou pela escrita dos antepassados.92 -
ft .
; ri

cimento , como se pode mostrar à m ão de três exemplos Desde


O conhecimento recorreu àquilo que já era conhecido, e, com ->,Y ;i:v-
'

o s éculo IX, “ historia” podia se referir tanto a um acontecimento


isso, “ história” ( b) como conhecimento seguro do passado, podia If registrado em um quadro quanto ao pró prio quadro, de onde
ser estendida aos depoimentos de um conhecimento mais antigo.95 m
-.
. Í R. surgiram, desde o século XIII, “ historiare” , “ historiei* ou “ sforia-
Como as fontes reivindicavam a condiçã o de veracidade ou
até só eram exploradas por causa disso , (c) també m o próprio
— — *m
m re” , no sentido de “ confeccionar uma representa çã o pict órica ” ou
simplesmente "enfeitar ” No entendimento de Amalá rio de Metz
objeto do conhecimento fazia parte do conceito: “ historiae stint res &
m: (falecido em 850), “ historia” se referia a um relato retirado da Bí blia ,
it
vente quaefactae suntAssim , “ historia” era o conhecimento seguro
m * e a responsó rios compostos para serem apresentados na forma de
de acontecimentos históricos ou o testemunho do passado, ou o &
Vi. c â nticos, na sequ ê ncia da leitura de passagens de relatos bí blicos; no
& século XII , porém , já aparece todo o Ojficiam , independentemente
. .
IS ( DOR, Etymologic, 1 41 1. do dia festivo, abarcado pela palavra “ historia” .9& Isidoro de Sevi-
w FREISING, Otto von. Chron í k 2 ( Prolog)
.In: Monutntnia Gtnnanuu - Seriptores rerunt
mi Iha declarou: “ ( historiones) autem saltando etiam historias et res gestae
.
Gentuttiicarum in usum s àiotArUim (vol. 45) 2. t á . . 1912, p. 68: “ Nemo atuem a nobis sententias aut
demonstraban?* 96 Também glossá rios posteriores nao deixam claro o
ntmlitoto expeeui**; cf. íbid . 6, 23, p. 286. .u
n Beda. In: Ç OLGRAVE, Bertram; r-ii
MYNORS, R. A. B. (£ds ,). Historia eedesiasiiai ( Pmfa í h) . 5 que era encenado; somente desde o sé culo X Í I / XIII, " historia” foi
Oxford , 1969, p. 6: “ ma kx historiae at , simpUciter ea quaeJama vá lgante eolkghms ad insfrmf (orient &*
se cristalizando como peça teatral religiosa e tamb é m se estendeu
postentatis litteris mandare stttduiinus". m para a imagem viva , quando esta se separou da peç a teatral 97
Guilherme de Malmesbury. In: STUBBS, William (Ed .). Cuta region Angbrum . Londres, 1889 m
(rdmpressio Londres, 1964), 5, 445, p. 518: ” £go emm verai » kgem seeutus historiae nlhll ntiqtutm
:VÍÍ Na mesma medida també m o significado da palavra se pluralizou.
A
posai nisi quod Jidetibus relationlbus vel scrip ¡atibas addidiei” .
.
CÍCERO De invenlione , t , 27: " historia est gesta res ab aciaiis nos trae memoria remota" , m i
O conceito geral, inicialmente aplicado ao próprio acontecimento e
í4
.
TSIDOR , Etymologic, 1, 44, 5. Cf tamb é m Ranulf Higgen . In: BABINGTON, Churchill
.
( Ed .). PolychonUon (vol. 2) Londres, 1869, 2, 18, p. 362 e segs Cf. sobre tudo isso, KEUCK ,
.
.
Historia (cf, rtoU 31), p. 6 e segs ; BOEHM , Laetitia , Der wissenschaftstheoretische Oit der
.y - . .
KEUCK, Historia , p , 47 e legs .; LEHMANN Paul MmcUUerKchc Biichertitcl in: .
historia im frilhenMitteklter. Die Geschichte aufdem Wcg zur „Ge5chicht$w í s$cnsehaft“ In; .
%

.
Sitzur.gsberkht der Bayetisehen Ak á demk der Wissenuhafttn , phüosopHisih’ hisiojisótt Kfasse , n
.
BAUER , Clemens; BOEHM , Laetitfa ; c M Ü LLER , Max (£ds.) Speotlum Historíate. Geschichte .
3, 1953, p. 16 c segs ; retmptosso em LEHMANN, Paul. Erforschung des Mmclalteis. In:
im Spiegel von Geschichtsschreibung und Geschichtsdeutung. Festschrift fü r Johannes Sport . .
Ausgeiviihfte Abhattâiungen und Aufeõtze (vol 5) Stuttgart, 1962, p. 65 e segs.
.
Freibutgo/Mumque, 1965, p. 672 e aegs ; corn muitas cita çõ es, mas com menos clareza , cf. ,4
1
IS1DOR , Etymologise, 18, 48.
.

LACROIX, Benoit. Uhistorien au Moyen Age , Mom roa I / Paris, 1971 , p. 16 e segs . .v:i
fj }
.
KEUCK , Historia , p. 66 e segs. » 87 e segs

m
64
I
A
65
. ’.V
¿> K

O CGNCPIO DE HlSIÓfi'A
*
i COMttCtNSÍO OO CONCflTO fU IpAOE Mí (XA

à comunicação sobre o acontecimento, se estendeu pata a atividade 339) e Jerónimo (ca. 347 a 419/20) desenvolveram , dentro da crónica
de comunicar. E se for levado em consideração o fato de que desde íi
universal, o tipo da “ series tempomm” , que encarava como sua tarefa
'

:S5 •
'
v; :
11 '

*
mais digna a de colocar todas as not ícias numa rela çã o temporal.
'
o século XII o francés “ geste” (“ chanson de geste” ), em alguns casos, r
%
É de Orósio (falecido em 418) o estilo “ mare historicum” , o qual,
.

passou para o objeto da canção (“ geste” = “ família” , “ povo” , etc.), então


também a identificação de “ historia * deve ser inclu ída nessa plurali- v
y. m- recorrendo ao maior volume possível de matéria, parece ter tido
zaçao, como parte importante do acontecimento a ser comunicado. • vi como ú nico objetivo o entretenimento. E o terceiro tipo é a “ imago
Com certeza, nao constitui acaso o fato de que també m desde vr tmmdi” , desenvolvido por Isidoro de Sevilha , de fornia consciente,
o século XII novamente se passou a questionar com muito mais M - - que entendia a História como apenas uma parte da realidade total;
ê nfase o conte údo de verdade da comunica çã o. Os conceitos de
'

ill essa intenção fica muito clara na tripartição de “ speculum historí ale” ,
mm. ” , que Vicente de Beauvais
“ historia” , “ fabula” , “ vita* ,“ chroniqtte” ,“ conte” ou “ roman” podiam
9
“ speculum mturale” e “ speculum doctrí nale
significar a mesma coisa , no sentido de um simples relato. Mas já (1184/94 a ca . 1264 deu
) a $ ua obra .99

no século XIII , a expressão “ geste” foi sendo desclassificada como Enquanto a perspectiva histórico- universal se estreitava , foi
relato com fins de entretenimento. A pretensão de apresentar afir-
i possível que analogamente surgissem Crónicas de objetos parciais,
Mil como a de Cassiodoro (ca. 485 a depois de 580), com sua Histó ria
maçõ es coerentes com a verdade foi se restringindo ao conceito -
i popular sobre os godos (origo gentis) , a crónica de cidades, de ordens
V

“ estoire” ou “ histoire” , urna evolução que naturalmente só chegou i -


a um desfecho depois do século XV. O retorno à restrição t í pica m religiosas, etc.
da Antiguidade tardia do significado da palavra “ historia” partiu ,
m Sob alguns aspectos, como imagem invertida em rela ção a
isso está a annalistica. Em geral, redigida por vá rios autores n ão
• :-:5
,
portanto, da escrita da História em sentido mais restrito.
conhecidos nem prevista para uma difusã o mais ampla, a própria
ll
m construção esquem á tica , classificada por anos, registrava somente
2. A escrita da História; sua classificação i
notícias contemporâneas e jamais recuava até a $ origens, faltando-
e o horizonte em que ela é experimentada mi
lhe necessariamente uma ideia mestra que a perpassasse.

a) As “ categorias” . O quadro das categorias da bibliografia m


ñ Nas teorias antigas, a biografia n ã o est á inclu ída na historio -
grafia , mas independentemente disso foi se infiltrando nas formas
historiográfica que possu í mos da Idade Média parece estabelecida de representação da escrita da Hist ória , desde Plutarco e Suet ônio,
de forma inabalá vel. “ Crónica ” , “ anuales” ,“ vita” ,“ gesta ” , “ hist ória ;v.v • sob a forma de uma sequência de biografias de governantes. A
popular" e “ poesia histórica” constituem hoje em dia conceitos m-.
• fc
deficiente fundamenta çã o teórica e a exigência amplamente aceita
bem definidos da ciê ncia do ramo.98 • É
S do autor da Vita Sancti Martinit Sulpício Severo (ca . 363 a ca. 420),
A crónica , escrita por um ú nico autor, em geral conhecido -i i

de que somente a vida de um santo poderia ser descrita , porque
pelo nome, e destinada a um p ú blico amplo, tentava abarcar uma * somente seu exemplo direcionaria o olhar do leitor para o alé m ,100
mat é ria histórica abrangente , desde o in ício at é o momento em h
que se escrevia , a partir de uma ideia mestra . Dentro desse quadro
'
í
M Vicente de Beauvais, citado por BR í NKEN, Anna Doiothee von den. Die lateinischc
CR
geral, existem possibilidades de diferencia ção. Eusebio (ca. 265 a Wdtchrontaik. In: RANDA , Alexander (Ed.). Mcnxli imd IVrtyadiUhte. Zur Geschichte der
UniversatgeschkhUscíueibung.Salzburgo/Munique» 1969, p.57; cf.BRINJCEN, Anna Dorotbee
i von den. S í udteti zuriateinlschtn iVtUttwhistik bis in dm ZiiUhtt Ottos von Freising, D ü sseldorf, 3957.
Cf. o quadro geral de GRUNDMANN, Herbert . Geschichtsscbreibung im MitUlalter In: . >> w SEVERUS, Sulpicius. Vila Sanai Martini, 1, 1; alé m disso, o extenso comentí rio de Jacques

p. 2221 e segs, (ediçã o revisada: Gottingen , 1965) .


. .
STAMMLER , Wolfgang (Ed.). DeutscJte Philologit Un Aufitss (vol. 3). 2 Aufi , Berlim , 1962,
1- • y-
Fontaine, em sua edi çã o bil í ngue Sulplte Sévlre, Vir de Saint Martí n (t , I ). Paris, 1967, cm
.
especial p 72 c segs.

.V-
óó 67
: -

O CONCISO ce H íMóí IA se- .


CO.vWEf N5AO DO CONCtf íO NA íOADí MéOIA

impediu que na Idade Mé dia ocorresse um desenvolvimento linear


da abordagem corrente. Biografias de governantes sao impressionan-
ú
as m¿
m se perdia nas profundezas do tempo, e a escrita latina da Hist ória
temente raras na Idade Média.101 E a rica bibliografia hagiográfica
Aí# é unicamente a rima; ela surgiu da necessidade de enriquecer as
nao visava em geral apresentar uma história pessoal no sentido de
mWW . leituras escolares, dedicando-se preferencialmente a uma pessoa
'

f fê&í ou a um episódio, com tendências ao exagero panegí rico, o qual


mostrar o desenrolar de açõ es ou de movimentos ( por exemplo , podia ser utilizado para fins propagandísticos .
porque essa forma de representa çã o fosse totalmente desconhecida) As características diferenciais dessas classificações em categorias
- ela procurava justamente mostrar, através de todas as ações do ipp- : se localizam em variados n íveis e só foram descobertas pela pesquisa
santo, sua voca çã o ã santidade desde o princípio. ygj-yfe

- - - -. i
através da fenomenología , no século XIX. Aquilo que se entende
Mesmo assim, houve sé ries de minibiografias. Sua designação l .- .
.

mb vi; por “ crónica” foi sendo estabelecido a partir da inten ção daquele que
-
de "gesta” ~ derivada de “ res gesta” indica a inten çã o de registrar
II escreveu a Hist ória e a partir do objeto; a " vita” só é compreensível
acontecimentos. As “ a ções” relatadas concentram-se , poré m, sobre a partir da pessoa descrita, enquanto a característica mais destacada
pessoas que ocupam cargos, cuja sucessão, através de vá rias gera- . vm dos“ atmales” e da “ gesta” parece ser o princípio classificatórío que se
ções, mostra a interconexao de institui çõ es no longo prazo. Dois a àv4:
orienta na sucessão anual ou na sucessão do cargo. Diante dos muitos
aspectos podem ser destacados: ou a enumera çã o de determinadas
características da a çã o dos detentores de cargos - repetida como se
m
' ^. V

mi
É
"

S ísfei!
;~

:
• espaços de transição na realidade historiográ fica , essas características
estruturais poré m parecem se referir apenas a tipificaçoes estabeleci-
, ,
fosse um catá logo - destaca os aspectos está ticos de uma instituição das postfestum.Já naquilo que tange ao conceito dos “ anuales” , não se
juridicamente normatizada , o que muitas vezes se d á através da rm pode ignorar o fato de que Semprônio Asélio, 11a sua caracterização,
inserção de documentos legais , em cita çã o verbal;102 ou ent ão, a empregou critérios bem diferentes dos da linguagem científica atual.
it
massa de acontecimentos diferenciados destaca a efic á cia das a çõ es & Por isso, é incontorn á vel apresentar as afirmações dos próprios autores
desses detentores de cargos, cuja a ção passa , assim, a corporificar
a import â ncia da pr ópria instituição. Ambos os casos nao excluem
m $X l : -
que escreveram História na Idade Mé dia .
b) Crit é rios de classifica çã o na Idade Mé dia. A antiga
a possibilidade de que a descrição fique cada vez mais detalhada , I &
distinção entre historia como relato de acontecimentos contem-
à medida que se aproxima da atualidade do autor, desembocando, porâ neos e anuales como a representa çã o de acontecimentos mais
ti*
3 .
no final, numa ampla biografia. distantes no passado foi rechaçada por Isidoro de Sevilha - como já
O que há de comum entre a poética de canções populares, cuja m 3

foi dito; mesmo assim, ele se viu obrigado a levar em consideração


perspectiva cronológica, tanto para ouvintes quanto para apresentadores,
m o conceito de anuales. E que às medidas de tempo em dias , meses
M
& e anos corresponderiam ephemer í da, kakndaria e atmales ; o genus
§
ICI Cf. BEUMANN, Helmut. Die Historiographic a í s Quelle fut dio Idee« g«chichte des historiae apresentaria uma classifica çã o tripla ,103 Ele aceitava esse
.
Kouigtums. Hittorifche Ztiluhrifi , n ISO, 1955 , p. 456 e segs.; reimpresso cm BEUMANN , crit é rio de diferencia çã o orientado por um princípio classificatório
Helmut . Id<aigtschithl¡kiu Studien zu Einhard utui twderen Ctsehldtlssthftibem dei frithtren ni formal , mas aparentemente n ã o era fundamental para uma divisã o
. . .
MitieiaJters 2 , Aufl , Darmstadt , 1969, p 47 e segs. Sua opiniao de que as biografias de
governantes influenciadas pela Hist ó ria dos saxões de Widukind von Cotvey mostrariam no
m
-K v em categorias. A baixa Idade Mé dia seguiu esse padrã o, na medida
geral uma concep ção de História profana latente, precisar ía ser confrontada com a pergunta •
-
&j*
ern que as muitas obras de atmales, via de regra, n ã o são classificadas
por que biografias de governantes s ó foram escritas quando as estruturas de domina çã o se M
tomavam inst á veis, e se na vis ã o, muitas vezes, conscientemente “ profanada * n ã o estamos
1 % ã com esse conceito nos tí tulos.
diante de uma adapta ção do autor à ainda pouco desenvolvida concepção crista da nobreza .
Seria poss ível pensar aqui em partes posteriores do Liber Pontifiealis ~ cf. ENGELS, Odilo .
.
Kard í nal Boso a!s Geschichtsschreiber. in: Payst und Kctizil Festschrift fur Hermann Tíich í e. S 103 ÍS Í DOR , Etymologlae, 1, 44. Cf, a respeito: FONTA Í NE » j. Isidore de $éviUe et lá ( allure
-
Munique, 1975 ou na Historia Ccwpostellana. ( bsí fque dons VEspacie wislgõ thiqu é (c. 1). Paris, 1959, p. 180 e segs.

68 f - ó9
Ml
s > ?¡;:-v *
>. O COíJCcTCO P£ Hitf &A.
’ è CC.Ví«6NSAO DO ccM-cmo HA IOAK Mte\
i - - y- y vm.; y.: :
, - .v.

. .
2 i ;v:
- -
¡ 1
’•
ammy: dilatare et fimbrias magnificare delectant. Dum enim cronkam compilare
J •
;¥ - 5;
> « • > ¡ , .

J Qu árido Isíd òro diz que Sal ústio escreveu uma historia e que
I: ^ -
Éi às de Lívio, Éusébio e Jerónimo se constituiriam de historia e
'
cupiimt , historiei more incedunt et , quod breviter semoneque hmnuli de
no
í antialesi isso não representava mais que uma concessão a definiçõ es Ul - cXÜ
"
modo scribendi dicere debuerant, verbis ampuUosis agravare conantur”
H Usuais. É que em outro lugar'04 ele cita a crónica; na tradu ção latina,
ela se chamaria tempomm series , a qual teria sido escrita por Eusébio,
Já que são muitas - como escreve Gervasio se deveria pensar
aqui num fenômeno de decad ê ncia , que tenderia a eliminar a íorina
1P$ m e Jerónimo a teria traduzido para o latim. Juntar historia e anuales
vs l ;;\S
1 de representação mais compactada ou a mais ampla como sendo as
r numa mesma obra era , portanto, algo novo, frente ao qual a carac-
ter mm:: L': v: VV ;
'
verdadeiras caracter ísticas distintivas entre Crónica /anuales e historia.
Naquilo que tange à massa da maté ria e simplesmente por causa
Ir ística diferenciadora representada pela proximidade cronológica
em rela çã o ao autor perdia import â ncia e ia sendo substituída pelo mm do espa ço temporal abordado, Ot ã o de Fresing (ca . 1112 a 1158)

:f m
I conceito de crónica . A distinção entre cron ística e annalistica, hoje teve de fazer uma restriçã o maior na sua Crónica mundial que em
Ip usual, orientada pelo princípio de classificaçã o, aqui, precisamente sua Gesta Friderici Imperatoris, por é m , em rela ção ao estilo n ão se
b n ã o era feita,105 portanto h á bons motivos para que se possa designar
a annalistica, que foi dominante até o final do século XI, como a
*
ai»f

observam diferenças significativas. Se, apesar disso, a Crónica mundial


leva o título original “ historia” e a Cesta o tí tulo “ Crónica” f 1 isso
m
forma de representação da Crónica propriamente dita 106 . ap aparentemente ocorre em razão das diferenças no espaço tempo-
* Mesmo assim, a diferenç a entre historia e anuales não se perdeu , i ral abrangido. A caracterização da abordagem mais ampla como
Vi
%
e isso numa outra perspectiva, que Isidoro n ã o levou etn conside-
ra çã o. Cícero107 e Quintiliano108 haviam caracterizado os anuales
m
mm
historia permaneceu , mas $e deslocou - e isso não apenas em Otao

de Freising de critérios internos para características externas.
-
*
s .1

wm
'
1

ij como uma forma menos pretensiosa de representação, pelo fato de O genus historiae triádico citado por Isidoro també m n ão era
que se tratava predominantemente de um arrolamento de datas e
.
de nomes Cassiodoro já identificava - sem dizê-lo de forma ex-
pressa - a Crónica com a obra dos anuales , já que ele a define como

Jp im:
.
desconhecido na alta Idade Média . Roberto de Torign í (= de
- -
Mont Saint Michel, finai do século XII) observa , no prólogo de
i .
sua crónica sobre Sigisberto de Gembloux, seu modelo: “ de ducibus
“ imagines historiaram breuissimaeqtte commemorationes temporum’\m A i
>>- I :-.. Normanonim nihil autparum dicit , Nant tatúen hoc fecit negligente?, sed quia
m
*

distin ção inclusive é encontrá vel na alta Idade Média . Assim, Ger- carebat his tribus historiisV 12 Teria sido costume da é poca apresentar a
vasio de Canterbury (século XIII) apresenta a seguinte polê mica :
“ Crónicas autem anuos et principium quae itt ipsis eveniunt breviter edocet,
m

Historia dos duques normandos conforme su a sucessão no cargo. A
partir da antiga teoría do princípio de classifica çã o, aquilo que nós
%&
mm
eventus etiain , pórtenla vel miracula commemorat Sunt autemplurimi, qui . hoje costumamos designar com o conceito de“ gesta” ainda nao havia
crónicas vel anuales scribentes limites sitos excedan! , nam philacteria sua sido incorporado; por isso, Roberto desculpa a falha de seu modelo.
I! Esse exemplo clareia duas coisas, tendo por base as observaçõ es
1SIDOR , Etymologise, 5, 28.
m precedentes. A teoria da Antiguidade n ã o foi adaptada às transfor -
M EACROIX, JJhtrioikn eui Aíoyen Àge, p. 34 escgs., em contrapartida, mediante recurso a excitações,
tema cristalizar historia , mules c cr ónica como as três categorias propriamente ditas da Idade Média,
masse emaranha em dificuldade evidentes, ao tentar tra ç ar os limites entre Cr ó nica e cwnales
* .
»
; > f- y.
[ «
ma ções entrementes ocorridas, procurando-se, pelo contrá rio, com
evidente esforço frustrado, enquadrar a realidade historiogr áfica nas
.
Encontra-se dessa forma cm POOLE , Reginald L. Chronicles and Armais A brief outline of • 4
thdir origin and growth . Oxford, 1926. , GcrvSsio de Canwtbury, in Chronica maior (Prologas). In: STUBBS, William (Ed .). The historical
1,7 yt 10
CICERO, De ontore , 2, 12. warki (vol. 1). Londres, *• d . [1879]; reimpresso, sem indica çã o de lugjr, em 1965, p. 87 e seg,
QUINTILIAN, 10, 2, 7.
? Cassiudoro. In: MYNORS,
R. A. B. ( Ed.). Insiitmionts divinarían et hmtananmi Htlnalum ,
M
y m Pranz
- , .
Joscf Schmale, em sua introdução a Biuhof Oito von Freising ttnei Rahtwln Die Teten
Pfk óiUhf . Darmstadt, Í 965, p. 75 e seg. (teadusido por Adolf Schmidt) .
Oxford , 1963, 1, 17, p. 56.
m
m
.
m Robeuo de Torigm. In: DESLJSLB, Lé opold (Ed .) ChmUa ( Prologus) (t. 1). Rouen, 1872, p , 94.

70
|
v
,
71
m
¡J
¡i
O meio De HUTôSIA
mm
-

rn ;f
-
COWKKNSâO ex? CONCEITO MA bxw MéDIA

;j
''
normas transmitidas. Isidoro já tinha aplicado o conceito "amales” mantendo -se apegado à congruê ncia de imp é rio e religião, já que
I
? a elemento de classificação e de categorizaçao, sem sinalizá-lo, a expansão da salvação, segundo o plano da providência divina , só
e em Roberto de Torigni vemos os três elementos básicos buscados poderia ser garantida peio quarto grande impé rio .
numa medida de tempo (dia, mês, ano) sumariamente designados por
;

j!

“ historiaeNaquilo que tange ao assunto, se fazia uma distinção clara


entre principios de classifica ção e de categoria , mas o mesmo não se
Aw Somente no imaginá rio de Isidoro de Sevilha , o império uni-
versal romano encolheu a um regnum ao lado de outros regna, dando
lugar à ecclesia como ú nica unidade que abrangia todos os povos.116
fazia na escolha das palavras, com que se teria achado outra expli-
cação para a tentativa da moderna pesquisa histórica de determinar
yv
5 ;.

-

Como consequê ncia , ele retomou no lugar de uma sequ ê ncia de
quatro imp é rios mundiais o princípio classificat ório que havia
diferenças de categoria , ao menos em parte, a partir da classificaçã o. am sido concebido por Agostinho com “ aetates” , entendendo-as no
c) Formas de experiência e capacidades de formatação. mm
*Í $9ê Nfy ; sentido de um amadurecimento do corpo da humanidade como
Antes que se conclua , de forma apressada, que a continuidade pre- m- m
r.v,:.
V -o
• etapas da idade do mundo 117 .
domina desde a Antiguidade tardia até a alta Idade Média , deve -se Tamb ém ainda na Antiguidade tardia surgiram listas de pa-
dar uma olhada na experiê ncia da historiografia medieval sob o SI lí- pas , em analogia aos antigos fasti consulares , que iam se ampliando
aspecto de sua riqueza , naquilo que tange às suas formas histó ricas,
incluindo suas principais ra ízes. ••
I> cora o acr éscimo de dados biográ ficos, transformando se no Liber
pon ( ificalis.m Da perspectiva das formas hist óricas, esse protótipo da
-
A escrita da Histó ria paga da Antiguidade n ã o pensava de gesta possui a mesma raiz da mnalislica antiga , naquilo que tange ao
forma cíclica , mas sim linear;115 com isso, a introdu çã o de um telos . *
objeto » pois representou a continuidade das antigas biografias de im-
crist ão n ão significou nenhuma ruptura total com a historiografia :ÍH ft í
• y
;
*
5’ peradores, mas, por causa da forma constante em relação aos dados a
anterior.11* Aquilo que a crónica mundial de Eusébio/Jerônimo, serem registrados, se entendia como uma história institucional oficial .
3
preocupada com estrutura ordenada de dados, ainda n ão conseguiu ix Com isso , todos os princípios de classificação adotados depois estavam
fazer, Orósio, o discípulo de Agostinho, conseguiu.115 Nos sete m configurados: a sucessã o de quatro impé rios ou monarquias mundiais
: :Z í
'

livros de sua “ Historiae adversas paganos” , desvinculou do rei assí rio yv


ou de fases et á rias do mundo, o esquema atmalistico subjacente às eras
Ninus, o fundador de Ní nive, o início de toda e qualquer história do mundo e a lista de sucessão dos detentores de cargos. Mesmo
palpá vel , que tinha sido descoberto a partir do grande impé rio da :V : assim, nem todos tiveram continuidade óbvia na Idade Média.
Antiguidade tardia e, como primeiro, começou sua representa ção : •
Beda (672/ 73-735)119 conhecia as Crónicas de Jerónimo e de
com o relato bí blico da criação. Mas ele não conseguiu romper de 1
*

Isidoro, e utilizou a divis ão em fases da idade da terra. Mas n ã o
r?
todo com a visão de que o império romano constituiu o ápice, e .v-y
r
com a consequente irrepetibilidade do impé rio mundial romano ou ,
com a invertibilidade da orienta çã o hist órica que existiu até então;
::r 15
-
ROMERO, Jos é Luis. San Isidoro de Sevilla. Su pensamiento hist ó rico polí tico y sus relaciones
, . ,
con li historia visigoda Cuadernos de Historia de Espa ña n . 8, 1947, p. 51 o segs -
ele simplesmente identificou a pax Augusta com uma / Mx Christiana , Í3
17
Mais do que na Cró nica de Isidoro, esse sentido fita claro nas suas Etyrttc logias, como mostrou
.
Arno Borst em “ Das Bild der Geschichte in der Enzyklop’adie Isidore von Sevilla ” ( Deutsehss
, .
Auhiv n 22 1966, p. 21 e segs .) .
1,1

-
m Cf VITTINGHOFF, Zum gcschicUtlichen
Sdbstvent ...
â ndnis (cf. nota 49). $
,
BERTOLINI , Ottorino. II “ Liber Pontifiealis" In: Stoticgrajia vot . 1, p. 387 e segs ; .
MELVILLE , Gett. De gestis jive stands romanorum pontificum ... Rechtssatze in

IN MOMlGL
Í ANO, Arnaldo. L'et à dei trapajso fia storlografia anttca e storiografta med í evale .? .
Papstgeschichtswerken. Auhlvum HUtomt Pontifidae , n 9, 1971, p. 377 c segs.
- .
i:

.
(320 550) In: La sforiognififl alfomedievak (vol. 1). Spoleto, 1970, p. 89 e segs 119 .
Entre os melhores, continua estando LEV 1SON, Wilhelm Bede as historian. In: THOMPSON,
115
SCHONDORF, Kurt A. Die Geuhkhtstktolegie dei Owíi /f. Munique, 1952 (tese de doutorado); . .
A Hamilton (ed .). Bede ,hh life,times and uvitbigs Essays in commemoration of the twelfth centenary
.
LACROIX, Benoit. Orne et ses id ées Montreal / Paris, 1965; MARROU, Heitri Ir é n é e . Saint of his death . Oxford , 1935, p. UI e sega . (Reimpresso com amplia ções cm LEV ÍSON , W. Aus
Augustin , Or óse et PAugimhmme his tonque. In: Storiogafia (vol. 1), p. 59 e segá. .
rheinischer und frankiseher Fr ü hzeit . In: AusgeuKikfte Aiifiãtzâ, Dusseldorf, 1948, p 347 t segs.).
/•
: >x
y
V
-
'

72
1 := .

73
r
i: . . .
O CttíCfcTO OE ‘
IflÉ#
?. .
> •• •••

COMíSííNSAO CO CONCHO tu lew* MíDIA

¡p foi ela que teve influ ência duradoura no continente , mas sim seu
cálculo das datas da páscoa , at é o ano de 1063. A anmí istica que

.••.‘.iCí g.
fe- v-:;.

••
uma concep ção de História determinada pela romanidade. A cró-
nica de Regino de Priim (aproximadamente 840-915) já percebe o
i predominou na escrita da Historia carolí ngia se desenvolveu a «»
Ur surgimento dos impérios germanos como uma ruptura decisiva .
121

* partir de uma necessidade prá tica: tabelas com as datas das páscoas ) mwm
vjp-m Paulo Diá cono e Freculfo, porém, tamb ém não eram mais
& ofereciam oportunidade para registrar, nas margens, acontecimentos capazes de adotar o esquema classificatório de seu modelo ou de
importantes do ano corrente, um costume que foi se autonomi - i estabelecer outra classifica ção para o material histórico-mundial,
V:
zando e ampliando. Aqui a cronologia melhorada deBeda oferecia mm que fosse mais adequada ao tema. A Vita Karoli Magni, de Einhard
uma ajuda bem-vinda. Seria possível argumentar que, com isso, a -Vê l&v
:: (aproximadamente 770-840), comprova que a razã o para isso não
partir de Beda , tamb ém estava estabelecida uma liga çã o da ama - Wm
mm estava na perda demasiada de conhecimentos sobre a educa ção
l
;
.
listica carol í ngia com Eusébio/Jerônitno Na verdade, porém, essa antiga .122 Chama a atenção que o tipo de vida de santo, muito
*
i
ligação foi muito secund á ria , pois, apesar de seu formato igual ao 1m •
realista , que os missioná rios anglo-saxões haviam difundido no
do antigo precursor, a anmlhticú medieval tinha suas próprias ra- continente, pôde se manter ao lado da “ vita” > que recorria ao
í zes. E nao se pode excluir a possibilidade de que Paulo Diácono
(720/24-799?) tenha utilizado a lista de governantes langobardos
mm
<r
postulado de Sulpício Severo e tipologizada para fins lit ú rgicos125,
até que na alta Idade Média (com a exceçã o da Á ustria) també m
— m:
:
que precede ao Édito de Rothari mais uma vez, uma fonte nao
buscada na Antiguidade tardia - como modelo para o esquema de
classificação determinado pela sucessã o nos cargos, para sua Cesta
m
:4 l?-v
.
aquela anmíistica que n ão se misturara com outros elementos de
classificação novamente desaparecesse. Nessa medida , est á correto
enxergar na escrita carolí ngia da Hist ória uma nova abordagem, a
episcoporutn Mettesiim }20 ’
>: iw : qual evidentemente n ã o evoluiu para uma configuraçã o mais ampla.
iI

. De qualquer forma , a crescente soma de possibilidades de for- Tanto a vita quanto a annalistica n ão foram capazes de produzir, na
mula çã o se reduziu aos dois princípios classificatórios, o do registro : alta Antiguidade, uma imagem realista da vida, ou algo mais que
anual e o da lista de sucessão, os quais no início foram os ú nicos a :? Á ::
uma simples montagem de dados; mas eram exatamente eias que
sobreviver; e isso se deu à s custas do horizonte hist órico -mundial. pi * pareciam apropriadas para isso. Aqui parece ter se manifestado o
A crónica de Orósio serviu de base tanto para a Historia Romana v ç: efeito da forma desenvolvida de raiz própria, originalmente ima-
de Paulo Diá cono quanto para a crónica mundial de Freculfo de
Lisieux (aproximadamente 825 -852/64?). Mesmo assim, ambos os
m
.'M
V*
ginada para o registro daquilo que tinha a ver com a atualidade.
Somente a partir do final do século XI, se foi retornando
autores n ão conseguiram fazer muito mais que um simples enfi- gradativamente à reda çã o de crónicas mundiais mais elaboradas.
leiramento cronol ógico de episódios individuais, e ambas as obras m
m 9í. ; Isso não se devia apenas à leitura de autores antigos, mas também
terminam com a apresentação de Justiniano ou de Gregorio o Gran- a -:. à s novas experiê ncias. No contexto da querela das investiduras, se
*

de, isto é, com o colapso total do Império Romano no ocidente.


Na impossibilidade de prosseguir com a apresentação da Hist ória
Is
',
:
'
>
í&
&

,
.- u\£\??;-
,
;
•: >V
i • J|
L ÕWE, Heinz. Regino voa Priim und da$ historische WehbildderKâ rolingerzeit. Rheinfsthe
mundial até a atualidade do autor, reflete-se a depend ê ncia dos fc VUruljahnibtotUr* n . 17, 1952, p. 151 o segs, em especial p. 173 e segs. ( Nova impressã o in:
historiadores em relação a um contexto em que nã o mais vigorava
mn
• M ív LAMMBRS, V/ahhor [ed.]. Gtuhkhtsdtnktn und GesdiUhtsbitd im MUutatto* Darmstadt , 1965,
fc p. 91 o segs ., cm especial p, 125 e segs ,).
' '

Ji<: f - )-
m m HELLMANN, Sicgmund. Einhards literarische Stcllung, Histormho Vittteljahicssfhrift, n. 2?,
1932, p. 40 e segs. (Nova impressã o cm BEUMANN, Helmut. Ausgaví fhlte Abhandlungen zur
.
SESI AN, Ernesto , La storiografia dell’í talia í angobarda: Paofo Di á cono. Stonograjia, vol. 1, p

as- ir* .
Historiographic des Aíiitelalters Darmstadt , 1961, p. 159 e segs.); BEUMANN, Helmut. Topos
.
357 e segs Comprovada mente, Pan lo Diá cono també m conhecia o Liber PcnilficaUs t a Hist ória
v
í -- und Gedankengefugebei Einhard . Arduo fir Kuhtt /gtschichie , n. 33, 1951, p. 337 e segs.
.
ccleftfsUca do povo inglés de Beda; por essa razao, unia decis ã o a respeito fica em aberto • £ ?: m Cf. a bibliografia em GRUNDMANN, Geschichtsschreibung, p. 2252 , sobre o § 6 (nota 98}.

A3 r ñ
74 -
: y j* ; 75
.m m
i Wr
Vfv - v.
O CONCETTO OE HiJIÓí tA. -
í.
COWtt&TSAO DO CCNttfTO NA fOAOC WiétfA
- mm
r
i :
5:> ¡
>
.
reavivou a concep çã o das duas potencias supremas> na forma da |
,
continuadas pelos franciscanos, se contentavam com a sequ ência
doutrina das duas Irmas, construindo, assim, uma ponte em relação vi| v
em que os papas exerceram seus cargos.
=: i
& .
à Antiguidade tardia 124 Era sobretudo o ocidente que negava a
sl| d) Doutrina da representa çã o. Sob a influ ê ncia de uma pres-
M;
ÍV
-
função histórico mundial central de um império que se estende
- SM i são cada vez maior da experiê ncia histórica , no decorrer do sé culo
ria da Antiguidade até a atualidade , como contrapolo legí timo ao
sacerdotium, mas também ele encontrava no papado um referencial ip» XII, a discussão teórico-cient ífica foi reavivada. Não é necessá rio
t

Vi
••
.;

geral como sendo o ápice integralmente realizado da ecdesia,m Ao


ijfe
Mr
explicar que a teoria da Antiguidade tardia, desde o início, fez parte
dessa discussão. A discussã o se concentrava sobretudo na pergunta
- «11
1 ’
:v
mesmo tempo, novos objetos que enriqueciam a visão dos histo a respeito de como o material com informaçõ es históricas deveria
riadores movimentaram a escrita da Hist ória, no século XII ,126 A mê ser trabalhado em cada caso.
I
; despertando a atenção do historiógrafo para novos temas, como mm Como parte da Retórica , a historia també m era narrado de
cruzadas, fam ílias nobres, territórios de prí ncipes ou cidade.127 V acontecimentos do passado,128 o historiogmphus exercia um ojfiáum
:
O n ú mero de classificaçõ es conhecidas n ão aumentou com narradotthi cujo produto era visto como um opus narrationis }29 Tanto
;
isso; continuava-se a utilizar listas de sucessão e registros anuais, mas
agora numa mistura crescente, e também a sequência de monarquias
iii no século VII quanto no século XII, a historia, invocando seu altís-
; V.
simo grau de veracidade, começou a se distanciar da fabula (“ ñ eque
mundiais teve nova aceita ção, através do estabelecimento de uma y:
V
íi VM -. verutn ñ eque verisimile" ) , do argumentum (“ non verum sed verlsitnile” ) e
ponte com a Antiguidade. No final, o princí pio peculiar da gesta m
Vrlfr í --
’ '
-
da poesia.130 Mas e esse aspecto parece ter se transformado num
problema de difícil solução -“ gesta temporum injitdta pene sunti mt
*
;

acabou dominando; na alta Idade Média , as Marihuanas utilizadas Wm


%

pelos dominicanos - de acordo com o modelo de Martinho de mm


M r-
por isso uma sele ção do material a ser inclu ído na narrado se tornou
incontorn á vel .132 Somente foi levado em considera ção aquilo que
P.
::
• Troppau - mantiveram uma classificação dos materiais referentes MP;
à História mundial, através de listas de sucessão sincrónicamente seria in “ rebus tnagnis memoriaque dignis” .m Na visão de Hugo de
enfileiradas de imperadores e papas, enquanto as Flores tempomm> èv.v: Sao Vitor (falecido em 1141), ainda eram esquematicamente trê s
;Í W
mr fatores: a pessoa que era dominante no acontecimento, o lugar do
Ui O impé rio aiemao aparece , peia primeira ves? , àt forma clara , como continuidade do imp ério
w* acontecimento, e o tempo que envolv ía o acontecimento.134 No
mundial romano cm Frutolfo de Michelsbcrg. Uma ajuda muito importante que o orientou «•Tt
: i-:-; -:
: século XIV, em contrapartida, já eram citadas sete famosa aedonum
na redaçã o foi buscada na Crónica de Jerónimo. Mas o esquema â iuiatistico mostrou frá gil ,
.¡ mm
:, ;.3

em pontos nodais; cf. SCHM ÀLE, Franz-Josef; t SCHMAL£ OTT, Irene. Pruiolfs und
-
* :

.
Ekkihardt Chroniken und die astonyate Kâiscnkrontk Darmstadt , 1972, p. 8 e segs ( introduçã o). .
m 1 SIDOR , .Etymologise , 1 , 41; BEAUVAIS , Vinzenz von. Speeuhmi jMUhiatt , 3, 127.
Juntamente com Lamberto de Hetsfeld , Frutolfo faz parte do período de transição em que se
procura substituir o princípio annaUstico em favor de interconexõ es mais abrangentes.
tm- m LACROIX , Uhiuorien a\t Moyeii p . 15 e seg.
,w ISJDOR , Etymologise, I , 44; cf. SALISBURY,
Johannes von . Policraticus, 2, 19; Rauulf
Í Ji
Hugo dc Fleury foi o primeiro a escrever uma Historia eccleshsiuo , Joã o de Salisbury foi o vu íKi . .
Hlgden In: BABINCTON (Ed .) , Polychrotticon, 2, IS.
primeiro a identificar a história da igreja com a história dos papas; cf. ZIMMERM À NN, • v r.
Vi; l
m Hugo de S ão Vitor. In: GREEN , William M . (ed .). De tribus maximis drcunswnriis gestorum.
Harald . Ecclcsia a í s Objekt der Historiographic Studien zur Kircliengeschichtsschieibung ;
T Speculum, n . 18 , 1943, p . 491 .
im MitteUltertmd In der friihen Neuzeit . In: Slteungsberldtt der ÕsternUhischen Akadcmle dei &
.

V:: ; 133 Otao de Freising , na carta a Rainald von Dassel por ocasi ão do envio de sua Cró nica ao
Wifstnuhafttti, philosophisctulí islorhche Klasse, 235/4. Viena, 196Q; JED1 N, Hubert. Handbuch imperador Frederico I: “ Sr/t /r enfm, <¡ucd onutls doctrina in duobus ( omitlit , in fuga et eketiene, ...
der Klrdengeschiclut (vol. I ). Freiburgo , 1963, p . 28 e seg.
-
SP ÕRL, Johannes. WatidddesWek undGeichichtsbildesim 12. J í hrhundert? ZurKcnnzeichnung
.
M
;;|
-
N VR:
fev
j g;;> :
ipsa est , <ptr> e scctmdum suam disciplinam dccet eligen ea , quae conueniimt proposito, eifugcn, quae
impediuntproposition . . . Sk el ( hronoguipkorumfacultas habit , qitac purgandofugiat , qttae inslniendo
der hochmitteí alterllchen Historiographic . In: RÜ DINGER , Car ) (cd .). Unsir Gesthúhtsbild (vol .
1). Munique, 1955, p. 99 e segs. (reeditado em LAMMERS, Gcsdiuhtsdenken ... p. 278 e segs .) .
.
•vi s : .
eligat; figit enlnt mendacia , digit wtiatm" Chromk (cf. nota 90). In; Monumento Gernumiae
Scriptons return Gennanicartun in mumscholarittni (vol . 45). p. 4 c seg. Cf. também Wilhelm von
-
127
Cf. PATZE, Hans . Adeí und Stifterchronik. Fríihformen territorialer Gesch í dmsehreibung Malmesbury. In: STUBBS (ed), Gesta regum Anglomm, 5, 445.
im hochm í tte í a í terli ç hen Reich . Bt
óturfilr Deutsche Londesgcschkhte, n . 100, 1964, p. Sesegs. j í- K\

IJJ CICERO, Df orators , 2 , 63.
ibid . , n. 101 , 1965, p. 67 e segs. ml :
I3
.
‘ Cf non 131.

76 77
%
. ii
f í9 -w. b
' Vi

s O CONCHO DC H íSTóA íA
rét : - -
CoVifi&üÁO DO CONNOTO NA Í0AK Mtou


*

;U

i
v;:-
genera das respectivas figuras estamentais.135 Enumera ções desse
tipo136 decorriam da tentativa de corresponder entrementes à am-
plitude crescente do material a ser utilizado e de sistematizar o
m
it Pi
?
- século XII , no t í tulo ( LiberJioridus) da coletâ nea de excertos de
Lamberto de São Omer.140 A quantidade crescente desses novos
títulos de livros não tem nada a ver com uma multiplicação de
¡«
?!
i instrumental do historiador, m
à ::-
, -
-
categorias historiográficas, mas eles denotam uma reflexão mais
intensa sobre o próprio trabalho histórico.
;
Poder-se-ia pensar que uma descrição estil ísticamente des- - 141

I pretensiosa teria sido suficiente para apresentar fatos do passado


através de afirma ções n ã o falsificadas. Mas como parte da Retórica , vi
-
v ., Daqui se pode estabelecer mais uma vez uma ponte para a
'i
:
i :

. a historia se sentia comprometida com a virtus bene scribendi; conse-


quentemente, o historiógrafo deveria se esforçar para conquistar
m
sil
SÉ»
história vocabular. O século XII aparece como um momento de
inflexã o em vá rios níveis. O campo histórico ampliado do historia
dor começou a focar novamente, com mais atenção, o passado mais
-
a benevolencia do leitor em rela ção à matéria , através da arte da
fak. Por essa razao, ele costurna envolver o anuncio da materia
ispffi remoto, relativizando, assim, a proximidade em relação à atuali-
iíStSí » dade que predominava desde os séculos VII /IX. Os limites pouco
em figuras de linguagem trópicas; a metá fora no título do livro já
claros existentes desde o século VIII entre “ res gestae” e “ historia''
: i .

deveria indicar aquilo que normalmente era explicado no exordio.137


Também nesse â mbito, o problema da escolha do material era leva- começaram a se clarear; o destaque se deslocou do acontecimento
y- í num sentido pouco diferenciado para um relato com uma clara
do em conta , De forma alguma , era nova a atividade de expressar
reivindicação de ser verdadeiro. Para isso, se reservou a palavra
metaforicamente a dedica ção que visava a juntar numa coroa de
flores aquilo que originalmente estava disperso,138 e apresentá-lo ’3i “ historia” ', aquilo que não conseguia responder a essa exigê ncia
!;
como um todo novo,13* isto é, escolher elementos individuais de
uma infinidade desordenada e, com a ajuda desse reducionismo,
111
| :
começou a se separar sob outro nome. Os esforços de , enquanto
isso, conseguir estabelecer uma vinculação com a discussão teórica
chegar a um quadro racionalmente constru ído; mas nao constitui da alta Antiguidade fizeram com que fosse dada maior atençã o à
iu I
'
i

utiliza ção das maté rias dispon íveis. Foi retomada a ideia de redigir
:
. acaso que isso aconteceu, pela primeira vez, na passagem para o ifi
o relato de maneira art ística e atraente para o leitor. Naquilo que
5S -li:
:
m Ranulf Higden. In: BABINGTON (Ed ,) , Polyriiron
icon, 1 , 4 (cf nota 94); (vol . 1 ) p. 34): "... Mm tange à classificação da matéria e à divisã o em categorias historio-
nctíi quod stptem Ugunturpersonae , quorum gesta etebiíus in historiis momerantur, videlicet principfs in £ \yj5 '.v:
.v grá ficas, a vinculação não foi bem-sucedida. E verdade que, sob a
regno, mil!tis in btUo, ludicis in foro, pratsuUf in ( tero, politic } in populo, eetouomid in domo, monastics in
templo, A i <50 correspondem septemfamosa actiortum genera,quaesunt construetlonesutbitim , devhthnes
lite impressão da crescente multiplicidade de objetos a serem levados

,w
hosrium,matones inr ím, tomeiiones trim futí m ,( empando rei populan s, dispositío reifamí liaris,adqulsitio
merí ti solutarit , el in his jugiitr reluunt pmemhuhnesptobomm el puntifones pervcrsorum" .
Cf. a esse respeito a coletâ nea de comprovantes etn LACROIX , Uhistoiicn au Moyen Age , p. 16 e $egs .
ü
# '
em considera ção, foram feitas reiteradas tentativas de diferenciaçã o e
de sistematização, mas aparentemente n ã o foi possí vel compreender
IJ BRINK MAN N, Henning
’ . Dcr Prolog im Mitte í aker ais l üerarischc Erjç hemung. Bao como constituindo algo novo os princípios estruturais que ainda
und Aussage. Wirkendts IVort , n. 14, 1964, p, 1 e segs; cf em especial sobre a quest ão dos
7- : eram desconhecidos à Antiguidade tardia ou sobre a $ quais nao se
refletira na época para inclu í-los de forma profunda na discussão.
¡opoi: SIMON, Gertrud , Uiuenuclnmg 2 ur Topik der
Widinu ngsbricfc miltclaltcrlicher
Geschichtsschreiber bis zum Ende des 12 . Jahrhurtdcrts. Atdrivfiir Diplomadle, n. 4 , 1958 , p.
52 e segs .; ibid ., n . 5/6, 1959/60 e segs.
J K
|
, J * O rei Atalaríco, numa carta de 535, pao. 73senado :0 m -
romano sobre a Histó ria dos godos de Cassiodoro,
M>MELVILLE , Gerr. “ Zar Floies - Metaphotik " in der iniUcbherliçhen Geschichtsschreibung.
formulada peto pró prio Casstodoro: ‘' Originem Goihitam historiam feat esse Romanara, cúliigens
quasi \n unom totonamgt onenforldum , quod per libro mm campos passim\ fue rot ante dispersim", Variae,
-
9, 25 , 5. In: Monumento Germania historia Anclotes aniiqulssimi (vol. 12), 1894 , p. 292.
* *
4i Ausdrack cines Formungsprimips. Histor í sthes Jahtbuch , n . 90 , 1970, p. 65 c segs, resumido
cm p. 77 e segs.
n> ISIDOR , Etymologise , 1 ,
41, 2: " Series atilem dicta per tfanslationem a sertis forum invicein i 1! '
m Os novos tirulos de livros sií o, por exemplo: Margarita Derreti (Marúnlio de Troppau), Flores
.
( omprehensorunT * Cf tamb é m BREMEN ,
Adam von. Gesta Hammaburgcnsis ecclcsiae Klv.M historiar um ( Rogério de NVendover), Euiogiurn historiaram ( Anónimo de Malmesbury), Gemma

pontificam, (Prolog). lo: Monumento Gemí ante Scriptores tetum Gennanhanim in usumseholarinm
(vot . 2). 3 ed . , 1917, p. 3: “ fatter tibi, qufbus ex pratis deforavi hoc sertum"
*
.
Mm
i- m
cedesia frica (Gira Id o Cimbre ns is) , Compilalio degest ís (século XV ), etc . (citados por MELVILLE ,
Fhres Melaphorik , p. 65 e seg., 73).
^

78
WM
:= <
79
& T v.
O COíKfJTO CS HsitaA
£-’i COMMKNSXO co coHCtno MA kw MéCXA
m *

: & K:

'

M
;v? *
V( ; Sabe-se que a historiografía da alta Idade Média ainda não pagãos, Agostinho distingue duas institutiones:Ui a $ que decorrem
foi suficientemente estudada , para que se possam fazer afirmaçõ es da prá tica humana, e que, por isso, são dispensáveis ainda que
v. ; seguras. Por isso , só se pode dizer que a impressão que se tem é que ¿êM ú teis; e aquelas que o Criador institui a favor do homem , e que,
>

a intensa reflexão que reiniciou na alta Idade Média ficou no meio um .


por consequê ncia , n ã o são cambi áveis. Nesse contexto, é verdade
«ll
do caminho, porque nao conseguiu se desvincular suficientemente !;:
.
§ que os acontecimentos hist óricos se devem a a çõ es humanas, mas
da autoridade do modelo antigo. --

!

I V
se concretizam dentro de uma dada fordo) tempomm quorum e$t
1

&&
i j m: conditor et administrator Deus” . A historia, portanto, pertence aos dois
3. Lugar e função da Historie na rede do saber ::
ui:
umu. - â mbitos, e isso lhe garante uma importâ ncia dupla na expans ão do
i.
tf; V; conhecimento humano em direçã o à verdade eterna. Como cor-
I Dentro do antigo triuium, a historia era vista como campo au - mmm. V7
rente de fatos, irreversíveis, portanto dados, ela serve ao aprendiz
xiliar tanto da gram á tica quanto da retórica .142 A gramá tica ensina wmm como auctoritas e como primeira etapa necessá ria no caminho da
methodice escrever e falar correto, mas histor ice também comentar mm salva çã o; os exemplos retirados da Hist ória servem de alimento
obras antes lidas. O aspecto hist inicial para a alma , para , num patamar superior, ser substituída pela
órico se referia aqui apenas à ocu-
pação com a tradição literá ria no sentido mais amplo, não a uma Sffe ratio. Quem cria essa auctoritas é a prouidentia Deiy que foi quem deu
determinada forma de conhecimento; como o material literá rio m .
origem a esses exemplos. Com isso, a historia , no seu conjunto, nao
provinha do passado , Agostinho podia chamar o grammaticus de m • V
era apenas ú til para a pedagogia salvífica, mas recebeu também um
custos historiae.m Em contrapartida , a retórica tentava avançar em m mm ponto de referê ncia transcendental. Transcurso e concretizaçã o de
mm todas as correntes de acontecimentos não se referiam mais a um

direção ao bene dicendi, à arte de falar, cuja força de convencimento
d e v e r i a ser ampliada . As species nor rationis separavam a historic como
a» objetivo imanente ao mundo - motivo pelo qual se havia acreditado
relato fiel à verdade, de acontecimentos do passado, do argumentam
e da fabula. Mas, como o objetivo ultimo da fala era o sucesso em 4 até entã o no cará ter definitivo do império romano mas toda a
História da humanidade (també m aquela transcorrida fora de um
termos de efeitos , todas as species namtiones podiam ser empre- |
s í•>
grande imp é rio) convergia para uma unidade, cujo contexto inde-
gadas, dependendo das necessidades. Diante desse pressuposto, pendia de todo da permanê ncia de fatores imanentes ao mundo.145
o conhecimento do passado nao ia além dos limites daquilo que Desde ent ã o, a historia (também)146 era “ Hist ó ria da salva ção”
era exemplarmente ú til; como vitae magistra a Historie se colocou a
serviço de normas gerais de vida. íB e parte imprescind ível do pensamento teológico. Todos os fatos
salv í ficos foram enquadrados nela , de fornia sucessiva ; o texto bí-
Método e função dos antigos instrumentos educacionais não im m# mm..- blico - como $e pode ver sobretudo emBeda - necessitava, por isso,
de uma cronologia segura . E a partir daí , História bí blica e Histó ria
se modificaram com a cristianização, mas a historia n ã o conseguiu
ficar imune frente ao novo objetivo educacional. Se na convic ção
-m
P .\ . :
:
geral podiam ser localizadas num mesmo n ível , urna maneira de ver
de Agostinho era possível avan çar até a verdade eterna atravé s das
- Bi . .
forças sensoriais e espirituais de uma pessoa, ent ão tamb ém hie "'
mu Ml
AUGUSTINUS. De doctrina Christiana , 2, 19 (29), 28 (44). In: Corpus thristí attofum, Setics
rarquia e posiçã o da Historie deveriam mudar. Entre as doctrinae dos mu
• */ •
Latina (voL 32), p. 53 e scg., p. 63.
m Cf. KOSELLECK , Reinhart. Geschichte, Gescbichten und fó rmale Zeitstrukturcn. In:
s
mm KOSEJLLBCK /STEMPJEL, Çwhichít (cf. nota 5), p. 211 , 217 e segs.
-
m Cf , sobretudo, BOEHM, Der wmensehaftUiche Ort der Historia (cf. nota 94), p. 675 e segs., m.
M m m Sobretudo a patr ística conhecia i doutrina do sentido diversificado da escrita que, na sua
com abundante bibliografia, ibid., p. 692 e seg. m&m interpretação, admitia certa diferencia ção de momentos mundanos e espirituais de um mesmo
115
AUGUSTINUS. Dt musUa , 2 , t acontecimento .
m mu -
um
m
80 81
Sflllí .
p:- &
•\. y:
in;: :.;. •

O CdKÍ/TO « hkSTÒ.U\
-“
i
Cova^ffiSAo CO CONCGTO tCA lOACí MÍWA

.m

mi que desde o sé culo XII vinha ganhando atualidade , Mediante o Ser imut ável.
149
Dentro dessa perspectiva de conhecimento, todo
I
s$ pressuposto de que toda a História deveria ser vista como uma obra Site: acontecimento terreno poderia convergir para uma unidade; foi
ti salvífiça de Deus, tamb é m a Sagrada Escritura podia ser entendida em conexão com o pensamento agostiniano que estavam dadas as
u como um livro histórico igual a qualquer outro. A repetiçã o veri- -
pré condições para urna História Universal, mesmo que ela , com
& ficada em tempos pós- bí blicos de combina ções numé ricas bí blicas isso, ainda n ã o fosse realizável
150 .
m ou de acontecimentos an á logos permitiu , então, que a “ intelligent
-
- - -Síijl f£¡'‘ ;Ki* V‘ «
'•

Quando essa forma de ver chegou ao auge no século XII, em


151
•••• ;
tia spititualis" fizesse uma interpreta ção do sentido da verdadeira obras de grande força criativa, també m já come çaram a aparecer
sintomas de sua dissolu ção; um primeiro degrau da compreen-
i
. i? 152
realidade total . Assim como a cria çã o teria descido da condiçã o

hs;
:’ ¡
:
divina através da espiritual até a material , assim tamb é m o olho
humano deveria avançar do substancial, através da apreensão de
mvi- •
;
s ão moderna de Histó ria deve ser localizado aqui . Na trilha da
recensão de Arist ó teles, a Escol á stica fundamentou sua atividade
«safes
de conhecimento na ratio, às custas da auctoritas - sob a premissa
í
rela çõ es simbólicas, para a imagem do divino.147 Nesse sistema de
5

Slpf :
simbolismo histórico148 - uma variante predominantemente alem ã de que a ordem do conhecimento e a ordem do ser deveriam ser
do in ício da Escolástica n ã o existia História bí blica e História M mn conformes; para avançar até a verdade eterna , era complicado
ItvV-y ;
£!
;: ¡ profana, n ão existia realidade natural e realidade sobrenatural , mas
apenas uma capacidade de conhecimento nã o crist ã , e outra que
era peculiar aos crist ãos. De forma mais evidente que na patr ística
m
is
partir de realidades mut áveis. Isso simplesmente levou a certo
desleixo para com as duas artes no trivium. Lidar com a historia
n ã o se tornou supérfluo com isso, mas a referência ao objetivo
tardia, manifesta-se aqui a ausê ncia de autonomia da História , A
if BK espiritual do seu conhecimento perdeu parte de sua obviedade.
corrente de acontecimentos vista isoladamente continha pouca
iff if :i
: M| Sua função dentro da rede do conhecimento foi por assim dizer
; verdade, somente como parte constitutiva da realidade total ima- m secularizada . Como ela deixava de estar a serviço da sapientia > seu
V‘ nente e transcendente é que se abria seu significado pleno. Assim objetivo de conhecimento podia ser recuado até aquele limite em
;:

: ••;
como na Antiguidade, também agora bons exemplos históricos
i pi
4 te - que todas as coisas ficam submetidas a lima modificação; liberou -
!

deveriam incentivar a fazer o bem ou a evitar o mal; a apresentação m -se, com isso, uma disponibilidade para a indiferença religiosa .
da História pregressa deveria justificar a situa ção atual ou ajudar a mm Além disso, ela foi fomentada com o crescente enriquecimento e
corrigi-la ; no fundo, tudo isso não constitu ía nenhuma novidade.
Mas o objetivo do conhecimento havia sofrido um deslocamento
m m a diferenciação das á reas de conhecimento no século XII1-XIV,
que começaram a se desvincular de um enquadramento em uma
i. i ]
:
significativo, na medida em que agora se enxergavam ações de I T- i • ordo. A posiçã o da historia, no in ício, continuou indefinida ; esta é
.
Deus nos acontecimentos históricos Em função disso, até a mu- mr . . a contraface teórica da crescente quantidade de t í tulos de livros e
tabilidade de transcursos históricos parecia viabilizar o acesso ao de seus novos temas emp í ricos.
mm
mm *

, rt A respeito da posiçã o teórico-cientí fica de Hugo de $20 Vitor - fundador da forma hist órico ' hi v: -
simb ó lica de trabalhar , sem que de próprio tivesse escrito uma representação histórica desse U i
m Cf. SALISBURY , ..
-
tipo cf. SCHNEIDER , Wilhelm August . GesdiidUc ttnd Ceichiditjphiiosoph11 bet Hugo vow
. .
St . Victor. M ü nster, 1933 (tese de doutorado); EHLERS, Joachim. Hugo van St Victor Studien
: %H : 2, 43, p. 119.
Johannes von. Historio pontificaU í FREISING , Otto voit . Chionlk ,t

iumGesdiichtsdenken und 2urGeschjchtfcschceibung des 12 . jahrhunderts. Wiesbaden , 1973. apt 150 CC o argumentos fc BORST, Arno . Wdtgeschichten im Mtue í al í er? In; KOSELLECK /
<
.. ,
.
146 BAUER Clemens. Die mktelaltcrlichen Grundlagendeshistorischen Denkens
. Hochtawd , n .
a gi
.
STEMPEL, Gesdiichte , p , 452 c segs .

1m
55 , 1962/63, p. 24 e segs .; PUNICBLSTEIN, Htllsplan (cf, nota 86); BERNARDS, MaithHm . tM Cf. SP ÕRL ,
Johannes . Grundfinuett hodimittdnUilidterGesd\( ( htsanid:ming.Studienzum WeltbUd
Geschichtsperiodischcs Dcnken in der Thcologie des 12 . Jahrhunderts . Kóí rter Domblnlter, n. der Geschichtsschreiber des 12. Jahrhundcctt . Munique , 1935 , em especial p. 39 esegs.
:

26 / 27, 1967» p. 115 e segs .


Mif !;m. • •
452 Cf BOEHM ,
. Der w í sjçnjchaftithcorctische Ort der Historia... , p. 667 c segs.
• a
v
m
:
82 83
:

f:
.
(' s*
ô> .-v
f
r i; ; ? ;
'
0, -- -r

I ®
¥\ mm
Si
.I
I*
:.
Í.
¡ mm IV

í:í
V- V

:

V
WÍ Pensamento histórico
? ! ¡
. V/
.Mg .
5:V«
hi:- Mimó
«§ no início da Idade Moderna
i! ! -X

mm
f-i ;
Horst G ünther
IT -
t
^ SI^
«
ÍV Í

III
Jpi

!. i

if 1. Pressupostos
it Si
aw
: vS|" v : , ; ser
O pensamento histórico do in ício da Idade Moderna nao pode
adequadamente entendido enquanto permanecer submetido
;
$$ to ao veredicto do Historicismo, para o qual teria representado uma
I!
*
visã o provisória e insuficiente ou até falsa do mundo histórico.
Constitui reflexo de um momento de sua própria crise o fato de
ills=
. r-
;V.v :
que o Historicismo foi incapaz de reconhecer a rica consciê ncia
H
de História de um outro período, manifestada em contrové rsias
amplamente documentadas e apaixonadas , travadas com as forças
;& Pito
":í

$
motoras da época, e traduzi-la para seu pr óprio tempo, a fim de
*¿á ÍW; utilizá-la como instrumento da própria História. As obras de
; :

;
• ; •
Ü P
M \i
? ;
to . - Dilthey, Troeltsch , Croce , Collingwood e Meinecke empurra -
ram o início da Idade Moderna para uma Pré-Hist ória - cada
vez mais precá ria - do pensamento histórico, enquanto alguns
trabalhos cient í ficos bá sicos sobre aquela época conseguiram
contornar o preconceito. Ainda que o n ú mero de monografias
TS; sobre historiadores e teóricos da Hist ória , bem como os estudos
antiqu á rios dos filólogos e dos juristas - sobretudo do século XVI -

ill; v

•;

i:
• mm
m
• V;-i;
to
•"
esteja crescendo, continuam faltando pesquisas que tentem inter-
pretar trabalhos e pensamentos hist óricos dentro do contexto da
Hist ó ria política e social, em suas funções e em sua proje çã o; e
mais, que consigam enfrentar o desafio teórico de representar - ao
ill
;• '
. :

III
« to
se preocupar com aquele tempo - o nosso tempo ou , dito de outra

:
i
;

;
111
it p 1 ,
85
ft.:
M
%-
i t O conceito Oí forósiA :
p- '
PíHíA.SVENIO K3TÔ3CO 1*0 itfOO OA ÍDA0E MoOÊÍÍttÀ
M. i
sli para as obras imaginadas como corpus de toda Antiguidade , e essa
Ú\
forma, tentar representar no seu objeto “ a forma da Historia como
tal ” [Geschichte iiberlumpt ] ' 5i im 1» k
suposição ainda pode motivar a mais dura critica . A historiografia
antiga era tida como insuperá vel, e estava vinculada à ideia de que
ü
!
Tã o pouco quanto a tarefa do historiador do pensamento
histórico pode ser cumprida aqui , t ão imprescindível é essa pers-
pectiva para uma semâ ntica histórica , uma história do conceito de
« . historiografia seria , na essê ncia, descriçã o dos acontecimentos de
um tempo que o pró prio autor vivenciou. A ciê ncia histórica via
“ Históxia” ou de “ historia” , que se distinguisse de outros conceitos llpi -
sua tarefa em comentar as obras existentes, através da pesquisa an-
j. pelo seu maior grau de generalidade. Ele designa todas as a çõ es tiquaria sob pontos de vista sistemá ticos - resultando na doutrina
e todos os fatos que alguma vez foram relatados ou descritos, ou
m jurídica das instituições e na numismá tica e em descrever épocas —
; ainda podem vir a ser, mesmo os da natureza , da qual a Hist ó ria só fe® sobre as quais ainda n ão se tinha nada mais contextualizado.155 Os
relativamente tarde se afasta , de forma estritamente terminológica, resumos gerais sobre Hist ória escritos com finalidade did á tica ou
em todo o mundo visí vel. Essa generalidade do significado faz com
que o conceito raramente possa ser utilizado de forma operativa e
«if
111
de entretenimento são bem menos representativos para o trabalho
histórico do que seu grande nú mero pode fazer crer.
argumentativa , e, em vez disso travam-se discussõ es no entorno
da História e dentro dela em nome dos objetos individuais e das
mv
ap
A consequê ncia foi que a importante pesquisa antiquaria
desse tempo e a escrita da Hist ó ria propriamente dita coexisti-
fP
mm
i :
categorias. Por isso, tamb ém as definiçõ es e as classifica ções dos ram de forma impressionantemente paralela , e que a bibliografia
dicion á rios e das enciclopédias transportaram seus elementos cunha
dos na Antiguidade e na Idade Média com muito poucas variantes
- mn
-
V ' ii&JS üvt Ñ

mm
metodológica , que visava a fazer a intermediaç ao entre ambas, $e
desenvolveu em direção a uma categoria própria, metade retóri-
-.
li yv ca , metade teoria e que, sem d ú vida , influenciou o pensamexito
para dentro da Idade Moderna, de forma que suas afirmações muitas
vezes ficam inespecíficas e perdem espa ço frente a outras fontes.
Na verdade , alguns pressupostos - apesar de todas as modifi-
¿ill
"•f
ii. A :
histó rico, influ ê ncias que , no entanto, s ã o dif íceis de comprovar,
ao menos como determinantes, nas representações históricas que
«:;
ca çõ no conceito, at é o século XVIII - se mantê m relativamente
es mm deixaram marcas.
est áveis, mesmo que possam ser objeto de discussão, sob enfoques Aquilo que é novo e diferente em rela ção à Antiguidade - e
I bí de que se adquire consciê ncia cada vez maior - acontece menos
:
cada vez diferentes. Encontramos a í, em primeiro lugar, o cará ter
escrito e a autoridade que aparentemente da í decorre. Na tradição
m na descrição e no encadeamento causal de acontecimentos que
ñW
dos diferentes sentidos da escrita , o “ sensus hist óricas” ou < liltemlis”
se refere a esse dado expresso da tradição escrita , que está aberta
(

miXi ?

- podem ser apresentados dentro de um contexto visto sob variados
â ngulos entre indivíduos descritos com maior diferenciação, do
•v -itf ; v - v
;; .v ri que através de uma visão perspectivista do passado, possibilitada
a vá rias interpreta ções espiritualistas ou que pode ser cumprida mm
de forma figurativa por algo igualmente real, hist órico.154 Assim ,
muitas vezes , de forma tá cita , até o século XVIII , se transfere auto-
mi Hi
pelo distanciamento cronológico e através de uma Antiguidade
supostamente produzida na reconstru ção de um mundo fechado
.>
m
i
r

ridade e suposi ção de correspond ê ncia interna dos escritos sagrados m


mmm
em si, com o qual se pode fazer uma compara çã o com o próprio

í;
'5J HUMBOLDT, Wilhelm von . Ü ber die Aufgabc des .
»iM 1[ $
mundo. Ver essa Antiguidade em seu percurso temporal, con-
trapor seus exemplos, suas experiê ncias e instituições, colocá-
.
Gesdiichtschrejbers (1821) In:
Akartantc Ausgabe ( vol 4), 1905, p, 41; cf , BENJAMIN, Walter, Literaturgeschichte und
Mí lo$ dentro ou contra o pró prio tempo e, a partir daí , planejar sua
V
• .
Liler â turwissenschâ ft. Die ¡iUrarisdte Wèít, 17/4 /1931
mm
.
151 LUBAC, Henri de Bxégh . .
? tnêdlhaU (t. 1) Paris, 1959 passim; AUERBACH , Erich . Figura.
.
In: AUERBACH , Erich . Gtsammtlte AuJsHtet ztir romnisdicn PtMogíc Berna, 1967, p 55 e .
mm
.w
,J Cf. MOM ÍGL Í ANO, Arnaldo. Ancient History and the Antiquarian. Journal of Warburg
Í

segs, (editado por Gustav Konrad). M Institute, n. 13, 1950, p. 285 e segs .
m
8Ó ¥m 87
= ^Ó^'A
O CONOfTO 0 Hk - 1 M
-
PéNSAMíNTO HISTÔÍJCO NO ttfOO 0A ÍDADc MoM?itA

m
m ^ fcV -V
mm
'

j ; pró pria configura çã o é a primeira coisa que caracteriza o pensa- ponto em que a pesquisa costuma localizar seu in ício. Petrarca e
! mento histórico da Idade Moderna. o humanismo atribu í ram sua visão ao pr
IIAi
.
: óprio objeto: permitiram
que a continuidade se rompesse, ou ent ã o se sentiram incapazes
í| 2. Dante e o humanismo ;}@ de colocar o mundo posterior à Antiguidade como equivalente e
: ; paralelo ao antigo - como Dante o fizera. Eles criaram, a partir
Dante, de quem Vico diria que “ ele n ão cantava outra coisa do passado fá tico, um ideal o mais distante possível do pensamen-
y senão historias (chepure non canto altro che istorie)” ,15* representa um to antigo, o qual separaram de sua época de suposta renova ção,
ponto alto n ão $ó da interpretação figurai do transcurso geral da I ; através de um per íodo intermediá rio obscuro159, e, nesse sentido
í. História , na qual, a partir das circunstâ ncias de abalo contemporâ neas, “ partid á rio” e pol ê mico, talvez se tivesse falado pela primeira vez
se projeta um império crist ã o , que deve corresponder ao impé rio iifeifcii •

de “ toda a História” : “ Quit est enim aliud omnis historia quam Romana
romano do passado. Mas tamb ém representa uma presentificaçao •

nunca havida antes de indivíduos históricos e de suas ações, os quais . . - r» - -.- - -


lau$?” m Algumas pretensões universais, “ ex omnibus tenis ac seculis
illustres viros in utntm contrahendi illa mihi solitudo dedil animum” ,i 6i
aparecem na ficção como julgados para toda a eternidade segundo :
Vi : »

® Sli constitu íam muito mais um exagero retórico, pois , como aqui
um sistema de valores tanto teológicos quanto polí ticos muito pes- em De viris ittustribus, se tratava de biografias isoladas retiradas da
soais , mas que continuam perpetuando, fora do tempo, justamente M NS
Bí blia ou da Antiguidade clá ssica , que a posteriori foram como que
sua paixão temporal sem arrependimento, sua nostalgia sem fim. A
enquadradas na Antiguidade romana . Aquilo que foi determinante
perspectiva de uma Hist ória que começ a com o mundo é partilhada
para toda a Era Moderna e a consciê ncia da modernidade foi o
por Dante com contemporâ neos, como seu mestre Brunetto Latim, •• rtf ijlB fato de que Petrarca , ao abrir o espa ço histó rico interno, liberou
cuja enciclopédia Li livres dou tresor promete uk ele traite dou comencement
}

i. du sieclc, et de Faneieneté des vielles istores et de 1’establissement dou monde et Si


•jfirt;
1 a possibilidade de fuga de um presente mal-amado rumo ao pas-
] s7 sado, que se mantinha insolú vel, e confundia a nostalgia com a
de la nature de touttes coses em some” ; a interpreta ção figurai n ã o podia
adquirir, numa segunda vez , uma imagem convincente, a proposta

I sensação delicada ainda motivada pelo cará ter cristã o e moraimente
superior do pró prio tempo. Fora abandonada a universalidade e a
de um mundo visto historicamente a partir da consciência de uma * ml continuidade da Hist ória que se atribu ía, de forma autoritativa e
responsabilidade polí tica se manteve singular por muito tempo, e
só no in ício do século XVI algo parcialmente comparável se tornou m- incontorn ável, ao cronista medieval , ou se tornara incompreensível;
as condições para uma visã o pol ítica muito ampla tinham acabado,
possível , com base em fundamentos bem diferentes.
Caso se encarasse o pensamento histórico pelo esquema de :
s rti e em princípio ela ficou tã o sem consequ ências quanto, no mesmo

-
“ desenvolvimento” e n ão h á d ú vida de que Dante agrega e va-
loriza a formação do tempo que o antecedeu -, ent ão se deveria lip!
iii século XIV, no â mbito do islamismo ocidental, a aplicação de con-
ceitos sociológicos à História , como na surpreendente obra de Ibn
Khaldun.162 Mas essa fragmenta ção teve um resultado duradouro
constatar a ruptura desse desenvolvimento158 exatamente naquele ff if V fe - ela fundou as ciências filológico-históricas.
M
kjSK
w Giambattista Vico , la: NICOUNI , Fausto ( Ed .). LA sdtnxa
.
twova ( 17*14) (vol. 2) . Bari , 1928 , MR
*1> 1 » ti p 6.
lw
MOMMSEN, Theodor E. Petrarch’5 conception of te “ Dark Ages". Speculum , n. 17, 1942, p.
. I ge
>
mS 226 e segs.
Ii ?
Brunette Lacini . In: CARMODY , P. J . (cd . . Li livres dou iresor Berkeley / Los Angeles , 1948 , .

. . PETRARCA . Apologia . In: Opera omnia . Basileia . 1554. p. 1187.


1 , 1 I p. 17.
m
IW

Cf. AUERBACH , E , Utmiwputche md Pubtlkim In der fotdnlsihm SpHumtike and im Mi( leialter. 16
‘ PETRARCA . Familiares. 7, 3. In: ibid . , p. 767.
Berna , 1958. p. 242; BECKER , Marvin B. Dame and his literary contemporaries as political tí 2
KH ALDÜN, Ibn. TheMuqaddimah. An introduction to History (3 vok). Londres, 1958 (versao inglesa
men . Speiulupf , n. 41 , 1966, p . 665 esegs.
- de Franz Rosenthal); cf. Encyclopedia of Islam (vol . 3). Londres, 1965 (nova edi ção) , p. 825 fi segs.

i-
Sri
• V:
rt :-;;
88
Sp 89
1 -
O ooNCtrro Dé HsrófcA
.v
:‘
1
Íf
mm
-.
r‘
.
,
•*
-.
PGJSAWf ííTO HSTÔtfCO NO wfclO 0A lOADE MOOÍ U*

m m
<
líí !í As restrições a aspectos individuais e a representa ção aned ó tica
ym
A contradiçã o já est á visível em Valla . Como fil ólogo bri-
ym Xb

bem como a liga ção tida como evidente da Historie com a ret ó- & .
lhante, desenvolveu a capacidade de perceber rela ções históricas
rica modificam o cará ter exemplar do fato histórico. Enquanto
o transcurso geral da História entre a criaçã o e o ju ízo final II l na tradição literá ria e a utilizá-las de forma erudita, e por mais que
não consiga ser convincente como historiador, tenta dar destaque
era considerado como tendo sentido, sem qualquer contestaçã o, ao papel da historia. Afirmando que Moisés teria sido o primeiro
111
'

Is-
:
a çõ es individuais maldosas podiam ser justificadas como parte historiador, com que a historia seria mais antiga que a Poesia , e
da economia do todo, bem como pelas ordens antagónicas nos n ã o menos universal que esta (que muitas vezes apenas relata epi-
valores representados pelas duas “ civitates” de Agostinho. Com a mmim. sódios individuais), superaria em termos de sabedoria cidad ã até a
mi "
'

dissolu ção da imagem histórica universal , n ã o só figuras hist ó- .


Filosofia .164 Mais aceit á vel é a precisão reabilitada e elogiada por
ricas individuais e seus atos constitu íam exemplos para a funda- life© ; Poliziano sobre a exatid ão dos estudos históricos: “ Felix hisioriae
mentaçã o de princípios é ticos, mas qualquer fato podia , em tese , Jides renatae“ l65> com esse conceito de “ fides histórica” , os humanis-
ser moralizado , E mesmo que a Hist ória pol ítica , que ocupava tas, de Valla at é Bud é, definem seu objetivo metodológico. Ela se
refere à pesquisa sobre a Antiguidade, que se reflete em coletâneas
um lugar de maior destaque, praticamente nao fizesse uso dessa
situa çã o, a Historie foi subordinada à filosofia moral, dentro do lite
m ti de miscel â nea, tradu ções dos antigos historiadores, e recebendo —
ordenamento da ci ê ncia que estava em constituiçã o nas escolas e mfó
.« í
il: em Bud é, pela primeira vez, uma unidade na reconstru ção de —
nas universidades, at é o século XVIII, enxergando sua utilidade todo o sistema de moedas da Antiguidade: “ non in unum genus Warn
no fornecimento de exemplos para a retórica - a qual deveria ip quídam editam aut disciplinaram, aut artium: sed in universum pertinen -
fundamentar decisões - exemplos que, ao contrá rio da poesia ,
apresentavam o status da factícidade.
tel
¿
tem ad antiquitatis ¡nterpretationem, et per cmine prope genus auciorum
probiomm atraque linguapatentem' V 66 A Antiguidade clássica , em sua
«B íV
Contra esse sentido do acontecimento individual de funcionar
mmm tradi ção escrita em duas l í nguas, colocada à disposição através da
V: como exemplo para um princípio geral, a distinção aristotélica en-
tre (simples) verdade histórica e veracidade poé tica (filosófica)163 se
:w
:
&
tipil
coleta e da edi ção dos humanistas, aparece agora como objeto de
conhecimento, com a pretensão de ser estudado como um todo.
; *
tornou inaplicá vel, fazendo com que a longa disputa entre Poesia é Dessa forma , surge uma forma ção unitá ria, descolada da história
Historie perdesse sua base conceituai. Mas a disputa sempre reaparece bí blica e da duvidosa história oriental bem como do per íodo pos-
;
v- :
lii gf
«
ü
quando a poesia se apossa da representa ção do real, intrometendo- • terior à Antiguidade, uma entidade que em $ i mesxna , como um
se no campo da Historie ou, ent ã o, quando a Historief do alto de X todo, constituiu um plano de verifica çã o. N ã o é mais a passagem
;i: sua configuração, faz parecerem irrelevantes os produtos poé ticos individual, como no texto sagrado, que possui validade autoritativa,
e, através da interpretaçã o do acontecido, tenta chegar até o geral. mmm
st V
mas apenas na medida em que coincide com o corpus da tradição.
Esse é um problema apenas aparente, mas que n ã o pode ser solucio- Tra çamos essa linha do conceito humanista de História até
nado por causa da intercambialidade dos conceitos e é apropriado liM
m o in ício do século XVI, quando ele deixou de ser incontestado e
08
mm
"

quando começam a aparecer diversas concepções bastante diferentes.


Üí VrV
para desencadear a discussão, dependendo se a Poesia ou a Historie
i; conseguem expressar os mesmos interesses fundamentais, ou ent ão
E
i -
apenas tentam fazê lo, quando as obras das duas categorias devem iif
VA ÍXA , Lorenzo. Historia Ferdinand! T egis Aragoniae (Proocmium ). In: Opera ointifo (t , 2) ,
^
K responder pelas pretensõ es da teoria. Paris, 1528 (reimpressio em TUrim, 1962), p. 6.
i.
\: Ivil .
I Ite

.
341 POL ÍZLANO, Angeta. Optra omnia.Basileia , 1553, p 621; cf Valla para FhvioBlondo (Optra cumia
!'

! . . .
[t. 2), p. U9); BU £> Ê, Guillaume. De Asse (1514). In: Opera omnia (t 2) Basileia , 1557, p 66
ARISTOTELES, Penile , I 45 Í b. . ..
BUDÉ, De Asse ( Praefatio) Jn: ibid. (t . 2), p 1
..mh
M[ '

90 m Si 91
I
• .1 •
V'

O CCNCfcTO De HlSTÓfiA
ii\- :
•• M ••
= MODEWA
PajSAMíNTO K Sf ÔJuCO NO fti'ClO DA|0 A£>

tf*
$i :
¡i }. : ’
A constru ção apaixonada de um outro tempo, o qual se contrapu
rtha ao próprio tempo, distingue o humanismo de outras épocas
- * da Histó ria de um tempo exemplar e ser transpostas para o presente,
de pensamento histórico e explica suas conquistas metodológicas,
V-! que um caminho leva do essencial da Hist ória para o necessá rio
ji? [ <
NX na política atual.
como a da consciencia sobre distância temporal e sobre inter-
A outra direção foi tomada por Guicciardini, partindo da
¡l j - rela ções, o sentido dificilmente determin á vel para anacronismos,
decep ção a respeito da possibilidade de uma política sensata para a
.;V ; 3 diferencia çã o entre fontes originais e derivadas, o que explica , ao * v:

w.$
aná lise dos mecanismos causais e, alé m disso, para a representa çã o
mesmo tempo, que sua própria produtividade não podia consistir V2
n
objetiva da não explicável instability*7 das coisas humanas. O abalo
• cm grandes representações históricas , mas que, através da tentativa
dos pequenos estados italianos e a invasão de forças externas, fatos
; de identifica çã o e de intermedia çao nas biografias retóricas e nas ã S KS que nã o podiam ser fundamentados pela ficção de um impé rio,
vj
*
histórias de cidades dos humanistas-cidad ãos, se colocava numa
r e l a ç ã o com a Antiguidade.
Is V
o levaram a descrever, de forma detalhada , a ação polí tica que se
estende para além dos limites do Estado e, sem tomar partido,

3. O século XVI
4i ;4 > ?
’ •
numa unidade geográ fica bem maior. Algo comparável não se
pode imaginar para a Alemanha até o século XVIII. Tanto quan-
im

to Maquiavel , ele também n ão d â ao conceito de “ Histó ria ” uma


n .
a) Maquiavel e Guicciardini Dois pontos altos de pen- M Èfi definiçã o determinante; dedicado exclusivamente à s coisas (cose ),
samento histórico surgem, a partir de uma consci ê ncia pol ítica ,
pela primeira vez, novamente comparável a Dante, consciência
m alé m do t ítulo, ele praticamente n ão o utiliza.
b) A concep ção de História na Alemanha da Reforma.
que representa a frustra çã o de esperanç as pol í ticas - mas mais Iffp j Enquanto, simultaneamente , Commines escreve a primeira obra
só brio e secularizado contra toda e qualquer transcend ência ffl f “ moderna ” de memórias , que sã o expressã o de vivência própria
;
após o final da repú blica florentina , a partir de condições criadas
pelo humanismo. E isso se d á através de um conhecimento que se
Ifiil
mm - por mais “ medievais” que nos pareçam hoje suas categorias his-
tó ricas e os crit é rios morais de julgamento e enquanto Sabélico
.
desenvolve em duas dire çõ es opostas Maquiavel ainda argumenta pode redigir uma História universal secularizada de qualquer ordem
totalmente dentro do estilo dos humanistas , recorrendo ao conceito
de imita çã o dos exempla retirados das obras históricas ( Istorie) dos
antigos, e isso possibilitava a igualdade das características essenciais
«:3Ülf ou objetivo histórico-salv íficos , resultante de uma incumbê ncia
oficial de Veneza, a situa çã o é totalmente diferente na Alemanha ,
ainda que todos esses escritos sejam lidos e até traduzidos alí, no

1*
da natureza humana e dos demais pressupostos do agir. Mesmo
assim , ele tem consciência das profundas transforma ções - como na li
: - ;5f
século XVI .
Também na Alemanha , o interesse histórico fora despertado,
técnica militar, por exemplo no decorrer de poucas gera ções , e mú
¿ fr
e se manifestara em crónicas populares e em ambiciosas tentativas
demonstra seu senso histórico justamente na constru çã o de formas
de transcurso típicas nos acontecimentos históricos, funcionais em 1p de escrever uma Histó ria nacional ( Renano , Wimpheling). Obra
representativa foi a Chronica de Carion, escrita sob influ ência de
rela ção a determinadas situações iniciais e as influ ê ncias corretivas.
E , com isso, ele apresenta sugestõ es de a çã o a partir dessa an á lise,
que lhe permite comparar, ao menos em parte, a situa ção antiga
Im i^i
m
Melanchton , o qual mais tarde a revisou, transformando-a em um
manual did á tico utilizado por longo per íodo, ordenando o conhe-
cimento daquele tempo em três eras e quatro monarquias, tentando,
:;
*
'
com a contempor
.
.
â nea Mas o sucesso dessas ações, por sua vez,
depende de determinadas condiçõ es também históricas. Aqui , no mm
m através desse material , evidenciar uma Histó ria da Igreja , ou até - na

entanto, se pressupõe que experiê ncias podem ser obtidas a partir . In: PANIGADA, Coswntmo (cd.). Stcnid rf7talla (voí.1). Bari, 1929, p. t.
M Fiancejco Guicciardini
. :v.

92 93
M
'- ntm
w
yZ
p£N Í AV. EHTO H5STÔS1CO K'O li MODERNA
O CONOnO Of
^ClO DA Í D/Df

&:
:
j versão de Melanchton - a justificativa para as opiniõ es expressas na its
ñ
da Reforma é vinculada aos fatos históricos da Historia da salva çã o,
¡ i| doutrina protestante. Na comparação com Otão de Freising, não o que motivou a cr ítica dos “ entusiastas” : “ Os luteranos possuem
se constata nenhum avanço na consciência da problem á tica histó- um Cristo hist ó rico / quem secundum literam cognosamt , que elcs
ÜÍ rica , e, em contraposiçã o à coetâ nea historiografia italiana , chama i %: reconhecem pela letra, / pelas suas historias, / pela doutrina , /

s t

a aten ção 0 Fato de que os autores ficam cada vez mais inseguros e pelos milagres e pelos atos, / não como ele hoje está vivo e age.
menos concretos à medida que se aproximam do pró prio tempo. if / Assim como eles tamb é m tem uma fé racionai hist órica e uma
Mesmo que ela forneça em casos concretos exemplos morais, para ^
ft km
I ÍVV:
.
justificação histó rica” 172 Consequências profundas foram trazidas
Melanchton , a abrangência temporal universal se destina â com- % pm pela atualização da doutrina de Agostinho sobre os dois reinos ,
% mr
preensão das profecias bí blicas: “ Ut libri propketí ci melius intelligantur, m- . rVy
cuja parte atemporal , mas sempre presente, a civitas Dei, pode se
omnium tempomm historia compleclenda estProfecia, fim do mundo mostrar naquilo que ê historicamente cambiante, a civitas terrena .
e expectativa de um encurtamento ou de uma aceleração dos ú ltimos Mas, com isso, surgiu a tenta ção de - diante de crimes, loucuras e
tempos , que ocorrerão em benefício da salvação (segundo Mateus, sofrimentos, que $6 podem adquirir sentido quando interpretados
cap. 24), servem como pontos de vista unificadores também da
concepçã o de História em Lutero. Ela pode ser atualizada através
como inversão dos valores terrenos justificar acontecimentos
individuais relacionando-os com a própria posição de poder ou de

de uma consciê ncia viva das mudanças temporais e da unicidade de .
posição partid á ria Alé m disso, procurou-se fixar historicamente
um momento histórico. “ A palavra de Deus e sua gra ça constituem uma era exemplar que serviria de parâmetro para uma renovação e,
aguaceiro que se desloca , e não volta mais para o lugar onde já es - como os humanistas fizeram com a Antiguidade, aqui se projetou
teve... E vocês, alemã es, n ã o devem pensar que a ter ão para sempre, uma igreja primitiva ainda n ão corrompida , dos primeiros sé culos
pois a ingratid ão e o desprezo não permitirão que permaneça” .169 da cristandade, e aquilo que condicionava sua situa ção de ent ão, em
A esse modelo da “ translatio" só é relacionada a fé e , na melhor das consequência de opressão externa e falta de poder, foi transformado
hipóteses, o destino da igreja, mas o transcurso do mundo de forma em norma , e toda mudança foi condenada , segundo crit érios morais,
alguma é passível de qualquer interpretação racional , pois revelaria .
como culpa individual Mais problemática ainda foi a muitas vezes
a surpreendente ação de Deus: “ que provavelmente se possa dizer tentada, mas nunca esclarecida equaliza ção dos dois reinos com Q
que o andar do mundo e sua maravilhosa realidade sao uma m áscara mundo interior e exterior, quando a tendência luterana de subordinar
de Deus, atrás da qual ele se esconde, para reinar e rumorejar de
forma maravilhosa no mundo” .170 Neste mundo, também atuam leis
o mundo exterior às autoridades sem qualquer questionamento
— fortalecí a a tendência de, no caso de erros ou de expectativas

pró prias, que já foram adequadamente formuladas pelos filósofos frustradas, se refugiar na pureza da consciê ncia e dos sentimentos e
pagã os, e nele os crentes aparecem “ como se nao existisse nenhum relegar o mundo histórico-político à irresponsabilidade .
deus, obrigados a se salvar e a se governar a si próprios” .175 A doutrina Isso significou , sobretudo para a Alemanha, que, até meados
do século XVIII, a História eclesiá stica garantisse a supremacia. Isso
vale para a obra dos Centuriatores de Magdeburgo (1559-1574),
149 MELANCHTON. Chronicon Car í
,w LUTHER.. An die Rathfrren a Heronis. Corpus Reformatorum (vol. ) 1844 p .
In: 12 , , . 7 i4
Stadte dcuLsclics Lands , djss $ie chfistlichc Schulcn
. Weimarer Ausgabe (vol. ) 1899 p. .
aufrichten und halten solicit {1524) In:
,w LUTHBR. Der 127. Pwlrn ausgelegt
15 , , 32

.
an die Christen zo Riga in Lfefland (1524). In: ibid.,
p 373. “ D<ff man u*ol mag segett , der jwilt laujft und sonde / lfdt seyncr heyligen ivesen sty Galles
1>2
.
SCHWENCKFELDT Caspar. Der 93. Scndbrief (1550). Epistolar (vol 1). S. I , 1566, p. 812 .
" Die Lutheriuhen halen finen hhtonsdun Christum / quem mmdum literam (Ognoseunt , den sk mseh dem
.
miwm/ ey, danuritr tr stth verblrgt und yim der wetU so wundaiich right und rhumort11. Bachs( elm ttkenmn / noth seinettgadiiehicn / lehre / mlmekefn und lh alien / niritt tide erf ,cut kbendig 1st
.
Ibid , "dir tvere k è yn Gott da und mUsttn sith selbs emiten und sells ngirtri' und tulrckt / Wit sit awh eintn frisiorischen wtnunfff Gfoubai / urntd hlstorisiheJustification IMBEJJ \

94 95
0'
S- J

O COtKVtO De Hí SIÓHA
v .- >

*3
mm-
ij .v PtNSÀV Í Nro hiSlÓíiOQ NO i' ÍCO ÜA (OÂ CÍ MOOCftNA.
. '

iff Üf:®
realizada atravé s de uma not á vel organização de trabalho coletivo,
:
ív ; demonstrando interesse amplo, polê mico e mediante utiliza çã o mim$ se desencadeou depois da morte de Henrique II em 1559, em tomo '

¡i:?
sistem á tica de fontes , e para seu contraponto católico, at é a hist ória '"M -
iÈk ¿. y
--
- , y . dos direitos dos estados gerais, da nobreza e da regente fez com
que sa ísse em busca de argumentos e de princípios historicamente
:• eclesiástica de Mosheim, na qual o aspecto confessional foi ameni-
.
m fmm-
fundamentados. Eles estavam documentados na rica bibliografia
zado, e cuja tradu çã o alema se transformou no mais difundido livro
L

panflet á ria huguenote174 e numa sequê ncia densa de obras históricas


I
;
.
L ;
.
de História de seu tempo Mas isso também determinou o papel e teó ricas. Nesse contexto, o ponto de partida jurídico-romano
*

autónomo do “ mundo espiritual duplo” 175, e das “ negocia çõ es” em


mim p ôde levar a uma muito incisiva recusa das Pandectas* - como no
J I torno dele, que nao parecia ser passí vel de integraçã o numa Hist ó- -i-. Anti lHbonian , de Hotman
m mm ^ e motivar, além da reconstru çã o do
;•
t

i

.
:
;
ria geral, e a import â ncia das “ Histó rias de hereges” , nas quais foi
constru ída uma contratradiçã o dos oficialmente oprimidos, com mm Direito dos mais antigos sobretudo do período republicano, o estudo
da própria tradição jur ídica e de suas instituições. As concepçõ es
destaque para Sebastian Franck e Gottfried Arnold. Também as
versõ es apocalípticas e as tentativas de fixar os ú ltimos dias para SJI! universais e a abordagem “ comparatista ” no estudo do Direito e da
sociedade nao puderam evitar que na prá tica as histórias nacionais
um futuro próximo ainda tiveram representantes destacados em
Johann Albrecht Bengel e Heinrich Jung-Stilling.
Mesmo para a annaiistica do imp é rio e para a escrita da His-
atei
ill
fossem inclu ídas. A concepçã o ampla de Histó ria , porém , apresen-
tava vantagens que muitas vezes faltaram aos escritos posteriores,
iipf restritos ao â mbito nacional ou que só se enquadravam de forma
tória pol ítica - quando n ão a confessional , ao menos a din ástica
teve efeito negativo o fato de que Melanchton tinha tornado
m m- tmm
extensiva na moldura universal.
-
Contentemo nos com uma refer ê ncia a duas obras que mo-
mm dificaram
obrigatório, nos programas de estudo das universidades protestantes,
o “ mos ifalicus” da interpreta ção dogmá tica do Direito Romano. i§ m - f /.-#::
í

o conceito de História. A partir de estudos histórico-
jurídicos e a partir de experiê ncias em pol ítica e em diplomacia
Dessa forma , a doutrina jur ídica hist órica , fundada por Bud é, e k Wã confessional, Fran çois Baudouin elaborou um plano para uma
que se desenvolvera sobretudo na França, pela metade do século
História abrangente, historia universa ^ como conhecimento de todo
XVI , isto é, o “ mos gallicus” , que fomentava de forma decisiva a
pesquisa e o pensamento históricos , nã o conseguiu se difundir na Hf li o mundo, naquilo que diz respeito a espa ço, tempo e assuntos rela-

Alemanha , e suas principais obras $ó foram levadas novamente em ü : tivos aos seres humanos , “ me ágete âe historia integra ” 17S, a qual seria
conta e reeditadas uns 150 anos depois de seu surgimento; o mesmo Ü W vinculada à ciência do Direito - que forneceria os critérios para
V *?:& n o agir correto -, com vistas a uma prá tica verdadeira , E - numa
aconteceu com Maquiavel e Bodin , no Direito P ú blico, quando
referê ncia à quilo que Maquiavel teria tentado com Lívio - acenou
se abstrai de algumas exceções, como Conring, que os introduziu
com a perspectiva de que, a partir de uma abordagem comparativa
antes disso, no ensino acad ê mico.
da História , se pudesse obter dividendos para a pol í tica . De forma
;
c) Interpreta ção histórica do direito e teoria da Histó ria .

.
A interpretaçã o hist órica do direito romano apresentava um co - ,7* CAPRARJIS, Vitiorio de. Propaganda t
perulero politito h Frauda durante U gueru di tdigione
nhecimento preciso e tinha produzido um instrumentarlo muito
.:
-
desenvolvido para a pesquisa parecido com o Humanismo floren- HII
;
(vol. 1: 1559-1572). N á poles, 1959, passim (fbi publicado apenas um volume].
L ffw “ Obra esbo ç ada por incumbencia do imperador [romano] Justimano (em 533 d . C ], (...)

'
.
tino , que, em momentos de crise, possibilitava ampla discussã o
;
as Pandectas deveriam ser um guia para a ciencia jur ídica” , sens 50 livros “ enfocam , em
princípio, todas as á reas do direito, mas o direito privado constitui a parte fundamental ” .
hist órico-polí tica . A agudiza çao das disputas religiosas e a luta que * % hr. HE1 KELMANN, Horst Otto. Pandectas , [ n : FRANÇ A , Rubens Limomgl (Çoord.)
.
Entielopédia Saraba de Direito (vol. 56) SAO Paulo: Saraiva, 197?, p. 523 (N. T.} .
.
m im BAUDOUIN, Fran çois . De institotfonc histoihe mivtrsút et cí us cum iuritpmdeniia «miunaionc,
.
w FR.ANCK, Sebastian. C/WWM, Zeilbtuh und GesíhichtbibtU S. 1., 1536, 3*
parte, p. í lv-
mm Paris, 1561, p. 22 .

96 97

: i '
3

' M iRv:
O cortetno w PtivSAwtNro h$rô3Co KO V<OO DA IDADê MQCESKA
£
&
è
£
í
grandiosa , se esquematizou aqui o estudo daquilo que é e daquilo
que deveria ser na consciência do todo, conciliando História an -
•J
IK
- coletâ nea,178 o que mostra o interesse crescente para essa disciplina ,
na qual atuam poetas, retóricos, teólogos, juristas e filósofos, e cujo

s desenvolvimento, no sé culo XVI, permite visualizar uma clara ten-


;
tiga e bí blica, sagrada e profana , abrindo urna perspectiva para a
*,

pesquisa sobre a “ bá rbara” Idade Média, na qual estão enraizadas


as instituiçõ es modernas, incluindo tradiçõ es orais, Ocidente e
mWL dência que vai das instru ções para a escrita e a tradicional louvação
da "historia” para sua fundamenta ção científica e a epistemología
I; Novo Mundo, e separando a História humana daquela da natu - :l
y m orientada para a ação. A dificuldade de estabelecer a influê ncia da
reza, sob o ponto de vista iríais elevado do agir, o qual deveria ser : Ret órica está no fato de que a Historie, em ambas as etapas, sem
W kL
'

7 avaliado a partir de $ua legalidade. Esse esbo ço da Hist ó ria - que m; d úvida, é retórica, só que uma vez como matéria n ão obrigatória
!f n ão é menos “ moderno” que Vico e que faz o leitor posterior se m •
dentro de um exercício convencional, depois como motiva ção res-
:
lembrar, surpreendentemente, de Heg él e de Droysen nao é obra
de um precursor. Ele formulou da forma mais incisiva possível e
— MM
m is .

ponsável para as decisões mais importantes em assuntos do Estado,
ou para ensinar a entender sua situação amea çadora.
:

numa perspectiva mais ampla aquilo que, ao pensamento histórico-


m Quase simultaneamente a Baudouin, Francesco Patrizi tentou
político responsável de seu tempo, parecia a tarefa mais premente examinar o objeto, pela primeira vez, em dez diá logos, a partir da
da ciência. Antes da Noite de São Bartolomeu (1572), aquilo que Ilf pergunta sobre que seria História: “ che cosa , o quale saí Vhistoriú” }1*
é representativo para a França nao é a decep çao de Guicciardini,
mas a esperanç a desesperada de Maquiavel por uma configuração :

Os tratados tinham identificado e continuavam a faz ê-lo
Hist ória com escrita da História , em vez de fazer interpreta çõ es

racional da polí tica, com base num conhecimento hist órico e ge- \i -w conceituais, haviam recorrido às ciê ncias auxiliares , como cro-
ogr á fico muito amplo.176 iS l v [

'
M h nologia , geografia e genealogia. Patrizi foi filósofo, platónico
A chave para a utiliza ção desses novos conhecimentos foi W: decidido, influente na prepara ção da nova física , realizou uma
m rr
m
*

fornecida por Jean Bodin , com seu Methodus, alguns anos mais “ virada copernicana ” das coisas em direçã o à consciê ncia, e de-
tarde ,177 no qual n ã o fornecia instru çõ es nem esquemas para uma M
m fô
'
í
fo - finiu “ História” como “ memória das coisas humanas” : “ la historia
sí ntese histórica , e també m n ã o uma teoria da História , mas um :& è memoria delle cose lnunanaeyi.m Isso exige uma determinação do
it
mé todo muito aguçado - na compara çã o com anteriores - para
a an á lise de desenvolvimentos históricos e para a comparação do e -
tempo, e desse fato decorre que como do aparecimento antigo
de esquemas cíclicos de transcurso da História - ela n ã o pode ser
Direito P ú blico e das instituições. Deve ser dif ícil encontrar em
Montesquieu elementos metodológicos que Bodin nã o tivesse
w restrita à s coisas passadas e presentes, mas abrange a antecipaçã o
memorizada daquilo que ainda é futuro.181 Se o conhecimento
discutido, em alto n í vel, seja no Methodus seja nos Six livres de Ia mt
republique, nos quais constrói sua estrutura doutriná ria da política , s% m
histórico é isso, então a Hist ória se concretiza apenas na transposição
para ações históricas, cujo objetivo é ser e permanecer, e (na media-
a partir da História. ção do conhecimento especifico com o geral) felicidade humana.
A obra de Baudonius - da mesma forma que o Methodus de
Bodin - teve nova ediçã o, junto com dois antigos e uma d ú zia de 14 1?i WOLFF, Johann (Ed.). Artis h í stodeae pauis , 2. Aufi., Basileia, 1579. A respeito, cf.
tratados contemporâ neos sobre a metodologia da Historie , em uma REYNOLDS, Beatrice . Shifting current* in historical criticism , Joiir /id / of History of ideas ,
-
v v- 1
ill &
n. 14, 1953, p. 471 e segs.
m PATRIZI, Francesco. Della historia died diatioghi. Veneza, 1560. Reimpresso em KESSLER ,
, 7Í
. . .
Cf. ATKINSON, GeoJfroy L<s nouveaux horizons At la unatsscnKfrançaise Paris \955 passim;
IS Eckhacd. Thcondkcr humanistischer CesctuctUsschtdbitng. Munique, 1971, p. lv.

m
f

MOREAU-REIBEL, Jan.Jean Bodin et U droit public comparé. Paris, 1935, passim. ft »


mi , p. i 8v.
.
BODIN, Jean. Meihodus adfiritzm histoiianwr cortilthrum Paris, 1566, passim. tv:
Ul Ibid ., p. 15 e segs,,
41 e segs.
rii:
98 ISi
. :
99
ii
rn & &
ílfSS'SS ;: :.: .:
'
' ' .Vi .
' ;V

-
O conato K H STô .IA mmm . -
PtíJSA Vii ílO KíSTÓfcCO NO IM’OO OA I DADE
^ HTA T - ', ®® .• .

mm
'

IvV Y;-/.; ' -

s critérios de verdade foram discutidos no sentido do pirro-


nismo que estava surgindo e que havia sido antecipado por Agripa His
° simultaneamente, adquirindo atualidade até o século XVIII , e
I Ki^
• i:
v.
de Nettesheim, num
,
ceticismo radica),
uma geraçã o antes Aqui
Hist .182
mais alé m .185 A ampia abertura , o estreitamento perspectivista e a
liberdade em jogar com o mundo histórico podem ser encontrados
- H
mi
, '
eles sao agrupados em tomo da quest ã o p ú blica, menos pela au em Shakespeare, ainda que, na su a Antiguidade, o Heitor troiano
ó dica das fontes seja autorizado a citar Aristóteles, para consternação dos eruditos.186
i h í -f t&r
senda de urna crítica met
-
experiencia
" com uma pol ítica que , ao
do que a partir de urna
final do s éculo XVI, cada
vez mais se distanciava de uma discussão e de uma justifica ção
11 4. O desafio da nova ciência
if
$
i
p ú blica. Desejar a verdade n ã o basta ali onde as causas do agir
permanecem encobertas como “ arcana" a não ser que o próprio
pr í ncipe escrevesse Historia .
A teoria da Hist ória atingiu nesses anos um n ível que ela n ão
- m
ñ ¡í
a) Problematizaçã o da Historie. A mudança decisiva da imagem
sobre o mundo í f sico e a consequente mudança dos conceitos de ma-
téria, movimento , tempo , infinito, cuja consolidaçã o foi avançando
> .

•* ;
pôde sustentar, apesar de algumas outras diferenciações. Também
chama a atenção o fato de que não há registros de representaçõ es
m m
mpi
at é meados do século XVIII, as tentativas de uma temporalização
e dinamização generalizadas das visões sobre o mundo trouxeram
i históricas desse padr ão ou de obras compará veis às dos grandes vv r ®: .
muito mais desafios do que impulsos de desenvolvimento para o
florentinos. Uma espiada no século XVI por mais superficial que - i conceito de Historia nessa é poca. Na comparação com Baudouin,
seja - mostra que o conceito de História se constitui de maneira sufi- && c?Vv Bodin e Patrizi, os teóricos da História , bem como os historiadores
cientemente “ expressivo” para não sucumbir a definiçõ es unilaterais, e as enciclopedias lidam com um conceito reduzido de História ,
.V .:.-: r®:
que, como fantasmas, perpassavam a bibliografia científica. Assim limitado à narraçã o ou à descrição de fatos. Essa conotação de uso
como Montaigne procurava algo geral no ineditismo da experiência:
It restrito à exatidão fáctica , sem argumentação, se mantém até hoje
“ l’ homme en general, de quije cherche Ja cognoisssance” ,m La Popeliniè- M its na língua francesa com “ histoire” , “ historien” e os contraconceitos
re, após uma crítica de toda a História escrita at é então, procurou 1 : .
negativos de “ fabel” ,“ roman” Típica para a polê mica desqualificaçã o
esquematizar uma Histó ria geral perfeita , abrangendo de maneira da “ historia” frente à “ ciência” produtiva é a posição de Descartes:
integral a sociedade e seus costumes: “ l’ Histoire sera Generóle, qimid m
p
:
“ Per Historiam intelligo itlud omne quodjam inventum est> atque in libris
Vautheur luy aura donnê la substance entière et acocomplie des Etats” m E, . V is continetur Per Scíentiam vero, peritiam quaestiones omnes resolvendi, atque
mesmo que ao final do século se alastrassem um pessimismo estoico adeo inveniendi propria industria itlud omne quod ab humano ingenio in ca
e um clima de decad ê ncia , pelos motivos indicados, as concepções
complementares, muito mais que as contraditórias, de progresso e
iI
; pG

:
vim:
scientia potest invemirc; qmm qui habet, non sane multum aliena desiderata
atque adeo valde proprie omnápkrjç appclatw*' ,187 E verdade que Des-
de plenitude da natureza , por um lado, e de transcurso cíclico, de VvV U
i y - cartes blefa sobre quanto ele pr óprio deve à tradição filosófica , mas
monotonia e de decad ê ncia, por outro lado, podem ser constatadas its > ® seu conceito de “ scientia” levar á ainda Vico a escrever uma “ Scienza
:é®V:
ip i : nuova” em vez de uma teoria da História, e ela caracteriza a situa ção
-
}

’y y da Historie depois da ruptura metodológica necessária, ainda que n ão


- f = -;::
; -• t -.
NETTESHBÍM, Heinrich Cornelius Agrippa vem. De ineertitudine ct van í tate sclcntiarum
155 •
Mi i:
.
atque artiurn, decbmaio (1530). In: Opera onmia (t. 2). Lyon , s d . (reimpresso em Hildesheim , 1i
.
1970 p. 22 e segs.). 1 JS
Cf. WEIS1 NGER , Herbert . Ideas of History during the Renaissance.Journal of the History of
.
m Montaigne In: TH Í BAUDET, Albert ;
.
RAT, Maurice (Eds ) Suais (1580). Paris, 1962, 2 , m tv .
n 6, 1945, p. 415 e segs.
III
,

10, p 396. . .
SHAKESPEARE . Troilus atui Oessiâo 2, 2 , 166.

Paris, 1599, p. 85.


-
POPELIN ÍÈRE, Henri L-ancelot Voisin d é la , L'id ée <ie Phistoire accomplie. in: Ufiistoht , VV
•:-
M it Descartes a HogeJande, em 8 de fevereiro de 1640. In: ADAM , Ciiatles; TANNERY, Paul
V« iV
.
(Eds.). Oeums (volume suplementar) Paris , 1913, p. 2 e seg.
V :

100 v1- 101


Uv V:
*

1
ippíteteteRtetetete® - :.
• : .
-
O corjcknò Oí HSTóOV " ;
m
-
óO DA IfaAM MOOtVU
PtNSAMiNTO KiTÔUCO NO ( Nt
;• . • . .
••
.. . • -d
m¡¡¡is
"

i Mycderánte e totalmente convincente, com a autoridade da tradição.


^ ^^ W
“ Newphilosophy calls all in doubt" ym e ela nã o se detém diante da dig-
ordens religiosas , por causa de seus milagres, suas lendas sobre
santos e seus documentos falsificados , cuja comprova çã o antes
Pjff £\VV nidade da Historia , que apenas serve como material para utilização


sip® fora fundamentada pela filologia cient í fica , mas agora reforçava
/ cientí fica e, no mais, como “ depósito”.
Esse foi o período de mais ampia pesquisa hist órica ,,s9 mas seu
a*hr o ceticismo generalizado. Os jesu ítas afastaram a História quase
por completo dos planos de ensino obrigat ó rios de seus colégios,
h resultado não foi aquilo que mais tarde se chamar ía de “ Historia” , em toda a Europa. E as Hist órias universais protestantes nao
mas uma coleção tendencialmente sistemá tica e completa de “ an
- Ilf
m conseguiram atingir maior prestígio , nem se igualar às de Cariou
m tiguidades estatais e privadas” , de restos e de fontes, ajeitados com
te V vte e Melanchton , quejá eram um tanto anacr ó nicas.
M!
te exatid ão, sob o ponto de vista antiqu á rio e filológico. Tentou-se
preencher todas as seções da extensiva “ historia universalis" , enquan
^?
atp
-

A História era - como na imagem emblem ática - uma coluna


partida, como na tragédia barroca , onde, em vez do mito antigo,
-
::
.- •i to junto com a coisa també m se perdeu por completo a intensiva
" historia universa" ou “ integra" do nosso saber. Mesmo tendo se steg fftjss
site agora fornecia a matéria (uma ruí na, um cen á rio) para a medita ção
sobre a decad ência inevitável, que, em cada um de seus exemplos, per-
tornado metodologicamente dependente, a ampla bibliografia sobre
| S lite mitia uma avaliação moral, capaz de uma transfigura çã o recíproca .591
-I tes;
verifica ção histórica e credibilidade ficou a reboque da tentativa Nã o tratar da História como ciê ncia no novo sentido leva-
’ i

jurídica de estabelecer a verdade, sem chegar a princípios próprios siR ria for çosamente a uma prov í ncia insegura dentro da rep ú blica
de um conhecimento histórico. sSitel
tetetes® dos eruditos. A ausê ncia de um cará ter pú blico na a çã o polí tica
A historiografia nao melhorou essa impressão. A história an
-
:
tes
tete
m a empurrou , mais do que at é ent ã o, na dire ção do serviço aos
tiga, que até o final do século XVII foi comentada , mas não re pr í ncipes ou para espaços privados, onde a “ historia literária” , a
presentada, além da doutrina sobre as instituições elaboradas nas
-
cole ção de conhecimentos eruditos, se tornou a disciplina mais
Í /ÍÍ
Histórias nacionais mais antigas, haviam , entrementes, perdido
seu interesse mais substancial , pois aqueles que se dedicavam ao
. v;? tete -
w#
Vstete tete:

- ' '
benquista. A rela ção com a História sacra , que metodologicamente
s- - :,
era dif ícil de ser explicada ou só podia ser explicada mediante
Direito P úblico e os teó ricos da pol ítica faziam suas construções 11® te algum risco , foi t ão problem á tica para os historiadores quanto
na perspectiva jusnaturalista, em vez de derivá-lo historicamente. Ate : a “ moral provisória” de Descartes designa um fim temporá rio
Uma história mais recente das guerras religiosas encontrava se em - da retórica , da qual s ó restou a declama çã o. Aqui o Discours sur
obras que se contradiziam entre si e eram mutuamente excludentes , M / 7listoire universelle , de Bossuet , se transforma numa representa çã o
cujas fontes em geral n ão eram publicamente acess íveis e cujo fervor V :¡ m grotesca , quando ele , num brilhante serm ã o , ocupa um espa ç o
confessional parecia torn á-las inócuas, enquanto o brilho literá rio mm m que a pesquisa contemporâ nea nã o conseguiu preencher, fazendo-
se localizava nas memórias de Retz e até do duque Saint-Simon. sr ®s . '
. o sem conhecimento e sem ju í zo hist órico , recorrendo a uma
-
A Idade Média , umedium aevum ” como, desde Justo Lipsio , se S SS
m. teleologí a primitiva para transformar a Antiguidade num veículo
chamava o per íodo cristão a partir de Augusto,190 - n ão se livrava para Hist ó rias bí blicas.
mais do escá rnio, nem mesmo entre os homens mais cultos das
V:m tei
mm '
b) Tentativas de fundamenta ção e quantifica ção do tem -
po. As tentativas de fundamentar cientí ficamente a História con-
DONNE , John. An anatomic of the wofide, First Anniversary (1611). In:
Poems with elegies on i f t c authors death. Londres, 1633, p. 241 (editado por
DONNE, John.
tete ® : tribu í ram para a redução de seu próprio conceito. Dessa forma ,
I » MOM John Marriotj. Keckermann quer conquistar para a Historie aquilo que Bodin
IGUANO, Time in Ancient History (cf nota 155).

WEGELE, Franz Xaver v. Geuhiehte dtr dculschen Historhgraphu. Munique, 1885, . 482
Si - &
segs.; VOSS, J ü rgen. Das Mitte falter im hitter ischen Dtnktn FranheUhs. p c ;
.
Munique, 1972, pusswi m Cf. BENJAMIN , Walter. Ursprung des deulschen Trattcrspieis. Frankfurt, 1963, p. 197 e segs.
; r; .
S; S
102 I ® 103
M
mI-
Ms:* . . m
|í: ' O CONCHO 0! H srÓít4
PeM$A.VlNrO WSTÔRCQ HO IN'etO t>A lOADi MODttHA

^l :
|
¥§
• | vW
M1
í

m-
'
nao ceria conseguido fazer no Methodus - um ?:
- prodit veteribus anauditum , incognituni, tamquam proficiente mundo” .
tratamento meto 107

Ü
dológico, e isso significa para ele um tratamento ló
filiação rigorosamente binaria, a Historie é
gico.192 Numa
apresentada em todas
iI Mas 3 perspectiva temporal dupla de uma Antiguidade que Urespectu
nostri antiqua et major, respecta mundi ipsius nova et minorJuit” m só foi
m as suas partes tradicionais. Ela é definida
,
return singulamm sive indmduomm
como “ explicatio et notitia Uppfi -
mostrada por Bacon, o qual també m quanto à amplia ção da His -
/ Vi
I mt
” mas deve permanecer como torie para aquilo que ainda precisa ser descoberto e feito - concebe
conhecimento imperfeito, 11notitia imperfecta” , porque os fatos
sao o futuro de forma mais concreta do que em antecipa ções profé ticas
I numericamente infinitos e indefinidos quanto ao género, vagae
indefinitae.m Através de induçã o lógica pode “
-
et m
mmte; e progn ósticas dentro de um conceito de “ historia experimentali$”
m .
! mar sentenças gerais, sobretudo na Etica, mas na
se obter ou confir-
WêMm
Uma concepção semelhante de experiências de um tempo
i . !:
pol í tica elas possuem um cará ter particular.195
economia e na
hW-: que vai se adicionando e de uma "generado aequivoca” também está
I
'
Essa determinação pM v
na raiz da moderna tomada de partido na “ querelle des anciens et des
:l ; K-
conceituai permite reconhecer algumas das principais .

- riSKf sS'A -
..
-


te que caracterizan! inclusive per íodos posteriores
tend ê ncias : modernes” Mas, alé m do fato de ser, desde Richelieu , doutrina ofi
.
i! De forma gené rica , a busca de uma verdade filosó
rebaixada , no conhecimento histórico, para uma corre o
fica foi ute
li
ciosa, o comprometimento dos dois lados com o paradigma estético
trouxe dificuldades consideráveis. Pois se o louvor do presente à s
çã parcial lite custas do passado era quest ão de gosto, enquanto o Classicismo
dos fatos, e sua aplicação passou da mudança pol í tica para
cimento privado. Com isso, a Historie no in ício só faz
o conhe - te %
francês produziu grandes obras, ele se tomou pouco digno de fé
uso muito desde o começo do século XVIII, tendo em vista seu próprio pas -
limitado do espa ço criado através da despolitiza ção,
qual a nova ciê ncia se desdobra , e s ó ela vai
dentro do Si sado. Isso teve como consequ ência a exclusão das artes mecâ nicas
e mé todos cuja validade e cujo alcance ~ que
desenvolver conceitos pi e das ciências do sistema de ‘'artes” , sua agregaçã o às ciê ncias da
vai muito alé m dela tv ivY
® natureza e à matem á tica , que estavam progredindo, enquanto as
-
própria permite se servir deles. Assim , a redução a
fatos isolados
Á
permite sua quantifica çã o e sumariza çao dentro
de vivência , com que Bacon consegue derrubar a
de um tempo
inquestionada
m it “ belas artes” foram localizadas numa atemporalidade, que acelerou
sua historiciza ção, mas entravou a an á lise histó rico-filosófica .
autoridade da Antiguidade, definindo-a como juventude e c) O conceito de verdade. Ao mesmo tempo, havia mudado
in ício tete; UP o uso das palavras “ verdade” e “ verossimilhança ” . Se , na tradição
de um transcurso de tempo que vem se sucedendo desde
qual s ó lentamente vai desvendando a verdade.196
então, o
E certo que toda I! aristotélica, a verdade da situação (historicamente) individual se
a Renascenç a e, em especial, Vives, conhece uma
crescente, na compara ção com a Antiguidade: uquotidie
clara consciência 1
if s
contrapunha à verossimilhan ç a da situa çã o ( poeticamente) geral ,
essa relação se modificou agora . A verossimilhança histórica ,
enim aliquid W s discutida de forma lógica ou jurídica , se confrontava com os
$ limites indicados por Keckermann, os quais Tomásio modifi-
,
1 3
KECKERMANN, BartholomSus. D:natura et proprletatibns hisloriae ( cou um pouco: “ De coisas ausentes nunca podemos apreender
..
1610 p 5.
otiutienlarius. Hannover,
«i
154
.
ibid. p. 8.
te: s '
157 .
VIVES, Juan Luis. De prima philosophic (liber I). In: Optra omnia (t . 3). Valencia 1782;
Ibid.t p. 23 c segs.

151
. -
ibid , p. 19, 13.

|
!Í 9
:m % .
reimpresso em Londres , 1964, p, 214; cf BARON , Hans. The querelle ofanc í ents and m ódems.

BACON, Francis. Novum organon 1, Aphoiisrnus 84. In: Works (


. .
Journal of the History of hitas, n 20, 1959, p 13 e seg.
154
vol. 1} (1858), p. 190 e seg.; teg $ .
m BACON. Novum organon In: Works (vol. Í), p. 190 .
cf. LEYDEN, William v. Antiquity and authority.
Journal ofthe History of Ideas, n. 19, 1958,
p. 473 e segs.; SAXL, Fritz . Veritas Filia teinporis. In:
.
BACON. Parasceve ad historiam n at u ralem et experimentalem (1620) In: ibid., p. 391 e segs .
PATON , H. ,; SAXL, Fciu (eds.) .
Philosophy and History. Essays presented to Ernst Cassirer. Oxford , J , ,
20 . .
KRISTELL£R , Paul Oskar The modern system of the arts In : KRISTELLER , Paul Oskar.
1936 p 197 e segs. Renaissance thought (vol. 2). New York , 1965, p. 163 e segs.

104
- ,:
m

HA :
105
.
. . O CCXVCé TO Dí HOTóBA JR
v
tejiste tete PfMSÀWNTO M$IÔ*'CO V¿CJO DA Í DAPÍ MODffAtA

.fl:
jÈ fflÊÊSÊ$ÊÈk&,
: # .: :í.unia verdade incontestá vel por meio de um conhecimento claro finalmente num desaparecimento da credibilidade de fatos histó-
^
' :

Pp g
^^ ——
em ítidó, / mas t üdo / que aprovamos / é ou apenas verossí mil ou
e confuso” ;201 e ele acrescenta: “ aquilo que
m u K v obscuro '
entã o muito
lV- o homem entende de maneira certa e nítida a respeito da essência
v daquilo que passou / isso n ão é outra coisa do que uma lembran
ça de tais coisas / que ele antes captara por ter estado presente .
:

¡
1P
afeite
- m mm
~
ricos e também da revela ção crista, numa proporção ao quadrado
do tempo,207 a qual somente Hume conseguiu refutar, de forma
convincente.208
d ) A caminho do moderno conceito de Histó ria . Como
I .. . life revolu çã o do século XVII no campo da Física , foi necessá-
#§ fe:
E , por isso, na avaliação das coisas verossí meis, tanto aquilo ; na
que rio recorrer ao infinito e a um modelo que nao era acessível à

«11i»
P ‘

fe passou quanto aquilo que vem no futuro deve estar


orientado experiência,209 a fim de abrir o caminho para o conceito moder-
por aquilo que é presente” 202 Conhecimento histórico, portanto
no de História . Partindo do pressuposto de que o homem “ n e$l
}
,
w
\k-
até nã o atinge a simples verdade de urna certeza f
á tica , a qual ate . ::- :r4 ñ iiP&Ü
produit que pour l’ infinité” , e que sua memória permite a cada um
te
í
então aparecia como objetivo dentro da definiçã
de uma verossimilhan ça que se firma apenas parcialmente
o, mas se trata
como
m P
mis e a todos em conjunto “ tm continuei progrès” Pascal concebeu um
ú nico “ homme universel” de todos os homens em toda a sequ ência
y

vf
!
.
certeza, 203 enquanto, na tradição neoplatônica, a Poesia
uma verdade própria, 204 que, filosoficamente, se refere a algo
Assim Diderot afirma , em Eloge de Richardson, de forma
reivindica
geral .
a
mm
si :.lv
dos tempos, “ qui subsiste toujours el qui aprend continuellement ” 210
Leibniz , que conhecia esse manuscrito , criou , em continuadas
: i * enfá tica, mm tentativas, um instrumentarlo filosófico para ver o mundo como
"que ’I histoire Ia plus vraie est píeitte de mensonges , et que ton
est plein de vèrités. Uhistoire peint quelquers ittdiuidus; tu
Roman mm um processo global din á mico, em constante evolu ção.215 Mas ele
É ii
J;
peins fespèce n ã o conseguiu transferir esse reconhecimento para o conceito de
humaine” .205 A reivindica ção de verdade por parte da Poesia ganha
Historia ou mesmo concretizá-lo em suas obras históricas por meio
M -:
espa ço no século XVIII; a da História dependerá do fato de
ser
tef f de interpreta ções individuais harmonizadoras; seu trabalho histó-
P
i compreendida e interpretada como um todo.
m ite rico se restringiu basicamente a aplicar a fontes alemãs os m étodos
Analogamente à prá tica judiciá ria inglesa de uma credibilida
de decrescente dependendo do nú mero de etapas de - M W
i® nP
desenvolvidos por Mabillon e pelos maurinos.
A " historia mturalis” desta vez também serve a Spinoza, para
i
i
sua tradição,
na qual Locke insiste em rela ção àquilo que tange à Hist ó ria,206
ocorreu um curioso cá lculo que resultou numa diminuição, e
mm
m« submeter a interpretação da Bí blia à razão: “ Nam sicuti methodus
:
interpretandi naturam in hoc poíissimum consistit , in cotuintumda scilicet
!;Kf historia naturae, ex qua , utpote ex certis datis, rerum natimlium defini -
251
-
THOMASIUS, Christian. Einkíttwgzuder Vemunfft Lehrt. Halle, 1691, 11, 6, III !:if tioncs concludimus: sic etiam ad Scripturam interpretandam necesie est” .2U
abwesenden Ditigen k $nnen wir nicmahkn tuislreitige Warheiien
§ p. 243." Vou m reí E$$a intençã o de uma incansá vel correçã o de opiniõ es erradas , de
dock seht dnnckei and toufas".
Ibid . , 11, §§ 20 23, p 247. " Was de hí tnuh von dan
vtmiltth cinerkfarin and deuflUhen
Etktinttsilss begreiffen / sondem alies / was u>lr davon bejahen i ist
entweder nur wahmheinlidi oder M
li f derrubada de autoridade presumida , foi perseguida por Bayle sem ,
10i
. . Wcsen des Vergangenen gewlss and deutlidi m
m ímfe
m
verstehcl / das ist nhht anden ais cine Et innerting solcher Dinge / die
..
begrifftn . Undmuss also auch in Envegung der wahrsthmlUken Dingc das
erzuvor aís gigenwàrlig allbireit 207
CRAIG,John. Thcofogíae (iuistianaeprincipia mathematUa.Londres, 1699, passim (parcialmente
nath dem Gegenwd / tigen gerUhlet werdtn** . Vergangene and Zukiinfdge
m .
reimpresso em History and Theory, n 3, separate 4 , em especial , 1969, p. 26).
Cf. BERNOUILLI, Jakob. Ars conjcetandi. Basileia, 1733, 4, :
1 " probabilifas cslgradas certitudinii
. .
Ki HUME A treatise of human nature. In: Works (vol . 1), 1886 1, 3, 13, p. 441 e seg.

.
et ab fiat differs at pars a loto" m w- y/ }
Cf. KOY.RÉ, Alexandre. Études d'histoire de la philosophic. Paris, 1961, p, 239.
2 ,0
PASCAL. Fragment de pré faee pourlc traite du vide. In: STRQWSK!, Fortunat (Ed , ). Oeuvres
401 Por
exemplo, MAÇROBIUS. Sonmiiun jciptonis 1, 2, 7: "
l!l
*s DIDEROT É loge de Richardson (176Í). In: Oeuvres
.
.
LOCKE An essay concerning human understanding. In: Works (
p. 108 e scg.
modus perJigwentum vera reft rendi ,
.
completes (t. 5) Paris, 1875, p. 221
.
.

vol 3), 1823, 4 , § 10 cseg.,
m
m
:;
i-
( ompUtes (t. 1). Paris , 1923, p. 403.

2.1 Cf.
LOVEJOY, Arthur O. The great chain oj being (1936). Cambridge/ Mass., 1966, p. 242 e scg >.
2.2 SPINOZA . Traetatus theologico -politicus 7. In: GEBHARDT, Carl ( Ed.). Opera (t. 3).

i ¡Vi: Heidelberg , s . d., p. 98.


í

106 II
4 II
.. 107
m PM
:
» V
O CONCOTO « HISTóíJA
«life
li

ií p- T
PtNSAVfNTO H ÍTÔfJCO NO &¿QO DA lOAOc MODEÜ NA

no entanto, enxergar na Hist ória outra coisa do que “ le portrait de de luiy\2 X7 A internaliza ção da História na consciê ncia e - em Rousse-
la misere de Vhomtne” ,21* III -
au o rompimento do espaço hist órico interno, onde a natureza do
E foi a natureza comum dos povos que Vico torna inteligível 11 homem (historicamente corrompida, mas ao mesmo tempo tornada
através do conceito do infinito e da concepçã o de transcurso ideal SP consciente) deve ser reconciliada consigo mesma no mundo histórico,
do tempo, e o apresenta como urna Historia ideal eterna , una Mp
storia ideal eterna” , de acordo com a qual as hist órias individuais dos
“ Í-M v
trouxe consigo dificuldades que não podiam ser solucionadas com
os meios existentes. A expansão espacial e a exatid ão derivadas da
povos - ule stone di tutte te nazioni” -
transcorrem. Com o salto
£
*.
“ histoire naturelle” podiam enxergar “ desenvolvimento” no detalhe
epistemológico de que ‘77 mondo civile” , que mais tarde se chamada i fel
| - na arte e na ciência e, com isso, uma História com sentido. Mas
“ mundo histórico” , em contraposição à natureza, e que - por ter êm n ã o eram capazes de compreender História como um todo, por meio
sido criado por homens - també m deve ser reconhecido por eles, & Mí do moderno conceito de tempo. Voltaire transforma em objeto de
ja que os principios para isso podem e devem ser encontrados na$ '
rM pesquisa hist ó rica - com um singular coletivo -“ Vhistoire de Vespril
estruturas de nosso espí rito humano, Vico conclui a “ guinada
mm .
humain” E, numa analogia cosmológica - correspondente à ordem
copemicana” das coisas em direção à consciencia. Na História , o lp do universo, que antigamente só podia ser imaginada , mas cujas leis
homem se compreende a si mesmo e , ao narrada para si mesmo, ele
a cria para si mesmo, de acordo com suas pró prias lei$.2 H Por estar
Si agora teriam sido reconhecidas ele reivindica como objetivo até
SB então n ã o alcançado:“ C’est done Vhistoire de Vopinion qtVilfattut écrire; et
preocupado com coisas gerais, com regularidades, Vico consegue
interpretar épocas distantes, de cujos in ícios s ó h á uma tradição
poé tica , com uma intensidade desconhecida até entã o, ele conse
i
- m
-m * •
»
L &;;
par là ce chaos d’événements , de factions, de revolutions, et de crimes, devenait
digne d'etre presente aux regards des sages” 219 .
Na Alemanha, o singular coletivo “ Historia” aparece inicial-
Wv
gue reconhecer a verdade de ideias poé ticas, “ universali fantastic?' ,
e , ao mesmo tempo, transformar a Historie numa ciê ncia filosófica.
m m.
m li
mente no contexto teológico da justificaçã o do mal , 2 i9 mas permanece
como objeto subordinado à capacidade teológica deju ízo, até o Kant
Vico ficou isolado e praticamente sem influê ncia no seu tempo, sii já idoso, que pressupõe o conceito de Newton de tempo absoluto e
mas o mesmo relativismo histórico - apenas em menor escala e numa MM homogéneo. A irrupção de outra experiencia de tempo, junto com a
perspectiva diminu ída - guia Fontenelle em sua tentativa “ de faire Si experiencia de uma ação pol ítica modificada, permitiu que se falasse ,

Vhistoire de VIustoire même” 2is A mesma acuidade para a multiplici


dade de circunstâ ncias individuais e de diversidades, desenvolvida
- mm de “ História” num novo sentido, o qual fora preparado e, em alguns
casos, quase que coneeitualmente antecipado.
através da “ histoire naturelle” , liga Buffon a Montesquieu e Diderot , e
permite distinguir o próprio método do“ point de vue de Vhistoire” de 5, A respeito da alteração no topos
procedimentos estritamente dedutivos ou rigorosamente classifica - I® '

III- de "Historia" e "Geschichte"


torios.216 Diderot pode compreender consciê ncia e identidade como
uma histoire, produzida pela “ mémoire, (q< ui) lie les impressions qtVil reçoit , V: Os tratados sobre a “ arte histórica” e os pre á mbulos das obras
forme par cede liaison une histoire qui est cále de as vie, et acquiert concierne v :-h de História transmitem desde a Antiguidade determinadas fórmulas
fifi
.

Vsf Ifl
.
, ;:k ,
<1. 3), 5 ed., 1740, 548 b. mm . .

J J BAYLB DIDEROT Reve de d’Alembert (1769). In : Oeuvres comptttcs (t 2), 1875, p. U 3.
J
í ?
,
31 VICO. Sctenza nuoua. (vol. 1). Bar í . 1928, t , 4; 1, 3, p. 128, 117, 91 (cf. nota 156). m VOLTAIRE. Remarques de l’essaisurles moeun (1763). In: Oeuvres competes (t. 24), 1879, p, 547.
.
FONTENELLB, SurThistoite. In: Oenws ( omptiles ( x 2). Paris, 1818 (reimpresso cm Genebra ,
|
|' I l:
’ 3l >
Albrcebtvon Haller* en> " Ü berden Ursprungdes Ü beJs” (1734 ), modifica, na 4’ edição (1748),
1968* p. 424 c segs .). v i l l.i o plural uGes<IticlU ( n" [ Historias) para o coletivo singular: "Oh verdade! Diga você mesma ,
ns DIECKMANN, Herbert. Çinq k çotss sur Diderot. Gentbra , 1959, p. .
49 .
testemunha da Hist ó ria" In ; C« frYhtct 5. Aufl., Zurique, 1750, p. 88.
ill
108 109
t -
m; : -
Hsiôsu.
m te - PcNSAM ÊHlO K15TÓ&CO NO íMCO DA lOADt MoC**í tA

-
'

K
m pa a delinear a essência c a tarefa da escrita da Historia de uma lil para enquadrá-la num tipo de sistema” .222 E aquilo que aqui é des-
m^
-

i mmí- a
|
: maneira geral, irias, aó mesmo tempo, t ão concisa quanto possível.
| ÍÍPf Ímeim:pfessupost6 Í nquestionado foi que a História não era prati -
iS m
i# lp
* crito como decorrente do mé todo, ou até só da did á tica , Gatterer
atribui , alguns anos depois, à pró pria coisa: “ A rigor, existe apenas
«s
• ?
mesilla ^ coisa que somente o Historicismo, mais tarde, uma Historie, a História dos povos, e esta é a verdadeira e efetiva
iililü^
|j
pédé pleitear -;mas para um fim. Queria se obter algum ganho
í cõm ela , e imaginava-se encontrá-lo no fato de que ela ensinaria e . : História universal; uma obra que ainda não foi escrita” . Ele pode.
afirmar que “ a História ... deve ser toda ela uma interconexão” , e
8P mmS tornaria aplicáveis as experiências dos outros. A maior dificuldade
ii - - se encontrava na pesquisa e na representa çã o da verdade , e um mm
mm manifestar o desejo de que “ o mais alto grau de pragmatismo na
Hist ó ria seria a ideia da interconexã o geral das coisas no mundo
I objetivo que ia além do$ citados estava na memória, que a escrita
Hp ;
( nexus mum universalis). Pois nenhum acontecimento no mundo é,
i da História possibilitava reproduzir.
« m.
por assim dizer, insular” .223
I A mudança do conceito de “ História” pode ser
utiliza çã o e na interpretaçã o dos topoi. Restringimo nos
verificada na ¿
b) Magistm vitaes capacidade de ensinar e utilidade. Só
::í - aqui a agora “ a História” pode ensinar, comprovar ou exigir, e a mais
esquematizar essa mudan ç a , alé m dos temas capacidade de
verdade e memória.
ensinar, 1 Ü «
Ui
recortada parte do topos ciceroniano -“ historia magistra vitae” y que
serviu de epígrafe para as disputas seculares em torno da capaci -
j citada
a) Das “ Historien” para a “ Geschichte Nenhuma

com tanta frequ ê ncia na bibliografia histórica quanto a
louvaçã o de Cícero sobre as cinco utilidades da Historie
. frase é

para o
-[ dade de ensinar e de servir de exemplo, da experiência histórica,
e cuja dissolu çã o pode ser interpretada pela teoria histó rica
essa parte agora é parafraseada da seguinte forma: “ A História é
224

retórico: “ Historia vero testis tempomn, lux veritatis, vita


memoriae,
Sf
mP a mais confiável mestra da moral ” .225 Essa fixação daquilo que é
magistm vitae, nuntia vetustatis , qua voce alia nisi oratoris Vp: p
commendaiur 220 No alem ã o do final do século XVI , a primeira
immorUilitati :m 0 historicamente possível ensinar à moral identifica uma tend ência
'

W‘ 0 importante, mas nã o é representativa do todo. Na década de 1730,


#

®

'

metade (em geral citada sozinha) diz assim: Historien sao


“ um tes- ;
:S

fv
• Schmauss classificou a Historie num sentido polêmico, contra seu
temunho dos tempos, / uma luz da verdade, / a vida da memória, abuso edificante - como “ uma escola dos servos do Estado” ,226 e
/ uma indicaçã o da antiga forma de ser, / e mestra e

tura correta do texto, e, ao mesmo tempo, a concepção



educadora da
vida humana” .221 E, nesse caso, o plural “ Historien indica uma
lei - «
; !I
111
quase um século antes , encontramos a seguinte feliz formula çã o:
“ E a vida política nao sobrevive sem Historien” 227 .
dominante As diferentes tradu ções indicam , que nao só o conceito de
de História no início da Era Moderna , isto é, que são os relatos de “ Histó ria” havia mudado, mas também o de vida , e o daquilo que
acontecimentos individuais que trazem esse benefício. A unidade •
- m &í‘ i
da Hist ó ria e sua tradição, formulada bastante cedo, como v:!
vimos, $
s ó se torna palpável, na ciência histórica da
Alemanha, a partir dos
ui .
p ÇfTTER , Johann Stephan . Gnuufriss der StdflUVC(iiuÍ emngen des Tcuischen ReUhs 2 . Au íi.,
Gtfuingen, 1755 ( Vorrede 2 ur 1. Auflage, 1752), p. V.
anos 1750. Assim, Piitter refere, em 1752: “ Fiz um grande
para enquadrar a História em certo nexo, de um modo adequado
esforço II IlJ
GATTERER , Johann Christoph. Vom histoflschen Plan und der darauf sí ch gr í indenden
Zusamrnen í ugung der Entahlung . In: GATTERER . Bistoiisehe Bibliothek (vol . 1) , 1767. p.
para apresentação em aulas acadêmicas, e, não sei se posso 25, 26. 28, 85.
dizer, ,í 4 KOSELLECK , Reinhatt . Historia magistra viue . In: BRAUN, Hermann ; RIEDEL, Manfred
Mv (eds .). NaUtr tind Genhichie . Festschrift ftir Karl L õwith . Stuttgart , 1967, p. 196 c segs .

CICERO. De oratore , 2, 36; cf. 3, 51.
FORBERGER , Gcorg (tradutor). Prancisà Gui« fordlni CnVi âiikhc utntd mhrhaffil
&t btxhaibiwg
mk
:m
m ADELUNG (vol . 2), 1775, p. 601.
m JohannJakob Schmauss, num parecersobre a funda çã o da Universidade de Gottingen , citado por
- -
SELLE , Gdu v. Die Gecig Augiist UTTIMRSLIHTZH GfttiHgen / 737- /537- Gottingen, 1937, p. 21 e seg
.
allerjünsemeti historiem Basileia, 1574 ( Dedikaúon), p. 2V.
227
GARZONI , Thomas. Piazza univeisali Frankfurt, 1641» p. 408.
,

no
Ml
Ill
iI
-A-Ç:!-

!feo
:\ O CONCITO DH Htft órJA

fm
PíNSA/ZíMO wsiôfcco NO OA IDADE MOOESMA

era ensin á vel ou digno de ser ensinado. No pr óprio Cícero, “ ma


-
'

SPK em situa ções semelhantes, deva voltar a ser aplicado. Assim, Patrizi
^ v:
gistra vitae” não é uma distinção exclusiva da Historia - em outro mi?
lugar se atribui o mesmo à Filosofia. 228 Mas a Historia conquista , |
¡ lü
| pode sugerir que, ao contrá rio do surgimento do Estado e da ma-
i dessa forma , um lugar dentro da Retórica, e isso significa , para a | :; Ê 1: È S
¡
Wm I
nutenção da dominação, se relate apenas resumidamente, ou nem se
relate, sua decadência , já que n ã o se consegue derivar daí nenhum
i-
íu
Antiguidade e para as rep ú blicas do Renascimento, que, ao lado
'

ensinamento para a felicidade do Estado (aWaltruifelictà civile).2** E


?|í
V* -
I
da Estrategia e da Economia, as três possuem a capacidade, junto
com a É tica , de estar subordinadas à Ciência Polí tica 229 Por causa .
" - IE aqui que o interesse do tempo de Montesquieu e de Gibbon sofrerá
um deslocamento significativo. E já os poli-historiadores do século
de sua abund â ncia de exemplos, a Historie fornece a parte empí rica XVII n ã o querem mais transformar conhecimento histórico em
?í , C
i
viva da Filosofia moral, menos para os historiadores que para o
ensino, complementando a parte dogmática. Sé neca reduziu a coisa HI a çã o (como propunham Baudouin, Patrizi e Bodin), mas enxergam
o objetivo da Historie no fato de que os acontecimentos se tornem
à curta , mas muito citada, fórmula: “ longum iter est per praecepta , conhecidos ( ut sciantur).23*
.1 - •

n
:

'i ?
.
breve et efficax per exempla" 2 Aquilo que aqui recebe uma funda-
menta ção did á tica , porém , nã o deve ser generalizado; o próprio mm É por esse caminho que vai $e preparando lentamente uma
transforma ção na compreensão daquilo que é ensin á vel na Histó-
Séneca alerta contra o recurso irracional a exemplos: ‘‘Inter casttas ria. Má ximas para a açã o eia nao pode mais fornecer, depois das
tttalomm nostromm est , quod vivimos ad exempla ; »ec raiione componimur, experiências vividas com a Revoluçã o Francesa. “ Mas aquilo que
sed consuetudine adducimur\2 M Contra o cientificismo que acredita a experiê ncia e a Histó ria ensinam é que povos e governos nun-
m mm
em exemplos , Roger Bacon ainda - ou já pode se servir dessa
arma.222 De maneira geral, talvez seja Sir Philip Sidney quem, na
- mm i
mm ca aprenderam algo a partir da História* * é o que Hegel pode
constatar. “ Aquilo que, na História , tem alguma serventia para a

.V# Att;
Idade Moderna , contesta , pela primeira vez, o valor de exemplos forma çã o está na atividade do Espí rito, no reconhecimento da-
M9
históricos: “ The Historian wanting the precept , is so tyed not do what
shoulde bee, but to what is, to the particular truth of things , and not to the
, -1 quilo ... que ele é: esse processo de auxiliar o Espí rito a chegar a
ele pró prio, a seus conceitos, isto é História” .236 Continuidade na
general reason of things , that hys exemple draweth no necessary consequence ,
and therefore a lesse fruitful doctrine” 2 .
i *m - conscientiza çao histórica do espí rito é a Historie como “ História
compreendida” .237 “ Com isso, també m a frase ' Historia magistra vitae'
adquire um sentido superior, mas ao mesmo tempo mais modesto.
m:mw Iu
Por essa época , os teóricos da Hist ória do final do século XVI
haviam desenvolvido critérios que iam além da utilidade expressa no i
Através da experiência, queremos nos munir de prudê ncia ( para uma
topos de Cícero. Mas aquilo que se mantém é a conclusã o possível outra vez) , mas de sabedoria ( para sempre) ” .238 Dessa forma , Jacob
Mm Burckhardt tenta resolver a contenda , mas mesmo assim , economia
de que é um direito do historiador fazer um julgamento sobre seu , -m.
W
\- -&= pol í tica e sociologia tentarão prever transformações estruturais a
objeto, partindo do passado em dire çã o ao futuro, e se mant é m ffn V:
!

igualmente o pressuposto óbvio de que o conhecimento do passado, 11 >•


partir da an á lise de acontecimentos históricos, e, assim , fundamentar
.
: :'Pv KV:
m CICERO. Tuswlanat disputai fones Nicomachea ahita , 2 , 16; cf. 2 , 49; 5, 5, PATRIZI , Della ftisloria died diabghi (cf. nota 179), p. 34w.
m ARISTOTELES. Niiomuhw critica , 1094 b. II 3JX
.
Típico para o CíSO é VOSS Gerhard. Ars ( ustótka (1623); 2. c <L, Lcidcu, 1653, p. 15.
Hegel. In: HOFFMEISTERJohmnei (Ed .). Die Vtrmtft In ditGeuhlthte. 5. Áuff . Hamburgo,
sw SENECA . Eptstaiae ,
.
6 5, mm . .
1955, p, 19 183, 72; cf. Droyscn. In: H ÜÍ3 NER , Rudolf (ed .). Hhtorik 4. Au íl., Darmstadt ,
SENECA , Bphtuke , Í 23, 6. .
3 )1
.
BACON , Roger. Opus ter / turn Londres, 1859, c. 22, p. 72 (ditado por J. S, Brewer). w. m 1960, p 353 e segj.
u > HEGEL. Phanomenoíogie dcjGebtes. In:Samtliche Werke (vol. 2), 1964, p. 620,
ÍU
.
SIDNEY, Sir Phjlip. An apologie for pocirie Londres , 1595; reimpresso em Anucerd & ni / Ncvv

Mi !;v:
York , 1971, D 3'.
mJacob Burckhardt. In: OERI , Jacon ( Ed .), WtlfysehUhtlUhe B( ( radU\iH£en. 2. Aufi., Berlim /
Stuttgart, 1910, p. 9.
N. -
I-
112 Jí & 1 )3
mm m
íífc -
•• vi .
.
7:
*

m
lv

O CONCITO DE Hi$ró&< VW : .
PINSAMí NTO HJSTôSKO NO I 'OO OA IOAPI MootP.hA
^
científicamente ações possíveis. E praticamente nenhum dos his
toriadores mais importantes do século XIX resistiu à tenta ção de
- íj daí o “ espelho criador” , que Fausto exige de Mefisto;246 e com essa
imagem Friedrich Meinecke pensava dever caracterizar o Histo-
atuar, ao menos por algum tempo, na política , e assim prestar ao
ricismo como a evoca çã o do passado praticada por ela mesma . 247
topos aJgum tributo em sentido passado . Mas, em meio à preocupaçã o em torno da inevit á vel intromissão da
c) Lux veritatis, verdade e reprodutibilidade. De uma ma
- individualidade do historiador, també m h á que distinguir atitudes
neira geral, o historiador moderno se dedica sobretudo ao presente,
enquanto o antigo trabalha em especial para o mundo posterior
e sua utilidade ou seu conhecimento.239 Com isso,
a busca por
mm contrárias. A fé de Ranke na objetividade de uma “ História mundial
ainda desconhecida” ,248 que primeiro deveria ser descoberta , era
t ão forte que só a contragosto aceitou a expressão provavelmente
objetividade se desloca. A pergunta de Cícero se n ã o seria óbvio
utilizada pela primeira vez por Goethe em meio à consciê ncia de um
para o historiador “ ne quid falsi dicere audeafí deinde ne quid
attdeaÜ 2 A0 é muito formal para que a segunda parte n ão motivasse
veri non m
y*sM M “ tempo progressivo” de que “ a História mundial [Weltgeschiehté], de
tempos em tempos, deveria ser reescrita ” .249 Ele ansiava por tomar,
uma cr ítica fundamentada.241 Mas a exigência pela verdade faz
,

Mm
que Luciano elaborasse o ideal de um historiador tão imparcial
não consegue ser socialmente localizado em lugar algum:
estranho, se encontra só nos livros, não se sente em casa em ne-
com
que
“ como
m “ através de uma visã o baseada em simpatia , uma co ciência do
universo” 250: “ gostaria de, por assim dizer, apagar o meu próprio
eu , e deixar aparecer apenas as coisas , as forças poderosas” .251 Em
-

3111 contrapartida , Jacob Burckhardt diz , em vista da “ cegueira de nossos


nhuma cidade, est á comprometido unicamente com sua pró pria
lei, e com nenhum senhor, não avalia as opiniões deste ou
daquele, as desejos” frente ao futuro: “ Se pud é ssemos abrir mao por completo
de nossa individualidade e encarar a História do tempo que vem
mas apenas constata fatos” .242 Para isso , se prestava a met á
espelho,243 que se manté m como um topos permanente, na qual
fora do mm com tanta tranquilidade e intranquilidade quanto ... o espet á culo
a da natureza então talvez viveiteraríamos, de forma consciente,
epistemolog ía se transforma na imagem do espelho vivo, em que : m mm um dos maiores capítulos da História do espí rito” . E diante das
primeiro se interpreta Deus ( uspeculum aeternitatis vivum quod
> est profundas transforma ções - sem temer ou depositar esperança
forma formarum” )Ui e depois o homem em seu posicionamento
frente ao mundo: “ et in quocunque loco cuneta mundi statueris entia:
: devido à importâ ncia do objeto, fica-se praticamente obrigado a
in 7 buscar apenas “ conhecimento” .252
eius opposite abs te collocandus et recipiendus est homoí utsit universonm Mais subjetividade se encontra na comparaçã o com o dese-
speculum” .245 No circuito nebuloso de concepções m ágicas, m3 nho, a pintura, o tableau. Nas discussões esté ticas do século XVIII,

. .
.
MOMIGLl ANO, Arnaldo Tradition and the classical historian
297 c segs , em especial p 291, 1972 .
surge

. .
History and Theory* « 11, p.
m
i
existe uma preferência por explicar a peculiaridade da literatura

mm .
240

M
CICERO, De crotore 2, 62 ,
VOLTAIRB. Verbete “ HistoriogrAphc". In; Oeuvres coniplètcs (i. 19 .
.
) Í 879, p. 372
m
MM M
.
em LBIBNIZ , Nouveaux essais sur Tentendcmcm humain In: GERHARDT, C . J . (Ed .).
.
Philwphistht Sdnjftcn (vol , 5) Berlim , 1882, 2, 21, § 72 , p. 196.
542 LUKIAN, Qtiont
õdo historio consmbcnda sit, 41, 1: Çé çé
“ vo v toTç fitfiXiQiç* Kai faoXiç, aóxówjioç,
ó ftaaiXcuwç, oú rí r 3<5c, / / x§ôe õóÇCf , Àoyi{ópew ç, á )JA rircisrpaxteuXeyeav 1
mM “
2 GOETHE
. Fault 1» Paraltpomcnon n . 11. ta: lVebtuiret Ausgabe (vol. 14), 1887, p. 291.
w MEINECKE, Friedrich . Sthoffender Spiegel. Stuttgart , 1948, p. 7.
< ' [na tradu çã o dejacyntko
-
Lins Brand ã o, Ic se: “ estrangeiro nos livros e apá trida , aut ónomo,
sem rei, n ã o so preocupando
'
M '
' w Leopold von Ranke, em carta a Heinrich Ritter , de 22 de março de 1828 In: . SdmtIUhe WetUe
com o quo adiará este ou aquele, mas doendo o que so passou LUCIANO . " ..
(vol. 53/ 54). 2‘c 3* eds 1890, p. 195 .
.
Como se deve atrever a história Belo Horizonte: Tessitura ,
-
DE SAMÓSATA.
2009, p. 71 nota de Sé rgio da Mata } . mm m M
GOETHE . Ge 5chichte der Parben íehre, 4* se çí o, século XVI , Baco von Veiulam (1810). In :
.
242 Ibid , ,
51 1. ® iI . .
Die Sehtifien zur NaUirwbsenstUaJt (vol 6/1). Weimar, 1957, p 149.
244
24 í
.
KUES, Nikolaus von De visiono Dei . In: Optra (t. 1). Paris, 1514, p
.
BOVILLUS, Carolus. Liber desapunte Par ü /Amiens, 1510, reimpresso
. 1077,
in: CASSIRER , Ernst.
m m! 250

.
.
RANKE. TagebuchblStccr In : S ânitlidic JVctkt (vol. 53/54 ), p, 569 cseg
.
RANKE Engtische Geschichte. In: Samtluhe IVerke (vol 15), 1870, p. 103.
.
.
htdividmim und Kostnos lit tier Renaissance 3. Aufl., Darmstadt ,
. .
1969, p 353; cf “ miroir vivant" :&-$ zb

B 251

252
.
BURKHARDT, iYdfgeschitlicke Brlnuhtungen , p 273 e seg.
\v k& :

*¡H
114 p ®;
® ®VÁ
•y 115
mb
I
, m\c:

iVV
Jm;
r

fe
O coseno ex H>STó?íA.
w
tea
PtNSAMÍNTO HISTÔFKO HO INÍOO DA lOACE MODfftHA

mediante recurso à pintura , isso mesmo depois que Lessing no


seu Laokoon - havia postulado, em 1766 , a incomparabilidade
- as ‘revolutiones, eventus return' pode-se ver ali °.257 Isso indica para
Jí f uma espacializa çao, que tamb é m se encontra na ciência natural ,
& através das categorias temporais de sucess ã o e simultaneidade. onde se deve estudar dentro de um bem ~ montado “ cabinet dfhisoire
i>8 Ramler, na tradu çã o de Batteux, parte do pressuposto de que
tanto Lebrun quanto Curdo Rufo tenham ‘'pintado0 as batalhas ft r
-
mturelk ° o “ systéme de la nature eUe méme” ? -
Com a representa çã o pictórica, liga-se a imagem da “ verdade

-¡ i
de Alexandre: “ Este com sinais arbitrá rios e inventados, isto é,
com tintas e pinceladas; aquele com sinais naturais e imitativos, ¿Í
nua n ã o enfeitada0259 que o historiador deve tentar atingir, mas ao
,
lado tamb ém est á a concepção corrente na Antiguidade de uní a
isto é, com palavras. Se eles se mantiveram fiéis à verdade, ambos verdade s ó gradativamente desvendada no decorrer do tempo
sã o autores de Historien* \ E de forma muito vaga, pode-se falar
m mm í asfilia tetnporis” .2* 0 Met á foras ó pticas e espacializa çao
1: í
Ü “ da pintura geral do gênero humano” .253 Bodmer, na comparação m
Mm mr -
(chronos): “ vert
levam Comenitis a elaborar uma caricatura dos historiadores, na
entre acontecimentos histó ricos e ficcionais, atribui aos primeiros qual eles estariam olhando “ com um tipo de trombones retorci-
:

[
a vantagem “ de que sao pintados exatamente de acordo com a
natureza , e são menos enganosos0.254 O uso das palavras sugere
Afts
mm
dos ... por sobre os ombros, olhando para trás” situa çã o em que
cada um enxerga um quadro diferente, motivado pela perspectiva
que o car á ter de alguém seja pintado, que se forneça um quadro de i retorcida (= binó culos).261 Enfocado de forma positiva , na tradi-
;
!
uma personalidade hist órica . Saint-Evremond enxerga a vantagem
r I :
ção da doutrina das monadas de Leibniz , Chiadenius $ó consegue
r
dos historiadores romanos sobre os posteriores nessa arte, no fato -Siflf
rp a® ¿ enxergar a História através de determinados “ pontos de vista” , e
de que lá aqueles que escreviam a História també m participavam mmk m
represent á veis através de “ imagens rejuvenescidas0.262
mm
;
Por mais plausível que seja, essa comparação contradiz o fun -

dela, e que a carreira administrativa em Roma levava a um amplo


zm
• i
conhecimento dos homens, atravé s da religião, do comando do
exé rcito e da polí tica . Por isso, a “ grande délicatesse de discemement”
mm mm-
cionamento da memória humana , e exatamente também o efeito
: ! de exemplos históricos, que podem ser muito mais eficientes que
Mm fi
'

na “ peinture° de um Salú stio ou Tá cito: " C’ cst une certame difference, aqueles que são conhecidos por serem do tempo presente.263 As
dont chaqué vice ou chaqué verta est tnarqnée par ¡’ impression particuliè re Up ® metá foras óptico-espaciais s ã o substitu ídas por met á foras mecâ nicas
qu’elle prend dans les esprits ou elle se trouvé0255 Numa compara çã o «
m1 m e din â micas, das quais basta citar aqui o Tríebwerk der Begebenheiten
[motor dos acontecimentos] de Gatterer.264
panorâ mica, o cardeal de Retz pode conduzir seu leitor de uma
antessala insuficientemente iluminada - que contém o esbo ço dos
antecedentes da guerra civil - para a galeria dos quadros em tama- ,S7 GUNDUNG , Nicolaus Hieronimus . AusfiihrlUhtr nnd mit ¡Ilustren Bxmptln aus der Historie
nho natural.256 Mais geral é a concep ção de Gunling: “ A Historie utid Staaten Notiz eríauterter Diucurs tí berja. Franc, Buddei Phí fosophiae Practicas Part. III . Die
Politic . Frankfim /Leipzig , 1733 ( Prolegomena), p. 4.
é um gabinete onde $e pode ver tudo aquilo que aconteceu ; todas mm 2W
BOMARE , Valmontde . Dictionnairemsonnt universel d’ histoire tutiurelk (t . 5) . [Su íç a], 1780, p .
414; cf. p. 430.

í SJ
RAMLBR, Karl Wilhelm . Binkifung in die Schâtten Wiaenschafttn Nach dem Frauzosischen
*

des Herrn Batteux (vol . 4) . 4. Aufl . , Leipzig , 1774, p. 263 e seg. , 276 .
mm im. , 55 BODMER , Erz ahlungen . . . , p. 73.
'

2 </> CF. nota 196; PANOFSKY, Erwin . Studies in iconofogy (


e
York , 1972, p. 691 segs .
1939) (cap. 3: “ Bather time*'). New
VA BODMER ,
Johann Jacob. Hisrorisdte EtzSlilungen, die Deokungsart und Sitten ebr Alten
2 U entdecken (1769). In: ERNST, Fritz (JEd .) . Sch tifien. FrauenfeId / Zutique, 1938 , p. 73.
II 2 il
COMENfUS, Johann Amos. Das Labyrinth dtr Welt und das Paradles des Httzens (1631). Jena ,
ÍU
SA Í NT- É VREMOND, Discours sur Ies historien Fran çois. In: Oeuvres (t . 3) . Amsterdam ,
*
M|
am
; ; 1908 , p. 107 [traduzido do tcheco por Ztjenko Baudnick].
CHLADBN 1US , Johann Martin. BlnUUnng 2air rUhtigen AusUgung verniinftiger Reden und
1726, p. 219, 223. Sebifuti . Leipzig , 1742; reimpresso eni Dü sseldorf, 1969, §§ 309, 353.
au CARDINAL DE RETZ . Mémoires . In: ALLEM ,
1956 , p. 152 .
Maurice; THOMAS , Edith ( Eds .). Paris,
1!
m
rm v v
|
CARDINAL DE RETZ . M émoires, p. 161.
m GATTfiRER , Vom historischen Plan .. . (cf . nota 223) , p. 68.

•• •

116 117
mm
:
V - P7 .;
•• • 1

.. O ÇONCÍITO DE H íSTÔttA
i:, ; Xi W : : '•
J
d) Vita memoriae, lembrança do n â o passado. Se as metá fo- V

ill
ras pticas estão relacionadas com a etimologia correta da ioropía
ó
grega , que deriva de oída, ía/ tev (“ eu sei ” , aparentado com “ video ) ,
as met á foras din á micas estao relacionadas à etimologia de Plat ão,
” A configuração do moderno
pintada em tons irónicos.265 A transição de urna forma de concep
- wm mm conceito de História
çã o para outra est á esclarecida em Besold: “ Est vita memoriae, quia ,
quae priscis novique secutis acdderunt , facile e momoria excidere solent.
Reinhart Koselleck
Proinde memoria sahtiare quase remedium snae infirmitatis et mconstantiae • .•
ex Historia haurlt: et veluti reviviscit, cum in illa tanquam in ampl í ssimo )
flpi
aliquo theatre et specula tersissimo nitidissmique, praeteritorum temporum
acta contemplatur, Unde Historiam à nò TOO ioxácdai xt ) v zfjç pvfjpt ç : \
¡)i)otv Platonem derivasse qjunt, quod memoriam labilem ac varilian tem} , S
:

1 . O percurso histórico do termo


)
ceu perennem jitmum, sistat” 266 . il I y

É nesse deter e segurar a memória queja se pode compreen


- Í¡gf|s Quando hoje se fala de “ Hist ória ” , estamos diante de uma ex-
der a intenção de Tucídides de criar, para além da utilidade e do =.3m M; :. .
: pressão cujo significado e cujo conteúdo só se consolidou no último
prazer, uma “ posse para sempre” “ Kxijpa ze èç ale ) .267 Faz parte terço do sé culo XVIII. “ A História” é um conceito moderno que
” M i¡ si
da teoria do conhecimento da Era Moderna afastar-se da teor
da reprodução e encarar aquilo que é reconhecido como urna
ía ¡ mm - apesar de resultar da evolu çã o continuada de antigos significados
da palavra na prá tica , corresponde a uma configura ção nova .
construção, como produto criado pelo espirito que reconhece . No Naquilo que tange à História do termo, o conceito se cristaliza a
conhecimento histórico, essa visão deve ser atribuída primeiro a partir de dois processos de longa duração, que no final v ão confluir
Vico , e depois sobretudo a Hegel e a Humboldt. Conseguir que
Mi
ela também $e impusesse na pesquisa histórica, esse foi o esforço
: e, assim , desbravar um campo de experiência que antes nã o podia
ser formulado. Por um lado, trata-se da criação do coletivo sin-
apaixonado de Droysen. “ Não um quadro do acontecido, mas gular, que reú ne a soma das hist órias individuais em um conceito
aquilo que do passado... ainda é n ão passado” constitui o objeto da comum. Por outro lado, trata-se da fusão de “ História” (como
pesquisa que deve ser obtido através do processo da compreensão. E
“ o fato pesquisado encontra -se numa relação com as condições em
vm i -/
Sm tmr
- conjunto de acontecimentos) e “ Historie” (como conhecimento,
narrativa e ciência hist óricos).
que ele se insere, seu contraponto, sua crítica e seu julgamento” . 266 a) O surgimento do singular coletivo. A configuraçã o fe-
sm
minina no alem ão antigo “ gisciht” e no alem ão medieval “ geschiht ”
as

(ao lado de “ sdhl” ou “ schiht” ) deriva do alem ão arcaico “ scehan*\
verbo que deu origem a “ geschehen” [acontecer] e significa “ acon-
' ::Pm tecimento, acaso, processo” ; e no alem ã o medieval, significa ainda:
M '
“ aquilo que faz parte de uma coisa , característica, modo” [Weise] ,
2W
. .
FRISK , Hjalmar, Gtiethisdies elymcloglaha IVòrtabuth (vol 1) Heidelberg , I , ,
.
2 ) 1970, p 357; PLATON. Knttylos , 437 b.
960 p 7*10; (voK mm
mm e, de forma mais geral: “ essência [Wesen] , coisa” ; e ainda , sobretu -
246
Ü ESOLD, edição de 1697, p 394. . do no alem ã o do in ício da Era Moderna : “ acontecimento , coisa”
w THUKYDIDES, t 22. . WM [Sache] , mas também “ aquilo que acontece a partir de alguém,
.
DROYSEN Histotik (c (. nota 236), p. 316, 20 c seg., 166.
m
íft
i ato, obra” , além disso: “ uma sequência de acontecimentos , acaso,
mm Um
¡i
.

118
a 119
O CCNCMO DC HsJÔítA
1
A CONnGOMÇÂO DO MOD5WO CONCHO D 2 HtfTÓSlN
i '

k
designio **; e, finalmente, no alemão do inicio da
í]
definindo gradativamente o â mbito humano do fazer e do padecer
Era Moderna ,
como “ historie” : “ narrativa daquilo que aconteceu **. Com isso,
foi se
;
Ü
mi m
Em 1775, Adelung registra os dois empregos paralelos:; “ À; V: -:
História , plur[al] et nominativo] singular]... Aquilo que aconte ; V:
ceu , uma coisa acontecida , tanto em sentido mais amplo, qualquer . V
^ ‘

a expressão podia substituir pragma ( a , res gestae, gesta


, fada , accidens> \Éf|Kl mudança , tanto ativa quanto passiva , que acontece a uma coisa” ; .
casus, eventus, fortuna, e outros equivalentes. Em torno do TM ftk
ano 1300, : mm te :; Em sentido “ mais restrito e mais usual **, a palavra visa a “ diversas: -
veio se juntar à forma neutra “ daz geschichte” , que foi se
e ainda constitui a forma usual em Lucero, corn
difundindo isis wm*
:“ 8v VI .: mudanças interligadas , as quais, tomadas em conjunto , perfazem
“ acontecimento, classifica ção, ordem **.269
os significados de; mm m
,

um todo... E exatamente nessa compreensão, ela se encontra , muitas


A partir da í, “ die Geschichte” [“ a História**] (ao lado de m vezes, de fornia coletiva e sem plural, para vá rios episódios acon -
isp m tecidos, de uma mesma espécie’*.274
Geschicht” , e, desde o século XV, “ die Geschkhten” [“ as Hist “ * *
die
m
foi, até pleno século XVIII, uma forma plural, que designava
de histó rias individuais. “ A Histó ria são* * - lê se em
órias ])
a soma
mm
Sik
í:
Quando Adelung se deu conta do novo coletivo singular ,
acabou definindo também sua função, qual seja , a de unificar
- Jablonski ,270 em
11: fe um série de acontecimentos em um todo inter-relacionado. A
-
1748 “ um espelho das virtudes e dos v ícios através da qual
se pode
11 18 “ Histó ria ** recebeu um significado que ultrapassava os diagnós -
aprender, a partir da experiência alheia, aquilo que se pode
se deve deixai de fazer; elas sã o um monumento tanto das
*

quanto das louváveis**. Da mesma forma, Baumgarten


fazer ou
m ás ações » «m
- SM1
ticos e os fatos individuais, como a Historie ihiminista gostava de
destacar. Assim , em 1765, Carl Friedrich Flõgel escreveu uma
define, em 1744, 0â Geschichte des menschlichen Verstandes [História da razão huma -
na velha tradiçã o271: “ A História sã o, sem d ú vida , a
parte mais educativa na], na qual examinava as causas “ que a levavam a evoluir e a se
e ú til, o mais engraçado da erudição**. E inclusive Willi
Herder utilizou , aperfeiçoar” .275 Em termos modernos, se diria que se tratava de um
eventualmente, “ a História” no seu significado aditivo, plural.272
Do ponto de vista gramatical, a velha forma plural “ a Histó * m mí ;® -
esboço antropológico e social histórico, que pretendia explicar o
ria’ surgimento do homem racional. Que tais processos e sua an á lise
podia agora ser lida também como feminino singular. Mas do WB fossem chamados de “ Histó ria** soou estranho, no in ício. Ainda
vista conceituai, é possível reconhecer um ato consciente
ponto de
na migração
m
mm em 1778, um resenhista criticava: “ A palavra ‘História *, que está
do vocábulo “ a História * * do plural para o singular. Essa
migração, na moda , constitui um abuso formal da linguagem , já que na obra
porém, começou apenas na segunda metade do século XVIII a
(de Flõgel), no m á ximo, aparecem narrativas nos exemplos* *. O
276
de um grande n ú mero de escritos histórico-teó ricos. E
é o coletivo singular que designa a soma das Histórias
, partir
desde ent ão, Hl significado narrativo ou exemplar da palavra , que fora dominante
individuais até então, e se referia a histórias individuais, foi perdendo espa ço.
como “ essência de tudo aquilo que aconteceu no mundo* * (
Grimm).275 111 £
® V; :
O novo slogan expresso pela palavra “ História” identificava um
grau de abstração mais elevado, que podia caracterizar unidades
.
'
fS % sobrepostas de movimento histórico.
.
GRIMM , vol. 4/1,2 1897, p. 38S7 c seg .; cf. BENECKE; Ü

2>i
2/ 2), 1864, p. 115 e segs . *
JABLONSKI 2. ed., vol. 1, 1748, p. 3S6. 2. Aufl.
,
M LLER; ZARNCKB ( vot .

Tradu çã o da Hislotie gerai do mundo, cm alem à o por Sicgrmmd


as a. -
•.• ; :;1
“ A Hist ó ria ” tinha uma complexidade maior que aquela das
histórias individuais com que se lidava até ent ã o. O conceito subja-
1) , Halle, 1744, p. 59 ( Vorrede); cf. GEIGER , Paul E.
.
Jacob Baumgarten (vol.
Dos Wort MGe$thUh( tn nud stint
j 11 cente à “ palavra da moda ” pretendia apreender essa complexidade
3,2
Zusammenseizung. Freiburg 1908, p. 16 (tese de doutorado).
HERDER. Ü bcr die nettere Deutsche Literatur (1767/68). í n: Sdmtlichc Woke (
vol. 1). 1S77,
llffi
•S!8 í :
p. 262.
37J
...
Cf. GEIGER , Dos Won "CíIíWWIíí" 9; GRIMM, vol 4 ,
MM M< ADELUNG , vol . 2, 1775, p. 600 e seg.
.
. /1 2, p 3863 e seg; cf. HENNIG , FL ÕGEL, Carl Friedrich. Ctschhhie des menschlichen Verstandes. Brcíhu , 1765 ( Vorrede).
Johannes. Die Geschichte des Wortos "Geschichte*1. Deutsche Vitrteljahrcsschrifl ¡ir m Resenha da 3* edi çã o (1776) da obra citada na nota 275. Allgemeltie deutsche Bibifolhek , n. 34 ,
,
Uteraturtvhsensckafi und GtiitesgeschtchU n . 16, 1938, p. 511 esegs. / 8:
1778, p. 473.

120
mf &
121
Ifl
-
fl- #®Ksg- .; 5íc; mo: uma realidade genuí na. Com
óSA.
O CONCtTO Di HSt

ftp®
:
i
A cosf :GU*AçAO OQ uoozmo cotKino ot BSI6*«A

r
i .::- :: :
' '
£I}
• '
ó isso , se explorava uma nova “ Uma série de acontecimentos é chamada uma História” ,
-
experiência de mundo exatamente a da Hist ó ria. Um
ind ício define Chaldenius, em 1752.280 Mas “ a palavra ‘sé rie' aqui nã o sig -
seguro para isso são as vá rias formas de qualificação
: “ História em l- f nifica ... apenas uma multiplicidade ou grande nú mero; mas mostra
si e para si ” [Geschichte an undfiirsich], “ Hist ó ria em
I si ” [Geschichte também as relações entre eles, e mostra que eles formam um con -
ansich) , [a] “ própria História” [Geschichte selbst] , ou Hist
“ ó ria como iÍ iÉ»S junto”. Essa visão de conjunto - que, em geral, era pragmaticamente
.
tal ” [Geschichte iiberhaupt ] At é ent ã o, fora impossí vel
interpretado como um emaranhado de causas e efeitos - colocou-se
termo sem um sujeito - “ história” se referia a Carlos
imaginar o
Magno, à life
[ num n ível mais elevado que os simples acontecimentos e episódios.
I Fran ç a , etc. Nas palavras de Chaldenius: “ Os acontecime
portanto, també m a História, são mudan ças. Eles,
ntos, e,
poré m , pressu -
V —
“ É a grande História” como disse Planck , em 1781 que, “ como
uma planta trepadeira , perpassa muitas histórias pequenas” .281
-
põem um sujeito, uma essência duradoura ou uma
Ou ent ão, uma história - como narrativa visava
subst â ncia” .277

a um objeto
\ Para a Hist ória do conceito, foi decisivo que a quest ão dos
efeitos nã o foi interpretada apenas como uma constru ção racional
que fazia parte dela . Isso mudou tão logo os
historiadores ilumi-
nistas começaram a tentar apreender a “ Hist ó ria em si . A
” “ his-
mm
d - é sobre isso que trata a próxima se çã o mas que ele tenha sido
reconhecido como um campo autónomo, que, na sua complexidade,
tória em si e para si” podia ser pensada sem
um sujeito que lhe orienta toda a experiência humana. A História sofreu uma alteração
fosse atribu ído. Comparada com a facticidade
das pessoas e dos wÊm lingu ística , que a transformou no seu pró prio objeto.
acontecimentos, a “ História em si ” constitu ía um metaconceit Em 1767, Iselin perguntou se não teria sido melhor chamar
j o.
j* E evidente que, no in ício, essa guinada se referia apenas •3- I : - •
sua Geschichte der Mcnschheit [História da humanidade] de Von
ao
â mbito dos acontecimentos, como Gundling o formulou dem Geiste der Geschichte [Sobre o espí rito da História]. Segundo
r , em 1734:
“ A Historie em si mesma , quatenus res gestas complectitur; não agu ele, esse t ítulo “ nao ficaria mal para expressar mais claramen-
diza o ju ízo” - o que incluiria a lógica hist ó rica.278 -
Ou , como o te a intenção e o conte ú do da obra” .282 Assim , Thomas Abbt
expressou Haussen, com a palavra alem ã: “ A História em
e diante íê Ií fala metaforicamente da “ majestade da História” , contra a qual
. -
de $i é uma série de acontecimentos, ela n ão possui
rais, e, por isso, nao pode ser encarada como ciência 279
princípios ge-
” . Mas não
Ǥ -
nã o se deveria pecar, aplicando lhe uma interpreta çã o Ou en
t ão ele pensa que “ a Hist ó ria se desenrola continuamente, sem
Ij
se ficou imobilizado nessa contraposi çã o racional cessar, a partir do ponto de que partiu ” , e que ela , como um
de um â mbito .
de acontecimentos, e o trabalho científico com eles. corpo da natureza , possui causas e consequências ordenadas,
reivindicação de uma realidade por parte da História cresceu t
A genu í na
ão
«I#

possuindo, por isso , sua própria “ velocidade” 285 Em analogia .
logo ela passou a abranger mais que a soma de todos com o “ teatro do mundo” , Hausen podia falar agora també m
acusação reiterada dos iluministas contra seus antecessores
os fatos uma - mil do “ teatro da Histó ria ” , que teria influ ê ncia sobre os cora ções
fora a de r
que estes se haviam restringido ã enumeraçã o dos fatos. humanos.284 E , quatro anos depois, em 1774, Herder, “ em meio
Mm
, CHLADENí US
m .
CHLADEN Í US Alfamtlae Gcsshichtsmswní haft .. p. 7. . k
i
( PLANCK , Gottlieb Jakob). Gesdiidue der Entslehung, der Verãndtntttgen und difBildung unseics
}
ni
Johann Martin. AUgemdne Gesehieluswisiettscha/t, war
í nnen der Grundzu einer
nenen Einstcht in alten A / ten der Gelahrtheit geleget ivird. Leipzig,
1752 , p. 11.
Vi . L: proKfMnthchw Lefobegrijfs (voi. 1). Leipzig, 1781, p. IV.
in
GUNDLING, Nicolaus Hieronymus. Akadmlschtt Diseouis iiber ISELIN, Isaak . Tagebuch ( Di á rio), em l 6 de mar ço dc 1767, citado por HOF, UJrich Im. Isaak
des Fnyherrn Samuel von I; .-v:
Iselin und die Deutsche Spdtaufklñrung. Bero /Mu ñ ique, 1967, p. 90.
••

Pufendorffs Blnleitung ztt der Historie der vontehmsten


ReUheund Sfaalen. Frankfurt , 1737, p. 2.
m HAUSEN, CariRenatus.
Rede von derTheorie tier Geschiehte. In. VennlsdUtSchilftert ADBT, Thomas. Brief, dieneuesteLittcratui beteífend , 12 , 1762, p. 259, 196 (carta); ABBT, Thomas.
*

1766, p. 131.
*
. Halle, I® Vom Vornagder Geschichte. In: Vennbchte IVerkc (vol. 6). Ftankfurt /Lcipzig, 1783, p. 124 c seg.
M i& 3íí .
HAUSEN, C. R. Van dem Eittfluss der Gesdiidue auf das mensdilidie Herz Halle , 1770, p S. .
122
m .
-
{-.iV
123
:m
O CCWCfeTO DÉ H STóííA mmm
:« $
A COHFKSlAAÇto DO MOOSÜfO GON&TO 0£ HfctÓPJÀ
•t : : .
*
‘MÈ "

a uma crise estranha do espí rito humano” - na qual se estaria desemboque na perfeiçã o, sem qualquer erro, pois "a História em

í
propôs "procurar o sumo e o cerne de toda História ” .205
Uma vez descoberta a História como autónoma e autoativa , a Is todos os tempos conseguiu vencer os mais obstinados equívocos” .289
Há motivos para enxergar nessa nova conceitualiza ção - que
ela passa a classificar sua pró pria representa çã o: "A classificação é a
própria História que nos fornece” .206 Mais, ela habilita o historiador
PiP
"
remete a História , como agenst a si mesma - a velada ou modificada
provid ê ncia divina, o que - naquilo que tange aos efeitos histó ri-
:-A
a esfriar “ a â nsia por heroísmo” , pró pria dos pr í ncipes, “ em especial Sp cos - est á correto. No sentido de uma História revelada por Deus,
.i
i
quando a própria História transforma os historiadores em filósofos” .287 : v Agostinho, por exemplo, havia constatado que as representa çõ es
.j Passo a passo, essa História também vai aumentando sua pretensão :i fc : históricas tratam de instituições humanas, mas que a própria His-
à verdade, a partir de seu genu í no e complexo conte údo realista. "A tória Ç * ipsa historia * ) nã o é uma instituição humana. Pois aquilo
9

isli
í própria História , quando vista em geral, nos d á a melhor indica ção »m que aconteceu e não pode ser revertido, isso faz parte da sequê ncia
das condições de todos os seres sensatos, morais e sociais” , escreve m dos tempos ("m ordine temporum habenda sunt” )% cujo fundador e
. i
Wegelin, em 1783. O Direito Natural e o Direito Internacional
Publico se baseiam nela , liberdade e moralidade n ão são viáveis sem P&
m- administrador seria Deus.290
Não h á d ú vida de que a historicidade de Jesus como fonte
ela. "E daí que surge o conceito do mundo moral, ou da relação :&k m empí rica da revela ção contribuiu em muito para dar ao conceito de
Histó ria uma pretensão enfá tica à verdade. "Pois o sacramento ou
'
fiV. )
: mm fit.v:-
v
entre todos os seres pensantes e ativos. Esse conceito geral não é outra
am ^PJp a História , e as palavras, / quando se fala do sacramento, / sã o duas
coisa que a expressão da História como tal ” .288 A fundamentação do
íluminismo histórico em uma História n ão mais derivada, mas na
m :
coisas diferentes” (Lutero).291 Hamann já utiliza o singular coletivo,
3 *»
“ História como tal ” , tinha se definido como conceito. * ,

quando definiu "a Hist ória , a natureza e a revela ção” como as trê s
A História se eleva a algo como uma ú ltima inst â ncia . Ela se fontes de conhecimento sensato, ou ainda mais, quando confronta a
mx -m
transforma em agente do destino humano ou do progresso social. Histó ria com o acontecido: "Sem autoridade, a verdade da Hist ória
(desaparece) junto com o pró prio acontecido” . Foi, sobretudo,
292
Nesse sentido, Adam Weishaupt - abstraindo conscientemente :
ü#
de acontecimentos individuais - escrevera sua Geschichte der Ver- com Herder, e, no campo su á bio, com os pietistas teológico -
voUkonwtrwtig des menschlichen Geschlechts (História do aperfeiçoa- -federais [ fõderaltheoíogische Pietisten)* que a moderna utilização
mento do gê nero humano]. "Esta foi uma Hist ória sem ano nem
;
nome” , registrou, com orgulho; "a História do surgimento e do ri>: n9 WEISHAUPT, Adam . Geschichte der Vewoltkomnntuitg des menschlUhen Geschlechts (vol. 1).

desenvolvimento de nossas paixões e de nossos instintos” , que , de HI Prankftm / Leipaig, 1788, p. 228 ,
n :,.. AUGUSTIN, De doctrina Christiana , 2, 28 (44), In: Cotpusehnsfiatusntm (vol. 32) , p. 63 (cf. nota 22) .
agora em diante, devem ser racionalmente controlados: “ Que agora • ..*& v* í>!
LUTHER , Vom Abendmahl Christi , Bekenntnís (1528). In: IVehnater Ausgabe (vol . 26), 1909 ,
se apresentem os atores e representem eles mesmos”. Mas a " própria p. 410. “ Dtnxt das sacramail addergescfticftt und die u'otl / so man vam sacrament redet / sind zweyahy\
mU ;> SM HAMANN ,
Johann Georg. Briefccincj VatersI (emtornode 1755). In: NADLER , Josef (Ed.).
Hist ória ” [Geschichte setbsí] continuará a cuidar para que tudo
Sã rmliche Werke (vol. 4). Vicna , 1952, p. 217; Golg 3 tha und Sclieblemini (1784). SamtlUhe
, .
We he (vol . 3), 19S1, p. 304; cf. Sdmtlhhe Wake (vol . 1) 1949, p. 9, 53, 303; SdwtIUhe Wake
-
(vol. 2), 1950 , p. 64.176 , 386 (“ Polemik gegeu den xharfslnnlgen Cldadinius polêmica contra
11

m HERDER . Audi eine Philosophie der Geschichte zur Bildung der Memdiheit (1774). la: o sagaz Chhdenius); Siimtliche Werke (vol . 3) , p. 311 , 382 .
.
Sãmitiâte Wtrkè (vol . 5). 1891 p. 589.
'

Mi O Piethmo foi um movimento religioso iniciado no s éculo XVI !, <iue pretendia fazer uma
“ Reforma da Reforma' , ao cuntrapor- se 5 ortodoxia reformista c aos seus excessos institucionais,
1

Still*
*** MOSHB1 M , Johann Loren* v. Gtschichte der Ktrchenvtjbtssemng im íechzehnten Jafohwidert
Leipzig , 1773, p. 4 (editado por Johann August Christoph von Binem). recuperando a import â ncia da subjetividade e da vivê ncia pessoal da religiosidade. A “ Teologia
federal ” entendia a “ História como a concretização da graça” divina , História <jue transcorreria em
,
(VOGT, Nikolaus) . Anzclge u/ le wir die Geschichte behandtlrt , benutztn und darstillen , .
we den cinco fases, a come ç ar na cr iaçà o narrada no Velho Testamento, deforma que a “ História divinase
Mainz, 1783, p. 19. VS; : O
transformaria em um d rama com sentido unitário” . JACOB, P. Fõderaltheologie. In: Ok Religion in
WEGELIN, Jakob. Btie/c ilbtt den We ,tlx àet Geschichte. Berlin , 1783 p 24 . .
, .
a Gwhtehí e und Gegemwrt { RGGj Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck) , 1957, col . 1520 (N. T) .
.

: I

124 125
ah
fev:vv=/ : v v.
• .
O CONCÍ TO De HtfíÓÍÍA
: :. ;
•' ' A COííF íGUSAçAO co MODMNO ectíarro oí H ¿$Tó& rA
¿
•tS -Yv -:
'
'
da palavra foi levada avante. A efetividade da Historia recebe
te '

con-
ügg te
“ como se nao fosse a cronologia que deve guiar se pela História , -
r
:¡f
i
sagraçã o própria através da encarna çã o de Cristo.293
escreve: “ Finalmente, chegou a hora em que se come a
Wizenmann
ç a tratar
;
mas, inversamente, a Historia pela cronologia” .297
Com isso, Kant definira que a Historia é mais que a soma
a História de Jesus não só como um livro
i!
com sentenças para a
dogmá tica , mas como alta Historia da humanidade. [... .
de confirmar muito mais a Filosofía a partir da Hist
] Gostaria
ó ria do que
site
l# v:
'
temporal de dados individuais, que, em última instancia, se ali-
nham num tempo natural. A revelação de um tempo genuinamente
histórico no conceito de Historia coincidiu com a experiência da
a Hist ória a partir da Filosofía ” Um ú nico fato
n
novo conseguiria
derrubar sistemas inteiros. “ História é a fonte da qual deve ema
I “ Era Moderna” . Desde ent ã o , os historiadores est ão obligados a
nar tudo” 29 < j
- verificar relações que não se orientam mais pela sucessão natural
"
v • de gerações de soberanos , pelas órbitas das estrelas ou pela mística
O que caracterizou o novo conceito de uma Histó
life: . figurai do simbolismo numérico dos cristãos. A Historia funda sua


tal ” [Ceschichte überhaupt] foi sua capacidade de abrir
curso a Deus. Paralelamente, ocorreu a revelaçã
ria como
m ão do re-
o de um tempo
« « pró pria cronologia .
Já em 1767, Gatterer falava de “ sistemas de acontecimentos” ,
que é peculiar à Hist ó ria. Ele abarca - como destaca ; :
-
em oposição ao linguajar usual todas as tr ês dimens es
Chladenius,
õ tempo-
"
^
:smm
pretendendo, com isso, descrever o resultado para o qual o novo
conceito de História ainda não se havia institucionalizado: “ E ver-
mWi
rais: “ Coisas futuras fazem parte do historiar. (... ,
que o conhecimento do futuro, em oposição ao
] Pois, mesmo
conhecimento do ns» dade que sistemas de acontecimentos possuem seu pró prio percurso
temporal , mas ele não se orienta pela divisã o civil do tempo” .298
passado, seja muito limitado e breve, mesmo assim
perspectivas de perscrutar o futuro, n ão só através da
mas també m da astronomia e dos assuntos civis” , bem
temos vá rias
revelaçã o,
como da
*»*
m
: @P
Através de reflexõ es como aquela a respeito do tempo histórico,
o conceito de História incorporou o conte údo complexo de reali-
dade que acabou garantindo à “ própria História” [Geschichte selhst ]
“ arte médica” . “ E por isso , na doutrina racional da Hist ória ,
esse conceito deve ser tornado de forma tão ampla
que inclua o
futuro” .295 E , em contraposição à expectativa cristã , essa
mm uma pretensã o de verdade especial. A desclassifica ção aristotélica da
Historie, que lhe atribu í ra uma simples adição de fatos cronológicos,
& ki foi, assim, abandonada.299 Com isso, através da constituição de um
:.;*li ftf
História :
adquire, em Chladenius, um horizonte fundament conceito, se abrira um novo espaço de experiência , que marcaria o
almente ili -
mitado, “ pois a Hist ória em si e diante de si [ Ceschichte an und
sich] n ã o tem fim ” .296
vor " MIv
mi- :
. mu
,v'W
per íodo seguinte. Para resumir, vamos citar três crité rios.
A História no coletivo singular definiu as condições para as
Kant, mais tarde, polemiza de forma aberta contra a é
: &
y\
m m possíveis Histórias individuais. Todas as Histórias individuais passa-
siâ nica na História” , a qual pretenderia interpretar
“ f mes - -
' I ; v¿

r
ram , desde então, a se localizar numa relação complexa, cujo efeito
e delimitar o km &
transcurso dos acontecimentos segundo uma ordo tempomm
, como iS - é peculiar e autónomo. “ Acima das Histó rias está a Hist ória ” - assim
o teria feito Bengel, na sua interpretação do
^ 5 S- Droysen resumiu , em 1858, o novo mundo vivido da História.300
'

apocalipse de João:
Esse mundo da experiê ncia tinha sua pretensã o imanente de
Sfi
5.1
A respeito do ent ão novo conceito de Tatsaeh ou

. .
*
theologiegeschichtlicho Himcrgrund des Bcgrtfls '' TAr
fato, çf. STAATS, Reinhart. Der
.
íadie" Zeilsehr
íftftlr Theohgle mui Kinhe,
'

«I verdade . Aquilo que interessava não era mais o antigo topos que

2.1
n 70, 1973, p. 316 e segs
.
WIZBMANN Thomas. Die GesdridiieJemnath dmMatih ànsah Stlbstbeweis finer
betfaehtet. Leipzig, 1789, p. 67, 55 (
editado porjohattn Friedrich Kleuker),
2Suvcrlá$siglitt í
ass
»
V
. - . .
KANT Der Sireit der Fakultiten (1798). In: AMonic Atugabe (vol 7 ), 1907, p. 62; KANT
.
Anchropotogie (1798). In: /66/ , p. 195.
a,i
CHLADENIUS, Ailgemeiene GexhUhtiwhitntthoJi. . p. 15 . . * v.-C i--
I
J íi
- . . .
Gatterer, Vom historischen Plan , (cf nota 223), p 81
ARISTOTELES, Poeiik , 1451 b.
y -
2:4
.
/6/d , p. 147 . •

Y& : .
w DROYSEN , Histôrik (cf. nota 236) p. 351

#3
126 • V& S 127
¿
• m
IM mm
O CONCHO te HiST&’A A C0NF ;C0?.AÇ 0 00 /.'OOÕtNO CÒNCOTÒ Oc H &tÒãA -
* - -

costumava ser passado adiante, no sentido de que Hist ó ria só poderia


escrever aquele que a tivesse visto ou participado dela . História, mm -
mm
'

:: apenas deixavam transparecer;, que o novo espa ço de vivência da


História só foi explorado porque a refleiñolobre elá correu ralela 1 :
pelo contrá rio, se transformou, agora, no espaço de vivência pro- dip ao conceito. Na história do termo, isso se evidencia:,io £it ó de,que ' ¿ ^ l
^
; : : '. '

priamente dito, e ele, por sua vez, permite fazer ju ízos históricos.
“ A respeito de História ninguém pode julgar a n ão ser aquele que
vivenciou Histó ria em si mesmo” constatou Goethe.301
:m : m
no último çoter do século XVIII o conte údo
lorie” - mediante gradativa exclusão dessa palavra:
d

totalmente absorvido por “ Geschichte” [História]:- v


ò sl ificadó
^
Finalmente, para caracterizar a autorreferenciação da His- Desde a germanizaçao da palavra latina " historia” , no
.

Ygm? TV . ” "

tória a si mesma , como última instancia , se recorrera à expressão


; s
i :
XIII ,304 “ Geschichte)” e “ Historie” tinham mantido signifièadó íSp í: ^ ^
“ Hist ória como tal ” [Geschichte überhaupt ] , e a algumas fórmulas í®# ííí ¡S ; claramente distintos, como já acontece em Conrado de Megen-
correspondentes. Adas, dentro de pouco tempo, o sentido pretendido 1
. 1 berg: aquilo que as Historien dizem , isso são os escritos das
se incorporou na simples palavra “ Historia” . Essa História como
sujeito de si mesma se transformou num agem autoativo, de forma
. -: Wi m
:;mm
geschkhten nos pa íses e nos tempos” . Em 1542 Burkart faz uma
303

r rima: “ quando tais Geschkhten tiveram lugar, / como em Historien


que Hegel, mais tarde, pôde falar do “ trabalho da Hist ória” .302 se pode observar” .306 O campo “ objetivo” dos acontecimentos e da
Nas d écadas das simplificaçõ es e das singularizações, quando, m I^:
ip;
-

ação bem como o conhecimento “ subjetivo” , a narrativa, ou mais -


mm

a partir das liberdades, surgiu “ a liberdade” , e das revolu ções surgiu tarde a ciê ncia a respeito, puderam , at é o s éculo XVIII, ser de-
-
“ a revolu ção” , a História subordinou a si as histórias individuais.
:m u
- m signados com terminologia separada . Assim, lê se no prefácio a307um -
dicioná rio geográ fico de 1705: “ Historie ou ciê ncia da História” . É
Esse é o conceito que na economia lingu ística hist órico-política
dos alemães parece ocupar aquele lugar que “ revolu ção” ocupa no
evidente que essa contraposição raramente foi observada com tanto
- :

-
francês . A “ História” já aparece como conceito antes da Revolução
rigor quanto em definições. O significado de uma influenciava o
Francesa , os contextos revolucioná rios transformar ão aquilo que era s# '

da outra , ainda que com intensidade variável.


A sobreposiçã o dos dois campos sem â nticos pode ser constata -
surpreendentemente ú nico nessa nova História numa proposição
axiomá tica de vida. i
da nos vocabulá rios do século XV: “ historia” é traduzida por “ um
b) A fusão de “ Historie” e “ Geschichte [História]” . A História ,
acontecimento, uma coisa que aconteceu, geschicht, um m discurso
'V ;W
cuja ampliação de sentido foi explicitada até aqui, não foi apenas .
: V r-íí - f
escrito que conta como aconteceu ” e “ historie ( history ” Tanto
)
um novo conceito de realidade, mas també m um novo conceito de
reflexão. Depois de 1780, Herder pôde empregar o coletivo singular m S>mi
“ coisa acontecida” quanto “ historie” constam como “ historia
é definida como “ res facta” e como “ relato de uma história sobre
” , que
para os dois n íveis, numa mesma frase: “ O fato é o fundamento de m
tudo aquilo que é divino na religião, e esta só pode ser apresentada na UV
História, a religião mesma precisa se tornar constantemente História RUPP, Htfimt; KÓHLER , Oskar . Historia - Geschichte . Saccuitm , n . 2 , 1951 , p 632
. .
viva. A História constitui, portanto, o fundamento da Bí blia” .303 Ago- .
MEGENBBRG , Konrad von . Bitch tier Nata / (cerca de 1350 ) (editado por Franz Pfeiffer, ein
. , daz sind

-= Stuttgart , 1861; reimpresso em Hildesheim, 1971), p. 358. sam die historien sagent
:: “
ra se pretende comprovar aquilo que as cita ções at é então apresentadas V.-. r ; i
die gcschtift von den geschichten in den landen und in den zeiten .

sM ? yA
WALDIS, Burkart . StreilgeMchi (1542) (editado por Friedrich Koldewey em
Halle , 1883 , p.
mí 33) , “ Wan soleh geschichte sein geschehen, / Wie in historien ist tusehen
11
.
y*
‘ GOETHE. Maxlmcn imd Reflexionen, n. 217. In: Hamburger Ausgabe (vol. 12), I9S3, p, 395. m í c'7 Citado por GEIGER , Dns Wort Ç esdiUhu“ .. .t p . 15 com phiraJ t í pico , ainda que tamb
tr ém
M HEGEL, D/V Vernunfi . . . (cf. nota 236), p. 182. V
com a noY3 forma plural Gesehichtcn
“ ’‘.
HERDER , Uriefe da$ Studium derTheologie betrcffend (1780- 85). In: Sãmllich? Wakc (vo), m:- ; YjS
DIEFENBACH , Lorenz . Chssarlum Liiino - Ccmiaukurn medio? et hifitnee oetoUs. Frankfurt
,
1-= t eyn ding dz geschen ist , geschicht , ein gescriben red der getad
10) , 1879. p. 257 e seg. A respeito, cf . STAATS , Der theologiegesehichtliche Hintergcund •
• 1857, p. 279. eyn geschehen
“ ,
des Begrifft “ Tatsachen", p. 327. •
&Ç : as es gcscach 1* e “ historie (history)” .

128 |
||
m
129
f

uma coisa acontecida ” tudo ao


O CONCHO O í HsiÔftU»

mesmo tempo. 300 Essa expansã o


m differ
A CON/ XHJ ÍACÂO PO CONCÍ HO W HlStó?

coisas acontecidas” . 315 Uma versão que tivesse em vista a rela çã o


^

da “ Historie *
para os próprios acontecimentos ou seu transcurso se il o dos objetos em si - como aparece uma vez em Leibniz - foi extre-
mantém ininterrupta , no nível dos dicion á rios.310 Em contraposição, mamente rara: que nenhum eleitor e pr í ncipe fa ça mais entre o
na bibliografia histórica, começa a se impor, por afinidade com a M.Tffijài -
k .' : - pú blico, e , portanto, participa mais da História Universal [Universal
lí ngua latina culta , a defini ção que tem sua origem em Cícero: “ A Histon] dessa época que o eleitor de Brandenburgo” .312

Historie diz Hederich , em 1711 é uma narrativa verdadeira de — :v
'
Enquanto “ Historie" se manteve relativamente imune a uma
contaminação por parte de "Geschichtc” , a transferê ncia do signi-
ficado de “ Historie” para “ Geschichte” se realizou de forma muito
V. mais rá pida e profunda . Lu tero já utiliza “ Geschicht(e)” ein ambos
w VoícbuUnum tncipiens Teutonicum ante Latinutn (N ü rnberg, M82), p AT 62 ; . .
' Mxabtitariusgenima
os sentidos de ‘"acontecimento” e “ narrativa” , em certa oportu-
gemntarnm (Strassburgo, 1508), p. 58v; DASYPQDIUS, Pctrus. Dkthnarium Latino Ge nnankttm
(latim /akm à o) (Strassburgo, 1536; reimpresso em Hildesheim , 1971), p 93'. "ein gcjchicht
. - . - - m i nidade , até numa mesma frase: “ Mas a Histó ria do rei Davi , as
erzeiung einer geschehenen saeh"
. . .
mm primeiras e as ultimas, veja que est ão escritas entre as Histórias
Latinwn , p AT : " Ceschehen ding historia , tmde Jiislotiógraphus
W
30 VotAbuhuiiis mapiens Tcufoniowt anta -

.
ein sdjreiber der geschkht" ; ibid ., p 62r; “ Historie , historia , vulgare gesehehen ding"; Vocabufariitsgemma - - m Tm
yy de Samuel ” .313 Josua Maaler registrou , em 1561, para “ Geschichte *:
gemtitaruM , p. 58*: “ Historia est res fada: ein geschehen ding odtr history. Histothgraphm esl seriptor
historia mm: ein hislcricn uhrybe / 1; DASYPODiUS, Dkllonaritttu , p. 93r; 11Historia , Bin geschteht / .
y í vv \.
“ narrativa ordenada e explicação de coisas verdadeiras, fundamen-
, tais e acontecidas” , e, ao lado: “ Hist ó rias e ações. Acta\w Nos

erzetung tinergesdiehencn sach. Historian , et Hisloriographus,elngesdii( hts( heiber t; cf. ibid., p. 3r: Ada,
Handiungen /geschkhten" ; ibid., p. 67':“ Factum, Eingeschkht oderthat"; ibid ., alcm ão Iatim , p. 332':

- títulos dos livros do sé culo XVII , s ã o utilizadas, com frequência ,
. . .
" Gcschelun Fieri ordattUch Gtschichl/daalieumbstendgemeidel iverden Historia GesdddUbudi aujfjãdiche
Uuff/ odcr rein jarbnch. Annaiti' ; cf. ibid., p. 437r:" Thaat/gesthicht Factum"; SC HOPPER , Jacob
. .
mm
m y formas duplas, como: “ Historie e /ou Geschichte de ,..” 315, com que
.
Synoninta Dortmund, 1550 (rdmprew 5o cditadaporKadSchultc Kemminghauscn , Dortmund, -
1927), p. 29; " Das ist / ManchetkygaUuwgen Deutsches war ter/ so Im Gnmd einetiey bedeutung halen";
m;:- ; se pretendia expressar a distinçã o, mas ao mesmo tempo tamb ém
já a convergê ncia de contexto de acontecimentos com narrativa .
.
" Facinus: Thatlgeschkht / handel"; MAALER, 1561 (cf nota 314); FRISIUS,Johannes. Dklionanum
.
Latinogcrtnanicum (editado em Zurique, 1574), p. 630: " Historia Ein history / Bin gesehidit / Bin mm
:mm Tm No final, nao foi a expressão “ Historie” , mas sim “ Geschichtc” que
ordenliche euelhmg undtrkVinmg waarhajfter / grut:dtlUherunngesihddimrdiugen"; HENISCH, Georg.
Teutsche Sprach und Weissheit. In: Thesaurus linguae tt saplentiae Genruwicac (vo ) 1). Augsburg,
1616, p. 1530 e seg, 1534:"Gcuhehcn / sich zu Ingerí / begcben / Ugigntn / fien , evenirc,cadete, indderc,
. mm.
mm
fundiu os dois campos semâ nticos. O famoso t í tulo do livro de

. .
. .
aaidere, contingere, venire., ewnire usu giri , cor fore De/ {lvatlvum ) GtsdiidU / es gcschhhl / event, caidit.
Gesddchl / cventus, acta, actum, gestum , historia Geschehen ding / gesta, res actat , res gestae Geschkht / .
m
mm
Johann Joachim Winckelmann Geschichte der Kunst des AUertums
[História da arte da Antiguidadè], de 1764, reduziu ambos os sig-
.
es geschkht / aaidit , contingit Skhegtsdidttn. Geschkht / ( die ) historia. Geschidit / dues thun undlassen mm mm nificados a um denominador t ão comum 316 que não se consegue
mm

. .
/ actus hujusactus Dcr ( h atium) GesdMt / that / acta , gesta historia
’ ....
GmhkhUn und Handhwgen / mais derivar da palavra se o destaque recai sobre o objeto narrado
.
acta 0; DHUEZ, Nathanael (Ed .), DUthnairefranfots a¡temand-lain Leyden , 1642, p, 149:" Geschkht
- - mm ¿ EI
.
l That / Ade , Gesta, Facta Histori / Hisicke, Historia , Histone, Ein Geschkhl / und Gtsdiuhtbueh / ou sobre a representação . Desde meados do sé culo, o tí tulo “ Ge$~
-
Historia"; Dmiomirt Froufois^ altemand iafin (1675), p. 617:" histoke, narré,tine Erzefilung / Gtschkhi
/ Historia , n atratio, enatraiio. Hktoire digetie, par suiite d'annhs , Ein Gcsehkhtbitch nach Ordnung dec MM chichte” vai expulsando, gradativamente “ Historie” das capas dos
Zeit tingerich let / Gesta rum reruns anuales, historia, desaíre , ficsAireiben / in ( her Geschkht wfasseti /
.
Describiré" ; STIELER (1691), p 1746:" Gesdiidit / die l /¡return , historia , actum , res gestae Geschkht
. . ill , .
crzehkn / historiam narrare , commemorate Cuchichíe schreiben / saihw res guias Monumentsifadonttn

- ^ . . .
compone*" ; POMEY, Le Grand Didionaire ko l (1715) (t . 1), p 485: " Histohe, hate historia, hace
.
narrado, efac Geschkht / Gesehlchts Erzahhmg"; ibid. (t 2), p 144:" Historia , histcire rapport des dioses ,
II
.• ll k f K
'
V:;‘l:
31
HEDERICH , Benjam í n. Anleitung zu ¿en Jilrnehmsten hislorischen IVissenschaften 21 ed .,
Wittenberg, 1711, p. 186,
LE Í BN Í Z. In: KXOPP, Arno (Ed.). Wake (!' sé rie, vol . 10) . Hannover, 1877, p. 33.
ver italics , eme Historie, eme ivahrfwfllge Erzaldung gesdiehentr Dinge" ; ibid. (t 3), p. 129; " Geschkht
/ Tat / ade, hftloire,gesta, fada"; STB1NBACH, Christoph Emst Vcltst àndiges Deutsches Wtoltr*
. m
mmm
3i >
LUTHER , 1. Chronlk 30; 29 (Zerbster Hand íchrift , 1523; contagem moderna: 29, 29] . ( n:
.
tí uch (vol 2). Bresbu, 1734; reimpresso em Hildesheim, 1973, p. 395:" Cuchichí e {die) factum , í es
. -
gesta , historia"; PRISCH Deutsch iateinisches WO;tabudi (vol . 2), 1741, p. 176: " Sducht , Gcschtchte,
m
Üa
m
ili
Wtimter Ausgabc, Deutsche Bibel (vol. 1), 1906, p. 281 e seg. " Die geschkht aber des koniges
Datcid beyde die enten and letzun stke die slndgeschrUbtn unter den geschkhten Samuel" ,
MAALER , 1561 , 195 b. " Ein ordenHche ErzeUung und erkkimng Witathafter, grmidllichcr und
, ...
ist veraltet, m:d Cuchichí e von geahchen geblkben ( ) factum , fusiona, siehe Historie" ; ibid , p 168: . . gddmhur dingen" ; " GtschUhlen undhmidtungén. Acta".
, . .
" Sí hehen, Geschehen feri, even¡re , acchiere" ; ¡bíd (vol. I), p 456; " Historie, ww hteinisehen historia, Wi . ^.
Cf GEIGER , Das Wort "Geschkht . ., 14.
- ..
Geiducht Bachcibimg oder Erzdhhmg dessen , uvs bel dim nolig ist . Eine Historie von divas schreiben , - ip &
• 311 WINCKELMANN , . . Geschichte der Kunst des AUertums. In: EISfiLEIN , Joseph ( Ed.)
JJ .
historiae atiquid mandare tines Dings Historie schreiben , historiam senbere, tes gestas scribe re" . S àmtUche Wetke (vol. 3). Donaueschingen , 1825.

130
M- t
:&% K
131
.
O CCMCETTO D£ H sfÓÍ SA

livros históricos357; os poucos t ítulos com " Historie” correspondem


%
afc .
V.

s
A CQtVlGWAÇlO OO NQOtftNO CONCHO Of HstÓS'A

historia” ,321 Puffendorf, provavelmente, foi o primeiro que, em


numericamente àqueles com o plural “ Gesc.hUh( en” Pls
Winckelmann explicou o conceito, que ele entendia como \
111
rnmmx
1682, chamou de ciencia o conhecimento criticamente verificado
das Histó rias a serem ensinadas. ‘A Historie (seria) a ci ê ncia mais
novo, apontando em especial para as intenções sistemá ticas que mm
mm graciosa e ú til ” .322
estariam por tras dele: “ A História da arte da Antiguidade que eu
-
mm Bsse significado aparentemente passou sem constrangimento
resolvi escrever n ào constitui urn simples relato da sequência de
tempo das transforma çõ es da mesma , pois eu adoto a palavra His-
«III .
para “ a Historia ” . Pomey, em 1715, ainda precisou traduzir “ Histo -
-
ria” por *‘Gesch¡chis Bcschreibung [descrição da História)” , ao registrar
tória em seu sentido mais amplo, sentido que ela possui na lí ngua *
os topoi ciceronianos: “ A descrição da Historia é urn testemunho do
grega, e minha intenção é apresentar uma estrutura doutrin á ria tempo, urna luz da verdade , uma mestra da vida , e urna narradora
[ Lehrgebàude]” ?* 9 de todas as coisas que aconteceram antes de nós” .323 O tradutor

mwm
m
Com isso, Winckelmann citara a segunda fonte de que se Rollins, em 1748, já pôde colocar ali o coletivo singular alemão:

-
alimentava o moderno coletivo singular , O fato de imaginar uma “ A Geschichte [Historia] é, com justiça , a testemunha do tempo” .324
“ História” que fosse alé m da narrativa de transformações represen- I vi; : mm Desde ent ão, se tornou dif ícil distinguir entre a “ verdadeira ”
tava criatividade teórica. Ela fazia com que a realidade da História História e a História ativamente refletida. Frederico, o Grande,
.-I-
desembocasse num “ Lehrgebaude” , numa “ estrutura doutrin á ria” ,
sem a qual a hist ó dos acontecimentos
ria nem poderia ser reco- ilp 3»
¡ m ainda ficou desnorteado quando o bibliotecá rio Johann Erich Biester
lhe disse que “ se dedicava preferencialmente à Geschichte [História]” .
nhecida. Somente através da reflexão sobre as histó rias individuais
é que “ a Histó ria” poderia ser desvendada. : a: ai O rei perguntou “ se isso significava a mesma coisa que Historie, pois
n ão conhecia a palavra alemã ” . Ele ter á conhecido a palavra, mas
n ão seu sentido reflexivo contido no novo coletivo singular.325 Em
Naquilo que tange à História dos vocá bulos, a “ Historie” deu -
sua contribuição, tal qual ela , desde o Humanismo, foi pensada - V-ñí -íó Vli
-
' í: 1777 já se diz de forma bem natural que Iselin pretendeu “ estudar
e definida, nos muitos manuais sobre arte e metodologia escritos # V: a História” e tornar-se “ professor de Hist ória ” .326
por historiadores A “ Historie” como doutrina ou como disciplina
H* Em 1775 Adelung, finalmente, registrou a vitória da “ Histó-

m
,

científica , desde sempre, pôde ser utilizada de forma reflexiva e ria ” . A expressã o possuiria três significados equivalentes, que n ão
sem objeto. A partir de Cícero, o conhecimento reunido sobre se perderam, desde então: “ 1. Aquilo que aconteceu, uma coisa
as hist órias individuais fora subsumido, coletivamente, no termo .
acontecida ... 2. A narrativa de tal História ou de episó dios acon-
magistra vitae .m Quero citar um comprovante M :: tecidos; a Historie... 3. O conhecimento dos episódios acontecidos,
“ historia” : “ Historia ”
historicamente importante das in ú meras variantes que destacam a
função pedagógica dessa historia: “ Porro disse Melanchton - non —
alia pars ¡iterarum plus aut voluptad* aut utilitatis adfert studiosis, quam . ÍV
a -a

:a -mm »
> ..
-
o estudo da História [ Ge$chicht$kunde] > sem plural. A Histó ria é a

,

mais confiável mestra da moral ” como dir á ao explicar o ú ltimo

:
.
-
- ;
; 5 1 . .
Melanchton , etn carta a Christoph Stalberg de 1526 In: Corpus rejonnaloium (vol. 1) 1834, p. 837.
, in PUFENDORF, Samuel. Einlcitung zu der Historie der Vomohnsí en Reuhe und Sutafcn. Frankfurt ,
31
-
Cf. HEINSlUS, Wilhelm . À llgemeines Bticktr Lexbon oder voílst ândiges A(p!u\betis<hes Verzcichniss
der von 1700 bis zuni Ende Í & 10 ètiàihnenen Blither (2 voh.). 2. ed., Leipzig, 1812, p. 82 esegs.,
1682, p. t' ( Vorrede).
V' .v:
325
.
POMEY, u Grand Dhticnaue Roya! (c. í) 1715, p. 485 .
31í
391 e seg.
. .
KAISER , Christian Gottlob Index hcupUtissimus libiontni VollstSndjge » Bucher Lexlkon, - mm 011 ROLL Í N, Charles. .
Historie dta Zeiton und VtiUktr (vol 12). Dresden / Lcipzig, 1748 p. 22 Í.
emhakend alie von 1750 bis zu Ende des jabí es 1832 in Deutschland urtd In den angrenzeuden
a# i BÕTT1CER, Hoftat. Erinnerungcn an da$ literarische Berlin im August 1796 In: EBERT,.

5í0
WINCKELMANN , Geschuhte der KunsL , p. 9 ( Vorxede)
.
L ü ndern gedrucktcn liíicher (vol. 2). Leipzig, 1834, p 355 e iegs., 36$; (vol. 3) 1835, p. 155,
..
Cf KOSELLECK, Historia jrugistra vitae {cf. nota 224), p, 196 e segs,
. mi 11^
334
Friedrich Adolph. OberUt/e rungen zwr GesthUhte, Literalttr und ¡Cunt
.
2/ 1) Dresden , 1827, p. 42 .
.
-
í der Vor und Mitwelt (vol .

.
ISELIN, isa a k (Ed .). fiphtnteridin der Menschheit (W parte). 1777 p. 122 e ¡eg., nota

132
im
- w- 133
*
u - O C4NCMO De liSIÔftA •vivir á? •:
.
A CONflGUÍAÇÍ 0 DO MODERNO CONOTO De H'C'TÓ^A
s 'í ¿
:-
• v
m §¡; :
mediante sua elabora ção por meio da narrativa histórica .329 Uma
ponto. No breve verbete sobre “ a História” , aparecem as mesmas -

coisa remete a outra, e vice-versa. Ou como, ruais tarde, Droysen


! definiçõ es, e Adelung acrescenta: "Para todos esses sentidos, pode-
se utilizar agora - ao menos numa escrita elegante - a palavra ,
i p§
| m ligou a forma de ser da História à consciência sobre ela: "O co-
; alem ã Geschichte” 327 nhecimento a seu respeito é ela mesma ” .330

i!
I! Claro, seria possí vel interpretar essa constata ção que Ade-
lung certamente també m registrou por razões lingu ístico-pol í ticas -
—-
- mi Com isso, o novo conceito de realidade e o novo conceito de
reflexão se haviam sobreposto. No campo te órico-científico, essa
“ de forma puramente onomasiológica , no sentido de que o espaço mm convergê ncia levou a in ú meras imprecisõ es e d úvidas. Niebuhr - e
muitos outros, depois dele - procuraram diferenciar novamente
* 5*
semâ ntico de uma palavra (" Historie” ) simplesmente foi assumido
por outra palavra (“ Geschichte” ). Mas a hist ória vocabular mos-
:
a utiliza çã o das palavras.331 O fracasso desses esforços indica que
f:
rt
- trou que tais convergê ncias foram possíveis e corriqueiras, desde
o final da Idade Média. Tamb é m n ã o é decisivo que “ Historie” . j-
agora podia ser usada, sem restriçõ es, no sentido de “ Geschichte” ,
.
, ' - a “ Hist ória” como conceito social e político cumpriu [uma tare-
fa] menor ou maior, em todo caso, [uma tarefa] diferente: ele se
transformou num conceito abrangente, supracientífico, que pre-
!
coisa que a Deutsche Encyclopedic [Enciclopé dia alemã] apesar
de eruditas diferencia ções - confirma.320 O que é decisivo é que,
— cisa incluir a experiência moderna de uma História autónoma na
reflexão dos seres humanos que a realizam ou são produto dela .
no ú ltimo terço do século XVIII, foi transposto um patamar. Os
:
três n í veis (situa ção objetiva , a representaçã o dela, e a ciê ncia
a respeito) foram reunidos num ú nico conceito: “ Geschichte” . & >'
mm ória* como Filosofia da História
2, "A Hist
0 . ; ?í

i Levando-se em considera ção o emprego das palavras na época ,


trata-se da fusã o do novo conceito de realidade expresso em
^ A import ância que teve o fato de a nova realidade da "História
como tal” [Geschichte ü berhaupt] ter conseguido evoluir para o

I
"Hist ória como tal ” [Geschichte tí berhaupt] , com as reflexõ es que m status de um conceito através da reflexão está indicada pelo surgi-
ensinam a entender essa realidade. Numa formula ção talvez um mento da palavra paralela "Filosofia da História” . O desvendamento
r
pouco exagerada , pode-se dizer que " Geschichte” foi um tipo de
m da "História como tal ” coincidiu com o surgimento da Filosofia

f
'
1
categoria transcendental que visava à s condições de possibilidade
de Geschichten / Históihs.
Quando Hegel escreveu: " Geschichte re ú ne , em nossa l í ngua , ñ- -
mm m
-

, .
da História . Quem utiliza a nova "expressã o: Filosofia da Histó ria”
- escreveu Kõster, em 1790, na Deutsche Encydopddie^ 2 [Enciclo -
pé dia Alemã] - só deveria “ estar atento para o fato de que ela não

mm-
tanto o lado objetivo quanto o subjetivo, e significa tanto a histo- .> ?» •
constitui nenhuma ciência propriamente dita e especial, como se
riam return geslarum quanto as próprias res gestas” , n ão considerou : r í|
l 1
poderia ser facilmente levado a acreditar, ao primeiro contato com
essa constataçã o como uma "casualidade externa” . As "a çõ es e os essa expressão. Pois, mesmo que grande parte da Historie ou toda
acontecimentos propriamente históricos” , que se localizam alé m do ;;©v Vfc
uma ciência histórica sejam tratadas assim , não é outra coisa do
espaço pré-histórico de acontecimentos naturais, só teriam surgido V. v< =/. -

que Historie em si mesma ” Ja a escrita pragmá tica da História, que


tiraria conclusõ es de experiê ncias próprias e alheias, mereceria esse
w ADELUNG (vol. 2), 1775, p. 600 e seg., 1210 e scg. nome, da mesma forma que a "cr ítica histórica ” , que ensinaria a
.
-
:V- í;T4 jV
M-í;:-
ni K ÔSTER , Heinrich
.
Martin . Verbete ‘'Geschichte". in; DcuUche E/ uyffap&Ut (vo í 12), 1787,
,
p. 67; KÕSTBR , Heinrich Martin , Verbete fPhilosophie/ Ph Í!osophic der Historie". In: í bid . vm m . . .
HEGEL, Die Vamtnfl . . (cf, nota 236), p 164
.
{vol. 15), 1799, p. 649 Alé m disso, cf. o excurso histórico vocabular de HERTZBERG ,
-
. . HM '

.
DROYSEN, Hiaorik (cf nota 236), p, 331; alem disso: ibid., p. 325, 357.
m
135
.
Custtiv Verbete "Geschichte". in: ERSCH /GRUBER (V se ção) (vol 62), 1856 p. 343, nota .

2, o qual se refere a Wilhelm Wachsmuth ( EtHwurf eiiier Theone der Ctithichte. Halle, 1820, p. M
yj -
331
Cf. nota 361.
.
2 e segs.), cujas distinçõ es reaparecem , neste texto, daqui para frente
mn 331
KÕSTER , Verbete '' Historie ' , p. 666.

mm
m M
134
mm 135
m m
O CONCtTO 05 H >STÔS <A A CONJICWÀÇTO CO MCCfiNO CÔNCErtO oç HlSTÓÍ.'A
|
v
- wmmm
distinguir verdade de plausibilidade, podendo , por isso, ser chamada a verdade nua significa narrar os eventos que aconteceram seni - T - VT
de “ lógica da Geschichte [História] ou teoria da Historie” Com o
registro lingu ístico, Koster resumiu a nova constata çã o. mñ -
qualquer maquiagem ” é como Gottsched confirma essa tarefei ;;

mm dos historiadores.335
* •

'
Foi gra ças à Filosofia iluminista que a Historie como ciência $e Contra a indiferença te órico- epistemológica contida nessas
separou da Retó rica e da Filosofia moral , e se livrou da Teologia
e da Jurisprud ê ncia , a quem estivera subordinada . m fiases, a outra posição recorria a Aristóteles. Aristóteles desvalori-
336

zara Historie frente à poesia , porque ela se orientaria exclusivamente


Nã o era óbvio que a Historie, que, até ent ão, lidara com o in-
dividual , com o peculiar e com o casual, tivesse capacidade para ser : pelo transcurso do tempo, no qual muita coisa aconteceria ao acaso.
Ela relataria “ aquilo que aconteceu ” , enquanto a poesia relataria
“ Filosofia”. Enquanto os métodos histórico-filológicos e as ciências mm m
immm “ aquilo que poderia acontecer”. A poesia visaria ao possível e ao
auxiliares já se haviam independizado desde o Humanismo, a His - mm m . geral, motivo pelo qual seria mais “ filosófica ” e mais “ importante”
-
torie só se tornou uma ciência própria , quando na “ Hist ória como
que a Historie. Lessing - o aristot élico do s éculo XVIII - expressou
. tal ” - conquistou um novo espa ço de experiência Desde ent ã o,
ela tamb é m pôde definir publicamente o “ campo de seu objeto” .
. mm :fm sua opinião da seguinte maneira: “ Verdades históricas casuais nunca
A configuração da Filosofia da História indica esse processo. Três

.vsm
vi# am
:=; vv - 337
podem transformar se em verdades racionais necessá rias” , motivo
mi: ' pelo qual “ a plausibilidade interna” da poesia teria muito mais peso
etapas levaram até ele: a reflexã o esté tica, a moralizaçã o das Histórias 338
ijiv que a verdade histórica , que, muitas vezes, é questionável. Ao

e a formulação de hipóteses, que tentava superar uma interpreta çã o
teol ógica da História através do recurso a uma Hist ória “ natural ” .
.
contrá rio do historiador, “ o poeta [é] .. senhor sobre a História;
a) A reflexã o est é tica. No contexto do surgimento da Filoso-
e ele pode aproximar os acontecimentos tanto quanto queira”
339
-
fia da História, Historik e Literatura sofreram uma nova ordenação como Lessing o expressa de forma mais moderna . Em função de
s&gi mm.
. m suas reservas aristotélicas contra o conhecimento histórico, nã o
recíproca , cuja relação constitu í a tema antigo, sempre retomado,
admira que Lessing, ali onde , em 1784, aparecia como filósofo da
desde o Humanismo. De forma esquemá tica, a relação entre His
torie e produ ção literá ria pode ser caracterizada por duas posiçõ es
- Ms
m ti História - em sua Erziehung des Mensehengeschlechts [Educação do
extremas, que permitem construir uma escalada gradativa, para
agregá-las.333
»1 gê nero humano] acabou abrindo m ão da expressão uGeschichtei
[História]. Isso mostra - da perspectiva negativa qu ão vagarosa- -
}

mente o novo termo “ Geschichte” , impregnado pela Filosofia , havia


Ou se classifica o conte ú do de verdade da Historie em n ível
mais elevado que a produ ção literá ria , pois quem se dedica às res m
mu:
¡ -
conseguido impor-se .
factae precisaria mostrar a verdade, enquanto as res r f’ •' i
Jictae levariam
'

à mentira. Historiadores que defendiam essa posição gostavam de &-


.-
V GOTTSCHED, johann Chrinoph. Vetsurh eintr Critischèn D ú fUkttns í . 3. Aufl., Leipzig,
recorrer à met á fora do espelho, que circulava desde Luciano, para 1742 , p. 354i cf. WINTBRL1NG, Fritz. Das Biid der Cesfhietue in Drama und D/amenlheo/ie
Gottschcds und Bodmers. Frankfort , 1955, p. Í 5 (tese de doutorado). A respeito de tudo isso,
definir sua tarefa de descrever a “ verdade nua ” . A Historie mostraria cf. REÍCHARDT, Rolf. Hishrik und Poellk in der deutsehen und franzõsuchen Aufklãmng.
uma “ mtdité si noble et si majesfettse” , escreveu Fé nelon, em 1714, de Heidelberg , 1966 (monografia de amo); ft respeito da met á fora da verdade nua dentro de suas
forma que n ã o necessitaria de qualquer enfeite poé tico.334 “ Dizer transformações hisióticis: BLUMBNBERG, Hans. Paradigmcn ciner Metaphorologie. Anhiu
mmm
im
.
fíir BigrifffgesehklUe n. 6 , I960, p. 47 e segs.
ARISTOTELES, Poelik , 1451 b; 1459 a.
::- m m Jy/
LESSING. Ü ber den Beweb des Geistes und der Kraft (1777). In: SdmtiUhe Sthriftoi (voj. 13),
333
HEITMANN, Klaus. Das Verh'á ltim von Dichtung mid Geschichtsschrdbmig in altere ..
. .
Theoiic AHh( ufilr KuUutgtsthiihtt , n 52, 1970, p. 244 e $eg$.
* mm m 3ii
1897, p 5
LESSING. Abhandhingen ü ber die Fabd (1757). In: Samt í iche Schriften (vo ) , 7), 1891, p. 446 .
131
.
FÉ NELON, François de. Lettre à M Dacier $ ur les occupations de EAcademle. hi: Oeuvres .
33í LESSING. Brtefe, die noueste Litcratur betref & nd , Nr. 63 In: SSmtUche Sdt / ifí en (voL $), 1892,
completes (t. 6). Paris, 1850, p. 639. p. 168.
£
136 137
mm m
mm
Kv

F^-
vsr
O CONCHO tí H4TÓSJA

O fato de a Historia da Filosofía ter-se tornado viável nao se


deveu , de forma alguma , à vitória de um ou de outro desses dois
9 .
'
.
A COvNfXSUSAÇÀO DO V ODEWJO CONCE ÜO D£ H'STÓrlA

Historia [Geschichte seíbst ) , e em que medida ela é possível ou não” .343


Com isso , a Historie havia galgado um patamar, no â mbito da hie-
) campos, aqui apresentados de maneira esquematicamente reduzida.
Nem os representantes da “ verdade nua” , isto é , os defensores da satfeii rarquização aristotélica, que a aproximava da poesia. Não se per -
“ própria História” [Geschichte selbst ] , conseguiram se impor, nem
os defensores da Poesia - considerada superior que submetiam
mm guntava pela realidade , mas , em primeiro lugar, pelas condições de
sua possibilidade . Mas a Poesia tinha a mesma obriga çã o. Uma vez
V submetida a uma exigência racional comum , també m sua utilidade
sua representa ção às regras de uma possibilidade imanente, o con
seguiram. Pelo contrá rio, ambos os campos fizeram uma fusão, na
qual a Historie se aproveitou da verdade mais geral da Poesia, de
sua plausibilidade interna , enquanto, inversamente, a Poesia tentou
-
mi podia ser definida em comum: “ Le but principal de 1’ Histoire, aussi
bien que de la poêsie, doit être d’enseigner la prudence et la verta par des
exemples, et puis de monster le vice dhme manière qtti em dome de l 3aver-
sion, el qui prote ou serve à Veviter” .344
incorporar cada vez mais as exigências da realidade histórica. O
No â mbito da produção literá ria, foi a nova categoria do
resultado acaba sendo sinalizado pela Filosofia da História . & romance burguês que agora se achava submetida ao postulado da
-
Bodin “ ao contrá rio de Bacon havia valorizado significa
- N' - ife v
fidelidade histórica aos fatos. Como em dois vasos comunicantes,
tivamente a Historie. Sem suas sagradas leis ( sacra historiae leges" ),
“ m.>W
?'

Historie t romance foram mutuamente adaptados A credibilidade e .


ningu ém se acharia na vida, e mesmo a filosofia fracassaria sein os
dicta , facta , consilia históricos: graças a ela, seria possível preparar-se
WK A-iiV a capacidade de convencimento do romance cresciam na medida em
para o futuro.340 Seria exatamente o reino da probabilidade que -
« que ele se aproximava de uma “ Historie verdadeira’ *. Representativa
desse processo, ao qual aparentemente correspondeu uma expecta-
ao contrá rio da verdade matemática ou religiosa caracterizada
- mu tiva dos leitores no sentido de apresentar uma correspond ência com
a Historie humana, e seria justamente de suas incertezas e de
trapalhadas que os philosophistorid obteriam seus conhecimentos 341
suas
.
mm a realidade, é a mudança rápida de t í tulos, na primeira metade do
É dessa mod éstia que derivava , no longo prazo , o ganho, lili
'

século XVIIL 345 Para satisfazer à presunção de realismo, o romance


líl I: francês costumava ser chamado de “ Histoire” ou “ mimoires” . A ten-
pois, no confronto seguinte com a crí tica cartesiana e pirronista
incerteza e da inconfiabilidade das afirmações históricas, se abriu
da « ftMMM
tativa de Charles Sorel em manter a antiga divisã o entre romance
e Historie nã o conseguiu impor-se: “ / / ne faut ass se persuader que
aquele campo das i verités de faits” cujo oposto em acordo com
(

Leibniz - podia ser pensado, cuja factibilidade, no entanto, só podia — :


.
MW
mm
iA
quelque roman que ce soil puísse jamais valoir une vraie histoire, ni que
Von doive appmwcr que 13histoire tienne em quelque sorte du roman* \ 346
ser científicamente investigada segundo graus de probabilidade.342
Com o entrecruzamento de Po é tica e Historik , foi liberado
“ Ainda que , na Historie, não se consiga chegar a uma
perfeita” - assim Zedler resume, em 1735, a vitória contra o pirro-
certeza m
m ftn o novo e complexo conceito de Geschichte/ Hist ôth, o qual esta-
beleceu uma religaçã o da verdade superior de filosofia e poesia
nismo ” , “ a probabilidade, que també m é um tipo de verdade, está
mm* corn a facticidade histórica. Dessa forma , Diderot recorreu às
ali ” . Quem quiser avaliar uma Historie deve perguntar pela “ própria •

m$
ftl§v!:
m , ZEDLBR Verbete “ Historie (vol. 13), 1735 , p. 283
. .
m¡i # ”

; 51
343
BODIN. Methodus ad fecilemcognitionemhisloriamm (1572). In:
MESNARD, Pierre (Ed ,). .
m LEIBNIZ. Thcodizec, § 148. In: Phllosophlsche Schrifttn (vol 6), p. 198 .
Oeuvres phtfowphfyue. Paris, 1951, 112 a .
.
Ibid , 114 e $cg. 138 b, A respeito da história conceituai da plausibilidade,
Paradigmen..,, p. 88 e segs.
cf. BLUMENDERG, 15 a
30 .
JONES P. S , A list from French prof ( fiction from 1700 to \7S0. New York: Columbia University,
.
1939, introdujo (tese de doutorado); a esse respeito: PUR.ET, François (Ed ,) Livre ti scctité
dam ¡a Fiance tin XVUI* sítele. Parii/ De» Haag, 1970.

** LEIBNIZ. Monadologic, § 33. In: GERHARDT, C. . (Bd.) V- VfTv - '

J .Philosophischc Scluiften (vol. 6).


Bedim , 1885, p. 612; LEIBNIZ. Theodizee, §§ 36 6 $cgs. In: ibid., p. 123 c segs,; SOREL , Charles . De la corniaissaixe de bons livres ou Examen de plmieim autheurs (1671).
LEIBNIZ. Citado por DULONG , Gustave. Uabbi de Saint Rfal. Etude sur les tapports de Phistoice ot
-
Discours de mè uphysique. In: Phihsophisehe Schriften (vol, 4), 1880, p. 427
c $egs. .
du toman au 17' si ècle (c . 1) Paris, 1921, p. 69.

138

ns 139
m .
O COKCüIO o¿ HtóTCs'A
Ê f?; pi?; -: I: '
A CONFttUSAÇÀO 00 MOOrtfíO COíKtrTO 05 HiSIÒ-dÀ

categor ías aristotélicas do verdadeiro do


* provável e do possível f:ÍÍu® Portanto, muito antes que historiadores migrassem do título
para realizar a comparação entre “ histoire ” e poésie” "Uartpoétique “ Historie” para “ Geschichte” , os poetas já haviam passado a utilizar
11

semit done bien avancé, si le Imité de la certitude


E sen Éloge de Richardson [Elogio a Richardson ,
historique était fait ” 347 ?¡M: o título mais atraente, que prometia um conteúdo de realidade su -
] de 1762, mostra
como, na mão de Diderot, o conceito de História é libertado
suas peias aristotélicas. A Historie, muitas vezes, estaria
repleta de
de m
rn ::
perior. Em 1741 Bodmer reivindicou que o contexto narrado fosse
vinculado a coisas conhecidas. “ Com isso, a poesia e o romance vã o
adquirindo gradativamente a dignidade da Historie* a qual consiste
mentiras, mostrando apenas recortes e episodios temporalmente
limitados - ainda se pode 1er, em sentido convencional. Algo no mais alto e no mais extremo grau de probabilidade; já que a
ferente aconteceria com o romance de Richardson, que
di- m -m louvada verdade histórica não é outra coisa que probabilidade , que é
comprovada através de testemunhos coincidentes e unificadores” .
352
trataría
da sociedade e de seus costumes, e sua verdade
abrangeria todos mm Enquanto a arte do romance foi se comprometendo com
os espaços e todos os tempos do género humano,
souvent l’histoiré est un mauuais román; et que le roman
“ j’oserai dire que
eomme tu l’as
ii a realidade histórica , a Historie, inversamente, foi submetida ao
mandamento poetológico de criar unidades de sentido. Passou-se
fait, est une bonne histoire” ***
Na Alemanha ocorreu uma valorização parecida. mi a exigir-lhe uma maior arte de representaçã o, em vez de narrar
Em 1664, : séries cronológicas , ela deveria desvendar motivos secretos, e tentar
Johann Wilhelm von Stubenberg cunhou a expressão Geschicht-
Gedicht [História-Poesia] para o romance, a fim de ¡31; ; s
descobrir uma ordem interna em meio aos acontecimentos casuais.
caracterizar sua Dessa forma , através de um tipo de osmose recíproca, ambas as
,

religaçao com a verdade. Como dizia , os irm ãos Scudéry


em sua Cléliet de “ histórias todas acreditadas como
tratariam , categorias levaram à descoberta de uma realidade histórica a que
verdadeiras em só se poderia chegar através da reflexão. Em 1714, Fénelon havia
si e para si mesmas [vor md an sich selbst], / para
as quais, poré m , |
;S ; •

formulado, diante da Academia, o seguinte programa:“ Laprincipóle


inventam e acrescentam acasos / possíveis, / prováveis, /
perfection d’ une histoire consiste dans ’t ordre e dans ¡’arrangement. Pour
/ que lhes d ão oportunidade e razão / para
razoá veis,
apresentar suas doutrinas
de moral e virtude” . Birken , em sua Poé tica , ainda
mn
li % porvenir á ce bel ordre, ¡’ historien doit embrasser et poséder toute son histoire;
expressão Poesia-História [Gedicht- Geschicht] *9 a fim de
acrescentou a il doit la voir tout entiére comme d’ une seule vue... IIfaut en montrer V unité y

a epopeia do romance. Desde então, “ os limites da


? distinguir et tire \) pour ainsi dircy d’ une seule source tons les principaux événetnns
criação poética :v. qui en dependent ” . Com isso, o leitor teria proveito e divertimento
e [da criação] provável [aparecem] ...
como os limites do mundo
historicamente imaginável ” .350 E desde mais ou menos 1700, a Jts ao mesmo tempo.353
expressão “ Geschichte” deslocou o “ romance” , e ainda mais a Im : :
Somente através do trabalho subjetivo do historiador, feito a
“ His- m

torie” , dos títulos dos romances alem ães.351



partir de um ponto de vista , desvenda-se a unidade da História,
í- v que, a partir de então, seria cada vez mais evidenciada na pró pria
realidade histórica. Quem contribuiu para concretizar essa tarefa
DIDBROT, Denis. De h poésie dramatique (1758) . In: ÀSSBZAT, , (
'
M7 '

.
(t. 7). Par í s, Í 875, p. 335 cf . p. 327 e seg. ] ed .). Oeuvres completes foi a perspectiva teológica de uma Histó ria Universal vivenciada
£
58
’ DIDBROT, Denis. Éloge de Ricardson (1761). In: Otimes{( . 5 ,
) 1875, p. 221, cf. p. 215, 218.
- .Vi' vyí pelos cristãos. Bossuet insistia que todas as Hist órias estavam inter-
SCUDÊRY, Madeleine et Georges de. Cletia: Bine rònjische
Geschichte .
(vol 1). N ü rnberg, relacionadas, de forma que se poderia apreender “ comme d’ un coup
166*1 (Zwschrlfl), ( versã o alema de
Johann Wilhelm Freiherr von :N ¡ ¡' fi
VOSSKAMP, Wilhelm . Romanlheorit in Deutschland. Von MartinStudenberger ), citado por
Opitz bis Friedrich von
Blanckcnburg, Stuttgart, 1973, p, 11 eseg., onde també m se
, encontram an á lises mais detalhadas. BODMER , Johann Jacob. Critfahe BetrathturgM ilber die Poctisdien Gentãlde der Dichttr. Mic
w VOSSKAMP, Rma uiwiie . ... tp 13. yfki Íi
iii-;
3S2

ein ô r Vorrede vonJohann Jacob Breitlnger. Zurique , 1741, p. S 48, citado por VOSSKAMP,
511 SINGER ,
Herbert. Der dcutuhe Roman zmschen Batrock und Rokoko. Colônia /
( Bibliographic), p. 182 e segs. Graz, 1963 ..
Romontliroiic.. p. 156.

140 «
:^ rvr.
••
.. .
FÉ NELON, Leure a M. Dacier. .. (cf. nota 334), p. 639.

141
O CONCOTO of HSTCWA
*¡1 §
m A CCNFiOUíAÇÀO DO MOD!(MO COMUTO Oí Híl óíJA

d’ceil, tout Voyáre des temps” * “ La vraie science de 1 kistoiré est de remar
’ -
i -
encontra justificado através de todo o conjunto interconectado da
quer dans chaqué temps ces secretes dispositions qui onl prépraré Ies grands
mm História” . A intervenção teórica prévia , o “ nexus rerum universalis” ,
chargements, et les conjonctures importantes qui les out fait aniver” .354
Leibniz já recorria à muito discutida metáfora do romance
-
m mm
k
' '
é confirmado pela própria História. “ Pois, nenhum acontecimento
no mundo é, por assim dizer, insular. Tudo interdepende, é reci-
para descrever a unidade interna da melhor História possí vel dos mm procamente motivado, produz-se mutuamente , é desencadeado, é
homens: “ Ce román de la pie humaine, que fait Vhistoire uniuersetle du
r gerado e motivado , e gera de novo” .350
genere humain, s’est troupe tout invente dans Ventendement divin avec une
infinité dJau( res” Mas Deus decidiu concretizai somente a sequência
mm m m Assim, a partir do desafio para uma representa ção pragm á ti-
* fC
% ca , que precisava levar em conta o efeito e a utilidade da Historie,
efetiva dos acontecimentos (“ ce / te suite d'eocnemens” ), pois eles $e
.. Js surgiu a necessidade de tamb é m enxergar um sistema interno no
inserem de modo perfeito em tudo o mais.355
Em que medida evidentemente a certeza teológica da provi-
dência divina recuou para garantir a unidade da História, em termos
mm
mm
'
contexto de eventos pragmá ticos . E merece menção o fato de que
à primeira Philosophie der Historie [Filosofia da Historie] escrita na
Alemanha foi atestado - supostamente pelo pr ó prio Gatterer - que
cientí ficos, isso se pode verificar no caso de Gatterer, quando, em
1767, falava do “ plano histórico” e da “ decorrente unifica ção das
p® “ ela não contém nada de novo” .357 Kõster, seu autor, entendia por
narrativas” . Gatterer se envolveu , de maneira consciente, na discus-
sã o poetológica para fundamentar a tarefa unificadora da Historie,
que se via desafiada pelo caos de fontes teimosas. A Historie , que
«
MM
I
Filosofia da Historie, isto é, da História , tanto a $ regras da representaçã o
quanto da pesquisa, e aplicou o conceito també m ao “ sistema da
Htoor/e-Universai ” , que se poderia chamar també m de “ Ontologia
até então se encontrava na sombra da arte poética, “ enxerga agora , mm
oAte
ou doutrina básica da História, e à qual não se pode negar o t í tulo
de Filosofia da História ” .358
,í .V
entre n ós, uma carreira aberta pelos poetas” . Tudo dependeria do
*

plano e das categorias através das quais a Histó ria deve ser conhecida im m :
Kõster apenas reuniu as intenções de um Chladenius, um
Iselin , um Gatterer ou de um Schlõzer em um conceito comum ,
e representada. A forma mais “ natural ” de proceder seria aquela m que eles próprios ainda n ão haviam utilizado.
na qual “ os acontecimentos são alinhados de forma sisté mica . .
Acontecimentos que não fazem parte do sistema
. Hí
O plano do autor e a unidade interna que a pró pria História
por assim registrava foram se sobrepondo, aos poucos, enquanto pareciam se
dizer, não sao acontecimentos, para o historiador ” . Somente com $
sua intervenção sistematizadora prévia, as relações pragm á ticas s ão . ví---. - ;
'

.' A:
'1
estimular reciprocamente. Nesse sentidoJustus Moser sugeriu, em
desvendadas. Se o historiador é “ filósofo ~ e isso ele precisa ser, se 1768, que se atribu ísse ao império alem ão desde 1495, “ o movimen-
V to e o poder da epopeia” . Ao seu “ plano” de “ elevar” a História à
quer manter-se pragmá tico ~ então ele estabelece m á ximas gerais, Víi
>

“ unidade” correspondeu consequentemente “ uma completa Historie


i
de como os acontecimentos costumam ocorrer” . Ele reflete sobre mk
as condições da Histó ria possível, e, com isso, o plano histó rico é mm . - do império, que pode consistir ú nica e exclusivamente na História
natural de uma unificação” do impé rio. 359
revinculado à pr ó pria História . A transição é gradativa: o historia-
»1

dor fundamenta, compara, atenta para o cará ter e as motivações, “ e


ousa derivar daí um sistema de acontecimentos, uma forç a propul - . .A J5Í
GATTERER , Vom historischcn Plan ... (cf. notâ 223), p. 21, 16, 82 e segs.
sora ” , que ele ou confirma através de fontes contemporâ neas “ ou : S57
GATTERER, Rezemion H. M. G. Kõster, Ubzr die Philosophic der Historic (Giessen , 1775).
I : Hittorisckcs Jemnal , n. 6, 1776, p, 165.
M<
BOSSUET. Dls<cms sur Phisloite unhwetU (1681). Paris, 1966, p. 40, 354 (editado por Jacques k ...
>ss KÕSTER , Ú btrdte Philosophic , p. 54 , 50, 73 e segj.
mm MOSER , Justos. Osnabcü ckische Geschichte (1768). In: Sam(¡kite Wtrkt (yol. 12 / 1), 1964,
Truche t),
LEIBNIZ. Thcodizce, § 149. In: Philosophische Schriftcn (vol . 6), p. 198.
m *®
;

p. 34; MOSER , Justus. Vorschlag zu einem neuen Plan der deutschen Reichsgesdiichte.
: Pmiotische Phautesten. In: SamtlUhe Werkt (vol . 7), 1954 , p. 132 t seg.

142 143
®v£ í ®
lili Ü m
O COMCÉfTO C Ê H«r6í tA
íllSIlfe A CONftW?AÇAO DO MCDÉ tNO COfKtHO Oí HISTÓÍ A
'
mm
;

IüSSS'
:- : v A ruptura filosófica que indicou o caminho foi feita por : :
Ü :P A profundidade com que essa virada transcendental entrela ç ara
Kant, quando vinculou a questão da rela ção da História com mmm as tarefas da representa çã o com a interconexao dos acontecimentos
I sua adequada representa çã o à tarefa moral, com que historiador :
e Histó ria estariam igualmente comprometidos. Com sua
ip|S em uma unidade da Hist ó ria fica clara numa reflexã o de Niebuhr,
“ ideia de 1829, quando justificou o anú ncio de suas preleções a respeito da
de uma História mundial [ Weltgeschichie] que possui como que
“ História da era da revolu çã o” . Ele n ão pretenderia falar “ exclusi-
um fio condutor a priori ” , ele n ã o queria dispensar o trabalho
empírico dos historiadores. Mas Kant promoveu um avan ço na
»1 : vamente da revolu çã o” , mas ela constituiria “ o centro dos ú ltimos
40 anos; é ela que confere a unidade épica ao todo” , motivo pelo
discussão sobre uma representa çã o adequada, na medida em que
qual ele a tomaria como ponto de partida. Evidentemente a pró-
vinculou a realidade histórica à s condições transcendentais de A :
seu conhecimento. Em tom de aprova çã o, cita Hume, segundo
^
pria revolução constituiria apenas “ um produto do tempo” sobre
Wf
íl o qual pretenderia falar. “ Mas falta-nos uma palavra para o tempo
o qual a primeira pá gina de Tuc ídides seria “ o ú nico in ício de
toda Hist ória verdadeira” .
mm em geral, e, diante dessa ausência, permito-me chamá-lo de erà
da revolução” .361
Por outro lado, Kant se pronunciava contra a met á fora de
A revolu ção como que criou a unidade a ser exposta, épica , da
que se pudesse construir a História teleologicamentc, como um
romance. O estabelecimento de uma unidade teleológica é muito
; História , mas por trá s dela est á o tempo em geral, o tema genu í no
¡ menos uma tarefa est é tica que moral. “ No conjunto, pode-se en - »m
• da Hist ó ria moderna , a qual , na revolu çã o, foi subsumida no seu
A '
primeiro conceito, todo ele derivado da experiência.
xergar a História da categoria humana como a concretiza ção de
í um plano não revelado da natureza ” , desde que, na prá tica , se age, ' P A A:
-i
*
Finalmente, Humboldt - em confronto com Schiller - dissol-
veu a antiga disputa entre Hi$ (orik e Literatura, ao tentar derivar os
“ através de nossa constituição racional ” , no sentido de “ apressar” AA Ê
mm par â metros de sua representação da “ Histó ria como tal ” [Geschichte
o futuro que se reivindica . Isso tem consequ ê ncias para a forma da
-
representação. Ao transportar como reivindicara Schlõzer - o
agregado n ão planificado de a ções humanas” para um “ sistema ” da
“ ÍÜ £í
mm .
iiberhaupt ] (1821) “ Com a nua separa çã o daquilo que realmente
aconteceu ainda não se chegou ao esqueleto do acontecimento. O
História , crescem as chances de concretizar esse sistema . É aí que AAQ A que $e consegue com isso é a base necessária da História, a subs-
se localiza a fundamentação hist ó rico-filos ófica de toda História . tâ ncia para a mesma , mas não a própria História” [Geschichte seí bst ).
“ Uma tentativa filosófica de abordar a Hist ória mundial [Weltges- Para chegar à pró pria História [Geschichteselbst] t haveria neces-
chulite] geral segundo um plano da natureza que tenha por objetivo
& A. sidade, por um lado , da “ investigação cr ítica do acontecimento” ,
a unificaçã o civil perfeita no gê nero humano deve ser vista como AA- m isto é, da pesquisa hist ó rico-filosófica , por outro lado, da fantasia
. A mm produtiva , que vincula o historiador ao poeta. Só entã o se poderia
possível , e mesmo digna de ser promovida a favor das intenções da
natureza ” . Assim , o projeto filos ófico de constituir a História gera
A.
wm desenvolver aquele conceito de “ realidade” que, “ independente-
mente de sua aparente casualidade, está condicionada por uma
efeitos sobre a Histó ria real , O planejamento humano exige mais
que o plano estético: ele se funde na intenção moral prática com : m
ms necessidade interna” . Graças a esse reconhecimento, a matéria do
acontecimento adquiriria aquela forma geral que a estruturava
o plano secreto da natureza 360
. como História . “ O historiador digno desse nome precisa apresentar
WM qualquer episódio como parte de um todo, ou ~ o que significa o
KANT Ideo zu «iner allgememefi Geschichte m weltburgerlicher Absicht (1784), § 8o 19 o. In:
Wm
mm *
-
Aka átmit Am$â b4 (vol. 8), 1912, p. 30, 29 (notas 27, 29), A respeito da met á fora do romance,
cf. KANT. Mutmasslicher An fang der Menschengeschichte (1786). In: AMemie Awgahe

- NIEBUHR , Barthold Georg. GeuhUhU des ZeitaUets der Revolution (vol . 1) . Hamburgo,
..
(vol. 8) p 109. :; §
?
*
II
1845, p. 41.

144 AA- A
AA % 145
mm

I
m

-
n

i*;
r !.
O CONISTO 0£ HciÔí IA
É ifif
Jnmk ; :
as ' óU >AÇÂO DO MOOVHO CONOTO 0£ HlSIÓfiA
A COSft

í»

-mWñ$WSm ÈÊ-^fe:$
mesmo - representar em cada um a Historia como tal” [Ceschichte &
überltaupt ] . Nessa medida , Humboldt parece continuar
:;Ü l


'
século XVII Í, o ónus da prova para a moralidade foi transferido
*
I seguindo as §® p para a própria Hist ória.
regras de urna Poética que fornece os critérios formais de uma repte Os historiadores debatiam, de forma animada , se deveriam
- ffkfg
senta çao material. Mas, baseado em Kant e em Herder,
Humboldt fcÇ? permitir que seu ju ízo fluísse para dentro da narrativa , ou se deve-
f d á o passo decisivo em frente, ao atribuir a rela çã o originalmente
invisível de todos os acontecimentos a enigmáticas “ forças atuantes
'

' riam deixar que a própria História falasse. Nesse sentido, Hausen
V
. escreveu , por exemplo, que o historiador “ formado de acordo com
e criadoras” , que vã o configurando a História , dando -lhe a forma as regras de Luciano” deveria “ se esconder” . “ A História possui
364
: Hp
que ela tem. O que interessaria , portanto, n ã o seria apenas “ tra
zer à tona a forma” que ordena “ os labir Ínticamente entrelaçados
|
- ^ sua própria forma de falar” , já dizia Mosheim , em 1748, motivo
pelo qual o historiador deveria “ pintar, mas pintar sem cores” .
365

acontecimentos da História mundial ” , mas sim “ descolar essa forma


deles próprios” , isso n ã o representaria nenhuma contradiçã o, pois a - | | §¡

p

Pois - como acrescentava Mõser, em 1768 , “ na História , como
numa pintura, só [deveriam] falar os atos... Impressão, apreciação
História como uma interconexão din â mica e como conhecimento |
I teria uma base comum, “ já que tudo aquilo que age na História
\ v£| fp e ju ízo devem ser específicos de cada espectador” . Uma posiçã o
366

retó rica preferida dos historiadores - exatamente para obter um


í; mundial [Wettgeschichte] , também se movimenta dentro do interior efeito exemplar - era a de fazer com que a História falasse por si
do homem” .362

i; 1
. :@ | |
| @

mesma, uma posição que se mantivera desde Luciano.
A determinação transcendental da História como uma catego- Do outro lado, por causa do Iluminismo, foi se fortalecen-
ria da realidade e , simultaneamente, da reflexã o , aparece aqui corno f
f íSfgt ó Wx do decisivamente aquele campo que exigia do historiador um
resultado de um longo processo envolvendo Literatura e Historik , iSj posicionamento enfá tico a favor da verdade, em especial pelo
no qual, ao final, a Estética foi absorvida pela Filosofia da Histó . ensinamento moral da História . A antiga versã o de que medo ou
Agora era possí vel que Schaller, em 1838, nos Hallischc
ria Wp-g!
--
Jahr | § p - esperan ç a diante do julgamento hist órico possui efeito regulador
i
biicher, pudesse constatar, de forma lacónica: “ A História como . ~.

t
^x :• *
? ;r W•
sobre o comportamento do mundo posterior já fora aceita no
representação daquilo que aconteceu, na sua perfeição, é, necessa- Humanismo, por Bodin , por exemplo.367 A fó rmula de Viperano,
riamente tamb ém Filosofia da História” .
, 363 | v í| l f: segundo a qual o historiador deve ser um“ bonus judex et incorruptas
V

b) Da moraliza ção à processualiza çã o da História . A ta „Ufe


: - -
: '

censor’ m , foi tanto mais aceita quanto durante o sé culo XVIII o


%

refa poetológica atribu ída à Historie exigira a apresenta ção de uma fefe: mundo posterior foi guindado à condição de fórum da justiça , em
interconexão com sentido. Essa interconexão foi atribuída, como 1 «i substituiçã o ao Ju í zo Final. O historiador, “ por assim dizer, est á
responsabilidade, à “ própria Hist ória” [Geschicbte selbst] t graças a M sobre os t ú mulos e chama o $ mortos” , sem atentar para títulos ou
reflexõ es histórico-filosóficas, com que ela seria comprovável nela
mesma. A velha tarefa moral da Historie de, através de ju ízos, n ão
-
i m séquitos , ele os contempla, “ aqui com indiferença , lá com olhar

só ensinar, mas tamb ém melhorar, sofreu uma mudança parecida


Se originalmente a submissão de uma História real a normas mo- :V&
.
¿
88
Ésl JH HAUSEN, Frcye licurthcilung íiher die Wahl, ü ber die Verbindimg, und EinkLejdung

rais era coisa do historiador, como guardi ão filosófico, ao final do


5&’ Si: * der hístorischen Begcbcnheiten , und Vergleichung der neucn Geschichtsscbrcibcc mil den
. .
romischen. In: Vtnní sihfe Sahrijtin (cf. nota 279), p 10
£ mm 345 . .
MOSHEIM , J. L. v. Versuth dní f tuipattUtlitthcn und grfindUthtn K<tzagachi<hf ( 2 Aufí.,
G õ tcingcn , 1748, p. 42 e segs .
J 6)
HUMBOLDT, Ü ber die Aufgabe
y: . . .
345 MÕSER , Osnabr Ü ckische Geschichte, Vorrode In: SãiM ÍUhc Wakc (vol. 12 /1), p 33

.
Geschkhtjschrcibers (cf. nota 153), p 36, 40 e .
jeg 47. 363 .
BODIN, Method *» .. (cf. nota 340), Ü 2 b f.
5W
SCHALLERJuUus. .
HaU íuheJdhibucher, n.8Í, 1838, p 641 (Rezension von Hegels Vodesungen
a yA
VI PERA NO, Giovanni Antonio. De setibetnia historia fiber. Antwerpen , 1569; KESSLER ,
iiher die Getchichte der Philosophic),
% .. . .
Thcoretikcf . (cf nota 179), p 65.

mi

146 147
I fe.
O OONOITO Oí HSTóRIA
S
: flp .
A OOWiOUftAÇÃO DO MOMSNO CONCfflO C< H SIÓÍIA

de juiz'5.369 Assim, até os soberanos, que sempre tentam se esquivar jours de la prosperitê et du banker"?1* A sentença histórica se transfor-
da verdade, poderiam, graças à Historie* aprender a julgar-se com mou em expectativa hist órica de sua execu çã o. Não mais apenas
anteced ência. Uma força moralizante sa ía dela , a Historie constituía
- nas palavras de D'Alembert - um “ tribunal integre et terrible” Os
«a ® a Hist ória individual contava como exemplo, mas toda a História
foi processualizada , pois se passou a lhe reivindicar uma tarefa de
senhores governantes, de forma alguma , ficariam impunes , como criar Direito e de administrar Direito, Quando Herder editou
registra em tom de elogio o tradutor de Bacon; a História é seu có- m suas Ideen zar Philosophic der Geschkhte der Menschheit [Ideias sobre a
digo penal.371 E é nisso que consistia sua aplica çã o “ filosoficamente” ==

. ' : Filosofia da História da humanidade], partiu do princípio de que,
v como na natureza, tamb ém na Hist ó ria “ vigoram leis naturais que
pensada: “ A História efetivamente apõ e o carimbo da imortalidade
mm estã o na essê ncia da coisa” . Uma dessas “ regras” dizia: “ O abuso se
aos atos bonitos, e cobre os v ícios com uma marca ção em brasa,
que séculos não conseguem apagar. Se a História, portanto, é es- mi punirá a si mesmo, e a desordem, com o tempo, simplesmente se
tudada de forma adequada , ela representa uma Filosofia , que causa transformará em ordem, através da incansável dedicação de uma
uma impressão tanto maior em nós quanto mais ela falar através de
exemplos vivos” 372 A Historie que ensina pelo exemplo, já no século
XVII, foi definida como Filosofia: “ Ctmi ergo Historia nihil aliad sit ,
m
ms m *
razão crescente” .376 A moral da Histó ria foi temporalizada em
direção à História como processo. O hemistiquio de Schiller, do
ano de 1784, se espalhou rapidamente: " Die Weltgeschichte ist das

quam Philosoplna exemplis atens" como havia escrito Morhof.373 E
a versão adotada por Bolinbroke, de que a Historie seria a Filosofia
III Weltgericht ” [A História mundial é o tribunal do mundo].377 Abrir
mão de uma justiça cujas compensações só se fazem no além levou
que ensina através de exemplos, foi muito citada; ao historiador mK à sua temporaliza ção. A Histó ria hie et mine adquiria um caráter
m
moralizante se agregara , além disso, uma função judicial filosófica ,
“ Justiça histórica é a capacidade de chegar a conclusõ es vá lidas a
mm
rnm --
..
incontornável: “ Aquilo que a gente excluiu do minuto, / nenhuma
eternidade devolve” .
partir da verdade histó rica que deriva de fatos” 374 ijl
'
Em 1822 Humboldt pô de constatar que “ o Direito [garante sua
Ultrapassou -se um patamar decisivo em direção à Era Mo- existência e validade] ao longo do caminho inexorável dos aconte-
derna quando a tradicional função judiciá ria da Historie, com sua Tim I cimentos que, perpetuamente, vão se julgando e penalizando” .378
concep ção do coletivo singular, pôde ser transferida para a “ História imn %. Com isso, formulou em termos teóricos aquilo que se transformara
% em legitima ção histórico-filosófica geral da a çã o pol ítica , quando,
como tal ” [Geschkhte ilberhaupt] Uma fórmula que representou a mi ;i
>

transição foi utilizada por Robespierre, quando, em 1792, se dirigiu


mm
: Vit
ó:
'

por exemplo, se invocava o “ Direito da História mundial ” [ Well-


y .
geschkhte] , que certamente estaria de seu lado. 379 Ou quando Ernst
à posteridade: " Postérité naissantc> riest à toi de crofte et dfatnener les :ó
tPI Moritz Arndt exclamou: “ Aqueles que querem levar o Estado para
t; ;
ó -
-; trá s sã o loucos ou moleques. Esse foi o julgamento da longa História ,
.. v: .
349
A13 BT, Briefe, d í e ntueste Litteraiur betreffend , 10, 1761, p. 221, 161 (cam). ir
3:3 D’ALKBERT,
Diseoufsprêliminaite de 'f ntteyclop édie (1751). Hamburgo, 1955, p. 62 (editado por mmv
Erich Kohler).
371
Essa é a formulação do conde sueco Tessin; citado por BACON, Francis, Oberdie IViirde and
Wm v
: ¿.
373
Robespierre, em discurso no Clube jacobino sobre a quest ão da guerra , cm 11 de novembro
S
deu Porting der WlsumeUaJUn. Pest , 1783; reimpresso em Darmstadt , 1966, 1. 96 (nota) (versã o

.
de 1792 In: BOULOISBAU, .
LEFBBVRB, Georges; SOBOUL, Albert (Eds.) Oumes
alemã de Johann Hermann Pfingsten). ; .
(t . 8). Paris, 1953, p. H 5
372 HALLÉ ( vol. 1), 1779, p. 521. 37f HERDER. Ideen aur Philosophic der Geschichle der Menschheit (1784 /87 ). In: Sàmtliche

373
MORHOP, Daniel Georg. Poí yhí sfo/ ¡itmtius, philosophies ct practicas (t. 1). 2. Aufl., Lnbeck ,
M -m-ótÈ
.: yy m imi IVerkc (vol . 14), 1909, p. 244, 249.
. .
1714 , p. 218 (editado por Johann Molter) (1 Aufl.: 1688); cf BOL1 NGBROKE, Henry St.
. . lí® É
ó >y :;
rt 3 ?]
. - .
SCHILLER. Resignation In; Sdkular Ausgabé (vol. 1), s. d , p. 199.
HUMBOLDT, Ober die Aufgabe des Geschidmschreibers (cf. nota 153), p. $5.
John Viscount. Letters on the study and use of history (1735) Londres, 1870, p. 5 3

m Citado por ROTHFBLS, Hans. Theodor von Sthõn , Fried rich IViihebn Í V. und die Revolution wii
314 ( An ó nimo]. Uber hUtonschc Gerechtigkeit und Wahrhcir, fiudaemoma oder deutsches
m
Votksgí uck. 1 (1795) , p. 307.
mm
im u
1848. Halle, 1937, p. 193.

148 ms i - 149
.
*, *

O CONOCIO w H SIó JA
• :r &? A COÍ tfiGUMÇÀO CO MOGEWÍO COÍ iCE íTO pi HíSTÓ VA
¡
¡ Í fiv-
|
'

.
*
i; ••
fiM
m
'

e esse julgamento fornece uní dos poucos ensinamentos do passado p para citar um dos in ú meros exemplos -, Hitler a pôde invocar, em
v: que deveríamos aproveitar” . 380 E em 1820, Põlitz confirmou que a mm 1924 , quando se defendia contra a acusa ção de alta traição: “ Ainda
História , desde 1789, forneceu a 11frutífera5’ comprova ção para "a
.
imC£
m
w
m que nos declarem culpados mil vezes, a deusa do eterno tribunal

^iili
palavra de conteúdo denso” de Schiller 381 da História rasgar á sorridente o pedido do promotor e a senten ça
Vivenciar a História como um tribunal poderia aliviar o his - do tribunal; pois da nos absolve” .384
toriador da formulaçã o subjetiva de seu ju í zo Por isso, Hegel se . c) Da formula ção racional de hip ó teses à razão da His -
defendeu , de consciê ncia tranquila, contra a acusação da “ presura tória. O desafio poetológico frente ao plano histórico levou à
-
çao de ter se comportado como juiz do mundo ” , ao desenvolver
a História como processo. Os acontecimentos da Hist ó ria geral
rnmá mm unidade interna, ao “ sistema” da Histó ria. O postulado por uma
moral da História levou à justiça do processo hist órico. Para os
do mundo representavam para Hegel a “ dialé tica dos espí ritos m m mm
-

contemporâ neos, ambas as respostas foram resultado de reflexões


mmmm|m
,

particulares dos povos, o tribunal do mundo” 382 Na transiçã o da . i-


.
filosóficas sobre a Historie. A expressão em si (“ la philosophic de
formulação de um juízo moral, por parte dos historiadores, para o Vhistoire” ) vinha de Voltaire, que , em 1765, publicara - sob o
processo como História mundial [ ÍVeltgeschichte ] , $e firmara a vis ão
filosófica da História do íluminismo em direção à Filosofia da
História da Era Moderna. ,
mm pseudónimo de Abb é Bazin - um escrito com esse t í tulo, que logo
teve vá rias ediçõ es e reimpressõ es. Três anos depois, surgiu, em
383

Quando, mais tarde, a Escola Histórica se opôs a essa in- '¡ mm tradu ção de Johann Jacob Herder, para o alem ão, Die Philosophie
der Geschichte [A filosofia da História].386 O desafio contido no
terpretação, nao conseguiu mais anular os rastros da experi ência
desdobramento do novo conceito foi resumido pelo editor alem ão
então vivida. O topos acompanha , desde ent ão, a História Moderna
- seja de forma critica, seja de fornia ideológica pois ele indica
— f
ms na seguinte observaçã o: ele não lembraria “ de nenhum livro em
que se encontrariam tantas objeçõ es à fé hist órica na Sagrada Es-
para a unicidade e a direção das vivências modernas, que vão se
superando de forma constante. Em 1841, Wilhelm Schulz escreveu
4 :P mm critura quanto na Filosofia da História” .387 E , em notas de rodapé
no Brockhaus der Gegemvart [Brockhaus da atualidade]383: A açã o
que eram mais extensas que o pró prio texto de Voltaire, procurou
“ mM refutar os ataques à Bí blia , à História da criação e à fé histórica
unilateral seguiu imediatamente o castigo da História mundial mm % na providê ncia. A “ Filosofia da história ” , de fato, no in ício, foi
[ Weltgeschichte] como tribunal do inundo, no qual , para a Restau -
ração, o desmedido salto para o passado se transformou num salto mm um conceito polê mico - se voltava criticamente contra a fé nas
morí ale, da mesma forma que, para a Revolução, se tornara o salto Escrituras, e metafisicamente contra a provid ê ncia divina , que ,
para o futuro” . , mm v¡
segundo a interpreta ção teológica , criava a conexão interna da
Também como palavra de ordem , e destitu ído de qualquer
significado hegeliano, a met á fora do tribunal se alimenta da pressu-
posiçã o de uma justiça que se realiza através da História . Por isso - só
'
¡W . 4
-v .
•:
m

''
História . Voltaire se encontrava na esteira de Simon , Spinoza ou
de Bayle , dos pirron ístas e racionalistas, retomando os desafios
apresentados por estes contra a Teologia.
* if '
150
- .
ARNDT, Ernst Moritz . Der Baiutmlemd poUtisch betrmhut Berlim, 1810, p. U 3 . pis 334 Adolf Hiller, na pahvra final antes da leitura da sentenç a , em 24 de mar ço de 1924. In: Der
Hitkf Vnzea vordetn VolksgerUht h M útuhen (parte 2). Munique, 1924, p. 91.
-
Mi
3SI
PÕLITZ, Karl Heinrich Ludwig. Die IVeltgeschiehie fiirgebildele Ltser tout Studlerende (vol. ).
4
3‘ed ., Leipzig, 1920, p. i. 351
BAZ Í N, Abbc (- Voluke). Lú philosophie dc l*histoirc (Amsterdam, 1765). Genebra , 1963
HEGEL. Enzyktopddie derphihsophisdien WisstHxhaften im Gntndrisse (3. Aufl , 1830). Hamburgo,
. (editado por J. H . Brumfitt).
1959, p. 24, 246 ( Vorworr c § 548) (editado por Frtedhelm Nicolin e Otto Poggder) ;
. Die Philosophic der GesehUlue da vtrstcukencn Htnn Abies Bazin , Leipzig, 1768 ÇversJo alema de
ili
.
SCHULZ, W. Verbete ^ Zeitgeist" In: (Enciclopédia) Bicekhaust Convcrsations-Lexicon dcr Jph . Jacob Harder).
.
Gegemvart (vol. 4 /2), 1841, p. 462 !Iv ? ., Vorbericht.
( bid
&
.
150 IÍ I
:® 151
m :
O colero c* HSTóAíA mmm- - A CCNFJGU.UÇÂ O DO MCOftNO CONC&TO 02

No mesmo ato , a Histone se via provocada Pois, se o plano . da Hist ória, quando Iselin - um ano antes do escrito de Voltaire - *

divino deixava de existir, a Historie se via obrigada a desenvolver editou, em 1764 , suas Philosophische Mutmassungen iiberdie Gechichte
interconexões, que - caso existissem - deveriam derivar da pró pria
Historia , uLa philosophic de Fhistoire est fondé sur les modifications et mm m li .
der Menschheil [Conjectura çõ es filosóficas a respeito da Histó ria
da humanidade).391 E quando Iselin tentou explicar a História
l'ordre sucessif des fits memes” - como formulou Wegelin, quando,
nos anos de 1770 a 1776, apresentou $ ua Philosophie de /7tistoire à
-'
wmm humana , de forma progressiva, a partir de motivações internas,
admitiu , de forma sincera: “ As revolu ções que descrevemos neste
Academia de Berlim , 380 Tratava-se de conseguir interpretar de livro constituem , no entanto, muito mais hipó teses filosóficas que
forma filosoficamente consistente a multiplicidade e a sucessão . / verdades histó ricas” .392
de realidades históricas, eliminando o acaso e os milagres, através Independentemente de a providência divina ou um plano na-
de fundamenta ções racionais. Para cumprir essa tarefa, a Historie lii :
tural continuarem a agir nos bastidores , foi a coragem de formular
se serviu cada vez mais de hipóteses , que possibilitavam superar hip ó teses que permitiu a elabora ção filosófica de uma nova História .
lacunas no conhecimento dos fatos e tirar conclusões sobre o des-
Si
m Os historiadores e filósofos morais escoceses, que haviam escrito
-
conhecido a partir do conhecido. Importava como disse Wegelin , m- : as histórias universais [Universalgeschichten] sobre a surgimento do

recorrendo a uma met á fora de Bacon consertar e complementar
Uum quadro meio apagado” , ou “ uma coluna danificada, a partir
4 -
mundo moderno, numa linha histórico-social e pr á tica , também
formularam esta premissa 393: “ fit examinaiing the history of mankind ,
de algumas partes originais” . O pressuposto te órico da “ pesquisa”
histó rica consistia em “ diferenciar entre a ciência histórica possí-
-
mi as well as in examining ( he phenomena of the material world, when we
cannot trace the process by which an event has been produced > it is often of
vel e a verdadeira” .389 Com isso, tamb ém aqui - em acordo com a
hierarquia aristotélica - a Historie se aproximou da Filosofia .
li
: Ég
importance to be able to show how it may have been produced by natural
causes... To ( his species of philosophical investigation, which has no appro -
No seu Discours, de 1754, sobre a origem da desigualdade :lílS priated name in our language, I shall take the liberty of giving the title of
humana , Rousseau havia elaborado uma histoire hypotétique, cujas Wm - Theoretical or Conjectural Histoty, as employed by Mr. Hume, and with
.
conjectures se transformam em motivos racionais, Uquand elks sont
le$ plus probables qu'on puí sse titer de la nature des dioses” Constitui-
ria tarefa da Historie estabelecer relações entre os fatos, Ves à la
*
m
'¡ mm m
&
- .
what some French writers have allied Histoire Rai$onée” m
També m na Alemanha, foi esse “ eterno burilar uma teoria da
História ” - de que foi acusado Gatterer395 - que clareou os princí -
philosophie r) son défaut , de determiner Ies fits sembtables qui peuvent
Her” *90 Graças a essa liga çã o entre Filosofia e História , no sé culo
les mi pios racionais de constru ção necessá rios para o conhecimento do
mundo histórico. Friedrich Schlegel resumiu o status de reflexão
XVI Í I a doutrina do Direito natural foi historicizada . Bra preciso SI cient ífico- teórica que havia sido alcançado em torno de 1800,
se certificar da natureza da História , para conseguir entender in
terconexõ es, sem precisar recorrer a razões ou fins supra-históricos.
- 111 YA ISELIN, Isaak . Philosephischt Muthm assungen. Ueber die Geschichte der Menschheil. Frankfurt /
Nesse sentido, estamos diante de uma fundamenta ção antropológica m . . .
Leipzig, 1764, 2. Auft : Ueber Me GtschUhU étr Mensehheit (2 vol*.) Zurique, 1768.
m ISELIN, Utbcrdie Gcschichte der Mtnuhheit (vol. 1), p. 201.
MEDICK, Hans. Naturzustand tiudNtUurgeschichtcderbiirgeiVchtn Gcselí schaft.Gottingen, 1973,
.
w WEGELIN, jakob $ur la philosophic de
1770. Berlim , 1772 , p. 362.
,
Phtetoire , NoveaaxHtemõlns d? VÂ cnâé/ní eroyale oito
: MI .
(nota 55) 200 (nota 84) .
.
p, 137, 190, 203, 306 e segs.; a respeito da história da palavra "history*', cf. ibid . , p 154 e seg .
WEGELIN,Jakob, Brie fe (cf. nota 288), p. 4; a respeito, cf, BACON, Francis. The advancement
.
Ml STBWAfLT, Dugald Account of the life and writings of Adam Smith (1793). In: HAMILTON,

oflearning 2, 2 , I c segs. In: Works (vol. 1) ( reimpreso de 1963), p, 329 c segs.


; ê William (Ed .). Colhcled Walks (vol. 10). Edimburgo, 1858, p. 34.
5)5 (
Anónimo) . Schreibcn au $ D... an cinen Freund in London viber den gegenwarrigen Zustand
ROUSSEAU. Discours sur 1’origine et le $ fondemen de I’infgalité parmt les homrnes. In: dcr historischen Litteraturin Tcutschland. t>¿rTeufsehe Mcikur, vol. 2, 1773, p. 253. Agrídeço
*
Oeawcs computes ( t. 3), 1964, p. 127, 162 e seg. W. i a Jü rgen Vojs pela indicaçào.
Kl
152
viS # 153
;SÉ ; lft
SI fc
OCC KWQOÍ HSTÔflA eo MOõlrlNÔ CCKSCÍÍÍO 0'
* -
À

\
a : 5 ;: . :

da seguinte forma: “Já que se fala tanto contra hipóteses, está na -


vai mostrando aos poucos” .300 “ No conceito da História, [estaria
hora de alguém , um dia , tentar come çar a História sem hipóteses. - .
contido] o conceito de uma progressividade infinita” , que age nó : •

Não se consegue dizer que alguma coisa é, sem dizer o que ela
é. Enquanto se pensa neles, os fatos já sao referidos a conceitos, e
não é indiferente a que conceitos eles sao referidos” Quem abriria .
iii
w
sentido “ de acelerar o progresso da humanidade na construção de . :/ -
uma concepção geral do Direito” . Por isso, em 1800, Schelling sè :
deu por satisfeito com o fato de que “ o ú nico objeto verdadeiro dá - ;
'

mão da reflexão teórica ficaria entregue a uma escolha aleatória , se Historie só pode ser o surgimento gradativo da constituição civil
vangloriaria de “ possuir sólida empiria pura totalmente (¡ posteriori , universal , pois exatamente este é o ú nico motivo de uma História” ;
” m
mas estaria perseguindo, de fato e sem perceb ê-lo, “ uma visão a toda e qualquer “ outra História” seria puramente “ pragmá tica” .
399
imimm
priori, muito unilateral, muito dogmá tica e transcendental ” - foi
-&:z;
Depois que a Filosofia havia sistematizado a História , essa
História podia retroagir sobre a Filosofia e compreendê-la histo-
assim que Schlegel retomou a crí tica kantiana. 396 Na formula ção
de hipóteses, foram unificadas demandas científico-teó ricas es-
pecíficas da disciplina com reflexões transcendental filosóficas. - iil ®

ricamente. Para Fichte em 1794 , “ a Filosofia... [era] a História

sistemá tica do espí rito humano em suas formas gerais de agir” .
400

Assim , a “ primeira pergunta ” que o jovem Schelling fazia “ a uma Assim, “ por motivos racionais, mediante o pressuposto de uma
Filosofia da História” foi a seguinte: “ como uma Histó ria como tal experiê ncia como tal, antes de qualquer experiência determinada
[Geschichte iiberhaupt] seria imagin ável, já que, se tudo aquilo que é, :
'¿
0
-
: anterior, [se poderia] calcular a marcha do gênero humano” . Como
para cada um , só é posto através de sua consciência , tamb é m toda filósofo, seria possí vel mostrar quais são os degraus de cultura que
a História passada, para cada um, só pode ser posta através de sua 3®l|i uma sociedade deve percorrer, como historiador se estaria perscru-
•A
consciê ncia > .
> <107
tando a experiência para saber que degrau, em determinado tempo,
*

A partir da Filosofia da consciência, o Idealismo alem ão de- : teria sido efetivamente alcançado. Constituiria tarefa simult â nea
senvolveu Filosofias da História que incorporaram os pressupostos à S: dos filósofos e dos historiadores reconhecer os futuros meios de
até aqui descritos da época do Iluminismo, e as sintonizaram entre • *
>: -> ;
*
satisfa ção das necessidades.401
si. A unidade de sentido esté tica das representa çõ es hist ó ricas, a Para Hegel, a convergê ncia de Filosofia e História fora inte-
moral atribuída ou buscada na História e, finalmente, a construção •

gralmente alcançada. O autodesdobramento do Espí rito se reali-


racional de uma História possível - todos esses fatores foram articu - zaria tanto na Hist ória quanto na Filosofia - e isso se mostraria
lados numa Filosofia da História , que acabou estatuindo a “ própria
Hist ória” [Geschichte selber] como racional, e a reconhecia como
m &
.
tamb é m na historiografia. Tanto em sequê ncia sistem á tica quanto
em diacrônica , Hegel classificou a escrita da História em três tipos:
racional. Aquilo que Kant ainda havia formulado como postulado
:
W ‘
a original, a refletida e a filosófica.402 Nesse aspecto, ainda n ão se
ft
moral, e elaborado de forma hipotética, foi compreendido agora ií .
;v :
distinguiu de seus predecessores, quando, para ele, “ a Filosofia da
como emancipa ção do Direito ou do Espí rito ou da Razão, e de « História não [era] outra coisa que a apreciação pensada da mesma” .
:;í;í«í3 & Era decisiva “ a simples ideia da razã o de que também na História
suas ideias no processo da Histó ria . Schelling disse mais adiante: ‘
' ífiv
“ A História como um todo é uma revelação progressiva , que se
'
W7 , s SCHELLING, System..., p. 603.
tf .
- fiW-
mn í

m Ibid ., p. 591 c seg.


. - .
SCHLEGEL Friedrich , A í henaums Fragment Nr. 226 \n\ SãmdUht Warke (l1 sc çào, vol. 2), FICHTE. Ü ber den Unterschied des Geistes und des Buchsttbcns in der Phiiosophie. In:
.
1967, p 201 e seg. 7
¿: Akademie- Aufg bí (vol , 2 /3), 1974, p- 334.
ú

3
SCHELLING. System des U â nszcndcntalen Idealismu í 4,3 (1800). In : IVcrkc {vol. 2), 1965, p. ol FICHTE . Einigc Vorlesungen liber die BtuEimnuag des Gelchrten (1794). In: Akadtmie-
590; a respeito, c£ MOL1TOR, .Franz Joseph. Idean zu enter kfit ] f(igen Dyitanuk âtr Qmhhhte. Ausgflbe (vol. 1/3), 1966, p. 53.
Frankfort , 1805. • §S0: f rnim/ L ,. (cf. nota 236), p. 4.
HEGEL, Die ó
- S&v 3

154
:S - rí U
:mf í i 55
m
. ' I O CONC&ID 0! Hf 5T<íi«A fev .
À COvnOU ?AÇAO DO MODttNO CONC 0TO De HiST&.lA
- . - • •: • • .
%\ % , V. l •

mí M :¡
* •

^^ ^ y V. • *

Vjinmdial as coisas aconteceram de forma racional Essa convicção


? jlp
¡
da Filosofia da Histó ria . Gra ç as ao transcendentalismo, a “ História0
V- -
e esse reconhecimento constituem um pressuposto decorrente da
apreciaçã o da História como tal ” [Geschichte überhaupt] A íii Com isso, . I Éf í se transformou em conceito de uma religiã o secular da consciê ncia ,
que continuava a atribuir à História , como revelação do Espí rito,
“ a História” , como coletivo singular de todas as Histórias indivi-
duais, n ã o é apenas resultado de reflex ã o racional , mas ela própria
Vá:;.. - as estruturas de uma teodiceia , “ pois - como escreveu Novalis406 -
'

toda a História é Evangelho, tudo aquilo que é divino possui uma



• V
constitui a forma em que se manifesta o Espí rito, que se desdobra
: íg U .:. Hist ória0.407 “ Deixa que eles meçam e pesem assegurou Droysen
no trabalho da História mundial “ Esse processo de ajudar o Espí rito
a chegar a si mesmo, a seu conceito, é a História0.404 Do ponto de — , nosso negócio é a teodiceia 0.408 Essa História produziu um ex-
cedente de fundamentação para toda a experiê ncia já vivida e para
vista de seu conte údo, esse processo constitui uma continuidade
no desenvolvimento da liberdade, que se concretiza na humanida- «ISIS; aquela ainda a ser vivida. Tamb é m as reservas metodológicas da
Escola Histórica não conseguiam se opor a que toda a çã o dentro da
de, Evidentemente , para si mesmo, o Espirito, que se exterioriza

m-u
História , desde então, fosse compreendida como açã o para a História ,
nas suas formas de manifesta ção históricas, permanece igual Sua
para uma História que atribuía a todo ato de fazer um objetivo, e a
concretiza ção crescente no tempo n ã o se perde no infinito de um
todo sofrimento um sentido. A nação como portadora do Espí rito
futuro ou de um passado, mas constitui sempre tempo realizado.
do mundo; a pol ítica como realiza çã o de ideias e de tend ê ncias,
Por essa raz ão, Hegel tamb ém compreende a Hist ó ria como
forças ou poderes; o fim inerente a todo acontecimento de executar
“ uma História que ao mesmo tempo não o é, pois os pensamentos, Má* : '

• o Direito; a “ ast ú cia da raz ão” de Hegel; a concretiza ção da liber -


os princípios , as ideias que temos diante nós, são algo presente...
dade humana ou da igualdade ou da humanidade no transcurso dos
Algo histórico, isto é , o passado como tal não existe mais, est á ;M- àm á
morto. A tendência histórica abstrata de se ocupar com objetos ina
-
'

mm$Ü M:
§ acontecimentos - todos esses topoi da linguagem social e pol í tica
tentaram , pelo final do século XVIII, incorporar o conteú do “ da
nimados difundiu-se muito, nos tempos mais novos” - acrescentou
ele. “ Mas se uma determinada era trata tudo historicamente, e, &
Histó ria como tal ” [Geschichte ü berhaupt ] em seu conceito .
$ Em 1830, Karl Heinrich Hermes constatou retrospectiva-
portanto, só se preocupa com o mundo que n ão existe mais, isto mmu -
mente que só ent ã o assim como a verdadeira ci ê ncia da natureza
é, quando só se frequentam cemit é rios, então o Espí rito acaba com
sua própria vida , que consiste em pensar a si mesmo0.405 Hegel,
* ;
- também a ciê ncia da História estaria começando. O “ conceito
de História ” até agora utilizado seria imprestável e tautológico:
'
í:
ao reunir no seu pensamento a unicidade de qualquer situação
“ A História é a representação de acontecimentos curiosos , apa -
com a determina çã o de toda a História como História da raz ão,
rentemente, n ã o significa outra coisa que a Hist ória é a História...
antecipou a crítica àquele Historicismo que n ão mais podia lidar
com essa tensã o, e se recolheu para o tempo perdido do passado. §0 % Somente com os mais recentes progressos na ci ê ncia do Espírito
Por outro lado, a Filosofia da História do Idealismo alemão
- com base nas suas premissas iluministas forneceu a estrutura
duradoura da qual a Escola Histórica não conseguiu mais desven-
cilhar-se, independentemente de sua crítica ao car á ter especulativo

.

-m ám*

á
Vp :
;
conseguimos penetrar mais profundamente no significado da His-
tória ; somente através de Fichte, Schelling e Hegel descobrimos
aquilo que antigamente só era intu ído por rar íssimos espí ritos, isto
é, que História é o desenvolvimento do Espí rito na humanidade, e
iv^
v

Çt I:
4M
lbid,. , p. 25. 28. . -
M r ’.v :'
;
JCi
-
NOVAL1S , Fragmente undStudien 1799 1800, Nr. 214. In : GesammtUt V/erke (vol . 3) , 1968 ,

«
'
/
p. 586 .
104
Ibid . , p. 72; cL HEGEL. Ewkilung in dieGachMtU du Philosophic . Hamburgo , 1959 (reimpresso de I w Novati ». Die lehriinge 2 U Sais . CtsammeUe Wtrke ( vol . 1) , 1960, p. 99.
1966), p. 111 (editado poc Johannes Hoffnieister, 3. Aufl . Resumida; e por Friedhclm Nicolin). ipil!
5 ^ 3«
491
Johann Gustav Droysen, em cam a Wilhelm Arendt , de 30 de setembro de 1854 . In:
4C 5
HEGEL, Êfiife/Ííi íig..., p. 133 esegs . HOBN Ê R , Rudolf (ed.). Bríefweehsil (vol . 2). Stut í gart / Btrlim , 1929, p, 283.

15 ó
MII 157
O cotarro Oí Harte
*

cabe agora a nós - depois desse reconhecimento montar, a partir -


Jp Mm*
A CCfriflOu íACÀO oo MOOtfNO COHCfriO Oc H $íó?,'A

é, se na História sempre acontece algo mais ou algo ineifos:d àq ú ilo;M /Ev ;::

^ ^^
do material bruto que até agora nos foi oferecido com o nome de
:

vT que está contido nas preliminares , ent ão nenhuma análise/cáu Sl p:;


:

Hist ória, o edifício cient ífico da Historia ” /* 09 i :S sal consegue dar conta da singularidade de uma situação ^
-
d) Resultados da guiñada hist órico filosófica ao tempo da
« formulação de Creuzer, se l ê o seguinte: “ O Espí rito pr óchra- pórii/i ivS^
revolu ção. As Filosofias idealistas da Hist ória tentaram fundamentar mstP
ii ma: nexo ... Somente ^
a unidade da Historia em sua extensão temporal e no modo de sua
movimentação. “ Evoluções progressivas, sempre crescentes, sao a
matéria da História ” ( Novalis).410 “ Aquilo que n ã o é progressivo
mss
m : :
) ::
uma unidade que está acima do pr óprio
essa unidade pode ser chamada de histórica
uma ideia” .413
...
causal
ou de unidade de V;

Herder, Hegel e Humboldt, cada um a seu modo, descartaram


.
não é objeto da História” (Schclling) 411 Ainda que se especulasse como banal a abordagem pragmá tica , que busca causas e efeitos a -
sobre o in ício e o destino da Hist ória mundial, isso sempre acontecia
com vistas a um diagnóstico sobre o próprio tempo. Só ent ão o
conceito de “ História ” se tomou capaz de preencher, para alé m de
qualquer mé todo científico, o espa ço antes ocupado pela religião
iSSS
liberdade se perderia na necessidade. Com isso , o abandono de um
nexo causal entendido de forma mecâ nica baseado em fatores
que , por natureza , são iguais - levou à visualiza ção de um tempo
histórico que é inerente a todos os fatores e, com isso, os qualifica

eclesiástica, só então o conceito estava apropriado a trabalhar com
as experiê ncias da revolução. Vamos citar três crit é rios que foram
mê W de forma historicamente diferente. Nunca é indiferente“ qimuh algo
aconteceu , ou teria acontecido, ou irá acontecer ” , disse Herder. “ Na
decisivos para a liberação de um novo tempo, que, na reflexão
m verdade, toda coisa mutá vel tem em si a medida de seu tempo; essa
-
histórico filosó fica , levou ao novo conceito de “ História ” .
Primeiro, a Filosofia idealista da História introduziu o axioma
do cará ter ú nico [ Emmdligkcit ] , sobre o qual se baseavam tanto o
mh medida existe mesmo se nao existisse outra; n ão existem duas coisas
que tivessem a mesma medida do tempo... Portanto (pode-se dizê-
lo de maneira sincera e audaciosa), no universo existe, ao mesmo
“ progresso” quanto a Escola Histórica. A soma das histórias indi iB ^
- illS tempo, uma infinidade de tempos” . Com isso, Herder resumira,
viduais foi elevada à unidade da própria História [Geschichte selbst] y
numa fórmula , a vivê ncia básica da modernidade, na qual estão
.assi
que é ú nica, por natureza , Essa concepção, que tentava dar conta
contidos tanto o “ progresso” quanto a “ História” 414 , fórmula que
da experiência da Revolução Francesa , fez com que inicialmente a
aná lise causal pragmá tica do íluminismo fosse relativizada. Schlõzer
wmw
- }<
&* quase o assustou - a contemporaneidade do não contemporâ neo
ou a nao contemporaneidade do contemporâ neo. Por isso - como
v.
!

ainda havia destacado, de forma aditiva e mais quantificante, que o


Herder aventou contra a determinação kantiana do tempo como
conceito de História, “ no seu significado mais nobre , . [incluiria] .. :
pura forma de concepção interna o tempo seria “ um conceito
o conceito secund á rio de completude e de interconexão ininterrup- m i£
:vm ¡.
ta” Essa História se transformaria em “ Filosofia” quando “ sempre <wm de experiência ” , 415 Ou, como Novalis deduziu de forma afor ística:
-
^
$ “ O tempo é o historiador mais seguro” .416
vincula efeitos a causas” .412 Mas se a História sempre é ú nica, isto

09
HERMES, K íH Heinrich. BlUUc am dtr Zeit in die Zeit , Randbemerkungen zu der
Tagesgeschichw der temen fimfundzwaazigjahte (vol. 1). Bramuchweig. 1845, p. 11. Trata se
-
-
- m CREUZER , Geotg Friedrich. Die hhlorisehe Kanst dtr Griuhtn in Hirer Enwthitng tnid
Patlbifdung. Leipzig, 1803, p. 230 e nota 37.
de uma preleção dada em Munique» no verlo de 1830, sobre a Revolução Francesa. m Cf. o verbete Portsihritt' [progresso], no vol. 2, p. 355 e segs. (de GtrehUktíUhe Gnwdbcgriffe.
“ 1

. .
NOVAUS. Die Christenhejt oder Europa (1799). In: Gesatnmehe Werkt (vol 3), p 510. • Mn HistorJsehes Lcxikon zuc politisch -
soziakn Sprache in Deutschland , no qual est á tamb é m o
<1 SCHELL1NG. Aus derMAiigeme
[
Í nen Ü bemchtderneuestenphUosophiíchcnLiteratui ” In:
S .
presente texto (N T.J).

m SCHLÕZER, August
.
Wttke (vol. 1), 1958, p. 394 •.
’ ¡V ' ~ . m HERDER. VemandimdEifahrung. EineMetakiitikzurKritikdcrreinenVcrnunft , Uparte
Ludwig. Pottztizung rirr alhgmthicn W(UhíSíorU (vol. 31). Halle, 1771, (1799). í n: SHmtlkht Wttkt (vol. 21), 1881, p. 59
.
p. 256; SCHLÕZER , August Ludwig WeltGuchUhtt nadt than HauptThtiltn im Amzug uiui v:
NOVALIS, Das AHgemeine Brouillon (1798/99), Nr. 256. In: Gesammdte Wake (vol. 3),
Zusammtahange (vol. 1). 3. Aufl., GiJttingen, 1785, p. 8.
:vS;. -
. -
p. 286.
: «l ,

í
158 m
:mm &
159
mi
m
mm
O CONCHO cz HsrófiA
A CONélGUíAC óKiW OONCCflO 0 H SIÓÍiA
m ^O OO It £ í

Herder também introduziu o conceito de “ força” [ Krqft ] na " A m


• :&,m
m wm para o próprio comportamento. Schlõzer, cujas an á lises causais ha-
reflexã o sobre a Hist ória , que, em sua orienta ção temporal, igual
mente escondia dentro de si a capacidade para a individua o ,
- m . viam “ despido” todos os acontecimentos “ de qualquer casualidade” ,
a unicidade histó rica. Dos impulsos mecanicistas de eventuais
çã para
ra-
31 coerente, ainda partia do pressuposto Mde que n ã o acontece mais
nada de novo sob o sol ” .421 Dessa concepção de que haveria fatores
zões psicológicas constantes se originaram forças din â micas.417
Essa Ui
m ví permanentes, é que derivavam o cará ter pedagógico da Histó ria e
vi£‘ -
perspectiva foi utilizada por Humboldt para criticar outro legado
a previsibilidade do comportamento pol ítico.422
'
V:
do í luminismo - as determina çõ es finais da Hist ó ria . “ A assim
chamada História filosófica” - de Schiller, por exemplo418 - ante- =;v:
Mas Kant derivou da mesma premissa da const â ncia dos -
poria à Hist ória “ um objetivo, como se fosse um adendo estranho. “ efeitos e contraefeitos” - a conclusã o oposta: “ que as coisas fi-
¿Ã jí
.
carão como sempre foram” , motivo pelo qual não se pode prever
Não se deve perscrutar as causas finais, mas as que movimentam; cf
• :
.
nada 423 Tal comportamento levaria à “ inaniçã o” , e todo o esforço
não se deve enumerar acontecimentos antecedentes dos quais sur
giram os posteriores; deve-se comprovar a $ forç as às quais ambas - histórico- filosófico de Kant visava a fundamentar uma previsão de
devem sua origem” . Ali onde caberia avançar “ até as forç as agentes il
lipi
que a “ História da humanidade” , no futuro, seria diferente - e isso
em sentido melhor. Se toda a Histó ria é ú nica , tamb ém o futuro
e criadoras” , n ão bastaria mais o recurso à aná lise causal - que, A# ¡
8
em tese , é admissível e necessá ria. Em ú ltima inst â ncia , as forças - : deve sê-lo.
vr -
!

estão enraizadas nas “ ideias” que são orientadoras e “ perpassam Assim , a Filosofia da Hist ória levou a uma reversã o do fu -
..., turo. Do progn óstico pragmá tico de um futuro possível, surgiu
como produ ção de força , a Histó ria mundial ” [ Weltgeschichte] . Mas
não seria possível “ derivá-las de circunstâ ncias concomitantes” ,419
É|
S a expectativa de longo prazo sobre um novo futuro, que deveria
Assim , de História - como conceito transcendental de refle- determinar o comportamento. Essa nova determina çã o temporal
xã o - surgiu um conceito reflexivo. Na formula çã o de Novalis: “ A teve reflexos sobre o conceito de História: tran $formou-se também
I-Iistó ria se produz a si mesma ”.420 A incomparabilidade, a unicidade :ÍSI num conceito de ação. Evidentemente, a frase muitas vezes citada
de situa ções históricas concretas - também efeito da Revoluçã o asi de Kant de que o homem pode prever os acontecimentos que ele
mesmo desencadeia , continha uma conotaçã o iró nica. Ela se vol-
Francesa - levou à História criadora, produtiva.
Com isso, em segundo lugar, se modificou o potencial prog
nosticador das velhas Historien. Sua tarefa tradicional de servir de
- »1
:m%
tava contra o anden régitnc , o qual , com sua pol í tica anti-humana ,
estaria, ele próprio, produzindo as consequ ências que tanto temia.
Kant era mais cuidadoso nas suas mediçõ es da História como es-
mestra para a vida deixou de existir tã o logo nã o foi mais possível
comprovar situações an á logas das quais se pudesse tirar conclusões
l; pa ço de ação moralmente determin ável. A sua pergunta “ como é
possível uma Histó ria a priori” , deu uma resposta apenas indireta ,
Cf. o posfteio de Hans Georg Gadamer a Herder: Au<h eint Philosophic des CtuhUhte
- zut Bildnng
HI
fifi P
pois aquilo que os homens devem fazer eles n ã o o fazem , de forma
alguma. Simultaneamente, enxergava no eco moral frente à Re-
.
dtr Mcntthhtit Frankfurt, 1967, p , M6 e segs., em especial p. 163 e segs.
4IÍ
Cf. SCHILLER . Was heisst und zu welchem Ende studierc man Un íversalgeschichte
? í tw - : volu ção Francesa um “ sinal da História” (“ signutn rememoralmm ,
- . ...
SthilUr Atts&be (vol 13), s . d ., p , 20 cseg: “ O esp í rito filosó fico produz uma causa ’ Ç3K dentomtrativum , progtiostikon” ), que indicaria para uma tendência geral
para o transcurso do mundo e um princ í pio ideol ógico para a Histó ria do mundo"
racional
- *
j
I o futuro traz dificuldades ao homem para sua concretização.
.
m HUMBOLDT Betrachtuugen Ubcr die
bewegenden Umehon in der Weltgeschichte
se esse
enfoque se confirma ou é refutado, isso ficaria em aberto, tamb é m quando a vontade de acelerar
mm ao progresso. Desde entã o, considerava certo que “ o ensinamento

.
(1818). Jn ? Aki\dét )tfz ~ Ausgabe (vol 3), 1904, p. 360; HUMBOLDT, Ü ber die Aufgabe
.
Gc3 chichtschreibet $ (cf. nota 153), p 46 e seg., 51 e seg. a
des sss # 421

, .
SCHLÕ ZER , WcitGtsthíchU (vol 1), 3. Aufi . p. 9.

10 I
4 2
4Í > KOSELLECK , Historia mag ístra vitae (cf. nota 224 ), onde hl mais cita çõ es.
NOVALIS. Fragmente und Studien 1799-1800, Nr. 541. In: Gtf âmnteUe Wakt (vol. 3), p. 648.

160
«
;
1
: i S ;
KANT, í dcc... (cf. nora 360). In: Abademk Amgobi (vol . 8), p, 25 .
-

lól
mm
««¡P
O CONOfTO C HtfTÓSlA A cortfiOvwçAo DO /¿ODWJO ccsNcçrro Dê Hisróxt
*
através da experiencia repetida” levaria os homens a promover
uma constituiçã o na qual, em consonâ ncia cotn o plano natural »
P elaboração do passado se transformou em um processo de educa ção
que progredia junto com a Hist ória, e que, por sua vez, tinha efeitos
vigorariam a liberdade e o Direito. *24 Enquanto Kant criticava
" HT .
sobre a vida. E , nesse processo, a revolu ção, em sua classifica ção
os teólogos naquilo que tange ao passado, dizendo que “ é uma histó rico-filosófica , ocupou o lugar das Hist órias que vigoravam
mrs
mg;.
}
superstição” a afirmaçã o de “ que a fé na História é um dever e até então . Nas palavras de Gõrres: “ Todo presente deve apostar
-
que leva à bem aventuran ça” , ele próprio investigou o futuro da m em si mesmo , pois ele mesmo sabe aquilo que melhor lhe agrada e
História com inten çõ es prá ticas, como sendo planificável.425 “ Vê- serve... A História consegue ensinar pouco a vocês. Mas se vocês
se: a Filosofia també m pode ter seu quiliasmo” 426 -
S: : querem aprender com ela , tomem a revolu ção como mestra , [já
Assim , o tratamento histórico-filosófico da Revolu çã o France- que] o andar preguiçoso de muitos séculos acelerou-se com ela ,
sa conduziu a um novo alinhamento entre experiê ncia e expectativa . para se transformar num ciclo de anos” .429
A diferenç a entre todas as Hist órias at é aqui e a Hist ória do futuro A acelera ção, que na época foi reiteradamente destacada , cons-
foi temporalizada num processo em que se torna dever do homem titui um ind ício seguro da exist ê ncia de forças imanentes à His-
intervir com sua a ção. Com isso, a Filosofia da História deslocou tória , as quais dão origem a um tempo histórico próprio e pelas
de forma fundamental a antiga import â ncia da Historie. Desde o quais a Era Moderna se distinguiria do passado. Para dar conta da
momento em que o tempo adquirira uma qualidade hist órico- unicidade de toda a Hist ó ria e da distin ção entre passado e futuro,
dinâ mica , n ã o foi mais possí vel - como se fosse um retorno natural importava reconhecer a História como um todo, a realidade, seu
- aplicar as mesmas regras de antigamente ao presente, regras que transcurso e sua direção, que leva do passado ao futuro. Os esforços
tinham sido elaboradas de forma exemplar até o século XVIII. “ A dos filósofos da Hist ória se concentravam na solu ção dessa tarefa .
Revolu ção Francesa foi , para o mundo, um fenômeno que pare- Na tentativa de cumprir essa tarefa , a velha Historie perdeu sua
cia zombar de toda a sabedoria histórica , e diariamente foram se utilidade, que consistia em recuperar os achados do passado para
desenvolvendo a partir dela novos fenômenos, a respeito dos quais a situa ção contemporâ nea. Hegel dizia: “ Aquilo que traz algum
ficou cada vez mais difícil buscar respostas na História” escreveu - ensinamento na Hist ó ria é algo diferente das reflexões dela deri-
Woltmann, em 1799, para tentar fazer algo em sentido inverso.427 vadas. Nenhum caso é totalmente semelhante ao outro... Aquilo
Em consequência - em terceiro lugar ~ também a importâ ncia que a experiê ncia e a História ensinam é que povos e governos
do passado na História se modificou. A História temporalizada e nunca aprenderam com a Histó ria nem agiram de acordo com o$
processual í zada como unicidade permanente n ã o podia ser mais ensinamentos que ela poderia ter fornecido” .430 Do diagnóstico
aprendida de forma exemplar - “ portanto, o objetivo did á tico é de Hegel se pode deduzir teoricamente o lugar das novas ciê ncia$
incompat ível com a Historie” . A História deveria, muito mais - como históricas. Como ciê ncia do passado , ela só poderia ser praticada
-
continuou Creuzer , “ ser encarada e explicada de forma nova por por si mesma - a n ã o ser que ela , pela via da forma çã o histórica ,
cada nova geração da humanidade que est á em progressão” .428 A interfira de forma direta na vida.
:« Humboldt deduziu desse diagnóstico exatamente a mesma
coisa . Também a Histó ria na compreensão da Era Moderna seria
aJ *

í eg., 84, 88.


-
KANT. Str« it der FakulCá ten (cf. nota 297), § 2. In : AkadtmU Ausgabz (vol. 7 ), p. 81 c 5 cg., 79 í
“ aparentada da vida ativa” , pois ela não prestaria mais seu serviço
,,s Ibid., §
U p. 65.
124 ... . . .
KANT» Idcc. 8.5au In ; Akademic- Auszabt (vol . 8), p. 27; cf KANT Stre ú dcr Fakult á ten , -P

:
p. 81. :W
: b m GÔRRES» Joseph. Teimchbnd unddie Revolution
0819). In: Gtiàmineítt Sàmfíetl (voL 13),
.
w WOLTMANN, Karl Ludwig (ed .). Geuhkhte und Polilitt Eme Zemeht ,
í ft Berlim , 1800, p. 3.
4U
.
CREUZER , Hiftorische Kunst (cf noto 413), p. 232 e seg. « I
1929, p. 81.
HEGEL, Die Vernunfí ... (cf. nota 236), p. 19.

m
4 V)

1 Ó2 163
O CONC ÜTO 0 HiStóllA
Split -
A «WflGiJUÇAO 00 MOOü NO CONC Ó fO DC H $TÓÍ. U
>

“ através de exemplos individuais para aquilo que deve ser seguido 3. A "História ' se define como conceito .
IIIM e
7

ou evitado, pois [esses exemplos], muitas vezes, induzem a erros, e 3¡J:


raramente ensinam alguma coisa . Sua verdadeira e incomensurável
utilidade está muito mais em avivar e esclarecer o sentido para lidar lili i A História narrativa , o ato de contar [ Erzahlung ] , encontra se
entre as formas mais antigas de intera ção humana , e isso ela continua
-
com a realidade a partir da forma inerente ao acontecimento do que
§m m
. , . .. & sendo at é hoje. Nesse sentido, seria possível considerar “ História”
através de si mesma” .431 Em termos modernos: existem estruturas
'
>
como um conceito fundamental permanente da sociedade, em
formais que se mantêm ao longo dos acontecimentos, condições lili especial da sociabilidade. Se, no século XVIII, “ a Hist ória” - cuja
para Hist órias possí veis, cujo conhecimento antes se refere à prá tica
do que o conhecimento das condições.
'

- fundamentação terminológica e te órica tentamos conhecer até


aqui - foi configurada como conceito fundamental da linguagem
Dessa forma , a Filosofia da História explorou um moderno
espa ço de experiê ncia através do novo alinhamento de passado e
l!üi

social e polí tica , isso aconteceu porque o conceito adquiriu o status
: :: : •

de principio regulador de toda experiê ncia e expectativa possível.


futuro, através da qualidade histórica que o tempo adquirira - e é
da í que toda a Escola Hist órica, desde então, busca inspira ção. A
unicidade das forças e das ideias, das tend ê ncias e das é pocas que
se produziam a si mesmas, mas també m dos povos e dos Estados,
- -i
Com isso, se modificou a importâ ncia da “ Historie” como ciê ncia
proped ê utica - como se pretende mostrar de forma esquemá tica ,
a seguir: “ a Historia ” foi abarcando de forma crescente todos os
vV -&::í-> v ' á mbitos de vida , enquanto simultaneamente ia sendo guindada à
-
'

n ão podia ser neutralizada através de nenhuma cr ítica de fontes. Era •

:: posi çã o de uma ciê ncia central.


-
natural que, quanto mais bem sucedido fosse o mé todo histórico-
cr í tico em derivar fatos duros do material encontrado nas fontes,
* .
:lil £
> ?:::«] í

$
;

As eruditas á rvores geneal ógicas, que desde o Humanismo


foram classificando todas as á reas do saber da histeria e ordenando-as
tanto mais forte se tornava a cr í tica à especula çã o hist órico filo-
sófica , de cujas premissas teóricas a Escola Hist órica , n ão obstante,
- num espa ço que admitia algumas variações, utilizavam invariavel-
mente os mesmos esquemas classificatórios: em primeiro lugar, a
continuava a se nutrir. Por isso, Ferdinand Christian Baur podia iü i
dizer, com razão, em 1845: “ Com essa assim chamada cr í tica das historia foi estruturada temporalmente, de acordo com os quatro
fontes, por si só, se avan çou muito pouco , enquanto n ã o se reco- ' rnshy
impérios, por exemplo, ou entã o (forma popularizada desde Celá rio)
nheceu que a Hist ória como tal [Geschichte überhaupt ] é cr ítica” . m*¡ como História antiga , medieval e moderna433; em segundo lugar,
l& lí » a historia foi classificada em á reas , quando a tripartição em historia
Na História , aconteceria uma mediação entre passado e presente,
mas somente na medida em que o sujeito teria consciê ncia cr ítica
dessa media ção. Só então o “ processo hist órico externo” se trans-

divina> civitis, naluralis se tornou a mais usual ainda que crescen-
temente questionada, desde Bacon; em terceiro lugar, a historia

forma num “ processo mental , através do qual o homem chega ao • foi determinada por crit é rios formais, como historia universalis ou
conhecimento de sua essê ncia . Pois, para saber que ele é, precisa
^
w specialise em quarto lugar, segundo formas de representação, sendo
definida , por exemplo, como arte narrativa ou descritiva. É evidente
saber “ como chegou a ser ” . A cr ítica é que permite relacionar a ;
objetividade da Histó ria e sua elabora ção subjetiva. “ Na cr que cada uma dessas redefinições nesses esquemas tivesse reflexos
História por si só se transforma na Filosofia da História” .432
ítica , a
* •

sobre os outros, na medida em que todas as afilia ções da historia se


$
: -iii I encontravam numa rela ção sistem á tica entre si .

HUMUOLDT, Di ç Aufgabe des Geschkhtschreibets, p, 40.


-m
mn i
,
4 2
BAUR , Ferdinand Christian , KritisclieB dirige a Uí Kirchen geschichte der erstenjah thunder te, m< .
m Cf o verbete" Zdl¡ ZeUnitcr" [Ao contr á rio do que previa Kosdleck nesta now , o verbete sobre
mil besonderer R íicksicht íiufd íe Werke von Neander und Gieaeler. Theohgixhtit.
.
4 * 1845, p 207 e seg. mi “ tempo” e “ é poca" nao apareceu nos GesdiUhtlUhc Gtunàbtgfffft nem foi por de publicado à
parte posteriormente (nota do revisor té cnico)) .
%

M
:f » í:: :

164 : 165
&
H :- -
'{ K :
O CONC6TO D£ KiSIÔSIA
/&
-
V . i' 1 í
ISSSsV. A CONRGUPAÇAO OO CCNCCifO D* HFSTÓSIA

V
' A :'.:: : --
.V / . -*

mm
i: : A configuração da Historia como conceito que está na base de presente, se baseava em experiê ncias pró prias , naquilo que tange -
. tudo pode ser mostrada à mão de três processos: [ primeiro], na elimi-
naçã o da historia naturaiis do cosmos histórico, fato que, no entanto,
.
ao passado, em experiê ncias alheias Desse aspecto temporal duplo i ;
- que pressupõe a unidade do mundo da natureza e dos homens -yY Y vV:-.
-
trouxe consigo a historicizaçã o da “ Historia Natural ” ; segundo , na também derivava a velha dualidade da representação, isto é; que à - i ; . . • '

fusã o da historia sacra coin a Historia Geral; e, terceiro, na conceitu- 4ptf .


Historie tanto descreve quanto narra Justus Lipsius foi mais longe;Y ; ’
alização da Historia mundial [Weltgeschichte] como ciência-mestra, - Yi contrapondo a historia naturaiis descritiva à historia narrativa , a qual,
que transformou a antiga Historia universal [Unimsalhistorie]. por sua vez, se estenderia à historia divina e humana ***
a) Da ‘' historia natumlis” para a “ Historia da natureza ” : ;
« Foi sobretudo a historia naturaiis , o estudo da natureza, que, até
[ Naturgeschichte] . Conhecimentos históricos foram considerados, v. : Linné, descreveu situa ções derivadas de observações e de classificaçõ es
até o século XVIII, como pressuposto empí rico de todas as ciê ncias, da terra, dos reinos anima! e vegetal, e do espa ço estelar. També m
quando a expressão “ História da Natureza” [ Natur-Geschichte] des-
assim que Heckermann podia afirmar que devem existir tantas
Historien quantas são as ciências.414 Como conhecimento geral das íã#

bancou a uhistoria naturaiis” - como em Zedler, por exemplo^9 -, essa


experiências , a Historie tratava do individual, do específico, enquan-
to as ciências e a Filosofia visavam ao geral. Jônsío escreveu que se
a;-
JSS « - '• expressão continuava visando a situa ções da natureza, sem interpretá-
-las “ historicamente” A historicização da natureza que - em termos
saberia que " fundamentam omnis sáentiae esse historiam , observations, «SM modernos - se ia configurando, no longo prazo, isto é, sua classificação
exempla, experientiam, e quibus tanquam singularibus , scienlia universa - : -
temporal de forma que ela mesma ganhasse uma “ História” - n ão
les suas propositions format' ^ , ou , como escreveu , de forma inais
enfá tica , Johann Mathias Gesner, em 1774: “ ha Historia est quase
- se deu sob o tí tulo de “ historia naturaiis” , pois essa expressão estava re-
servada para a descrição daquilo que est á dado de forma permanente.
Bacon - que classificou a historia em apenas naturaiis e civilis -
civitas magna , ex qua progreâiuntur omnes aliae disciplinas
®g ainda compreendera a natureza como a-histórica. Mas ele a definiu
Dentro desse campo de experiê ncia , ainda era ó bvio que o yYM n como mutá vel, através da arte humana , motivo pelo qual colocava
conhecimento sobre a natureza fosse parte t ã o integrante da His -
torie quanto o conhecimento sobre os homens e suas a ções. Assim , a historia artium na historia naturaiis* , situação que explicava através
Johann Georg Büsch - com base nos modelos de Reimaro - ini - »a .
da expressão experimentalis 441 Mas a investiga ção sobre as causas que
ciou em 1775 sua Encyclopiidie der Wissenschaften [Enciclopédia das levavam à mutabilidade da natureza ele n ão mais inclu ía na historia
Ciê ncias] com o primeiro livro: “ Da Historie como tal [iiberhaupt ] • G:; iV 0r naturaiis, mas sim entre as ciências teóricas , a Física: “ Etenim in hisce
-
omnibus Historia Naturaiis factum ipsum perscmtaí ur et referi, at Physica
e, em especial, da História da natureza ... Historie ou Geschichte
;'
^ fê g itidem causas” 142
[História] denominamos todas as not ícias daquilo que efetivamente
é ou efetivamente foi ” .437 Essa Historie, como um saber sobre a rea -
lidade, era uma ciência de experiências que, naquilo que tange ao
mi .
Citado por Mcnke GKkkcrt , Die Gacht <hiss( hre¡bung. .i p. 34. O Sr. Galli chamou minha atenção
-
Mi — -
pauta o fato de que foram , sobretudo, eruditos católicos Beurer e Glaser que, enquanto faziam
a contraposiçã o teológica entre criador c criatura , també m fatiam a bipartição entre historia
nctlUfalU (que abarcava , simultaneamente , a Histó ria da natureza e a dos homens) e historiei divina.
51
-
MENKE GL Ü CKERT, Bmil . Die Gesdiichtsschréíbuitg d ( f Rejoitridlion utuí Gegetmfortttfltfcn ,
ZEDLER (vol. 23), 1740, p. 1063.
c» l
4ii
Osterwiek / Harz , 1912, p. 131,
. ; .
m BACON. Dedigmtatecuugmentisscientiarum , 2, 2 In: Woiks (vol. 1), 1864, p. 495; Pfmg$ ren
.
JONSIUS, Johannes De salptoilbus historic phihsophi^ e, 2 Aufí., Jem , 1916; reimpresso
4ii
DUsseldorf, 1968, p. 2 (editada por Johann Christoph Dorn ),
GESNER , Johann Matthias. Isagoge In oudílionem universale m (c. 1). Leipzig, 1774, p. 331.
i§I
• chama de
.
mas "nosentido maisamplo que apalavca ActcHistória [ KutulGesibtchie]
ou .. melhor Tecnologia possui". IViirde uitd Portgang der Whsensdtaften (cf. nota 371) p 178 i .
,
B ÜSCH , Johann Georg. Btuydopñdle der hislo/ isdien philosophlsehen mui niathcwiUischen
Whsenschaften. Hamburgo, 1775, p.|2. m
m
¡ 4 ,1

441
(com nota ).
.
BACON, Novum Organum 1, 111 Itt: Works (vol. t), p. 209.
BACON, De <ntgmenlis, 3, 4 ( p. 551).

l óó .7: I Ó7
ViíÇ i ?
'

II
O coucsrTô D é HwróííA ¡8li •

A CONFiGU ?AÇãO DO MOMSMO CWCC ÍTO OE KISTÓ MA '


• •• •

"
*
*' 5’v' * :
' , •-:
'
*

v.n :
-XX.-X .- .
M: ; \V ,
P;> - y: •.

m
"
• ; \v / * **

Com a abertura do futuro através do conhecimento progressivo . 1775: “ Numa compreensão muito inadequada , utiliza se a Í -
designar o registró áíIlv É
da natureza e com a ocupação de novas terras no alé m-mar, com
a descoberta de novos continentes e de novos povos, a expansão 11® História da natureza [ Naturgeschichte] para
descrição dos corpos pertencentes ao reino natural ” .448
®
^
temporal também atingiu o passado. Já no século XVII, ela atingiu
espa ços temporais que se localizavam além da cronologia da cria ção
da Bíblia.443 Leibniz, por exemplo, com sua Proiogaea - pensada
como introdu ção à sua história dos guelfos avan çou sobre esse
*1
lilM
»81
È verdade que Kõster ainda registra, ao Jado da narrativa - de
acontecimentos, “ também a descri ção de coisas que se mantê m ãò i 4 v -
longo do tempo” como pertencente à Historie, mas a “ simplesmê ntè C
assim chamada Historie” trataria somente de homens e de aconteci - ;
:

-

-
pré passado da natureza . Mas ele não chamou seu esboço diacrônico mentos que os envolvem .449 Em Campe, finalmente, a separa çã o se.
de historia naturalis , “ Inicio pela mais profunda antiguidade dessas íM H
sf completa: “ A descrição da natureza ..., isto é, das coisas na natureza,
terras, provavelmente muito antes que elas fossem habitadas por
-
s em especial na terra, de acordo com sua forma e suas caracter
Caso seja narrado seu surgimento, a forma como se mant m, suas é
ísticas.
seres humanos, de forma que vão muito alé m de quaisquer Histo
rien , buscando-lhes as caracter ísticas deixadas pela natureza” .444 Na
SM- - modificaçõ es enquanto durar, o tempo de sua duração , etc., entã o
estamos diante de uma História da Natureza [ Naturgeschiehte] , que
-
verdade , tratava-se de uma “ teoria da infâ ncia de nossa terra” , que
: deve ser diferenciada da simples descrição” .
possivelmente viria a fundamentar uma nova ciê ncia, a “ Geografia $ 450
MM '

da Natureza” [ Natur-Geogmphie] . Nã o se tratava de uma Historie, :: - Com a separação da antiga historia naturalis descritiva , também
se torna palpá vel o processo correspondente: o novo significado da
pois a fundamenta çã o das rela ções permanecia hipotética . ’ 45 Pela
mesma razão, ICanc, em 1755, recorreu a um t ítulo duplo - “ História
*

^® Ô{ í‘
Hist ória da Natureza que se impusera no meio século anterior. A
geral da natureza e teoria do firmamento” [ Allgemeine Naturgeschichte '

®MM própria natureza foi dinamizada e, com isso, se tornou passível de


und Theorie des Himmels] porque só através dessa expressão podia .Mí 7
uma Hist ória, no sentido moderno. Como escreveu Buffon , em
caracterizar seu esboço repleto de hipóteses, que temporalizara a : sua Histoire naturelle, de 1764: A natureza n ã o é uma coisa ou um
natureza, como um “ aperfeiçoamento sucessivo da criaçã o” .446 mm ’a
mm :
¡ ser, ela é uma forç a viva , “ iwc puissance vive... cyest en mêrne temps
A temporalizaçao da natureza , que abre seu passado finito em la cause et Veffect , le mode et la substance, le dessein et 1’ouvrage” . Ela é
direção a um futuro infinito, e preparava sua interpretação histórica , “ un ouvrage perpétuallemcnt vivant” e “ tm ouvrier sans cesse actif\ ao
realizou-se no â mbito da teoria, e n ã o da historia naturalis - e isso mesmo tempo.451 Corn esse avanço, que lhe permitiu classificar a
-x
corresponde à nossa Hist ória conceituai do século XVIII. Por isso, natureza em períodos históricos, fora encontrada uma definição que
.

- -
• ••.v.'-v v! ’sr"
n ão admira que essa tradicional pesquisa da natureza fosse sendo M Êm se aproximava bastante do conceito de História, o qual foi, entã o,
gL-adativamcnte exclu ída do cosmos das ciê ncias históricas. Natu - desenvolvido, na Alemanha, a partir de Herder: “ Toda a História
reza e Hist ória foram separadas. Voltaire falou , na Encyclopêdie, de SHI

da humanidade é uma pura História da natureza de forças, a ções


“ /7tistoire nattirelle, improprement dite histoire, ... qui est me parte esscn - e instintos humanos localizados no espa ço e no tempo” . Herder
452

tielle de Ia physique” .447 Adelung retomou esse distanciamento, em MJ *


i
concretizou a guinada . A natureza historicizada podia servir agora
í 1 A' i í-Í Kf õ r í
X ;M
iir i
^ human ;*
Aii
KLEMPT, Adalbert. Die Sdbihi¡sicrun¿ der unwtnalhisiorhthcn Aujfassung. Zum Wandel des
Geschichtsdçnkcns im 16. und 17. Jahrhundert . G ò uingen , I960, p. 81 c segs.
.
LEIBNIZ. In: PERTZ, Q H. (Ed.). GtuhUhMc Aufsaí ze ( vol. 4). Hannover, 1847, p. 240.
®®J ' X .
m ADELUNG (vol . 2) 1775, p. 601.
. .
m LEIBNIZ. Protog ua In: PEUCKERT, Will Erich (Ed.). Wake ( vol. 1).
.
Stuttgart , 1949 p. Dei*tí( he Encyd ò ptdie (vol . 15) , 1787, p. 649 e seg,
.
w CAMPE (vol 3), 1809, p. 461.
19; ibid , , p. 171 (versã o alem ã de Wolf v. f.ngelliardt).
K Á NT. Allgememe Naturgeschichte und Theoiie dcs Himmels (1755). In: Ahademie AtHgabi
.
(vol. í), 1902 p. 312.
- XSSsS p, 31.
. .
«I BUFFON . Histoite naturelle In; PIVBTEAU Jean (Ed .). Oturnspluhsoyhiquti . Paris, 195 1, -
H7
VOLTAIRE. Verbete “ Histoire . In: Emydopédie (t. 8). Genebra , 1765, p. 220 c s< g.
41
. ..
HERDER Ideen. (cf. nou 376), p 145. .
x: ] Ó9
168
mi
pM l) ftr

ppv-- '
O CONC&TO £>c H$TÓfcA
ê
: A CONfiGUZA ÇAO OO MODELO CQNCíflO tí RSTÓí IA

w; ~ Tamb ém aqui foi Kant quem , pela primeira vez, havia


dicado abertamente a mudança da historia
reivin
naturalis de velho estilo
- mm do individual com um todo” . Ela é um "processo do vir a ser no
tempo..., onde todo o reino das coisas visíveis - da pedra ao ho-

! í
para a Historia temporalizada da natureza . “ Por mais
- e com razão - a impertinencia das opiniões, deveque se odeie m: —
mem aparece como um todo inter-relacionado , desenvolvido
uma História da natureza que seja uma ciência separada,
progredir, gradativamente, de opiniões para
- se arriscar
que possa m
tMl
- em diferentes n íveis, como resultado de um processo lento de vir
a ser c vir a acontecer” .457
í conhecimento” .453
a b) Da " historia sacra” para a "Historia da salvação” [ Heil -
m i* 7
Em 1788, Kant procurou garantir "História da natureza”
¿

investiga çã o cientí fica, que derivaria a "configuraçã o [atual


para a sgeschichte] , “ Hisloriae, id estf verac narrationis tria sunt genera: huma -
i
natureza de causas localizadas em tempos mais antigos, de
] da
<
.
tumi, naturale, diuinum” A Historie humana trataria daquilo que
acordo é provável, a Historia da natureza daquilo que é necessá rio, e a
.
com leis naturais.. das forças da natureza ” . Essa ci ê ncia
deveria $e divina da verdade da religião.458 Bodin, que orientava essa sequ-
conscientizar das limita çõ es inerentes a seus princí pios

m
'

por isso, concretizar sua teoria através de hipó


racionais e , ência nas três doutrinas do Direito, enxergava nelas uma escala
i
teses - ao contr á rio de certeza crescente. Mas no seu Methodus , só abordou a historia
da descriçã o da natureza, que poderia concretizar um
i

pleto. Kant estava consciente das dificuldades


sistema com
terminológicas que
- SÉS ® humana, colocando-se, assim , na tradição da escrita temporal da
História, como ela fora desenvolvida pela alta Idade Média e pelo
apareceriam em decorrê ncia de sua historiciza
natureza ” , já que "Histó ria” e "Historie” s ã o
ção da "Histó ria da
utilizadas ao mesmo
:§# Humanismo. A Hist ória sagrada , na sequência , era tratada ou
separada da Historie política ou ent ão, cada vez mais, como uma
tempo no sentido de narrativa e de descrição. Pata
destacar o aspecto História secular, das Igrejas, ou das doutrinas religiosas, ou ainda
temporal decisivo da nova ciência , sugeriu denomina
- a íg
tivas, como "fisiogonia” [ Physiogonie] ou na
juízo (Kritik der Urteilskraft] - "arqueologia da natureza 454
a dificuldade lingu ística para distinguir não consegue ”

ções alterna
Crítica da faculdade de
. "Mas mz
mm
totalmente integrada nessa Hist ória secular. Com isso, também
459

a interpreta çã o teológica de todos os acontecimentos seculares foi


perdendo cada vez mais sua força.
eliminar a Um indicador dessa transformação está, em primeiro lugar, na
diferença das coisas” .455 Estava aberto o caminho para
da evolução do século seguinte,456 no qual a
as teorias eliminação da historia divina do cosmos do conhecimento histórico.
Hist ória se mostraria ¡ A Preigius, com sua Historiae synopsis, de 1580, parece ter sido um
como setor que orientava a pesquisa sobre a natureza . Nas
de Biedermann (1862): a História da natureza
palavras m vi
v;?pg| precursor, nesse campo. Ele só conhecia a Historia mundi majoris da
[ Naturgeschichte] , ao natureza como um todo, e a Historia mundi minoris de todas as a ções
contrário da ciência da natureza [ Naturkunde] , : '
*
come ç a "somente ali •

onde aparece uma í nterconexâo, uma permanê ncia , - í- - &


$ humanas, bem como as opiniones circa religionem aut plulosophiam ,
MM^ íVi
VV :
uma ligação em particular.460 Bacon tamb é m reduziu a Flistorie a apenas dois
:

KANT. Von den veeschiedenen Rassen der Menschen


4 JÍ
. a campos: a Historia naturalis e a Historia civilis, dividindo a ú ltima
.
1905, p. 445 Os cofundadores da Geologia na . -
(1775) In: Akadewie Ausgjbe (vol. 2),
. .Nvtfi;*.
; = em três categorias: “ primo, Sacram, sive Ecclesiasticam; deinde cant quae
.
História: EBHMANN, Johann Gottlob Vtrsttch ( ¡net
Alemanha ji utilizavam o novo conceito de
-
Gesehhhte von Piotz Gebihgen. Berlim , m <i generis nomen retinct , Civilem; postremo, Literarum et Artium” . Assim ,
461
1756; PÜCHSEL, Georg Christian.
tinem Vtrmclt, den Uisprung det SpratheEniwutJzit . -
der dUtsten Erd und Mensrfungetchichte, nebst
.
m KANT. Ober
zu findcn Frank fur t /Leip2¡g, 1773
den Gebrauch telcologischer Prinzipien in der
Ausgabt (vol , 8), p. 161 c scg., 163 (nota 1);
. .
Philosophic (1788) Akademk
KANT Kritik der Urteifskrafi (1790), 2 parte, - %S81 4
” BIEDERMANN , Friedrich Karl. Verbctc Geichichte". In: ROTTECK; WBLCKER (vol.
«

-
anexo, $ 82. in: Akadanit Auigabe (vol. 5), 1903, p 428. (nota).
’ v 6), 3. Aufl , 1862, p. 428.
,

BODIN, Methodus... (cC nota 340), 114 b.


44 J
KANT, Ü bcrden Gebrauch tcleologischer Prinzipien. ,
< 5S Cf o . ..
p . 163.
;

II
>
• 4W

verbete nBntwUktmt¿* (evolu çã o/descnvolvimento} [em


.
GeschkhtlUhe Gtundbegriffe m 4W
KLEMPT, Die S ã kulatlí knmg..., p. 42 e segs.
Historisches Lexikon zur politisch-soz íalen Sprache in
. .
presente texto (N T.)] Deutschland, no qua!est á també m o mi
: 4
” Ibid ., p. 44, .
- •11: i
441 BACON De augment is, 2, 4 (p. 502) .
m*
••

'
170 171
$4 i
O coturno o* Hsrôau
li & iv.V
A CONTOWACAO DO IUOOé &NO CON:tiro u HSIóSIA

JppIpW- ~
i v

a Histoire civil, pela primeira vez, se transformou em conceito geral elas” . 46S Experiências extrassensoriais eram eliminadas em favor de
para a História sagrada ou eclesi ástica . fatos hist óricos que podiam ser inclu ídos na perspectiva de uma
Leibniz - que adotou a bipartição - já classificou , entre a moral que avançava ou , então, eram interpretados de forma psico-
Histoire húmame, uma grande quantidade de campos científicos: A lógica. A primeira experiência temporal historicamente imanente
História universal [Universalhistoríe] e a Geografia , as antiguidades , a
:> m - a do progresso - historícizou coerentemente també m os dogmas,
Filologia e a Historie da literatura, costumes e leis, por fim também
i
Histoire des religions , et surtoat celle de ta veritable Religion revelée , avee
{

VHistoire Ealesiastique' Dessa forma , em Leibniz, correspondendo


mm m
at agora considerados imutá veis. Semler esperava convencer seus
é
leitores de “ que nunca existiu uma concep çã o estabelecida e imu
tável do conte údo da doutrina e da religião cristã ”
466
A irrupção .
-
à experiência planetá ria de uma multiplicidade de religiões e de
Igrejas cristãs , a historia sacra se transformou numa historia religiorum, mm wMi- Á
da nova “ História ” nas verdades at é agora consideradas eternas se
fundamentava e era impulsionada pela nova convicção - que tam -
dentro da História humana . bé m abrangia a religiã o ~ “ de que a evolu ção do mundo moral , de
Quando Voltaire faz, na Eticyclopédie assim como alguns — mmou / acordo com a ordem de Deus, també m possui seus per íodos e suas
contemporâ neos - uma referência tradicional à histoire sacrée, ele
acrescenta , de forma irónica: “ Je ne toucherai point d cette ntatière
respectable” 463 E, finalmente, quando Krug, em 1796, ma ís uma vez
mmi ,
etapas como o conhecimento e a descoberta do mundo f sico” .467
í
Desde que a História adquirira uma qualidade que se modificava
no decorrer do tempo, tamb é m a historia sacra podia ser interpre -
elaborou um sistema de todas as ciências, surgiu , em meio à “ História mimu tada , nesse sentido, de forma “ histórica” , como a historia naturalis .
i«® «
.
da humanidade ou do gênero humano (preferencialmente chamada E verdade que na ascensão do velho conceito de História que
História)” , em posição secund á ria, també m a religi ão de
Jesus de vinha se impondo, por mais novo que fosse, o impulso teológico
Nazaré - isso no â mbito da História da cultura [ Kulturgeschichte] ,
a .
n ã o esteve ausente Justamente a historia sacra, uma História que ia
depois de profissões, artes, costumes, erudição e literatura , e dentro
da História da cultura religiosa , depois da religião natural e da “ His
tória do fanatismo” , como uma entre v á rias religiões
reveladas.464
-
.58

-
V OTOTf * alé m da revela ção bí blica , tal como era ensinada, por exemplo, no
â mbito da Teologia federal*, trouxe alguns aspectos cristãos para
dentro do conceito moderno de História. O esquema reproduzido
A inclusã o da História sagrada [ heilige Geschichte) na História e reproduzí vel pela expectativa escatol ógica , com suas promessas
do mundo [ Weltgeschichte] vinha sendo preparada pela historiografia e realizações, desde sempre se prestara a atribuir ao transcurso
eclesi ástica protestante, na medida em que esta ~ sobretudo a Escola
de Gottingen, no século XVIII - tinha feito da Historia ecdesiastica
mi temporal uma qualidade hist órica no sentido da unicidade e at é
da mudança para um n ível ascensional. Também a conversão do
uma História das sociedades eclesi á sticas e de suas opiniões doutri-
n á rias. “ Na História da Igreja, é, sem dúvida , muito conveniente ai PLANCK , Gottlieb Jakob. EinUitung in die iheolcgJsdien IVissenschafun (vol. 2). Leipzig, 1795,
partir do pressuposto de que se deve visar, em cada um de seus . . .
p 223; cf. VÕ LKER , Karl DU Kl/ chtngeschich Issclue ibui ig der AufUldtung Tubingen , 1921, p.

períodos, ... àquilo que é peculiar e caracter jftl 22, com outras cita çõ es.

.
ístico das formas sociais
a que se ligam . . e apenas seguir as relaçõ es que estabelecem com . §§ »i;
W
4a SEMLER ,
Johann Salomo. Versiuh tines fnuhfabaren Auszugs aus der Ki /ihtagtsthkhlt (vol . 2).
Haile, 1774 { Vomde}; citado por MEINHOLD, Peter. Gtsthkhu der kiuhltchen Historiographic
(vol. 2). Pretburgo/Mu ñ ique, 1967, p. 46.
VÂÍI 147 SEMLER . S. Ltbtnsbtsdwlbutig von Him selbsi verfatst ( vol . 2). Halle, 1782, p. 157; citado por
J
.
Meinhold , Gtschithte. . (vol. 2), p. 64.
LB í BNiZ. Mcmoirc pour des personnes é clairé es et de bonne Intention (1694 ?), In: KLOPP,
Amo (Ed .). Wttkc (vol. 10). Hannover, 1877, p. 13; cf. KONZB, Werner. Leibniz altHktotiktr. SWi .
A “ Teologia federal" entend í a â “ Hist ória como a concretiza ção da graç a" divina Hist ória
. que transcorreria em cinco fases, a começar na criaçío narrada no Velho Testamento, de
,M Berlim , 195J , p 36 e segs, com outras citações.
M
-. . .. : .
.
format que a “ Histó ria divina se transformaria em um drama com sentido unit á rio” JACOB,
.
VOLTAIRE, verbete “ Historic" (cf cota 447 ) , p. 221. .• • . y .;.'
P. Fdderaltheologie. In: Die Religion in Gescindí le und Gtgcmvot í ( RGG] , T ü bingen: J. Ç. B,
Aii
.
KRUG, Bnzyeotp dtlie (vo! 1), 1796, p. 49 esegs , 79.
'

. Sl5 ?' Mohr (Paul Siebeck ), 1957, col. 1520 [N. T.).

a
172
m 173


V
O echara Dé HtfiófiM.
sS ‘1.
A CO?tfiGV?AÇÀO CO MOOtfKO CONCtrtO t* HiSlÒMA

1 1
futuro escatológico em um processo que avança com o tempo

localizada - como acontece em geral - nos primeiros séculos nem nos


foi
impulsionada peías expectativas religiosas. “ A realização nao deve ser *
mm por causa de sua concepção de uma revelação que tenha sentido e
seja progressiva. O reino de Deus se tomou, ele próprio, um processo
histórico. A convergência com um conceito “ secular” de progresso
tempos futuros » mas sim, numa divisão nao necessariamente desigual, da História se realizou via inspiração recíproca. Isso acontece, por
por toda a linha de tempo do Novo Testamento, de tal forma que exemplo, com Thomas Wizemann , que derivou o “ plano” de Deus
todo o verdadeiro sistema de toda a Historie sirva de explicação para
sill I; do “ desenvolvimento histórico” : “ O homem está em eterno movi -
judeus e gentios, cristãos e turcos”.468 Para Bengel, toda a História « ÉI mento, e cada recaída constitui um passo adiante no aperfeiçoamento
se transformou em uma História da revelação, que se desvendava
em forma crescente, com que o onus da prova para a interpretação

-- - do todo... Juntamente com sua História , seu conhecimento tamb ém
avan ça e constitui verdade política e teológica que o verdadeiro co-
m '
se deslocava do Testamento para a História pós-bí blica. Ninguém
poderia explicar a revelação, “ se não incluir as Historias eclesiá stica -mmm m nhecimento efetivo só pode se tornar mais transcendente na medida
em que a História també m se torna [mais transcendente]” .472
-
e mundial [ Kirchen und Weitgeschicluen]” .460 E nelas que se mostra
unidade sistem á tica da Historie. O intérprete apenas deve “ esgotar
a r- : -
O testemunho a favor da verdade divina , com Wizemann ,
deslocou-se, por completo, das “ doutrinas” para os “ fatos” , da Bí -
a verdadeira soma da História mundial e da História eclesiástica ,
absorvê-la dentro de si, mas, ao fazê-lo, n ão deve atentar para
e mi$ blia pata a História : “ Aquilo que, na minha opini ã o, requer uma
mz « atenção especial nas nossas sagradas escrituras é a História . E ela
partes, e sim para o todo, para as coisas básicas, os tempos básicos
os lugares básicos, como, por exemplo, Roma e
Jerusal
Jo
ém”.470
O gradual desvenda mento do Apocalipse de ão pela Hist ória
as
e
m
:
que diferencia essas escrituras de todos os demais livros de religiã o ,
e a transforma em revela ção divina ” .473 Com isso, estava aberto o
caminho para - na sequência da Filosofia idealista da Hist ória - tam-
se revelou , ent ã o, como um tipo de fenomenologí do
a espirito, a
qual vai corrigindo de forma sucessiva todos os erros das interpre
tações do passado e, com isso, revela seu sencido futuro,
-
s:|Ép
f f:
bé m dissolver processualmente a escatologia cristã . Assim , Richard
Rothe descreve o “ transcurso do processo histórico” de tal forma
o qual será id é ntico com o fim da Historia até aqui.
verdadeiro, HP que a igreja crist ã estaria se integrando e $e fundindo cada vez mais
um discípulo de Bengel - disse o seguinte: “ Cada s é
Oetinger -
culo depois
lit
« 5 >
no Estado crist ã o do futuro. O Juizo Final - a crise - é, por assim
dizer estendido para a “ sucessão do desenvolvimento histórico” ,
de Cristo possui sua própria medida de conhecimento verdadeiro,
ainda que não integral ” . Mas Deus mandaria, de tempos em
» 1 de forma “ que toda a História cristã se transforma numa grande
“ : % m crise continuada do nosso gê nero” , que, no decorrer do tempo,
tempos, instrumentos que , na medida do conhecimento crescente,
produzem, a cada século, uma abertura maior” .47*
mi moralizaria a Igreja e a tomaria supé rflua .474
Influenciado por Ranke e por Schelling, Johann Christian
Na formulaçã o de conceitos da História, na Alemanha, o grupo •
lit von Hofmann adotou , em 184 Í , a expressã o “ História da salva çã o”
de teólogos de inspiraçã o pietista (Arnold , Bengel també
mann Oetinger, Wizemann ou Hess) não pode ser subestimado,
m Ha - - m :
[Heilsgeschichte] , que antes fora pouco usada. E aqui n ão se tratava de
till
4ti
GOLTZ, Alexander Freiherr von der (Ed.). Thomas Wizemann , der Freund Ftledrich Heimidi
m BENGEL, . .
Johann Erkldrtc OJjenbarungJohatwisodcrvUlmehrJesu Chriui (2* ed., 1747) (editado 1). Gotha, 1859, p. 147. A respeito dc "plano” c "desenvolvimento” , cf
Jaeabis (vol, .
por Wilhelm Hoffmann, Suttgart , 1834), p. 75. [WIZEMANN, Thomas]. GiUtlkheBnlwlckUingdes Satans dutch das Menschengesdifedit Dessau,.
4
.
” Ibid , p. 137. . .
1792, p. 2, 18 28, 57 epassinv, WIZEMANN, Thomas. CuchichíeJcstt (cf n.ou 294), p 8 c 46 .
m Ibid ., p. 654. e segs. Cf. BENZ, Ernst. Verheissung und Erfullung. Ober die tbeologischen Grundhgen des
471
OETINGER, Friedrich Christoph. Predigíoi iiber die Som , Fest - und
..
deuuchen Geschichtsbewusstselns , Ztitsdiriftfiir KirchengetdtUhle , n. 54 , 1935 p 484 e segs.
Rcutlingen , 1852, p . II (editado por Karl Christian Eberhard
- * FcUntiglidiin Bphtelu. m WIZEMANN, Gòtiliche Entmcklutig des Safims, p. 1 e scg.
Ehmann);
Friedrich Christoph. BvartgilictipredigUn (vol. 2). ReutUngen , 1853, p. 110. OETINGER
, 474
ROTHE , Richard. Die Anfinge der Christlichen Kiiche und ihrer Verfassutig (vol. 1). Wittenberg,
1837, p. 59 .
174 175
O CCNCf íIO Di HiSTOíJA
-- íí T

A coN?;GUftACto DO MOc&NO coseno OE


0mw :
; :: :
uma tradu ção da já meio apagada “ historia sacra” , mas de um conceito ;i;Íg m
i; 7
Depois que a velha historia sacra tinha sido superada pela His-
que pretendia dar conta - como conceito cristão das exigencias
de uma História baseada em principios histórico -filosóficos que se
- m
tória da salva çã o, a compreensão do cristianismo sobre si rnésmo .\
> ?!
i ;v : entrou numa linha de historiciza ção - tamb ém da metodologia ,
difundiam cada vez mais.475
Edgar Bauer formulou , na década crí tica que antecedeu a
K
hist órico-cr ítica —
de forma que, desde ent ã o, vem pendulando .
*

entre duas respostas extremas. Por um lado, o cristianismo é sim -


-
. s i^;.; > 1

revoluçã o de 1848, de forma polêmica: “ Através da religião, a His- plesmente declarado incompatível com a História . Nesse sentido,
toria se transforma numa fá bula , através da Hist ória a religião se
if ia ? :

Overbeck registra “ o desejo moderno de submeter o cristianismo
transforma num mito, na História a verdade de hoje refuta aquela
de ontem , para novamente ser refutada pela de amanha , na religião mm à História” , deduzindo que, “ deslocado para o terreno da avaliação
histórica , o cristianismo está irremediavelmente exposto ao con-
so deve existir uma verdade”.476 As imposições alternativas forçaram
%“ . f ceito da finitude ou ... da decadência” .478 Ou a História como um
:

a historiciza çao. Diante dos desafios por elas exercido surgira o ter- todo deve permanecer referida a Deus, de forma que a diferença
mo “ Historia da salvação” . Retrospectivamente pode-se formular H entre uma História crist ã e uma História n ão cristã desaparece.
-

da seguinte forma o resultado da lenta mudança ocorrida desde o Nas palavras de Karl Barth: “ Toda História religiosa e eclesiá stica
século XVII: enquanto na “ historia sacra” a indicação para a salvação
eterna caracterizara o conceito, no conceito composto de História
da salvação a [própria] História assumiu o papel fundamental. É
m^
- se desdobra por completo dentro do mundo. A assim chamada
‘Hist ória da salva ção’, poré m » só representa a permanente crise de
toda a História, nao uma História ou ao lado da História” .479 O
d éla que derivou o caminho para a salva çã o. S’ ' componente progressista do conceito perdeu importâ ncia , mas o
De qualquer forma , o legado judaico-cristão ficou preservado, .
b
V; momento processual , que deriva da presença existencial do ju ízo
e sinalizava a contemporaneidade do nao contemporá neo no novo
eterno, se manteve, incluindo um legado da Teologia federal.*
conceito de História, mostrando que a antiga expectativa escatológica
agora també m tinha efeito sobre ele e sobretudo combinava com
ÉT * ória mundial ” [ W èltgeschi-
c) Da " historia universalis” à “ Hist
chte ] , A incorpora ção da natureza e da historia sacra no processo his-
ele. Por isso, não admira que Moses Hess - também na linha do ó passasse a constituir
tó rico geral fez com que o conceito de Hist ria
idealismo alem ã o - pôde, em 1837, escrever Die Heilige Ceschichte der um conceito-chave da experiê ncia e das expectativas humanas. O
Menschheil [A História sagrada da humanidade], na qual, de acordo conceito de “ Hist ória mundial ” [Weltgeschichte] se adequava muito
com o esquema joaquimista , o terceiro e ú ltimo per íodo, “ a ú ltima
bem a uma definição desse processo.
renovação da humanidade, cujo processo ainda nao se concluiu'1477,
Na perspectiva da Histó ria vocabular, a transiçã o da “ História
teria começado com a Revolu ção Francesa. A expectativa de salva ção
universal ” [Univemlhistorié] para a “ História mundial ” [Weltgeschichte]
permaneceu , como em camadas, inerente ao conceito de História ,
se realizou de forma gradativa e sem muita insistência . No século
e se manteve nos mais diferentes campos, desde o protestantismo,
XVIII, ambos os termos podiam ser utilizados de maneira alternativa.
com sua fidelidade ao Estado, até o socialismo.

m HOFMANN,
vi
OVERBECK , Franz. Chrittentum und Kultu/. Gedanken und Anmerkungon zur inodernen
Johann Christian Konrad von. Weissaguttg und BrJiiUung m alien und neueu Theologie. Basel, 1919; reimpresso em Darnutadr, 1963, p. 7 eseg. (editado por Cari Albrecht
. .
Testamente ( 2 vob ). Nõ rdlingen , 1841/4 4; cf. V/ BTH, Gustav. Die Heibgeuhlihte M ü nchen,
- Bernoulli).
.
1931, p 81 e segs,
BARTH, Karl. De / Rdmerbrief. 10’ edi çSo da vetsào reformulada de 1922, Zurique, 1967, p. 32.
.
^ GEÍSM AR Martin von (= Edgar Bauer) ( Bd .). Bibliotltek derDtuitehen Au/klàur (vot. 2, separat w
A “ Teologia federar * entendia a “ Hist ória como a concretiza çã o da gra ça " divina , Hist ó ria
.
5). Leipzig, 1847; reimpresso em Darmstadt, 1963, p 127.
que transcorreria em cinco fases, a come ç ar na criação narrada no VeJho Testamento, de
m HESS, Moses.
Die Heilige Geschtchte dcr Menschhelt . Von cinem JOnger Spinors. In: forma que a “ História divina se transformaria em um drama com sentido unit á rio” JACOB,.
CORNU, Auguste; MÒ NKE , Wolfgang (eds.). PhUosophische undsoziaUstiutie Schiiften 1837 - P. Foderaltheologie. In: Die Religion in Çcschfchte und Gegenwa / t [RGG ). Tü bingen:J. C. B.
.
I 8S0 Berlim , 1961, p. 33. Mohr (Paul Siebcck), 1957, col. 1520. [N. T).

176
W.
"
J 177
::
'
1
O CONCOTO DE HiStôSlA
m
: I Si -
A COWOUMçàO oo MGOSXNO CONCETO oe HQT&.IA

A expressão uuerltgeskditen já fora utilizada por Notker (fa- Chladenius pôde constatar, em 1752; “ As História gerais do mundo
lecido em 1022) - referido à providência divina mas a palavra is
V¿fe V [ getneinen Weltgeschichte ) costumam lidar com a ções de homens, mas
não conseguira se impon 480 A primeira referencia concreta a unía a revelaçã o lida com as grandes obras de Deus” .486 Foi justamente
Historia universalis so é encontrada mais tarde. Em 1304, surgiu uma s '
-
'

esse campo sem â ntico, [at é ent ão] antit éticamente exclu ído do
:
- -

tal obra, que pouco depois recebeu o certeiro t í tulo de Compen-


dium historiarum.m Historien deste mundo que tentavam unificar % : mundo humano, que deu maior força à nova expressão, frente à

urna soma de Hist órias individuais com pretensões universais só


surgiram - nas palavras de Borst - quando a imagem do mundo do
: tradicional “ Universalhistorie
Os temas referidos ao mundo todo se difundiam e exigiam um
conceito adequado. Em 1773, o Teulsche Merkiir registrava como
povo cristão de Deus se esfacelou , Na medida em que a conquista • iip i “ estranho” que “ nos ú ltimos dois ou tr ê s anos” tenham surgido
- tantas Histórias universais [UniversallustorienY * , e Sch íõzer, um de
7
de terras no alé m mar progredia , e a unidade da Igreja se rompia , :
começam a se multiplicar os títulos histórico-universais, os quais seus autores, constatou , no mesmo ano, que “ o conceito da Hist ó ria
deveriam registrar e unificar as novas e heterogé neas experiências. mSés -rn ' ’v ;
mundial [Weltgeschichte]” continuaria indefinido e vago. Deveria se
desenvolver “ um plano, uma teoria , um ideal dessa ciência” , para
• ,

Nesse contexto, també m ressurge, no século XVII, a desaparecida


.SlJSl
• -
que conquistasse a posição fundamental que lhe compete.
488
palavra “ História mundial ” [ Weltgeschichte] , que talvez tivesse sido Mi "
,

inspirada na History of the world, de Sir Walter Raleigh.482 Stieler Uma d é cada mais tarde, em 1785, já fazia uma avaliação re-
registra Weltgeschichte / historia mimdi sive universalis^ , e, desde o sé- 0m ñ trospectiva: uHistorie universal antigamente n ão foi outra coisa do
culo XVIII , preferem-se formas mistas, como “ Universalgeschkhte” mm que ‘uma misturança de alguns dados históricos’ ” , que serviam aos
teólogos e aos filólogos como “ ciência auxiliar” . Outra coisa era a
[Historia universal] ou “ Wekhistorie” [ Historie mundial].
Apesar das varia çõ es terminol ógicas, o avanço da expressão
“ Weltgeschichte ” [Historia mundial] denota urna profunda mudanç a
m >
História mundial [Weltgeschichte] que agora assumira posição de desta-
)

que no título de sua obra: WeltGcschichte [MundoHistória] - Schíõ zer


conceituai. Um sinal disso já fora dado com a tradu ção do Essai zur preferia essa forma de escrever, para caracterizar o cará ter composto
Vhistoire g énérale de Voltaire, em 1762, por Versuch einer allgemeinen WB
'
do conceito; “ estudar WeltGeschichte significa pensar como um con-
Weltgeschichte [Ensaio de uma Histó ria geral do mundo], quando Sill junto as principais transforma çõ es da terra e do gênero humano, a
in % fim de reconhecer a situa çã o atual de ambos, a partir de suas bases” .489
se tratava de desacreditar a provid ência.484
A forma plural - como as “ mais curiosas Histórias do mundo” mm Com isso, Schíõzer já citara os dois critérios que caracteriza-
[merkwü rdigsle Weltgeschichten ] - estava consolidada desde o final
do século XVII, no sentido de Histórias seculares.485 E, por isso,
mu
m
vam a nova História mundial: espacialmente , ela se referia a todo
o globo e, temporalmente, a todo 0 gênero humano, cujas inter-
. mm conexões deveriam ser reconhecidas e explicadas, com vistas ao
• '
- Mj®;
'
presente. Retomando algumas sugest õ es de Gatterer e de Herder,
.
SEHRT, Edward H.; e STARCK , Taylor (Eds.). Notkers des DeUlsdicn WoVt Hade 1952, p 33. . .
A respeito , cf. BORST, We í tgcschichten im Mine taker (cf. now 150), p. 452 e segs. vs; is # ,
e se antecipando a Kant,490 avançou no sentido de criticar a “ soma
4S *
.
RALEIGH , Sir Walter The hltlory of the world , Londres, 1614 .
4U

AU
STIELER , 1691; reimpressão de 1963, p. 1747.
.
Voltaire Essai sur l ' histoire gé né rale et sur les moeurs et Tesprit des nations depuis Charlemagne
m ~
'

. ...
CHLADENIUS Alfeemeint Cí s<hi<hí swisuns( haft ( c f , nota 277) ( Vúrredc )t sem pagina çã o
aus D... (cf. nota 395), p. 262,
.
.
4
” Schreiben
jusqu 'á nos jours (7 vols .) Genebra , 1756; e alem ão: Atlgoneine WdigtschUhle,\wtlru\en zugUidi m -
4 í i SCHLÕZER , A. L. Vorslellung seiner Universal Historié (vol. 2). G õ tcingen /Gotha , 1773,
die Siittn and das Bfytnt derer Vtilkerschaftcn von C<ul dito Gras sen bis aufdfo Ztltea Ludwigs XIV.

m GATTERER ,
.
bexkrleben wtrdttt (4 vols.) Dresden, 1760/62. mmS 4S >
( Vcrb í fiehl ) , sem pagina ção.
.
SCHL Õ ZER , A . L. mhGtMhtt (vol I) (cf nota 412) p. i e 71. .
Johann Christoph. Handbiuh dor Unive / saihisiotlenarh ihremgesomten Umfange. Vol . . .
GATTERER , Vom historiíchen Plan.. (cf nota 223), p 25, 28 e seg., passim; HERDER , A .
1: Nebst einer vorlaufigen Einleitung von dcr Historic Uberhaupt und dcr Universalhistorie
mm
mm . -
L Schlbzers Vorstellung seiner Univsersal Historie (1772). ! n: StinUlUht Werke (vol . 5), 1891 , p.
imbesondere. 2. AulL, Gottingen, 1765, p. 127 e scg.
- SS.Sv. So ^ - . .
436 e segs; KANT, Idee... (cf nota 360), T sentenç a . !n : Akademie Ausgsbe (vol. 8), p 29

MV
"

t M;
178 i& v 179
mm ó fe® *
- £
i '.V. O cotx ü io « HíSíOMA &-V -
A CCtf <Q*JflAÇAO DO MOO ÍSNO CONOTO Of H SróSJA
. m
•f

1 '
l

[histórico-universal] de todas as Histórias especiais*' [ SpeeialGes . sis


- mm unía Historie mais detalhada” /9* Três décadas mais tarde, em 1790,
chichten) como um simples “ agregado” , e abrir espa ço para o novo Kõ ster resumiu , na Deutsche Encyclopdd¡ei o debate entrementes
“ sistema da MundoHistória” O sistema alcançou, num patamar desencadeado, e seu resultado/94 A rela ção entre as Historien geral
mais elevado de abstra çã o, uma pretens ã o de realidade superior e especial seria relativa , dependendo da definição dos objetos e,
.
Ele faz a intermediado entre causas pequenas e grandes, com que .
por consequência, “ ambivalente.. Mas existe uma outra Historie
a História mundial se transformaria em “ Filosofia ” .
Sobretudo
seria importante que a “ interconexão real ” [ RealZusammenhang

universal [Utiimsalhistorie] - simplesmente assim denominada , que -


] tamb ém se chama de História mundial geral [aílgemeine Weltgeschi-
dos acontecimentos fosse distinguida de sua “ interconexao tempo
ral ” [.ZeitZusammenhang), que urna nao é redutível à outra, ainda - stair elite ] **. Ela trataría de todo o genero humano, e da “ superficie da
terra” corno seu campo de ação. Ela mostraria , “ por que o género
que ambas se condicionassem mutuamente. Disso resultariam humano se tornou aquilo que realmente é, ou aquilo que ele foi ,
dificuldades para a representa çã o, para as quais Gatterer já apon
tara, mas cuja solução estava em reconhecer a interdependência
- mí em cada per íodo” .
No ultimo terço do século XVIII, se estabeleceu certa unani-
global das Histórias modernas. Pontos de vista “ cronológicos

t midade de que essa Historia do mundo seria urna ciencia mestra,
-
e “ sincronísticos” em termos modernos: diacronia e sincron
ía
i ISIS que, no entanto, ainda nã o teria sido escrita nas palavras de Kant:-
- devem se complementar reciprocamente, a fim de classificar a V-
História mundial de acordo com crité rios imanentes. Com isso, se i mm ela ainda nao teria encontrado seu Kepler ou seu Newton / 95
Mas , ao mesmo tempo, esses autores constatam e isso indica -
tornam dispensáveis as quatro monarquias da profecia divina , e as
novas etapas derivam da import â ncia que os “ povos principais” e aquela experiência moderna que só pôde ser explorada através da
os “ povos secund á rios” tiveram para a História mundial. Apenas “ Histó ria mundial ” [Weltgeschichte] - que a escrita de tal Hist ó ria
“ as revolu ções, nao a Histó ria especí fica dos reis e mundial somente agora seria poss í vel. E nisso que consistia a
dos sobera- verdadeira superioridade, o ganho de experiência em relação à
nos, sim , nem todos os nomes deles” , contavam , como destacara
Gatterer /91 “ Na verdade, ela [História do mundo] é a Historie dos
acontecimentos maiores , das revolu ções, refiram-se aos próprios
homens ou aos povos, ou a sua relação com a religião, o Estado, as
-tm
mm
antiga /96 As mudan ças constitucionais e a expansã o da Europa
sobre todo o globo teriam tornado os “ intercâ mbios mundiais”
cada vez mais “ entrelaçados” , de forma que n ão seria mais possível
ci ê ncias, as artes e aos ofícios; aconteçam em tempos mais remotos escrever a História de Estados individuais, já que a interconexão
real perpassaria tudo/97 Em parte, o intercâ mbio europeu suge-
ou mais recentes” / 92
Com isso, o novo campo semâ ntico estava definido. Abrindo
§
S > ?;;; i
® ria ser aquele “ em que parece se dissolver gradativamente toda
mao da transcendência, pela primeira vez, o gênero humano foi a História mundial ” [Weltgeschihte] .m Em 1783, foi possível que
; Y.- Vv. \
uma tese de doutorado apresentada em Mainz iniciasse de forma
encarado como o sujeito presuntivo de sua História , neste mun
do. Ainda em 1759, Sulzer, num ato de desespero, exclamara: “ A YjM 1
Vi
- •

Historie geral, Historia Universalis, de todos os tempos e de todos Si® í •


H >> .
(SULZER,Johann Georg). Ktirzet Begrí ff alter WUxasthafttn unci andem Theile der GtMittamkcif
os povos só pode ser muito breve a respeito de acontecimentos 2 . AufL, Frank íurt / Leip2ig, 1759, p. 35.
4Í I
KÕSTER , verbete “ Historic" (cf. nota 328), p. 651, 654 .
individuais. Ela , portanto, nã o pode apresentar toda a utilidade de ... - . .
8) p. 18.
4
”w KANT, Idee In: AkadmU Autynbt (vol .
. .1 ..
* GATTERER , Vom hiltonschen Plan , , p. 16 e segs
í57 BÜSCH, Entyclopãdie (cf nota 437), p. 123; cf. ibíd., p. 133, 165. Alé m disso, HALLE (vol.
.
*

Y -Yv
m GATTERER, Vom
.. .
historisdien Plan.. p 66 e segs. '
1), 1779, p. S37 .
4 ÍÍ

1771, p . 1 c scg.
.
GATTERER , Johann Christoph. BinUHung in die synehrònistischt Univcisalhistcrie Gottingen ,
*
«S i*
; 4
!
\
** FORSTER , Georg. Die Nordwestkiísce von Amerika und der dortige Petzhandet (1791) In:
.
Weike , (vol 2), $. d . , p. 258.
.

180 is¡ 181


km mix
O CONCEITO Oí HSíÓWA
Kft A CON Í SOW.ÇÀO DO .
CO\« íTO Ot H SIÒMA

enfá tica e assint á tica, com as seguintes palavras: “ O genero hu


- a Era Moderna , aprendeu a se ver como um novo tempo, ela se
mano chegou a um ponto em que, através de revolu ções conhe
cidas, foram derrubados os muros que separavam continente de
- mi certificou de sua totalidade espa ço- temporal , a partir da ideia de
“ História mundial ”. Por isso, a expressão, como pressuposto e de-
continente, povo de povo, e os diferentes setores humanos se m limitaçã o de experiencias possí veis , também se transformou numa
fundiram num grande todo, o qual é avivado por um espí rito - o
mesmo espírito que aviva a História - de que o mundo é um só
W; / '
característica estrutural de Hist órias possíveis: “ Todas as Histórias
só sã o compreensíveis através da História mundial e na Hist ó ria
povo, da mesma forma que a Hist ó ria geral mundial [allgemeine -
mundial ” ;502 ou como Novalis formulou de forma ainda mais
Weltgeschichte], motivo pelo qual ela deve ser tratada como tendo
.
utilidade e influê ncia para o mundo” A Hist ó ria educaria os po-
vos, aos poucos, para uma cidadania mundial geral, ampliando se
-
n

•-
-
coerente: “ Toda História deve ser História mundial , e somente
através de uma rela çã o a toda a Hist ória o tratamento histórico de
uma mat éria individual é possível ” 503 .
para uma História mundial [Weltgeschichte]. “ Essa é uma verdade ft ft
O novo conceito adquirira uma conotação coesa de totalidade ,
V ft
que tem base na própria Hist ória ” .499 o qual exclu ía modelos explicativos concorrentes. Por essa razã o,
O conceito de História moderna, que, por assim dizer, recor- Friedrich Schlegel p ôde abrir suas Vorlesungen fiber Univemlgescht -
ria a si mesmo para se definir, procurava encontrar na “ Hist ória l'IÉÍft chte [Preleções sobre Histó ria universal], de 1805, com a seguinte
mundial ” sua â ncora empírica. Aqui se localizava o campo de ação . frase: “ Como toda ciê ncia é genética , se deduz que a História
ft -ft fe
daquele sujeito hipoté tico chamado gênero humano, que só podia deve ser a mais universal , a mais geral e a mais elevada de todas
ser imaginado como unidade na sua extensã o temporalmente aberta. fefeífe as ciências” . Enquanto se falasse exclusivamente da História dos
Paralelamente às tentativas de escrever uma História mundial [Wel
:
* 504 Foi a His
“ . -
- fe homens, ela se chamaria “ simplesmente História”
tgeschichte] , surgiram , por isso, muitos mé todos antropológicos sobre pkj '
•! tória mundial ” que, no período da Revolução Francesa, atribu í ra
a História da humanidade.500 Aquilo que lhe faltava em termos de ftftfeft '

..ftlife 'i ao conceito de História sua fun çã o mestra - que, desde ent ão,
concretização contemporâ nea esperava-se, de forma compensatória , feftft fe n ã o mais perdeu. Em 1845, Marx e Engels dizem a respeito da
III
'

para o futuro. “ O verdadeiro ideal de uma tal História - que nao ideologia alemã: “ Nós conhecemos apenas uma ú nica ciência , a
é nada menos que um agregado de todas as Hist ó rias particulares ciência da História ” . E ela abarcaria a Hist ória da natureza e a dos
-
e especiais , porém , só foi elaborado em tempos mais recentes
” ftftft 1 homens. “ Mas ambos os lados nã o podem ser separados; enquanto
como Krugse referiu a Kant , quando definiu a História da huma- Jü i existirem homens, História da natureza e História dos homens se
nidade como uma “ História da cultura humana” 501 condicionam mutuamente” .505 “ História” só era imaginável como
A famosa pergunta de Schiller, na sua aula inaugural, em Hist ória natural e como Hist ó ria humana, isto é, como História
Jena wm
-
(1789) “ Que significa e com que finalidade se estuda História . ,:
* mundial, de forma que esse significado foi superado, absorvido e
universal [Universaígeschichte]?” resumiu, dc forma precisa e bri- transcendido [ aufgehoben] naquele conceito.
lhante , todos os argumentos que haviam transformado a Hist ória
mundial em ciência-mestra de todas as experiências e de todas as

expectativas. Assim corno, a partir da ideia de “ progresso” , a Neuzeit
502 LUDEN, Heinrich . Uebcr den Vortrag der UmversalgeschiclKc. In: Kteine Awfalzc (vol . 1).
W G ô ttingen, 1807, p. 281. A respeito de Schiller, cf nota 418. Cf, KESSEL, Eberhard. Rankes

M Cf.
...
VOGT, Au&ige (cf. nota 287), p. 3 e segs .
>

CARtJS, Friedrich August. Ideen zur Geschichte derMemchheit. In: Nathgefaswie Werke
mtm\ Idee dor UnivemlhUtorie. Hiuorltche Zeitahiift , n. 178, 1954 , p. 269 e segs.
M NOVALIS. Fragmente und Studien , Nr. 77. In: Cesáitwtclie We ike (vol. 3), p. 566.
so< SCHLEGEL. Vorlesungen iiber Umversalgeschichte (1805/ 06). In: Sfatitluhç Wetke (2* se çã o,
vol. 14) I 960, p. 3.
(vol . 6). Leipzig, 1809, com urna ampia bibliografia , p. 10 e segs. Wi MARX; ENGELS. Die Deutsche Ideologic. In : MBW [Marx-Engels Weike] (vol . 3), 1962 ,
301
.
KRUG, Enzydopâdie (vol 1), p. 66 e segs.
, \ VÍ :

-
>
‘•
p. 18 (nota).
*
'

\\s :

182 Í|
® 183
mms
m
mm -
sV í
'
.. *1 J r z r • .
..
' t \ t s i

O CONCUTO c* list
áis *

A$ representações histórico- universais abrangentes perderam v- yr* VI


Vi
- segundo a grande concepção geral de Ranke - sua força , em
parte porque o método histórico-crí tico aumentou as pretensõ , !B
i
:8
promovendo a especialização, em parte porque a inconç
es
lusividade
ória" como conceito;;:;:fg¡jj¡§¡
"Hist f
de toda História fez com que crescessem as críticas contra projetos :wmÉ m
- r mestre moderno
universais.506 Irrefletidas [as representações hist
óricas], continuaram I :
Ví -V.- -
sendo sobretudo aquilo que Hans Freyer subsumiu em 1948, no ' : V : ?
conceito “ História mundial da Europa” 507, que só no século XX : - Reinhart Koselleck
começa a transitar para uma “ História mundial propriamente dita” .
Com isso, as expectativas que o século XVIII vinculava ao conceito "
! V-
mm
foram modificadas, mas não ultrapassadas.
A ú nica tentativa efetivamente bem-sucedida para retirar a 'Í Bí
História mundial de sua unicidade processual, em constante re í
- iSis Quando Friedrich Schlegel disse, em 1795, que “ o caminho
novação, veio de Oswald Spengler, quando derivou a decadência : e a direção da forma ção moderna são determinados por conceitos
lf S
do ocidente de uma “ morfologia da História mundial, do mundo
como História” , cíclica, natural.508 Em que medida seus cí rculos ;
culturais pluralistas, em sua analogia estrutural, influenciam a futura
História do mundo fica, por enquanto, em aberto.
s#è ií
>s
.
»g** .
dominantes” , esse reconhecimento já pressupunha o moderno
conceito de História .509 Schlegel se serviu de uma sé rie de deter-
minações atuais de movimento, todas abrangidas pelo conceito
de Histó ria. Nessa medida , valia para a “ História” , em especial
,
r^mPi :
:k ÍMi ti aquilo que Schlegel reivindicava para os conceitos dominantes “
: Sua
"

-- . influê ncia é imensamente importante, decisiva” . História somente


pôde se tornar o moderno conceito mestre, porque, no per íodo
do Iluminismo e através dos efeitos da revolu çã o, todas as ações
precursoras até então descritas tinham influenciado esse conceito.
- 1. Funçõ es sociais e políticas do conceito de História

.
A configuração do conceito moderno, reflexivo de História se
deu tanto através de discussões cient í ficas quanto através de diá logos
pol ítico-sociais do cotidiano. Quem fez a liga ção entre os dois n
íveis

-íili C' : : de di á logo foram os cí rculos do Bildungsbü rgertum , a assim


burguesia culta composta por intelectuais de formação acadê mica
seus livros e suas revistas, que foram aumentando cada
chamada

vez mais
,
,
ÍC
* Cf. TROELTSCH , Hm st. Dert í istorlsmus itttd feint Próbleme. TCibingan, 1922; reimpresso em ;
Aaten, 1961, p. 652, 706; e DILTHBY, Wilhelm, Einlekimg in die Geistessvisscuschafcçn W: no ultimo terço do século XVIII, sendo seguidos, no século XIX
,
in: CaiMimeUt Sditifien (vol. 1). Leipzig/Berlim , 1922, p. 93 e segs
(1922). .
597
FREYER, Hans. ÍVeltgetthkhte Europas ( 2 vols.). Wiesbaden, 1948.
i
SCHLEGEL. Obçr dai Siudium der griechisdiert Poesie (1797 . In RASCH
.
SFENGLER , Oswald. Der Utturgang des Abendlaruí es Umrisse ehier Morphologic der :
IW ) : , Wolfdietrich
Wettge5chidue. 52. Aufl ., Munique, 1923, p. 6. . (ed .). Krtttuhe SMfitn . Munique , 1964 , p. 156.

184
I
A- y
.
'

185
mk
O CONCEDO ce HST óí 'A 'HIHóMA* trovo concerto MKIRC MGOE *NO

por inú meras associações e instituições O surgimento de uma


ciência histórica autónoma pode ser atribu ído a essa classe média
. ta - Biidimgsbürgertum. A utilidade pragmá tica da escrita da Historia
deveria beneficiar todos os estratos - como Abbt já exigira e ,
intelectualizada, a qual, simultaneamente com o desenvolvimento no ano de 1765, Christian Kestner fez, em Gottingen , a seguinte
de uma consciê ncia Histórica , se apropriava de sua identidade. Nessa
: pergunta , muito sugestiva: “ Se a utilidade da nova História tam-
medida, a gé nese do moderno conceito de História coincide com
sua função social e pol ítica - sem naturalmente se limitar a ela.
Gatterer se orgulhava de ser catedrá tico de Histó ria , sem precisar .
- %
bé m se estende a pessoas privadas? ” Evidentemente “ o historiador
deve nos descrever o homem em sua totalidade, e n ão so ñ as raras
situações especiais em que ele domina povos e conquista países” .
551

- -
ser como historiógrafo da corte servo de nenhum pr í ncipe. A “ A grande destinação” que Schlõzer atribuiu à “ História ”
despeito de sua autoavaliaçao, as questões teórico científicas que ele - ymm P servia para o “ esclarecimento e a felicidade da sociedade civil ” .
512
ç
formulou continuam tendo validade duradoura . Foi justamente o Da í decorreram as ampliações na organização e na abrangéncia do
reivindicado cará ter cientí fico do conceito de Hist ória que reforçou objeto. “ Toda a escrevinha çao da História” deveria ser encarada
sua força integrativa social e política . como “ urna grande fá brica , composta por uma infinidade de coi-
A ciência histórica, que alcançou seu auge na Alemanha, no sas” , na qual colecionar, pesquisar e representar constituem tarefas
século XIX , reuniu em si duas etapas precursoras. Etn primeiro diversas,513 Do ponto de vista do conte údo, colocaram-se, no sé culo
lugar, a zelosa atividade de colecionar, e a elaboração de ciê ncias XVIII, ao lado da tradicional Historia das Igrejas e dos Estados,
auxiliares, que vinham se desenvolvendo desde o Humanismo. Em
segundo lugar, a reflexã o teórica e crí tica com que o
Iluminismo
wm
mm
¡
--
\ aquelas á reas reivindicadas por Bacon , como Historia da literatura ,
História da arte e da t écnica, do comércio, a História da ciencia e a
reagira a seus predecessores. Ambas as etapas encontraram na his
- História da cultura; enfim - nas palavras de Gatterer a Historia
toriografia alemã desde Niebuhr, sua frutífera sí ntese. dos povos , que abrangia tudo. “ Portanto, para falar a verdade, só
Com isso, a Historie conquistou seu espaço científico, à medida Mm existe uma Historie , a História dos povos” 514 .
que foi se desligando da função servil nas faculdades de Teologia
de Direito. O resultado desse ganho de autonomia se evidenciou
no ú ltimo terço do século XVIII, quando també m o novo
conceito
e
a A nova sociedade civil se projeta como povo, como na ção,
e, por isso, Krug leva esse fator em consideração, quando uniu o
cosmos de todas as ciê ncias históricas parciais - seria “ prejudicial ”
de História passou a ser definido.510 Ele indica , por um lado, a con separar a Hist ória do Estado e do povo, “ pois, em função da estreita
- yv

mm^
'

quistada autonomia da ciência histórica. Paralelamente, por outro ligaçã o” entre ambos, “ a História de um sem a Histó ria do outro
lado, “ História” alterou sua posição dentro da linguagem polí tica . nem pode ser compreendida” .515
-
Enquanto a expressão foi transformada em conceito central da in mm Depois que a “ Hist ória” se transformara num conceito sobre o
- m- mm .'.
qual se refletia e que - explicando, fundamentando e legitimando -
terpreta ção do mundo, ela também estilizava a consciência daquela
burguesia que, nesses decénios, se ampliou de uma burguesia de
eruditos, uni Gelehrtenbihgertim, para uma burguesia culta , um
m
tat
estabelece uma ligação do futuro com o passado, essa sua tarefa pôde

,
51
KESTNER , Christian. Uncersochung der Frage: Ob sichder Nutzen der neueren Geschichte
510
auch auf Pfivatpersgnen erstrecke? In: GATTERER , Ailgemclitt Historísche Bibliothik (vol. ...
Cf. SÇHIBDBR , Theodor (Ed . ). Hunden jahre H ístoriscbc Zeitjchrift ;.y.~ 4), 1767, p. 21*1 e segs.
1859- 3959. Beit rage
2 uc Geichichte der Histoflographie in den deutjç
hsprachigen Landern. Hislonsche Ztluduift W 3) 2 .
Prefá cio de Schldzer a: MABLY, Abb é. Von der Art die Getdiichtt zu sthniben Stra $ $ burg, 178 *1,
iL 189, 1959; VOSSKAMP, Wilhelm .
-
UflUrsuchtingen xur ZtU JMD Cesthkhtsiusffatitng im p. 7 (vetsã o alem ã de F. R. Salzmann).
17. Jahthwdttt bei Gtyphha und LoUcnsttin. Bonn, 1967;
HAMMERSTE1N, Notkcr. und 513
ibí d .t p. 13.
Historic . Bin Beitrag 2 ur Geschichte des historhchen Denkem an
deutschen Universitaten im ã 5,4 GATTERER, Vom h ístorischcn Plan... (ef. nota 223), p. 25.
5, 3
spSten 17. und im 18. Jahrhundert . Gdttingcn, 1972. . *-•
KRUG, EnzythpSdit (voi. 1), p. 8L

186 187
3
O CONCHO DE Kstóí 'Á
: ii¡¡111? .
.
"HISTOHA" co? » CONCOTO v.s$r« MOOUNO

ser percebida de diversas formas. Naçõ es, classes, partidos, seitas


. «í t* i '
- qual possamos encará-la com dignidade ” .520 “ História” , portanto,
ou outros grupos de interesse podiam e at é deveriam recorrer : v -V ri í:
à História, na medida em que a deriva çã o gené tica da posição que
-
m
— •
-. de forma alguma , era apenas conhecimento especial que se res-
tringia ao passado e à sua memória , ela continuava politicamente
o respectivo grupo defendia lhe dava o direito à exist ê ncia dentro : rev iví?
'
ativa e apresentava seu desafio social frente aos contemporâ neos,
do campo de a ção político ou social. A grande disputa entre Thi- \'SWfk& qualidades que adquirira ao final do período iluminista. Por isso,
baut e Savigny (1814) a respeito da possibilidade de uma legislação IIS® • I Jacob Burckhardt fundamentou em 1846 sua famosa fuga “ para o
gerál, ou o intenso confronto, de 1861, entre Sybel e Ficker sobre SUB belo e indolente sul ” com o argumento de que esse sul “ morreu
o sentido da política externa em rela çã o à It ália , no passado - e a í para a História” .521 A viagem à Itália , portanto, n ão representou
estava contida também a do presente mostram a evid ência geral mmrn & uma fuga para a História , mas, sim, para fora da Hist ória - na
que caracteriza fundamenta ções históricas, independente de se medida em que Burckhardt procurou se esquivar da aguda crise
objetivar mais uma renova çã o ou mais uma estabiliza çã o.516
: vs sp .
polí tica Inversamente, Sybel - com o mesmo argumento recor — -
No sentido da Escola Histórica do Direito, Savigny destaca-
va a superioridade da origem: "A domina ção do passado sobre o
presente tamb ém poderá se manifestar ali onde o presente tenta se
V: VB ..
- reu em 1889 às suas “ convicções prussianas e nacional-liberais” .
Ele esperava que sua Hist ória da fundaçã o do império [alem ã o],
“ como visualiza ção detalhada da doenç a e da crise, pudesse servir
opor de forma proposital ao passado” .517 Ficker insistiu muito mais para o fortalecimento da sa ú de e da concórdia adquiridas” . De
522

na fungibilidade de ju ízos históricos e, com isso, para o perigo da forma mais drástica e sem pejo, Treitschke formulou sua intenção
unilateralidade partid á ria: “ Sempre ser á muito difícil estabelecer :V ;
an á loga: “ Minha intenção foi destacar com toda ê nfase, dentro do
uma unidade [dos pesquisadores] ali onde ela seria mais importante , mSM caos dos acontecimentos, os pontos de vista mais importantes - os
}$0& : •

isto é, ali onde se trata de concep çõ es hist óricas que se encontram homens e as instituições, a $ ideias e as mudan ças de destino - que
.

numa rela çã o estreita com questõ es prá ticas do presente ” .51* Ambas
* ••• • •

>
deram origem ao nosso novo povo” [Volkstuin] 52* “ De maneira
as considera ções - provindas do campo conservador reforçam um - ainda m3Ís clara que seu predecessor, o presente volume mostra
prové rbio muito usado no século XIX, de que se pode provar tudo que a História política da Confedera ção Alemã só pode ser obser-
a partir da História .519 O que é decisivo, no caso , é que a disputa v!
vada a partir do ponto de vista prussiano, pois somente aquele que .
se desenvolveu na plataforma comum de evidências históricas,
isto é, de evidências controvertidas, para se definirnos campos ou
1:
s mm está numa posição firme consegue julgar a mudanç a das coisas”
524 .
Após a fundação do império alemão, a disputa entre Treitschke e
jurídico, ou pol í tico, ou social. Luden desejou em 1810 “ que nós • iSli Schmoller mostra em que medida pressupostos teórico-científicos
alem ã es ouvíssemos a História dos alem ã es” e assegurou isso para as? í - e metodológicos - assumem funçõ es políticas e sociais, e podem
si e para seus ouvintes, “ para nos colocar no ponto a partir do qual influenciar a forma em que sã o percebidas. Treitschke argumentava ,
devemos olhar para essa História, e nos imbuir do clima a partir do WSX-K y
mm b

:BY - ;í . .
LUDEN, Hcintidt Binigs Walt fiber das Studitm der vâtetlõndischen Ceschichle Jeua, 1810;
3 ) fi Cf. STERN, Jacques (Ed .). Thlbú tu uttd Savigny. Ein prograriimatiseher Rechtsstrcit auf
,.
reimpress ã o em Darmstadt , s . d , , p. 11,
Grund Hirer Schi Ülen (Í914), Darmstad, 1959 (reimpresao); SCHNEIDER , Friedrich (Bd .)
, .
Universafstaat oder Nafionalsfaat Machi und Ende des ç rslen dtntsdicn Retches Die Streitschriften
. W& 5JI Carta dc
Jacob Burckhardt 3 Hermann Schauenburg, de 28 de fevereiro de 1846 In:
BURCKHARDT, Max (cd .). Britft (vol. 2). Basileia, 1952, p 208. .
.

1.7
von Heinrich von Sybel und Julius Ficker zur dcutscheo Kaiserpolitik des Mittelaltcrs 2.
Auft., Innsbruck, 1943 .
STERN, Thibaut und Savigny, p 137.
SCHNEIDER , Unmna\staat. ,% p. 31.
.
.
.
*
SP
S
i 527 SYBEL, Heinrich von. Die Begrihidimg des dtutsehen Reiches dtmh Wilhelm l (voi. 1). Munique /

.
Leipzig, 1889, p XIII e scg.
TREITSCHKE , Heinrich von. Deutsche GeschUhte im IVJahrhundert (vol. 1) (1879). Leipzig,
1927, p. VIII.
.
WANDER (vol . 1), 1867, p 1593, 321 .
Ibid , vol. 3 (1885), p. VItl.
:m
5.7

188
-ms ?\
189
; ye®

O CONCCffO Oí K‘ST¿*iA "H'St ÓÁIA*' COMO CONCHO MK Ítt MOWfiNO

a partir de pressupostos aristotélicos, a favor de uma estabilidade XIX deve deixar que os mortos enterrem seus mortos, para chegar
da domina çao, em confronto com uma social-democracia , que ao seu próprio conte údo” .528 Mas ele próprio produziu acuradas
Schmoller, por sua vez, tentava conquistar, a partir de teoremas
histórico-social-evolucionistas e reformistas.
A utilização política direta da “ Historia” , que atingia um ;üP§ C;
aná lises contemporâ neas - como O Í 8 Brumário de Luís Bompartc ,
para instruir o proletariado, a partir dos fracassos de revoluções
anteriores , e trein á-lo no “ espí rito da nova linguagem” ,

, WSwy ‘ '
-

ampio p ú blico de ouvintes e leitores, só foi possível porque a His- Dependendo da posiçã o, diferentes passados serviam - e con-
toria foi entendida nao apenas como ciência do passado, mas sim tinuam servindo - para a autodefinição política e social, e para os
como espaço de experiência o meio de reflexão da unidade de prognósticos que podem fornecer. Mas esse aspecto multifraturado
a ção social e polí tica que se tem em vista. “ De modo nenhum ” a dessa uma História n ão significa , de forma alguma , subjetivismo
ciência histórica lidaria “ só com a máscara mortuá ria dos passa- : í; desenfreado ou um Historicismo, corno o caracterizou Theodor
.
dos .. Compreendendo e compreendido, sua Hist ó ria representa , m Lessing, em 1921: ele esconderia dentro de si “ a presun çã o adoi-
para eles , uma consciê ncia de si mesmos, uma compreensão de :\ dada ... de que o pensar um processo é o pró prio processo” .529
si. Assim , nossa ciê ncia vai conquistando sua posição e sua tarefa Pelo contrá rio, a relatividade de ju ízos históricos na ciê ncia e na
naquilo que está surgindo; aquilo que acontece ao nosso redor e fi i pol ítica faz parte dos reconhecimentos que ajudaram a constituir
conosco nao é outra coisa que o presente da Hist ória, a Hist ória
do presente” .525 Ou , numa formulação singela de Schopenhauer:
- i : o conceito de Histó ria . Sem preju ízo para a busca da verdade por
í: parte da História , como ciê ncia , a referencia ção às condições de
“ Somente através da História um povo vem a se tornar plenamente
consciente de si mesmo” .526 vl-f Ví
--üil produção do conhecimento a respeito de uma experiência ajudou
a descobrir o mundo da História , no século XVIII.
y &
Aquilo que é vá lido para a consciência nacional burguesa
&
Marx e Engels tentaram conquistar tamb é m para a consciê ncia ím ti 2. Relatividade histó rica e temporalidade
de classe dos trabalhadores, a ser desdobrada por meio da reflexão lili
histórica. Assim , Engels escreveu em 1850, a respeito da guerra
dos camponeses, na Alemanha: “ As classes e frações de classe, que .Vv
i m Em 1623 Comenius comparou a atividade dos historiadores
com um olhar através de um binóculo que , na forma curva de um
em 1848 e 1849 foram traidoras, por toda parte, já as encontramos, & $$$ $
trombone, tivesse voltado sua lente para trá s. Assim se tentaria
em 1525, como traidoras, mesmo que ent ã o ainda num n ível mais buscar no passado ensinamentos para o presente e o futuro. Mas
baixo de desenvolvimento”.527 Marx ironizava aquelas “ invocações
dos mortos da Hist ória mundial ” que apenas serviram para a auto
-
estiliza ção pol í tica . “ A revolu çã o social do sé culo XIX n ã o pode

'
» (!
Sil
aquilo que impressionaria seriam as perspectivas retorcidas, que
mostrariam tudo sob uma luz diferente. Por isso, de forma algu
ma seria possí vel “ confiar... que uma coisa realmente se comporta
-
..
buscar sua poesia no passado, mas apenas no futuro. As revoluções
de antigamente necessitavam da lembrança da Histó ria mundial ,
a fim de anestesiar seu próprio conteúdo. A revoluçã o do século Mm - r: I
assim como ela aparece ao observador” . Cada um confiaria nos
seus pró prios óculos, e disso decorreriam disputas e desavenças.S3°

.
MARX , Karl Der achwehnie Brumaire des Louis Boiupmo (1852).!n: MEW (vol. 8), I960,
m DROYSEN, : y$m p. 115, 117.
.
Johann Gustav Ctstkkhie der pritwUdun Poliiik (vol. 1). Berlim, 1855, p 11!
. . '

ü; . .
5JS LESSING , Theodor Cí iíhtchu ah Staagebung des Sinnlosen Munique , 1921, p. 21.
SCHOPENHAUER, Arthur. Die Welt ais \V¡He und Vo/stcllung (1819). í n: S ãnitlUht Wakt
.
(vol 2). M ü nchen , 1911, p. 507.
w? ENGELS, Friedrich , per
.
.
deutsche Bauernkrieg. in; MEW (vol 7), I 960, p. 329.
m
•¿
i
m 1
535 COMENIUS,
Johann Amos . Das Labyrinth der Welt und das Paradics des Herzens (1623).
Zdonko Baudnik).
.
In: KOHUT, Pavel (Ed .) Luzcrna / Frankfurt, 1970, 11, 15, p. 105 e legs (vessao alema de
,

« =l

190 :W& i 191
:


'
ñ
> -7^ r. :
'
*
-• mim?:
'
mM a
O CONCETTO oe USTÔítA .
:»: iif

'H íSTÓ A" COM ) CONCOIO W « TJ? c t hOO&HQ
^
» ;'

A transferê ncia da teoria da perspectiva » vinda das ciencias ! ¿


Chladenius partiu do princípio de que a Hist ória e a concep-
ifS
-
ymm *
naturais, para a Historie ganhou evid ê ncia no século das guerras çã seu respeito costumam coincidir Mas para poder interpretar
o a .

religiosas e de seus libelos confessionais na medida em que os
autores estavam dispostos a reconhecer posiçõ es dogm áticas como m i
e julgar uma Hist ória , seria necessá ria uma separa ção ígida: “ A
Historia é uma coisa , mas a concep ção a seu respeito é diferente e
r
;
relativas. Mas isso n ão significava que a nova posiçã o, racional itP m ú ltipla” .534 Uma Histó ria em si [Gesehichte an sich] só seria pensável
e supraconfessional, fosse relativizável. O antigo topos de que o - :1v sem contradições, mas qualquer relato a respeito sofreria quebras de
historiador deveria ser apolist isto é apá trida , para poder servir ’ ‘

. Í \ .
perspectiva. “ Aquilo que acontece na Hist ória é visto de diferentes
: is
à verdade e apenas relatar “ aquilo que aconteceu ” 531 perpassa, .
maneiras por pessoas diferentes” .S3S Aquilo que seria decisivo seria
como postulado científico e é tico, todos os séculos. Bayle e Vol-
'
Wm ^^ se uma interconexã o de acontecimentos é avaliada por um inte -
taire estiveram t ã o comprometidos com ele quanto Wieland ou ressado ou um estranho, um amigo ou um inimigo, um erudito
Ranke; “ Tudo interdepende: estudo cr ítico das fontes aut ê nticas,
concep çõ es apartidar ías, representa ção objetiva ; o objetivo é
m ou um leigo » um nobre » um burgu ês ou um camponês, por um
revolucion á rio ou um sú dito fiel. A partir desse diagnóstico feito a
que verdade plena se fa ça presente ” , ainda que ela nao possa ser @p partir do mundo da vida , Chladenius deduz duas coisas: primeiro, a
atingida de todo.532
O autoafastamento de uma posição partid á ria historicamente
m$ incontorn ável relatividade de todos os “ ju ízos opinativos” , de toda
a experiê ncia. Podem existir dois relatos mutuamente contradit ó-
sempre se volta contra partidos concretos mas diferentes. Do ponto m
m
•••
rios que reivindicam ser verdadeiros. Pois , “ existe uma razã o para
de vista epistemológico, encontra-se, por detrás do postulado do que reconheçamos as coisas de uma forma e não de outra , este é
suprapartidarismo que visa reproduzir a realidade do passado de o ponto de vista sobre uma mesma coisa... Do conceito de ponto
uma forma próxima à verdade plena, um tipo de realismo ingé nuo. de vista decorre que pessoas que encaram uma coisa de diferentes
Nã o foi essa inflexão metodologicamente antiga e imprescindível fej r. pontos de vista também devem possuir concepções diferentes da
no procedimento da pesquisa de tentar ser suprapartid á rio que fe; coisa...; quot capita, lot sensus” 536
construiu o mundo hist órico. Pelo contrá rio, é a referenciaçã o da Em segundo lugar, Chladenius deriva de sua análise da tes-
História a seus próprios pressupostos de conhecimento que resume temunha ocular e do seu comportamento o perspectivismo da
a História moderna , tanto no campo cient í fico quanto no pré - pesquisa e da representa ção posteriores É claro que , através do .
científico, tanto no político quanto no social. questionamento adequado de testemunhos contr á rios e através
Ainda orientado no ideal realista do conhecimento, Zedler da busca por evidências, deve -se tentar reconhecer a pr ó pria
escreveu de forma resignada que “ seria dif ícil , quase impossível, ser Hist ória [ Gesehichte selbst ) - corn que tamb é m Chladenius reco -
um historiador perfeito. Quem quisesse sê-lo deveria , se necessá rio, nhece um moderado ideal realista de conhecimento mas os
nã o pertencer a uma ordem , nem a um partido, nem a uma pá tria, acontecimentos do passado jamais poderiam ser reconstitu ídos
nem a uma religião” .533 Foi mérito de Chladenius ter demonstrado em sua totalidade, através de qualquer representa ção. Sobretudo
que exatamente isso é impossível. aquele historiador que queira relatar uma “ Hist ória com senti-
do” n ão pode evitar que ela seja reproduzida através de “ imagens
451 . .
LUKIAN Wit man Gexkkht* sátdben soil Munique, 1965, p. 41, 148 (ver*2o alent ó de H.
Homeyer).
.
> J1 RANKE. Ernieitung Zu den Atwfekten der engltschen Gesehichte In ; S &mtUche We /ke (vol. 511
... < .
CHLADENIUS, BMtltuhg cf nota 262), p. 195 .
.. .
21) 3 AufL , 1879, p 114.
.
51S
.
Ibid., p. 185; t CHLADENIUS, Allómeme Cí s àiuhtswlssensdiaft (cf. nota 277) p. 151.
- < .
FaimamuStrach (1572 1649), duele» pot ZEDLER vol 13), 1735, p. 286 {verbete “ Historie") CHLADENIUS, EitiUUun# .., p. 188 e scg.

192 193
'ÍilP

O cencerro es Hsrô?.* mm
V
r
- . ‘HsrôvX cavo cabano Mcsre MOO &WO
4

rejuvenescidas” .537 Ele ter á de escolher, resumir e se servir de con-


' que n ão se deram conta de que est ã o pedindo algo impossível ” O
-
ceitos gerais mas, com isso, se expõ e de forma inevitável a novas —
historiador como o próprio participante - n ão conseguiría evitar
de trazer consigo seus pontos de vista , que dependem da origem,

ambivalê ncias, que por sua vez necessitam de explicaçõ es. Pois,
“ quando um escritor de História escreve imagens rejuvenescidas, * do status , dos interesses e da posição, de forma que uma Histó ria
ü
sempre visa a algo” - algo que o leitor precisa reconhecer, caso post euentum sempre se transforma.542 E Chladenius deu mais um
queira avaliar a História em quest ão.538 . i - ';) passo adiante ao diferenciar o perspectivismo em rela ção à Hist ória
Desde a História vivida até a História cient í ficamente elabo- wm % . da “ narrativa partid á ria ” , que , contra “ o saber e a consciê ncia” ,
..
rada , “ História” sempre $e concretiza numa perspectiva que possui : ixm- *
“ distorce e obscurece, de forma premeditada” , os acontecimentos .
sentido e que cria sentido, perspectivas nas quais uma remete à M&Sí Uma narrativa apartidar ía també m não pode significar o relato de
outra . Desde Chladenius, os historiadores estavam mais seguros uma coisa sem pomo de vista , porque isso, simplesmente, não é
do que até ent ã o para ver na plausibilidade uma verdade própria, -W. y
possí vel ; e narrar partidariamente n ã o pode significar narrar uma
-
;s :
m

exatamente uma forma hist ó rica de verdade. E como devessem coisa e uma História de acordo com seu ponto de vista , porque ,
ter seu ponto de vista [Sehepunkt ) , tamb é m tiveram a coragem de nesse caso, todas as narrativas seriam partid á rias” .
assumir aberta e conscientemente um “ posicionamento” [SUmdort] . v. Com essa constatação de que a formação de ju ízo perspecti vista
Assim , estava claro para Abbt “ que a História de qualquer povo
na Ásia soa diferente que na Europa” .539 Gatterer escreveu uma
mi j
e o partidarismo n ão são idênticos, Chladenius traçou uma mol-
dura teórica que at é hoje n ã o foi ultrapassada . Pois a exigê ncia da
Ablumdhmg vom Standort und Gesichtspunkt des Geschich( sschreibers S compreensão, o postulado de que també m os outros e o adversá rio
[Tratado sobre o posicionamento e o ponto de vista do historiador), devem ser levados em considera ção, a doutrina que, desde Herder,
um trabalho de compara çã o, no qual Lívio é avaliado à mão de um atribui a cada é poca, a cada povo e a cada indivíduo seu pró prio
possível “ Lívio alemão” , 540 Também Schiõzer, Wegelin , Semler ou v
-
direito essas coisas todas só podem ser cumpridas quando os cri -
KÕster falavam de “ ponto de vista” ou “ posicionamento” . Assim t é rios da forma çã o do ju í zo e da representa çã o n ã o sã o redut íveis
també m Hess, em 1744, escolheu um que lhe possibilitasse uma a uma simples tomada de partido.
S8§ : Num outro sentido, Chladenius ficou retido na antessala do
“ forma de conceber” , “ que considerei a mais apropriada, tanto
como retrospectiva em rela çã o às coisas do passado quanto como
prospectiva em relação às coisas do futuro” .541 Dessa forma, a visã o
w
mt
mundo histórico, cuja hermenêutica fora o primeiro a delinear:
sua crítica e suas metá foras do conhecimento se referiam sobretudo
de Chladenius se transformou num lugar-comum , ao espaço. A História transcorrida como tal representava , para ele,
“ Bngananvse muito aqueles que exigem que um historiador GG um objeto inarred ável, para o qual os homens apenas dirigem seu
se comporte como algu é m sem religião, sem pá tria , sem família é - .
olhar diferenciado Chladenius ainda n ão conseguiu imaginar que
tamb é m o transcurso temporal pode modificar ex post a qualidade
5 )7 ibid , , p . 221 ;‘' Gesdiichti" aqui ainda é plural!
|
|| de uma Hist ória.
O componente temporal do perspectivismo, poré m , vai se im-
,
ff
'

5 1 Í bid „p. 237.


999
ABBT, Thomas . Gesdiidne des niemddidien Geahkdits, soweit seibige ti i Europa bekomit wordtn , ;W , - -
pondo rapidamente, justamente motivado por Chladenius Gatterer .
vom Atifongc der IVelt bis AUFMMSERE ZeiUn . Aus dem grossen Weike der allgemdncn Welthhtorm já ficou em duvida: “ A verdade da História se mantém, no essencial,
lusgezogen . In: Alte Historie (VQ [ , 1 ) , Halle , 1766 , p. 219.
a mesma - ao menos é isso que pressuponho aqui ..., ainda que eu
..71
ÍW
GATTERER, j. C, Abhand lung vom Standort und Gtajduspunkt des Gesc hkhtschrcibers oder
< '

der teiusche Livius. In: GATTERER » Allgemehie Historisdit Bibihihek ( vol . 5), 1768, p. 219.
111 HESS . johannj2 kob . Von dim Riithe Gouts , Bin Vctsudi Uberden PUn dergdt í lichen Anstahen

und Ofíenbarungen (vol . í). Zurique , 1774, p . XXIV. CHLADENIUS , AHgcmcine Gesdmhtsivissensduift , p. 166 , 151 ,
Gm ;
. ;SW \ 3 195
194 $& &
'

:&m* S -
O CONCETO De HI5T6í!A

saiba que n âo se possa pressup ô-lo sempre” .343 B ü sch constatou ,


em 1775: “ Novos acontecimentos podem tornar importante
-.asspí se m '’ H' SrÓf 'A'1 COMO CONCSIO MOP£?Í X>

que agora - como em Lessing - permitia interpretar progressiva-


mente as transformações históricas. Nunca existe uma Historie
uma Hist ória que n ão nos interessava ou nos interessava pou
-
co” e ele se referia à Hist ória do Indust âo, o qual só . teria sido - Mim imutá vel disse Semler, em 1788. A soma transversal de dados,
-
o conte ú do e a elaboraçã o apresentam uma diferença , de tempos
inclu ído uns 20 anos antes no campo das interconexões gerais,
pelos ingleses.544
Que a própria Hist ória [Geschíchte seíbst ) só vem a ser constru ída
em virtude dos seus efeitos interconectados é a próxima dedu ção
que Schlõzer tirou - ainda que de passagem -, em 1784: “ Um
-
MM
MIM:
f :
em tempos. “ Essa diferença é simplesmente inevit ável ... Ela é
uma consequência da mais sublime economia de Deus dentro
do mundo humano ” 547
Desigualdade, mudanças e variaçõ es de todas as circunst â ncias
“ perduram indefinidamente, para uma educa çã o moral dos homens,
fato pode parecer extremamente insignificante para agora , mas, lets que vai mudando constantemente” . Antes de ler seus textos, teria
no decorrer do tempo, pode se tornar extremamente importante sido dada muito pouca aten çã o “ a essa História ... de todos os
para a pr ópria História ou ent ã o para a cr í tica” .545 No horizonte fMs i '
historiadores, que se estende para frente” . E da í que seria possí vel
da Hist ória mundial , concebida como unitá ria, os pressupostos
derivar as etapas do conhecimento crescente, o qual habilita aqueles
podiam retroativamente mudar de posição.
Finalmente, n ão só a distância temporal crescente em rela çã o
H :: I que nasceram depois a desmascarar os interesses partid á rios das
ao passado foi vista como constitutiva para sua mudança . Também
Cv - :: .
gera çõ es anteriores e de seus historiadores E exatamente isso que
MIM Semler tenta fazer com os tr ês primeiros séculos do cristianismo.
se deduziu que com a dist â ncia temporal crescente aumentavam as
possibilidades de conhecimento. Com isso, também a testemunha /
Ml|
vvVfVp?
- Quem pleiteia “ a imutabilidade do sistema eclesi á stico” , na sua
' •
- História , estaria incorrendo em preconceitos e servindo a interesses
sás ?p
V

ocular, que até entã o ocupava uma posição privilegiada - ainda que
hierá rquicos de domina ção. Estaria impedindo o desdobramento

já reiativizada por Chladenius , perdeu sua posiçã o como fonte
principal: a lembrança do passado n ão é mais mantida através da
Ms
:§VS: l moral da religiã o cristã, “ e n ão pode haver ... pecado maior contra
tradição oral ou escrita , ela é, muito antes, reconstru ída através toda a verdade histórica” .548
de um processo cr Desde que se estabeleceu a perspectiva temporal de seu desen-
ítico. "Cada grande acontecimento est á envol- 1ti volvimento, surgiu da verdade histórica-relativa uma verdade supe-
to numa né voa para os contemporâ neos sobre os quais ela age t S; , V
"

de forma direta , né voa que vai se dissipando aos poucos, muitas


::::
rior. Pressuposto dessa posição superior foi a alteridade perspectivas-
MMM
vtur f ta , e - da í decorrente, como em Semler - efetiva do passado, medida
vezes depois de algumas gera çõ es ” . Uma vez decorrido tempo
Mt I pelo presente e pelo futuro. “ Que a História do mundo precisa ser
suficiente, o passado aparece gra ç as à “ cr í tica histórica ” , que sabe
calcular as exigê ncias de verdade do espí rito de partido, “ sob uma
m reescrita de tempos em tempos, sobre isso creio que nao resta mais
forma bem diferente ” .544' d ú vida , nos dias de hoje” - escreveu Goethe, pouco depois. “ Mas
Com a temporaliza çã o da Hist ória , a perspectiva temporal MM tal necessidade n ã o decorre do fato de que tenha sido descoberta

-4c#l muita coisa nova, mas do fato de que aparecem novas concepções,
'

adquiriu status metodológico. També m aqui foi a economia salv í fica


porque o cidad ã o de um tempo que progride é levado a posições a
! partir das quais aquilo que passou é visto e avaliado sob uma nova
50 GATTBRER , Abhandlimg vom Standorl..., p. 7.
13ÜSCH , EnzydópStJU (cf. nota 437 ), p. 118,
s SCHLÕ
‘* .
ZER Vorrede ?.u Mabiy (cf nota 512) , p. 15 (nota).
.. .
PLANCK, GcsthUhtedcrEntitchung (cf nota 281) (vol. 1), p. VH; PLANCK , BinUitutig... (cf
. * ::
50
SEMLER , Johajm Salomo. Nene Vetsuche die KiráenhiUone der
aufzukltiie / u Leipzig, 1787, p. 1 e segs.
erslett .
Jr hrhtwderte mch
. .
noia 465) (vol 2), 1795, p. 243. ut Ibid., p. 101 e scg.

tma

m
19Ó : V ‘: '

197
,

^-
-. .:
• ; *ts t

wm
O COKCfiTO DE H¡$ rÓS-'A m í; COMO CONCEITO MESTFI VOOE&NO

forma” .549 Desde ent ão tamb ém a Hist ória como tal [ Geschichte » partido... Devemos tomar partido pelo bem c pelo divino, ... mas

-

überhaupt ] adquiriu uma qualidade genuinamente temporal. Goethe nunca devemos ser partido” , ou at é “ fazer partido” .552
expressara uma experiência hist órica que crescia vagarosamente e •
tf !4 Naquilo que tange à aporia que se abre entre a busca por ver-
se acumulava desde Chladenius: que a referência a uma posiçã o é dade e seu condicionamento histórico , Schlegel contornou a posição
constitutiva para a experiê ncia histórica , bem como para o conhe ^ de Hegel. Hegel queria , por um lado, levar em considera çã o “ a
cimento histórico. Corn a temporaiização dessa História rompida totalidade de todos os pontos de vista” , ao apresentar sua Histó ria
em fun ção da perspectiva , se tornou necessá rio refletir também m :j . filosófica do mundo.553 Por outro lado, exigiu a irrestrita tomada
sobre o próprio posicionamento, já que ele se modifica dentro e V de partido a favor da raz ã o, a favor do Direito. Somente ela poderia
com o movimento da História . Essa experiê ncia foi confirmada 11ft ' querer reconhecer a verdadeira Hist ória, “ ela toma partido pelo
essencial.554 [...]. Uma sabedoria antiga diz que se deve proceder
com os acontecimentos que se desenrolaram na Revolu çã o Francesa: •
: •:
• •
!r
foram eles que forçaram concretamente a se tomar partido. E por • . .V
• •' ' '• de forma histórica” . A exigência de apartidarismo só teria senti-
isso que Friedrich Schlegel exige uma reflex ã o aberta a respeito do do enquanto se tentasse proteger aquilo que se encontrou contra
próprio posicionamento. Ele pedia que o historiador apresentasse, Ü; ju ízos unilaterais. Mas ampliar o apartidarismo a tal ponto que o
“ de coração aberto” , “ suas opiniões e seus ju ízos , sem os quais não Mft \ historiador seja relegado ao simples papel de “ espectador” - que
se consegue escrever nenhuma Hist ória , ao menos uma História
expositiva” , bem como apresentasse seus princípios básicos a respeito
: —
relataria tudo, sem qualquer objetivo significaria transformar o
pr ó prio apartidarismo em algo sem sentido: “ Sem ju ízo, a Hist ória
do Direito e da fé. “ Não se deve acusá-lo de partidarismo, ainda perde seu interesse ” .

que sejamos de opiniã o diferente ” acrescentou, no mesmo sen-
tido de Chladenius.550 Enquanto os partidos do passado perduram
is? i Com a tomada de partido a favor da razã o - que, per defini
lionem, na verdade, não permite outro partido Hegel continuou
-
para dentro do presente, até um “ tratamento duplo” da Hist ória '; r .V-
aplicando o formato lingu ístico da Revolu ção Francesa à Histó-
seria “ inevitá vel e necessá rio ” . Constituiria ilusão evidente quando ria. Desde ent ã o, se mantém como dilema de toda representa ção
se tentaria encontrar “ a verdade hist órica ú nica e exclusivamente .*
histórica o dever de contornar a tomada de partido, sabendo, ao
entre os assim chamados escritores apartídanos ou neutros” 551 A . li l : mesmo tempo, que a refer ê ncia a ela constitui mandamento prévio
quest ã o que ficava em aberto era qual seria “ o partido correto” , de qualquer conhecimento histórico. Assim Gervinus - como pro-
cuja posiçã o se deveria assumir. A press ã o pol í tica por uma decisão
desembocou na busca por um ju ízo adequado. Schlegel tentou en
: pagador de uma polí tica liberai -, defendeu o postulado tradicional
de ser “ imparcial e apartidado” . “ Conciliar contradiçõ es parece ser
- )
contrar a resposta pelo caminho histórico-filosófico, procurando o destino do historiador ” . Fé, autoridade ou pá tria n ã o deveriam
se elevar “ à grande posiçã o da História ” , que indica a direçã o de confundir seus sentidos: “ e, mesmo assim, ele deve ser um parti-
longo prazo das inovações duradouras. Ou , como formulou mais
1VV1
d á rio do destino, um defensor natural do progresso” . Representar
- i» ij
. . •?
tarde em Signatur des Zeitalters [Selo da época] de forma mais a causa da liberdade é inevitá vel ,555
contida: deve-se apenas “ n ão permitir que o partido valha pelo mi
.
GOETHE. Materialicn 2 itr Ceschichte der Farbelehrc. In: Hamlurgtr Amgabi (vo! 14), 1960,
*t - 5J* SCHLEGEL, Obetdieneuere Geschtcluc, p. 129; SCHLEGEL, F. DieSignuut <ies Zeicakers
.
(1820/ 23). !o: ibld , p. 519 e seg.
p. 93.
•:

” . ...
s HEGEL Die Vcnnwft (cf. nou 236), p. 32.
...
.
w SCHLEGEL, F lí ber die ncuetc Geschichte, Volesungen 1810/ 11. In: SUmtUchc Wttke (1. ij4
.
HEGEL, Ehitcilung... (cf. nou 404) p. 283; cf. HEGEL, Enzyklcpñdie (cf. nota 382), § 549,
.
Abt , vol 7), 1966, 129.
:
*: ft p. 427 e segs.
J5
’ .
SCHLEGEL, F. Ü ber Fox und dessen historischcn NachUss (1810). In: ibid , , p 115 e seg. m
_ ü SiS GERVINUS, Georg Gottfried. Gtuiuizjigc dtrHhiorik .Leipzig , 1837, p. 92 esegs.

m
-
'
v:

Kit :
:

198
.

ft? ft - - 199
O CONOf íO Cí HJ$T<S»ÍA l«P *HISTóJUA COMO CONCCTO MOCITO

Contra essa identificaçã o do posicionamento com urna tomada depende muito mais da posiçã o, e no anterior dependia muito mais
de posição polí tica, R á nke defendeu uma posiçã o que ficava num ; do conhecimento histórico” .557

-
outro extremo, a aparente - abstraçã o temporal da ciê ncia his- Stein aceitara o condicionamento histórico da respectiva po-
tórica: “ Gervinus (diz ele no necrológio556) repete muitas vezes a siçã o como pressuposto do conhecimento histórico. Pois se os
.-í&fif
intenção de que a ciê ncia deve intervir na vida . É verdade. Mas, para pr óprios ritmos de tempo da Historiase modificam, h á necessidade
ter efeito, ela deve ser, em primeiro lugar, ciê ncia ; pois é impossível de perspectivas que lhes sejam adequadas. Por isso, Stein procurou
que se assuma uma posiçã o na vida , e transferir essa posição para a conhecer as leis do movimento da História , isto é, da Era Moder-
ciê ncia - nesse caso a vida age sobre a ciência , e n ã o a ciência sobre i na, para poder derivar delas um futuro, que ele queria , ao mesmo
a vida... Só podemos exercer um verdadeiro efeito sobre o presen- ;?ÍP * tempo, influenciar, através do esclarecimento de sua posição. O
te , se, antes disso , abstraí mos dele, e nos colocamos numa posição ; diagn óstico consegue arriscar melhor um prognóstico, quando se
V í feí fe
elevada de uma ciência livre e objetiva” Ranke buscava , em ú ltima certifica de seus condicionamentos e de seus Jimites histó ricos. En -
-
instâ ncia , desvencilhar se do condicionamento hist órico de seus v
quanto a História de antigamente estava preparada para todo tipo de
ju í zos históricos, ao refutar, categoricamente, qualquer “ inten ção
que enxerga tudo aquilo que passou sob o ponto de vista do dia de
«I j
surpresas, já que suas Histórias n ão sofriam nenhuma modifica çã o
fundamental, a Era Moderna parece despreparada para surpresas,
hoje, sobretudo, porque esse muda constantemente” . Para Ranke , III
-
porque o futuro n ão pode mais ser derivado de forma não mediada da
o condicionamento hist órico se manteve como uma restriçã o ao
conhecimento hist órico.
mt tm ii
experiência do passado. Nas palavras de Feuerbach (1830) , “ Hist ória
só possui aquilo que é o princípio de suas transformações” 553 Com
E caracter ístico nao só da tomada de posição que foi assumida isso, o perspectivisrao hist órico se transformou, por completo, de uma
nessa contrové rsia, mas també m, e talvez a í nda mais, a ambivalên- “ categoria de conhecimento” em uma determinação fundamental
cia da “ própria História” [Geschichte selber] , que ela pr ópria fornece de toda a experiência e de todas as expectativas, que tem sua origem
-
H>»
v ívi fe:; -; i
todas as restrições que podem ser levantadas contra ela. Isso faz na própria História. A diferen ça temporal entre passado e futuro
parte da conceitualidade de um conceito mestre, que, dependendo . •: i conquistou sua qualidade própria , uma qualidade histórica, que só
* ;
'

ékf -
da posiçã o e do partido, p ôde ser preenchido de forma diferente. pode ser avaliada através de abordagens que guardam a consci ê ncia ,
?
Que a perspectiva temporal se referia a um movimento que de sua relatividade, de sua “ temporalidade” . Por isso , um contem-
sofria modificaçõ es constantes e , no final , se acelerava , isso já fora
If ®|- .
porâ neo procurou “ sua salva ção .. unicamente ... na compreensã o
formulado, de forma muito clara, por Lorenz Stein, em 1843. - i e na utiliza ção de nosso próprio tempo, que é instrutivo, porque
H á 50 anos, a vida estaria se acelerando. “ Tem-se a sensa çã o de n ão mais recebe, como o tempo passado, uma História feita , para
que a historiografia n ão consegue mais acompanhar a Hist ória .
H
v:
transmiti-la , sem modificações , aos descendentes” 559 .
I :

E mesmo assim , numa aná lise mais precisa , se verifica que é jus- .

i: ; Um tempo que sempre é esperado como tempo novo nem
tamente o contrá rio que acontece. Da mesma forma como todas flp
É l-
pode ser diferente que fazer emanar de si uma História que só pode
= g f®
aquelas diferentes forma ções surgiram , de repente , elas podem ser
abarcadas numa ú nica visualização. E a mais importante diferença
desse período em rela ção ao anterior , é que nele o ju ízo correto
«lili 557 .
STEIN , Loren ? Die MunUipâ lverfassung Fmnkra’chí. Leipzig, 1843, p 68.
.
FEUERBACH, Ludwig. Todesgedanken (1830). BOL Í N, Wi í hdm; ejODL, Friedrich (Eds.).
. . .
Sü iMlkhe Werke (vol. 1). 2. Aofl , I 960, p. 48; ef BLUMENBERG Ham. Die U&itlmhM der

SJ 4
.
Niualt Frankfurt, 1966, p. 74.
557 PERTHES, Clemens Theodor. Fritdrleh Perthes* Lebai (vol. 3). 6* ed .t Gotha , 1872 , p. 360 (da
RANKE. Georg Gottfried Gecviruts: “ Ged âduniscede" {no dia 27 de setembro de 1871).
í sdie ZdUtfnlft» n. 27, 1872, p. 142 e seg. iSPí i;
Hiftor
nn carta de urn amigo a Perthes).

200 Vv -f fe 201
.
O CONCITO c* HiSTÓSW coMOCONCaroMKTí* MCGZJMO

.
ser experimentada de forma perspectivista Com cada novo futuro, significado incomensurá vel desses anos , quando se reconhecer que
surgem novos passados. “ Nao se pode nem prever o que uní d ía • • -T •
.
todo o nosso continente se encontra num per íodo de transição,
ainda será Historia . O passado talvez continue fundamentalmente no qual as contradições de um meio século em desaparecimento
n ã o descoberto! Ainda necessitamos de tantas forças retroativas!” v ©s. se chocam com outro meio sé culo que est á vindo” .562 A troca de
(Nietzsche).560 correspondência de Perthes representa uma caixa de ressonâ ncia da
opinião p ú blica da época , e, assim, vá rias passagens de suas cartas
3. A irrupção do distanciamento remetem àquela experiê ncia de acelera ção que fora apontada como
v:
entre experiência e expectativa '

W
"

- i específica para o novo tempo que iniciava. “ Quanto mais a História


compacta os fatos que se sucedem, tanto mais intensa e geral será a
A História - escreveu Novalis, em 1799 se compõ e de coisas- :mm > disputa” . Períodos anteriores conheceram mudanças de rumo que
do passado e de coisas do futuro, de esperança e de lembrança.561
Essa equa ção clara se transformou num problema . O perspectivis-
, se estenderam por séculos: “ nosso tempo, poré m, reuniu aquilo
que era totalmente irreconciliável dentro das atuais três geraçõ es,
mo temporal derivou de uma História que parecia se afastar, com convivendo simultaneamente. As enormes contradiçõ es dos anos
velocidade crescente, de seus dados prévios. A experiência de uma *
l:í ::
1750, 1789 e 1815 dispensam a transiçã o, e nao aparecem como
ruptura que estaria separando, de forma violenta , as dimensõ es do algo em linha de sucessão, mas como algo simultâ neo dentro dos
passado e do futuro, a consciência de um período de transição est á
amplamente registrado, desde a grande revolu ção. Desde ent ão, —
homens que vivem nesse momento dependendo se são avós, pais
ou netos” . Com esse diagnóstico da contemporaneidade do n ão
tamb ém vão se afastando os enfoques em dire ção a um futuro a m
m contemporâ neo, Perthes estabeleceu um parâ metro para a “ incr ível
ser criado, por um lado, e um passado que vai se perdendo cada velocidade” da mudança 56* .
vez mais, que só pode ser reconquistado historicamente, por ou - *

A experiência existencial de um passado que ia se afastando


tro lado, - ainda que inicialmente ambos ainda sejam cobertos
'
üW cada vez mais rá pido desencadeou , em sentido inverso ~ e, por
pelo conceito de História . No decorrer do século XIX , vai se
desenvolvendo certa distinção que atribui a dimensão de futuro '
'

assim dizer, de forma compensatória , em todo lugar, “ prazer e
simpatia para a História. Em todos os cantos - escreveu Perthes,
Xvi
mais ao “ progresso” , e a dimensão do passado mais à “ História” , por ocasi ão de sua divulga ção da Monumenta Gennaniae histórica

Vvx
ainda que esse par de conceitos, de forma alguma , fosse utilizado os livros de ocasião, os jornais de província , o$ programas escola-
exclusivamente de maneira antitética. Na História pensada como ;;X res surgidos fora do mercado da grande literatura voltam-se para a
“ Ettlwicklun t como “ evolução” ou como “ desenvolvimento” ,
ambas se juntaram.^ História, em geral para a História local, e d ão conta do primeiro
amor com que é encarado o tempo que se localiza antes de nós” .564
A consciê ncia de estar no limiar de uma guinada estava ampla-
Foi numa situaçã o de mercado aparentemente tão favorável
mente difundida, em torno do ano de 1800. “ Quaisquer compara-
que Perthes tentou lançar sua EtmpHischc Staatsgcschichte [Hist ória
ções de nosso tempo com as guinadas na Hist ória de determinados
dos Estados europeus]. Mas enfrentou dificuldades, que justamente
povos e de determinados séculos sã o muito mesquinhas” - escreveu
derivavam da nova experiência histórica da aceleração, Ela fez com
Perthes, depois da queda de Napoleã o; “ só se poderá aquilatar o

m PERTHES, Ltbcn (vol 2) , p. 240 e scg.


. .
NIETZSCHE, Die fcõ hltche Wissemchaft (3882/66), Nr M In: IVerkc (voí. 2), 1955, p. 62 , Ibid., p. 146 é seg.
5M
. . .
NOVAL ÍS. Heinrich voti O íterdingcn , 1, 5 in : GtsamtntUt V/ttki (vol 1), I 960, p. 258 .
** Ibid (vol 3), p. 22 ,

202 203
O cONCeno Oí Hmta*
W ÜP
"BSKW COMO CONaifO «£$TR£ MOOí RNO
f.

que os historiadores profissionais hesitassem em escrever sobre História as expectativas do futuro que iam surgindo e ganhando espa ço.
-
moderna, em especial sobre uma que como se costumava fazer rw;m %
- chegava até a “ História contemporâ nea”. :
las 2 Logo pareceu a amarga afirma ção de Dahlmann sobre “ uma Historie
muito elegante para se estender até o dia de hoje” . 566
As três dimensõ es do tempo pareciam se desagregar. O pre- 4SS!
sente seria muito veloz e provisório. “ Falta-nos um ponto fixo, a
Nas palavras da enciclopédia Brockhaus der Gegenwart [Bro -
ckhaus do Presente], a Revolu ção Francesa tra çara um “ limite
partir do qual os fen ômenos pudessem ser encarados , avaliados e sangrento entre passado e futuro” ,567 que rompeu de forma pars-
permitissem conduzir at é nós” - escreveu Rist [a Perthes]. Se estaria
vivendo “ em tempos de uma decad ê ncia , que apenas começou ” . ®!ii pectivista o conceito de História , e lhe deu um rosto de jano, de-
pendendo da direção em que era apontado. Immermann , envolvido
E Poel confirmou: “ Em todas as inst â ncias da vida - na civil, na
política , na religiosa e na financeira a situa çã o nao é provisória ?
«1 í na discuss ão atual sobre literatura hist órica , distinguiu , na é poca ,
três est á gios de um acontecimento histó rico: a primeira fase de
Mas o objetivo da História n ã o é o vir a ser, mas sim aquilo quejá
é ” Seria cada vez mais dif ícil reconhecer isso, porque o futuro se

. «Si í seu surgimento como “ m ítica ” , a segunda , do acontecimento em
si, ele chamou de “ histórica ” , e, finalmente, a terceira , de histo-
modificaria de forma cada vez mais rá pida. “ Onde est á o homem í riográ fica. “ A í a História propriamente dita acaba , e sc entra na
que consegue enxergar os enormes processos de mudan ça , ainda
^; s; pesquisa histórica ” .568
'
, sy
que apenas na penumbra ? O processo de mudança” seria muito
A descontinuidade se transforma em critério primeiro e de-
profundo, para que se pudesse escrever agora já uma História do i
cisivo da experiê ncia moderna de Histó ria , na medida em que
passado. Mesmo os legitimistas, que estariam se opondo à “ marcha
1
' esteve marcada pela grande revolu çã o, Macaulay mostrou isso
do tempo” , n ã o estariam se apoiando “ no passado” . O historiador .
numa comparação entre a França e a Inglaterra. Na Inglaterra,
distanciado estaria proibido de escrever uma História do presente , .• v.f
V ‘ a Historie continuaria envenenada pelo “ espí rito partid á rio” , pois
pois ela , no m á ximo, ajudaria a desencadear o partidarismo. O
resultado de todas essas conjectura ções foi que “ de uma História onde a “ História [é vista] como um repertório de documentos” ,
1 .
escrita agora não $e pode esperar nada de duradouro, nenhuma
verdadeira História” . A “ Hist ória” dos historiadores - ao contrá rio
da linguagem de nosso editor - foi, portanto, associada à dura
bilidade. Em outras palavras, a acelera çã o da História atrapalhava
-
*
f

®y
t -J
continuariam “ a valer os acontecimentos da Idade Mé dia” O pas-
sado continuava presente, na medida em que tinha efeito jurídico.
A situa ção seria diferente na Fran ç a , onde a Histó ria poderia ser
tratada de forma distanciada: “ O abismo de uma grande revolu çã o
separa por completo o sistema novo do antigo” .560
os historiadores na sua profissã o. Na verdade, poré m, ela alterou
a direçã o de seu trabalho - eles se atiraram a uma pesquisa que
mi “ Através da revolução, os franceses se libertaram de sua Histó-
. ? ria ” - como o expressou Rosenkranz, numa referê ncia à História
deveria reconstruir um passado que estava se perdendo. Coisa que s
do passado.570 Inversamente , Sohm pô de acusar , em 1880 , a Escola
também foi admitida por nossas testemunhas de 1822: “ que os . V» í
acontecimentos de nosso tempo despeitaram em alguns indivíduos
a necessidade de uma profunda pesquisa histórica” .565 A fundaçã o
m
S
i íí4 . .
DAHLMANN , Friedrich Christov PU Pclitik 3. Aufl., Leipzig , 184?, p. 291.
.
SCHULZ, vetbete “ Zeitgeist" (cf nota 383), p. 464.
da “ História ” como pesquisa rigidamente metodológica do passa-
do - como Hegel já a ironizara - se d á exatamente nesses anos em ;
| E8
ví® í -
Si1

.
IMMERMANN, Karl Memorabilia) (1839). In: MAYNC, Harry (Bd.). Wake (voi . 5).
.
Leipzig / Viena (1906}, p. 230 e seg.
que as experiências tradicionais tinham cada vez menos a ver com WB ,w MACAULAY, Thomas Babington. Die Geschiehte Engfands sett dan RegierungidtttfifteJacobs 11
ip I .
(voi. 1). Leipzig , 1949, p. 22 eseg. (tradu çã o pars o alemlo dc Friedrich B ü lau)

lbi( Í.t p. 24 esegs .


579
. .
ROSBNKRANZ Karl Am einem Tagcbuth , Kimigsberg Herbsc 1833 bis Pr ü hjahr 1846.
\ wm ?I .
Leipzig, 1854, p, 199 (a notí cia data de 1834)

204 205
imm .
O GONCEflO Df HstÓSÍA
mm "HlSÍÔÍtA1* <CMO CCXNCtíTO /¿ «TO MCOcFNO


Histó rica alem ã de naquilo que tange à “ Historia” atual ~ “ ter
ajudado a promover a ruptura com a História ” 571 . '

;
n ão ser através da ruptura mais incisiva com ele ” escreveu Ruge,
em 1843, a Marx, o qual, por ém, ~ mais próximo a Hegel - se

Dessa forma , o conceito de História varia correspondente- : v .
referiu ao movimento interno da Historia: “ Ficar á claro que não
mente à experiência de ruptura que o determina. Por um lado,
podia não apenas se referir à durabilidade do passado em processo
de desaparecimento, mas também requerer a preocupação per-
manente com o futuro, indicando o rumo a ser seguido. Schlegel
:
-s : -

-
v
se trata de um grande traço de uniao entre passado e futuro, mas
da concretização das ideias do passado” .577
Marx, que localizava a Alemanha “ abaixo do n ível da
Hist ória” 578, e que pretendia recuperar esse atraso, de forma acele-
- ;iÍ!p
&
'
-

anotou em 1799 que “ o desejo revolucioná rio de realizar o rei : rada, através da concretiza ção de sua Filosofia , esse próprio Marx
no de Deus constitui o ponto elástico da forma çã o progressiva e deslocou a ruptura entre passado e futuro para 0 futuro: quando se
'
O in ício da História moderna” .572 Isso caracteriza a expectativa , atingissem as condições de ausê ncia de dominação no comunismo,
ms
-

quando não a linguagem dos revolucion á rios - na Alemanha , entã o toda a História pregressa se transformaria em Pré-Hist ória .
mais tarde, os hegelianos, em especial os de esquerda entre eles. “ Com essa forma çã o social termina, portanto, a Pré- Hist ó ria da
“ A História quer desenvolvimento, nova organização, progresso e IISM sociedade humana” .579 A História efetiva é degradada à preparação
mudan ças” - como destacou Bruno Bauer 575 A orientação para o . Silii i de um futuro cuja expectativa é reproduzida, de forma permanente,
futuro - num distanciamento em relação a um Hegel entendido --^
: v v - Ví V
e se mantém reprodut ível. Marx e Engels imaginavam - na Ideo -
como quietista ~ podia ser levada a tal ponto que a Hist ória como -
logia alemã “ empiricamente fundamentado, que com a revolução
tal [Geschichte iiberhaupt ] só podia ser entendida como Hist ó ria do ...
comunista a liberta ção de cada indivíduo se imporia na mesma
futuro. Feuerbach, em um escrito a Hegel, de 1828, esperava por medida em que a História se transforma, de maneira plena , em
"uma nova História, uma segunda criação” , e pelo fim "da História •
• História mundial ” [ Weltgeschichte] .m “ O comunismo constitui o
enigma desvendado da História e se enxerga como essa solução” 581
-

at é agora” .574 "Por isso , a constatação da possibilidade de conhe
cimento do futuro constitui uma quest ão prévia necessá ria para o ñfé - a expectativa engoliu , por completo, a experiência.
-
organismo da História ” deduziu Cienszkowski, em 1838.575 O Assim, o conceito de História teve de servir para cobrir todas
atraso das experiências feitas até ent ão, medidas pelo futuro que se íssíi: as extensõ es temporais - desde a expectativa de futuro, sem base na
esperava, caracterizavam o horizonte das expectativas utópicas que s experiê ncia, at é a pesquisa sobre o passado, destitu ída de qualquer
estavam sendo exploradas. Assim , Bruno Bauer pretendeu “ preparar 1« ; —
expectativa. O terceiro componente aqui nao abordado , que
tentou mediar ambas as coisas através do conceito de “ evolu ção” 582,

de uma vez por todas o novo caminho para a História” .576 “ Nós
foi o mais utilizado na linguagem cotidiana do s éculo XIX. O
não podemos dar continuidade a nosso passado de outra forma a . ••
-
.‘irh S

SOHM, Rudolf. Pranktsches und rdmischcs Rccht . Zeitschr


4 TI
í fijiir RedusgeuhUhu (germanistische & - .
Carta de Arnold Ruge a Marx, do agosto de 1843. Dett í síh FranzõJisiheJthtbikher Paris, 1844
. .
Abt. 1), 1880 p. 80; cf B Ò CKENFÕ RDE, Ernst-Wolfgang. Die Historísche Rechtsschule
(reimpresso em Amsterdam , 1965, p. 36); Carca de Marx a Ruge de setembro de 1843 Ibid ,, .
.
und das Problem der GeAchichtllchke í t des Rectus, In; Collegium Phitosophicum Festschrift fur
.
p. 39, e In: MBW (vol. 1) 1957, p 346.
Joachim Ritter. Basileia /Stuttgart, 1965, p. 24 . m S7 J .
MARX Zur Kritik der Hcgeischcn Rechtsplnlòiopbic. In: MBW (vol. 1), p. 380 .
iW
SCHLEGEL, Athenaums-Fragment Nr. 222. In; S dmlUehe Werke (vol. 2), p. 201.
-
'

.
BAUER , Bruno. Die Judert Frage. DeutsfhcJahrbuehu, n 274 , 1842, p. 1094
. .
.
HOFFMB1STBR Johannes (cd.). Brleft von und m Hegel (vol 5) Hamburgo, 1954, p. 246 c seg.
m •’. XU
SSI
.
577 MARX ZurKridk
der politfschen Òkonomic ( Vonvort), 1859. In: MEW (vol, 13), 1961, p. 9.
MARX ; e ENGELS. Deutsche ideologic. í n: MBW (vol 3), p 37
-
.
.
. .
MARX. Òkonomisch philosophBehe Manuskripte (1844) In: MEW (volume complementar
in
. . . ..:vV .1) 1969, p. 536.
CIHSZKOWSKI, August Graf Prolegomena * ur HinorUsophie Berlim, 1838, p, 9. M
.
Cf o verbete » Btuwkkhm/ ' [evolu çã o/descnvolvimemo] [em Cadiichtliche Cfundbegtlffi.
M . .
BAUER , Bruno Die gate Saehe derFnituit und meint agent AngeUgenhcit Zurique/ Wtnterthur,
.
1842, p. 209. Sobre tudo isso, cf. STUKE, Horst Philosophic der Tat. Stuttgart, 1963 . 1IS
Historisches Lexí kon zur polimch -sozialen Sprache m Deutschland, no qual est $ també m o
. .
presente texto ( N T,)]

20Ó M 207
M
O OKEfTO D Ê HsrÔíiA
:mm
:
'

"hHrfrJA* COMO COtKEtTO MESlfE MOMftNO

apelo a “ uma História” descoberta produziu tantos ecos quantos


mi racionais” - essa foi a definiçã o dada em 1852 pot Felix Dahn, ao *

’’
eram os “ posicionamentos” . De qualquer maneira , a diferenç a ; Vi se referir a seu professor Prantl .587
entre experiência e expectativa induziu a uma tensã o temporal MSI Somente no século XX, o significado negativo criado por
permanente da qual parecia emanar “ História ” em sua unicidade. óSl»: I Feuerbach se difundiu , querendo se referir à ru í na de um passado
Característico dessa situação também é o emprego ambiva-
lente da expressão “ Historicismo” , na época em que surgiu , A
I já mor to . Em contrapartida, Troeltsch, Meinecke ou Rothacker
destacavam a insuperável experiência da relatividade histórica e de
palavra "Historísm” - pela primeira vez documentada em Novalis, sua elabora çã o cient ífica . Assim , a História moderna trouxe à tona
e a!i associada , de forma imprecisa, com “ sistema confusional ” - cerca de 100 anos depois de seu surgimento - um conceito que
[ConfusioHsSystem] e “ misticismo ” [ Mysltzism] 3 - só ingressa na envolvia movimento e reflexão, como ela pró pria , o qual hoje está
linguagem cient ífica quando da revolu ção de 1848. novamente sob forte cr ítica ideológica * Evidentemente, faz parte
18
'

Feuerbach designa com “ Historicismo” , nos anos 1840, “ uma . do conceito moderno de História a ideia de que ele desde o inicio
consciência deformada por uma falsa rela çã o com a História ” ,584 e era passível de se tornar ideológico e, por isso, também ser questio-
pôde chamar o historiador Heinrich Leo “ a inveja personificada do m
vmM *
nado a partir de uma cr ítica da ideologia. Essa ambivalência que
estava contida nos diferentes significados apresentados - o conceito

Historicismo contra as gotas sadias de sangue do presente” .585 En-
quanto Feuerbach, em funçã o da expressão negativa “ Historicismo” ,
já separa a História de sua referência à vida e à verdade, Braniss,
.1881:
IBIS
compartilha com os demais conceitos mestres da modernidade.
:
na mesma época , ainda pôde designar, com a mesma palavra , uma 4. "Hist
ória" enfre ideologia e crítica da ideologia
Filosofia da História voltada para o futuro. Essa ciência abrangente
- ao contrá rio do “ naturismo” - fundamentaria “ o grande tempo
mmi

"A História é invocada como á rbitro, mas apenas aparen-
da História mundial ” [Wellgcschichte] , que já começou , e “ que est á ,
temente , pois, na verdade cada um só utiliza os fatos históricos
se autorrealizando” 585 . :: Vmi como meio para fundamentar e justificar , de forma sof ística , sua já
Também a terceira posiçã o, que dava destaque ao contexto do iun 8 existente opini ã o inabalá vel ” - essa observa çã o foi feita pelo conde
desenvolvimento geral, pô de ser designada de “ Historicismo” : “ o Cajus Reventlow em 1820, quando descreveu o então desencadeado
verdadeiro Historicismo” estaria fundamentado nas doutrinas de debate sobre a nobreza .588 Acontece que a utilização de argumentos
Lessing e de Kant, e entenderia “ a História do mundo [Weltgeschi- i históricos faz parte desde sempre da ret órica para reforç ar posi-
ch( e] , no sentido mais amplo, como um todo, como o desenvolvi-
mento necessá rio de um processo, unit á rio e em acordo com leis lili ídicas ou sociais, teológicas, morais ou pol í ticas. Mas tais
ções jur
argumentos adquiriram maior peso quando a História conseguiu
-
ri vLv. 8
su NOVALIS. Das â Ugemeine BtouUon , Nr. 927. In: Geiommelte Werke ( vol. 3), p. 446.
SCHOLTZ, Gunter. " HisforisvniV ah spekuhtivc Ges( h{ d¡tiph¡losophi £\. Cbristlieb Julius Braniss
: HA - DAHN, Felix. F ü r freie Forschung gegen Dogmenzwang in den Wissemchaften In: .
Philosophise Studitn. Bedim, 1883, p. 95 e segs. Citado por SCHOLTZ, " Historismus” , p.
1792-1873. Frankfurt, 1973, p. 130. AH se encontra a at é agora mais completa Hist ória do 132 e $egs.
conceito de ‘'Historicismo” que també m é utilizada naquilo que segue. * Ao falar cm "cr í tica ideol ó gica” ( Idwlogiefiritik ),Koselleck emprega um conceito coro à Escola de
5 S5
FEUERBACH, Ü ber das Wonder (1839). In: SdmtlUht Wtike ( voi . 7 ) 2. À ufl . (ef. aou 558), y.
.
Frankfurt , entlo no auge de sua influ ê ncia Pouco antes de aparecer o primeiro volume do L é xico
V-
i 960, p . 44.
i de Conceitos Hist óricos Fundamentais, viera a p ú blico o debate « ntrej ü rgert Habermas e Hans -
in
BRANISS, Christlieb Julius. D( e wbtensdiafllUhe Aufabt du Gegcnunrl aU UUtndc Jdu im .
Georg Gadamer Cf, HABERMASJ ü rgen. "A pretensã o à universalidade da hermen é utica ” .
mii
<\ MtHtlschtn Siudium* Brestau , 1848, p. 106 e segs. A respeito, cf. SCHOLZ, “ Historismus"
p. 125 e $cg $, SCHOLZ. Verbete “ Historismus” . In: Hisfoihthes ÍVStuibuth der Philoscphit ( vol.
3). 1974, p. U 4 t e segs.
. m *
In: VVAA, Htmuntuttk mid Ideotcgitkrit í k . Frankfurt am Main , 1971, p. 120 159. A RepUk <ie
-
Gadamer aparece no mesmo volume, p. 283 317 (nota de Sé rgio da Mata ] ,
-

III Citado por PERTHES, Ubm (voL 2), (cf. nota 559), p. 192 .
i
208 :i2 209
O coseno os HJ$Tó?.»A " H .SI òí IA' cot / o CONCCTO MESIP.ê

galgar a posiçã o de um tipo de ultima instâ ncia para fundamentar Mas como se poderia evitar a arbitrariedade a n ã o ser revelando
algo. Simultaneamente, esses argumentos perderam seu cará ter m
mai:- as premissas teóricas? Nao fazê-lo, invocando “ a História” - foi a
inequ ívoco, porque de imediato resvalaram para as linhas de fuga
perspectivistas, que caracteriza ram o conceito moderno de História .
m :-
$tgi
7 '7 >
-
;
-
acusa çã o cr í tico ideológica que Karl Heinrich Hermes formulou ,
em 1837, contra a Escola Hist órica. “ Existem poucas expressõ es na
Comprovações históricas incorreram em ambiguidades, desde que nossa lí ngua com que se pratica um abuso tão criminoso quanto a
“ História” se transformou num conceito reflexivo. Elas podiam ser : palavra ‘hist órico*. Hist ó ria , como se sabe, chama-se tudo aquilo
utilizadas para criticar ideologias, mas podiam , na mesma medida ,
sucumbir à ideologia .

7?1
?•

À

que acontece e vai acontecer” a dimensão do passado é cuida-
dosamente exclu ída por Hermes. Mas n ão é a í que reside o cerne
G õrres registrou com pesar esse processo irreversível. Até en- de sua posi çã o, ele destaca o mais alto grau de generalidade que
tão, a História teria sido mestra da vida, quando ainda “ se acreditava
corajosamente na existê ncia de uma grande, indestrutível verdade
- caracterizaria o conceito de Hist
.
ória, de forma que ele, a rigor, nao
permite excluir nada “ Da mesma forma que, ao final, n ão existe
objetiva... O novo tempo perdeu essa fé por completo, a regra de
toda a verdade foi implantada na razão subjetiva; e tudo aquilo que
;
Í PI :
nada que ficasse fora da Hist ória , também n ão existe nada que n ão
fosse histó rico em um ou outro sentido” .
era historicamente objetivo, um produto de preconceitos, de erros,
de parcialidade acumulados em sé culos obscuros, precisa primeiro
se justificar frente a esse guarda” .
»
:
:
Constituiria arbítrio total quando os representantes da Escola
Hist ó rica acreditam “ n ã o necessitar de mais nenhuma prova , t ã o
logo denominam de hist órico qualquer coisa que aparece na sua
Os esforços até aqui relatados do Iluminismo e da Filosofia .
frente” Da mesma forma , se poderia dizer “ a-histórico” , pois,
da História de reconhecer a “ pró pria História” [Geschichte selbcr] naquilo que tange ao uso vocabular, se trataria exclusivamente
em seu cará ter processual são reduzidos por G õrres a seu princípio de opiniõ es preconcebidas. Seria totalmente incompreensí vel
subjetivista . Depois da natureza autoconstruida , do Estado autofa- m¿¡ por que “ tudo aquilo que é hist órico” seria apenas “ aquilo que
briçado, da igreja automontada e da tanibém automontada imagem
de Deus, “ ainda se precisou fornecer uma autocriada Hist ória ,
üI tem durabilidade eterna” . Por que a evolu ção seria mais histórica
que a revolu çã o, o surgimento mais que o desaparecimento? Por
para complementar o aparelho. E se puseram rapidamente mã os à
obra - em vez da História achada, foi introduzida a História in-
ventada” . E se trataria de uma “ Hist ória que anda para trás” , que ,
mi —
que se poderia afirmar com Steflens - “ que tudo aquilo que a
Hist ória quer conosco aconteceria de forma inconsciente ” ? A í só
valeria como hist órico aquilo de que n ã o sabemos como e por
a partir de um ponto de observação atual, seria ensinada de forma
um tanto forçada.589 Hf
-- !
i - ::.:"
rV '
que acontece. 590
A cr í tica de Hermes se voltava, portanto, de forma especial ,
Gõrres, portanto, dera um passo adiante na sua cr í tica. Nao sã o .
* •

í contra a utiliza çã o unilateralmente referida ao passado e centrada


tanto as mentiras decorrentes do contexto que ele questiona - ele vê,
muito mais, no princípio transcendental de trabalhar com a História

7
# 1
:üt í
na dura ção do conceito de História ~ é nisso que ele enxergava uma
mentira interna da Escola Histó rica . Alé m disso, Hermes apontou
unicamente a partir de teorias de Hist órias possíveis uma inevit ável para aquele resultado sem â ntico que estava dispon ível a qualquer
interpreta ção errada. Tal historiografia nem poderia agir diferente do pessoa . A “ Hist ória” , a “ coisa histórica” [das Geschichtliche ) eram
que “ distorcer os fatos” , de acordo com as opiniões preconcebidas.
.;
r
:
7; í i ’
. .
HERMES. Steffens und die ges ç hrchtlkhe Schule (1837 ) in: HERMES Bticfoaus der Z çit
SSJ
. . .
G ÕRRES Die wahre und fitschc Gesch íehte. Eos , n 59, 1828 In: Gesanmette Sd\ f¡f( en (vol . .
(vol. 1), (cf. nota 409), p. 314 Hermes tivera dificuldades em obter uma livre- doc ê ncia em
15), 1958, p. 49 ti scg. Ipi - .
Breshn ; Btcekhflus , Conversations Lexicon det Gegemmt (vol 2), 1839, p. 851.

210
.

"
M l
777 k : 2) 1
: 7
O CONCITO Of HSTÓgA "HiSTÔÍ tA" COMO C0K«<70 M£$Tlt£ MOttftSO

palavras vazias, que podiam ser rapidamente substitu ídas e ficar


.
- Slip seus bestas cultos ignorantes!” .593 Quem deslocou de forma mais
destitu ídas de qualquer conte údo, em fun çã o de seu sentido uni- clara o sentido da História para um contexto revolucioná rio foi
versal e de sua aplicabilidade generalizada. É nisso que residia sua Friedrich von Sallet: “ No nosso dicioná rio, ela se chama: a çõ es, /
afetabilidade ideológica - e semâ ntica. Mas nisso tamb ém residia '
i S aquilo que vir á a ser, e nã o a velharia petrificada ... / História! Sim,
sua aplicabilidade polí tica e social. 7 -

ó elemento da vida! / ... História $e chama o assalto às bastilhas /


A contrové rsia em torno de Histó ria , em especial em torno do
V
'

tV : e as tormentas dos debates nos conventos .. ” .594


seu conceito, não era só uma controvérsia metodológica, teórico-
'
. •
'
Dependendo das intenções políticas, o significado do conceito
científica ou cient ífico-pol ítica . Eia atingiu de forma profunda a 7 - Vf geral elástico podia ser deslocado, e é a í que residia a eficiência de
dimensã o pol ítica e social do campo lingu ístico, pois o conceito sua utiliza çã o. Pois cada um estava potencialmente atingido, e n ã o
carregava dentro de si - como conceito geral de movimento - mm 7 se tratava de um conhecimento do passado, mas - nas palavras de
aquela força integradora e distanciadora que podia motivar açõ es . B Nietzsche - da “ falsifica ção da História, por princípio; para que ela
pol í ticas. Isso fica claro na política de censura e no movimento que forneça a prova para a valora ção moral ” .595 Quanto mais funcional em
a ironizava, o lirismo pol í tico. relação a interesses pol í ticos a “ História” era utilizada , tanto mais ela
Tão logo as massas estamentalmente desarticuladas desafiaram Mê se expunha a falsificações de princ ípio - nem sempre propositais a
para uma nova organização social e pol í tica, cresceu o papel do mm
m uma ideologia , à qual, por simples razões de automanutençao moral
ensino da História. Na revolução e durante a restauração, ele era daqueles que utilizavam o vocá bulo, ela parecia n ão poder fugir.
defendido por argumentações contraditórias, cláusulas de amnésia
mm vf; Em que medida se compreendia “ Hist ória” como instrumento
foram introduzidas, motivando o seguinte veredicto de Droysen: funcional para a a çã o ~ sem naturalmente se esgotar nisso fica
“ Ordens provenientes dos escalões mais elevados estabelecem aquilo claro no emprego do conceito para atingir e para integrar as classes
que deve valer como acontecido na História” 591 subalternas, em especial a classe dos trabalhadores fabris, que estava
Contra esse tipo de prá ticas manipuladoras é que se voltava o n surgindo. Em 1843, Wilhelm Schulz imaginava que “ os povos so-
lirismo político, levando para dentro do p úblico conceitos critica - mente agora est ã o começando a sentir sua importâ ncia . E por isso
mente desconstru ídos. Hoffmann von Fallersleben ridicularizou “ a . que ainda apresentam sensibilidade limitada para sua História, e
escola histórica” , que se postava perto do trono. “ Vocês se apoiam n ão a terão antes que eles próprios fa çam a Hist ó ria , até que sejam
em História , / e n ão procuram aquilo que devem procurar, / e mais que uma maté ria inanimada, da qual a História é feita por
acham aquilo que vocês querem achar. / Isso vocês chamam de algumas classes privilegiadas” .596
Hist ória! / E as coisas velhas, mesmo assim, viram pó ” .592 Glas-
sbrenner seguiu , em 1844, ao debochar “ [d]os historiastas” [die GLASSBRENNBR , Adolf. Die Cesehiehdmge (em torno de 1844). in: VOLKMANN,
Geschichtlinge] : “ Nem agora nem nunca , nos submetemos ao tribunal Ernst (Ed .). Um Einheit und Freibe ít 1815-1848. In: Deutahe Lí teratur ht BnhvUkhttigsnihen
mundial da História, / pois também odiamos seu despotismo, / - Politischc Dichtung (vol. 3). Leipzig, 1936, p. 223. »WUhdngen uns selbertiun und ate / Am
IVelígcricht der Gesddditd - / Denn wirhassen aiuh Hue Desposte , / Ihr dummengelehrten WithiiW
5W
SALLET, Friedrich von. Geschichdiche Bntwicklung. in: HENNING, Max (Ed.). AmgewdhUe

DROYSEN, Johann Gustav. Das Zeitaller der Freiheilshriege (1843/46). Berlin , (1918), p. 256
.
Gediehte. Frankfurt, 1913 p. 190 esç g. “ hi unsrem V/õrterbuche hehst sir: Talen , / Das IVerdende ,
undniditdas AUerstarrte ... / Gesdiuhlel ja , du Element des Lebensl / ... Gesehidtte keissl das Stiumen
(editado por £. E. Lehmann ). der Bastillen / Und der Debatte Stilrnun im Kanvente
S3Í
FA Í.LER.SLEBEN, Heinrich Hoffmann von. Die Histomche Schule . In; FALLERSLEBEN, s
” NIETZSCHE. Am dem Nnchhss der Admigerjahre. In : Werke (vol. 3), 1956, p. S18,
Heinrich Hoffmann von . Unpolitisehe Lieder (YOí . 2). Hamburgo, 1841, p. 51. " Ihfslittzt mh .
SCHULZ, Wilhelm. Die Bewegung der Production Einc geschichtlkh-itatistisdie Abhandlung
-
aujGeschiduet / Und sudtl nicht ¡v<u ihr sttehen soUf , / Lhid Jindel uus ihrfitiden wolU / Das ncnnet zur Grundlegung eincr neuen WHsenschaft des Staats und der Gese í lschafc Zurique / .
ihr GcsditehtA Urid das Alte gehet dock ¿utskhle" . Wintherhur, 1843, p. 155 e seg.

212 213
O coMcaio Ge H STó SA . 'V . .
"HiSTÔXlA*' CCUO CCNCí fJO ttOOSKO

E todo o engajamento liter á rio de Schulz se concentrou na Histó ria se transforma , assim, como a verdade, em uma pessoa à
tentativa de colocar em movimento esse povo, através do esclare - parte , um sujeito metafísico, cujos portadores são os efetivos indi-
cimento de seu potencial hist órico. "Que o significado histórico VKiA*
'
Íí víduos humanos” . E Marx mostra isso à m ão de uma série de frases:
mundial das máquinas” fortalece a "consciê ncia da força” , em ‘ : “ A Hist ó ria nã o permite que se zombe dela ; a História investiu
especial dos trabalhadores das fá bricas, foi um dos diagnósticos de K A /'
| ; '

seus maiores esforços em; a História tem sido ocupada com; para
Hildebrand. Em ritmo crescente, “ o trabalhador do presente que ' sati que serviria a História ?” etc.599
se criou no contato com as má quinas [sentiria] que, com as habi- . «a» ’. Os argumentos históricos e teóricos para provar a cr í tica ide-
lidades de sua cabeç a e de seu bra ço, também est á participando da i ológica de Marx só tiveram reflexos no nosso tempo, por causa
grande construção da História” .597
"Hist ória ” servia tanto para convocar para a luta quanto po-
dia servir para a integra ção social. Afinal, num mesmo contexto,
o conceito foi utilizado para amenizar e acalmar. O trabalhador
- ÉiiH
irV.
i
l

*
da publicação póstuma da Ideologia alemã. Nas passagens iniciais,
Marx e Engels fornecem uma rede formal de categorias de toda
História possível , que, desde o in ício, é pensada com vistas a um
movimento, que suscita contradições e soluções novas. O homem
da fá brica n ão teria fam í lia nem pá tria, como Riehl disse, pouco IS® í é definido como um ser social que se produz a si mesmo, a partir
depois, ele procuraria "seus companheiros nã o no passado ou no - -m i
: de suas necessidades e a partir do trabalho que satisfaz e aumenta
presente , mas na amplid ão ilimitada do futuro... Ele não possui "
AV =:
'"
Í VW ' í
'

suas necessidades. Nessa visão anti-idealista , a consciência é en-


Hist ória; toda a essê ncia da moderna industria de máquinas desvia m&m \ tendida apenas como funcional em relação ao processo ativo da
Jñm¿
;;
sua mente das coisas históricas” . Dessa forma , a mesma constata ção, vida. “ Ideologia e ... formas de consciê ncia ” , quando vistas em
a partir do mesmo conceito, gerou um diagnóstico quase diame- m íi si, n ão possuem “ História , elas não possuem desenvolvimento” .
tralmente oposto. E depois que formulara sua cr ítica ideológica a mm Pelo contr á rio, a consciê ncia , desde o in ício, “ já é um produto
partir da perspectiva do passado, Riehl formulou um programa social ” , motivo pelo qual constituiria “ ilusã o dos ideólogos” , esses
que Schulz antes havia desmascarado de um ponto de vista opos- é M:
“ fabricadores da História” , querer escrever a Histó ria a partir de
to. “ Compete, portanto” , - concluiu Riehl - “ ir gradativamente ideias mestras ou de conceitos dominantes. Conceitos dominantes
criando uma História [ para o trabalhador da fá brica], uma pá tria , ÍÍ1Ü indicam classes dominantes.
uma delimita çã o social ” , que ele deveria encontrar em primeiro Ü® I A critica de Marx - que se voltava contra “ toda a concep ção
lugar numa fam í lia. 598 -S ’
,
'

V i de Histó ria at é aqui ” - é mais profunda. Ela critica nã o apenas


Nessa situação de utiliza ção do conceito em sentidos opostos e .# : o conceito de História, mas também toda Hist ória de conceitos.
divergentes, Marx produziu uma crí tica ideológica que decifrava a ‘ ¡ m*¿ i Independentemente do fato de que essa cr
utiliza ção lingu ística dominante a partir de uma teoria própria da í mm ítica pode ser aplicada
metodologicamente a seus pró prios conceitos e isso tanto mais -
História. Marx ironizou Bruno Bauer perguntando como poderia ti i que ele imputava , de forma massiva , objetivos utó picos a seus con -
recorrer à Hist ória “ para servir de ato de consumação do banquete
teórico, de prova ” . E formulava a pergunta sugestiva sobre que
'a


ceitos , Marx leva uma vantagem decisiva . Sua cr í tica ideológica
pressupõe teoricamente um conceito processual de História, que
Histó ria seria essa “ para que a verdade atingisse a consciê ncia . A -.--•JVA vi requer invariavelmente um preenchimento emp í rico, no qual forças
. - ?
-I
V. •i' / tr !
A
HELDEBRAND, Bruno. Die Naí hnalokonomk tier Gigtmvdil undZukunft (1848). jena , 1922 ,
p. 185 e s eg. (editado por H. Gehring).
v > MARX; .ENGELS. Die heitige Pamitie oder
.
Krkik der kricischen Kritik (1843) Jn: MEW
.
551 .
R ÍE í-IL » Wilhelm Heinrich. Dtcbütgetltchc Gcsdhduift , Stuttgact / T ü bingen , 1851, p 345 e $eg , lili ‘
iv
.
372, onde ele tenta “ quebrar a vcisà o teológica" das perguntas de Bauer
.
(vol 2), 1957, p. 83 c $ eg. Cf. também MARX. ZurJudcnfr â gô (1844). In: MEW (vô l . 1), p

•; 1
214 ;i#t| 215
. .. v‘
:| > ;
O CONCfííO te HSTÓXíA Vl HíS íôí.IA" cavo CONOTO Mftue MCOTINO
: RIF
produtivas, condiçõ es sociais e consciência precisam ser colocadas I ’ justíssima, onisciente, e, finalmente, a gente se tornou responsá -
numa rela çao recíproca variável .600 Com isso, Marx tentou juntar I ". vel diante dela. Como algo semissecularizado, foram atribu ídos à
WiR •!
'

210 seu pensamento aqueles dois polos que na linguagem comum História significados religiosos, que dificilmente poderiam ter sido
sempre foram utilizados de forma unilateral e, assim, prejudicados: derivados do pró prio conceito.
a factibilidade da História , por um lado, e o superpoder que exer-
ce sobre os homens, por outro lado. Marx juntou as duas coisas:
wm
m
A utiliza ção como palavra de ordem torna confusa a distinção
entre a História narrada e a que se cria por si mesma - e, em be-
“ Os homens fazem a sua própria História , mas eles não a fazem nef ício da ideologia , certamente também precisa estabelecer certa
livremente, n ão sob condiçõ es escolhidas, mas sim sob condições mm i
. ‘• • XU***. y>i :i
-
confusã o. í$$o pode ser comprovado ali onde a expressão desemboca
encontradas, dadas e transmitidas” 60t ‘•V Ú S Zrii :
'
: numa substâ ncia . Em 1831, a ordem jesu í ta teve de admitir que
Ao contrá rio dessa premissa teórica , a linguagem cotidiana .
estava sendo “ desterrada pela História ” 605 “ Sem revolu çã o, n ã o
costuma se mover em um desses níveis , abrindo, com isso , flancos
que podem ser apontados numa crítica ideoló gica. A Hist ória é ou 1® Í
’F

inicia uma nova História” assegura Moses Hess.606 O juda ísmo
colidiria com os “ interesses da História ” - sabe Bruno Bauer.607
desclassificada como simples produto da a ção humana ou substan - "
VM Ernst Moritz Arndt evoca, em 1848, a “ honra da História alem ã ” 608,
e Treitschke alerta contra o amigo dos judeus, que “ comete pecado
cializada e adquire um cará ter supra-humano.
Depois que “ a Hist ória” havia desembocado no coletivo sin- :
... contra a glória da História alemã ” 600, interpretando de forma
gular, tornou -se possível encará-la também como sujeito de si .ütgvf :'- • .
teológica uma subst â ncia nacional “ Hist ória precisamos pintar,
.
mesma Com isso, a expressão - do ponto de vista puramente \
_
r.. V• História é a religião de nosso tempo, somente História está em
lingu ístico - pôde ser transformada em slogan . E , de fato , pouco -
acordo com nosso tempo” é o que se ouvia como m á ximas, em
depois de sua inven çã o, o conceito mestre teoricamente pretensioso -:V> •
1876.610 “ Mas a História também pode criar o novo, aquilo que se
foi transformado numa palavra de ordem que pode ser utilizada W
'
!:
i • i
apresenta pela primeira vez” , assegurava Julius Leber, em 1933, a
de forma ingénua e pat é tica. Clausewitz depositou em 1812 suas :
T fim de dissipar a d ú vida “ que o passado poderia depositar dentro
frias confissões, como homem da resist ê ncia , “ no sagrado altar da !
de nós” 611
fi.-iV-i- v -; -;. :J Mas basta de exemplos. O “ poder da Histó ria ” , de que falava
História”.602 Três anos depois, Dahlmann pôde falar da “ santidade I
da História ” ,603 e em 1845 Weerth entoou hinos de louvor ao tra - Droysen 612 para caracterizar sua força supraindividual, moral, foi
balho industrial, que libertaria o homem para si mesmo: “ Então ampliado, modificado, como conceito, porque ele aparentemente
est á consumado! E no grande livro / que, sonoro, anuncia os mi-
lagres da História” será registrada a boa-nova 604 Foi dessa forma KUNHARPT, J. H. D. Der Process der Utzlot Minister Carl' s X . L ü beck, 1831, p. 8.
*

que a “ História ” , perpassando campos diversos, foi colecionando .


HESS» Moses Philosophic der Tat (1843). In: Phibsopf úsche mid SvzbHslischc Schtlfí en (cf. nota
. ::. A . '•
477), p. 221.
epítetos que antigamente eram divinos. Ela se tomou onipotente, BAUER . Judenfrage. DeutscheJalubtí tlitr, n . 275, 1842, p. 1097.
4* J
StencgMpfusche Betkhtt der Dewchai NaHoiialvtrsammlung (vol. 2), 1846 , p, 1292.
. .
m TREITSCHKE, H voo Noth einige Bemerkungen surjudenfr â ge. In: BÕHL1NG, Walter
. .
MARX; ENGELS Die deucsehe Ideologic In; MEW (vol. 3), p. 26 e seg., 31, 49, 39.
; .
(ed .). Der Berliner Antisemitiswussireit Frankfurt , 1965, p. 86.
.
MARX. Der achtzehntc Brnmajre In: MEW (vol. 8), p. US . :K Ü 41 5
(
Zatschij‘)JurhildendeKttnsi (1876), p. 264, citado em RGG (Rriijgian in Geschiàne unJCegegenuwt ]

Schri/ten and Bttefâ. Munique, 1922 , p. 86.


.
CLAUSEWITZ, Carl von. Bekcnm much rift (1812). In: ROTH PELS, Hans (Ed .) Poiitische .
;•

’ ' '
!
. .
(vol . 4) y ed . 1960, p. 687.
lOifci ;;
611
LBB.ER , Julius. Gedanken ? um Verbot der deutschen Sozjaldemokratie (escrito em junho
051 .
DAHLMANN, F. Christian Gin Wort irfccr Verfossung (1815). Leipzig, 1919, p. 17. .
de 1933). In: Julius Leber Ein Mann geht seinen Weg. Schriften , Reden und Brtefe. Berlim /
.
m WEERTH , George . Die Industrie (1845). In: KAISER , Bruno (Ed.) DU Arfitundvierziger. Frankfurt, 1952, p. 245.
.
Weimar, I 960, p. 285 5!?
DROYSEN, Historik (ef. nota 236), p. 323 .
• i
WMJ -
2t6 -li f. 2)7
is
O CONmO D HSTÔSíA
rn H&ò?SA COMO CCNOTTO MC»£» K >

se manteve insubstitu ível. Foi exatamente a palavra de ordem que W£ elaborar uma teoria a priori, daquilo n ão se pode fazer uma História,
evocava expectativas e ordenava experiê ncias, cujas qualidades co- e, inversamente, só aquilo que n ã o possui uma teoria a priori, possui
muns supra ou inter-humanas n ão podiam ser designadas de outra História ” . Por essa razão, o homem possuiria História, “ porque ele
O V-
nã o traz sua História consigo, mas somente a produz” .*15
.
forma. “ História” se transformou num desaguadouro de todas as
'

ideologias imagin áveis. Isso fica ainda mais claro quando se mostra
o outro plano argumentativo, a factibilidade da História. y. ú
-m &rs
Para Scheidler, que transmitiu o legado do idealismo alem ã o
para a burguesia alem ã , n ã o havia d úvida a respeito. “ É por isso que
A mesma expressã o “ História ” podia designar um conjunto somente o homem possui uma História no verdadeiro sentido; pois
de objetos de a çõ es humanas seguras de si . Uma situação interme - ;
suas açõ es n ão estã o presas dentro de determinado ciclo, como o
do animal ” . Só o homem pode dar uma direção à sua vida, “ fazer”

v
diá ria est á indicada pelas palavras utilizadas por Droysen em uma
carta a Gustav Frey tag.013 A nobreza prussiana teria “ tirado a nossa a sua “ própria” História .616
Hist ó ria dos trilhos, e arruinando-a por alguns séculos” com
que a verdadeira História é apresentada como v í tima da violência ,
— História - no alemão, continuando a ser perpassada por um
sopro de providê ncia divina - nao podia ser transportada , sem
í ndicando-se uma História desejá vel como sendo a verdadeira. resistência, para o â mbito da factibilidade, Perthes, nascido em
Admitir essa multiplicidade semâ ntica dentro de um conceito 1772 , titubeia, em 1822, em utilizar o verbo [ geschehen] . Ele dizia
significa aceitar argumentos passí veis de ideologiza çã o » a não ser que queria editar suas publicaçõ es hist óricas para os pr á ticos, para
que se admita como legí timo que uma palavra de ordem foque de “ os comerciantes ” , pois “ sã o eles, e n ã o os eruditos, que intervêm
forma misturada situações de â nimo e desejos. : na realidade, e, por assim dizer, fazem a História ” .617
A “ História como ação” constitui uma versã o em franca con- Pouco tempo depois, ele se pronunciou favorável a uina classe mé-
tradição com significados verbais que també m queriam dizer “ desti- dia consciente, que, orientada para o sucesso, deveria deixar de levar em
no” . Também essa versão só se tornou viável depois que a expressão conta doutrinas do passado, como a velha historia tmgistra uitae: “ Se cada
-t
desembocara no coletivo singular. Desde então, “ Histó ria ” tamb é m • :: / partido, numa determinada sequência, viesse a governar e a presidir as
podia se tornar factível - e nã o no sentido de sua narrativa - na ü
instituiçõ es, ao menos uma vez, então, através dessa Hist ória autocria-
forma em que Eichendorf confronta o sentido novo com o antigo: da, todos os partidos se tornariam mais tolerantes e mais inteligentes.
“ Um faz a História , o outro a registra” .614
A História que “ aconteceu” antigamente, e em certo sentido
se passava com os homens, só podia ser vista como campo de ação,
Wñ :
'

*
m- - .
V-
í
:

História feita por outros por mais que seja estudada e por mais que
se escreva sobre ela - dificilmente leva à avaliação justa e à sabedoria
i ':V "
política. É isso que nos ensina a História” 616 O coletivo singular “ Histó-
'
! •••

-V .
como fact ível e como produt í vel, depois que fora elaborada pelo ' : : : A ’’: :
:
ria” , como categoria transcendental, sempre estava referido à ação. Não
idealismo alemã o como processo de autorrealiza çã o humana. Não : só a descoberta da “ História” , em especial o desvendamento de uma
h á d ú vida de que Fichte e, no inicio, o jovem Schelling tiveram História factível, faz parte do selo do mundo burguês que despontava.
influê ncia sobre o uso linguístico pol ítico de “ História ” . Assim ,
:•
Schelling se voltou em 1789 contra o projeto kantiano de uma 61 S(SCHELLING , F. W. G.]. Aligeme í ne Obersicht der neucsten plulosophischen Litemur.
Hist ória mundial [Weltgeschkhí e] a priori. “ Daquilo que se pode Phiíosophifches Journal, n. 8, 1798, p 145. .
"ST '

} . .
<!< SCHEIDLER , Hermann Verbete “ Emanzipailcm 4* In: ERSCH /GRUBER ( Use çSo, vol 34), .
: - .
1840, p. 5. Sobre a Pr é Histó ria te ó rica dessí pr ática lingu ística, cf, JL ÕWITH, Karl Vicos
.
*l í Caria de Droysen a Gustav Preytag , de 14 de dezembro de 1853. In: Bfkfwcclwl (vol 2) (cf. Grundsatz: verum et factum convex tun tur. Seine theologisehe Pc3mu$ e und deren sãkularc

Ít1
nota 408), p, 205.
.
Citado por BAUER , Gerhard.“ GischhUtltihkeit” Wege und friwege cities Begri íR Berlim*
^ ... .
-.
Konse uenzen. In: Akadmisthe AOhan èltutmen t
w PERTHES, Ubtn (voj 3) , (cf nota 559), p. 23
í tiáelbttg. Heidelberg, 1968.
.
..
1963, p 2 .
ibid , p. 271 e 5eg.

218 -sm;. 219


W Á:
O CONCflTO C£ HlSTÓÍíA i ' ftsrtoiA" co.vo cociCfTO A'íSTRT HQDí U íO

Mas, com isso, também “ a rea çã o ... se transformara numa conseguem fazer ” .623 A uma conclusão oposta chegou Engels, ,

força histórica” , que, nas palavras de Stirner (1852), se preparava quando anunciou a “ organização conscientemente planificada” do -
i® i
para “ fazer História” .619 Bismarck , naturalmente , sempre negou
.
poder fazer Hist ó ria “ Uma interven ção arbitrá ria e determinada
por motiva ções subjetivas no desenvolvimento da Histó ria sempre
teve como ú nica consequê ncia derrubar frutos verdes . Podemos ..
m
.

\ V í:CYU
'
futuro. “ As estranhas forças objetivas que at é agora dominavam ;
a Hist ória ficam submetidas ao controle dos pró prios homens. .
Somente a partir da í , os homens farão a pr ó pria Hist ória com
plena consciê ncia... Será o salto da humanidade do reino da ne-

adiantar os relógios, e nem por isso o tempo anda mais rá pido” 620 : cessidade para o reino da liberdade” .624 A maior proximidade de
: mM i
:-m m i
- foi isso que ele escreveu num decreto de 1869, e, já idoso, viu Engels das origens idealistas comuns resulta aqui num grau mais
confirmada sua posiçã o; “ De forma alguma se pode fazer História , elevado de expectativas ut ópicas. Com vistas ao futuro dom í nio
mas sempre se pode aprender como se deve dirigir a vida pol ítica M da Histó ria , sua visão se aproxima do uso vocabular dos panger-
de um grande povo em acordo com seu desenvolvimento e sua :#® í
S manistas, que , em 1898, atestaram ao “ povo senhorial ” alem ão -
.
determina ção histórica” 621 A desistência em relação à possibilidade
de planejamento de transcursos hist óricos faz com que, de ime-
mrn
0 V \;V;,V ;
-
*
• Y -;-'' .
V
de ter “ o direito e o dever ... de participar da direção da História
de todo o mundo” .625
diato, se manifeste o outro complexo de sentidos do desenvolvi-
'
; Finalmente, Hitler e seus asseclas se excediam na utilizaçã o da
mento de longo prazo que est á embutida no conceito de Hist ó ria . palavra “ Hist ória” , a qual tanto era evocada como destino quanto
vista como factível; mas a inconsistê ncia da versão propagandís-
Dessa forma , a utilização da palavra, em especial o alinhamento
das possibilidades polares de seu significado, pode representar um
teste de utopia .
..
• 1'

..- V:.
'

*
tica revela , por si mesma - quando questionada a respeito , seu
conte ú do ideológico. “ Os valores eternos de um povo somente

Constantin Frantz, adversá rio intelectual de Bismarck e ad- sob o malho da História mundial [ Weltgeschichte] se transformam
mirador de Schelling, divisou , em 1879, “ na História, um reino naquele aço e ferro com que ent ão se faz Hist ó ria” , disse Hitler,
..
especial .. que n ão provém de Deus, mas que os homens criaram
e continuam criando indefinidamente ” .622
Os campos políticos, de forma alguma , coincidem integral- :
m :
• v.v : - *

'

num livro de 1928.626 E uma expressão da campanha eleitoral em
Lippe, de 30 de janeiro de 1933, mostra que mesmo concep ções
ideológicas for çadas possuem seu sentido prognóstico: “ Em ú ltima
instâ ncia , é indiferente quantos por cento do povo alemão fazem
mente com as linhas de confronto que derivam da sem â ntica po -
l ítica. Existem estruturas conceituais que possuem afinidades pró-
'
S: \ Hist ória. O que importa é que os ú ltimos que fazem Hist ó ria na
.
prias Lorenz von Stein imaginava que com a ascensão da História
•* :
Alemanha somos nós” .627 Não havia forma melhor para formular
mundial [Weltgeschichte] o espaço de liberdade diminuiria: “ Qu ã o
Mi
\ • *
'

os autoultimatos sob cuja coerção Hitler fazia política e, com isso,


maior a História mundial, tanto menor se torna aquilo que nã o
1
imaginava fazer Hist ó ria . E ele, de fato, fez Histó ria - mas diferente
s ó o indiv íduo mas, em ú ltima instâ ncia , todos os indiv í duos do que ele imaginava .
• \

.. \.\ .
m

.

.
STEIN, L. von Zur pnussisehen Vefassungs/rage (1852). Darmstadt, 1961 , p. 1 .
.
STÍ RNBR, Max Ctschidik dtr Reaction (2. Abu Die modcrne Reaction) Berlim , 1852, p. V. fc:
450
- . .
de I860. In: Frtedriduruher Aitsgnbe (voí 6 b), ¿ 931, p 2.
.
BISMARCK Erlassanden Gcsandten in M ü nchen FreiJi« icvon Werthecn de 26 de fevereiro
\
ENGELS Herrn Eugen During * Umv/á laung der Wisscnschaft (1878). In: MEW (vol. 20),
.
1962, p. 264.
BISMARCK . Discurso perante a delcga ç ao da Universidade de jena , 30 de julho de 1892 .
••
- .
<1S Conelama çSo para adesao a Liga Pan Germ â nica Citado por GRBLL, Hugo. Der Affdeutsdic
. Ye

Verband, seine Gesehtihie setnc Beititbungert und Erfolgt. Munique, 1893, p. 7
, .
In: FtkdiUhstuher Atugabe (voí. 13), s. d., 468 e $cg.
w WEINBERG, GerhardL. (ed .). Hitlc / í ziveties Buih. Sutigart, 1961, p. 138.
622
FRANTZ , Constantin. Da Fõdaôltitnia etti das ¡¿tiende P/ inzipfih die sodak , staatitiht and
intenutlionafe Organisation, tmiet be tenderer Bezugnahnie auf Deutschland , atitsch narhgemeseti and
.
60 Discurso de Hitler de *1 de abril de 1933 em Detmold In: DOM ARUS, Max (ed .) . Reden und

( onsttudiv dargesuiti. Mains, 1879; reimpresso em Aalen, 1962 , p. 441 .


Prokhm alionen 1952 bis 1945 (vol. t / l ). 2. Aufl, Munique, 1965, p 176 . .
.

220 V
: :/ ¡ 221
í/; -
O CONCOIO .
K í:ôíIA
: •

'
-: - v:
:
i

^ ;

Assim, o sentido plural do moderno conceito de Hist ória — VII


ao poder realizar um movimento pendular entre factibilidade e : "-
mi -
superpoder - abre uma brecha para sua utiliza ção ideológica . Mas Perspectiva
no mesmo diagnóstico lingu ístico est ão contidos crité rios para - :
desmascarar o caráter ideológico dessa utiliza çã o. -. . y
' '
'

. '
.
.:
* v - O- •-
I
Reinhart Koselleck
. ' ‘
• :

A ambiguidade fundamental do conceito de História , desde


seu surgimento , teve influ ê ncia profunda sobre a linguagem coti-
diana da pol ítica. A possibilidade de sua afetação por sentimentos
-.V-. -V ;-;-

^ v' :
enfá ticos, e sua utiliza çã o para fins ideológicos, tem suas ra í zes
na formula çã o da palavra no coletivo singular. Como categoria
má transcendental, ela abrange, simultaneamente , Historie e História ; o
: : conceito “ História ” passa por uma escala cambiante de experiências
V.- j - vKV?
.
• :
.•• * 1
m
’ *‘
possíveis: espa ço de a ção e processo, progresso e evolu ção, criaçã o

-S. de sentido e destino, acontecimento e ação. Parece que o velho
'
sentido de narrativa foi empurrado para a margem.
- :-?v.vvs::;-.. \{ Da grande quantidade de significados que podem ser utilizados
como palavras de ordem, se desenvolveram algumas posições teó-
;v ricas, que por sua vez exercem influ ê ncia sobre os campos pol íticos
-
que elas diagnosticaram. Com sua considera ção extemporâ nea Vem
V ;

Nuteen and Nachteil der Historie fiir das Leben [ Das vantagens e das
desvantagens da Hist ória para a vida], Nietzsche produziu , em 1874,
• • ••
i '
• uma cr í tica arrasadora da ideologia. Ao confrontar crit é rios internos
V ? v -í r : .v- - N: £ ;

da atividade cientí fica e seus efeitos para fora, Nietzsche constatou


lillil a existê ncia de três tipos de Historie: a antiquaria, a monumental e
v-i a cr
ítica. Vista como funcional em rela çã o à quilo que ele chamava
de vida , a Historie como um todo apareceu como sintoma de se-
«l í nilizaçã o, como empecilho para a vida . Por essa razão, Nietzsche
exige ~ e isso n ã o acontece sem consequências - da juventude a
v¡ y
coragem para “ o ahistóí rco e o supra-historieo ” .628
-

^,:
Bi
í
;:
.
í
.
tn NIETZSCHE, Vom Nuteen vmd Nachteil der Historie fü rdas Leben . In: IVe / ke (vol. í), 1954 «
. .
p 28 Í
à '

222 1 223
O CONCSTO D£ Pf ^ f íCTiVA

Desde entao, sao oferecidas posições alternativas de tipolo- O ataque mais forte contra o conceito de “ História” ocorrido
gizaçã o, provindas da natureza e da Antropologia*, sem que uma até agora talvez tenha sido formulado por Mauthner, que partia do
deshistoriza çao da consci ê ncia geral ou at é da ciê ncia tenha tido pressuposto de que o Historicismo bem como a express ão “ Histó-
um sucesso efetivo.629 ria ” somente s ã o possíveis desde Kant, mas que , ao mesmo tempo,
A tentativa multiface tad a de Dilthey de fazer uma cr ítica da já foram superados com Kant. Teriam sido frustradas as buscas por
razao hist órica cont
í nua projetando sua influê ncia profunda para .
leis históricas Mas os conceitos costumariam sobreviver como
-
dentro das ciê ncias sociais e humanas [ Sozictl und Geisteswissenschaf - fantasmas às coisas por eles designadas. “ E a í n ão é de admirar
-
( en )t aparentemente mais profunda que o enfoque teórico cient í fico que o pequeno conceito de Hist ória , mesmo bem próximo de sua
dos neokantianos de garantir para a ciê ncia histórica um genu í no morte , ainda seja considerado vivo” .633 Uma continuidade mais
campo de conhecimento, ao lado das ciê ncias da natureza. convincente dessa cr ítica semâ ntica pode ser encontrada na análise
Com a “ historicidade ” a Filosofia existencialista e a Herme- de Popper sobre o “ Historicismo” .
nê utica se apropriaram de uma categoria que permite fundamentar, Também no n ível da pesquisa empírica , oportunamente se fala do
meta-históricamente, a relatividade autossuperante de tudo aquilo “ fim da História”, interpretando com isso, de fornia secular, a Teologia
que é hist órico, para dessa forma lhe retirai os aspectos irritantes.630
* escatológica . Com isso, se pensa naquilo que Cournot prognosticou
A “ historicidade * expressa , de alguma forma , aquilo que no século
1 no século passado, uma nova situação de relativa estabilidade, que
XVIII se pretendia com a “ Hist ória como tal * * [Geschkhte iiberhaupt ] estaria se instalando depois da modernização, sem coerçã o nem per-
- como condição para Histórias possíveis. turba ções de crescimento. Com tais fórmulas , fica claro o quanto a
Outros aspectos destacados pelo enfoque transcendental de expressão “ a História” anunciava o início da Era Moderna , podendo,
antigamente foram reforçados, de forma unilateral . Assim, Theodor portanto, também desaparecer com seu fim. Mesmo assim apesar —
Lessing, com sua Geschkhte ah Simgebmg des Similosen [História de seu significado múltiplo e por causa dele em lugar nenhum , há
como atribuição de sentido à quilo que n ão tem sentido] colocou tentativas sérias de abrir mão do conceito. Versões como “ a perda”
sob rigorosa avaliação os pressupostos subjetivistas.631 Inversamente,
ou “ o deslocamento da História” , em geral, visam à sua preservaçã o.
pode-se afirmar - no campo marxista: “ A realidade é partid á ria!
Por fim, deve-se lembrar que, desde a Segunda Guerra Mun-
dial, pela primeira vez, ingressamos na etapa da História mundial
Partid á ria a favor do novo frente ao velho, partid á ria a favor daquilo
global , cujos centros de ação se espalham de forma pluralista da
que é mais elevado frente àquilo que é inferior” 632
Europa para o globo. E evidente que, com isso, se desenham novas
Histórias , que, por é m , acabam criando um novo espa ço de expe-
-
KoseHeck n ão se refere aqui à tradi ção angí o sixã da Cultural Anthopohgy, mas à Phihsopkisehe
riê ncia comum. Com isso, dentro da ciência histórica , tamb é m a
Authropôlogit , cujos principais representantes no sé culo XX foram Max ScheJer, Helmuth
Pleunerc Arnold Gehfen. Cf ARLT, Gethard , Antrepoiogte\ jiMfica , Petró polis: Vozes, 2008 velha Hist ória dos acontecimentos dever á manter, sem grande con-
[nota de S é rgio da Mau] . testaçã o, sua tarefa , ao lado da qual se estabeleceu a História social,
425
. .
Cf. HEUSSI , Karl Die Krists des Historlsmus T ü bingen , 1932; MARQUARD, Odo
como ramo próprio de pesquisa , a fim de investigar as mudanç as
Sduviettgkeitcn mt der GesehiclUsphihsophte. Frankfurt, 1973.
43
- . .
* GADAMBR, Hans Georg Verbete "GescliichtUchkeit” In: RGG [Rttyg/wi in GcsâtUhU de longo prazo e as estruturas duradouras. O que é certo é que o
.
und Cegamwí ) (voL 2), 3. Aufl., 1958, p 1496 e segs.; BAUBR , „CexhkhtlUfikttf\ passim ;
conceito de História n ã o ser á capaz de resolver o assim chamado
.
RENTHE- FINK , Leonard von . Gtscfiiehlfichkeit Ihr termiuologischcr und begrifílidier
Ursprung bei Hegel, Haym , Dilthey und Yorck. 2. Aiifí ,, Gottingen , 1968; enigma da Histó ria.
... .
LESSING, GaehUhtc {cf nota 529).
w KUCZYNSKlJiiigen. Farcdlichkeitund Objektivitatin Geschkhte und Gejchichtsschreibung.
.
Zeituhriftfilr Ceirfuehtswlsswsihafi , n 4, 1956, p. 875. •» MAUTHNER (voh í), 2. AutL, 1923, p. 608.

224 225
:ífi
xrm * 1

:
. . i ^i ísV í VIH
'

L - M .i*' ?: -
'

• v.v ;- :
'

'

— Referências
.

w T V: -

: »
'
1

:Ü BAUER , Gerhard. "GeschichtUchkeit . Wege und Irnvege eines Begriffs Ber- .



lim, 1963.
BÕ HME , Gernot. Verbete “ Geschichte der Natur” . In: Hisiorisches Worterbuch
der Philosophic (vol. 3). 1974.
DIERSE, Ulrich ; SCHOLTZ, Gunter. Verbete "Geschichtsphilosophie” . In:
.1 Hisiorisches Worterbuch der Philosophic (vol. 3). 1974.
, i:;. -- GEIGER , Paul E. Das Wort “ Geschichte'* tmd seine Zusarmnensetzungen Freiburg ,.
1908 (tese de doutorado em Filosofia).
M
.¿ ’ *• : GRIMM , Jakob; e GRIMM, Wilhelm. Deutsches Worterbuch (vol . 4/1, 2).
* >.V- Leipzig, 1897, p. 3857 e segs.
HENNIG, Johannes. Die Geschichte des Wortes "Geschichte” . Deutsche Vierte -
ijahresschriftJtir Literaumvlsscnsduift und Ge istesgeschielite , n. 16, 1938, p. 511 c segs.
KBUCK , Karl . Historia. Geschichte des Wortes und seine Bedeutungen in der
AtUike und in den romanischen Sprachen. Munster, 1934 (tese de doutorado
em Filosofia).
KOSELLECK , Reinhart. Historia magistra vitae. Ü ber die Aufiõsung des To -
i r' pos im Horizont neuzeitlicher bewegter Geschichte . In: BRAUN, Hermann ;
RIEDEL, Manfred (eds.). Naiur tmd Geschichte, Festschrift fur Karl Lôwith.
. 1

.¿ Stuttgart / Berlim , 1967.


KOSELLECK , Reinhart. Geschichte, Geschichcen und fó rmale Zeitstruktu -
:

*r
^ ;\
.>
;

ron. In: KOSELLECK, Reinhart; STEMPEL, Wolf Dieter (Eds.). Geschichte
- Ercignis und Brzdhlmg, Munique, 1973.
-
..
* ;
REICHELT, Helmut. Verbete “ matcrialistische GcschichtsaufFassung ” . In:
Hisiorisches Worterbuch der Philosophic (vol. 3). 1974.
RENDTORFF, Trutz . Verbete "Gcschichtstheologie” In: Historisches Worter -
í buch der Philosophic (vol. 3). 1974 .

227
• i4 i ;
: - *

O coucero oe

.
RENTHE-F í NK , Leonhard von. GeschichtUchkeit Ihr terminologischer imd
begcifflicher Unsprung beí Hegel, Haym , Dilthey und Yorck . 2. Aufl., Got-
tingen , 1968.
RENTHE- FINK , Leonhard von. Verbete “ Ge$chichdichkeit > \ In: Hhtorisclies
Wòríerbuch der Philosophie (vol , 3). 1974. !
.
RUPP, Heinz; KOHLER , Oskar Historia - Geschichte, Saemítm , n. 2, 1951,
p. 627 e segs.
SCHOLTZ, Gunter. Verbete “ Geschichte, Historie ” . In: Historisches Wórterbueh 1
der Philosophie (vol . 3). 1974 .
:

ZWIRNER , EberHard . Zum Begriff der Geschichte Bine Untersuchung tiber


.
die Beziehungen der theoretischen und prakdschen Philosophie. Breslau, 1926
(tese de doutorado em Filosofia) .
1

228

Você também pode gostar