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VICE-DIREÇÃO
Odélio Porto Jr.
CONSELHEIROS CIENTÍFICOS
Fabrício Bertini Pasquot Polido
Lucas Costa dos Anjos
MEMBROS
Ana Bárbara Gomes / Pesquisadora
Anna Célia Carvalho / Comunicação
Davi Teófilo / Pesquisador
Felipe Duarte / Comunicação
Gustavo Rodrigues / Pesquisador
Lahis Kurtz / Pesquisadora
Paloma Rocillo Rolim do Carmo / Pesquisadora
Pedro Vilela Resende Gonçalves / Co-fundador e pesquisador
Victor Barbieri Rodrigues Vieira / Pesquisador
A GESTÃO ALGORÍTMICA
DA ATENÇÃO: ENGANCHAR,
CONHECER E PERSUADIR
Anna Bentes1
1. INTRODUÇÃO
atenção. Por isso, as estratégias deste mercado se voltam para desenvolver mecanismos
persuasivos de captura da atenção, nos quais o agenciamento algorítmico exerce um
papel central.
1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ, bolsista da CAPES, e mestre pela mesma
instituição. Possui graduação em Psicologia pela UFRJ e formação complementar em Artes Visuais pela EAV-Parque Lage. É pesquisadora
do Medialab.UFRJ e membro da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS). E-mail:
annacbentes@gmail.com
2 ZUBOFF, Shoshana. Big other: surveillance capitalism and the prospects of an information civilization. Journal of information
technology, nº 30, p. 75-89, 2015
3 Outros autores também chamaram as transformações na lógica de acumulação da economia digital de capitalismo de plataforma
(Nick Srnicek) ou capitalismo de dados (Sarah West). Ver mais em: SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Malden: Polity Press, 2017.
WEST, Sarah. Data Capitalism: Redefining the Logics of Surveillance and Privacy. Business & Society, jul., 2017. Disponível em: http://
journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0007650317718185#articleCitationDownloadContainer Acesso em: 14/02/2018.
4 LATOUR, Bruno. On Technical Mediation: philosophy, politcs, tecnhology. Common Knowledge, Vol. 3, nº 2, p.29-64, 1994.
5 Sobre o assunto, ver os seguintes autores: CITTON, Yves. The ecology of attention. Malden: Polity Press, 2016; CRARY,
Jonathan. 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Contraponto, 2014; DAVENPORT, Thomas; BECK, John The attention
economy: understanding the new currency of bussiness. Boston: Harvard Business School Press, 2001; GOLDHABER, Michael H. The
Attention Economy and the Net, 1997. Disponível em:<http://www.well.com> Acesso em: 15/12/17.
222
gestão dos algoritmos é também, em certa medida, a capacidade de capturar, mobilizar
ressaltar o papel central dos algoritmos nestas engrenagens para, assim, entender como
eles estão atuando na gestão da nossa atenção. Como os algoritmos atuam na captura,
6 SEYFERT, Robert; ROBERGE, Jonathan. Algorithmic Cultures: essays on meaning, performance and new Technologies.
New York: Routledge, 2016.; BRUNO, Fernanda; CARDOSO, Bruno; KANASHIRO, Marta; GUILHON, Luciana; MELGAÇO, Lucas.
Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.
7 SEYFFERT & ROBERGE, op. cit.
8 ZUBOFF, op cit.
223
micro-targeting, no qual os sistemas de
quanto por toda a oferta de um mundo visível de ações e interações possíveis para
10
, entre clientes e parceiros de
11
.
12
fazem ou a quem eles são individualmente, contanto que o que digam ou façam possa
ser capturado e convertido em dados13. Nesse sentido, importa menos a qualidade dos
9 INTRONA, Lucas. The Algorithmic choreography of the impressionable subject. In: SEYFERT, R.; ROBERGE, J. Algorithmic
Cultures: essays on meaning, performance and new Technologies. New York: Routledge, 2016.
10 NADLER, Anthony; MCGUIGAN, Lee. An impulse to exploit: the behavioral turn in data-drive marketing. Critical Studies in
Media Communication, October, 2017.
11 “Previsivelmente irracional”, no original em inglês Predictably Irrational, é o título do livro do behavioral economist Dan Ariely,
que se tornou uma das referências mais populares e influentes no uso deste tipo de abordagem aplicada ao marketing digital e ao design
de softwares. SEAVER, Nick. Captivating algorithms: recommender systems as traps. Journal of Material Culture, August, 2018.
12 NADLER & MCGUIGAN, op cit.
13 ZUBOFF, op cit, p.79.
224
revelaram
progressivamente um interesse cada vez maior por parte de empresas de tecnologia e
behavioral turn .
Claro, vale enfatizar que, historicamente, não é a primeira vez que as técnicas de
14 Aqui, vale ressaltar o caso controverso sobre a realização de testes no Facebook acerca de contágio emocional e também o
escândalo recente envolvendo a consultora de marketing político Cambridge Analytica nas eleições americanas. Ver mais em: Kramer
et al. Experimental evidence of massive-scale emotional contagion through social networks. Proceedings of the National Academy of
Sciences of United States of America, 2014. Disponível em: <http://www.pnas.org/content/111/24/8788.full>.Acesso em: 12/12/2016; e
CADWALLADR, Carole;GRAHAM-HARRISON, Emma. Revealed: 50 million Facebook profiles harvested for Cambridge Analytica in
major data breach. The Guardian. Disponível em: <https://www.theguardian.com/news/2018/mar/17/cambridge-analytica-facebook-
influence-us-election>. Acesso em 05/02/2019.
15 BRUNO, Fernanda. A economia psíquica dos algoritmos: quando o laboratório é o mundo. Jornal NEXO Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/A-economia-ps%C3%ADquica-dos-algoritmos-quando-o-laborat%C3%B3rio-%C3%A9-
o-mundo> Acesso em:13/06/18
16 STARK, Luke. Algorithmic psychometrics and the scalable subject. Social Studies of Science, Vol. 48(2), p. 204-231, 2018.
17 Ibidem, 2018; NADLER & MCGUIGAN, op cit; ZUBOFF, Secrets of Surveillance Capitalism, 2016. Disponível em:
<http://www.faz.net/aktuell/feuilleton/debatten/the-digital-debate/shoshana-zuboff-secrets- of-surveillance-capitalism-14103616.
html?printPagedArticle=true#pageIndex_2>. Acesso em: 04/04/18.
18 Ver mais sobre o assunto no documentário The Century of the Self, de Adam Curtis. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=cc6JLtdHmok>. Acesso em: 04/03/2017.
225
construir o que os behavioral economists
choice architeture
gigantesca de dados. Mas, para que esses dados sejam produzidos, acumulados e
capitalizados em larga escala, as plataformas digitais dependem da captura e da
tipos de informação sobre suas formas de ação e interação. Nesse sentido, a atenção
dos dados.
Por isso, uma das funções centrais da arquitetura técnica das plataformas e dos
web
comportamentos por longos períodos, idealmente pelo resto de suas vidas.20
, uma vez que quanto mais atenção ganham seus serviços, mais dados
22
sobre aqueles que prestam atenção são acumulados. É por conta disso que podemos
226
integram com as operações do que alguns autores chamaram de uma nova economia
23
, na
atenção tem sido amplamente usada no universo empresarial como uma ferramenta
que falta é justamente atenção (e tempo) para acessar e consumir todo este oceano de
ofertas.
ser substituído por outro e nem pode ser terceirizado, pois esta é uma reserva individual
limitada
o modo de empregar a atenção enquanto capital e, por sua vez, reorganizando suas
30
23 CITTON, Yves. The ecology of attention. Malden: Polity Press, 2016; DAVENPORT, Thomas; BECK, John The attention
economy: understanding the new currency of bussiness. Boston: Harvard Business School Press, 2001.
24 DAVENPORT & BECK, op cit.
25 CITTON, op cit.
26 CALIMAN, Luciana Vieira. A biologia moral da atenção: a constituição do sujeito (des)atento. 2006. Tese (Doutorado em
Saúde Coletiva) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social, Rio de Janeiro.
27 DAVENPORT & BECK, op cit.; FRANCK, Georg. The economy of attention. Telepolis, dezembro, 1999. Disponível em <https://
www.heise.de/tp/features/The-Economy-of-Attention-3444929.html> Acesso em 23/04/2017; GOLDHABER, Michael H. The Attention
Economy and the Net, 1997. Disponível em:<http://www.well.com> Acesso em: 15/12/17.
28 CALIMAN, op cit, p. 47.
29 WU, Tim. The attention merchants: the epic scramble to get inside our heads. New York: Knopf, 2016.
30 THE GUARDIAN. 'Our minds can be hijacked': the tech insiders who fear a smartphone dystopia. Disponível em: <https://
www.theguardian.com/technology/2017/oct/05/smartphone-addiction-silicon-valley-dystopia?CMP=fb_gu > Acesso em: 6/10/2017.
227
mas que se torne um hábito
31
.
modelo
do gancho
expõe:
tapping e scrolling.
designers .
behavioral design
captology
computers as persuasive technologies
31 EYAL, Nir. Hooked: how to build habit-forming products. New York: Peguin Group, 2014, p.8
32 Ibidem, 2014.
33 Traduzido do inglês “The technologies we use have turned into compulsions, if not full-fledged addictions. It’s the impulse to
check a message notification. It’s the pull to visit YouTube, Facebook, or Twitter for just a few minutes, only to find yourself still tapping
and scrolling an hour later. It’s the urge you likely feel throughout your day but hardly notice. (...)Forming habits is imperative for the
survival of many products. As infinite distractions compete for our attention, companies are learning to master novel tactics to stay
relevant in users’ minds. Amassing millions of users is no longer good enough. Companies increasingly find that their economic value
is a function of the strength of the habits they create. In order to win the loyalty of their users and create a product that’s regularly used,
companies must learn not only what compels users to click but also what makes them tick”. EYAL, op cit, p.8.
34 Ibidem, 2014, p. 8.
35 Recentemente, o laboratório mudou de nome para “Behavior Design Lab”, e a atualização de seu novo site ainda está em
andamento, mas o site antigo pode ser encontrado em: <http://captology.stanford.edu/>. Acesso em 15/12/2017.
36 Ver mais sobre B. J Fogg em: <https://www.bjfogg.com/ > Acesso em: 15/12/2017.
228
ser projetados (designed .
captologies
contexto de uma intensa competitividade pela atenção. Porém, não podemos nos
muitas vezes o potencial desse tipo de abordagem seja superestimado por seus
como vimos, o gancho tem como principal objetivo tornar o uso de determinado
produto ou serviço um hábito
37 Traduzido do inglês “creates insight into how computing products — from websites to mobile phone software — can be designed
to change what people believe and what they do.”Disponível em:<http://captology.stanford.edu/>. Acesso em: 15/12/2017.
38 FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert L. & RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória
filosófica para além do estruturalismo. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 2009.
39 Ibidem, 2009, p.244.
40 BENTES, Anna. Quase um tique: economia da atenção, vigilância e espetáculo a partir do Instagram. 2018. p.192. Dissertação
(Mestrado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação da UFRJ, Rio de Janeiro.
41 FOGG apud SEAVER, op cit, p.5
42 Ibidem, 2018, p. 5
229
frequência (a regularidade que um
comportamento ocorre) e de utilidade
gatilho (trigger),
(action
externos e os internos.
passos no curso da ação, encarnados nos diversos recursos técnicos das plataformas
play, de download ou
que desperte sua curiosidade para conduzir alguma ação dentro da plataforma. É
recompensas
variáveis (variable rewards
diferentes recompensas, sempre desconhecidas, que reforçarão sua motivação para
230
potencializa menos pela recompensa em si do que pela necessidade de aliviar o desejo
pela antecipação de uma recompensa que estaria por vir.
investimento
(
que, cada vez mais, capturam nosso tempo e nossa atenção nos mantendo enganchados
e engajadas nesses serviços. Deste modo, na economia digital, a atenção é ao mesmo
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Digital in 2017 Global Overview , com variações de acordo com as regiões, os países que
231
alguns dados intrigantes em relação ao efeito do gancho em nossos cotidianos. Segundo
Always connected: how smartphones and social keep us engaged , publicado
Insiders
cada ano.
comportamentos.
4. REFERÊNCIAS
51 INTERNATIONAL DATA CORPORATION (IDC). Always Connected: How Smartphones And Social Keep Us Engaged.
Disponível em: <https://www.nu.nl/files/IDC-Facebook%20Always%20Connected%20%281%29.pdf>. Acesso em: 20/01/2018
52 Este dado foi retirado das notas em uma palestra do autor e consultor de tecnologia Tomi Ahonen em Johannesburg em 2012.
Disponível em: <http://www.intomobile.com/2012/02/09/tomi-ahonen-average-users-looks-their-phone-150-times-day/>. Acesso em
20/01/2018
53 Alter, op cit.
54 Ver mais:<https://www.theguardian.com/news/2018/mar/17/cambridge-analytica-facebook-influence-us-election> Acesso em
20/03/2018.
55 BRUNO, op cit.
232
1a
>.
233
>
234