Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FRANCO, FERNANDO
FERNANDO LEME LEME
Prospectiva Estratégica:
I. COPPE/UFRJ II. Título uma metodologia
(série)
para a construção do futuro [Rio de Janeiro]
2007
X, 167p. 29,7cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,
Engenharia de Produção, 2007)
Tese – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE
1. Prospectiva Estratégica
I. COPPE/UFRJ II. Título (série)
ii
Dedico esta tese a todos aqueles que acreditam que o
futuro não é uma simples manifestação do acaso.
iii
Agradeço
iv
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
PROSPECTIVA ESTRATÉGICA:
UMA METODOLOGIA PARA A CONSTRUÇÃO DO FUTURO
Fevereiro/2007
v
Abstract of the Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirement for the degree of Doctor of Science (D.Sc.).
STRATEGIC PROSPECTIVE:
A METHODOLOGY FOR THE CONSTRUCTION OF THE FUTURE
February /2007
vi
ÍNDICE DE TEXTO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
4. METODOLOGIA ................................................................................................. 40
6. APLICAÇÕES DA METODOLOGIA...................................................................... 75
vii
6.1.1 Identificação do sistema....................................................................... 76
6.1.2 Diagnóstico estratégico ........................................................................ 76
6.1.3 Análise prospectiva .............................................................................. 76
6.1.4 Avaliação das ações ............................................................................. 81
6.2 PROJETO MAUATUR ...................................................................................... 82
6.2.1 Identificação do sistema....................................................................... 83
6.2.2 Diagnóstico estratégico ........................................................................ 85
6.2.3 Análise prospectiva .............................................................................. 89
6.2.4.6 Avaliação das ações ........................................................................ 101
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
ix
ÍNDICE DE TABELAS
x
Toda forma de predição do futuro é uma
impostura; o futuro não está escrito e, pelo
contrário, é necessário construí-lo. O futuro é
múltiplo, indeterminado e aberto a uma grande
variedade de futuros possíveis. O que se vai passar
amanhã depende menos de tendências passadas
que se imporiam fatalmente aos homens do que
das políticas levadas a cabo por estes face a essas
tendências.
1. INTRODUÇÃO
1
científicas e tecnológicas determinam fortemente o futuro. Todavia, com a
crescente capacidade humana de envolvimento, são nossas escolhas que modelam
o futuro”. Ainda de acordo o mesmo autor, “a sociedade não pode controlar o
futuro, mas pode influenciar o curso da história”.
Chiavenato (2004, apud CANEN & CANEN, 2005), destaca seis fases na
história das organizações, sendo que a atual (a partir da década de 1980) é a da
globalização, marcada pela Terceira Revolução Industrial (Revolução Digital) e
caracterizada por automação, incerteza e imprevisibilidade quanto ao futuro.
Na área empresarial, segundo Kotler (1999), existem dois tipos de
organizações: aquelas que mudam e aquelas que desaparecem. Esta afirmativa,
válida para horizontes temporais de médio e longo prazo, leva a uma indagação
fundamental: Como identificar a direção correta da mudança em um mundo cada
vez mais globalizado e em constante transformação?
O início do século XXI vem sendo marcado por uma sucessão de ataques
terroristas, guerras, epidemias, surgimento de novas tecnologias e mudanças
geopolíticas, mostrando que o futuro está cada vez mais incerto. Todavia, para
alguns, a incerteza é uma justificativa para não pensar no futuro; para outros, é a
fonte de oportunidades.
Nessa última hipótese, a incerteza deve estar orientada para os seguintes
pontos: (i) aproveitamento das oportunidades; (ii) defesa contra as ameaças e (iii)
construção de um futuro melhor para a organização (MARCIAL & GRUMBACH,
2004).
O terceiro ponto supera os demais: a construção do futuro é o único meio
eficaz de reduzir as ameaças e aumentar as oportunidades em um mundo em
constante mutação.
2
futuro, o que pode ocorrer pela inserção de uma força nova, pela alteração da
intensidade de uma força já atuante ou ainda pela alteração do sentido de uma
força já existente.
A compreensão dessas forças, a identificação da melhor forma de
atuação, bem como a decisão de alterá-las, são as bases da prospectiva estratégica.
Esta utiliza, como ferramenta de visualização de futuro, a técnica de construção de
cenários. O propósito, segundo Glenn (1994, p. 5), “é entender o conjunto de
decisões estratégicas que maximizam o benefício em face das incertezas e
mudanças impostas pelo ambiente externo”.
Börjeson et al. (2005, p. 20) utilizam a nomenclatura de cenários
estratégicos como aqueles que incorporam medidas políticas, com o propósito de
avaliar as possíveis conseqüências das decisões estratégicas. “O objetivo é
identificar variáveis-chave, testar políticas e avaliar seus impactos nessas
variáveis”, pontuam.
A construção do futuro, com base na análise dos cenários estratégicos,
está pautada na escolha de um cenário futuro, desejado e exeqüível, chamado de
cenário normativo. Segundo Buarque (2003, p. 23), o cenário normativo
representa um futuro desejado. No entanto, o autor argumenta que,
3
após um quarto de século de reflexões e estudos prospectivos sobre os
territórios, as empresas e os grandes desafios das sociedades
modernas, chegamos a uma constatação bem conhecida e, no entanto,
geralmente ignorada: são sempre os homens e as organizações que
fazem a diferença.
1.2 OBJETIVOS
4
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
5
• As previsões são incompletas, pois não incluem fatos que ainda não
ocorreram.
• O planejamento deve ser dinâmico. Como as previsões são imprecisas
e incompletas, qualquer planejamento de médio prazo deve ser revisto em função
de novos acontecimentos.
• O dinamismo do planejamento implica a necessidade de uma constante
avaliação das possibilidades de futuro.
• As conseqüências de certos eventos podem parecer de pouca
importância, porém, em razão do inter-relacionamento com outros eventos, podem
tornar-se fatores dominantes.
• As previsões de certos valores embutem em maior ou menor grau as
crenças das pessoas, afetando tanto a pergunta quanto a resposta.
• A precisão em sistemas complexos e não-lineares pode ser impossível.
• A visualização do futuro pode alterá-lo. A identificação de uma
possível ameaça ou oportunidade gera ações que podem alterar o futuro, anulando
a ameaça ou ampliando a oportunidade.
No referido artigo, são analisados 25 métodos de prospecção de futuro.
Cada um deles pode ser usado individualmente; contudo, “o uso dos métodos
combinados sempre fornece eficiência e gera previsões mais robustas” (GORDON
& GLENN, 2004, p. 108).
A combinação de métodos proposta nesta tese vai além das sugeridas
pelos dois autores; estes se referem apenas aos métodos de prospecção de futuro,
não incluindo a análise das interações estratégicas dos atores. O exame foi
viabilizado com a definição de um nível de referência em relação ao qual é
possível avaliar a margem de negociação dos atores envolvidos. Tal nível de
referência é o cenário com maior probabilidade de ocorrer. Assim, este cenário
será chamado de cenário mais provável.
O emprego de simulação com ocorrência condicional de eventos para a
identificação das variáveis-chave na construção do futuro é outro ponto que
agrega valor ao processo. Em situações reais, dificilmente haverá tempo e
recursos disponíveis para uma atuação exaustiva sobre todos os pontos que podem
6
levar ao futuro normativo. A simulação mostra os pontos de maior impacto e a
melhor seqüência de atuação.
A última ressalva apresentada por Gordon & Glenn (2004, p. 108), de
que “a previsão do futuro altera o futuro”, é utilizada como linha-mestra em toda a
metodologia. O propósito não é acertar na previsão do futuro, e sim prospectar o
futuro no sentido de auxiliar a tomada de decisão, com vistas a reduzir ou
neutralizar as ameaças e aproveitar e ampliar as oportunidades.
O outro ponto em que a metodologia proposta extrapola os métodos
citados é quanto ao dinamismo do planejamento. O monitoramento de fatos
relevantes pode sinalizar desvios em relação ao futuro vislumbrado. Este ponto
considera que a construção do futuro não se resume a um plano; é um processo
que deve ser continuamente monitorado e gerido.
O planejamento estratégico da organização deve ser baseado no futuro
mais provável; contudo, o esforço de construção de futuro é normativo. Este é
outro ponto em que a proposta apresentada ultrapassa os métodos tradicionais. As
ações de planejamento estratégico são orientadas pelo cenário mais provável,
aquele que possui a maior probabilidade de ocorrência. Os esforços de construção
do futuro, por outro lado, são orientados para o cenário normativo. As diferenças
entre os dois cenários indicam as rupturas de tendências que serão necessárias
para construir o futuro.
O dinamismo do planejamento estratégico fica evidente nesse processo
de construção do futuro, pois, caso a organização obtenha sucesso em seus
esforços, o cenário mais provável converge para o cenário normativo. O
planejamento estratégico, que está centrado no cenário mais provável, deve
acompanhar a mudança.
O monitoramento constante e a simulação de futuros podem indicar,
ainda, uma divergência entre o cenário mais provável e o cenário normativo,
ocasionada por quebras de tendências não previstas inicialmente. Tal situação
indica a necessidade de uma revisão detalhada das premissas utilizadas na geração
dos cenários e das informações de interações estratégicas.
A modelagem matemática desenvolvida pelo autor da tese, e a
implementação das soluções de programação, culminaram com o aperfeiçoamento
7
do software Puma e o desenvolvimento de um software inovador, o Lince. Este
último foi utilizado no Projeto “Brasil 3 Tempos”. Segundo o Núcleo de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República (2005, p. 19), “os softwares disponíveis
no mercado mundial não permitiam a geração de uma família de cenários
prospectivos com a amplitude requerida” e não havia disponibilidade, no mesmo
mercado, de “processos de modelagem de cenários prospectivos que
considerassem a identificação, a priorização e a mensuração de eventos com
características especiais”.
8
O segundo passo, chamado de “diagnóstico estratégico”, confronta as
características do sistema com as do ambiente em que ele está inserido. O
resultado é um conjunto de medidas com foco no presente, além de um conjunto
de questões estratégicas com foco no futuro. As questões estratégicas,
transformadas em variáveis binárias, são chamadas de “eventos” e formam os
ingredientes básicos para a geração do mapa de cenários prospectivos.
Dando continuidade, o terceiro passo, chamado de “análise prospectiva”,
integra o mapa de cenários, e as possíveis interações estratégicas dos atores
principais. Nesse passo, identifica-se o cenário mais provável e seleciona-se um
cenário normativo. Para cada um deles, é determinado um conjunto de medidas –
no primeiro caso, para o aproveitamento das oportunidades e a proteção contra as
ameaças e, no segundo, para aumentar a probabilidade de ocorrência do cenário
normativo.
O quarto passo consiste em confrontar o conjunto de medidas
identificadas nos passos anteriores com os valores que permeiam a organização,
além de uma análise da adequabilidade e da exeqüibilidade das medidas.
O quinto e último passo é o monitoramento de fatos relevantes que
podem ratificar ou retificar as decisões estratégicas.
O Capítulo 5 apresenta dois softwares que foram desenvolvidos para a
aplicação da metodologia. O primeiro, chamado de Puma,1 está focado no
planejamento estratégico com base no cenário mais provável, ao passo que o
segundo, chamado de Lince, está focado no cenário normativo. A origem do Puma
está nos estudos de prospectiva, efetuados por Raul Grumbach, que criou o
método Grumbach. Já o Lince foi desenvolvido quando da solicitação do Núcleo
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República para a geração de um
software que integrasse os conceitos de cenários prospectivos e interações
estratégicas, a ser empregado no Projeto “Brasil 3 Tempos”.
Os trabalhos de pesquisa para o desenvolvimento do Lince mostraram a
necessidade de alterações em alguns algoritmos utilizados no Puma; contudo, os
dois softwares, por razões diversas, estão referidos ao método Grumbach.
1
Os softwares Puma e Lince são comercializados pela Brainstorming Ltda.
9
O Capítulo 6 apresenta duas aplicações da metodologia. A primeira é o
Projeto “Brasil 3 Tempos”, do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República (NAE), sendo que, para evitar a publicação de possíveis dados
confidenciais, estão citados apenas aqueles que foram publicados na Internet. A
segunda é um projeto de planejamento estratégico para a região de Visconde de
Mauá.
Os dois casos apresentam similaridades no que concerne à análise das
interações estratégicas do atores principais. No Projeto “Brasil 3 Tempos”, a
análise da vontade política dos principais atores envolvidos na condução de
políticas de Estado é o fator principal da efetividade das mesmas.
O caso de Visconde de Mauá é similar. A região engloba a chamada
Microbacia do Alto Rio Preto, que está situada nos estados do Rio de Janeiro e de
Minas Gerais, em três municípios: Resende, Itatiaia e Bocaina de Minas, sendo
que a maior parte da região está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da
Mantiqueira, sob a supervisão do governo federal.
O Capítulo 7 apresenta as conclusões relativas à presente tese, mostrando
que o emprego conjunto dos conceitos de planejamento estratégico, cenários
prospectivos e interações estratégicas são ferramentas valiosas para a construção
do futuro de qualquer tipo de organização.
O Capítulo 8 apresenta sugestões de pesquisa que podem contribuir para
o aperfeiçoamento da metodologia e dos respectivos softwares.
O Capítulo 9 apresenta as referências bibliográficas citadas no texto.
Para encerrar, os Anexos 1 e 2 apresentam os textos submetidos à
consulta Delphi, o primeiro dentro do projeto Brasil 3 Tempos, e o segundo dentro
do projeto Mauatur.
10
O futuro não é somente o que pode acontecer, ou
aquilo que tem as maiores chances de suceder. Ele
é, também, em uma proporção que não pára de
crescer, aquilo que nós gostaríamos que ele fosse.
Prever uma catástrofe é condicional, pois significa
prever algo que aconteceria se nada fosse feito
para alterar o curso das coisas, e não aquilo que
acontecerá de qualquer maneira.
11
essencialmente técnico, decorrem de um tratamento racional das probabilidades e
procuram intencionalmente excluir as vontades e os desejos dos formuladores no
desenho e na descrição dos futuros”.
O propósito dos cenários exploratórios é identificar o sentido em que
caminha o ambiente, fornecendo suporte para a tomada de decisão, no presente,
em face dos futuros possíveis. Os cenários podem, ainda, ter dois tipos de
abordagem: projetiva ou prospectiva.
Os cenários projetivos são obtidos pela extrapolação dos fatos passados e
consideram que as forças que moldaram o passado e construíram o presente
continuarão a atuar e modelar o futuro.
Os cenários prospectivos, por outro lado, ampliam as possibilidades do
futuro, analisam diversas tendências e consideram que o futuro pode ser
completamente diferente do passado.
Para Börjeson et al. (2005), o cenário projetivo mostra o que irá ocorrer,
o cenário prospectivo expõe o que pode ocorrer, enquanto o cenário normativo
indica como atingir um objetivo específico.
O cenário normativo representa um futuro desejado, mas não
necessariamente o ideal. Conforme argumenta Buarque (2003, p. 23), o cenário
normativo deve ser exeqüível, sua descrição “deve ser plausível e viável e não
apenas a representação de uma vontade ou de uma esperança”. Argumenta ainda o
referido autor que, “desse ponto de vista, pode-se dizer que o cenário normativo
ou desejado é uma utopia plausível, capaz de ser efetivamente construída e,
portanto, demonstrada – técnica e logicamente – como viável”.
Ainda segundo Buarque (ibidem), o cenário normativo “pode exercer um
papel importante na orientação das ações dos atores para intervir e transformar o
futuro provável no desejado, expressando o espaço da construção da liberdade
dentro das circunstâncias”.
Godet (2000b, p. 4) considera o cenário normativo dentro de uma
abordagem de prospectiva estratégica, enfatizando a importância do planejamento
de longo prazo e de pensamentos alternativos no processo de tomada de decisão.
Segundo o autor, a prospectiva estratégica “não é somente uma abordagem
exploratória (antecipação estratégica), mas também uma abordagem normativa”.
12
Cristo (2002, p. 1) apresenta a prospectiva estratégica como uma
ferramenta apoiada em “técnicas específicas, como o Delphi, a construção de
cenários, a matriz de impactos cruzados e outras, possibilitando ‘visões de futuro’
que permitirão a elaboração de políticas públicas visando à construção de um
futuro desejável”.
Por sua vez, Godet et al. (2000a, p. 28) salientam que o método de
cenários, tal como concebido há mais de trinta anos, tem o grande mérito de impor
rigor intelectual e integrar os conceitos de “análise qualitativa e quantitativa das
tendências passadas; análise retrospectiva; análise dos jogos de atores;
evidenciando os germes da mudança, das tensões e dos conflitos, e, por fim,
construção de cenários coerentes e completos”. O referido autor (GODET,
2000b), por outro lado, enfatiza que existe uma distinção importante a ser feita
entre os cenários e a estratégia dos atores.
O objetivo principal desta tese é desenvolver uma metodologia de
identificação de um cenário normativo aceitável e exeqüível. O propósito é a
construção do futuro, transformando este cenário em uma realidade.
A construção do futuro exige ações de naturezas diversas, que podem ser
divididas em duas dimensões: a primeira, relacionada com a vontade política,
envolve os atores2 que podem influenciar o processo; a segunda diz respeito aos
recursos econômicos e tecnológicos, entre outros, bem como ao tempo disponível.
2
O conceito de atores segue a definição de Hatem (1993, apud Perestelo, 1999, p. 6), referindo-se
a um “grupo de indivíduos organizados, com certo número de projetos em comum, dispondo de
capacidades de reação comum, cujos objetivos estão ligados a esses projetos”. Sua principal
característica é a homogeneidade.
13
um determinado ator, interage com as decisões adotadas pelos demais, mesmo que
tomadas separadamente.
Segundo Huxham & MacDonald (1992), esta é uma situação de “conflito
parcial, e não antagonismo total, em que ameaças mútuas, trapaças e blefe
convivem com uma atitude cooperativa em busca de vantagem colaborativa”. Para
Lex & Sebenius (1986, apud BENNETT & TAIT, 1993, p. 2), “quando os
objetivos divergem parcialmente, conflito e cooperação são inseparáveis”.
Em um contexto de interação estratégica, a percepção dos atores com
relação ao futuro determina os objetivos individuais, e estes podem alterar o
próprio futuro. A percepção do futuro direciona os atores, conforme Berger (2004,
p. 315) afirma: “A prospectiva deve se dedicar a uma análise em profundidade,
pesquisando os fatores verdadeiramente determinantes e as tendências que levam
os homens a certas direções, direções que não são sempre bem percebidas”.
A prospectiva estratégica considera que os futuros possíveis são
múltiplos e incertos (GODET, 2000b); todavia, o futuro real é visto como único,
assim como é o presente e como foi o passado, o que leva à conclusão de que
exista um futuro mais provável. A previsão do futuro, por outro lado, segundo
Godet et al. (2000a), deve ser vista como uma impostura, pois o futuro ainda não
existe, sendo necessário construí-lo.
O esforço de construção do futuro, olhado do ponto de vista individual de
cada ator, será no sentido de construir seu cenário ideal. Todavia, alguns atores se
equivocam em acreditar que o futuro ideal será o futuro real. Esta abordagem
restringe a margem de negociação, não abrindo espaço para a construção de
valores. A construção de futuro tende a caminhar para um jogo de soma zero, no
qual o que um ator ganha o outro perde.
O futuro real não existe, está em construção; todavia, a prospectiva pode
indicar o mais provável de ocorrer. A percepção do futuro mais provável abre
espaço para a construção de um futuro melhor. A solução ótima, do ponto de vista
individual de cada ator, continuará a ser a transformação de seu futuro ideal no
mais provável. Contudo, o futuro real será único e, como os objetivos dos atores
nem sempre são convergentes, o conflito caminha para uma situação de interações
estratégicas, como definido por Bennett & Tait (1993) e apresentado no início
14
desta seção.
A distância entre o futuro mais provável e o futuro ideal abre espaço para
negociações. O confronto entre ambos deve determinar a margem de negociação
de cada ator, conforme é possível visualizar na Figura 4.5. Essa margem fica mais
restritiva à medida que esses futuros se aproximam, podendo chegar a zero
quando a percepção do futuro mais provável coincide com o próprio futuro ideal.
A construção do futuro, do ponto de vista de interações estratégicas, não será
transformar o futuro ideal de nenhum ator no mais provável, mas construir um
futuro melhor, aceitável e exeqüível. Esse futuro, chamado de “normativo”,
deverá situar-se entre o ideal e o mais provável.
O futuro, por outro lado, será um equilíbrio de forças, assim como é o
presente e como foi o passado. Esse equilíbrio, segundo o European Committee
for Social Cohesion (2004), não é estático, e muda constantemente de ponto a
ponto para se adaptar às mudanças do ambiente social e econômico, da tecnologia
e dos sistemas políticos nacionais e internacionais A construção do futuro,
olhando sob esse prisma, consiste em alterar o equilíbrio de forças do ponto mais
provável para o ponto normativo.
A metodologia proposta identifica dois possíveis pontos de equilíbrio. O
primeiro, correspondendo ao cenário mais provável, é definido como um ponto de
equilíbrio não-cooperativo. O segundo, correspondendo ao cenário normativo, é
definido por Marini & Currarini (2002) como um ponto de equilíbrio cooperativo
conjuntural.
A cooperação entre atores cria uma coalizão, “um superator”, capaz de
alterar o equilíbrio de forças, quebrar tendências e conduzir o processo de
construção do futuro. Esta, portanto, deve ser vista como uma parceria estratégica
de atores, cujo propósito é construir um futuro melhor.
Segundo Wood et al. (apud CANEN & CANEN, 2005), são 12 caminhos
que devem ser trilhados para parcerias estratégicas de sucesso, com destaque para
os seguintes:
• A parceria deve envolver os atores no processo, uma vez que são os
atores que fazem as parcerias.
• Todos os atores devem ter a mesma expectativa em relação aos
15
resultados da parceria, neste caso o cenário normativo.
• Deve haver um clima de interesse e confiança mútua.
• Cada parceiro deve obter alguma vantagem. O benefício mútuo é vital,
significando que todos devem desistir de algo.
• Deve haver o reconhecimento de que problemas são inevitáveis, o que
implica a necessidade de flexibilidade.
O ponto fraco em equilíbrios cooperativos é a deserção. A negociação da
coalizão deve criar condições que evitem deserções, que, em geral, ocorrem no
último instante, visando maximizar o lucro do desertor.
Segundo o Naval War College (2006), três condições são fundamentais
para evitar deserções:
• O final deve ser mantido em aberto, sem que haja uma última rodada de
negociações. Ainda que seja possível resolver o assunto atual, haverá mais
assuntos envolvendo os parceiros no futuro.
• As vantagens futuras, frutos de uma cooperação contínua, devem ser
suficientemente elevadas para compensar a gratificação imediata da deserção.
• Não deve haver comparação de ganhos. A vantagem obtida com uma
parceria não está diretamente relacionada com ganhos ou perdas dos outros
parceiros.
O ganho para cada parceiro da coalizão pode ser obtido de duas formas:
(i) pelo aumento dos recursos da coalizão, ou (ii) pela utilização de valores
assimétricos. O primeiro é obtido pela melhoria no compartilhamento dos
recursos, ao passo que o segundo está relacionado à assimetria de valores.
A existência de valores assimétricos em uma negociação significa que
um participante pode conceder num tema de pouca importância para ele, em troca
de uma concessão em outro tema que ele tem em alta conta.
Os valores assimétricos são obtidos pelo cálculo do valor do cenário
como um todo, conforme será mostrado no Capítulo 4. A negociação das parcerias
estratégicas deve estar focada no cenário, evitando a negociação de cada questão
estratégica em separado.
A existência de vontade política é o fator fundamental para a construção
16
de um futuro melhor; todavia, não é suficiente. A vontade deve gerar ações, e,
estas, exigem recursos.
17
os eventos sobre os quais recairá o esforço principal da coalizão. A seleção dos
eventos prioritários deve recair sobre aqueles que podem transformar o futuro
normativo no mais provável, desde que a coalizão reúna os recursos necessários
para alterar sua probabilidade de ocorrência.
18
Figura 2.1 – Cenários – Abordagem projetiva
A abordagem prospectiva, por outro lado, considera que, além das forças
que modelaram o passado, poderão surgir outras forças que desempenharão papel
relevante na definição do futuro.
A incerteza em relação à intensidade e ao sentido dessas forças faz com
que a melhor representação do futuro seja um cone, conforme mostrado na Figura
2.2. O vértice do cone está colocado no presente, pois a descrição de um cenário
deverá manter conexão com o presente, identificando o caminho pelo qual o
futuro será derivado do presente (GLENN, 1994).
O centro da base do cone representa o cenário mais provável, e foi
escolhido porque apresenta maior probabilidade de permanecer dentro do cone,
em caso de variação das forças atuantes. O cenário mais provável, portanto, não é
o cenário previsto, mas sim o cenário com maior probabilidade de ocorrer no
futuro, dentro de um grande número de cenários possíveis. O cenário mais
provável, em muitos casos, pode não coincidir com o cenário de tendência,
conforme visto na Figura 2.2.
19
Adaptado de Glenn, 1994.
Figura 2.2 – Cenários – Abordagem prospectiva
20
2.4 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE
21
Adaptado de Börjeson et al. (2005, p. 14)
Figura 2.4 – Cenário normativo
22
Figura 2.6 – Construção de futuro – Abordagem prospectiva
23
3. REFERENCIAL TEÓRICO
24
Segundo Bernstein (1997), foi em 1494 que Luca Pacioli propôs o
chamado “problema dos pontos”, cujo propósito era definir uma metodologia para
dividir o prêmio de um jogo encerrado antes do fim. O problema somente foi
resolvido 150 anos depois, pelos franceses Blaise Pascal e Pierre de Fermat, que,
ao apresentarem a solução, criaram as bases do que hoje chamamos de estudo de
probabilidades.
No século seguinte, o suíço Daniel Bernoulli incorporou o conceito de
risco associado à probabilidade. Bernoulli não se concentrou nos eventos em si,
mas nos seres humanos, que desejam ou temem certos resultados em maior ou
menor grau.
O século XIX viu surgirem outros estudiosos que continuaram o
desenvolvimento dos modelos matemáticos. Carl Friedrich Gauss aplicou seus
estudos geodésicos e astronômicos à distribuição normal, e Francis Galton
formulou o conceito de regressão à média, ao estudar várias gerações de ervilhas.
O avanço no estudo de modelos matemáticos criou a expectativa de que o
futuro pudesse ser descrito pela extrapolação do passado. Todavia, segundo
Ansoff & McDonnel (1993, p. 87), “as incertezas do século XX mostraram que
métodos de previsão com base em extrapolações são inadequados e incorretos
para ambientes turbulentos e em rápida evolução”. Para Cristo (2002, p. 2), os
modelos de prospecção do futuro baseados em tendências passadas somente são
válidos para ciclos evolutivos lentos, com mudanças tecnológicas distantes
cronologicamente. Ainda segundo o autor (op. cit., p. 2), no século XX “as
tecnologias de informação e de comunicação tornam os ciclos muito curtos e a
previsão do futuro incerta”. O futuro deixou de ser previsto, passando a ser
provável.
Voltando a Ansoff & McDonnel (op. cit., p. 87), no século XX foram
desenvolvidas outras técnicas de modelagem para identificar tendências,
variáveis, ou eventos futuros significativos, com o propósito de levar “à
construção de um modelo da realidade que pudesse ser manipulado pelo
planejador, para produzir futuros diferentes mediante a alteração de entradas e
relações entre variáveis dentro do modelo”.
Cristo (op. cit., p. 2) argumenta que a elevada capacidade de destruição
25
adquirida pela humanidade, demonstrada em duas guerras mundiais e
principalmente durante a guerra fria, obrigou o desenvolvimento de instrumentos
de planejamento menos determinísticos e mais probabilísticos, com o propósito de
evitar catástrofes.
O início do século XXI – com uma sucessão de ataques terroristas,
guerras, epidemias, novas tecnologias e mudanças geopolíticas – mostra que as
incertezas do futuro estão cada vez mais presentes.
Conforme Cristo (ibidem), “lidar com esta incerteza e reduzi-la,
antecipando os processos de ruptura, ou de inovação, é o objetivo principal dos
estudos de prospectiva”, sendo que esta não é uma previsão, e sim uma “vigília
permanente em direção ao futuro”.
As técnicas de prospecção de futuro, segundo Makridakis et al. (1983),
são divididas em métodos quantitativos e qualitativos.
Os métodos quantitativos são aplicados quando: (i) existe informação
suficiente sobre o passado, (ii) a informação pode ser quantificada em forma de
dados numéricos, e (iii) pode-se assumir que alguns aspectos dos padrões do
passado continuarão no futuro. Esta última condição, chamada de “pressuposto da
continuidade”, aparece em todos os modelos quantitativos e em alguns modelos
qualitativos (MAKRIDAKIS et al., 1983).
De acordo com os referidos autores, os métodos qualitativos, por outro
lado, não necessitam de informações do passado, pois podem ser aplicados com
reduzida quantidade de dados numéricos, requerendo, contudo, um razoável nível
de conhecimento sobre o assunto em análise.
Os métodos qualitativos são subdivididos em exploratórios e normativos
(MAKRIDAKIS et al., 1983; GODET et al., 2000a). Os métodos exploratórios
utilizam como pontos de partida fatos passados e presentes, e movem-se para o
futuro, analisando todas as possibilidades decorrentes. Os métodos normativos,
por outro lado, começam no futuro, pela determinação dos objetivos e metas;
então, olham para o presente para identificar como alcançá-los, em função das
restrições, dos recursos e das tecnologias disponíveis (Makridakis et al., 1983).
Gordon & Glenn (2004) identificam 25 métodos de prospecção, cujo
propósito é “sistematicamente explorar, criar e testar tanto os futuros possíveis
26
quanto os desejados, a fim de melhorar a tomada de decisão” (GLEEN, 1994,
p. 4).
Os métodos são analisados quanto aos aspectos quantitativos,
qualitativos, normativos e exploratórios. Dos modelos listados, apenas cenários e
índices de estados de futuro são indicados quando os quatro aspectos estão
presentes simultaneamente, o que ocorre em um processo de construção de futuro.
27
livro somente chegou ao Ocidente no século XVIII, e teve influência marcante
sobre diversos autores do final do século XX, em especial os da chamada escola
do posicionamento.
As bases conceituais de estratégia militar foram estabelecidas no século
XIX por Antoine Henri-Jomini e Karl von Clausewitz, e transpostas para o mundo
dos negócios na segunda metade do século XX, com os mesmos conceitos e
terminologia (SHIMIZU et al., 2006).
O principal evento que motivou as empresas a utilizarem os conceitos de
estratégia no campo empresarial foi, segundo Ghemawat (2002), a Segunda
Revolução Industrial, que introduziu o conceito de distribuição em larga escala
associado ao emprego de grandes volumes de capital. Os conglomerados
industriais, surgidos nesse período, adquiriram uma enorme capacidade de
influência mútua, fazendo com que decisões tomadas por uns influíssem no
desempenho de outros.
Segundo Ansoff & McDonnel (1993), até a década de 1950, as grandes
mudanças no ambiente empresarial foram provocadas por empresas pioneiras e
agressivas, que determinaram o ritmo do progresso. Essas empresas, com razão,
acreditavam que controlavam o próprio negócio.
A partir de 1950, houve a transição de um mundo familiar e previsível,
em termos de produção e marketing, para outro, desconhecido, com níveis
crescentes de mudanças em tecnologia, concorrência, consumo e controle social.
O mundo globalizado levou a um questionamento sobre o papel da empresa na
sociedade, com a aceleração e a acumulação de eventos que começaram a alterar
as fronteiras, a estrutura e a dinâmica do ambiente empresarial.
Ghemawat (2002) atribui a Alfred Sloan a introdução dos conceitos de
estratégia no mundo corporativo, sendo que, para esse executivo da General
Motors, a estratégia baseia-se na percepção da força e da fraqueza de seus
competidores.
Segundo Terence (2002), a primeira publicação influente sobre
estratégia, aplicada à atividade empresarial, foi o livro Corporate Strategy, de Igor
Ansoff, em 1977, e, desde então, o tema vem sendo explorado de forma crescente
tanto no campo acadêmico como no empresarial.
28
Conforme Ansoff & McDonnel (1993), a estratégia deve ser vista como
“um conjunto de regras de tomada de decisão para orientação do comportamento
de uma organização”.
Camargo & Dias (2003, p. 29) enfatizam que as palavras-chave
relacionadas à estratégia empresarial são “mudanças, competitividade,
desempenho, posicionamento, missão, objetivos, resultados, integração e
adequação organizacional”.
Oliveira (2001, apud PEREIRA, 2002) sintetiza as principais
características de um planejamento estratégico, enfatizando sua relação com o
futuro. Segundo o autor, o planejamento estratégico
• está relacionado às implicações futuras de decisões presentes;
• é um processo composto de ações inter-relacionadas e interdependentes
visando alcançar objetivos previamente estabelecidos;
• pode agregar mais valor do que seu produto final;
• necessita de uma visualização do futuro;
• avalia as ações alternativas em relação aos estados futuros;
• escolhe ações alternativas.
Para Pereira (2002), o planejamento tem um caráter abrangente, holístico
e temporal, sendo que esse último aspecto está relacionado ao horizonte temporal
para o qual o planejamento será válido.
O planejamento estratégico, segundo os autores citados, necessita,
portanto, de uma visão de futuro que ilumine os caminhos e oriente a tomada de
decisão.
29
desenvolvimento da estratégia militar do início do século XIX, com os militares
prussianos von Clausewitz e von Moltke.
A utilização sistemática de técnicas de cenários prospectivos, segundo
Buarque (2003), se deu entre os militares dos Estados Unidos durante a Segunda
Guerra Mundial, como um mecanismo de apoio à formulação de estratégias
bélicas. Porém, as modernas técnicas de análise prospectiva, conforme os escritos
de Börjeson et al. (2005), seguiram caminhos diferentes nos Estados Unidos e na
Europa. A tradição européia continha elementos democráticos e uma ambição de
mudanças radicais na sociedade. Nos Estados Unidos, por outro lado, a tradição
de previsão na área tecnológica, iniciada na Segunda Guerra Mundial, prosseguiu
no pós-guerra.
Glenn (1994) argumenta que o surgimento dos computadores, no final da
década de 1940, propiciou um terreno fértil para o desenvolvimento da técnica de
construção de cenários. Na década de 1950, Herman Kahn, da Rand Corporation,
começou a desenvolver cenários para o sistema de defesa dos Estados Unidos.
Seguindo a narrativa de Börjeson et al. (2005), o Departamento de Defesa dos
Estados Unidos estava com um problema complexo de tomada de decisão para o
desenvolvimento de novos armamentos. A origem da questão se situava na
complexidade dos novos sistemas de armas, no longo tempo necessário para o seu
desenvolvimento, na incerteza quanto à sua eficácia e quanto ao real inimigo a ser
combatido.
Desse modo, os estudos de novas ferramentas para auxiliar o processo de
tomada de decisão culminaram em duas metodologias distintas. A primeira,
destinada a compilar a opinião de um grande grupo de peritos, deu origem ao
método Delphi. A segunda, um modelo de simulação para analisar as
conseqüências da implementação de políticas alternativas, deu origem a uma das
técnicas de construção de cenários prospectivos (BRADFIELD, 2004).
Segundo Cornish (1977, apud BÖRJESON et al., 2005), os
conhecimentos obtidos na área militar foram transferidos para outras áreas quando
o projeto RAND (Research And Development) se transformou na Rand
Corporation, e seu propósito mudou de estudos alternativos de armas para estudos
exploratórios de políticas nacionais.
30
Na Europa, no mesmo período, surgiu o conceito de prospectiva.
Segundo Marcial & Grumbach (2004), a palavra foi usada pela primeira vez por
Gaston Berger com o propósito de fazer oposição à palavra “retrospectiva”. De
acordo com Berger (2004, p. 313), prospectiva, “formada da mesma maneira que
retrospectiva, a ela se opõe, pois olhamos para frente e não para trás. Um estudo
retrospectivo examina o passado, enquanto uma pesquisa prospectiva se dedica a
estudar o futuro”. No mesmo artigo, Berger enfatiza a necessidade de uma atitude
prospectiva:
31
que despertou o interesse empresarial em modelagem de cenários. Esse estudo
concluiu que o crescimento contínuo do setor petrolífero não iria além de 1985, o
que, de certa forma, antecipou a enorme flutuação dos preços do petróleo na crise
de 1973 (GLENN, 1994).
No mesmo período, surgiram os estudos de planejamento normativo, que,
segundo Börjeson et al. (2005, p. 7), consistiram numa “resposta à demanda por
estudos de futuro abordando situações em que um ator queria investigar como
certos objetivos poderiam ser atingidos, mesmo que os métodos de previsão
indicassem que o objetivo não poderia ser atingido”.
Na década de 1980, o francês Michael Godet, dando seguimento à
tradição iniciada por Gaston Berger, formalizou no livro Cenários e a
administração estratégica a metodologia francesa de prospectiva (MARCIAL &
GRUMBACH, 2004).
Bradfield (2004) divide as metodologias de construção de cenários em
três escolas básicas: (i) a escola de lógica intuitiva, cujas bases foram os estudos
de Pierre Wack, em 1967, para a Shell; (ii) a escola probabilística, cujas bases são
os trabalhos de Gordon & Helmer, na Rand Corporation, na década de 1950, e
que incorpora os modelos de análise de impacto de tendências e análise de
impactos cruzados; e (iii) a escola francesa, que teve início com os trabalhos de
Gaston Berger na década de 1950, sendo largamente ampliada com os trabalhos
de Michael Godet, a partir de 1970.
No Brasil, segundo Buarque (2003), as primeiras empresas a adotarem a
prática de construção e utilização de cenários foram o BNDES, a Eletrobrás, a
Petrobras e a Eletronorte, na década de 1980. O documento “Cenário para a
economia brasileira”, do BNDES, pode ser considerado um dos primeiros
experimentos nessa área (COSTA, 2004).
Em 1987, foi elaborado pelo BNDES o cenário da Integração
Competitiva, concluindo que o país estava bem preparado para competir
internacionalmente, desde que fossem resolvidas algumas condições relativas à
competitividade da indústria. Este cenário inspirou a abertura econômica
posterior. Outros estudos importantes realizados no Brasil foram: CNPq em 1989,
Finep em 1992, Seplan-PR, com o Projeto Aridas em 1994, e IPEA em 1997, com
32
o estudo “O Brasil na virada do século: trajetória do crescimento e desafios do
desenvolvimento” (BUARQUE, 2003).
Um dos pioneiros no emprego de métodos da escola probabilística de
construção de cenários, no Brasil, foi Raul Grumbach, que em 1997 escreveu
Prospectiva: a chave para o planejamento estratégico, no qual apresenta os
conceitos de forma consolidada. A metodologia de Grumbach foi informatizada
no software Puma e tem sido usada em diversos estudos desde então.
No âmbito do governo federal, dois estudos de cenários prospectivos,
conduzidos como bases para o planejamento de longo prazo, merecem destaque
por sua relevância e igual profundidade.
A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da
República realizou, em 1997, um estudo de cenários exploratórios para o Brasil
com horizonte temporal em 2020. O trabalho foi ampliado no ano seguinte com o
levantamento dos cenários desejados para o Brasil. O projeto “Brasil 2020”
consistiu num estudo de cenários normativos abordando os aspectos “econômico,
ambiental, social, de informação e conhecimento e político-institucional,
caracterizando situações factíveis (ainda que desafiantes) se as medidas
necessárias forem implementadas no horizonte temporal estipulado”
(MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 1997, p. 1).
Dessa forma, segundo a mesma fonte, o projeto tinha uma dimensão
estratégica com o sentido normativo de direcionar os atores influentes nos
processos de decisão voltados a uma postura proativa em relação aos objetivos a
serem alcançados no futuro.
O Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (NAE,
2004) iniciou o estudo “Brasil 3 Tempos” com objetivos semelhantes; todavia,
direcionou esforços não somente para a definição do cenário normativo, mas
também para a interação estratégica entre os atores, de forma a possibilitar a
construção de um futuro negociado. O estudo “Brasil 3 Tempos” está apresentado
no Capítulo 6.
Passados quase dez anos da conclusão do Projeto “Brasil 2020”, é
possível concluir que um bom cenário normativo não garante sua implementação.
Mesmo em projetos dessa magnitude, a tendência de cada ator é manter o foco em
33
seu cenário ideal, restringindo as margens de negociação. A execução de um
planejamento de longo prazo passa necessariamente por um convencimento
político, e a construção do futuro depende de interações estratégicas negociadas.
34
Segundo Walke (2006), uma das primeiras aplicações pode ser
encontrada no Talmud, uma compilação de leis e tradições judaicas, escrito por
volta de 500 a.C. O Talmud, aparentemente, fornece recomendações contraditórias
para o chamado problema do contrato de casamento.
O caso apresentado é o de um homem casado com três esposas, cujo
contrato de casamento estabelece que, em caso de morte, cada esposa receberá
100, 200 e 300, respectivamente, e cuja herança seja inferior a 600. O Talmud
recomenda que, caso o homem deixe apenas 100, a herança seja dividida
igualmente entre as três esposas. Caso a herança seja de 200, a divisão deverá ser
50, 75, 75, e, caso a herança seja de 300, a divisão deverá ser 50, 100, 150.
Durante mais de 2.500 anos, as recomendações foram encaradas como um
mistério; porém, em 1985, Aumann & Maschler (1985) provaram que a solução
apresentada pelo Talmud é uma antecipação da moderna teoria de jogos
cooperativos. Cada solução corresponde ao núcleo de um jogo definido
apropriadamente, e a solução está coerente com a teoria apresentada por John C.
Harsanyi.
Segundo Fiani (2004), o estudo formal da teoria dos jogos está contido
no trabalho do húngaro Jonh von Neumann (Zur Theorie der Gesellschaftsspiele),
publicado em 1928. No referido estudo, demonstrou-se que a solução de jogos de
soma zero pode ser determinada por técnicas matemáticas. A continuação do
trabalho de von Newmann somente ocorreu em 1944, quando o autor publicou,
juntamente com Morgenstern, o livro The Theory of Games and Economic
Behavior, no qual analisam os jogos de soma zero e definem um modelo de
representação de jogos em forma extensiva.
A partir de 1950, Jonh F. Nash e Reinhard Selton desenvolveram
ferramentas teóricas que permitiram analisar uma maior variedade de modelos de
interação estratégica. O artigo de Nash, “Non-Cooperative Games”, de 1951,
apresentou uma noção de equilíbrio que não se restringia aos jogos de soma zero.
Esta noção, que ficou conhecida como “Equilíbrio de Nash”, estabelece que “uma
combinação de estratégias constitui um equilíbrio de Nash quando cada estratégia
é a melhor resposta possível às estratégias dos demais jogadores, e isso é verdade
para todos os jogadores” (Fiani, 2004).
35
Segundo Holt & Hoth (2004, p. 4002), a noção de equilíbrio de Nash
“tem sido modificada, generalizada e refinada, mas a análise básica do equilíbrio
tem sido colocada no início (e, algumas vezes, no final) de análises de interações
estratégicas, não somente em economia, mas também em lei, políticas etc.”.
Outras contribuições, citadas pelo mesmo autor, são as de Harsanyi,
Aumann e Shapley, entre os grandes nomes que deram forma à teoria dos jogos.
Ainda segundo Holt & Roth (2004), foram os matemáticos Melvin
Dreshre e Merril Flood que conduziram, na Rand Corparation, um estudo para
demonstrar que o equilíbrio de Nash poderia não ser um bom modelo para a
previsão de comportamento. O estudo, posteriormente transformado no dilema
dos prisioneiros, foi o início de uma modelagem chamada de dilemas sociais.
Hardin (1968) publicou um artigo sobre dilemas sociais, intitulado “A
tragédia dos comuns”. O texto descreve um conflito entre o interesse pessoal e o
interesse do grupo, recorrendo a um antigo exemplo de uso de uma pastagem
coletiva à qual a comunidade local tinha acesso irrestrito. A conclusão, do ponto
de vista de cada ator, era colocar a maior quantidade possível de gado na
pastagem coletiva, mesmo sabendo que, se todos fizessem o mesmo, o pasto
coletivo ficaria exaurido e, portanto, inutilizado.
Os dilemas sociais estudam as situações em que a racionalidade
individual conduz a uma irracionalidade coletiva. Nessas situações, cada
indivíduo recebe uma recompensa maior por não cooperar com os demais;
contudo, se todos os indivíduos fizerem a mesma escolha, o resultado será pior do
que aquele que seria obtido por cooperação coletiva. Segundo Kollock (1998, p.
183), “muitos dos problemas mais desafiadores enfrentados, desde
relacionamentos interpessoais até conflitos internacionais, são enquadrados nesta
categoria”.
No início da década de 1990, a equipe liderada por Michel Godet
desenvolveu o método MACTOR (Matriz de Alianças e Conflitos: Táticas,
Objetivos e Recomendações), cujo objetivo, segundo Godet (2000b), era analisar
a correlação de forças entre atores e estudar suas convergências e divergências
relativamente a certo número de desafios e de objetivo associados, a fim de
auxiliar a implementação de alianças e de conflitos.
36
3.4 PESQUISA POR PALAVRAS-CHAVE
37
A interligação e a complementaridade entre os conceitos são bastante
claras; contudo, o resultado da pesquisa por palavras-chave, mostrado na Tabela
3.1, aponta para um número reduzido de trabalhos e integração. A Tabela 3.2
mostra, ainda, que as teses defendidas no Brasil seguem o mesmo caminho, com
apenas uma tese abordando os três conceitos.
A pesquisa foi direcionada para artigos publicados em inglês e teses
defendidas no Brasil. Para a pesquisa de artigos, foram utilizadas três bases de
dados: Emerald, Proquest, Web of Science. Para teses, foi utilizada a base de
dados da CAPES.
Prospective Scenarios 1 1 8
Strategic Planning 4268 17195 2692
38
Tabela 3.2 – Teses defendidas – Capes
CAPES
Cenários prospectivos. 20
Planejamento estratégico. 106
Interações estratégicas. 12
Cenários prospectivos, planejamento estratégico. 2
Cenários prospectivos, interações estratégicas. 2
Planejamento estratégico, interações estratégicas. 4
Cenários prospectivos, planejamento estratégico, 1
interações estratégicas.
A tabela 3.1 mostra que, nas bases de dados consultadas, não foram
encontrados artigos abordando os três conceitos. Um dos artigos que se aproxima
de uma análise conjunta, Godet et al (1994), apresenta o método MACTOR, sendo
que o mesmo autor argumenta em Godet (2000) que este era o único método
operacional conhecido.
Apenas uma tese trata dos conceitos em uma abordagem conjunta
(Tobias, 2000). O trabalho, “Modelo de planejamento integrado da organização
espacial, do desenvolvimento regional e dos transportes para uma região em
expansão de fronteiras: O caso da região oeste do Pará” aplica os conceitos a um
problema específico, culminando com a elaboração de três alternativas de
cenários: “extrapolação de tendências, inserção regional na economia mundial e
desenvolvimento sustentável”.
A pesquisa por palavras chaves mostrou que uma abordagem conjunta
dos conceitos de planejamento estratégico, cenários prospectivos e interações
estratégicas, permanece como um vasto campo a ser explorado.
39
4. METODOLOGIA
40
Figura 4.1 – Gestão estratégica
41
dimensão política (interações estratégicas) e medidas relacionadas à dimensão
técnica (construção de futuro).
A eficácia das medidas é avaliada pela fase 5, monitoramento. Nessa
fase, verificam-se e analisam-se fatos concretos, cujo propósito é ratificar ou
retificar as medidas adotadas. O monitoramento deve ser visto como um ponto de
realimentação do sistema.
Voltando à fase 3 (análise prospectiva), vislumbramos que ela é
subdividida em cinco etapas:
• Definição das questões estratégicas;
• Construção da matriz de cenários;
• Análise de interações estratégicas;
• Seleção do cenário normativo; e
• Definição das ações.
42
concretos, atuais ou passados, sinalizadores de uma possível realidade que irá se
formar no futuro. No pensamento de Marcial & Grumbach (2004), são “sinais
ínfimos por suas dimensões presentes, mas imensos por suas conseqüências e
potencialidades virtuais”.
A técnica de brainstorming, de acordo com Stenmark (2000), foi
proposta por Alex Osborn, em 1953, no livro Applied Imagination, como uma
metodologia de geração de idéias.
A construção dos cenários prospectivos utiliza variáveis binárias
(variáveis de Bernoulli) para modelar as questões estratégicas. Tais questões,
chamadas de eventos, são definidas como fenômenos que podem ou não ocorrer
no futuro.
As variáveis de Bernoulli, neste caso, podem assumir dois valores
(ocorre ou não ocorre) definidos pelo parâmetro “p”, que representa a
probabilidade de que o evento ocorra (a probabilidade de que o evento não-ocorra
é “1-p”).
Desse ponto em diante, uma questão estratégica será chamada de evento,
sendo definida como uma variável de Bernoulli, que poderá ocorrer, com
probabilidade “p”, ou não ocorrer, com probabilidade “q”, onde q = (1-p).
As questões estratégicas representam variáveis do ambiente, que em
geral são contínuas ou discretas, raramente binárias. A transformação em uma
variável de Bernoulli ocorre na definição do evento, que agregam, além do
comportamento da variável, um nível de referência relativo ao ponto de tomada de
decisão estratégica da organização, conforme mostrado na Figura 4.2.
A organização deverá definir um nível característico para a tomada de
decisão. Tal nível identifica uma ruptura de comportamento estratégico, um
patamar que, uma vez ultrapassado, conduzirá a outro cenário e, portanto, do
ponto de vista da organização, a outro futuro.
Outro dado abordado é o fato de o nível de referência estar pautado na
própria definição de estratégia. Em termos empresariais, segundo Ansoff &
McDonnel (1993, p. 70,) “estratégia é um conjunto de regras de tomada de
decisão para orientação do comportamento de uma organização”. O nível de
referência é o ponto que, uma vez ultrapassado, altera o comportamento da
43
organização. A definição desse nível deve levar em consideração fatores relativos
à natureza do negócio, aos pontos fortes e fracos, concorrentes etc. Como o nível
de referência muda de organização para organização, o mesmo comportamento de
uma variável pode conduzir a cenários diferentes, quando analisado pela ótica de
uma ou de outra organização.
Assim, os eventos podem representar variáveis contínuas ou discretas,
com ou sem indicadores. Todavia, mesmo no caso de eventos associados a
indicadores, não há uma relação direta entre a tendência dos indicadores e a
tendência dos eventos.
A Figura 4.2 ilustra a definição de um evento, para uma mesma variável,
em relação a três níveis de referência possíveis. A figura mostra o comportamento
observado da variável no passado e os comportamentos possíveis no futuro.
44
O evento será descrito pela probabilidade de que a variável ultrapasse o
nível de referência, dentro do horizonte temporal considerado. A probabilidade
“p”, conforme pode ser observada na Figura 4.2, depende do nível de referência.
Se a referência for o nível “a”, a probabilidade será muito baixa; se for o “b”, será
próxima de 50%, e se for o “c”, a probabilidade será muito alta.
A transformação da variável “crescimento econômico” de um país, em
variável de Bernoulli, pode exemplificar o conceito. Uma organização, sediada em
um país com crescimento econômico médio na faixa de 4% ao ano, pode definir o
seu nível de referência nos patamares de 6%, 4%, ou 2%. No primeiro caso a
probabilidade “p” (crescimento médio anual superior a 6% ao ano, nos próximos
anos) deverá ser baixa, no segundo deverá ser próxima de 50%, e no terceiro
deverá ser alta.
A Figura 4.3 mostra a diferença entre tendência da variável e
probabilidade do evento. A figura representa a curva de acompanhamento de uma
variável nos últimos dez períodos, bem como sua tendência por extrapolação
linear para os próximos dez períodos. A tendência, ao final do décimo período
futuro, é de que a variável atinja o valor de 6,5. O evento, a probabilidade de que
o valor da variável seja superior a 8, deve ficar abaixo de 50%. A distribuição de
probabilidades representada é uma Normal; todavia, o conceito é similar para
outras distribuições.
45
4.2 CONSULTA A PERITOS – O MÉTODO DELPHI
46
probabilidades condicionais, em todos os cenários possíveis, tornaria a aplicação
do método Delphi impraticável. Segundo Turoff (2002, p. 338), o número é da
ordem de e × n!, quando “n” tende para infinito, onde “n” é o número de eventos
no cenário.
A necessidade de limitar a quantidade de perguntas propostas aos peritos
a números razoáveis obriga que estas sejam formuladas do ponto de vista de
causalidade. Em condições tais, as probabilidades refletem uma relação de causa e
efeito, das quais serão extraídos coeficientes de correlação. Estes coeficientes
fornecem uma medida relativa do grau do impacto que a ocorrência de um evento
provoca na probabilidade de ocorrência dos outros. Todavia, segundo Turoff
(2002), o termo “probabilidade condicional” tem sido largamente usado. A
aplicação dessa solução limita o número de perguntas a n2, onde “n” é a
quantidade de eventos no cenário.
O método original da pesquisa Delphi considera pesos iguais para as
opiniões dos especialistas; todavia, em função da diversidade de assuntos que
compõem um cenário, será utilizada a ponderação da opinião dos especialistas. A
atribuição de um peso diferenciado à opinião de cada participante, obtido por uma
auto-avaliação para cada questão, é chamada de “técnica de convergência de
opiniões”. Segundo Cristo (2002), a técnica foi desenvolvida e operacionalizada
por Bilich, na década de 1970.
A transformação das questões estratégicas em variáveis de Bernoulli
agrega em um mesmo número (o parâmetro “p”) os conceitos de probabilidade de
ocorrência dos eventos e grau de certeza, conforme mostrado na Figura 4.4. A
relação entre probabilidade e certeza pode não ser linear, contudo, a curva deve
passar pelos três pontos mostrados na figura, indicado que 0% de probabilidade de
ocorrência corresponde a 100% de certeza de que o evento não ocorra, que 50%
de probabilidade corresponde a 0% de certeza, e que 100% de probabilidade de
ocorrência corresponde a 100% de certeza de que o evento ocorra. Desta forma,
“p” igual a 0,7, ou 70%, corresponde a um evento que os peritos acreditam que
ocorrerá no futuro, contudo com razoável grau de incerteza.
47
Figura 4.4 – Certeza X Probabilidade
48
a probabilidade de ocorrência de outro (IA/B) é obtido pela razão entre as chances
de ocorrência do evento “A” a priori e a posteriori, conforme mostrado na
Equação 4.2 (GORDON, 1994c).
P ( A) P( A / B )
× IA =
1 − P( A) B 1 − P( A / B ) (4.1)
P ( A / B ) 1 − P ( A) (4.2)
IA = ∗
B 1 − P( A / B ) P ( A)
P ( A) ∗ I A
P( A / B ) = B (4.3)
1 − P ( A) + P ( A ) ∗ I A
B
P ( A) = (P ( A) ∩ P ( B ) ) + (P ( A) ∩ P ( B ) ) (4.4)
( ) (
P ( A) = P ( B ) ∗ P ( A ) + P ( B ) ∗ P ( A )
B B
) (4.5)
( ) (
P ( A) = P ( B ) ∗ P ( A ) + (1 − P ( B ) ) ∗ P ( A )
B B
) (4.6)
49
“B” não-ocorre, fica implícito. A consistência do valor da probabilidade
P ( A ) + P (B ) − 1 P ( A)
≤ P( A / B ) ≤ (4.7)
P (B ) P (B )
50
variáveis independentes. A técnica, desenvolvida na Segunda Guerra Mundial
para o projeto Manhattan, é largamente empregada em problemas de difícil
caracterização por meio de equações matemáticas (MAKRIDAKIS et al., 1983).
Os cálculos envolvidos na definição dos cenários e na análise de
interações estratégicas utilizam diversas matrizes e vetores. Para garantir uma
uniformização de índices, serão utilizadas as seguintes letras:
• “i” para cenário;
• “j” para evento; e
• “k” para ator.
O resultado final da simulação Monte Carlo é a probabilidade de
ocorrência de cada cenário P(i), associado a uma matriz de cenários prospectivos.
Esta, por sua vez, cuja notação será ei , j , indica a ocorrência, ou não, de cada
51
Na matriz, está destacado o valor de e3, 2 = -1, indicando que, no cenário
52
A utilização de variáveis de Bernoulli na construção de cenários
prospectivos possui as seguintes vantagens:
• gera um número finito de cenários;
• permite a análise conjunta de diversas variáveis (eventos);
• permite analisar a dependência entre variáveis (impactos cruzados);
• permite o acompanhamento de (eventos) relacionado a mais de uma
variável.
53
baseada em sua função característica. Para Winston (1994), a função característica
representa o valor que os atores receberão se agirem juntos e formarem uma
coalizão. Ainda de acordo com o referido autor, para que a coalizão seja viável, o
valor recebido por ela deve ser superior àquele que seria obtido com uma atuação
independente dos atores. Do ponto de vista de cada ator, somente é vantajoso
participar da coalizão caso o valor recebido seja superior ao valor que seria obtido
com uma atuação independente.
A montagem de uma coalizão que vise alterar o futuro em direção ao
futuro normativo deverá, portanto, garantir um ganho para todos os seus
membros. Este também é um pressuposto básico para parcerias estratégicas,
conforme citado na Seção 2.1.1.
Assim, o propósito de montagem da coalizão é transformar o cenário
normativo no cenário mais provável. O ganho de cada membro da coalizão será a
diferença entre o valor do cenário mais provável e o valor do cenário normativo.
O primeiro deve ser visto como um cenário de referência para o cálculo dos
ganhos individuais.
Já o segundo cenário será escolhido por um processo iterativo, pois,
conforme visto anteriormente, os cenários não são equiprováveis, o que
inviabiliza a adoção de soluções clássicas da teoria de jogos cooperativos. A
coalizão, ao escolher um cenário normativo, assume o risco de que ele não ocorra.
Sabe-se que o risco associado ao cenário é inversamente proporcional à sua
probabilidade de ocorrência.
A construção do futuro baseada em conceitos de jogos cooperativos
permite afirmar que a coalizão pode obter um resultado melhor do que o cenário
mais provável, conforme representado na Figura 4.7, a qual mostra uma coalizão
dos atores “A” e “C”, cujo propósito é direcionar o futuro para o cenário 9,
escolhido como normativo. Este cenário, por estar mais próximo do cenário ideal
de ambos, é uma solução melhor do que o cenário 11, avaliado como mais
provável.
A Figura 4.5 mostra também os limites das margens de negociação dos
atores. Do ponto de vista do ator “A”, é possível escolher como cenários
normativos os de números 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10. Os cenários negociáveis são
54
aqueles situados na intersecção da margem de negociação de dois ou mais atores.
Ainda do ponto de vista do ator “A”, é possível negociar os cenários 3 e 7,
montando uma parceria com o ator “B”, ou 9 e 10, com o ator “C”.
A montagem da coalizão deve alterar o equilíbrio de forças preexistente.
O equilíbrio de Nash original (cenário mais provável), obtido pela atuação
individual dos atores, será transferido para um outro ponto de equilíbrio (cenário
normativo), conforme mostrado na Figura 4.7. O cenário normativo, definido
dessa forma, é outro ponto de equilíbrio de Nash, pois qualquer ator que se afaste
unilateralmente de sua nova estratégia direcionará o futuro para um ponto mais
distante de seu cenário ideal. Segundo Marini & Currarini (2002), este é um ponto
de equilíbrio cooperativo conjuntural, em que a coalizão atua como um
“superator” e os demais atores procedem de forma isolada, oferecendo suas
melhores respostas possíveis às ações da coalizão.
A alteração de um equilíbrio de forças, de acordo com a modelagem
adotada, poderá ocorrer de três formas básicas: (i) pela inserção de uma força
nova, (ii) pela alteração da intensidade de uma força já atuante, ou (iii) pela
alteração no sentido de atuação de uma força já atuante.
A montagem de uma coalizão atende ao terceiro tópico. Os membros
devem direcionar seus esforços para um cenário normativo comum, e não mais
para o cenário ideal de cada um, conforme mostrado na Figura 4.7. A alteração da
intensidade de uma força já atuante é obtida com o emprego do poder de
dissuasão e a inserção de uma força nova ocorre quando do aparecimento de um
novo ator.
55
Margem de negociação
do ator “A”
56
Figura 4.7 – Parceria estratégica
57
cenário normativo. A coalizão deve ter força suficiente para alterar a
probabilidade de ocorrência de alguns eventos e transformar o cenário normativo
no cenário mais provável. Como mencionado na Seção 2.1.2, a coalizão deve
priorizar ações sobre alguns eventos, sobre os quais possua força suficiente para
agir.
A seleção do cenário normativo, dos membros da coalizão, dos eventos
sobre os quais recairá o esforço de construção do futuro, as análises de força, do
custo e do tempo disponível são processos iterativos, conforme mostrado na
Figura 4.1.
Um cenário normativo exeqüível garante a existência de força política,
mas não de vontade política. A análise de exeqüibilidade considera que todos os
atores que ganham com a ocorrência do cenário normativo participam da coalizão;
no entanto, a confirmação somente poderá ocorrer após um processo de
negociação. Tal processo deve garantir a existência de vontade política para
atingir o cenário normativo; tal vontade é o ponto mais importante para viabilizar
a ocorrência do cenário normativo, e, no entanto, não é suficiente.
A questão seguinte a ser analisada é a questão técnica. Este exame,
abordando aspectos financeiros, tecnológicos e temporais, entre outros, deverá
verificar a viabilidade da ocorrência ou não de cada um dos eventos selecionados.
A análise de exeqüibilidade está pautada em uma confrontação de forças.
As envolvidas, bem como o sentido em que serão aplicadas, são calculadas com
base nos dados da consulta Delphi e em outros, obtidos pela inteligência
competitiva. Os algoritmos de cálculo utilizam as seguintes matrizes de dados:
• Matriz de probabilidades (M1);
• Matriz de impactos de eventos sobre atores (M2);
• Matriz de influência de atores sobre eventos (M3);
• Matriz de influência de atores sobre atores (M4).
A matriz M1 representa a probabilidade de ocorrência dos eventos. A
representação matemática M1= aj,j* é a probabilidade de ocorrência do evento “j”,
dados que o evento “j*” ocorreu, ou seja, P(j/j*). O valor de aj,j*, para j = j*,
representa a probabilidade de ocorrência, a priori, do evento “j”, ou seja, P(j).
58
A matriz M1 deve ser lida como a probabilidade de ocorrência do evento
linha, dada a ocorrência do evento coluna, excerto quando evento linha e coluna
são iguais. A Tabela 4.2 é uma representação da matriz M1 para três eventos: a
probabilidade de ocorrência do evento 1, P(1) é de “0,3”, que corresponde ao
valor de a1,1. A probabilidade de ocorrência do evento 1, dado que o evento 2
tenha ocorrido, P(1/2) é “0,25”, correspondendo ao valor de a1,2, e a probabilidade
de ocorrência do evento 1, dado que o evento 3 tenha ocorrido, P(1/3) é “0,4”, que
corresponde ao valor de a1,3. A probabilidade de ocorrência do evento 2, P(2) é de
“0,85”, que corresponde ao valor de a2,2. A probabilidade de ocorrência do evento
2, dado que o evento 1 tenha ocorrido, P(2/1) é “0,7”, que corresponde ao valor de
a2,1, e assim por diante.
Eventos 1 2 3
1 0.3 0.25 0.4
2 0.7 0.85 0.6
3 0.45 0.9 0.62
59
com uma probabilidade condicional P(A/B) = 0,46 , calculada pela Equação 4.3:
P ( A) ∗ I A 0,3 ∗ 2 0,6
P( A / B ) = B
= = = 0,46
1 − P ( A) + P ( A) ∗ I A 1 − 0,3 + 0,3 ∗ 2 1,3
B
0,3
A chance de ocorrência do evento passa de = 0,428 , para
0,7
0,46
= 0,857 .
0,54
Para facilitar a análise gráfica da relação “Motricidade X Dependência”,
os valores de impactos são convertidos para uma escala de - ∞ a + ∞ . O valor do
impacto será positivo para P(A/B) ≥ P(A), e negativo para P(A/B) < P(A), de
acordo com a seguinte formulação:
P ( j / j *) 1 − P ( j ) (4.8)
I'j = ∗
j* 1 − P ( j / j *) P( j )
1 < Pj
I j =− *
para P j (4.10)
j* I j j*
j*
60
eventos com elevada motricidade e reduzida dependência, chamados de “eventos
explicativos”, pois condicionam o comportamento dos demais. No segundo
quadrante, os chamados eventos de ligação, que conectam os eventos explicativos
e os de resultado. No terceiro, aparecem os eventos autônomos, com pouca
motricidade e pouca dependência. Já no quarto quadrante, os eventos de resultado,
cujo comportamento pode ser explicado pelos eventos explicativos e de ligação.
61
indiferente para o ator 3, o que corresponde ao valor de b3,1 = 0, e desejada pelo
ator 4, o que corresponde ao valor de b4,1 = 1.
O cenário ideal de cada ator corresponde ao sinal de seu vetor linha.
Desse modo, o cenário ideal do ator 1 é o sinal do vetor b1, j = (2,-1,1), ou seja,
Eventos
Atores 1 2 3
1 2 -1 1
2 -1 2 -2
3 0 1 -1
4 1 2 0
(b × e )
n
vi ,k
=∑ k, j i, j (4.13)
j =1
cenário “3” para o ator “1”, calculado em função dos valores da Tabelas 4.1 e 4.3,
será:
(b × e ) = (2 × 1) + (− 1 × −1) + (1 × 1) = 4
3
v 3,1
=∑ 1, j 3, j
j =1
62
(b × e ) = (2 × 1) + (− 1 × 1) + (1 × 1) = 2
3
v
1,1
=∑ 1, j 1, j
j =1
( ) ( )
gi N , k = ν i N , k − ν i * , k (4.14)
Atores
Eventos 1 2 3 4
1 1 0 1 2
2 1 1 0 1
3 2 1 1 0
63
O gráfico mostrado na Figura 4.9, chamado de matriz “Influência x
Impacto”, permite a análise conjunta das matrizes M2 e M3. O valor da influência
(cj,k) está no eixo das abscissas e o valor do impacto (bj,k), no eixo das ordenadas.
O gráfico pode ser montado evento a evento, ou, de forma holística, pode
considerar o somatório de todas as influências e impactos relativos a cada ator, em
todos os eventos do cenário. O gráfico está dividido em quatro quadrantes: Juízes,
Jogadores, Platéia e Apostadores.
Os juízes são muito influentes, porém pouco impactados pelos eventos,
além de serem normalmente órgãos normativos, cuja participação na coalizão é
pouco comum. O acompanhamento da postura estratégica dos juízes, por outro
lado, é fundamental, pois pode indicar mudanças significativas no ambiente.
Os jogadores são muito influentes e muito impactados pelos eventos.
Estes são os atores prioritários para participar da coalizão, pois, em geral, têm
muito a ganhar ou a perder com a ocorrência dos eventos. Por outro lado, dada a
sua capacidade de atuação sobre a ocorrência, ou não, dos eventos, podem
efetivamente introduzir as rupturas de tendências necessárias para construir o
futuro.
Os outros dois tipos de atores, platéia e apostadores, podem ser incluídos
na coalizão, todavia têm pouco a influir nos eventos. A inclusão dos apostadores é
mais fácil, pois são fortemente impactados pelos eventos:
64
A matriz M4 representa o grau de influência de um ator sobre outro ator.
Esta influência é chamada de ação indireta, e está relacionada à aplicação do
poder de dissuasão de um ator sobre outro. A representação matemática M4 =
dk1,k2 é a influência que o ator “k1” pode exercer sobre o ator “k2”.
Atores
Atores 1 2 3 4
1 1 1 2
2 1 0 1
3 0 1 0
4 0 1 1
65
f j ,k = 0 para b j , k = 0 . (4.17)
Nesse caso, b*j ,1 = (2,−1,1) indica que o ator 1 não mudará sua estratégia
inicial. Este fato ocorre quando o cenário normativo selecionado é o cenário ideal
do ator. O valor da matriz M6, portanto, será: f j ,1 = (1,−1,2 ) .
Assim, b*j , 4 = (1,−2,0 ) indica que o ator 4 mudará sua estratégia inicial
66
com relação ao evento 2, passando a desejar fortemente que não ocorra. O valor
da matriz M6, portanto, será: f j , 4 = (2,−1,0 ) .
m
rj = ∑ f j , k (4.20)
k =1
67
4.6 SIMULAÇÃO CONDICIONAL
substituída por “1”, indicando que o evento ocorrerá em 100% das simulações de
futuro.
A condição necessária para que ocorra uma ruptura de tendências em
direção ao cenário normativo, conforme representada na Figura 2.6, é que a
simulação condicional da ocorrência dos eventos selecionados indique que o
cenário normativo é o novo cenário mais provável.
n n
Max Gi , k = ∑ bk , j × ei , j − ∑ bk , j × ei * , j
(4.23)
j =1 j =1
68
provável. Já a segunda restrição garante que o cenário normativo é o novo cenário
mais provável.
Existem outras funções de tomada de decisão além da maximização do
ganho; todavia, as restrições permanecem as mesmas. O Lince, conforme
apresentado no Capítulo 5, pode ordenar os cenários pelos critérios de
maximização do ganho, maximização do número de atores na coalizão e
minimização do risco e custo.
O primeiro utiliza a Equação 4.23. O segundo considera o número de
atores que também ganham com a ocorrência do cenário normativo, e que, em
tese, têm interesse em participar da coalizão. O terceiro critério ordena os cenários
por probabilidade e ocorrência e, portanto, do menor para o maior risco.
O risco e o custo do cenário normativo aumentam com a redução de sua
probabilidade de ocorrência. Dessa maneira, quanto menor a probabilidade de
ocorrência de um cenário, maior a quantidade de ações necessárias para
transformá-lo em cenário mais provável. Cada ação a ser implementada representa
um custo e um risco; logo, quanto maior a quantidade de ações necessárias,
maiores o custo e o risco. Ressalta-se que este último está associado à eficácia das
ações propostas.
A escolha dos eventos normativos “jN” pode seguir, também, outros
critérios quantitativos e qualitativos. No caso do projeto “Brasil 3 Tempos”,
apresentado no Capítulo 6, o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República (2006c), além de utilizar ferramentas de Apoio Multicritério à Decisão,
realizou uma consulta pública, dentro do conceito de Foresight, apresentado três
cenários previamente selecionados.
O primeiro, chamado de “Cenário econômico”, priorizou os “temas
relacionados ao desenvolvimento econômico e a seus reflexos no ambiente de
negócios”; o segundo, “Cenário de inclusão social”, enfatizou a “dimensão
humana, tendo o conhecimento como foco estrutural e inovador”; e o terceiro,
“Cenário de expectativa da sociedade”, priorizou os “temas mais importantes e
mais desejados pela própria sociedade”.
69
4.8 ACOMPANHAMENTO E CORREÇÕES
O resultado das ações adotadas pela coalizão deve ser acompanhado após
a sua implementação. O acompanhamento consiste em observar o ambiente,
verificar a existência de fatos concretos, indicativos de mudanças na probabilidade
de ocorrência dos eventos. A cada fato novo observado, será emitido um
julgamento de valor sobre a probabilidade de ocorrência de cada um dos eventos,
o que altera a matriz de probabilidades M1.
A simulação dos cenários prospectivos, com a nova matriz M1, deverá
indicar um aumento na probabilidade de ocorrência do cenário normativo. Nessa
hipótese, a construção do futuro mostrar-se-á efetiva e, as medidas adotadas,
eficazes. Caso contrário, todo processo de construção do futuro deverá ser revisto,
inclusive a escolha do cenário normativo. Este último caso pode ocorrer não por
deficiência das ações adotadas, mas pela ocorrência de fatos fora da esfera de
atuação da coalizão.
Os fatos poderão indicar, também, uma mudança na estratégia dos atores,
bem como sua capacidade de atuar sobre o ambiente. Esses fatos alteram as
matrizes M2, M3 ou M4. Nesse caso, a exeqüibilidade do cenário normativo deve
ser verificada e validada novamente.
70
5. DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE
71
O software Puma apresenta ainda uma fase chamada de “visão do
presente”, em que são analisadas as médias de curto prazo, frutos do diagnostico
estratégico, e não relacionadas com os cenários prospectivos.
O início de qualquer estudo ocorre no Puma, onde são gerados os
cenários. O Lince acrescenta as informações de inteligência competitiva e permite
a simulação condicional de ocorrência de eventos.
O cenário normativo e as ações necessárias para atingi-lo, obtidos no
Lince, são migrados para o Puma, onde são confrontados com as ações de curto
prazo. Todas as medidas previstas deverão passar por uma fase de análise, onde,
entre outros critérios, residem os valores que norteiam a organização.
A Figura 5.1 mostra as fases informatizadas no Puma, e a Figura 5.2, seu
complemento, informatizadas no Lince.
72
Figura 5.2 – Etapa informatizada no software Lince
73
• Dinâmica dos Cenários – Recalcula a probabilidade de ocorrência dos
Cenários, em função das eventuais alterações das probabilidades dos Eventos
efetuadas na Fase anterior.
• Teoria dos Jogos – Permite a seleção do cenário normativo, bem como
efetua a análise de exeqüibilidade. Os cenários podem ser ordenados em função
dos critérios de maximização do ganho, maximização do número de atores na
coalizão, ou minimização de risco e custo. A análise de exeqüibilidade verifica a
primeira restrição apresentada na Seção 4.7.
• Cones de Futuros – Permite a simulação da ocorrência condicional de
eventos, cujo propósito é verificar a segunda restrição apresentada na Seção 4.7.
• Interpretação da Dinâmica dos Cenários – Permite verificar a redução das
ameaças e o aumento das oportunidades. Esta condição indica que a construção do
futuro está sendo eficaz.
74
6. APLICAÇÕES DA METODOLOGIA
75
6.1.1 Identificação do sistema
76
foi transformado em variável binária, de acordo com a Figura 4.2, para os
horizontes temporais de 2015 e 2022.
A consulta foi realizada pela Internet com 50 mil participantes
previamente selecionados, aos quais foram propostas cinco perguntas para cada
tema estratégico, totalizando 250 perguntas (Probabilidade de o evento ocorrer até
2015; probabilidade de ocorrer até 2022; importância do evento para o Brasil;
conhecimento do entrevistado sobre o tema; e desejabilidade do tema).
O propósito da pergunta sobre desejabilidade foi preencher a matriz M2,
conforme definida no Capítulo 5, para o ator “sociedade”. A escala foi, também,
de -2 a +2, conforme mostrado na Tabela 4.3.
Os valores médios das respostas da consulta Delphi estão na Tabela 6.1.
A grande quantidade de eventos com probabilidades de ocorrência próximas de
0,5 (50%) evidencia uma grande incerteza quanto ao futuro, conforme mostrado
na Figura 4.4.
Todos os temas foram considerados importantes para o Brasil. O menor
valor foi 5,42, referente ao tema “ações afirmativas de inclusão social”, e o maior
valor, 8,75 referente ao tema “qualidade do ensino”.
O nível de conhecimento dos respondestes também foi elevado. O menor
valor foi de 4,91 referente ao tema “nanotecnologia”, sendo que o maior foi o
tema “agricultura e pecuária” com 8,07.
77
Sistema Único de Saúde 41,67 51,60 8,401 6,58 1,78
(Sus)
Infra-estrutura 46,26 54,63 8,37 6,60 1,76
Tecnologias de 49,48 58,54 7,61 6,19 1,50
Informação e
Comunicação (TICs)
Biodiversidade 42,92 53,22 8,09 6,31 1,67
Bloco político- 44,20 54,40 7,20 6,44 1,28
econômico da América
do Sul
Estrutura Tributária 41,90 52,95 8,34 6,58 1,74
Agricultura e Pecuária 54,21 65,40 8,07 8,07 1,68
Ações Afirmativas de 30,47 36,16 5,42 6,57 0,57
Inclusão Social
Uso e Conservação da 43,83 55,57 7,93 6,40 -0,72
Água Doce
Diversidade Cultural 51,61 61,74 6,84 6,09 1,38
Brasileira
Qualidade do Ensino 31,12 40,14 8,75 7,31 1,89
Biotecnologia 48,20 59,38 8,10 5,88 1,69
Protocolo de Quioto 49,26 58,31 7,20 5,58 1,36
Sistema Político- 34,73 44,36 7,94 6,82 1,60
Partidário
Bloco Político- 42,00 53,35 7,25 6,61 1,34
Econômico do
Mercosul
Sistema Judiciário 33,49 44,00 8,29 6,49 1,76
Brasil, Rússia, Índia e 37,00 48,13 7,19 6,17 1,40
China
Taxa de Investimento 41,77 51,25 8,29 6,26 1,74
Sistema Previdenciário 29,94 39,39 8,18 6,66 1,67
Contas Públicas 37,65 45,01 8,19 6,36 1,70
Violência e 29,76 39,45 8,54 6,95 1,86
Criminalidade
Educação Básica 46,35 58,16 8,68 7,07 1,88
Nível de Emprego 39,55 48,98 8,48 6,68 1,80
Entes Federados 36,32 45,76 6,58 5,58 1,12
Amazônia 41,98 53,29 8,21 6,82 1,66
Controle da Inflação 60,85 69,35 8,30 6,90 1,75
Organização das 43,49 54,30 6,66 6,09 1,18
Nações Unidas (ONU)
78
Desigualdades 45,29 45,29 7,81 6,59 1,62
Regionais
Sistema de Defesa 36,50 45,94 7,09 6,45 1,27
Nacional
Desigualdade Social 30,60 40,31 8,48 7,15 1,81
Nanotecnologia 33,43 43,98 7,15 4,91 1,39
Investimentos em 42,79 51,71 8,32 6,60 1,75
Ciência, Tecnologia e
Inovação.
Ordenamento Mundial 49,19 62,14 7,04 6,38 0,81
Emergente
Relações Trabalhistas 50,85 62,54 7,64 6,56 1,29
Qualidade da Vida 30,54 40,74 8,01 6,51 1,66
Urbana
Bloco Político- 35,81 45,28 6,69 6,37 0,86
Econômico no
Continente Americano
Ordenamento do 28,65 37,91 6,22 6,00 0,84
Território Brasileiro
Exportações Brasileiras 58,12 66,79 8,20 6,51 1,73
Matriz Brasileira de 53,86 64,49 7,96 6,20 1,61
Combustíveis
Mercosul e União 41,74 52,34 7,37 6,27 1,41
Européia (EU)
Conselho de Segurança 47,85 58,00 6,38 6,54 1,06
das Nações Unidas
(CSNU)
Perfil Etário da 34,50 43,84 8,13 6,39 1,66
População
Fonte: Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2006b)
79
IA
P ( A / B ) = P( A) + P ( A) × (1 − P ( A)) × B (6.1)
5
80
6.1.4 Avaliação das ações
81
Investimentos em ciência, tecnologia e inovação, Nível de emprego, Perfil etário
da população, Programas tecnológicos em áreas sensíveis, Qualidade da vida
urbana, Qualidade do ensino, Sistema previdenciário, Sistema Único de Saúde
(SUS) e Violência e criminalidade.
O Cenário de Expectativa da Sociedade, segundo a mesma fonte, prioriza
os temas mais importantes e desejados pela própria sociedade. Esta linha de ação
é composta de 22 eventos normativos, associados aos seguintes temas: Amazônia,
Biodiversidade, Biotecnologia, Carga tributária, Contas públicas, Controle da
inflação, Desigualdade social, Despesas correntes, Educação básica, Estrutura
tributária, Exportações brasileiras, Infra-estrutura, Investimentos em C T & I,
Nível de emprego, Normalidade constitucional, Perfil etário da população,
Qualidade do ensino, Sistema judiciário, Sistema previdenciário, Sistema Único
de Saúde (SUS), Taxa de investimento e Violência e criminalidade.
O resultado parcial do projeto “Brasil 3 Tempos”, que está em
andamento, foi a verificação de que a construção do futuro é possível. Segundo o
Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2006a),
3
Sérgio Wright Maia
82
sendo que alguns estão disponíveis nos sites da Mauatur4 e da Crescente Fértil5.
A Mauatur é uma entidade sem fins lucrativos que tem como principal
objetivo representar os comerciantes da região de Visconde de Mauá perante os
órgãos governamentais, a mídia e outras entidades congêneres.
Considerando a necessidade de estabelecer seu Planejamento
Estratégico, a Mauatur elaborou um Projeto de Desenvolvimento Turístico para a
região de Visconde de Mauá, com base na metodologia descrita nesta tese. Foram
empregados os softwares Puma (Sistema de Planejamento Estratégico e Cenários
Prospectivos) e o Lince (Sistema de Apoio à Decisão).
O Projeto tem como propósito indicar as estratégias da Mauatur para:
• aumentar o rendimento dos estabelecimentos locais, cujas atividades
estão voltadas à exploração da atividade turística, a partir do potencial da região.
• aumentar o fluxo turístico de maior renda, ou de nichos específicos
como os de terceira idade.
• garantir a sustentabilidade do aumento de fluxo, com foco nos aspectos
ambientais e socioeconômicos, de modo que não haja depreciação dos atrativos
turísticos de Visconde de Mauá.
O potencial turístico, que hoje se baseia principalmente no patrimônio
ecológico e na oferta de atrações gastronômicas, deve ser transformado, em
função dos grandes desafios dos próximos 5 anos, permitindo atrair um turismo de
melhor qualidade.
4
Mauatur - http://www.viscondedemaua.org.br/ ; http://www.mauatur.com.br/
5
Crescente Fértil - http://www.crescentefertil.org.br/
83
Até 1989, a região de Visconde de Mauá situava-se em dois estados (MG
e RJ) e em dois municípios (Resende e Bocaina de Minas). Em 1989, o município
de Itatiaia foi emancipado e desmembrado de Resende. Esse novo município
incluiu a região de Maringá e Maromba, fazendo com que a região passasse a ser
administrada por três municípios. Tal fato aumentou consideravelmente os
problemas e a escassez de políticas públicas já enfrentadas pela região de
Visconde de Mauá, reforçando a necessidade de uma associação representativa na
região.
A Figura 6.1 mostra a interligação das diversas atividades desenvolvidas
pela Mauatur, com ênfase na divulgação da região.
6.2.1.1.1 Negócio
Desenvolvimento turístico da Região de Visconde de Mauá.
6.2.1.1.2 Missão
Representar e congregar todos os comerciantes da região perante os
órgãos governamentais, a mídia e outras entidades congêneres, por meio de
convênios com entidades privadas e públicas, além de suas próprias ações, com a
84
finalidade de aumentar o fluxo turístico da região.
6.2.1.1.3 Visão
Contribuir e efetivamente influir para que a região seja reconhecida como
exemplo de preservação ecológica e também por oferecer uma infra-estrutura
turística, primando por um atendimento profissional diferenciado pelo charme e
pela hospitalidade.
85
região, que estão normalmente ocupados em dirigir ou gerenciar os próprios
negócios.
• Reconhecimento junto aos órgãos de segurança dos dois estados: os
órgãos de segurança no país estão subordinados aos governos estaduais. Tendo em
vista que a região está localizada em dois estados, faz-se necessária uma atuação
junto a esses órgãos de modo a harmonizar as políticas de segurança para a região
de Visconde de Mauá.
• Posto de Informações Turísticas: até o surgimento do posto, um dos
grandes problemas da região no que se refere ao turismo era a inexistência de um
posto local no qual os turistas pudessem se informar quanto aos atrativos da
região, assim como fazer reservas em hotéis.
86
6.2.2.3 Oportunidades
87
• Parte significativa do fluxo turístico da região ocorre em função da
disseminação das belezas e qualidades da região através da propaganda boca a
boca. Esta é uma grande oportunidade de atuação da Mauatur como aglutinadora
de campanhas de marketing.
• A estrutura turística da região se caracteriza por uma grande
pulverização dos estabelecimentos hoteleiros de pequeno porte, provocando uma
grande concorrência comercial. Este aspecto é uma grande oportunidade para a
Mauatur atuar como organização de hoteleiros, impedindo que a concorrência seja
nociva ao setor turístico da região.
• A hotelaria local tem independência para se estruturar
comercialmente. Este aspecto permitirá a implementação do presente plano sem
encontrar resistência de agências de turismo.
6.2.2.4 Ameaças
88
• Os municípios de Resende e Itatiaia têm planos diretores, contudo,
há grande dificuldade política em sua implementação, o que está criando uma
urbanização caótica.
• A pulverização de responsabilidades do poder público municipal
permite a disseminação da informalidade ou de empresas não-legalizadas que
convivem com outras em situação regular. A ausência do poder público
municipal, também em relação à aplicação das leis ambientais, transfere para o
Ibama quase todo o encargo de zelar pela manutenção do meio ambiente da
região.
• A concentração de turistas de classe média gera problemas de
trânsito e estacionamento, principalmente em Maringá, o que é agravado por uma
sinalização viária insuficiente e sem padronização adequada.
• A reduzida disponibilidade de mão-de-obra local capacitada, ao lado
de uma clientela de classe média e média alta, faz com que boa parte dos
funcionários dos hotéis provenha de outras localidades.
• A Mauatur ainda enfrenta considerável falta de participação dos
empresários da região, além de marcante desunião entre os empresários e a
população.
• O acesso a Visconde de Mauá é efetuado por estrada não-
pavimentada, e com manutenção insuficiente, o que acarreta tráfego precário em
diversos períodos do ano. Este aspecto tem concentrado grande parte do esforço
gerencial da Mauatur, visto que impacta diretamente no fluxo turístico.
89
impacto que a suposta ocorrência de um evento causa na probabilidade de
ocorrência dos demais.
90
Preto a ponto de que este deixe ser uma atração turística para a região – reduz essa
probabilidade para a2,1 = 31%, ao passo que a ocorrência do evento 3 – pleno
funcionamento do Comitê de Gestão Integrada – eleva a referida probabilidade
para a2,3 = 62%, e assim por diante.
A Figura 6.3 mostra o gráfico “Motricidade X Dependência”. A grande
concentração de eventos de ligação permite concluir que se trata de um cenário
com elevada instabilidade. Os eventos 3 (Implantação dos Comitês de Gestão
Integrada), 7 (Entrosamento dos prefeitos em prol da região) e 11 (Consciência
ambiental dos moradores) apresentam as maiores motricidades, e grande
dependência. A atuação sobre esses eventos reduz grandemente a incerteza quanto
ao futuro, conforme será visto na seção seguinte. O evento 5 (crescimento da
economia nacional) aparece como único evento explicativo, o que é razoável em
se tratando de uma região turística.
91
para o valor de e = -1 aparece a palavra “NÃO” (não ocorre), e para o valor de e =
1 aparece a palavra “OCORRE”. A matriz está em ordem decrescente de
probabilidade de ocorrência de cenários P(i). O cenário mais provável aparece na
primeira posição.
A última linha da tela mostra a probabilidade total de ocorrência do
evento. Esta probabilidade é a soma da probabilidade de ocorrência de todos os
cenários em que o evento ocorre, ou seja, é a probabilidade de ocorrência do
evento, independentemente do cenário.
92
Visconde de Mauá:
1. Mauatur;
2. Turistas;
3. Outros destinos turísticos;
4. Prefeituras de Itatiaia, Resende e Bocaina de Minas;
5. Ibama;
6. Moradores;
7. Governo do Estado do Rio de Janeiro;
8. Prestadores de serviço;
9. Conselho de Gestão Socioambiental;
10. Governo do Estado de Minas Gerais;
11. ONGs que atuam na região.
93
Figura 6.5 – Mauatur – Influência de atores sobre eventos
94
A Figura 6.7, chamada de matriz Influência x Impacto, permite a análise
conjunta das matrizes M2 e M3, conforme descrito na Seção 4.5. Na figura, está
selecionada a caixa “considerar todos os eventos”, indicando uma visão holística
do cenário. A interpretação da figura mostra que as três prefeituras, o IBAMA, os
moradores, o conselho de gestão socioambiental e as ONGs são os “jogadores”,
portanto candidatos prioritários à coalizão.
95
Tabela 6.2 – Análise de cenários
Mais
No Descrição do evento Ideal
Provável
1 Degradação da qualidade da água do Rio Preto. N N
2 Pavimentação da estrada de acesso. O O
3 Implantação do comitê de Gestão Integrada. O O
4 Fiscalização Municipal eficiente e atuante. O O
5 Crescimento da econômica nacional. O O
6 Implementação dos planos diretores municipais. O O
7 Entrosamento dos prefeitos em prol da região. O O
Solução sustentada para coleta e destinação do
8 O O
Lixo urbano.
9 Construção de estações de tratamento de esgoto. O O
10 Funcionamento efetivo das Ongs. O O
11 Consciência ambiental dos moradores. O O
Solução de Problemas de transito e
12 O O
estacionamento.
13 Pavimentação das estradas de circulação interna. O O
96
restrição, tendo em vista que não há necessidade de definir eventos normativos
para transformar o cenário normativo no mais provável.
A escolha atende, também, à segunda restrição, do mesmo conjunto de
equações, ou seja:
Pi N > Pi para qualquer cenário “i”.
97
A decisão da Mauatur de aumentar a probabilidade de ocorrência do
cenário normativo direciona as ações à construção de um futuro de preservação,
com a definição de eventos normativos. Neste caso, haverá necessidade de uma
verificação da primeira restrição Equação 4.24.
A Figura 6.10 mostra a tela de simulação com a ocorrência condicional
de eventos. A Mauatur selecionou três eventos normativos, dentre os 13 eventos
que compõem o cenário. A simulação mostra que, caso os eventos 3 (Implantação
dos Comitês de Gestão Integrada), 7 (Entrosamento dos prefeitos em prol da
região) e 11 (Consciência ambiental dos moradores) ocorram, o cenário normativo
passa de uma probabilidade de ocorrência de 5,75 % para 33,36 %, sendo este um
valor significativo para uma partição com 1.024 cenários possíveis.
A Mauatur, atuando de forma isolada, não tem capacidade de garantir a
ocorrência dos três eventos; contudo, caso consiga coordenar uma coalizão dos
prefeitos das três cidades, dos moradores, das ONGs e do conselho de gestão
socioambiental, criará um “superator”, capaz de fazê-lo. A ocorrência dos três
eventos, por seu turno, conforme mostram as Figuras 6.3 e 6.10, tem capacidade
para alavancar todo o cenário normativo.
98
A Figura 6.11 mostra a simulação com a ocorrência condicional de
quatro eventos normativos, sendo que o evento 5 (Manutenção da inflação sob
controle e um crescimento médio no período acima de 4% ao ano) foi considerado
um pressuposto.
A simulação de pressupostos não considera seqüências ou datas de
ocorrência de eventos, conforme pode ser observado na Figura 6.11, tendo em
vista que a coalizão não possui influência sobre eles. Todavia, a ocorrência do
evento 5 foi considerada um pressuposto válido, em razão das estimativas
propostas pelo governo federal. Neste caso, o cenário normativo passa de uma
probabilidade de ocorrência de 5,75% para 58,75 %, sendo este um valor
significativo para uma partição com 512 cenários possíveis.
99
rj N > 0, para todo ei N , j N =1
A tela mostra os atores como neutros, indicando que este cenário está no
limite da margem de negociação de todos. Este fato ocorre somente com o cenário
mais provável, conforme mostrado na Figura 4.5. Um determinado ator será
neutro a qualquer cenário que cruze sua margem de negociação, tendo em vista
que esses cenários não produzem ganho em relação ao mais provável.
O cenário mais provável, por outro lado, é um ponto de equilíbrio de
Nash e, dessa forma, qualquer ator que abandone sua estratégia poderá levar o
cenário mais provável para um ponto mais distante de seu cenário ideal. Portanto,
nenhum ator tem interesse em abandonar sua estratégia atual.
100
6.2.4.5 Definição das ações
101
7. CONCLUSÕES
6
http://www.brainstorming.com.br
102
A inclusão da teoria dos jogos na construção do futuro necessita de um
valor de referência, pois, do ponto de vista de cada ator, somente é vantajoso
mudar de estratégia caso o valor recebido seja superior ao valor que seria obtido
como a manutenção da estratégia anterior. A definição do cenário mais provável,
como aquele que ocorrerá caso todos os atores mantenham suas estratégias atuais,
resolve este problema. Cada ator passa a ter um valor de referência, o que permite
calcular os ganhos individuais em caso de ocorrência do cenário normativo.
A utilização de métodos quantitativos permite realizar simulações com a
ocorrência condicional de eventos. Essas simulações permitem definir o chamado
“evento normativo”, focando a atenção no processo causal e nos pontos de tomada
de decisão. A ocorrência desses eventos mostra como o presente pode evoluir para
um futuro desejado e quais são as questões estratégicas mais importantes para essa
evolução.
A definição das questões estratégicas-chave permite concentrar esforços
nos pontos de maior impacto, quebrando tendências e construindo o futuro. Essas
questões foram claramente identificadas nas duas aplicações apresentadas.
No Projeto “Brasil 3 Tempos” aparecem como questões prioritárias a
qualidade do ensino, a educação básica, a violência e a criminalidade, a
desigualdade social e o nível de emprego. No Projeto Mauatur, aparecem a
implantação dos Comitês de Gestão Integrada, o entrosamento dos prefeitos em
prol da região e a consciência ambiental dos moradores.
Em ambos os casos, não houve surpresas. No Projeto “Brasil 3 Tempos”,
a definição da educação, como questão prioritária do Estado, já era defendida por
diversos setores da sociedade. No caso Mauatur, a integração dos esforços das três
prefeituras e a conscientização ambiental dos moradores são as questões
estratégicas naturais, em uma região espalhada por três municípios e dois estados.
A definição da educação como questão prioritária para um projeto de
Estado se, por um lado, não foi surpresa, por outro agregou força política para
uma coalizão de atores-chave. Essa constatação conduziu a um estudo específico
sobre o tema e a novas definições de políticas de governo sobre educação.
Um dos primeiros desdobramentos do projeto Brasil 3 Tempos ocorreu
em 2006, com um novo projeto do NAE, o projeto de Melhoria da Qualidade da
103
Educação Básica. O referido projeto utiliza a mesma metodologia empregada no
projeto “Brasil 3 Tempos”. Os quatro temas, selecionados como prioritários para a
ação do Estado são: a formação de professores (inicial e continuada), a inclusão
digital das escolas públicas (com uso do FUST), a gestão escolar democrática e
um movimento nacional pela qualidade da educação.
No caso da Mauatur, o estudo revela a necessidade da existência de um
órgão de coordenação, sem o qual haverá uma pulverização dos esforços
empreendidos pelos atores, gerando escassez de políticas públicas consistentes.
Nos dois estudos apresentados, foram selecionados cenários normativos
aceitáveis, e de acordo com as informações disponíveis sobre os atores, também
exeqüíveis. Todavia, somente a ocorrência dos eventos futuros poderá ratificar a
afirmativa. Desta forma, o acompanhamento desses eventos, utilizando o software
Lince, e um passo fundamental.
Para encerrar, a aplicação da metodologia mostrou que pode fornecer
respostas consistentes para problemas complexos. De certa forma, a coerência das
soluções valida a metodologia, mostrando que o planejamento estratégico,
agregado a uma correta visão de futuro, com o emprego de análise de interações
estratégicas, consiste numa poderosa ferramenta para a construção de um futuro
melhor.
104
8. SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
105
da metodologia.
O foco deste trabalho foi a seleção de um cenário normativo exeqüível. A
análise de interações estratégicas voltou-se à cooperação; contudo, há espaço para
a análise dos concorrentes.
Conforme abordado no texto, as características do meio ambiente não são
intrinsecamente ameaças ou oportunidades; o que as configura como tais são as
estratégias adotadas por outros atores.
A utilização de indicadores de preparação dos atores para enfrentar as
ameaças ou aproveitar as oportunidades, com vistas ao cenário mais provável,
permite o monitoramento da concorrência. Neste caso, a utilização da técnica de
envoltória de dados poderá fornecer um índice único, indicando o posicionamento
de cada ator, em face das características mais prováveis do meio ambiente futuro.
Pesquisas futuras nesta área abrirão um grande leque para trabalhos com foco em
ambientes concorrência elevada,
Diversos trabalhos acadêmicos foram realizados com o emprego do
software Puma. O software Lince foi lançado comercialmente em 2006, abrindo
espaço para o seu emprego em trabalhos acadêmicos.
A última sugestão é que a comunidade acadêmica utiliza os softwares
Puma e Lince, aproveitando a política da Brainstorming de fornecê-lo
gratuitamente para trabalhos acadêmicos. O emprego conjunto dos dois softwares
permite agregar valor aos trabalhos futuros, além de contribuir para o
aperfeiçoamento da metodologia e dos respectivos softwares.
106
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
107
BÖRJESON, L., HÖJER, M., DREBORG, K. H., EKVALL, T., FINNVEDEN,
G. “Towards a User’s Guide to Scenarios: a Report on Scenario Type and
Scenario Techniques”, Environmental Strategies Research. Stockholm: Royal
Institute of Technology, 2005. Disponível em: <http:// www.infra.kth.se/fms>
Acesso em: 05/09/2006.
108
EUROPEAN COMMITTEE FOR SOCIAL COHESION (CDCS). “Revised
Strategy for Social Cohesion”, 878th Meeting of the Deputies, Committee of
Ministers, 2004.
FIANI, R. Teoria dos jogos: para cursos de administração e economia. 2 ed. Rio
de Janeiro: Campus, 2004.
GODET, M., ARCADE, J., MEUNIER, F., ROUBELAT, F.. “Structural Analysis
with the ‘MICMAC Method & Actors’ Strategy with MACTOR Method”,
Futures Research Methodology, V 2.0. AC/UNU Millennium Project, 1994.
109
______. “Cross-Impact Method”. Futures Research Methodology, V 2.0.
AC/UNU Millennium Project, 1994c.
KAHN, H., WIENER, A. J. The Year 2000: A Framework for Speculation on the
Next Thirty-Three Years. Londres: The Macmillan Company, Collier-Macmillan
Limited, 1967.
110
KOLLOCK, P. “Social Dilemmas: The Anatomy of Cooperation”, Annual
Reviews of Sociology, v. 24, pp.183-214,1998.
111
NASH, J. F. “Equilibrium Points in n-Persons Games”, Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America, v. 36, pp. 48-49,
1950.
______. “Projeto Brasil 3 Tempos: o que é”. Brasília, 2006d. Disponível em:
<http://www.nae.gov.br/index_arquivos/Page391.htm>. Acesso em: 20/11/2006.
112
______. “Projeto Brasil 3 Tempos: melhoria da qualidade da educação básica”.
Brasília, 2006d. Disponível em:
<http://www.nae.gov.br/index_arquivos/apresentacaoqualidadedaeducacao.ppt>.
Acesso em: 20/11/2006.
113
STENMARK, D. “Company-wide Brainstorming: Next Generation Suggestion
Systems?”, Proceedings of IRIS, v. 23, University of Trollhättan Uddevalla, 2000.
114
WRIGHT, J. T. C., GIOVINAZZO R. A. “Delphi: uma ferrramenta de apoio ao
planejamento prospectivo”, Caderno de Pesquisas em Administração, v. 1, n. 12,
2000.
115
10. ANEXO 1- Projeto Brasil 3 Tempos
116
ÍNDICE DE TEMAS ESTRATÉGICOS
1. Normalidade Constitucional.........................................................................119
2. Sistema Político-Partidário...........................................................................119
3. Sistema Judiciário ........................................................................................120
4. Entes federados ............................................................................................121
5. Relações trabalhistas ....................................................................................122
6. Carga tributária.............................................................................................122
7. Estrutura tributária .......................................................................................123
8. Taxa de investimento ...................................................................................124
9. Controle da inflação .....................................................................................125
10. Exportações brasileiras.................................................................................126
11. Sistema industrial, tecnológico e de comércio exterior. ..............................127
12. Agricultura e pecuária ..................................................................................129
13. Contas públicas ............................................................................................130
14. Despesas Correntes ......................................................................................130
15. Qualidade da vida urbana.............................................................................131
16. Desigualdade social......................................................................................132
17. Diversidade cultural brasileira .....................................................................134
18. Violência e criminalidade ............................................................................134
19. Sistema previdenciário .................................................................................135
20. Perfil etário da população.............................................................................136
21. Sistema Único de Saúde (SUS)....................................................................137
22. Ações afirmativas de inclusão social ...........................................................138
23. Nível de emprego .........................................................................................138
24. Desigualdades regionais...............................................................................139
25. Ordenamento do território brasileiro............................................................140
26. Recursos do mar...........................................................................................141
27. Uso e conservação da água doce..................................................................142
28. Amazônia .....................................................................................................143
29. Sistema de Defesa Nacional.........................................................................144
30. Matriz brasileira de combustíveis ................................................................145
31. Infra-estrutura...............................................................................................146
32. Qualidade do ensino .....................................................................................147
33. Educação básica ...........................................................................................148
34. Ensino superior.............................................................................................149
35. Inclusão digital .............................................................................................149
36. Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).....................................150
37. Biotecnologia ...............................................................................................152
38. Programas tecnológicos em áreas sensíveis .................................................152
39. Nanotecnologia ............................................................................................154
40. Investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação......................................154
41. Biodiversidade..............................................................................................155
42. Protocolo de Quioto .....................................................................................156
43. Brasil, Rússia, Índia e China ........................................................................157
44. Bloco político-econômico no continente americano....................................158
117
45. Bloco político-econômico do Mercosul .......................................................158
46. Bloco político-econômico da América do Sul .............................................159
47. Mercosul e União Européia (UE).................................................................159
48. Organização das Nações Unidas (ONU)......................................................160
49. Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) ..................................160
50. Ordenamento Mundial Emergente ...............................................................161
118
1. NORMALIDADE CONSTITUCIONAL
A história política brasileira do século XX foi pontilhada de eventos que
caracterizaram rupturas ou ameaças ao quadro de normalidade constitucional.
Como exemplo, podem ser citados: a Guerra do Contestado (1912-1916); a
Revolta do Forte de Copacabana (1922 - Movimento Tenentista); a Revolta
Tenentista de São Paulo (1924); a Revolução de 1930 (início da Era Vargas); a
Revolução Constitucionalista de 1932; a implantação do Estado Novo (1937); e o
Movimento Militar de 1964.
A conjuntura atual tem se caracterizado pela estabilidade conferida pelos
três últimos mandatos presidenciais. Simultaneamente, tem sido observada uma
crescente conscientização da população para as vantagens da democracia, bem
como um incremento da participação da sociedade na formulação, implementação
e fiscalização das políticas públicas. Além disso, é notório o processo de
fortalecimento do sistema eleitoral brasileiro, marcado pela tranqüilidade dos
pleitos e pelo alto índice de comparecimento da população às urnas.
Todavia, alguns analistas registram que uma cultura política, democrática e
republicana ainda não está solidamente enraizada na população brasileira.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil, em razão da
recente experiência adquirida, mantenha o quadro de normalidade democrática,
em âmbito nacional, sem mudanças abruptas e inconstitucionais.
2. SISTEMA POLÍTICO-PARTIDÁRIO
Um dos aspectos mais salientes do processo de democratização da sociedade
brasileira é o crescimento do associativismo e o aparecimento de novos temas e
novas formas de participação social e política. Das tradicionais associações de
classe à explosão das organizações não-governamentais, passando pela
institucionalização dos movimentos sociais, surgiu um conjunto de novos atores
com concepções e interesses cada vez mais presentes no cenário brasileiro,
capazes de influenciar a formulação de políticas públicas.
Encontra-se em curso, no Congresso Nacional, uma proposta de reforma que
aborda questões consideradas essenciais para o aperfeiçoamento do sistema
119
político-partidário brasileiro. Esse tema tem sido objeto de debates no âmbito dos
demais poderes da República, bem como da sociedade em geral, a qual demanda
uma representação mais efetiva junto aos legislativos federal, estadual e
municipal.
Os estudos se referem, por exemplo, ao financiamento público de
campanhas, ao voto de legenda em listas partidárias fechadas, ao fim das
coligações nas eleições proporcionais e à valorização da proposta programática
dos partidos. Todavia, ainda persistem reações advindas de importantes segmentos
políticos, dificultando a tramitação da reforma em tela.
Críticos do atual sistema indicam que há um descompasso entre o jogo
partidário eleitoral e o jogo partidário parlamentar, devido, entre outras razões, ao
baixo nível de responsabilização do sistema de representação político-partidário,
agravado pela livre prática de troca de legendas durante o exercício do mandato.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que seja realizada uma
reforma do sistema político-partidário que estreite os vínculos entre o eleitor e
seus representantes, fortaleça os partidos políticos e amplie a responsabilidade
parlamentar.
3. SISTEMA JUDICIÁRIO
O sistema judiciário brasileiro é considerado lento e ineficiente em razão de
inúmeros problemas estruturais, decorrentes da obsolescência da nossa legislação
processual, da carência de meios, da deficiência de controle e da falta de
transparência de alguns de seus setores.
A recém-aprovada reforma do Poder Judiciário contém diversos
instrumentos que devem contribuir para o aumento da sua eficiência. Especialistas
consideram, todavia, que estas alterações ainda são insuficientes para lhe dar uma
maior agilidade. Sua deficiência estrutural aumenta significativamente o “custo
Brasil”, dificulta as relações comerciais e afasta da população a possibilidade de
utilização plena do Poder Judiciário para arbitrar suas pendências. O amplo acesso
de todos os cidadãos ao sistema judiciário é condição necessária para a
consolidação da democracia e da cidadania.
Os países de democracia consolidada trocaram seus sistemas de excessivos
120
níveis de regulação econômica e trabalhista por um sistema judiciário mais ágil e
facilitador da solução de pendências. Esta agilidade permitiu adequada
desregulamentação das relações econômicas e contribuiu para a redução da
criminalidade e da violência. Um sistema ágil transmite aos seus cidadãos
confiança na Justiça.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que seja alcançada efetiva
melhoria no sistema jurídico-institucional brasileiro, tornando a Justiça mais
eficaz e os processos tão ágeis quanto na maioria dos países de democracia
consolidada.
4. ENTES FEDERADOS
Determinadas áreas do território nacional adquirem características
significativamente diferenciadas dos estados e municípios, ensejando a criação de
mecanismos de administração social, política e tributária mais adequados e
efetivos. Há propostas para a criação de novos tipos de entes federados, cujos
mais significativos exemplos poderão ser as regiões metropolitanas e os
consórcios de municípios – regidos por um novo arcabouço legislativo que lhes
conferirá um status especial, em relação aos estados e municípios.
Essas propostas se baseiam na constatação de que os problemas
administrativos e fiscais enfrentados pelos estados e municípios poderiam ser
equacionados por um novo ordenamento institucional, que permitiria um melhor
tratamento de problemas comuns, em áreas limítrofes, de forma consorciada.
As propostas de novos entes federados apontam para a redefinição de
competências tributárias e novas obrigações constitucionais. Essas novas
configurações políticas poderão melhor equilibrar os procedimentos de
arrecadação de recursos e a redistribuição dos encargos públicos, em consonância
com projetos regionais específicos.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que venha a ocorrer a
criação de novas formas de articulação entre os entes federados, regidos por um
arcabouço legal que permita a gestão compartilhada de projetos de interesse
regional em áreas com características comuns.
121
5. RELAÇÕES TRABALHISTAS
Embora existam importantes setores da sociedade que defendam mudanças
nas leis trabalhistas, tornando-as mais flexíveis e mais contratualistas, algumas
lideranças políticas declaram-se contrárias, refletindo o pensamento de sindicatos
e de parte da opinião pública.
Os defensores das mudanças alegam que a atual legislação trabalhista
representa um desestímulo à geração de empregos formais, gera prejuízos para a
economia e prejudica a competitividade, em razão de cláusulas protecionistas. A
idéia é permitir que os contratos de trabalho específicos para cada caso possam ser
livremente negociados. A expectativa é que uma adequada reforma contribua
significativamente para reduzir as taxas de desemprego, que atingiram cerca de
10,8% da população economicamente ativa, em março de 2005.
Por sua vez, os defensores da atual legislação e críticos da reforma
sustentam que haverá prejuízos para os empregados cujos sindicatos têm pouco
poder de pressão, por correrem o risco de serem subjugados pelo poder econômico
dos patrões.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que a legislação
trabalhista venha a ser efetivamente aperfeiçoada, enfatizando o caráter negociado
das relações entre empregadores e empregados, em complemento às relações
reguladas por lei.
6. CARGA TRIBUTÁRIA
O Brasil possui uma elevada carga tributária, combinada com elevados
níveis de sonegação, de perdas e de renúncias de receitas tributárias, quando
comparado com países de mesmo grau de inserção econômica mundial. Além de
outros efeitos indesejáveis, esses fatores atuam não apenas em detrimento dos
setores produtivos internos, mas também provocam a erosão de nossa
competitividade.
O quadro a seguir sugere que a carga tributária brasileira se aproxima da
carga média dos países do chamado G-7 (maiores economias mundiais) – em
torno de 35% – e é maior do que a dos países emergentes, que apresentam
serviços com qualidade semelhante. Determinados analistas advogam a tese de
122
que as estatísticas coletadas para os anos 1990 e o início desta primeira década do
século XXI, ainda que preliminares e sujeitas a críticas, não rejeitam a hipótese de
que, à medida que os estados aumentam a tributação, a taxa de crescimento
econômico decai.
7. ESTRUTURA TRIBUTÁRIA
Especialistas indicam que a estrutura tributária brasileira é complexa,
123
especialmente no que diz respeito aos tributos indiretos da União, dos estados e
dos municípios.
Algumas das principais dificuldades para o aperfeiçoamento do sistema
tributário se situam nos problemas relativos ao equilíbrio federativo, cuja
resolução possibilitaria uma melhor distribuição entre a arrecadação e os encargos
da União, dos estados e dos municípios. Alguns impostos apresentam distorções,
que prejudicam a eficiência da economia brasileira e nossa competitividade
internacional.
Vale ressaltar, todavia, o caráter moderno e eficiente da estrutura de
arrecadação brasileira, a ampla informatização de sua estrutura e o
aperfeiçoamento contínuo dos métodos e processos de gestão tributária. Avanços
adicionais neste sentido, em particular através da maior coordenação entre os
fiscos federal, estadual e municipal e da introdução de sistemas eletrônicos de
emissão de documentos fiscais podem contribuir sobremaneira para a redução da
sonegação e para a integração e simplificação dos tributos indiretos da União, dos
estados e dos municípios.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que sejam implementadas
mudanças que viabilizem a simplificação da estrutura tributária do País.
8. TAXA DE INVESTIMENTO
Nos últimos onze anos (1994-2004) o Brasil apresentou uma taxa média
anual de crescimento do PIB de 2,73%, oscilando entre o máximo de 5,85%, em
1994, e o mínimo de 0,13%, em 1998.
Esse crescimento lento e volátil pode ser explicado pela insuficiência de
investimentos. Um grupo de especialistas sugere que a elevação da poupança
pública é condição necessária para interromper essa trajetória de crescimento não
sustentado. Entretanto, há economistas que defendem a tese de que o crescimento
da poupança é conseqüência da expansão dos investimentos e não aceitam que
exista uma restrição de poupança condicionando esse desempenho insatisfatório
da economia brasileira.
De 1973 a 1980, a taxa de investimento a preços constantes esteve na faixa
de 30% do PIB, com a taxa nominal oscilando entre 20 e 25% do PIB.
124
Do início da década de 1990 até 2003, tanto a taxa de investimento nominal,
como a taxa de investimento medida a preços constantes, caíram abaixo do
patamar de 20% do PIB.
Assim, parece necessário recuperar a taxa nominal de investimento para,
pelo menos, 25% do PIB, de modo a sustentar taxas de crescimento iguais ou
mesmo um pouco superiores a 5% a.a..
Para se ter uma idéia comparativa, em termos de economia mundial, no
período recente, o Chile tem apresentado taxas de investimento entre 22% e 27%,
na Coréia do Sul esta taxa se aproxima de 30%, no Japão chega a 26%, e a China,
durante o período recente, obteve taxas superiores a 40%.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de aumentar a taxa de
investimento do Brasil para algo em torno de 25% do PIB, até 2015, e 30%, até
2022, compatíveis com o crescimento desejado para o País.
9. CONTROLE DA INFLAÇÃO
A inflação constituiu, no Brasil, um dos fatores mais poderosos de
concentração de renda e de diminuição da capacidade de planejamento
empresarial, gerando ainda efeitos nocivos na administração das contas públicas e
no crescimento econômico. Para alguns analistas, a manutenção da inflação em
níveis baixos e convergentes para as médias internacionais é essencial para que o
Brasil tenha um ciclo de crescimento sustentado com baixa volatilidade
econômica. Para outros, um ritmo mais lento de queda da inflação permitiria um
crescimento mais acelerado da economia.
A partir do início da década de 1990, estabeleceu-se um quase consenso, na
sociedade, de que a estabilidade de preços era um elemento importante do
processo de normalização da vida econômica no Brasil, transformando o combate
à inflação em uma prioridade. Nos últimos dez anos (1995 a 2004), a média do
Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) foi de 9,1% ao ano, enquanto
que, nos anos anteriores, de hiperinflação, a mesma chegou a mais de 1000% ao
ano. No último qüinqüênio, a taxa média de inflação dos países desenvolvidos
esteve abaixo de 3% ao ano. No caso dos países emergentes, essa taxa variou
bastante, podendo ser citados, como exemplo, o México, com 8,4%, e a Coréia do
125
Sul, com 3,5%. Vale ressaltar, todavia, que alterações conjunturais poderão mudar
esses parâmetros internacionais.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que a inflação venha a se
manter sob controle, reduzindo-se dos níveis atuais para taxas compatíveis com a
média internacional dos países desenvolvidos.
126
agregar valor à pauta de exportações brasileiras, inserindo, com maior vigor a
tecnologia e a inovação, em todos os elos das cadeias produtivas direcionadas para
o mercado externo. Enfim, a agregação de valor as exportações brasileiras
possibilitaria a ocupação de mercados mais dinâmicos e relevantes na economia
internacional, o que, por sua vez, ampliaria o potencial de crescimento das
exportações nacionais.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil passe a
responder, em 2015, por cerca de 1,5% e, em 2022, por cerca de 2% do valor das
exportações mundiais.
127
2002 16.952 28,1 8.964 14,9 33.001 54,7 60.362
2003 21.179 29,0 10.943 15,0 39.654 54,3 73.084
2004 28.518 29,6 13.429 13,9 52.949 54,9 96.475
128
como biotecnologia, nanotecnologia, biomassa e energias renováveis, tudo com
vistas a proporcionar um efetivo salto para o futuro.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que seja implementada
efetiva política industrial, tecnológica e de comércio exterior, que contribua para
aumentar em pelo menos 10%, até 2015, e 15%, até 2022, a participação relativa
da soma de produtos semimanufaturados e manufaturados, na pauta de
exportações brasileiras.
129
comercialização e integração às grandes cadeias produtivas globalizadas.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil venha a ser o
maior produtor mundial de alimentos.
130
Para reduzir a relação “despesas correntes / PIB” não é necessário que
ocorra a redução das despesas em termos reais, mas apenas garantir que
aumentem em proporção menor que o crescimento do PIB.
Especialistas afirmam que, para o bom gerenciamento da política fiscal, não
basta apenas o controle das despesas, sendo também fundamental melhorar sua
qualidade por meio do desenvolvimento de instrumentos para avaliação da
eficácia, eficiência e efetividade do gasto público. A melhoria da qualidade das
despesas públicas permitiria ampliar os recursos governamentais destinados ao
crescimento econômico, bem como àquelas áreas de maior impacto na melhoria
dos indicadores sociais e da qualidade de vida da população, sem prejuízo do
equilíbrio das contas públicas.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que os governos federal,
estaduais e municipais consigam melhorar a qualidade do gasto público e reduzir
de forma consistente o volume de despesas correntes em relação ao PIB.
131
convergido esforços no sentido de elaborar e implementar efetiva Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano, que seja orientadora dos planos,
investimentos e ações no âmbito federal, estadual e municipal.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de construção de um pacto
federativo, apoiado pela sociedade civil, visando a dar novos rumos para o
crescimento e para a gestão de nossas cidades e metrópoles e reduzindo, pela
metade, os loteamentos irregulares e as favelas, de modo que suas populações
venham a ocupar áreas legais e urbanizadas.
(**)
(*) Municípios brasileiros
RDH de 2003 Brasil Países ricos Mundo
Máximo Mínimo Variação
Longevidade 0,71 0,886 0,512 42,22% 0,89 0,70
Educação 0,90 0,975 0,546 44% 0,96 0,75
Renda 0,72 0,896 0,343 61,72% 0,93 0,72
Média 0,777 ***************************** 0,927 0,723
(*) Dados coletados em 2001. (**) Fonte: IBGE, censo de 2000.
132
representavam 30,6% da população (52,3 milhões de pessoas) e os extremamente
pobres 11,6% (20 milhões de pessoas), utilizando-se o salário mínimo como
referência (1/2 e 1/4 do salário mínimo per capita de renda familiar,
respectivamente).
Houve nos últimos anos uma acentuada queda na incidência da pobreza. O
Brasil praticamente cumpriu o primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio,
que é “reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população com
renda inferior a 1 dólar PPC (paridade do poder de compra) por dia”. De 1990 a
2000, o percentual de brasileiros abaixo dessa linha de pobreza caiu de 8,8 para
4,7%. Ou seja, a meta de 4,4% da população em situação de pobreza em 2015 já
foi praticamente alcançada.
Ainda assim há diversos motivos para preocupação. A partir de 1996, o
patamar de pobres e de extremamente pobres se manteve relativamente estável, o
que representa um indício de que a trajetória de queda pode ter se revertido. Além
disso, a desigualdade de renda permanece como um sério entrave ao
desenvolvimento humano do Brasil. Segundo o relatório de 2004, do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o índice de Gini(*) do
Brasil é de 0,59, um dos mais elevados do mundo, o que nos coloca em 120º
lugar, entre as 127 nações onde houve a pesquisa. Os melhores índices do mundo
são da Dinamarca, do Japão, da Suécia e da Bélgica (em torno de 0,25). Como
referência, podem ainda ser citados países como a China (0,48 - 84º), Rússia (0,46
- 93º), os Estados Unidos da América (0,41 – 75º), a Itália (0,38 - 52º) e a Índia
(0,32 - 34º).
Alguns setores da sociedade, no entanto, têm se posicionado contra aquilo
que chamam de políticas assistencialistas, ampliando a discussão e a
conscientização sobre os problemas associados à desigualdade e à pobreza.
(*) O índice de Gini mede o grau de desigualdade
existente na distribuição de indivíduos segundo a renda
domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há
desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo
valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um
indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos
os outros indivíduos é nula).
133
desigualdade social no Brasil, aproximando os índices disponíveis dos valores
apresentados pelos países desenvolvidos.
134
tributária local e contribuindo para que sejam ampliadas as demandas sociais,
especialmente nas áreas de baixa renda. Multiplicam-se as empresas privadas de
segurança, suprindo as deficiências do poder público junto às classes mais
favorecidas e às empresas que, em última instância, repassam ao consumidor os
custos da segurança.
Determinadas regiões de fronteira têm sido palco de ilícitos transnacionais,
particularmente relacionados ao tráfico de drogas e ao contrabando, inclusive de
armas, com reflexos no restante do País.
As soluções que se apresentam são tão complexas como a conjuntura que
envolve a temática da criminalidade e da violência. Políticas sociais de caráter
preventivo, como educação, emprego e desconcentração de renda, por exemplo,
são eficazes em longo prazo, enquanto os aparatos repressivos, baseados nos
sistemas judiciário, penitenciário e policial, destinam-se a medidas de efeito
imediato.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que as políticas sociais, o
sistema policial e o sistema judiciário sejam fortalecidos e modernizados,
permitindo a redução, pela metade, dos atuais índices de criminalidade e
violência.
135
Previdência Social (RPPSs, dos servidores públicos) daquelas que regem o
Regime Geral, de maneira a eliminar situações que possam ser entendidas como
privilégio para um grupo socialmente pequeno de trabalhadores. A Reforma
Previdenciária, aprovada no final de 2003, pode ser entendida como um primeiro
passo, certamente não conclusivo, na direção de uma maior convergência das
regras.
Somados, RGPS e RPPSs ainda fornecem uma cobertura baixa aos
trabalhadores brasileiros. Dados do Ministério da Previdência Social indicam que
proteção previdenciária atinge apenas seis em cada dez trabalhadores. Os demais
estão sujeitos aos chamados riscos sociais (como acidente, doença, morte,
envelhecimento etc).
Finalmente, há o desafio de consolidar um marco regulatório seguro e um
aparato de supervisão consistente para uma expansão cada vez maior do mercado
de previdência privada no País. Apenas dessa maneira, o Brasil poderá ter um
segundo pilar de previdência forte, de caráter complementar.
A pergunta que se faz é sobre a possibilidade de que o Brasil consiga
estruturar um sistema previdenciário financeiramente equilibrado, com regras
equânimes para trabalhadores da iniciativa privada e para servidores públicos e
capaz de proporcionar adequada proteção ao trabalhador brasileiro.
136
No que diz respeito aos idosos, um fator consensual nesses estudos é o
aumento da expectativa de vida. A tendência é que, em 2022, a população com
mais de 60 anos de vida represente, em termos percentuais, o dobro da atual,
requerendo maiores recursos e políticas específicas para a terceira idade,
principalmente nas áreas de saúde e previdência social. Contudo, essas demandas
poderão ser minimizadas pelo progresso da medicina, pela capacitação das
pessoas da terceira idade e pelo aumento da produtividade da mão-de-obra.
As conclusões apontam, assim, para uma PEA menor, em relação às
crianças e aos idosos, que será onerada pelas novas demandas sociais decorrentes.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil esteja
capacitado a atender às possíveis demandas sociais geradas pelo futuro
crescimento dos dependentes (crianças e idosos).
137
- implementação do Cartão Nacional de Saúde.
Em que pese o grande progresso alcançado, são grandes as dificuldades para
que as ações e serviços de saúde sejam ofertados de modo eficiente, eqüitativo e
com qualidade.
Especialistas indicam que os gastos com saúde efetuados pelas famílias são
o quarto grupo mais volumoso de despesas de consumo, atrás apenas de
habitação, alimentação e transporte. Esses dispêndios têm impacto muito maior
sobre os rendimentos das famílias mais pobres. Os gastos com medicamentos dos
10% mais pobres da população representam, em média, quase 1/4 do rendimento
dessas famílias.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de ampliar o acesso ao
Sistema Único de Saúde (SUS), melhorando a qualidade dos serviços ofertados.
138
de desemprego é fruto da dinâmica de dois outros indicadores relevantes: a taxa
de ocupação, que espelha a demanda por mão-de-obra; e a taxa de participação,
que reflete a oferta de empregos.
Períodos de crescimento econômico podem registrar, ao mesmo tempo,
aumento da ocupação e do desemprego, bastando para isso que o aumento na taxa
de participação (retorno ao mercado daqueles anteriormente desestimulados) seja
superior àquele da taxa de ocupação. Por esta razão, maior ênfase é conferida ao
comportamento da taxa de ocupação, quando se deseja avaliar o andamento do
mercado de trabalho no que se refere à geração de renda para as famílias.
No período anterior ao Plano Real, o mercado de trabalho gerou, em termos
líquidos, cerca de 400 mil postos, entre 1991 e 1993, o que equivale a um
crescimento médio de 0,5% ao ano. Entre 1994 e 1996, foram criados mais de 1
milhão de postos, no mercado urbano. Houve nova estagnação entre 1996 e em
meados de 1999 (0,5% ao ano). Entre o segundo semestre de 1999 e 2000, houve
crescimento acentuado na ocupação. Em 2001 ocorreu nova estagnação (0,6% ao
ano). Em 2004, foram gerados mais de 1,5 milhão de postos de trabalho formais,
representando um aumento de 6,55% em relação ao ano anterior.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade da geração de emprego (taxa
de ocupação) crescer a uma taxa superior a 2% ao ano, vale dizer,
significativamente acima do crescimento anual observado desde 1991, de forma a
absorver, pelo menos, o crescimento vegetativo da população em idade ativa.
139
potencialidades, que podem ser aproveitadas para promover o desenvolvimento de
cada área. Essas propostas têm indicado uma nova concepção para o
desenvolvimento, estruturada sobre objetivos estratégicos que destaquem as
vantagens competitivas locais, estimulando o empreendedorismo e a gestão
pública, com controle social. Além disso, indicam que um novo contrato de
desenvolvimento deverá ser realizado entre os atores sociais locais, suas
organizações e o poder público, considerando uma lógica de distribuição setorial
de recursos que leve em consideração a realidade territorial, que seja
direcionadora de projetos pragmáticos e que aproveite as vantagens locais.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que as características e
potencialidades de cada área geográfica venham a ser aproveitadas pelo governo e
pela sociedade, incorporando nova concepção de elaboração de projetos de
desenvolvimento, a ponto de reduzir significativamente as desigualdades
regionais.
140
com novos pólos urbanos ao Oeste do Brasil, está em discussão. Numa sociedade
fortemente voltada para serviços, a projeção de uma rede de cidades torna-se o
centro do debate do planejamento territorial do Brasil para os próximos anos.
Diante de uma nova e complexa desigualdade regional, há uma percepção
generalizada de que o combate às assimetrias é cada vez mais um problema
nacional e não mais de áreas isoladas.
Todavia, embora essa conjuntura permita antever a possibilidade de um
reordenamento do território brasileiro, seus críticos alegam que a criação de novos
estados, territórios ou municípios acarretará uma multiplicação de órgãos públicos
(assembléias, secretarias, tribunais etc), ampliando significativamente os custos da
burocracia estatal, em detrimento dos investimentos destinados à infra-estrutura
econômica e ao desenvolvimento social.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que ocorra um
reordenamento político-administrativo territorial do Brasil, de modo a contribuir
para a construção de uma federação mais equilibrada em termos sociais, políticos
e econômicos.
141
instalações e estruturas, investigação científica marinha e proteção e preservação
do meio marinho.
Na plataforma continental, que pode se estender além da ZEE, alcançando
até 350 milhas marítimas da linha de base da costa, é reconhecido o direito de
soberania da utilização dos recursos vivos e dos recursos minerais do leito e do
seu subsolo. Para que o Estado costeiro tenha esse direito é necessário que
apresente à Comissão de Limites da Plataforma Continental da ONU os estudos
realizados que comprovem que a sua plataforma continental se estenda além das
200 milhas marítimas. O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a
apresentar a sua proposta em setembro de 2004, delimitando a sua última
fronteira, a fronteira para o leste.
A zona econômica exclusiva (ZEE) mais a plataforma continental (PC)
brasileira somam uma área de quase 4,5 milhões de Km2, que está sendo chamada
de “Amazônia Azul”, por envolver imensos recursos naturais, com destaque para
o petróleo, de onde é extraído quase 90% do total produzido pelo País. Também é
necessário que o Brasil estabeleça os limites de captura sustentável de recursos
vivos, principalmente pescados, da ZEE e que efetivamente seja capaz de explorá-
los, sob pena de ter que ceder seus direitos para terceiros países, o que poderá se
configurar como um potencial foco de futuras crises internacionais.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de o Brasil vir a ter a
capacidade de gerir sustentavelmente os recursos existentes na zona econômica
exclusiva e na plataforma continental, em conformidade aos acordos
internacionais.
142
Aqüífero Guarani – se estende sob o território brasileiro, paraguaio, argentino e
uruguaio.
O Brasil tem buscado implementar programas de racionalização e uso
sustentável de seus recursos hídricos. Para isso, formulou e aprovou uma política,
considerada uma das mais avançadas do mundo, por trazer, em seu texto,
instrumentos tradicionais e modernos de gestão dos recursos hídricos. O governo
vem desenvolvendo diversas ações, no sentido de estabelecer uma gestão
descentralizada e participativa desse recurso, cuja materialização começa a
ocorrer por meio das instalações de Comitês de Bacias Hidrográficas.
Observa-se que o desrespeito à legislação ambiental, por parte de diversos
setores usuários dos recursos hídricos (agricultura irrigada, saneamento, indústria,
mineração, transporte, turismo etc.), associado à fragilidade institucional dos
órgãos encarregados do seu monitoramento e fiscalização, têm contribuído para o
agravamento da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos.
Se, por um lado, é pequena a possibilidade de que o Brasil venha a estar
envolvido em conflito mundial nas próximas décadas, motivado pela posse de
fontes de água doce, por outro, poderá ter de enfrentar contenciosos regionais em
função, por exemplo, da poluição de cursos d’água transfronteiriços e de
aqüíferos. É possível, ainda, que venham a ocorrer disputas internas entre os
diversos setores usuários dos recursos hídricos, em função da escassez de água
e/ou do comprometimento de sua qualidade.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que ocorram eventuais
contenciosos que envolvam o Brasil, com relação ao comprometimento da
qualidade e do uso dos recursos hídricos.
28. AMAZÔNIA
O potencial da Região Amazônica, baseado em exuberantes recursos
naturais, é reconhecidamente imenso, assim como seus problemas. O governo
federal, em parceria com os estados e municípios amazônicos, tem buscado
implementar uma série de programas e projetos de desenvolvimento sustentável.
Tais ações visam a preservar os direitos e as culturas dos povos da floresta; apoiar
as experiências de novas formas de produção e uso sustentável dos recursos
143
naturais; e valorizar os conhecimentos locais.
Recentemente, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) – considerado
como um importante passo para o fortalecimento da presença do Estado na região
– iniciou suas operações. Contudo, inúmeros problemas afligem as populações
locais, com reflexos em todo o País: contrabando de armas; tráfico de drogas;
garimpo ilegal; exploração ilícita de madeira; desmatamento acelerado com a
supressão das reservas legais; redução das áreas de preservação permanente;
expropriação da biodiversidade (biopirataria); confrontos entre indígenas,
garimpeiros, proprietários rurais e posseiros; missões religiosas irregulares e a
serviços de terceiros; associação de índios com contrabandistas e estrangeiros;
contrabando de animais silvestres e de recursos naturais; e ameaça de
transbordamento da crise colombiana.
Essa conjuntura não é restrita ao território brasileiro, mas comum, em
muitos aspectos, a todos os países do chamado Arco Amazônico (Bolívia, Brasil,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela). Esse quadro enseja a
possibilidade de integração desses países na busca de soluções comuns e
pragmáticas, evitando o aumento das pressões de grupos estrangeiros que,
objetivando a exploração comercial das riquezas da Amazônia, defendem a tese
de sua internacionalização.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil implemente
efetiva política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia e estabeleça
processos de cooperação internacional, de sorte a reduzir as pressões externas
sobre a região.
144
de manter seu domínio econômico e o acesso privilegiado às fontes de matérias-
primas e mercados.
A América do Sul, embora distante dos grandes focos mundiais de tensão e
constituindo a região mais desmilitarizada do planeta, não está livre de conflitos.
A disputa por recursos minerais, a pesquisa e a industrialização de recursos
advindos da biodiversidade, a posse de grandes mananciais de água doce, a
exploração da plataforma continental e o controle da Amazônia podem tornar-se
focos de tensões no futuro, envolvendo o Brasil e demais países da América do
Sul em conflitos gerados por compromissos assumidos em acordos internacionais
ou em conseqüência de ameaças ao patrimônio e interesses comuns na região.
Os sistemas de defesa das nações da América do Sul poderão continuar
autônomos, como ocorre atualmente, ou se consolidar em um sistema coletivo de
defesa, como ocorre na União Européia.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil fortaleça sua
capacidade de defesa, isoladamente ou como parte de um sistema coletivo de
defesa com os países vizinhos, para enfrentar novas ameaças e desafios, garantir a
proteção de seu território e respaldar negociações de âmbito internacional.
145
por combustíveis mais limpos ensejam investimentos na indústria de etanol no
Brasil e a possibilidade de incrementar as exportações. O gás natural é outra
importante alternativa ao óleo diesel e à gasolina, graças às recentes descobertas
em solo brasileiro e à construção do gasoduto Brasil-Bolívia.
Atualmente, a composição da matriz brasileira de combustíveis é de 86% de
derivados de petróleo, 2% de gás natural e 12% de biocombustíveis.
Especialistas indicam que, comparada à produção atual, o crescimento da
produção de cana-de-açúcar, para 2015, será da ordem de 33% e, para 2022, 66%.
Com relação à da utilização do gás no transporte, estima-se um crescimento da
ordem de 18% ao ano.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que os biocombustíveis e
o gás natural passem a representar, cada um deles, pelo menos 20% da matriz
brasileira de combustíveis, em 2015, e 30%, em 2022.
31. INFRA-ESTRUTURA
A reorganização da infra-estrutura coloca-se no centro do debate do
desenvolvimento, justamente pela forte influência que exerce sobre os demais
setores da economia. A insuficiência de investimentos nesta área tende a levar ao
surgimento de gargalos que poderão inviabilizar um ciclo de crescimento
sustentável.
No que se refere à logística, por exemplo, a deterioração das condições dos
transportes de carga aumenta os custos dos fretes, afetando negativamente a
competitividade das empresas. Já no caso do transporte urbano, os baixos
investimentos pioram a qualidade dos serviços e aumentam o tempo médio de
deslocamentos diários nas grandes cidades, onerando os trabalhadores e
aumentando os custos para os empregadores.
O setor de energia merece especial atenção, por representar condição básica
para o desenvolvimento. Seus projetos normalmente demoram a entrar em
operação, exigem vultosos recursos e demandam longo prazo para retorno dos
investimentos, dificultando as parcerias com o empresariado.
Os recentes esforços no sentido de reorientar os orçamentos públicos e atrair
a iniciativa privada conseguiram elevar o volume de recursos destinados à infra-
146
estrutura de 0,5% para 1,7% do PIB, entre 2004 e 2005, segundo instituições
especializadas no setor. Contudo, especialistas indicam que seriam necessários
investimentos anuais na ordem de 3% a 5% do PIB, especialmente em energia e
logística, para manter o Brasil competitivo em relação ao mercado global.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o País eleve os
investimentos totais em infra-estrutura para no mínimo 3,5% do PIB, até 2015, e
5%, até 2022, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.
147
políticas que possibilitem a melhoria desse quadro, em âmbito nacional.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de haver uma progressiva
melhora da qualidade do ensino básico no Brasil, de modo a posicioná-lo entre os
20 melhores países, em 2015, e entre os 15 melhores, em 2022.
148
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que, na faixa etária
adequada, seja alcançada a universalização da educação básica (educação infantil
+ ensino fundamental + ensino médio), cumprindo não só os Objetivos do Milênio
acordados na ONU, como também ampliando as metas definidas pelo atual Plano
Nacional de Educação.
149
pessoas.
Computadores, internet e telefones celulares tendem a, progressivamente,
ser parte do cotidiano da maior parte da população, inclusive a de baixa renda.
Atualmente, cerca de 15% das residências brasileiras têm computador e cerca de
30% da população, telefone celular. O acesso à internet nas classes A e B chega a
cerca de 80%, aproximando-se do índice observado em países mais ricos, embora
na classe C esse percentual caia para 23% e nas classes D e E seja de apenas 6%.
O acesso a computadores e redes é apenas um aspecto da inclusão. As
tecnologias digitais estão sendo crescentemente incorporadas a serviços públicos
(telemedicina, telebancos, controle e monitoramento de transportes públicos, etc),
garantindo o acesso universal aos benefícios dessas aplicações. O próprio
desenvolvimento da TV Digital poderá combinar as características tradicionais da
televisão com as do computador pessoal, permitindo a comunicação, a partir de
um canal interativo, com um portal de serviços on-line, que poderá universalizar
os benefícios da informação e contribuir para a inclusão digital de parcela
significativa da população.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de se promover a progressiva
inclusão digital da população brasileira, elevando seu acesso a computadores,
redes de comunicação e serviços digitais a mais de 60%, em 2015, e mais de 80%
em 2022.
150
uma sociedade mais justa e equânime.
O impacto econômico das TICs advém de duas razões principais. A primeira
é que esta revolução tecnológica permeia todos os demais setores, da produção
primária até o setor de serviços, que por sinal, é o principal demandador de TICs.
Embora a questão dos efeitos quantitativos das TICs sobre a produtividade total
da economia de um país ainda seja objeto de discussões, é inegável o impacto, no
mínimo qualitativo, que as TICs têm sobre a organização da produção e na
constituição das redes de valor no mundo globalizado. A segunda razão é o
potencial de mudanças nas cadeias setoriais, seja pela reconfiguração dos papéis,
seja pelo surgimento de novos atores ou ainda pelo desaparecimento de outros,
tragados pela onda de inovações que as TICs carregam.
De qualquer forma, as TICs precisam ser extensiva e intensivamente
incorporadas na economia brasileira de maneira a sustentar o seu crescimento,
tanto no ambiente do comércio internacional quanto na modernização dos setores
tradicionais e no desenvolvimento de novos setores.
A publicação do Banco Mundial, "2004 World Development Indicators",
ainda tomando por base dados de 2002, apontou uma despesa com TICs per capita
no Brasil da ordem de US$ 205, correspondendo ao 37º lugar num ranking de
despesas com TICs per capita, como medida da produção e consumo de bens e
serviços baseados em TICs. Isto é quase 10 vezes menos que o dispêndio dos
EUA (US$ 2.358 – 1º lugar) e 3 a 4 vezes menos que o da República da Coréia
(US$ 645 – 25º lugar) e o dos países da Europa mediterrânea, como Grécia (US$
604 – 26º lugar), Portugal (US$ 697 – 24º lugar), Espanha (US$ 734 – 23º lugar) e
Itália (US$ 898 – 22º lugar). Outros países emergentes apresentaram números
muito variados: China, US$ 58 (45º lugar); Índia, US$ 13 (48º lugar); África do
Sul, US$ 225 (36º lugar). A vizinha Argentina também apresentou um número
baixo, US$ 95 (41º lugar).
Apesar das dificuldades em se medir, de forma acurada, a penetração das
TICs, o índice acima é bastante abrangente quanto à medida do impacto
econômico das TICs, porquanto engloba despesas com produtos e serviços
baseados em TICs adquiridos por residências, empresas, governos; despesas com
desenvolvimento próprio (principalmente software); e despesas com
151
telecomunicações e equipamentos de automação de escritório.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de o Brasil estar entre os 25
países com maior produção e consumo de bens e serviços de TICs per capita, em
2015, e entre os 20, em 2022.
37. BIOTECNOLOGIA
As pesquisas científicas e tecnológicas, associadas à produção industrial,
tendem a impor novos paradigmas com velocidade maior do que o previsto,
confirmando as observações de estudiosos do progresso científico da humanidade
de que a aceleração nas descobertas e inovações não é apenas constante, mas
crescente.
Advogam muitos especialistas que o Século XXI será o Século do
Conhecimento, no qual parte do poder mundial será redirecionado para os países
que dominarem as novas tecnologias capazes de causar impactos inovadores nos
mercados internacionais e na vida cotidiana das nações.
Nesse contexto, a biotecnologia tem sido apontada como uma das mais
promissoras fronteiras do conhecimento, pela possibilidade de agregar valor ao
imenso potencial da biodiversidade presente no território nacional. Todavia, a
competitividade nesse setor é precedida da criação de empregos altamente
especializados, exigindo vultosos investimentos, públicos e privados, na formação
de recursos humanos.
Especialmente no tocante à biotecnologia derivada dos progressos
resultantes do conhecimento genético, descobertas inéditas e complexas têm sido
levadas à opinião pública mundial, ensejando acaloradas discussões sobre a base
ética das pesquisas, bem como sobre o controle regulamentar cabível dos Estados
sobre as mesmas.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade do Brasil acompanhar a
evolução da biotecnologia, de maneira a participar competitivamente no mercado
internacional.
152
diversos programas de alta tecnologia em áreas sensíveis. O potencial nacional
para o setor aeroespacial é promissor, pois a Base de Alcântara, no Maranhão,
situada próxima à linha do Equador, oferece condições geográficas que permitem
uma redução substancial nos custos de lançamentos. Outro exemplo dessas
tecnologias é a construção de um Veículo Lançador de Satélite (VLS). Nossos
cientistas já detêm suficiente conhecimento para participar de projetos de
construção de satélites de comunicações e de sensoriamento remoto.
O País também desenvolve um programa nuclear que compreende os
diferentes aspectos do uso da energia nuclear, seja sob o ponto de vista energético,
tecnológico, ambiental ou de suas aplicações na medicina, agricultura e na
indústria. A energia nuclear representa não apenas uma das alternativas a mais
para se gerar energia, mas todo um sistema tecnológico com diversas aplicações e
opções consideradas estratégicas. O objetivo atual do programa nuclear brasileiro,
com destaque para o Projeto Aramar, é o domínio da tecnologia do ciclo do
combustível nuclear e do projeto de reatores nucleares para geração de energia
elétrica, de forma autônoma, sem a participação de parceiros internacionais.
Recentemente, uma demonstração da capacitação das equipes técnicas nacionais
envolvidas no programa nuclear foi dada através do domínio da tecnologia do
enriquecimento de urânio pelo processo das centrífugas de gás. A tecnologia de
enriquecimento do urânio é dominada por apenas oito países em todo mundo. Na
medicina e na engenharia o uso de radioisótopos é indispensável e permanecerá
para sempre como um dos benefícios que o desenvolvimento da tecnologia
nuclear trouxe para a humanidade, especialmente para o diagnóstico e tratamento
do câncer, de doenças neurológicas e cardíacas. O País tem por meta a auto-
suficiência na produção de radiofármacos na próxima década.
Há crescente conscientização da sociedade sobre a importância do domínio
dessas tecnologias. Contudo, os países mais avançados restringem ao máximo a
transferência dessas tecnologias, afirmando que são de emprego dual, ou seja,
podem ser usadas tanto para fins pacíficos como bélicos. Outro obstáculo para o
sucesso de programas desse tipo tem sido a escassez de verbas e a irregularidade
na sua liberação, uma vez que os bons resultados exigem continuidade e são de
longa maturação.
153
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de o Brasil tornar-se um
importante ator internacional no desenvolvimento e comércio de tecnologias
sensíveis, com fins pacíficos.
39. NANOTECNOLOGIA
É crescente a conscientização da sociedade sobre a importância do
desenvolvimento científico e tecnológico para melhorar a competitividade dos
nossos produtos, gerar divisas e aumentar o bem-estar social. A nanotecnologia
desponta como uma nova e promissora fronteira de inovação do conhecimento
que poderá contribuir para a redução do atraso científico-tecnológico do Brasil em
relação aos países desenvolvidos.
O Brasil já possui satisfatório estoque de conhecimento em nanotecnologia,
embora ainda seja inacessível para a maioria da sociedade, em especial os
pequenos e médios empresários, não obstante o impacto esperado dessa tecnologia
no mercado de bens tangíveis. A nanotecnologia permitirá às indústrias
desenvolverem moléculas com características específicas para o produto que se
deseja construir e que não estejam disponíveis em estado natural. Essa
possibilidade terá um impacto avassalador sobre os produtos e sistemas de
produção que não se adaptarem a esta nova realidade científico-tecnológica.
O governo, a comunidade acadêmica e o setor empresarial têm estudado
propostas no sentido de estabelecer uma política de nanotecnologia que aproxime
a pesquisa acadêmica das empresas e também que fomentem a demanda das
indústrias por novos produtos de base nanotecnológica. Contudo, para que essa
nova tecnologia se torne realidade no Brasil são necessários elevados
investimentos de recursos públicos e privados.
A pergunta que se faz é sobre a possibilidade de que o Brasil venha a ser um
importante ator internacional em produtos baseados em nanotecnologia.
154
foram inferiores às do período 1994/1997. Destaca-se, ainda, a baixa participação
do setor privado nos investimentos nacionais em Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D), estimada em pouco mais de 1/3 do total; e a natureza tímida da concessão
de incentivos fiscais à inovação, sendo que os mecanismos existentes hoje têm
pouco foco na geração de patentes e processos inovadores, concentrando-se em
montagem de equipamentos, como é o caso da Lei de Informática.
O Brasil investe menos de 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em
atividades de P&D, enquanto os países mais avançados e alguns países de
industrialização recente, como a Coréia do Sul, estão investindo entre 2% e 3%.
Além da menor intensidade do esforço brasileiro e do menor montante absoluto
dos recursos, os países desenvolvidos também dispõem de uma infra-estrutura
mais adequada e, portanto, mais eficiente.
Há uma crescente conscientização da sociedade no que se refere à
importância do desenvolvimento científico e tecnológico para melhorar a
competitividade dos nossos produtos, gerar divisas para o País e aumentar o bem-
estar social. O governo tem procurado ampliar os recursos destinados à P&D, mas
também buscado incentivar as empresas privadas para que aumentem sua
participação no setor de CT&I.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que sejam aumentados os
investimentos públicos e privados em Ciência, Tecnologia e Inovação, alcançando
cerca de 2% do PIB em 2015, e 3% do PIB em 2022.
41. BIODIVERSIDADE
A biotecnologia tem sido apontada como uma das mais promissoras
fronteiras do conhecimento. Governos e empresas de todo o mundo têm investido
vultosos recursos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nessa área, com
resultados que já beneficiam a sociedade e proporcionam significativo retorno aos
investidores.
O Brasil dispõe de enorme potencial para a exploração científica e
tecnológica da biodiversidade, mas ressente-se de políticas adequadas para o
desenvolvimento de programas específicos, seja pela carência de recursos
financeiros, seja por não ter o domínio de grande parte das tecnologias
155
pertinentes. Existem propostas para a criação de um adequado arcabouço que
garanta a pesquisa e a exploração de nossas riquezas naturais. A pesquisa nacional
de biodiversidade deverá, prioritariamente, permitir a definição do manejo
sustentável dos recursos naturais, preservando as riquezas e a diversidade de
nossos biomas.
As dificuldades, porém, são muitas. A fraca presença estatal em áreas de
inexplorada biodiversidade – como a Amazônia e o Pantanal – facilitam a atuação
de biopiratas. Além disso, países desenvolvidos, como os Estados Unidos, não
aceitam discutir o combate à biopirataria, no âmbito dos fóruns internacionais.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de o Brasil implementar
políticas que lhe permitam pesquisar e explorar, de forma soberana, os recursos de
sua biodiversidade, evitar as ações danosas da biopirataria e estabelecer o manejo
sustentável de nossos biomas.
156
potencial e significativas vantagens comparativas, uma vez que dispõe de vasto
território, de uma matriz energética “limpa” e de áreas agrícolas em processo
contínuo de produção.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de o Brasil contar, em 2015,
com cerca de 10% do mercado mundial de créditos de carbono e, em 2022, com
aproximadamente 20% desse mercado.
157
44. BLOCO POLÍTICO-ECONÔMICO NO CONTINENTE AMERICANO
As associações de países em blocos comerciais têm sido a mais viva
expressão do processo de globalização econômica atualmente em curso. São
exemplos disso a União Européia e, no continente americano, o Nafta (o Acordo
de Livre Comércio Norte-Americano) que integra, desde 1994, as economias do
Canadá, do México e dos Estados Unidos. Por iniciativa deste último, vem sendo
discutida a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
O conjunto de 34 países envolvidos na negociação da Alca representa
aproximadamente a metade do comércio exterior e dos investimentos externos no
Brasil. Essa negociação encontra-se praticamente estagnada por divergências em
relação ao escopo e método do processo de integração, principalmente entre os
Estados Unidos e o Brasil.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que a Alca se concretize,
num quadro de equilíbrio e considerando os interesses brasileiros.
158
46. BLOCO POLÍTICO-ECONÔMICO DA AMÉRICA DO SUL
O Mercosul não é o único projeto de integração em curso no espaço sul-
americano. Recentemente, têm ocorrido negociações para a formação de uma área
de livre comércio reunindo todos os países da América do Sul, a qual, se
concretizada, reservará para o Brasil um importante papel no subcontinente, com
as obrigações econômicas, políticas e de segurança daí decorrentes. Um
importante passo nesse sentido foi o acordo assinado, em 18 de outubro de 2004,
aproximando o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações (CAN), instalando
as bases para o processo de integração. A Comunidade Andina de Nações é
formada por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
As tentativas de integração no continente americano, todavia, têm
encontrado sérias dificuldades. Há um reconhecimento tácito de que o Mercosul
tem avançado em ritmo muito lento, em uma conjuntura marcada pela necessidade
de um fortalecimento regional que proporcione melhores condições de negociação
em âmbito global. E a negociação da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca) encontra-se praticamente estagnada por divergências em relação ao escopo
e método do processo de integração, principalmente entre os Estados Unidos e o
Brasil.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que venha a existir um
“espaço econômico integrado” na América do Sul, com papel de destaque do
Brasil e as obrigações econômicas, sociais, culturais, políticas e de segurança daí
decorrentes.
159
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que seja efetivado um
acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, incrementando
significativamente o comércio entre as regiões e o intercâmbio cultural entre os
países participantes.
160
com vistas a incorporar novos membros permanentes, como a Alemanha, o Japão,
a Índia, o Brasil e a África do Sul.
As disputas regionais e o posicionamento de alguns dos atuais membros
permanentes, contudo, são obstáculos de vulto que tornam complexas as
negociações diplomáticas em torno do assunto.
A pergunta que se faz é quanto à possibilidade de que o Brasil passe a
integrar, como membro permanente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
161
11. ANEXO 2- Projeto Mauatur
Fonte: Conselho Gestor para a micro bacia hidrográfica do alto Rio Preto.
Disponível em:
http://www.crescentefertil.org.br/mantiqueiramaua/dados_mauataur.htm
ÍNDICE DE EVENTOS
162
1. PRESERVAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO PRETO
A região de Visconde de Mauá está localizada dentro de uma Área de
Preservação Ambiental (APA) e tem no Rio Preto um de seus principais atrativos
turísticos. Por falta de políticas públicas – a região abrange três municípios e dois
estados, o que dificulta sobremaneira as verbas para o saneamento –, apesar dos
esforços das autoridades (Ibama), boa parte do esgoto doméstico acaba atingindo
o Rio Preto, o que tem tornado suas águas não-potáveis em grande parte do
percurso, principalmente entre a Maromba e a Vila de Mauá.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31 de dezembro de 2010,
este problema não seja resolvido de modo satisfatório, agravando a qualidade da
água do Rio Preto a ponto de este deixar de ser uma atração turística para a região.
163
possibilidade de atuar de modo deliberativo, integrando a cadeia de licenciamento
ambiental dos processos relativos ao uso do solo, bem como de aplicação de
futuras políticas públicas, quanto à utilização e à manutenção de recursos hídricos.
A questão se refere à probabilidade de que, até 31 de dezembro de 2010,
tendo sido este projeto concluído, o Comitê de Gestão Integrada esteja em pleno
funcionamento.
164
acima de 4% ao ano.
165
sustentada para a coleta e a destinação do lixo urbano.
166
ambiental ensinada nas escolas alcancem um resultado significativo, com o
aumento da consciência ambiental dos moradores da região.
167