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envolvido no jogo, melhor o rendimento (93%); c) conhecer as regras claramente

ajuda a jogar melhor (85%); d) joga-se melhor quando se está concentrado em


vencer o adversário ou em executar a ordem recebida (83%); e) o jogador (rião o
treinador) considera-se o responsável por sua atuação (76%); f) o atleta joga melhor
quando relaxado (76%).
O consenso entre os treinadores foi mais baixo que entre os jogadores. Dos 82
jogadores avaliados pelos treinadores o resultado mostrou que: a) o atleta joga·
melhor depois de uma boa partida e não de uma má partida (59%); b) o jogador
atua melhor após elogio e não após crítica (78%). Também deve-se acrescentar que
seis dentre os nove treinadores julgam que o jogador é o responsável pela sua
atuação, por estar ativado, preparado para o jogo (a percentagem é alta mas não
tanto quanto as respostas dos atletas).

ATHAYDE RIBEIRO DA SILVA

Evans-Pritchard, E. E. Bruxaria, oráculos e magia entre os azande. Rio, Zahar,


1978,3l6p.

Em 1976, editou-se na Inglaterra uma síntese da obra de Evans-Pritchard, de


1937, cuja citação sempre fora obrigatória entre as referências bibliográficas de
qualquer trabalho que versasse sobre magia ou religião africanas, mas que se tor-
nara quase inalcançável pela raridade. É desta edição que a Zahar nos oferece uma
tradução de qualidade incomum. O tradutor, Eduardo Batalha Viveiros de Castro,
não só domina a língua como também entende do assunto. Fato tão raro entre
nós, que !Derece um reparo especial.
Se for permitido dar um conselho aparentemente paradoxal, o pesquisador
em ciências sociais talvez deva começar a leitura do livro pelo último capítulo,
intitulado: "Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo", que
constitui a melhor das introduções ao estudo dos problemas metodológicos susci-
tados pelo trabalho etnográfico. Como descrever, sem deturpá-la, uma realidade
totalmente estranha às vivências e à formação do observador? Como integrar-se
sem despersonalizar-se? Até onde é possível penetrar na compreensão do outro?
O que garante a validade da observação e o alcance das descrições?
Num discurso impregnado por um sense of humor tipicamente britânico, o
autor aborda as questões fundamentais. Ao mesmo tempo que afirma a necessi-
dade do respaldo teórico para saber "o que" e "como observar", dá uma grande
lição de humildade: "Eu não tinha interesse por bruxaria quando fui para a terra
zande, mas os azande tinham; de forma que tive que me deixar guiar por eles"
(p.300). Deixar-se guiar significa ouvir o que os outros têm para contar, sem
recorrer de antemão aos próprios sistemas de explicação. O observador partici-

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pante tem de viver em dois mundos ao mesmo tempo: o seu próprio, com seus
hábitos de viver e pensar; e o do grupo observado, sem procurar remeter as
vivências do grupo às suas próprias, nem tampouco cair na tentação de "virar
nativo".
"Em minha própria cultura, dentro da atmosfera de pensamento em que nasci
e fui criado, rejeitava, e rejeito, as noções zande sobre bruxaria. Na cultura deles,
dentro do horizonte de idéias em que então vivia, eu as aceitava; e de certa forma
acreditava nelas" (p. 303).
Quem não possui aptidões para sustentar ao mesmo tempo dois sistemas
opostos, tornando-se, nas próprias palavras de Evans-Pritchard "um duplo maPgi-
nal, alienado de dois mundos", não deve dirigir-se para a antropologia cultural.
O autor aborda também os problemas dos informantes, mostrando que todo
conhecimento é necessariamente parcial. Erra quem generaliza a partir de algumas
pouéas observações. É preciso multiplicar os pontos para checar as informações.
Mas seria tolice afirmar que alguém estranho possa entender perfeitamente
sistemas de crenças que nem sempre se apresentam consistentes nos próprios
representantes da cultura observada. Por mais que se domine a língua, qualquer
tradução oferece apenas uma aproximação do discurso original.
O livro todo ilustra plenamente essa humildade e esse respeito pelo discurso
do outro. Evans-Pritchard relata, em tom extremamente simples, tudo aquilo que
pôde observar do universo zande, dominado pela bruxaria.
A bruxaria zande nada tem a ver com aquilo que conhecemos no ocidente:
"os azande acreditam que a bruxaria é uma substância existente no corpo dos
bruxos ( ... ). Eu nunca vi a substância-bruxaria humana, mas ela me foi descrita
como sendo um saquinho ou uma inchação enegrecida e oval, dentro do qual
costumam ser encontradas uma variedade de pequenos objetos" (p. 38). Grande
parte da vida dos azande é dedicada à identificação dos trabalho de bruxaria,
mediante o recurso a diversas técnicas de oráculo. Todo homem pode ser bruxo
sem saber, e fazer o mal sem querer. Daí um complicado sistema de ritos para
assegurar-se da boa vontade do bruxo eventual. É preciso ler o livro, pois um
simples resumo alusivo corre o risco de desvirtuar conteúdos tão originais.
O território dos azande cobria uma área que foi dividida em três países, em
conseqüência da colonização por três nações diversas: Inglaterra, França e Bélgica.
Tal fato é comum na África: as fronteiras políticas, determinadas pelos domínios
das potências européias, agruparam povos heterogêneos, freqüentemente inimigos,
e desmembraram povos unidos por culturas seculares. Esquartejados entre o Zaire,
o Sudão e a República Centro-Africana, os azande têm provavelmente perdido
hoje parte do seu universo místico original. O livro de Evans-Pritchard permanece
como testemunha de uma cultura que talvez hoje não exista mais, e como ponto
de partida para uma meditação sobre conflitos estruturais das jovens nações afri-
canas.

MUNIQUE AUGRAS

Resenha hihliográfica 219

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