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AO JUÍZO DE DIREITO DO __ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE IBIRAMA/SANTA

CATARINA

XXXXXXXXX, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por


intermédio de sua advogada infra firmada (mandato anexo), propor a
presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS contra

GOL LINHAS AÉREAS S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ nº 07.575.651-0001-59, com endereço PC Senador Salgado Filho, s/n,
Terreoaerea Pública Ent Eixos 46 – 48 O-P, Sala de Gerência Back Office,
Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20.021-340, endereço eletrônico:
bambanassessoria@bambanassessoria.net, pelos fatos e fundamentos
seguintes.

DOS FATOS

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A Requerente programou sua viagem de férias de fim de ano com destino a
Salvador/BA, adquirindo passagens aéreas com a Requerida através de programa de milhagens. O
embarque ocorreu no aeroporto de Navegantes/SC no dia 27/12/2021 às 09 horas, conexão em
Guarulhos/SP, e dali para Salvador/BA, com embarque às 14 horas. Levou consigo bagagem de mão e
uma mala grande, despachada.

O voo transcorreu normalmente, sem incidentes, porém, quando a


Requerente chegou em Salvador, ao se dirigir à esteira para pegar sua bagagem, recebeu sua mala
completamente avariada, como pode se constatar através da imagem colacionada:

A Requerente, ainda no aeroporto, contatou um funcionário da Gol, empresa


Requerida, a fim de verificar que procedimentos tomar por conta do dano ocasionado na mala, e foi
informada que deveria entrar em contato com o SAC da empresa por meio de um telefone 0800, que ali
nada poderiam fazer.

Porém, a Requerente desistiu, tendo em vista a longa espera no atendimento


dessa via de comunicação, o que certamente causa mais aborrecimentos do que a efetiva solução para
o problema.

O seu retorno estava previsto para dia 07/01/2021, com embarque no


aeroporto de Salvador às 17 horas e 45 minutos, com conexão em Brasília/DF, e de Brasília para o
destino final, Navegantes/SC.

A aeronave partiu de Salvador, e aproximadamente uma hora e meia de voo


depois, quase chegando em Brasília, o avião teve que retornar a Salvador, tendo a Requerida alegado
problemas técnicos. Não foram dadas maiores informações aos passageiros, somente que teriam que
ser realocados em outros voos.

A Requerente foi realocada num voo no dia 09/01/2021, que partiu de


Salvador para Guarulhos às 09 horas e 05 minutos, e posteriormente de Guarulhos com destino final a
Navegantes.

Não bastasse o atraso de mais de um dia no embarque para o trecho de


volta da Requerente, a única assistência prestada pela Requerida foi de transporte, ida e volta para o
aeroporto. A Requerente então se hospedou na casa de amigos em Salvador, onde permaneceu até o
dia do novo embarque. A Requerida sequer ofertou assistência material para alimentação.

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Assim, além do dano causado em sua mala, a Requerente ainda teve o seu
voo cancelado, sendo realocada em outro voo somente dois dias depois do dia que deveria ter
retornado a Santa Catarina, sem que a Gol sequer prestasse a assistência material devida.

Constata-se que tais fatos lhe causaram prejuízos tanto de ordem material
quanto moral, pela conduta abusiva da Companhia Aérea Requerida, que não tem o mínimo zelo com
os pertences materiais de seus clientes, bem como, age com descaso com relação à assistência
material e realocação de seus passageiros quando ocorre cancelamento de voo, devendo assim, ser
compelida a compensar os danos experimentados pela consumidora.

DO DIREITO

Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor

A Requerida exerce atividade no ramo de transporte aéreo nacional e


internacional, e enquadra-se no conceito consumerista de fornecedora de serviços (“Fornecedor é toda
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços” art.3º do CDC).

Está plenamente caracterizada a existência de uma relação jurídica de


consumo na qual a companhia aérea figura como fornecedora na modalidade de prestadora de serviço,
enquanto a Requerente figura como consumidora.

Portanto, mister se faz a aplicação dos preceitos do Código de Defesa do


Consumidor no presente caso.

Da inversão do ônus da prova

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A Requerente traz com a inicial prova documental do lamentável episódio
vivenciado, em especial os bilhetes de embarque, fotos, nota fiscal etc.

Então, incontestável a ocorrência do fato, porém, se este Douto Julgador


entender insuficientes as provas juntadas, imperioso que seja invertido o ônus da prova para
determinar à ré que comprove a não ocorrência do acidente de consumo.

Vaticina o art.6º, VIII, do CDC: “Art.6º. São direitos básicos do consumidor:


(...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”.

Não há como a Requerente trazer maiores provas com a exordial, sendo


necessária a inversão do ônus da prova no sentido de fazer a Requerida provar que o defeito nos seus
serviços inexistiu, já que, além de verossímeis as alegações, a Requerente, consumidora, é parte
hipossuficiente na relação.

Da caracterização da responsabilidade civil

É pacífico na jurisprudência tanto do Tribunal de Justiça de Santa Catarina


quanto nos tribunais pátrios que o cancelamento de voo sem a devida assistência material por
companhia aérea, bem como o longo atraso na realocação do passageiro ultrapassa a esfera do mero
aborrecimento e é passível inclusive de reparação por abalo moral ao consumidor prejudicado.

Outro não poderia ser o posicionamento, uma vez que, quando há uma
viagem programada, seja de estudos, lazer ou a negócios, e o consumidor se utiliza do serviço das
companhias aéreas para chegar ao seu destino, o mínimo que se espera é que se tenha uma
prestação de serviços de qualidade.

Viagens normalmente causam um pouco de ansiedade e expectativa em


qualquer pessoa, principalmente uma viagem aérea. Não raras são as ocasiões em que há atraso nos
voos, longas esperas em aeroportos, enfrentamento de filas por falta de infraestrutura tanto dos
próprios aeroportos quanto das companhias aéreas, e ainda tem que se contar com a “sorte” de não ter
o seu voo cancelado, o que é de certa forma fato corriqueiro entre as companhias aéreas e que deve

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ser rechaçado de modo severo pelo Judiciário, para que lhes sirva de punição pedagógica e represente
compensação justa ao consumidor lesado.

Sabe-se que na atual jurisprudência pátria, sedimentada por decisão da


Ministra Nancy Andrighi no REsp 1796716/MG, de 29/08/2019, o mero cancelamento do voo não
presume o dano moral ao consumidor, devendo ser analisadas diversas circunstâncias que envolvem o
caso concreto, conforme irá se abordar adiante, de forma detalhada, em tópico próprio.

Porém, no caso em tela, provada está a modalidade da negligência em


relação à culpa da Requerida pelo defeito do serviço prestado, pois além de a Requerente chegar ao
seu destino e receber sua mala completamente avariada, teve seu voo de retorno cancelado, sendo
realocada somente dois dias depois, sem que a Requerida lhe prestasse toda a assistência material
necessária.

As relações de consumo são pautadas no princípio da boa-fé objetiva, que,


segundo ensinamento do doutrinador Nehemias Domingos de Melo, é o princípio “...pelo qual se exige
das partes que procedam segundo um mínimo de lealdade e padrão ético e em estrito respeito às leis
(art. 4º, III), decorrendo desse princípio outros deveres anexos, tais como o dever de informação, o de
lealdade, o de cooperação mútua e o de assistência técnica. ” (MELO, Nehemias Domingos de. Dano
moral nas relações de consumo: doutrina e jurisprudência. São Paulo. Saraiva: 2008. Pg. 12).

Além do princípio da boa-fé objetiva, tem-se também a responsabilidade


objetiva como regra, ou seja, o prestador de serviços responde, independentemente de culpa, por
quaisquer tipos de danos causados a consumidores, mesmo que iminentemente moral. Portanto, nem
há que a Requerida alegar ausência de culpa, uma vez que sua falha está constatada, e a
caracterização de sua responsabilidade independe de culpa.

No caso em tela, a Requerente contratou serviços de transporte aéreo da


Requerida, efetuou o pagamento do serviço, programou sua viagem, e por culpa da Requerida teve
todo o transtorno de ter sua mala destruída e o voo de volta cancelado, sendo realocada somente dois
dias depois em outro voo e tendo como assistência material somente o pagamento de transporte de ida
e volta para o aeroporto, tendo completo amparo do CDC uma vez que seus princípios foram
plenamente desrespeitados.

A Requerida cometeu falha grave ao permitir que a mala da Requerente


fosse totalmente danificada, e o voo de volta cancelado, sem lhe compensar com o mínimo necessário
por todo o transtorno que o fato lhe causou, ferindo, por certo, o preceito do art. 14 do CDC.

O art. 14 do CDC, mormente o § 1°, incisos I e II, preconiza o seguinte:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores

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por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o


consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

Portanto, comprovada está a falha na prestação de serviço por parte da


companhia aérea, que por sua própria desídia permitiu que a bagagem da Requerente fosse
danificada, e a sua realocação tardia, somente dois dias depois do cancelamento do voo original, sem
lhe ofertar o amparo material necessário.

Nesse sentido, temos também entendimento do doutrinador Paulo de Tarso


Vieira Sanseverino:

Não há necessidade da presença dos elementos subjetivos, dolo ou culpa


strictu sensu (negligência, imprudência ou imperícia), no suporte fático do
ilícito do consumo, para responsabilização do fornecedor. Não se trata
apenas de hipótese de culpa presumida. O elemento culpa foi descartado por
inteiro do suporte fático do acidente de consumo. Não há espaço, assim, em
regra, para discussão da culpa do fornecedor na responsabilidade pelo fato
do produto ou pelo fato do serviço. (Sanseverino, Paulo de Tarso Vieira,
Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e a defesa do fornecedor,
2002)

O serviço defeituoso prestado pela Requerida, cogente suas


responsabilidades em arcar com as perdas e os danos da autora advindo do fato, caracteriza acidente
de consumo, com ou sem culpa.

 Dos danos materiais

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A Requerente teve que adquirir uma nova mala para guardar seus pertences
e retornar à sua residência, visto que a mala que levou consigo, foi completamente danificada a ponto
de ter que ser inutilizada, na viagem de ida para Salvador.

A Requerida sequer demonstrou qualquer sentimento de empatia pela


Requerente, simplesmente afirmou que não poderia resolver o problema no aeroporto, que a
Requerente deveria reclamar junto ao seu SAC, que, data vênia, é um verdadeiro tormento.

Conforme comprova a nota fiscal anexa, a Requerente teve que comprar


outra mala, tendo dispendido o montante de R$ 399,99 (trezentos e noventa e nove reais e noventa e
nove centavos).

Assim sendo, deve a Requerida ser condenada ao pagamento dos danos


materiais, no montante de R$ 399,99 (trezentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos),
atualizados desde a data do efetivo desembolso (07/01/2021), com juros de mora a partir da citação.

Do dano moral

É cristalino o dano moral sofrido pela Requerente em decorrência dos fatos


historiados.

O art.5º da CF já dispõe:

V - É assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além de


indenização por dano material, moral ou à imagem. (...)

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.

O art.6º, inciso VI, do CDC: “São direitos básicos do consumidor: (...) VI - a


efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.

Já o art.927 do CC: “Art.927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

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E o art.186 do mesmo diploma legal: “Art.186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

No caso em tela, a Requerente programou viagem à Salvador/BA, onde


passaria suas férias de verão junto com amigos. Lá chegando, recebe sua bagagem completamente
avariada, e na volta para casa, tem o seu voo cancelado, remarcado para dois dias depois da data do
cancelamento, sem que a Requerida lhe prestasse todo o auxílio material necessário, arcando apenas
com os custos de transporte do aeroporto.

Conforme já dito, a atual jurisprudência pátria, após decisão do E. STJ, não


considera o mero cancelamento de voo capaz de caracterizar, de forma isolada, o abalo anímico,
sendo necessária a análise dos fatos e os transtornos suportados pelo consumidor.

Nesse sentido já tem se posicionado nosso E. Tribunal de Justiça, conforme


se verifica em decisão de caso análogo, verbis:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS. REMARCAÇÃO DE VOO NACIONAL. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. RECURSO DA RÉ. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. "A responsabilidade civil das companhias
aéreas em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em
vigor da Lei n. 8.078/90, não é mais regulada pela Convenção de Varsóvia e
suas posteriores modificações (Convenção de Haia e Convenção de
Montreal) ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, subordinando-se ao
Código de Defesa do Consumidor." (AgRg nos EDcl no AREsp 418.875/RJ,
rel. Min. João Otávio de Noronha, 3ª Turma, j. 17.05.2016)." (TJSC, Apelação
Cível n. 0300760-16.2015.8.24.0062, de São João Batista, rel. Jorge Luis
Costa Beber, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 10-10-2019). DANOS
MORAIS. RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE. AUTORES QUE,
ACOMPANHADOS DE CRIANÇA DE 4 ANOS DE IDADE, FORAM
TRATADOS COM ABSOLUTO DESCASO PELOS COLABORADORES DA
COMPANHIA AÉREA RÉ. SOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA QUE SE
OPEROU SOMENTE APÓS O ADIMPLEMENTO DE TAXA ADICIONAL.
INFORMAÇÕES REPASSADAS DE FORMA ABSOLUTAMENTE
CONTRADITÓRIA PELOS AGENTES AÉREOS. ABALO BEM
EVIDENCIADO. "Na específica hipótese de atraso ou cancelamento de voo
operado por companhia aérea, não se vislumbra que o dano moral possa ser
presumido em decorrência da mera demora e eventual desconforto, aflição e

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transtornos suportados pelo passageiro. Isso porque vários outros fatores
devem ser considerados a fim de que se possa investigar acerca da real
ocorrência do dano moral, exigindo-se, por conseguinte, a prova, por parte do
passageiro, da lesão extrapatrimonial sofrida. 5. Sem dúvida, as
circunstâncias que envolvem o caso concreto servirão de baliza para a
possível comprovação e a consequente constatação da ocorrência do dano
moral. A exemplo, pode-se citar particularidades a serem observadas: i) a
averiguação acerca do tempo que se levou para a solução do problema, isto
é, a real duração do atraso; ii) se a companhia aérea ofertou alternativas para
melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de
amenizar os desconfortos inerentes à ocasião; iv) se foi oferecido suporte
material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável;
v) se o passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder
compromisso inadiável no destino, dentre outros." (REsp 1796716/MG, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/08/2019,
DJe 29/08/2019). QUANTUM INDENIZATÓRIO. REQUERIDA A
APLICAÇÃO DA TEORIA DOS JOGOS. INOVAÇÃO RECURSAL. NÃO
CONHECIMENTO DA TESE SUSCITADA APENAS NESTA SEARA
RECURSAL. NECESSIDADE, NO ENTANTO, DE MINORAÇÃO DA
QUANTIA INDENITÁRIA, A FIM DE QUE SEJAM OBSERVADOS OS
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.
SENTENÇA AJUSTADA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA
EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n.
0300717-40.2017.8.24.0020, de Criciúma, rel. Rosane Portella Wolff,
Segunda Câmara de Direito Civil, j. 13-08-2020).

(grifo nosso)

No caso presente, a Requerente tinha programado o seu voo de volta para o


dia 07/01/2021. Chegou a embarcar em Salvador para a conexão em Brasília, e por alegados
problemas na aeronave, após uma hora e meia de voo, teve que retornar a Salvador. A Requerida
realocou a Requerente somente num voo do dia 09/01/2021. A Requerente ficou hospedada esses dois
dias na casa de amigos, sendo que a Requerida somente lhe ofertou o suporte material para
transporte.

Assim, inegável o ilícito cometido pela Requerida, pelo atraso na realocação


da Requerente no voo de volta, pela ausência de suporte material adequado, e pelo considerável
atraso na remarcação do voo.

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É certo que a Requerente estava numa viagem de lazer, já que estava de
férias, porém, não havia previsto o cancelamento de seu voo e atraso de dois dias no retorno à sua
residência, fato que lhe causou angústia e aborrecimentos, devido ao descaso da Companhia Aérea.

Dispensáveis maiores narrativas sobre o lastimoso assunto, bastando Vossa


Excelência colocar-se no lugar da Requerente para, com seu nobre e acurado senso de justiça, arbitrar
justa indenização para compensar a dor psicológica e espiritual sofrida pela Requerente.

Necessário, pois, o presente pedido de indenização por dano moral causado


pela Requerida ao ter infligido angústia e aflição psicológicas à Requerente em razão dos incômodos
sofridos.

Assim, analisando-se o caso em tela, tem-se, de um lado, uma das maiores


companhias aéreas da América Latina, de vasto poderio econômico, capacidade técnica e
organizacional, porém, que prestou serviços de forma falha à Requerente, causando avarias à sua
mala, e não lhe prestando qualquer auxílio; realocando a Requerente em voo dois dias depois do
cancelamento do seu voo original, sem lhe prestar o auxílio material necessário.

De outro lado, temos a Requerente, consumidora vulnerável, que suportou os


negativos efeitos da conduta da parte Requerida, que foi à Salvador à lazer, gozar de suas férias,
tendo sua mala totalmente danificada já na viagem de ida, sem que a Requerida lhe prestasse qualquer
auxílio, e no trecho de volta tem o voo cancelado e remarcado somente para dois dias depois,
causando sentimentos de aflição e desgosto à Requerente, dado o total descaso da Requerida.

Assim, mister se faz observar a proporcionalidade entre o ato ilícito praticado


pela Companhia Aérea e o dano moral suportado pela Requerente, de modo a compensá-la de forma
razoável e proporcional à extensão do dano à sua dignidade, bem como, imprimir o necessário caráter
inibitório e pedagógico à Requerida, visando inibir a sua conduta reincidente.

Imperioso que Vossa Excelência fixe justa indenização em favor da


Requerente, na medida de extensão do dano moral sofrido (art.944 do CC) e que, no presente caso,
sugere-se que não seja inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), dadas as peculiaridades do caso
concreto.

Em casos similares já se decidiu:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


TRANSPORTE AÉREO. CANCELAMENTO DE VOO. ATRASO DE 12
(DOZE) HORAS NA CHEGADA AO DESTINO. AUSÊNCIA DE

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ASSISTÊNCIA MATERIAL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
IRRESIGNAÇÃO DA AUTORA. MAJORAÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO QUE NO
VERTENTE CASO, ULTRAPASSOU O MERO DISSABOR. DANO MORAL
CARACTERIZADO. PLEITO ACOLHIDO. VALOR ELEITO QUE NÃO SE
AFIGURA COMPATÍVEL COM AS PECULIARIDADES DO CASO
CONCRETO E OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. AUMENTO IMPLEMENTADO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJSC, Recurso Inominado n. 0302204-
89.2018.8.24.0091, da Capital - Eduardo Luz, rel. Ana Karina Arruda
Anzanello, Segunda Turma Recursal, j. 27-10-2020).

TRANSPORTE AÉREO. CANCELAMENTO DE VOO. PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. IMPROCEDÊNCIA NA ORIGEM.
INSURGÊNCIA DO AUTOR. CANCELAMENTO SUCESSIVO, CONCLUSÃO
POR VIA TERRESTRE E ATRASO DE 24 HORAS NO DESTINO FINAL
(JAGUARUNA/SC - SÃO PAULO/SP). PROBLEMAS TÉCNICOS
(AERONAVE) E CLIMÁTICOS QUE SE INSEREM NOS RISCOS DA
ATIVIDADE DA COMPANHIA AÉREA. DEVER DE ASSISTÊNCIA E
DISPONIBILIDADE DE OPÇÕES DE CONTINGÊNCIA COM O
APROVEITAMENTO DE DEMAIS COMPANHIAS AÉREAS PARCEIRAS.
DESÍDIA DA FORNECEDORA. DANO MORAL. CONDENAÇÃO COM
CARÁTER DISSUASIVO. CRITÉRIOS DE PROPORCIONALIDADE,
RAZOABILIDADE E JULGADOS DA TURMA DE RECURSOS (R$
10.000,00). RECURSO PROVIDO. (TJSC, Recurso Inominado n. 0300987-
91.2015.8.24.0163, de Capivari de Baixo, rel. Alexandre Morais da Rosa,
Terceira Turma Recursal, j. 07-10-2020).

RECURSO INOMINADO - TRANSPORTE AÉREO - DANOS MATERIAIS E


MORAIS - ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM AFASTADA - TEORIA
DA APARÊNCIA - EMPRESAS QUE FAZEM PARTE DO MESMO GRUPO
ECONÔMICO, ATUAM EM PARCERIA E UTILIZAM-SE DE LOGOTIPO
IDÊNTICO - MÉRITO - CANCELAMENTO DE VOO, REALOCAÇÃO EM
ITINERÁRIO DIVERSO E ATRASO SUPERIOR A 10 (DEZ) HORAS ATÉ O
DESTINO FINAL - PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA QUE CARACTERIZA

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OBRIGAÇÃO MÍNIMA E NÃO DISPENSA A COMPANHIA AÉREA DE
SUPORTAR OS TRANSTORNOS AO CONSUMIDOR - DANO MATERIAL
COMPROVADO - ABALO ANÍMICO CONFIGURADO - PLEITO
SUBSIDIÁRIO DE REDUÇÃO DO VALOR DO DANO MORAL (R$ 2.000,00
PARA CADA AUTOR) QUE NÃO MERECE ACOLHIDA PORQUANTO EM
CONSONÂNCIA COM OS NOVOS CRITÉRIOS DESTA TURMA RECURSAL
- SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA QUE SE MANTÉM POR SEUS
FUNDAMENTOS - RECURSO DESPROVIDO."É inquestionável o abalo
moral sofrido por passageiro que teve voo cancelado por falha operacional
de empresa aérea. O aborrecimento, o transtorno e o sofrimento que essa
circunstância gera no espírito do consumidor é inegável, situação que
certamente escapa da condição de mero dissabor cotidiano " (TJSC, AC n.
0303258-03.2018.8.24.0023, Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 12.03.2019).
(TJSC, Recurso Inominado n. 0303239-91.2019.8.24.0045, de Palhoça, rel.
Luis Francisco Delpizzo Miranda, Primeira Turma Recursal, j. 24-09-2020).

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO NACIONAL.


CANCELAMENTO DE VOO E ATRASO DE CERCA DE 7 HORAS NA
CHEGADA AO DESTINO FINAL. PARTE RÉ QUE NÃO COMPROVOU
QUAISQUER EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE. MANUTENÇÃO
DA AERONAVE. RISCO DO NEGÓCIO QUE DEVE SER SUPORTADO
PELA COMPANHIA AÉREA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO FIXADO EM PATAMAR NÃO EXCESSIVO, MANTIDO.
FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS QUE IMPÕE TAMBÉM A
RESTITUIÇÃO DOS VALORES DESPENDIDOS PELA PARTE AUTORA
COM ALIMENTAÇÃO. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Recurso Inominado n. 0310460-
42.2019.8.24.0008, de Blumenau, rel. Antonio Augusto Baggio e Ubaldo,
Terceira Turma Recursal, j. 16-09-2020).

(grifos nossos)

Os fatos estão provados pela documentação anexa. Sendo certo que houve
falha grave por parte da Companhia Aérea, e, inegável no caso em tela, a ocorrência do abalo moral.

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Enfim, reconhecendo como ilegais os atos negligentes e defeituosos do
serviço prestado pela Requerida, necessário é o arbitramento de indenização para reparar civilmente o
dano moral causado à Requerente, sugerindo-se o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), ou outro
valor que Vossa Excelência entender como mais justo, como incentivo pedagógico útil para que a
Requerida informe e previna lesões aos direitos de consumidores, especialmente os transtornos que
marcaram a vida da Requerente.

DO PEDIDO

EX POSITIS, requer:

a) a citação da Requerida para responder aos termos da ação, sob


pena de revelia e confissão;

b) caso não sejam suficientes as provas trazidas com a inicial, a


decretação de inversão do ônus da prova impondo à Requerida o
encargo de trazer evidências de que o serviço não foi defeituoso;

c) a condenação da Requerida à obrigação de pagar indenização pelos


danos morais no valor mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em
razão dos fatos acima narrados, valor este simplesmente sugerido
pela Requerente, ficando a cargo de Vossa Excelência arbitrar o
valor que entender mais justo; corrigidos monetariamente e com
juros de mora calculados desde o evento danoso (07/01/2021,
súmula 54 do STJ);

d) A condenação da Requerida no pagamento de danos materiais, no


montante de R$ 399,99 (trezentos e noventa e nove reais e noventa
e nove centavos), devendo ser atualizado até o efetivo pagamento,
acrescido de juros de mora a contar da citação.

e) se necessária à convicção do julgador, a produção de todos os


meios de provas admissíveis, em especial documental, pericial,
testemunhal e depoimento pessoal das partes.

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Dá à causa o valor de R$ 10.399,99 (dez mil trezentos e noventa e nove
reais e noventa e nove centavos).

Nesses termos,

pede deferimento.

Ibirama/SC, 03 de fevereiro de 2021.

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