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São Paulo:
Companhia das Letras, 2005,
de Eduardo Giannetti
O que são juros? Por que eles existem? Para permitindo novamente ao vegetal a capacidade
responder a esses questionamentos, Giannetti, de captar a energia necessária para sua sobre-
com exemplos da natureza e do cotidiano das vivência. Essas escolhas, no entanto, envolvem
pessoas, explica em linguagem clara e direta a real riscos, uma vez que não se pode antever, de modo
natureza deles. seguro, o futuro. Então nos resta apenas indagar:
Na verdade, a valoração do amanhã tem “Desfrutar o momento ou cuidar do amanhã?
um preço que decorre, sobretudo, da escolhas Eduardo Giannetti, nascido em Belo
que fazemos, uma vez que “O presente foge, o Horizonte, PhD em Economia pela Universidade
passado é irrecobrável e o futuro incerto.” (p. 67). de Cambridge e autor de numerosos artigos
A incerteza do que ocorrerá no futuro permeia a e livros, entre os quais “O Auto-engano” e
mente humana incessantemente e, de certo modo, “Felicidade” (ambos publicados pela Companhia
dos animais (não de modo consciente). Ademais, da Letras), apresenta, com muita propriedade, a
tanto a sobrevivência quanto a permanência na bendita natureza dos juros na mente humana e
Terra obedece a um ciclo – juventude, maturidade dos animais.
e velhice. Isso leva à adoção inevitável de escolhas, A obra “O Valor do Amanhã” divide-se
em um espaço de tempo, em troca do usufruto de em quatro partes. Na primeira, Gianneti busca
alguns benefícios no presente. Esse trade-off entre na biologia a explicação e a origem da natureza
o momento presente e o futuro inputa a idéia de dos juros. O autor discute a questão da paciência
trocas intertemporais – são ações de manipu- tanto no aspecto comportamental quanto no da
lar, de alguma forma, a seqüência de eventos no fisiologia humana. O armazenamento de gordura
tempo de modo a favorecer a realização (p. 69). O no corpo humano é precaução do organismo para
organismo humano, por exemplo, sabe que enve- possíveis futuros períodos de inanição. O meta-
lhecerá e que a reprodução das células diminuirá bolismo é o gerenciador de energia durante esses
mais cedo ou mais tarde. Nesse sentido, é neces- períodos. Escolhas extremas geram resultados
sário antever esse episódio e permitir a reprodu- patéticos – no caso da reprodução das mariposas,
ção até determinado período em que o organismo apenas uma sobrevive para dar vazão à prole que
esteja apto a gerar um novo ser. A mudança das virá no futuro.
estações do ano, por exemplo, mostra claramente Na segunda parte, o autor mostra a finitu-
esse trade-off entre armazenar energia o suficien- de da permanência humana e animal na Terra. A
te para atravessar o tenebroso outono e inverno e consciência dessa limitação remete à adoção de es-
aproveitar os primeiros raios de sol com a chegada colhas dentro de uma linha de tempo. A caça dos
da primavera. A queda das folhas na fria tempo- leopardos africanos por animais selvagens mostra
rada diminui a probabilidade de perda de energia, sua clara disposição em preferir o usufruto de re-
uma vez que seus canais de dissipação tempora- feições rápidas e apetitosas a buscar animais de
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riamente não existem mais. Com o raiar do sol menor porte e menos atraentes. O desejo árduo
na primavera, brotos e novas folhas florescerão, em desfrutar, tão logo, da presa ignora o risco de