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Direito Administrativo –

Regime Jurídico
Administrativo
PROF. ME. ALEXANDRE GUIMARÃES MELATTI
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PRINCÍPIOS
Aula 02 ADMINISTRATIVOS
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Revisão

VAMOS RETOMAR OS
PRINCIPAIS CONTEÚDOS
DA AULA PASSADA?
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Regime Jurídico
administrativo
Os princípios são a forma
É o conjunto harmônico de princípios
de raciocinar o Direito
que definem a lógica da atuação do Administrativo e
ente público, a qual se baseia na
existência de limitações e compreender sua lógica.
prerrogativas em face do interesse
público.
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TEORIA INTRODUÇÃO
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“Princípio é, pois, por definição, mandamento


nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
dele, disposição fundamental que se irradia
sobre diferentes normas, compondo-lhes o
espírito e servindo de critério para exata
compreensão e inteligência delas, exatamente
porque define a lógica e a racionalidade do
sistema normativo, conferindo-lhes a tônica
que lhe dá sentido harmônico”. (BANDEIRA DE
MELLO, 2009, p. 53)
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Aspectos introdutórios
“Violar um princípio é muito mais grave do que
violar uma norma. A desatenção ao princípio
implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, conforme o escalão do
princípio violado, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais” (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p.53)
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FUNÇÕES PRINCIPAIS DOS PRINCÍPIOS

função
função
hermenêutica:
integrativa:
ferramenta de
suprir lacunas
esclarecimento
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COMPARAÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS

Fonte: (MAZZA, 2021, p. 29)


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TEORIA SUPRAPRINCÍPIOS
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Supraprincípios

Supraprincípios ou superprincípios são os


princípios centrais dos quais derivam todos
os demais princípios e normas do Direito
Administrativo. (MAZZA, 2019, p. 152).
•Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 69), são dois
os supraprincípios: a) supremacia do interesse público
sobre o privado; e b) indisponibilidade do interesse
público.
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Supraprincípios
Os dois supraprincípios são princípios relativos, e não absolutos.
Assim, não existe supremacia absoluta do interesse público sobre
o privado, nem indisponibilidade absoluta dos interesses públicos.

Todos os princípios do Direito


Administrativo são desdobramentos
da supremacia do interesse público
e da indisponibilidade do interesse
público.
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Supraprincípios
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Supremacia do interesse público
Segundo Di Pietro (2019, p. 215) esse “princípio está presente tanto no momento da
elaboração da lei como no momento da sua execução em concreto pela
Administração Pública. Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa
em toda a sua atuação.”

Exemplo claro da supremacia é o Poder


de Polícia: quando a Administração
restringe direitos individuais, como a livre
iniciativa, para tutelar a coletividade, a
saúde, a segurança de todos.
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Supremacia do interesse público

“se, ao usar de tais poderes, a autoridade


administrativa objetiva prejudicar um inimigo
político, beneficiar um amigo, conseguir
vantagens pessoais para si ou para terceiros,
estará fazendo prevalecer o interesse individual
sobre o interesse público” (DI PIETRO, 2019, p. 217)
• Desvio de finalidade
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Indisponibilidade do interesse público
Significa que órgãos administrativos e os servidores não podem dispor dos interesses
qualificados como próprios da coletividade, pois é um dever cuidar e garantir os
mesmos. Funciona como uma restrição à discricionariedade e aos poderes de
supremacia sob o particular.

Por não poder dispor do interesse público


que a Administração tem determinados
poderes, que na verdade são como um
poder-dever, pois deve fazer, não
podendo, se a lei não dar
discricionariedade, dispor dele.
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PRINCÍPIOS
ADMINISTRATIVOS
TEORIA CONSTITUCIONAIS
EXPRESSOS
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Princípios expressos

Chamados também de princípios explícitos ou


expressos, estão diretamente previstos na
Constituição Federal, sem sua maioria no art. 37.
• Existem outros princípios explícitos além do art. 37: 1)
participação (art. 37, § 3º, da CF); 2) celeridade processual
(art. 5º, LXXVIII, da CF); 3) devido processo legal formal e
material (art. 5º, LIV, da CF); 4) contraditório (art. 5º, LV, da
CF); 5) ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).
LEGALIDADE 19
L

IMPESSOALIDADE CONSTITUIÇÃO FEDERAL


I
Art. 37. A administração
pública direta e indireta de
MORALIDADE qualquer dos Poderes da
M União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos
PUBLICIDADE
P princípios de legalidade,
impessoalidade,
moralidade, publicidade e
eficiência (...)
EFICIÊNCIA
E
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Princípios expressos

Dos demais princípios expressos, vale


destacar que interessa mais ao Direito
Administrativo o da participação, vez
que os outros são inerentes ao direito.
• Participação: a lei deverá estimular as formas de
participação do usuário na administração
pública direta e indireta.
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TEORIA LEGALIDADE
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Legalidade

A legalidade para a Administração só permite


que faça o que a Lei permitir e dispõe.

Diferente do conceito de legalidade para


as relações particulares: artigo 5º, inciso II,
da Constituição Federal: “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.
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Legalidade

Explica Di Pietro (2019, p. 214) que em


“decorrência disso, a Administração
Pública não pode, por simples ato
administrativo, conceder direitos de
qualquer espécie, criar obrigações ou
impor vedações aos administrados; para
tanto, ela depende de lei.”
24
Legalidade
25
Mazza, 2021, p. 68

▪ O princípio da legalidade não se reduz ao simples cumprimento da lei em


sentido estrito. doutrina estrangeira tem chamado de princípio da
juridicidade, isto é, a obrigação de os agentes públicos respeitarem a lei e
outros instrumentos normativos existentes na ordem jurídica.
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(Mazza, 2021, p. 69)


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Exceção à legalidade

A Constituição Federal prevê três institutos


que alteram o funcionamento regular do
princípio da legalidade por meio da outorga
de poderes jurídicos inexistentes em situações
de normalidade: a) a medida provisória (art.
62 da CF); b) o estado de defesa (art. 136 da
CF); c) o estado de sítio (arts. 137 a 139 da CF)
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TEORIA IMPESSOALIDADE
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Impessoalidade
 Este princípio significa, em síntese, que a Administração
não pode atuar para beneficiar ou prejudicar pessoas
determinadas, uma vez que deve tratar todos de forma
impessoal. Nas palavras de Di Pietro (2019, p. 219) este
princípio pode ter dois significados, um em relação aos
administrados e também quanto à Administração.
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Impessoalidade
 No primeiro sentido, o princípio estaria relacionado com
a finalidade pública que deve nortear toda a atividade
administrativa. Significa que a Administração não pode
atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas
determinadas, uma vez que é sempre o interesse público
que tem que nortear o seu comportamento.
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Impessoalidade
 Nosegundo o gestor e o servidor público age em nome
da própria entidade administrativa, e por isso não se
permite ações pessoais, que traga confusão entre o que é
administração e o que é a pessoa que está realizando tal.
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Exemplos

VAMOS VER NA PRÁTICA?


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Impessoalidade
 O caput e o § 1º do art. 37 da CF impedem que haja qualquer tipo de
identificação entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os
partidos políticos a que pertençam. O rigor do dispositivo constitucional
que assegura o princípio da impessoalidade vincula a publicidade ao
caráter educativo, informativo ou de orientação social é incompatível
com a menção de nomes, símbolos ou imagens, aí incluídos slogans, que
caracterizem promoção pessoal ou de servidores públicos. A
possibilidade de vinculação do conteúdo da divulgação com o partido
político a que pertença o titular do cargo público mancha o princípio da
impessoalidade e desnatura o caráter educativo, informativo ou de
orientação que constam do comando posto pelo constituinte dos oitenta.
[RE 191.668, rel. min. Menezes Direito, j. 15-4-2008, 1ª T, DJE de 30-5-
2008.]
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Questões

PARTICIPE!
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Vamos praticar!
(Investigador de Polícia Civil – PC-SP – 2018 – VUNESP) Lei estadual que vede a
realização de processo seletivo para o recrutamento de estagiários pelos órgãos e
pelas entidades do poder público estadual fere o princípio da
A) eficiência.
B) legalidade.
C) impessoalidade.
D) segurança jurídica.
E) continuidade do serviço público.
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Vamos praticar!
 (Assistente em Administração – UNIFAP – 2018 – DEPSEC) José, servidor da
universidade, de conduta ilibada, resolveu, com intuito nobre, se candidatar
para deputado federal. Como trabalhava no departamento de
comunicação, divulgou em publicidade oficial da sua instituição, suas
metas e planos como candidato, para, se eleito, ajudar a sua universidade.
Marque a alternativa que mais se enquadra a situação do servidor, levando
em consideração os objetivos dos princípios administrativos:
A) José violou o princípio da moralidade.
B) José está correto, baseado no princípio da legalidade.
C) José violou o princípio da impessoalidade.
D) José está correto, não violando o princípio da publicidade.
E) José violou o princípio da eficiência.
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Vamos praticar!
 (Agente de Controle Externo – SEDURB-PB – 2018 – IBADE)
Correspondem aos princípios expressos da Administração
Pública na Constituição Federal vigente, dentre outros:
A) legalidade, moralidade, dignidade.
B) eficiência, dignidade, publicidade.
C) legalidade, eficiência, publicidade.
D) moralidade, eficiência, transparência.
E) legalidade, dignidade, transparência.
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TEORIA MORALIDADE
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Moralidade
A Constituição Federal trouxe expressamente a moralidade
administrativa como princípio fundamental da Administração Pública,
além de prever em outras situações a probidade e a moralidade.

O princípio jurídico da moralidade administrativa


não impõe o dever de atendimento à moral
comum vigente na sociedade, mas exige respeito
a padrões éticos, de boa-fé, decoro, lealdade,
honestidade e probidade incorporados pela
prática diária ao conceito de boa administração.
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(Mazza, 2021, p. 73)


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TEORIA PUBLICIDADE
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Publicidade

Este princípio constitucional determina que, ressalvada


as hipóteses de sigilo, a Administração Pública tem o
dever de divulgar amplamente seus atos.
• Exceções: segurança pública; ou que o assunto, se divulgado,
possa ofender a intimidade de determinada pessoa, sem qualquer
benefício para o interesse público.
• Quando se tratar de questão de segurança da sociedade e do
Estado, bem como quanto às informações pessoais relativas à
intimidade, vida privada, honra e imagem.
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FORMAS DE PUBLICIDADE
Atos individuais ou atos internos:
São divulgados por simples comunicação.
Ex: Autorização para o servidor sair mais cedo.

Atos individuais de efeitos coletivos:


São divulgados por Diário Oficial.
Ex: Deferimento de férias de servidor

Atos Gerais, dirigidos a destinatários


indeterminados: São divulgados por Diário Oficial.
googleimagens.com.br
Ex: Edital convocatório para concurso público.
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JULGADOS CORRELATOS

Servidor público e divulgação de


vencimentos: É legítima a publicação,
inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus
servidores e do valor dos correspondentes
vencimentos e vantagens pecuniárias (ARE
652.777/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 23-4-2015 –
Informativo 782, Plenário, Repercussão Geral).
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TEORIA EFICIÊNCIA
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Eficiência

Com o início do chamado Estado de bem-estar


social, o cidadão passou a ser cliente da
Administração, e consumidor do próprio Estado.
• Desta forma, passou a reivindicar não somente serviços
públicos, mas também qualidade.
• Segundo Mazza (2019, p. 203) “economicidade, redução de
desperdícios, qualidade, rapidez, produtividade e rendimento
funcional são valores encarecidos pelo princípio da
eficiência.”
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(Mazza, 2021)
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PRINCÍPIOS
TEORIA INFRACONSTITUCIONAIS
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Princípios infraconstitucionais
AUTOTUTELA – como consequência da independência
funcional da Administração Pública (art. 2º, CF), a
autotutela consagra o controle interno que a
Administração exerce sobre seus próprios atos, de modo
que não precisa recorrer ao judiciário para anular atos
ilegais ou revogar atos inconvenientes que pratica.

OBRIGATÓRIA MOTIVAÇÃO – impõe à Administração


Pública, como critério de validade, o dever de indicar por
escrito os pressupostos, de fato e de direito, que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII,
Lei n. 9.784/99).
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Motivação
• O fato concreto que autoriza o ato
MOTIVO
• Ex: Infração de trânsito

• A decisão administrativa praticada como resposta ao


ATO fato.
• Ex: multa de trânsito

• A justificativa escrita apontando os fundamentos que


MOTIVAÇÃO levaram à prática do ato.
• Ex: fundamentos legais para a aplicação da multa.
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Princípios infraconstitucionais

FINALIDADE – a Administração deve atender a fins


de interesse geral, não sendo cabível renunciar a
poderes ou competência sem autorização legal
(art. 2º, parágrafo único, Lei n. 9.784/99).

RESPONSABILIDADE – estabelece para o Estado o


dever de indenizar particulares por ações e
omissões de agentes públicos que acarretam
danos aos administrados.
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Princípios infraconstitucionais

SEGURANÇA JURÍDICA – garantia de


estabilidade, ordem, paz social e
previsibilidade das atuações estatais. Em
sentido objetivo constitui um mecanismo de
estabilização da ordem jurídica (certeza do
direito), na medida em que limita a eficácia
retroativa de leis e atos administrativos,
impedindo que a modificação de comandos
normativos prejudique o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
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Princípios infraconstitucionais
BOA ADMINISTRAÇÃO – o princípio da boa
administração impõe o dever de, diante das diversas
opções de ação definidas pela lei para prática de
atos discricionários, a Administração Pública adotar a
melhor solução para a defesa do interesse público.

ISONOMIA – é preceito fundamental do ordenamento


jurídico que impõe ao legislador e à Administração
Pública o dever de dispensar tratamento igual a
administrados que se encontram em situação
equivalente.
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Princípios infraconstitucionais

CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO e


OBRIGATORIEDADE DA FUNÇÃO
ADMINISTRATIVA – veda a interrupção na
prestação dos serviços públicos e aplica-se, por
isso, somente no âmbito do Estado prestador
(atuações ampliativas da esfera privada de
interesses), não valendo para outros domínios,
como o poder de polícia, a atividade
econômica, o fomento, as atuações políticas e
as funções legislativas e jurisdicionais.
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Princípios da razoabilidade

Segundo Gordillo (1977, p. 183-184), “a decisão discricionária do


funcionário será ilegítima, apesar de não transgredir nenhuma norma
concreta e expressa, se é ‘irrazoável’, o que pode ocorrer,
principalmente, quando: a) não dê os fundamentos de fato ou de
direito que a sustentam ou; b) não leve em conta os fatos constantes
do expediente ou públicos e notórios; c) ou não guarde uma
proporção adequada entre os meios que emprega e o fim que a lei
deseja alcançar, ou seja, que se trate de uma medida
desproporcionada, excessiva em relação ao que se deseja
alcançar”.
• Deve ser observada POR TODA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
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Princípios da razoabilidade

É uma exigência implícita na


legalidade que impõe a obrigação
aos agentes públicos de realizarem
suas funções com equilíbrio, bom
senso e coerência, segundo a qual,
além de atenderem à finalidade
legal do ato, devem se ater também
ao fim público a ser atendido.
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Proporcionalidade
Pode-se afirmar que a proporcionalidade é um aspecto do princípio
da razoabilidade, “voltado à aferição da justa medida da reação
administrativa diante da situação concreta” (MAZZA, 2019, p. 219).

Esse aspecto é utilizado em relação ao


poder disciplinar (exercido internamente
sobre agentes públicos e contratados) e
poder de polícia (projeta-se externamente
nas penas aplicáveis a particulares).
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Proporcionalidade

Por proporcionalidade deve-se entender a


adequação entre meios e fins.
•a) adequação: aptidão da medida estatal para atingir
os fins pretendidos; b) necessidade ou exigibilidade:
inexistência de outro meio menos gravoso para
atender ao mesmo resultado; e c) proporcionalidade
stricto sensu: ponderação entre a intensidade da
medida empregada e os fundamentos jurídicos que
lhe servem de justificativa.
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Reflexão

VAMOS REFLETIR?
Vamos refletir! 60

RESUMO
• Fiscal municipal de tributos orientou a interrupção de reunião administrativa em
templo, realizada por 06 pessoas, para evitar aglomeração e proliferação da COVID-
19, fixando multa com a lavratura de auto de infração.

FATO
• Conforme narra o Auto de Infração lavrado, um fiscal de tributos da Secretaria
Municipal de Fazenda da Prefeitura Municipal de Matozinhos foi acionado mediante
denúncia para efetuar diligência de fiscalização no dia 28 de maio de 2020 em
igreja evangélica por suposta aglomeração de pessoas no templo. Afirma o fiscal
haver encontrado no local reunião de aproximadamente 10 (dez) pessoas, em
resposta a qual lavrou o auto infracional, cominando multa no valor R$ 2.047,23. De
outro lado, os envolvidos apontam que havia na reunião 06 (seis) pessoas, sendo que
esta visava à operacionalização das transmissões virtuais dos serviços religiosos, de
modo a evitar aglomerações e colaborar no combate à pandemia

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