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Introdução

Os estudos sobre a linguagem têm ocupado papel importante na sociedade actual, o que se deve à
sua importância e ao facto de que a compreensão de seu funcionamento e a especificidade de que
é constituída é fundamental.

Nas práticas cotidianas, não podemos usar a linguagem sem agir e, ao utilizá-la por meio da fala,
executamos actos de linguagem que estão inseridos em contextos de interação e entrelaçados com
a acção. Desse modo, enquanto nos constituirmos como sujeitos que interagem, sempre
estaremos em contacto com o outro, fazendo afirmações, pedidos, dando ordens, ou seja,
realizando os actos de fala.

O presente trabalho procura demonstrar como se dá o funcionamento desses actos de fala e seu
efeito nos interlocutores, seja de acordo com a intencionalidade do sujeito ou não, amparando
nos, para tanto, na teoria de Austin (1962) e Searle (1969).

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Objectivos

Objectivo Geral

 Definir acto de fala.

Objectivos Específicos

 Mencionar os tipos de actos de fala;


 Diferenciar os actos de fala directos e indirectos.

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Actos de fala

Os actos de fala são declarações, afirmações ou declarações que servem para o alto-falante,


além de declarar alguma coisa, tomar uma acção. Normalmente frases a primeira pessoa e no
presente, como “Para você não fizer isso !” “Se dizer isso, não fale” e “lamento sua perda”, o
que pode ser um desafio, uma ameaça e condolências respectivamente.

A teoria dos actos de fala foi desenvolvida por JL Austin em 1975. Em sua teoria, Austin não
se concentra na função da linguagem para descrever a realidade, representar estados das
coisas ou fazer declarações sobre o mundo; em vez disso, Austin analisa a variedade de usos
do idioma. Essa foi sua grande contribuição para a filosofia contemporânea.

Essa teoria está relacionada ao conceito de atos ilocutivos ou ilocutórios, introduzido por
Austin. Refere-se à atitude ou intenção do falante ao pronunciar uma afirmação: quando
alguém diz: “Eu farei isso”, sua intenção (ou ato ilocutivo) pode ser proferir uma ameaça, um
aviso ou uma promessa; A interpretação depende do contexto.

Tipos de actos de fala

O filósofo americano John Searle analisou os actos ilocucionários e descobriu que há pelo
menos uma dúzia de dimensões linguisticamente significativas que os diferenciam. Com base
nisso, ele fez uma taxonomia.

Assertivo ou representativo

Esses tipos de actos comprometem o falante com a verdade de uma proposição expressa.
Alguns dos actos ilocutivos são: afirmar, sugerir, declarar, apresentar, jurar, descrever,
vangloriar-se e concluir.

Exemplo: Não há cozinheira melhor do que eu.

Executivos

Os actos de fala gerencial buscam que o destinatário tome uma acção. Entre outros, os actos
ilocutivos são: ordem, solicitação, contestação, convite, aconselhamento, pedido e pedido.

Exemplo: Você seria tão gentil a ponto de passar o sal?

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Commissives

Esses actos comprometem o orador a fazer algo no futuro. Os diferentes tipos são: promessas,
ameaças, votos, ofertas, planos e apostas.

Exemplo: Eu não vou deixar você fazer isso.

Expressivo

Esses tipos de actos expressam como o falante se sente sobre a situação ou manifesta um
estado psicológico. Entre eles estão: obrigado, desculpas, bem-vindo, reclamações e
parabéns.

Exemplo: Realmente, me desculpe, eu disse isso.

Declarações

Os actos de fala classificados como declarações mudam ou afetam uma situação ou estado
imediatamente.

Exemplo: Eu declaro vocês, marido e mulher.

Além de distinguir os actos de fala de acordo com sua função geral (dar uma ordem, pedir
permissão, convidar), eles também podem ser distinguidos com relação à sua estrutura.

Nesse sentido, Austin argumentou que o que é dito (acto locucionário) não determina o acto
ilocucionário que é realizado. Portanto, os actos de fala podem ser directos ou indirectos.

Diferença entre actos de fala directos e indirectos

Actos de fala directo

Geralmente, actos de fala directos são realizados usando verbos performativos. Esse tipo de
verbos expressa explicitamente a intenção da afirmação. Entre outros, eles incluem: prometer,
convidar, desculpar e prever.

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Às vezes, um verbo performativo não é usado; no entanto, a força ilocutória é perfeitamente
clara. Assim, a expressão “cale a boca!” Em um determinado contexto, pode ser claramente
uma ordem.

Actos de fala indirecta

Por outro lado, nos actos da fala indirectos, a força ilocucionária não se manifesta
directamente. Assim, a inferência deve ser usada para entender a intenção do falante.

Por exemplo, em um contexto de trabalho, se um chefe disser à secretária: “Você não acha
que a saia não é apropriada para o escritório?”, Ele não está realmente consultando sua
opinião, mas ordenando que ele não use mais essa peça.

Alguns dos exemplos dos tipos de actos

Assertivo ou representativo

– Sugiro que você vá pedir perdão. (Sugestão, directa).

– Por que você não pede perdão? (Sugestão indirecta).

– Concluo que essa foi a melhor decisão. (Conclusão, directa).

– Definitivamente, essa foi a melhor decisão. (Conclusão indirecta).

– Eu me orgulho de ser o melhor vendedor da minha empresa. (Gozando, directo).

– O melhor vendedor da empresa é o que mais gera vendas, e eu fui quem fez mais vendas!
(Jactância, indirecta).

Executivos

– Eu imploro para você não contar nada a ela ainda. (Súplica, directa).

– Não conte nada a ela ainda, por favor. (Súplica indirecta).

– Pela nossa amizade, peço que reconsidere sua atitude. (Pedido, directo).

– Para nossa amizade, você pode reconsiderar sua atitude? (Pedido indirecto).

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– Convido você a conhecer minha casa no próximo sábado. (Convite, directo).

– Venha conhecer minha casa no próximo sábado. (Convite indirecto).

Comissivas

– Eu prometo que estarei lá antes das nove. (Promessa, directa).

– Calma, estarei lá antes das nove. (Promessa, indirecta).

– Garanto-lhe que, se você não vier, vou contar tudo a ela. (Ameaça, directa).

– Bem, você sabe como é … eu poderia contar tudo a ela, se você não vier. (Ameaça
indirecta).

– Aposto que ele não terá coragem de comparecer diante de seus pais. (Aposta directa).

– Se você tiver coragem de comparecer diante de seus pais, convido você a almoçar (Bet,
indirecto).

Expressivo

– Desculpe se eu não o levei em consideração. (Com licença, directo).

– Eu sei que deveria ter levado você em consideração. (Desculpe, indirecto).

– Parabéns por ter alcançado esse sucesso. (Parabéns, directo).

– Você deve estar muito orgulhoso de ter alcançado esse sucesso. (Parabéns indirectos).

– Agradeço todo o apoio prestado nesta terrível situação. (Obrigado, directo);

– Não sei como pagar todo o apoio prestado nesta terrível situação. (Obrigado, indirecto).

Declarações

– Pela confissão da sua boca eu agora baptizo você em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. (Baptismo).

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– Pelo poder conferido pela lei, declaro-o agora marido e mulher. (Declaração de casamento).

– Eu encerro a sessão. (Fim de uma sessão).

– Declaro-o inocente de todas as cobranças cobradas. (Absolvição legal).

– A partir deste momento, parei irrevogavelmente. (Renúncia).

Papel da filosofia

Ao apresentar a teoria dos actos de fala, ou de que o uso da linguagem tem precedência sobre
a semântica, nos distanciamos das posições essencialistas da filosofia. Por outro lado, parece
que a filosofia não tem mais nada a fazer ou que se confundiu com a sociologia ou
antropologia.

Segundo Austin, existe um campo de investigação que é próprio da filosofia e que só ela é
capaz de realizá-lo. Trata-se da análise da linguagem que parte da linguagem comum, como
outras ciências, mas que não permanece na mera superfície dos fenômenos. Interessa à
filosofia não o uso que se faz de uma língua nesta ou naquela cultura, mas sim as regras
subjacentes às diferentes interações linguísticas.

Ao contrário do cientista, que busca regularidades empíricas através de entrevistas com os


usuários de uma determinada língua, o filósofo realiza um saber reconstrutivo da língua como
um sistema de acção regrada. Ou seja, interessa à filosofia quais as condições de
possibilidade de funcionamento de uma linguagem. Por exemplo: o que torna possível um
acto de fala?

A filosofia não busca meramente apresentar os fenômenos, mas entender as condições de


possibilidade e de validade em que eles se realizam. Dizer, por exemplo, que o sentido de
uma locução é dependente do contexto, não explica como é possível traduzir uma expressão
de uma língua para outra. A tradução mostra justamente que é possível passar de um jogo de
linguagem para outro, o que colocaria a questão: será que além dos contextos específicos em
que se realiza uma fala, não existem determinadas regras ou condições que são independentes
do contexto? Ou ainda: existem regras comuns a qualquer jogo de linguagem (por exemplo,
seguir regras)?

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Austin não chegou a investigar sobre a possibilidade de fazer uma crítica da linguagem a
partir de princípios normativos, isto é, a partir de uma "metarregra" ou "metalinguagem"
capaz de oferecer critérios para avaliar a linguagem comum, mas abriu o caminho para uma
nova geração de filósofos contemporâneos, como John Searle, Jurgen Habermas e Karl-Otto
Apel, entre outros.

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Conclusão
Pode se concluir que o efeito de um acto de fala, ou sua pretensão, não se encontra marcado
na língua e emerge de inúmeros factores aliados ao sujeito, às condições de produção ou
exterioridade, ao lugar de quem fala e para quem fala, além dos outros factores apresentados
pelos teóricos por nós abordados.

Deve se destacar, principalmente, a teoria proposta por Austin, que inaugura uma nova forma
de ver a linguagem humana, percebendo que sua constituição dá lugar aos enganos e à
ambigüidade, os quais não devem mais ser vistos como desvios ou imperfeições.

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Referências Bibliográficas
 Universidade Católica de Moçambique (UCM). Centro de Ensino à Distância. Língua
Portuguesa II, 2˚ Ano.
 BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral. 4.ed. Trad: Maria da Glória Novak e
Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 1995.
 OTTONI, P. Visão Performativa da Linguagem. Campinas, SP: Editora da UNICAMP.
Coleção Viagens da Voz, 1998.

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