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Retórica retrocessiva contra a ciência progressista:

antirracionalismo, maffesolismo e discursos


obscurantistas decorrentes
DANTE FLAVIO DA COSTA REIS JUNIOR*

É antigo o impulso de emitir, dos círculos reconhecidos como “eruditos”,


reprimendas àquelas atividades que se caracterizam por um intelecto que opera
a produção de conhecimento por meios sistemáticos e/ou o explora em seus
potenciais técnicos e aplicados. Trata-se de uma clássica cisão que, conforme
contexto e circunstâncias (época, grupo), sublinha de maneira alternativa o que
se imagina ser um desacordo entre os modos racional e sensível de proceder à
análise ou à representação do mundo. Assim, o que já foi chamado de “duas cul-
turas” – a dos literary intellectuals e a dos physical scientists (SNOW, 2002[1959])
– exemplificaria um tipo de registro histórico dessa questão ambivalente. Mas
é possível apresentar o problema também desde um ponto de vista linguístico;
isto é, frisando o modo pelo qual os adversários da cultura racionalista elaboram
para si uma verdadeira causa: dar combate a formas “hegemônicas” de discurso
(que eles veem como omissas). E o fazem permitindo-nos diagnosticar essa sua
“missão” por marcadores de estilo (p.ex. uma eloquência dramática, emocional).
Quadros de referência ilustrativa provam ser frutífero o exame dessa postura de
engajamento pela ótica da análise da linguagem – o que a poderia legitimar,
então, como um instrumento para julgarmos as estratégias de comunicação pró
(ou anti) ciência. Exemplares disso seriam o efeito discursivo dos pensamentos
social-crítico e pós-moderno (nos quais estariam inscritas as linhas retóricas de
matiz neomarxista e decolonialista) e a incidência dessas vertentes nos estudos
radicais e culturais, com seus vieses moralizador e relativista. Sob outro ângulo
do problema, a desconfiança para com os praticantes de ciência pode resultar
da impressão de que eles (por estratagemas astutos) procurariam convencer a
população sobre o que dizem, ostentando o rigor de seus métodos, mas dando
mostras de que, “na verdade”, aquilo que concluem por suas pesquisas é efeito
de uma distorção dos dados – a fim de que a causa pela qual militam se veja con-
firmada. Num e noutro caso, de modo regressista, o cientista é posto sob suspei-

* Professor Associado 1, Departamento de Geografia, Universidade de Brasília. dantereis@unb.br

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ta. Seja porque o modelo tradicional de ciência teria sérios problemas, tendendo
a fazer o jogo de estruturas reacionárias (alegação dos intelectuais humanistas
que flertam com o irracionalismo); seja porque, no seio da comunidade científica,
haveria um contingente de praticantes que, a todo custo, poria suas ideias aci-
ma dos protocolos da imparcialidade (normalmente, discurso de grupos políticos
que não veem atendidos seus valores nos relatórios de pesquisa). Apresentare-
mos os marcos histórico-bibliográficos dessa ambivalência; destacando também
certos episódios – nacionais e estrangeiros – de ceticismo quanto aos predicados
progressistas da ciência e da tecnologia. E sustentaremos que a exploração da
linguística (via conceitos de argumentação e retórica) pode ser um meio bem-su-
cedido de demonstrar, inclusive no âmbito da instrução pública, o caráter nocivo
das ideologias que são contrárias à cultura científica.

Pressupostos
Com o advento e instauração das perspectivas pós-modernas, passou a ser
sedutora a aposta na estratégia antirracionalista. Estratégia de (por meios diversos
e em intensidades distintas) denegrir os feitos e os protocolos da chamada ciência
moderna. E as variadas formas que assume essa estratégia possuem, caso a caso,
conexões com alguns episódios marcantes nem tanto da história da ciência pro-
priamente, mas da história de seu exame “a distância”; isto é, junto aos estudos
de segunda ordem. E, em especial com o desenvolvimento, há cerca de setenta
anos, de novas interpretações sobre a prática científica – primeiramente, sob uma
salutar e bem-vinda perspectiva de análise sociológica; contudo, em seguida, ob-
sessivamente carregada de um viés sociopolítico mais soturno que elucidativo.
Seria, a propósito, conveniente enunciar duas premissas importantes; e que,
a bem dizer, se coordenam: (1a) a prática científica não está imune à dimensão
política; [na mesma proporção em que...] (2a) a prática científica não é submissa a
seu poder de influência.
Essa enunciação de partida se justifica porquanto viabiliza o que poderíamos
chamar “fuga dos dois extremos”. Quer dizer: se por muito tempo a análise filosó-
fica sobre as ciências foi indiferente aos aspectos contextuais do fazer científico,
isso não significa que a (enfim) consideração de sua ambientação social devia
suprimir a natureza também internalista deste mesmo fazer. Ou, em outras pala-
vras: só porque discordamos de uma visão extrema das coisas, não quer dizer que
devemos adotar, por consequência, a visão extrema oposta. Seria simplesmente
manter uma visão (de novo) enviesada demais.
Nos últimos anos vimos testando modelos que envolvem estruturas de lin-
guagem; procurando desenvolver estudos de Epistemologia que, se aproximan-
do das tradições de uma Filosofia da Ciência de cepa anglo-americana (mais ana-
lítica), consigam balancear a importância dos aspectos internalista e externalista.
Por eles, queremos manter conjugadas aquelas duas premissas, no sentido de
não sacrificar qualquer dos ângulos do problema.

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Marcos antecedentes de um antagonismo:
razão versus sensibilidade
Há uma relação possível de se fazer entre a postura “antirracionalismo” e
alguns episódios estampados por bibliografias-marco. Podemos remontar bas-
tante no tempo, mas escolhemos três produções situadas, respectivamente, nos
séculos 18, 19 e 20 (que nelas encontramos expressões alternativas para a antiga
cisão entre a racionalidade e sensibilidade). Remontar ainda mais no tempo seria
examinar, p.ex., o sentido de “retórica” na Antiguidade. Neste caso, o texto Gór-
gias, de Platão conferiria informação substantiva: as origens do poder de persua-
dir contido na vis oratoris; que era bem mais do que uma mera habilidade de dis-
cutir ou comunicar, de um master-speaker (WARDY, 2005:100). O salto no tempo
pode ser justificado com o fato de, por meados do séc.17, certa classe de investi-
gação ter adquirido status de “filosoficamente séria”, ou “racional” simplesmente
– o que levou a uma atmosfera de “competition for attention” e, por decorrência,
a uma “hierarchy of prestige”. O infeliz efeito disso foi uma superconcentração de
predicados sob a assinatura de uma monolítica Rationality: consistência formal,
certeza, suporte substantivo etc.; em detrimento de um entendimento (mais ni-
velado) de “Reasonableness” (TOULMIN, 2003a:15). Nele teríamos como marco
ilustrativo o texto de Jean-Jacques Rousseau, Discours sur les Sciences et les Arts
(1750). Trata-se de um ensaio pelo qual Rousseau foi premiado em um concurso
organizado pela Academia de Dijon. Ali, questionando-se sobre se toda a evolu-
ção do conhecimento científico e artístico vinham contribuindo ao progresso dos
costumes, o francês responde que não. Nota-se um traço (não original, mas es-
tampando uma expressão) de pessimismo com relação ao que a ciência pode tra-
zer aos homens. Do mesmo modo, havia ali um quê purista, posto que Rousseau
desenvolve ideia separatista entre intelectuais, os bem-pensantes, que refletem
com beleza, e a gente “real” que, no final das contas, faz as coisas acontecerem.
Neste episódio o que interessa é a concepção de que o conhecimento (e apenas
excetuaríamos, neste caso, o intelectualismo estético) pode ter um papel quase
que “perverso” a jogar – corrompendo aquilo que, numa versão romântica das
coisas, seria a “verdade simples” e, portanto, mais pura. Aliás, verdade “virtuosa”
nesta sua pureza, já que o requinte do pensamento científico adulteraria as coi-
sas naturais. Sendo assim, uma antiga semente retórica fora replantada ali (ainda
que, possivelmente, sem quaisquer intenções nocivas).
No século seguinte, outro texto-episódio é Einleitung in die Geisteswissens-
chaften (1883), de Wilhelm Dilthey. Muito conhecido por ser um dos pais pro-
ponentes da “independência” das ciências humanas em relação à rationale das
ciências naturais, Dilthey vai reivindicar exatamente nesta obra icônica um esta-
tuto particular para o âmbito das primeiras – mais ou menos comungando com
Edmund Husserl daquela cisão que se tornaria conhecida entre os que estudam
princípios de demarcação: Verstehen vs. Erklären; ou, a busca por explicações
causais (intrínseca às ciências da natureza) e a busca por compreensões interpre-
tativas (inerente às do homem). Aqui, por sua vez, encontramos não um simples

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ensaio, mas um tomo inteiro em que o autor procura sistematizar um pensamen-
to que levaria a grandes discussões de cunho metodológico – por conseguinte, já
precisamente dentro das jurisdições da prática científica, podemos dizer assim; e
não uma mera reflexão filosófica. O que reteríamos daqui agora seria exatamen-
te este empenho intelectual em propor, via argumentação lógica, o que Dilthey
considerava ser uma necessária atitude disjuntiva. Em nossa opinião, mais uma
semente que alimentaria, de modo equivocado, debates sobre discernimento e
auto-segregação dos campos científicos. E, normalmente, inspirando uma atitude
quase ufanista por parte dos praticantes das “Humanidades”, que, de maneira
pouco disfarçada, parecem mesmo convictos de que, no seu plano de investi-
gação (“superior”), não se prendem àquelas normatividades (“obtusas”); àqueles
aspectos do real de manifestação mais ordinária, que dizem respeito a princípios
“meramente mecânicos” – previsíveis, ou pretensamente previsíveis, segundo um
racionalismo arrogante.
Por fim, na terceira tomada de tempo (séc.20), se verifica um episódio mui-
to curioso; e, por isso mesmo, vale ir além de uma breve referência. Trata-se
do embuste, que ressoou entre os oponentes da tradição racionalista (fazendo
eclodir uma “guerra” de posicionamentos), que um físico americano, chamado
Alan Sokal, aprontou contra a comunidade de cientistas sociais pós-modernos.
Sokal concebeu um artigo cujo conteúdo não possuía, a rigor, consistência lógica;
muito embora, “impressionasse” pela suposta coordenação de questões tão dís-
pares. No final, armadilha fácil para fazer caírem pareceristas talvez tentados pelo
vocabulário de ar cientificista, e sensíveis a uma retórica grandiloquente ... ainda
que (não suspeitariam) pudesse atrás desta residir não mais que uma habilidade
sinistra de costurar reinterpretações espúrias dos conceitos integrantes daquele
vocabulário. O artigo Transgressing the Boundaries: towards a transformative her-
meneutics of quantum gravity, aceito pela revista Social Text, e publicado em 1996,
gerou um mal-estar na comunidade de teóricos sociais da ciência; contudo, ape-
nas porque o próprio autor revelou a fraude – o que, por sinal, já revelava o pro-
blema do pouco exercício autocrítico junto ao meio acadêmico vítima daquele
engodo bastante engenhoso. Como referido, foi despertado o que comentado-
res chamaram “science wars”1, possivelmente uma expressão exagerada, mas que
designava, de todo modo, o reaquecimento de um velho problema sufocado: o
desconforto mútuo entre os cientistas de tradição “hard” e os ensaístas de cultura
mais literária que científica. Sobrando, nos parece, mais embaraço e desonra para
estes últimos. Afinal, não passariam todos, doravante, a sofrer uma suspeição de
probidade de seus trabalhos (eles que, buscando o amparo de guias-espirituais

1 Sobre as “Guerras da Ciência” vale ler a excelente Dissertação de Mestrado de Gabriel C.


Ávila (2011), defendida na UFMG (https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-8G9NJU). Pos-
teriormente editado sob a forma de livro (Ed. Fino Traço, 2013. 104p.), o texto, que se intitula
“Epistemologia em conflito: uma contribuição à história das guerras da ciência”, oferece um muito
esclarecedor panorama do conflito entre os analistas sociais da ciência e os seus efetivamente (e,
em alguns casos, ofendidos) praticantes. Ademais, têm-se ali as indicações devidas para as biblio-
grafias-chave de cada lado da “trincheira”.

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da filosofia continental, vinham sendo os delatores da “alienação” da ciência ra-
cional)? Sokal, no artigo sem pé nem cabeça, havia feito menções a autores euro-
peus cultuados na América: Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Edgar Morin, Bruno
Latour, Boaventura Santos, entre outros. Recolocava-se como mais atual do que
nunca, o velho “split” entre o pensamento analítico, de cepa anglo-saxônica, e a
tradição continental (no caso, melhor ilustrada pelas descendências francesas,
mas sem dúvida possuindo linhagens vindas de Hegel e Nietzsche). No ano se-
guinte (1997), Sokal desenvolve a querela em formato estendido: publica, em
parceria com Jean Bricmont, físico belga, o livro Impostures Intellectuelles. O título
parece querer sintetizar na palavra “impostura” tanto a falta de postura de cer-
tos, assim chamados, cientistas, quanto a possibilidade de que alguns deles não
consigam sequer disfarçar que são, a bem dizer, impostores. A edição aparecida
em inglês (Intellectual Impostures) chega ao público britânico já em 1998, e com
uma jocosa frase adicional, ao pé da capa: “the merde hits the fan”. Curiosamente,
a edição norte-americana retrabalha o título original: o leitor estadunidense lê
Fashionable Nonsense, seguido do excelente subtítulo “...o abuso da ciência pelo
intelectual pós-moderno”. Deste terceiro episódio o que não podemos deixar de
reter é a real exposição de feridas abertas que ele ilustra. Porque, sim, algo mal-
cheiroso fora jogado no ventilador.
Mas o artifício de um texto “hoax” não é novo se formos rastrear a intenção
de um simples deboche. Teríamos, p.ex., textos de grandes literatos, homens cul-
tos que quiseram, com seu “penchant for satire”, zombar da atratividade causada
pela ciência junto ao grande público. Um bom exemplo: Mark Twain (WALSH,
2006:121). Se bem que aqui reside muito mais um sentimento de que ela seria
um saber “vulgar” se comparada à “arte” da literatura; ou talvez um disfarçado
sentimento de mágoa, pela perda de crédito diante de um status ascendente
conquistado pelos homens de ciência. No séc.18, num episódio bem semelhante,
filósofos enciclopedistas seriam alvo de um intenso ataque por parte das desgos-
tosas gens de lettres, que vão redigir textos satíricos, sarcásticos (às vezes, bas-
tante virulentos), pintando o movimento filosófico francês liderado por Diderot
e Voltaire como tolo e até patife com seus novos jargões. Personagens como Je-
an-Michel Moreau e Charles Palissot foram algumas das vozes cultas reacionárias
que, com boa dose de desonestidade, expuseram os filósofos das Luzes como
intelectualmente inferiores – de “Cacouacs” seriam chamados (FREUD, 1967).

A ideologia da independência como causa de um


comportamento refratário
Parte dos protestos contra a tradição científica (em especial os vindos de uma
classe mais intelectualizada) reside entre a resistência consciente aos protocolos
mais normativos e a pura e simples miopia. Assim, as queixas contra o racionalis-
mo podem significar: (i) que se discorda dos modos instrumentais de lidar com
a realidade, e/ou (ii) que se desconhece que a intervenção nela, na verdade, de-
pende de modos mais pragmáticos de representa-la – e daí compensar abrir mão

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de filosofias de essência em prol do instrumentalismo. Dentre os vários grupos
protestadores há os que entendem que o racionalismo em ciência imporia uma
espécie de “insensibilidade”, ou irresponsabilidade moral. Como há também os
difusores do mito de que, em se tratando de estudos sobre o social e o humano,
se está diante de uma série de fenômenos de bem maior complexidade – o que,
além de não se sustentar diante do atual panorama dos estudos sobre os mun-
dos físico e vivo (dinâmicas atmosféricas, moleculares, neuroquímicas), significa
concordar com uma das principais concepções presentes na filosofia comteana (a
escala evolutivo-estratificada dos fenômenos); e, ironicamente, esses intelectuais
são os mesmos que costumam rotular como “positivistas” as posturas sistemá-
ticas de que tanto desgostam. Na realidade, pode até soar constrangedor para
quem tem leitura em história e filosofia da ciência essa obsessão por afirmar uma
“autoridade” sobre o que é complexo, censurando os praticantes de procedimen-
tos objetivos por serem “racionalistas demais”. Um contato com essa literatura
poderia ajuda-los a enxergar melhor a natureza da ciência; poupando-nos de
juízos confusos acerca das relações entre onto, epistemo e metodologia.
Mas talvez pudéssemos, ainda, instalar uma terceira variante de postura an-
tirracionalista: a do discurso feito para disfarçar conteúdos débeis. Isto é, seu
autor, neste caso, tendo plena consciência de que aquilo a ser alegado é indubi-
tável, banal ou já dito, furta-se de expressa-lo em linguagem objetiva – desejando
que o leitor (ou ouvinte) seja impressionado pelo estilo. Mas sem que venha a
saber que se trata de “estilo”! Posto que a ideia é soar original. Aqui poderíamos
situar autores em ciências humanas, quando estes recorrem a certas digressões,
tais como o subterfúgio de distrair o público com referência a grandes gênios do
talento (e suas novelas, fábulas, poemas). Esse “brilhantismo” de propor um canal
inesperado com a cultura estética tem, sem dúvida, um efeito encantador.

O cerco: invasões bárbaras, sob várias frentes


A prática investigativa pressupõe o cumprimento de certos protocolos e pro-
cessualísticas que, por serem de caráter normativo, definem o “sistema nervoso”
da ciência (BUNGE, 2011). Esse sistema costuma ser analisado em detalhes pelos
próprios sujeitos que tem formação inicial na disciplina sob inquérito; e que se
interessam em analisar sua ciência, filosófica e historicamente. E nesse âmbito
de identificação das normas, determinados tópicos merecerão atenção primeira:
estratégias investigativas (metodologias), tradições de produção do conhecimen-
to (epistemologias). E, de fato, não terão interesse prioritário em refletir sobre a
natureza, ou sobre a “essência” (ontologias) dos fenômenos que sejam o objeto
do cientista – cientista cujas decisões e atitudes intelectuais são o que realmen-
te interessa ao epistemólogo. Quando um pouco mais abertos ao universo do
condicionamento conjuntural das práticas, os teóricos da ciência aproximam-se
de uma outra linha independente de estudos, que teve sua própria história de
conformação gradativa: os estudos sociais da ciência. Robert Merton ilustra a

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evolução, desde os anos 1940, de uma sociologia do conhecimento científico.
Definindo uma perspectiva funcionalista, ele já percebera os riscos de uma reação
extrema contrária à ciência, diante da percepção comum de que seus empreen-
dimentos intelectuais tinham podido gerar efeitos preocupantes; e demonstrado
que ela descera de sua torre de marfim. Stephen Toulmin é um dos filósofos que,
nos anos 1950, quis superar a tradição dos estudos sobre a natureza lógica da
ciência, explorando seus aspectos mais externalistas. Assim como o faria Paul
Feyerabend, nos setenta, contudo acercando-se de um viés mais radical: os crité-
rios de conduta dos cientistas seriam mais irracionais que lógicos.
Ironicamente, a censura ao absolutismo da verdade daria lugar ao absolu-
tismo de outra verdade: tudo é relativo e produto de uma construção social. E o
que deveria ter jogado luz sobre aspectos que o tradicionalismo não esclarecia,
acabou contribuindo para que um contingente de intelectuais mal instruídos em
cultura científica tomassem a cena de assalto.
Convém ressaltar, no entanto, que por vezes o problema residiu menos no
que consta, explicitamente, nos escritos de autores “guias-espirituais”; e mais no
que quis neles enxergar seu séquito – os bárbaros. Não há dúvida, o realce aos
fatores ideológicos e políticos eventualmente subjacentes aos empreendimentos
científicos foi um ganho para os estudos epistemológicos – por muito tempo res-
tritos aos aspectos do raciocínio e da linguagem. Mas o alargamento do campo
da Filosofia da Ciência pôde sentir também o efeito colateral de um equívoco
latente: o de interpretar, obstinadamente, a sujeição dos cientistas aos interes-
ses de contexto; com a concepção ferrenha de que, por isso mesmo, a ciência
retransmitiria ou chancelaria os projetos (de poder, de controle) de uma parte
apenas do corpo social.
Aludimos há pouco, antes mesmo que o domínio da FC experimentasse, a
partir dos anos 1960, o giro historicista (via Kuhn), análises sociológicas já tinham
advindo em outros campos. John Bernal, p.ex., publicara sua Social Function of
Science em 1939 (uma linhagem dura). Assim como Karl Mannheim, nos anos
1920, já havia divulgado suas propostas de uma sociologia do conhecimento
científico – e pavimentado o caminho para o futuro “strong programme”, cerca
de quatro décadas depois, de David Bloor (KAISER, 1998). Do mesmo modo, no
momento em que o interesse pelos “contextos de descoberta” passaram a estar
na pauta dos filósofos da ciência, as “Luzes”, àquela mesma altura, já se encontra-
vam há bastante tempo recriminadas na bibliografia de intelectuais inspiradores
de teorias críticas.
De um mirante mais alto, onde se faz a crítica da crítica, a filósofa Élisabeth
Badinter representa um olhar ponderado. Autora de ensaios reflexivos sobre o
feminismo, a francesa é uma das que está convicta de que a razão iluminista tem
sido, erroneamente, julgada por uma série de problemas que, na realidade, é
posterior às Lumières. E que, apesar de não ser infalível, a racionalidade precisa
permanecer como um “ideal regulador”; favorecendo nossas atividades, coibindo

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nossos pré-conceitos (LEGROS, 2017). Nesse sentido, autores de grosso-calibre,
de Frankfurt e de Paris, teriam atiçado uma cultura anticientífica provavelmente
já incubada em círculos com antecedentes de ressentimento; e desde onde um
contingente de mentalidades avessas a cânones sistematistas divisou uma boa
oportunidade de ganhar holofotes (abrigado sob o protetorado daquela filosofia
continental “bem-pensante”).

O contra-ataque
Haveria resposta. Nomes respeitáveis, formados numa tradição de pesquisa
racionalista, emitiriam argumentos num sentido de salvaguarda do patrimônio
da ciência moderna. Para citar dois notórios exemplos dentro do movimento de
contrarreação: Richard Dawkins e Steven Pinker. O primeiro, cientista natural, re-
conhecido há muito por seus feitos em vulgarização da ciência, e pelo famoso
acento cáustico com que repreende os inimigos da razão. O segundo, especialista
em ciências cognitivas, recentemente notabilizado pelo best-seller Enlightenment
Now: the case for reason, science, humanism, and progress (2018) e pela assídua
frequentação de tribunas midiáticas. Cada um a seu feitio promove os valores
iluministas. Dentre a série de livros assinados por Dawkins, um merece particu-
lar destaque aqui: Science in the Soul: selected writings of a passionate rationalist
(2017) – ali, numa prazerosa narrativa literária, em estilo de crônica, o britânico
aponta as contradições presentes nos discursos obscurantistas ou oportunistas;
e se/nos pergunta “who would rally against reason?”. Já Pinker, na obra referida,
municia-se de dados e gráficos, demonstrando o quanto a humanidade mais
ganhou do que perdeu com o modelo de ciência ocidental; por esse aspecto, o
norte-americano parece mirar especialmente o discurso pessimista – bastante
presente, por sinal, na chamada “esquerda acadêmica”2.
Bem sabemos que uma postura pessimista soa sempre mais inteligente. Por-
que otimistas tendem mesmo a nos parecer ingênuos; efeito, talvez, de uma im-
pressão de que estariam, “na verdade”, mal informados. “Bem informados” mes-
mo, conscientes, são aqueles que levantarão o tom da voz para nos advertir dos
problemas que não somos capazes de reconhecer; e, por isso mesmo, carecemos
de seu notável auxílio para desvendar os olhos.

A possibilidade de uma análise linguística da empáfia


pseudoesclarecida
O conceito de estilo tem uma larga história no campo da Linguística. Aqui o
tomamos desde uma acepção mais genérica, mas associando-o a um discurso do
tipo retórico; assim, estilo tanto poderia resultar de uma deliberação consciente,

2 Nessa linha de análise, vale ler a coluna que Pinker publicou no The Chronicle of Higher Edu-
cation, em 13 de Fevereiro de 2018, intitulada “The Intellectual War on Science. It’s wreaking havoc
in universities and jeopardizing the progress of research”. (https://www.chronicle.com/article/The-
-Intellectual-War-on/242538).

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quanto poderia ser efeito irrefletido – de qualquer maneira, em ambos os casos
ele transporta a visão de mundo do comunicador (orador, escritor). O importante
é: o estilo, de modo mais ou menos claro à mente daquele que o ostenta, veicula
um estratagema de persuasão; o qual, talvez, o comunicador não tivesse qual-
quer intenção em revelar. Eventualmente, ainda, nos casos muito particulares em
que ele possa ter plena consciência da fragilidade de seu próprio argumento (por
inconsistência lógica ou platitude do conteúdo), estilo pode cumprir a função de
um estratagema de tipo especial: ele é um verdadeiro subterfúgio de disfarce.
Como estilos de linguagem acadêmica, estão as retóricas das ciências sociais
e das humanidades. Dada, porém, a multiplicidade de nuances e gradações, um
caso exemplar seria-nos útil salientar. O “maffesolismo”. Rótulo alternativo para
indicar a fixação de certos intelectuais em projetarem na ciência real “deficiên-
cias” que eles trazem como associadas àquilo que, na realidade, é seu imaginário
de ciência. Assim, os “excessos” da racionalidade seriam o fator determinante de
um conhecimento reduzido, “técnico”; típico conhecimento “à la science” – indi-
ferente a conteúdos ligados à “passion”, ao “non-logique”, à riqueza do cotidiano
(MAFFESOLI, 1983). Personagem que dá nome ao adjetivo “maffesolista”, o soció-
logo Michel Maffesoli está bem posicionado no círculo dos que viram na empresa
de produção de textos engajados, uma via para inscrever seu nome na dianteira
dos que pretendem ser citados por sua erudição lúcida e sensível. Na mira: des-
lizes da modernidade. O modo retórico de se posicionar: dizer-se minoritário na
contracorrente. Cultuado além-França, é sagaz em mobilizar jovens corações e
incutir em seus espíritos vulneráveis a doutrina heroica de uma caça incansável
a um mostro imbatível. Proliferando, enfim, um jeito de ser “arrogant et donneur
de leçon” (QUINON; SAINT-MARTIN, 2015:8). Muitos intelectuais foram ou serão
maffesolistas sem que o personagem precisasse ter despontado. Postura análoga
(parecer esclarecido diante de uma estrutura terrivelmente trágica) encontramos
em textos de latino-americanos; alguns, curiosamente, radicados nos EUA: Qui-
jano, Escobar. Publicações nas quais sedutoras expressões, como “desobediência
epistêmica”, ou ainda “o lado sombrio da modernidade ocidental” (MIGNOLO,
2009; 2011), têm o poder de procriar o mesmo gênero de encantamento. Há uma
ordem hegemônica de coisas que “nós” (minoria esclarecida) devemos delatar.
Eis aí uma proximidade discursiva entre as visões construtivistas de conhecimen-
to, a literatura pós(de)colonial e o multiculturalismo; dado o apelo à doutrina de
uma “equal validity” das várias tradições divorciadas da concepção objetivista de
racionalidade (BOGHOSSIAN, 2006) – visões em que, para efeito de uma análise
epistêmico-cognitiva da ciência, pouco ou nada se salva.
Abaixo (Figura 1), propomos alguns tipos gerais de etilo, conforme a aparen-
te função delegada ao discurso. Possuir “tom” melancólico? Ter a “intenção” de
compungir? Compreender uma “fraseologia” exorbitante? E os exemplificamos
com alegações fictícias, mas com lastro em literatura de teor equivalente.

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Figura 1 – Tipos gerais de estilo, segundo a função retórica do discurso

Vimos tentando aproximar os campos epistemológico e linguístico na inten-


ção de formular grade analítica para o exame de estilos de pensamento científico
(ou anticientífico). A partir do interessante modelo de Stephen Toulmin (2003b),
que estabelece um “argument pattern” com seus componentes estruturais, per-
cebemos uma via para essa aproximação.
Transladando o protótipo de Toulmin para um campo em que, inversamente,
seria analisado o argumento anticientífico padrão dos adversários da ciência (Fi-
gura 2), poderíamos dizer que são cinco (não seis) os componentes estruturais:
Claim – alegação, cuja fiabilidade poderá será avaliada pela estrutura da cadeia de
raciocínio; Data – os fatos que o argumentador traz a fim de dar suporte ao que
alega; Warrant – as regras que operam a coordenação entre esses fatos e a ale-
gação; Backing – suposições que apoiam essas regras; e Qualifier – as condições
necessárias para tornar verdadeira a alegação. (Rebuttal “seriam” condições que,
por outro lado, a falsificam). Renomeemos agora os elementos, respectivamente,
como Posição (P!), Fundamentação (F), Garantia (G), Apoio (A), Condicionali-
dade (+C) e Refutação (-R) – quando o discurso, digamos, “puramente retórico”
seria aquele que, persuasivo, se abstém de reconhecer sua falibilidade potencial.

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Figura 2 – Cadeia de argumentação, exemplificada com um discurso “antivacina” (a partir de
Hobson-West, 2005)

O que o protótipo inspirado em Toulmin quer destacar é que uma atenta


análise das cadeias de raciocínio argumentativo poderia nos ajudar a identificar
alguns daqueles tipos ou estilos de discurso retórico, expostos antes; e discernin-
do-os de outras posições que, embora talvez não possamos afirmar que seriam
necessariamente “mais adequadas”, pelo menos estariam melhor estruturadas –
logo, mais confiáveis. Por isso, uma tal grade analítica parece promissora para nos
apontar situações argumentativas em que o autor (do texto, da fala) não pôde
disfarçar cegueira ideológica, insegurança, revanchismo e/ou simples má-fé. Ela
demonstraria a “arrogância do retorismo” (OLIVA, 2009:10), o “nebuloso do dis-
curso” (PRACONTAL, 2004:404).

Quando o mal ideológico é reverso


Não parece justo, contudo, imediatamente associar argumentações frágeis
ao que alguma literatura já tem chamado “academic left” (GROSS; LEVITT, 1994).
No Brasil, notícias recentes espantam. A atual administração do Governo Federal,
pelos discursos emitidos diuturnamente por algumas de suas mais representati-
vas altas vozes, já insinuou que os relatórios divulgados por instituições de ele-
vado respaldo, tais como a Fundação Oswaldo Cruz (criada em 1900) e o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (em 1960), pelo seu teor, estariam cumprindo
funções ideológicas, desestabilizadoras do país. Arriscando ainda afirmar que os
resultados de pesquisa não teriam validade científica. No caso da Fiocruz, o des-
conforto oficial foi com a informação sustentada pelo “Levantamento Nacional
sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira” – que contradiz a ideia de que
haveria uma “epidemia de drogas” no país (imaginário nutrido por, entre outros,
o então Ministro da Cidadania). No caso do INPE, a incomodidade se deve à di-
vulgação de dados de devastação florestal. Apesar de indicados por um sistema
de alerta de alterações que é técnico, os dados foram questionados por (espe-

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culativamente) estarem “a serviço” de Organizações Não-Governamentais (cisma
nutrida por, entre outros, o atual Ministro do Meio Ambiente)3. O que ambos os
episódios têm em comum não é exatamente a rejeição de evidências demons-
tradas por aplicação de critério metodológico de área (mesmo porque o mais
provável seja que os personagens envolvidos nem possuam conhecimento ou
interesse em natureza da ciência). O que guardam de sintonia é a crença de que
os divulgadores de dados teriam os distorcido por conveniência; em favor de um
viés interpretativo. E, ironicamente, por esse seu ceticismo obsessivo, a right-wing
politics (que é, podemos afirmar, uma “direita antiacadêmica”) se acerca muito
da academic left: as duas põem em dúvida o que alegam cientistas por estes não
dizerem aquilo que eles defendem. As duas têm uma fixação passional num estilo
análogo de alegação: a de que a verdade está sendo ardilosamente ocultada.

Tipos retóricos de autor, segundo seus jargões


e modos de ataque à razão
Com a leitura de publicações crítico-analíticas, como as de Gerald Holton,
Susan Haack, Steven Pinker, John Horgan e Letitia Henville (cada qual em seu dis-
tinto campo de análise) nos ocorreu a ideia de propor, além de tipos estilísticos,
também tipos de “personagem-autor”; agora com foco na formação intelectual
e nas decorrentes modalidades de posicionamento ou engajamento (Figura 3):
o “intelectual irônico” (II), o “acadêmico humanista” (AH) e o “militante radical”
(MR). O irônico, no avesso de uma postura apolínea (sóbria, ordeira), o que pra-
tica se assemelha muito à crítica literária – na medida em que lança “pontos de
vista”, “opiniões” (fascinantes, por vezes, mas sem efeito algum na resolução de
problemas). Já ao humanista pode ocorrer de procurar mesclar, a um discurso em
geral melodramático, certo ar oportuno de seriedade metodológica. Enquanto
que o radical, querendo ocultar ressentimento, inveja, pode assumir uma posição
cínica; dizendo que os ideais de evidência, verdade e fato são farsas ideológicas
– “a smokescreen disguising the operations of power, politics, and rhetoric” (HAA-
CK, 2007:20). Este último personagem ainda pode fazer o tipo “prático”, a fim de
hostilizar o que entenderá ser mero esnobismo acadêmico.

3 Acerca do caso INPE ver “Governo contesta dados de desmatamento, mas diz que não iria alar-
dear se julgasse corretos”, G1, 01 ago. 2019 (https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/01/
governo-contesta-dados-de-desmatamento-mas-diz-que-nao-iria-alardear-se-julgasse-corre-
tos.ghtml). Sobre o caso Fiocruz ver “O embargo de um estudo inédito da Fiocruz sobre drogas”,
Nexo, 28 mai. 2019 (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/05/28/O-embargo-de-um-
-estudo-in%C3%A9dito-da-Fiocruz-sobre-drogas).

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Figura 3 – Três tipos propostos de personagem-autor

Numa tomada panorâmica, os personagens se deixam identificar por estig-


mas linguísticos que podem indicar de um simples engajamento à sucumbência a
delírios tentadores (com matizes intermediários denotando posicionamentos, às
vezes, sarcásticos, mas quase sempre inofensivos). Nenhum historiador da ciência
lúcido negligencia ou questiona o peso condicionante das circunstâncias sociais;
contudo, a sociologização excessiva dos estudos sobre a prática científica termi-
nou abrindo a cancela para uma horda assustadora. Mesclando porções variáveis
de histeria, seus representantes (em geral, pouco alfabetizados nos padrões de
procedimento e de linguagem científicos – ou, no mínimo, ignorantes em filoso-
fia das ciências naturais) produzem declarações sobre as quais pairam ares com-
plotistas; com insinuações, por vezes, até bastante patéticas.
Quisemos propor uma modalidade de tratamento da questão pela via dos
“usos da linguagem” (argumentação, discurso, vocabulário, retórica) – pelos quais
poderíamos, então, classificar gêneros de posturas e de alegações. Mas reconhe-
cemos que o emprego de determinados rótulos atraentes tende a ser bastante
problemático: aquele que os usa (a fim de salientar as incorreções de um outro)
pode ser que o faça por puro oportunismo; isto é, encontra na expressão “X”
(equivalente, digamos, ao demérito de não reconhecer os valores “y” e “z”) um
modo de atacar o grupo oponente, mas sem que isso signifique que ele próprio
cumpra os requisitos valorizados y e z. A expressão “esquerda acadêmica” é um
bom exemplo. É problemático seu uso na América Latina (talvez nem tanto nos
EUA): quem a usa não necessariamente é um partidário da ciência normativa;
pode ser um reacionário arrivista que, capturando para si os discursos da serieda-
de e da objetividade, quer apenas combater ideologias de que desgosta (alguma
forma de humanismo, de correção política etc.).
De todo modo, tudo isso só reforça os indícios de que a ciência tem sido
trazida à força para um campo de batalha que lhe é totalmente estranho.

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