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Populismo!!

Sou uma pessoa de “balanços”. Diários, semanais, anuais, da vida. Talvez seja defeito
de formação, mas a introspeção é algo que me assiste frequentemente. E esta
característica, que me toma muito tempo e muitas horas de sono, é algo inevitável. O
que pensei, disse ou fiz. O que poderia ter sido diferente. Se foi a decisão certa. Procuro
que tudo na minha vida seja norteado pelo respeito pelo próximo, mas também por mim
mesma, na busca incessante de dar sentido à vida, na procura da felicidade, objetivo que
é comum a todos. Mas, nem nisso sou perfeita ou me aproximo minimamente disso.
E na onda deste “balanço”, sei e sinto que não é fácil ser “adulto”. Para ninguém. O
peso da responsabilidade, dos anos que passam impiedosamente, dos sonhos, das nossas
limitações. Das perdas irrecuperáveis. Dos momentos felizes, mas irrepetíveis. Da
saudade do que foi ou do que ainda será.
2022 será um enorme desafio. Uma montanha-russa de momentos “sim” e de momentos
“não”. 2021 foi mais uma prova de que aquilo que nos torna mais humanos, aquilo que
nos faz avançar e viver, é a coragem e a fé. E a capacidade de, no cimo da experiência
acumulada, saber que como em qualquer montanha-russa, na vida há momentos em que
estamos “em cima”, mas há também, momentos em que estamos “em baixo”, num
círculo vertiginoso que nos testa e nos põe à prova.
Dei por mim, a pensar no “Populismo” e na Ciência Política para definir uma estratégia
de líderes carismáticos para apelar às massas, que separam a sociedade entre dois
grupos homogéneos e antagónicos, o povo e a “elite corrupta”.
Partidos populistas têm obtido sucesso eleitoral na Europa ultrapassando partidos que
dominaram o sistema partidário nas últimas décadas. As explicações para o sucesso
destes partidos têm-se centrado essencialmente nas desigualdades económicas entre
países, na insegurança e no aumento da imigração e do número de refugiados. A
importância do populismo não pode ser hoje ignorada. Em Portugal, o sistema
partidário tem-se mantido estável com dois partidos hegemónicos ao centro (Partido
Socialista e Partido Social Democrata) alternando entre si no poder, com ou sem
coligações com partidos mais pequenos à direita ou com acordos à esquerda, estes
últimos na legislatura de 2016-2019. As eleições legislativas de 2019 vieram, contudo,
provocar um “abanão” na estabilidade do sistema com a entrada no Parlamento de três
novas formações políticas e o enfraquecimento dos dois partidos situados à direita do
espectro parlamentar. Legislativas 2022 pouco alteraram no xadrez político nacional.
O PSD não se afirma como alternativa, CHEGA e IL crescem fortemente, numa
Direita deixada devoluta por um discurso ao centro, hoje, claramente derrotado.
O populismo tardou em Portugal, mas parece ter vindo para ficar. Segundo
especialistas, Ventura lidera, usando, em cada debate, todas as estratégias clássicas do
discurso populista, mas não é o único a optar por este tipo de táticas.

O PSD não teve um discurso para o eleitorado urbano e nas sondagens que contam,
o voto dos portugueses, é penalizado por isso.

Bloco e PCP pagam a crise política, com decréscimo eleitoral, tendo uma palavra
mais tímida no mais provável cenário de uma Geringonça 2.0.

Dizem os otimistas que as crises representam oportunidades, no caso português


podemo-nos perguntar: se nada mudou porque tivemos eleições? Mas o futuro é
ainda mais incerto do que foram estas eleições.

A crise na Ucrânia provocará uma subida no preço dos combustíveis, a ameaça de


uma subida da inflação adensa-se e os de juros baixos começam a escrever o seu
obituário.

Qualquer Governo terá de ter todos estes fatores em conta, na certeza de que os
tempos que aí vêm não serão fáceis.

A governação socialista em crescimento económico destes últimos seis anos


acabou. Os tempos serão exigentes, as negociações à Esquerda serão, mesmo com o
enfraquecimento do BE e do PCP, mais difíceis, assim o dita o contexto.

Ontem foi o dia de António Costa e do Partido Socialista, hoje será o dia de
Marcelo Rebelo de Sousa e do futuro do país. O Presidente resguardou-se, geriu o
silêncio e terá um papel decisivo. Exige-se estabilidade, mas também se pede
governabilidade, estratégia e futuro. O novo Governo será obrigatoriamente
diferente do atual, nos protagonistas, mas também nas políticas. António Costa já
não necessita de governar para eleições, este é previsivelmente o seu último ciclo
nacional, passando assim a gozar de uma liberdade rara na política nacional.
Ao PSD cabe interpretar os resultados das eleições, assumir a derrota e contribuir
para a estabilidade do país. O Partido Social Democrata é um partido de Governo,
está no seu ADN e, para que tal aconteça, terá de se afirmar como real alternativa,
voltar a ocupar a liderança do centro-direita e estruturar uma agenda reformista,
capaz de mobilizar e agregar os sectores mais dinâmicos da nossa sociedade. Só
assim voltará a ser um partido verdadeiramente nacional, capaz de disputar o
eleitorado urbano e jovem. Por agora cumpre o papel de oposição, que a exerçamos
ativa e responsavelmente.

O populismo é um conceito basilar nos debates atuais sobre política e media. O termo é
usado em diferentes contextos e com diferentes significados por cientistas sociais e
jornalistas para referirem diversos fenómenos. Mudde e Kaltwasser (2017) definem
populismo como uma ideologia que divide a sociedade em dois campos antagónicos - o
“povo puro” versus a “elite corrupta” - e privilegia acima de tudo a vontade geral do
povo. Independentemente de sua ideologia, os líderes dos movimentos populistas e
respetivos partidos têm geralmente características em comum que contribuem para sua
popularidade: na maioria dos casos, são figuras carismáticas com bom conhecimento
dos media, recursos que se combinam para garantirem notoriedade pública e
visibilidade mediática que usam como capital político para atingirem os seus objetivos
(Mazzoleni, 2003). Faz parte da estratégia dos líderes populistas tocarem assuntos
sensíveis de interesse popular, por exemplo a imigração que assegura constante
interesse dos media. Pode dizer-se que quase todos os líderes populistas exibem
personalidades extravagantes e buscam agendas altamente controversas que atraem o
escrutínio dos media. Temos vindo a assistir nos últimos tempos a uma vaga de
populismo que parece varrer as democracias ocidentais.

Os cientistas políticos chamam à eleição de Trump e à eleição de Bolsonaro fenómenos


de populismo. Segundo Cas Mudde (2017) “o populismo é uma ideologia de baixa
densidade que considera que a sociedade está, em última análise, dividida em dois
campos homogéneos e antagónicos – o povo puro e a elite corrupta – e que defende que
a política deveria ser uma expressão da vontade geral”. 

O conceito de povo baseia-se na ideia de que este não é a fonte do poder político, mas
sim a fonte do poder governante, através de um líder que comunica com as massas e
interpreta a sua vontade. Rejeita, pois, a democracia representativa e o sistema de
partidos, já que o povo não precisa de intermediários. 

Neste contexto, é importante notar que Trump havia afirmado “que o seu movimento
visava substituir um establishment falhado e corrupto por um governo controlado pelo
povo americano (…) Vai ser um tempo novo na América. O governo vai ouvir
novamente as pessoas, os eleitores e não os interesses especiais”. O mesmo veio a
suceder na eleição de Bolsonaro quando se apresentou como candidato contra o sistema,
sendo que os brasileiros aderiram ao seu discurso por causa da corrupção, crise
económica e insegurança.

Acontece, porém, que as instituições políticas brasileiras não têm a solidez das norte-
americanas, fortalecidas ao longo de mais de dois séculos e que sempre evitaram
qualquer tentação autoritária. Veja-se as dificuldades de Trump em lidar com o
Congresso. Não é assim no Brasil em que a Constituição data apenas de 1988. 

Segundo Oliveira Rocha (2018), a estruturação do atual pensamento populista deve-se a


Steve Banon, estratega da campanha eleitoral de Trump. Depois de ser despedido da
Casa Branca, Banon fundou uma universidade populista a 130 km de Roma. O
pensamento populista na Europa tem como principal líder Mateo Salvini, homem forte
do atual governo italiano, o qual se apresenta como antissistema, contra os imigrantes,
contra a UE e ideologicamente nacionalista.
Tendo presente esta conceptualização, o populismo está normalmente associado a um
líder que corporiza os problemas e os ódios das pessoas que se congregam através dos
meios de comunicação social.

Ainda, na mesma trajetória, Lucas Belvaux (2017), refere que “o populismo é a recusa
da complexidade das coisas” e “prospera precisamente onde as outras forças políticas
falharam”.

Com efeito, o que aconteceu nos Estados Unidos e o que acaba de acontecer no Brasil,
não pode ser encarado como “uma brincadeira”, mas deve ser levado muito a sério,
podendo ser um sinal de inquietação social, de uma motivação económica ou de uma
opção contra a globalização. 
Na minha opinião, não vejo uma relação direta entre dificuldades económicas,
austeridade e populismo, mas é claro que podem ser um “gatilho”, sendo certo que há
muitas outras variáveis culturais que entram em jogo. 

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