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CAPA: LEANDRO CORREIA

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Copyright © 2007 por Rodrigo Cardoso

Copidesque e Revisão: Rosana Braga


Projeto gráfico e diagramação: Silvia Maria Pereira

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

C986r

Cardoso, Rodrigo
Faça diferente, faça a diferença! / Rodrigo Cardoso.
Rio de Janeiro: 2007.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-6030-378-6

1. Sucesso. 2. Autorrealização. 3. Liderança. 4. Mudança


(Psicologia). I. Título.

07-4200. CDD: 658.406


CDU: 65.011.4

Todos os direitos reservados a Rodrigo Cardoso


Editora Hafner Eventos e Treinamentos
Rua José Antonio Martins, 98 -Vila São Paulo
São Paulo – SP - cep: 04651-070
www.rodrigocardoso.com.br - equipe@rodrigocardoso.com.br
Faça diferente, faça a diferença!

Dedicado a Rosana Braga,


Com seu amor me ensinou a fazer diferente
e a fazer a diferença.

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Faça diferente, faça a diferença!

Sumário

Agradecimentos 9

Prefácio 11

Introdução 15

1. Hoje 19

2. A infância 25

3. A primeira lição 31

4. Um novo começo 37

5. A segunda lição 43

6. A terceira lição 51

8. A felicidade voltou 57

9. Os dez princípios 63

10. Uma grande ideia 81

11. Reencontro 85

12. Casamento 91

13. A carta 97

14. As três mensagens 99

15. A missão 103

16. Epílogo 111

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Faça diferente, faça a diferença!

Agradecimentos

A
gradeço em primeiro lugar a Deus por me possibilitar
tamanha inspiração que, com toda certeza, tem um
único propósito: fazer com que o leitor termine de
ler este livro com energia e esperança, seguro de que
realmente é capaz de realizar todos os seus sonhos.
Agradeço a minha esposa Rosana Braga. Ela faz parte
da minha vida, brilhante escritora, palestrante, jornalista,
psicóloga, parceira e principalmente: o amor que me completa.
Agradeço aos meus filhos Lucas e Nicholas: vocês são parte
desta obra. Quando tiverem maturidade pra ler o que escrevi,
procurem aplicar todos os ensinamentos aqui aprendidos. Estou
certo de que isto fará uma grande diferença em suas vidas.
E aproveito para dizer que tenho muito orgulho do novo
filho que ganhei, o Vinícius, o novo irmão mais velho que
nos dá muita alegria e contagia com sua garra de vencer.
Agradeço especialmente a uma mulher vencedora, de fibra e
com muita garra: Sueli Facciolla Cardoso. Sua contribuição foi
essencial para a conclusão deste livro. Suas sugestões, as noites
mal dormidas, as pesquisas e, principalmente, a sua crença neste
projeto desde o início são algumas das muitas razões para eu
ser-lhe eternamente grato. Acima de tudo, obrigado por ter me

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Rodrigo Cardoso

transmitido tanto amor desde o primeiro instante de minha


concepção. Mãe, você é minha eterna amiga.
Agradeço ao meu primo e diretor da equipe Rodrigo
Cardoso, Roberto Facciolla, por sua lealdade e incansável
energia no trabalho.
Agradeço a toda equipe da Ideal Propaganda, em especial ao
Leandro, por fazer uma verdadeira diferença. O talento dessa
equipe com certeza contribui e muito para o meu crescimento
profissional.
Ao meu assessor e grande amigo Dario por seu dedicado
esforço em levar meus treinamentos para as organizações
corporativas, e ao meu fiel escudeiro que nos últimos quase
20 anos me acompanha em todas as palestras pelo Brasil, o DJ
Edgar Nascimento.
E finalmente a você, leitor, obrigado por compartilhar
momentos preciosos da sua vida com a leitura desta obra.
Se nos encontrarmos algum dia, por favor, não hesite em se
aproximar para um abraço. Será uma honra poder ouvir as
experiências que esta obra proporcionou para a sua vida.

Um grande abraço
Rodrigo Cardoso

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Faça diferente, faça a diferença!

Prefácio

“S
e você pedir à vida um tostão, ganhará
um tostão. Se pedir um milhão, ganhará
um milhão”. Com frases poderosas como
esta, Rodrigo Cardoso conduz esta
magistral obra que, posta em prática, pode levar o
leitor do tostão o milhão.
Rodrigo colocou neste livro tudo aquilo que ele
vivencia. O que está aqui não é a teoria, mas a prática do
sucesso. O diferencial da obra está no fato de que ele vai
além, não só mostrando os princípios fundamentais do
triunfo, mas também colocando emoção na narrativa,
o que cativa o leitor. Não se trata de mais uma obra de
desenvolvimento pessoal, mas de uma história de vida
que reflete o caminho percorrido pelos vencedores, por
aqueles que foram, literalmente, do tostão ao milhão.
Enquanto lia o livro de Rodrigo, eu pensava em
meu próprio pai. A obra falou direto ao meu coração
e comoveu o mais íntimo de meu ser. Meu pai saiu da
roça, nos arredores de Divinópolis, em Minas Gerais,
aos 13 anos, para ganhar a vida em Belo Horizonte.
Logo após sua partida ficou sabendo que seu pai
tinha morrido.

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Rodrigo Cardoso

Jurou que somente voltaria para suas origens quando


fosse alguém bem-sucedido. E assim aconteceu.
Tenho, portanto, em minha família, um testemunho de
que os conceitos apresentados neste livro funcionam.
Eu mesmo já os testei e sei que, quando aplicados com
convicção, surtem resultados miraculosos.
O forte da obra está não apenas na explicação das leis
inexoráveis do sucesso, mas na forma com que elas são
colocadas, fazendo parte da vida de uma pessoa que
começou do nada e conseguiu chegar à condição de
empresário de enorme prestígio. A transformação das
experiências e dos resultados do personagem ocorre
devido à sua dedicação e entrega às crenças e valores
contidos neste livro.
A narrativa reflete aquilo que Rodrigo nos comunica
como pessoa.
Animado, otimista, dedicado, competente, pura
energia positiva, ele nos entusiasma com a sua presença
e suas palavras. Pessoa sincera, mantém o seu foco no
crescimento do ser humano e das organizações. Por
onde passa leva a alegria, vontade de ser alguém melhor
e de vencer — é, sem dúvida, uma pessoa contagiante,
alguém que optou por dedicar a vida ao sucesso de seus
semelhantes.
Com a leveza e o colorido de quem personifica uma
história de sucesso, Rodrigo consegue, com seu texto,
esculpir em nossa mente e em nosso coração o caminho
mais curto para uma vida de realizações.

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Faça diferente, faça a diferença!

As lições, os princípios e as mensagens contidas neste


livro são presentes inestimáveis para a realização pessoal.
Devem ser encarados com seriedade e traduzidos em
ação apaixonante.
Leia o livro e teste os resultados em sua própria vida.
Experimente você mesmo. Embarque nesta viagem
e descubra que nada, nada no mundo, tem um gosto
melhor do que o sucesso!

Ômar Souki

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Faça diferente, faça a diferença!

Introdução

E
ste livro o fará refletir sobre os seus sonhos
e ambições. Em uma viagem através do
tempo, você será levado a reconsiderar o seu
passado, o seu presente e o que realmente
deseja para o seu futuro.
Com certeza, ao terminar este livro, você estará
fortalecido e pronto para realizar os seus projetos,
tornando-se uma pessoa mais forte, mais empreendedora,
com a autoestima e a dignidade pessoal elevadas.
A leitura destas páginas irá inspirar-lhe confiança
e provocará a empatia de seus semelhantes, de quem
receberá cooperação crescente e um amor irrestrito e
desinteressado.
Ao terminar a leitura, você descobrirá que o mais
importante é abrir o seu coração e que é preciso
aprender a explorar as diferenças, derrubando os
muros do ressentimento e da desconfiança, tornando-
se totalmente aberto ao perdão. Com este livro, você
irá ampliar os seus conhecimentos, assimilando técnicas
práticas de como obter sucesso em sua vida profissional,
nos relacionamentos interpessoais, bem como em sua

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Rodrigo Cardoso

vida sentimental e familiar. Esta é uma história de amor


na qual, através dos ensinamentos de um mestre, o
jovem Pedro, rapaz humilde e sem família, mas muito
inteligente e ambicioso, conquista um enorme sucesso
pessoal e profissional sem, entretanto, esquecer de se
preocupar com seu semelhante, sempre procurando a
melhor forma de ajudar a todos com sua dedicação,
conselhos e exemplos.
Por isso conto esta história. Acredite-me! Basta
que você confie nos instintos para mudar a sua vida,
transformando-a numa existência magnífica. Claro que
sempre surgirão contratempos no dia a dia, mas, com
a autoestima elevada, você saberá como administrá-
los, encontrando sempre as melhores soluções para os
seus problemas.
Através de palestras e cursos que ministrei para
milhares de pessoas nesses últimos anos, pude
comprovar o quanto esses ensinamentos transformam
vidas. Mensalmente, sou abençoado com um grande
número de e-mails contendo palavras de gratidão
e demonstrações de como seus remetentes renasceram
para uma vida melhor, prosperando significativamente
graças aos ensinamentos universais lembrados nesta obra.
Milhares de pessoas que frequentaram os meus cursos
de final de semana* viram os seus relacionamentos se
transformarem da noite para o dia. Muitos conseguiram
promoções em seus trabalhos e outros tomaram a difícil
decisão de iniciar um negócio próprio, criando coragem
para concretizar sonhos que vinham acalentando havia
muitos anos. Hoje são empresários bem-sucedidos e

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Faça diferente, faça a diferença!

tenho os seus depoimentos de gratidão guardados com


muito carinho.
Através de momentos de grande emoção, este livro
fará com que você se convença de que também pode —
e merece — realizar todos os seus sonhos.
Aproveite!

O autor.
*www.ultrapassandolimites.com.br

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Faça diferente, faça a diferença!

Hoje

C
inco horas da manhã. Acordo antes do toque
do despertador, programado para as seis horas.
Sinto frio, aqueço-me sob as cobertas macias,
recusando-me a abrir os olhos como se isso
fosse quebrar o encanto deste momento.
Lá fora, o vento assobia uma música maravilhosa. O
vento é constante nessa região durante o inverno, ao pé
da serra do Japi, próximo de Jundiaí, no estado de São
Paulo, lugar onde fica minha propriedade de 780 alqueires,
uma fazenda-modelo com um belo pomar, uma grande
plantação de algodão que me rende atualmente uns dez
mil fardos do tipo 5 e 5.5 — que exporto anualmente
para o Japão e para a Itália —, e com o mais exuberante
pasto da região, onde crio perto de mil cabeças de gado
nelore, todos PO, ou seja, puros de origem. Imagino-
me caminhando pelo pinheiral, cuja ramaria produz esta
música nas frias noites de inverno.
Costumo caminhar, todas as manhãs, ao longo dos oito
quilômetros de uma alameda reflorestada que leva até a
sede de minha fazenda, uma construção sólida de quase
mil metros quadrados, lugar onde estou nesta madrugada.
O termômetro marca três graus positivos.

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Rodrigo Cardoso

Penso em meu filho, dormindo em seu quarto com


Maísa, minha nora. Penso em meu neto, que está
completando oito anos, e sorrio ao lembrar-me de
suas travessuras, algumas tão inteligentes para a sua
pouca idade.
Ah, como sou abençoado e feliz! Uma sensação de paz
invade o meu corpo. Tomo uma decisão. Levanto-me da
cama sentindo o inverno gélido invadir a minha alma. Sei
que deveria afugentar esta ideia, mas um impulso infantil
me incita à aventura que estou prestes a viver.
Saio de meu quarto silenciosamente e transponho a
porta que se abre para um vestíbulo espaçoso e atapetado.
Uma grande tapeçaria de gobelino cobre a maior parte de
uma das paredes. Do lado oposto, uma enorme porta,
duas folhas de carvalho caprichosamente trabalhadas,
abre passagem para um segundo vestíbulo de distribuição.
Chego à sala de estar, decorada em tons bege, marrom e
coral e mobiliada com poltronas acolchoadas e mesinhas
de nogueira, o rico tom escuro contrastando com o
felpudo tapete bege-pálido.
A sala de estar é voltada para um terraço com piso
de cerâmica, de onde posso apreciar os primeiros raios
do sol que nasce além da longa alameda de imponentes
pinheiros. Esta alameda tanto pode me levar para o lago,
que é alimentado por uma nascente de águas cristalinas,
quanto para o hangar, caso eu siga na direção oposta.
Deixo a casa inspirando o suave aroma dos pinheiros,
embalando no peito a saudade daqueles momentos
maravilhosos que eu e minha mulher aqui vivemos. Que
alegria quando nasceu João Pedro, nossa obra-prima!

20
Faça diferente, faça a diferença!

Meus pensamentos solitários são interrompidos pelo


barulho que provoco ao abrir o portão do hangar. Lá está
ele! Asa dupla, três lugares, vermelho brilhante, o motor
arrebitado à proa, olhando para mim.
É um Waco CSO, utilizado pelo serviço de correio aéreo
militar brasileiro. Fabricação americana. Fora apelidado
de “Vermelhinho” por motivos óbvios. No início
da revolução de 1932, o governo federal só tinha seis
destas aeronaves. Reconhecida a necessidade urgente de
aeroplanos para o combate, foram adquiridos numerosos
aviões daquele tipo, mas apenas dez chegaram a tempo de
serem montados e de participarem das operações aéreas
antes do final da luta, em 3 de outubro de 1932.
Ao todo, foram comprados 41 aviões iguais àquele os
quais, após a revolução, foram aproveitados pelo Correio
Militar. Mesmo desativados pela FAB em 1946, consegui
adquirir um deles para uso pessoal graças aos meus
contatos e bons relacionamentos. Lá está ele!
Empurro-o para fora do hangar, e com toda energia
giro a hélice numa tentativa frustrada de fazer funcionar
o potente motor Wright Whirlwind R-760E refrigerado a
ar, com sete cilindros e 240HP de potência.
Está frio, mas meu corpo começa a aquecer. Sinto
o suor escorrendo por baixo do meu gorro de couro.
Levanto os óculos, visto as luvas e tento dar a partida
novamente, só que agora com mais força.
Contato!
Levanta-se uma ventania dentro do hangar. Rapidamente,
entro no avião pela prancha e alcanço a cabina de pilotagem.

21
Rodrigo Cardoso

Como quem está fazendo algo escondido, como realmente


estou, embico o avião para a pista de terra que mandei
construir a uns poucos meses.
Empurro o manche com firmeza para frente, como
aprendi nas lições e como fiz em meu primeiro voo
solo, já há alguns meses. Em potência mínima, taxio
até a cabeceira da pista. Uma vez alinhado, imprimo
máxima potência no motor. Solto o freio e começo a
ganhar velocidade. A máquina tenta sair do chão antes do
tempo, dá para sentir. Mas passam alguns segundos antes
que eu finalmente a deixe decolar, puxando o manche
em minha direção. A sensação de liberdade é fantástica.
Começamos a flutuar pelo céu. Posso ver o riacho lá
embaixo, margens orladas por grandes e belos pinheiros.
Reduzo o motor e começo a traçar uma curva aberta
sobre a fazenda. Que vista linda! Os pastos, os cavalos,
o gado, o gramado do jardim, o telhado vermelho de
nossa mansão, a fonte diante da casa, a via de acesso que
leva ao portão principal, nossos carros parados junto à
escadaria. É a segunda vez que consigo admirar esta vista
tão privilegiada. Sinto o vento gelado batendo em meu
rosto. O barulho do motor é ensurdecedor.
Subitamente, algo me chama a atenção lá embaixo.
Vejo meu filho abrindo a janela. Deve ter acordado
com o barulho do motor. Está gesticulando para que
eu volte. Aceno para ele. Subitamente, porém, como
se adivinhando o que estou prestes a fazer, ele para de
gesticular. Apenas me olha. Mesmo de longe, consigo
imaginar as lágrimas em seus olhos. Digo baixinho, para
ser ouvido apenas pelo seu coração: “Eu o amo, meu
filho. Amo-o muito”.

22
Faça diferente, faça a diferença!

Acelero o motor, confiro a bússola e rumo para o leste


em direção ao litoral. Sempre quis ver o mar do alto. Mas
por que tão cedo? Por que sozinho? Eu mesmo não sei.
Apenas o faço. Alguns minutos depois, avisto a praia.
Que bela visão! É lindo! O oceano aberto à minha frente
e uma fímbria de areia branca e reluzente, estendendo-
se bem abaixo de mim... É realmente um panorama
espetacular! Mais adiante, avisto uma camada baixa de
nuvens a pairar sobre as águas. Não sei por que, mas
continuo indo em frente. Dizem que as águias são as
únicas aves que enfrentam as tempestades e voam acima
das nuvens, lá onde brilha o sol.
Quero fazer o mesmo.
Começo a ganhar altitude, as asas tremem pela
turbulência até que finalmente consigo ultrapassar a
barreira de nuvens. À minha frente estende-se um mar
branco, um tapete de flocos de neve.
Tudo é paz e liberdade. Subitamente, porém, ouço um
estrondo assustador. Não posso acreditar! De novo, não!
Tento acelerar para fazer o retorno e voltar a sobrevoar
terra firme, mas o motor não responde e começa a falhar.
Mesmo assim, termino a curva e vejo a praia ao longe,
ainda não coberta de nuvens, lugar onde poderei fazer
um pouso de emergência. Estou bem alto, talvez dê para
chegar. Rolos de fumaça impedem a minha visão.
Um novo estrondo ecoa em meus ouvidos. Não tenho
alternativa senão desligar o motor. Agora, o único
som que ouço é o assobio do vento cortado pelas asas
do avião. “Planando, talvez consiga chegar à praia”,

23
Rodrigo Cardoso

penso, esperançoso. Meu coração bate forte. Seu pulsar


sobrepõe-se ao barulho do vento e toma conta de tudo
à minha volta.
Neste momento, as lembranças começam a aflorar à
minha mente, e as imagens de minha vida desenrolam-se
como num filme diante de mim.

24
Faça diferente, faça a diferença!

A infância

V
olto no tempo até o ano de 1903, quando eu
tinha apenas sete anos de idade. Lembro-me
do dia em que entrei na mercearia do senhor
Manoel, um homem enorme, gordo, com
um longo bigode preto, de pontas voltadas para cima,
como dois ganchos metálicos. Sempre tivera medo
de ser furado por aqueles ganchos ou fuzilado pela
severidade daquele olhar.
— Ei, garoto — disse-me ele. — Quem vai pagar
pelo pão e pelo leite que você acaba de pegar?
— Ponha na conta, senhor Manoel. No fim do mês
meu pai vem aqui pagar, como sempre fez.
— De jeito nenhum, garoto, todos sabem que o seu pai
está muito doente, morrendo, e que já não possui bens.
Deixe o pão e o leite aí mesmo, entendeu?
Humilhado, devolvi o pão e o leite. Voltei para casa
chorando. Chorava muito, sem conseguir entender
por que a vida era tão dura. Mas foi naquele momento
que decidi que nunca mais iria passar necessidades em
minha vida. Que iria vencer e nunca mais sentiria aquela
dor novamente.

25
Rodrigo Cardoso

Ao chegar em casa, percebi que não tinha ninguém


ali e, pela porta dos fundos, divisei um grupo de
pessoas reunidas no campo, ao longe. Fiquei curioso e
fui caminhando em direção a elas.
O dia estava nublado. Os homens trajavam chapéus
e ternos escuros e as mulheres estavam vestidas de
preto. Entre aquelas pessoas, vi minha mãe chorando
e tossindo, amparada pelo Dr. Laurindo, o médico da
família. Ao me aproximar mais, percebi que se tratava
de um velório. Fiquei atônito! Minha mãe me viu,
correu e me pegou no colo.
— Filho! — disse ela enquanto me abraçava. — Seu
pai...seu pai se foi, meu amor... foi para o céu...
Não me lembro do rosto de meu pai. E não me
deixaram olhar para ele naquele dia. Alguns meses
depois, minha mãe também se foi, atacada pela
tuberculose. Dr. Laurindo me contava sobre como
meu pai fora feliz e próspero. Morava com minha
mãe numa bela fazenda, tinha plantações de café e
muitos empregados. Conhecia cada um deles pelo
nome, tinha um coração enorme e uma habilidade de
liderar pessoas que fazia com que todos o amassem e
admirassem muito.
Ainda antes de eu nascer, porém, perdeu tudo o
que tinha devido a uma grande praga que se alastrara
pela região. Precisou demitir famílias inteiras de
trabalhadores. Isso o feriu profundamente. Era o tipo
de pessoa que poderia reverter qualquer situação, mas
a doença o pegou de jeito e nossa família foi ficando
sem dinheiro, sem amigos, sem condições.

26
Faça diferente, faça a diferença!

O Dr. Laurindo era um dos poucos amigos que nos


restou. Embora já muito velho, ele cuidou de meus
pais sem nunca cobrar um tostão. Quando morreram,
levou-me para sua casa, pois eu já não tinha outro lugar
onde morar. A fazenda hipotecada fora entregue aos
credores. Foi nesta época que aprendi a ler, escrever e
a fazer algumas operações aritméticas.
Em 1910, aos catorze anos de idade, resolvi partir.
Sabia que o Dr. Laurindo não iria durar para sempre e
eu não aguentaria ficar ali esperando para vê-lo morrer.
Lembro-me perfeitamente do dia em que me despedi
e ele me disse:
— Pedro, meu filho, seu pai sempre me dizia que se
um dia precisasse escolher entre comer ou comprar um
livro, compraria o livro, pois este o ensinaria a nunca
mais ficar sem dinheiro para comer. Tome: isto é tudo
que este velho tem para lhe dar. — E me entregou
algum dinheiro. — Que Deus o abençoe.
Essas foram as últimas palavras que ouvi daquele
bom homem.
Quando cheguei à cidade, usei o pouco dinheiro que
havia recebido para comprar uma escova, um caixote,
um pano e duas latas de graxa: uma preta e a outra
marrom. Em seguida, fui para a praça, onde comecei a
fazer um trabalho muito comum entre aqueles menos
favorecidos pela sorte.
Como engraxate, cheguei a passar frio, fome e a
dormir no chão. Mas eu tinha prometido que iria mudar
de vida, e estava disposto a lutar por isso com todas as

27
Rodrigo Cardoso

minhas energias. Numa noite de inverno, com cerca de


dezessete anos de idade, após engraxar alguns pares de
sapatos, me deitei embaixo de uma árvore e comecei a
tremer de frio. Meus pés estavam congelados.
Meu corpo tremia muito. Não tinha sequer um
cobertor para me aquecer. Estava para ser uma das
noites mais difíceis que já haiva experimentado até
aquele dia. “Será que vou aguentar?”, pensava.
Com os olhos fechados eu me perguntava: “Por quê?
Por que trabalho, trabalho e não vejo resultados? Não
consigo entender! Já faz três anos que estou nesta vida!
Talvez nunca consiga mesmo ter sucesso como meu
pai. Parece que não nasci mesmo para isso. Devo me
contentar com essa vida. Não tive oportunidades. Vejo
tantos garotos da minha idade que têm família, têm
segurança e estudam em boas escolas, enquanto eu estou
aqui, passando fome e frio. Sinto minhas esperanças
indo embora, estou realmente perdendo as forças. Se ao
menos tivesse tido mais sorte...”.
“Nossa! Está muito frio! Será que vou conseguir dormir
esta noite? Será que irei sobreviver a este inverno?”
O vento soprava forte, mudou de direção e, juntamente,
mudou o rumo de meus pensamentos.
Naquele instante, porém, senti um cobertor me
aquecer. Olhei assustado e vi um senhor alto, bonito
e extremamente bem-vestido, sorrindo para mim.
Usava um chapéu elegante e parecia ter uma aura de
luz à sua volta. Parecia-me familiar.
— Olá, Pedro, tudo bem com você?

28
Faça diferente, faça a diferença!

Pedro? Como ele sabia o meu nome? Eu tinha estado


sozinho durante anos! As pessoas só me chamavam de
“engraxate”.
— Desculpe, como o senhor sabe o meu nome?
— Seu nome? Ah, sim... eu o vi escrito na madeira
de sua caixa de engraxate. Aquele não é o seu caixote?
O cabelo era bem cortado e ele tinha um detalhe que
me chamou a atenção: uma pinta discreta, elegante, à
orelha esquerda.
— Sim, é meu. Muito obrigado pelo cobertor, senhor,
estou com muito frio.
— Não há por que agradecer, meu rapaz.
E sem se importar em sujar o terno que estava vestindo,
juntou alguns gravetos, algumas achas de lenha, sentou no
chão ao meu lado, tirou uma caixa de fósforos do bolso e
acendeu a fogueira. O lugar começou a esquentar. Havia
muito tempo eu não sentia meu corpo tão aquecido e
também meu coração – é bom ter alguém que se importa.
Ele nada disse. Apenas pegou da fogueira um graveto
com a ponta incandescente, puxou um belo cachimbo
do bolso e o acendeu.
Ficamos algum tempo sem dizer palavra, olhando para a
chama da fogueira. O silêncio foi rompido por pensamentos
internos, algumas dúvidas me vieram à mente naquele
instante, perguntas como: o que fazia um senhor tão distinto
ali, ao meu lado? Quem era ele? Ainda não sabia, mas estava
prestes a receber uma das maiores lições de minha vida.

29
Faça diferente, faça a diferença!

A primeira lição

S
em deixar de olhar para a fogueira, que começava
a perder o ardor, o homem falou:
— Vamos lá, fogueira, nos dê mais calor, aqueça
os nossos corpos! Aumente o seu fogo! Se você fizer isso,
eu lhe dou mais lenha. Achei aquilo muito estranho e não
pude deixar de dizer:
— Meu senhor, o que é isso? Deve saber que precisa
primeiro acrescentar mais lenha para que, somente depois
disso, o fogo aumente e nos dê mais calor.
— Sim, Pedro, é claro que sei disso. Mas como é possível
que você ainda não saiba?
— Como assim?
— Filho, não podemos esperar que a vida nos dê mais
“fogo” se não acrescentarmos mais “lenha” a ela. Não
deve culpar as circunstâncias, a falta de oportunidades,
a falta de família. Dizer que se tivesse tido mais sorte
poderia estar tendo mais resultados em sua vida é o
mesmo que esperar que a fogueira aumente o seu fogo
sem que se acrescente mais lenha. Em primeiro lugar
você deve saber o que quer realmente. Quais são as suas

31
Rodrigo Cardoso

metas, os seus objetivos. Aonde deseja estar em sua vida,


para onde deseja ir?
Se você pudesse ter tudo o que quisesse agora, assim
como num conto de fadas, o que pediria?
Não hesitei em responder:
— Sei o que quero. Quero vencer na vida. Mas há três
anos engraxo sapatos e o dinheiro que ganho só paga
a minha comida. Meus ganhos não aumentam. Não
consigo guardar dinheiro, não tenho onde morar.
O senhor pensou por um instante e disse a seguir:
— Você precisa visualizar, pensar e falar tudo o que deseja, e
não o contrário. “Meus ganhos não aumentam”, “Não consigo
guardar dinheiro”, “Não tenho onde morar”... Essas são
afirmações negativas, que fazem com que você veja apenas isso
e impedem que visualize o futuro como gostaria que ele fosse
realmente. Você me disse que quer vencer, não é mesmo?
— Sim.
— E o que significa vencer para você? Não basta querer
vencer, é preciso planejar vencer! Repito: em primeiro
lugar você deve saber o que quer ter na vida. E isso deve
ser feito por escrito, no papel. Não adianta apenas pensar
e não escrever. Pois você deverá ler os seus objetivos todos
os dias, de manhã e à noite, para poder focalizar o que quer
e parar de falar de uma vez por todas sobre o que não quer.
— Mas como posso acreditar nisso? E se eu escrever
os meus objetivos e não conseguir alcançá-los? Vou ficar
ainda mais frustrado.

32
Faça diferente, faça a diferença!

— Saiba que, mesmo que você não alcance tudo o que


escreveu, estará muito mais perto de seus objetivos do
que se não tivesse escrito. Escrever o que se quer já é um
grande passo. Suas metas devem ser como uma árvore
no horizonte. Não deve estar perto a ponto de poder
tocá-la, nem tão longe a ponto de não conseguir vê-la.
— Entendo, mas numa situação como a minha...
— A vida nunca lhe dará aquilo que você não
acreditar que merece — atalhou. — Por isso você
deve pensar longe, pensar grande e saber para onde
está indo. Mas também deve ter metas de curto prazo.
Não adianta pensar em morar numa bela fazenda ou
numa mansão sem antes conseguir um lugar para
dormir, concorda comigo?
Suas metas devem fazer sentido. Você deve programar
o que quer ter em curto, médio e longo prazo.
— O senhor está querendo me dizer que eu preciso
apenas escrever o que quero e pronto? Um dia vou
conseguir?
— Filho, se você disser “um dia vou conseguir,
um dia vou ter onde morar, um dia..”, sabe o que
acontecerá amanhã? Nada! Nada além desse dia ser
adiado mais um dia.
Suas metas devem ter datas definidas! Assim você terá
um prazo determinado para alcançá-las. Deste modo,
você trabalhará com mais empenho, pois o dia de
realizar a sua meta estará cada vez mais perto, já que o
fixou no tempo.

33
Rodrigo Cardoso

— Mas há três anos trabalho, trabalho e nada muda...


— Se você continuar fazendo o que sempre fez,
continuará obtendo sempre os mesmos resultados. Você
precisa fazer algo mais, precisa procurar novas opções,
fazer diferente e, somente assim, poderá fazer uma
diferença em sua vida. Não precisa parar de fazer o que
está fazendo, mas precisa melhorar, usar a criatividade e
fazer um pouco mais.
— Sim, compreendo. Tenho feito sempre o mesmo
trabalho desde que cheguei na cidade. Fiquei esperando
que as coisas mudassem, esperando que aparecessem
do céu mais sapatos para engraxar. Mas agora entendo
que não devo ficar parado. Preciso me mexer. Preciso
buscar resultados. Existem tantas coisas que eu quero
fazer e ter...
— Pegue caneta e papel e escreva tudo. Mas lembre-se:
as metas de ter são muito importantes, pois o seu cérebro
consegue visualizá-las claramente. Mas você também
precisa escrever metas de ser. Quem você deseja ser nesta
vida? Um fazendeiro, um empresário, um comerciante?
Deseja trabalhar em uma loja de sapatos? Talvez ser
o dono da loja? Voltar a estudar? Aprender uma nova
profissão? Você precisa primeiro ser, para depois fazer e
então finalmente conseguir ter o que quer.
E continuou:
— Precisa agir, pensar, andar, falar, sentir como se
você já tivesse alcançado o que quer. Primeiro, deve
ser o tipo de pessoa que deseja, para depois ter o que
esse tipo de pessoa tem. O contrário seria primeiro

34
Faça diferente, faça a diferença!

esperar ter para depois ser; como foi o caso dessa


fogueira. Lembre-se: como poderíamos ter o calor
do fogo sem colocar mais lenha? É preciso primeiro
acrescentar a lenha, ou seja, ser um grande fogo para
depois ter o calor produzido por ele.
Naquele momento me dei conta de que havia me
esquecido do frio. Então me levantei, peguei uma acha
de lenha que estava por perto e coloquei-a na fogueira
que estava quase apagando. Atento ao fogo que
aumentava, perguntei:
— A propósito, meu senhor, qual é o seu nome?
Sem ouvir resposta, repeti:
— Senhor, qual é o seu nome?
Olhei para o lado, onde ele estava sentado e não vi
ninguém! Surpreso, levantei correndo, olhei ao redor da
árvore e não o encontrei. Caramba! O que é isso? Para
onde teria ido? Será que aquilo tudo fora um sonho? Não,
não podia ser. Como explicar o cobertor que ainda estava
comigo? Ele fora embora sem ao menos se despedir...
Mas que estranho!
Acabara de receber lições preciosas e estava ansioso
para colocá-las em prática, embora ainda tivesse muitas
coisas para perguntar àquele sábio senhor. Mas eu nem
sequer sabia onde ele morava, qual era o seu nome, o que
fazia, enfim, quem ele era.
Procurei me acalmar e tentar me lembrar de tudo
o que tinha acabado de acontecer. Lembrei-me de
que estava com frio, pensando que não tinha tido

35
Rodrigo Cardoso

oportunidades ou sorte na vida. Foi então que


aquele senhor apareceu e me disse que eu não devia
culpar as circunstâncias, a falta de oportunidades, a
falta de família...
Nossa! Somente então me dei conta de uma coisa:
como ele poderia saber de tudo aquilo? Eu estava apenas
pensando! Confuso, passei a caminhar a esmo ao redor
da fogueira, pensando em tudo o que havia acontecido
e, em dado momento, chutei um objeto no chão. Era
uma linda caneta preta com a palavra “Amigo” gravada
em seu dorso, em dourado brilhante.

36
Faça diferente, faça a diferença!

Um novo começo

N
aquela noite, demorei a dormir. Apoiei um
velho caderno de notas na caixa de engraxar e
usei a linda caneta “amiga” para escrever tudo
o que eu gostaria de ser, fazer e ter a curto,
médio e longo prazo. Não pensei em como iria conseguir
realizar os meus sonhos.
Apenas escrevi tudo o que me ocorria, como se ao meu
lado houvesse uma fada capaz de realizar todos os meus
desejos. Finalmente, adormeci.
Na manhã seguinte, acordei muito entusiasmado. Em meus
dezessete anos de vida, nunca me sentira com tanta energia.
Seria aquele senhor um novo amigo, seria um anjo enviado do
céu? Anjo ou não, o fato é que, tão logo acordei, dediquei-me
a ler as minhas metas, como ele havia me dito para fazer.
Aquilo funcionou como mágica. Após a leitura, fiquei
com muita vontade de agir. Sabia que, em curto prazo,
eu precisava encontrar um lugar para morar, aumentar
os meus rendimentos e aprender uma profissão na qual
tivesse uma oportunidade de crescimento. Foi quando
tive uma ideia: “Vou até uma sapataria pedir emprego!”.
Como não havia pensado naquilo antes?

37
Rodrigo Cardoso

Ao entrar na sapataria com meu caixote no ombro,


lembrei-me de que meu amigo também me dissera que
eu precisava pensar, agir e sentir como uma pessoa de
sucesso. Então, meu corpo mudou de postura, projetei os
ombros para trás, minhas costas ficaram retas e esbocei o
sorriso de um vencedor. “Primeiro ser, para depois ter”,
pensei cá comigo.
— A sapataria é do senhor? — perguntei ao homem
que estava em pé no meio daquela loja que mais parecia
um depósito, repleto de caixas empoeiradas e amareladas
pelo tempo.
O homem assentiu com um menear de cabeça. Seu
nome era Jacó. Era originário da cidade de Ancara, na
Turquia. O senhor Jacó ouviu o meu pedido de emprego,
divertiu-se com a minha audácia, pressentiu o meu
entusiasmo e decidiu dar-me um voto de confiança,
fazendo-me a seguinte proposta:
— Dou-lhe um lugar para dormir, o que comer e
ensino-lhe a profissão de sapateiro. Você não precisa me
pagar pelo aprendizado.
Quase me senti frustrado, pois, como engraxate, já
ganhava o meu próprio dinheiro. Eu não viera para a
cidade para trabalhar de graça. Olhei para aquela loja
empoeirada com pouco mais de cem metros quadrados de
área, o estoque empilhado pelos cantos, as paredes que não
recebiam pintura havia anos. Então, lembrei-me de meu
amigo, de nossa conversa, do que eu me havia proposto
em meu atual projeto de vida, e decidi aceitar. Essa era a
minha chance de crescer e realizar os meus sonhos.

38
Faça diferente, faça a diferença!

Naquele dia, trabalhei como faxineiro, começando pela


limpeza das paredes, passando para a lavagem dos vidros
e, por fim, arrumando as prateleiras e organizando botas,
botinas e sapatos de acordo com os seus modelos, cores
e numeração. Em seguida, arrumei a vitrina, expondo o
que havia para ser vendido, dando destaque a produtos
que estavam encalhados na loja havia muito tempo.
Depois da faxina, a loja se transformou. Tornou-se
um lugar mais alegre, de melhor aspecto. No fim do dia,
satisfeito com meu trabalho, o senhor Jacó levou-me
até uma porta nos fundos da loja que se abria para um
corredor estreito que terminava em um enorme galpão
onde funcionava uma pequena fábrica de sapatos. A
fábrica devia ter uns quinhentos metros quadrados de área.
O barulho das máquinas era ensurdecedor. Cortadeiras e
máquinas de costura trabalhavam a todo vapor. Rolos de
couros de diversas cores, assim como moldes de papelão e
de madeira em forma de pés humanos, espalhavam-se pelas
paredes. Era assustador e, ao mesmo tempo, fascinante.
Quatorze operários suados trabalhavam ali oito horas
por dia, cada um deles fabricando uma média de 150
pares de calçados por mês. A maioria trabalhava cortando
o couro de acordo com moldes numerados. Quatro
pessoas trabalhavam na montagem e um artesão era
responsável pelo acabamento. O senhor Jacó fiscalizava
o trabalho de todos, fazendo o que hoje, no mundo
industrial, é conhecido como controle de qualidade. A
um canto, pilhas de couro de crocodilo importado da
África aguardavam para serem trabalhadas por um grande
artesão, o seu Marcos, que fabricava sapatos sob medida
e bolsas maravilhosas para clientes mais abastados.

39
Rodrigo Cardoso

A novidade da minha presença e a oportunidade


de poderem falar sobre a sua profissão fizeram com
que todos me recebessem muito bem, ansiosos para
me ensinar o que sabiam. Naquela noite, antes de me
deitar, risquei da lista o primeiro objetivo que havia
traçado como meta. Que sensação maravilhosa! O
que havia decidido fazer em sete dias eu realizara
em um!
Cansado, dormi o sono dos justos com uma leve
sensação de que tudo iria mudar para melhor. Com o
tempo, acabaria me acostumando a cumprir as minhas
metas sempre antes do prazo previsto.
Nos dias que se seguiram, pensava a todo instante no
que poderia fazer para aumentar as vendas da loja. Como
a única coisa que eu sabia fazer era engraxar sapatos,
resolvi exibir o seguinte cartaz na entrada da loja:
Entre, conheça a nossa loja e engraxe o seu sapato gratuitamente.
A princípio, o velho turco não gostou muito da ideia com
medo de que as pessoas não comprassem sapatos novos. Mas
decidiu me dar uma chance. Os transeuntes passavam por ali
com seus sapatos empoeirados e não acreditavam no cartaz.
Entravam para perguntar se era verdade, e eu imediatamente
os convidava para se sentarem e iniciava o meu trabalho.
A notícia se espalhou pela cidade e o movimento da
loja aumentou muito. Vinha gente de toda parte para
engraxar o sapato de graça. Paravam os cavalos diante da
loja, entravam, mas saíam sem nada comprar.
Nos primeiros dias, as vendas não aumentaram, em
verdade até caíram um pouco, pois, com os sapatos

40
Faça diferente, faça a diferença!

mais bonitos, as pessoas iam embora sem comprar


novos calçados. Mas o senhor Jacó decidiu aguardar
mais algumas semanas para ver no que dava, e
adivinhem o que aconteceu? As vendas começaram a
subir de modo espantoso!
Quando pensavam em consertar os seus sapatos ou
comprar algum novo calçado, as pessoas logo se lembravam
da loja do senhor Jacó, onde havia aquela promoção da
graxa de graça e todos eram sempre tão atenciosos.
Em pouco tempo, aquele senhor exigente começou a me
pagar um salário e passou a me ensinar tudo o que havia
para aprender sobre como fabricar sapatos e trabalhar
com couro. Com o salário que passei a ganhar, voltei
a estudar à noite e encontrei uma pensão para morar.
Mais uma vez riscava algumas metas do meu caderno.
Nesse mesmo ano, 1913, li uma notícia no jornal que
dizia que um norte-americano, um tal de Henry Ford,
havia inaugurado a primeira linha de montagem de
automóveis do mundo. Nesta mesma matéria, ele dizia
uma frase que acabou ficando famosa: “Se você acha que
pode, você está certo. Se você acha que não pode, você
também está certo!” A ideia da tal linha de montagem
ficou guardada em minha mente. Nessa mesma época,
as potências industriais da Europa, lideradas pelo Reino
Unido e pela Alemanha, lutavam pela conquista de novos
territórios, privilegiando aqueles que oferecessem fontes
de matérias-primas e mercados consumidores para a sua
produção industrial. Para lutar por seus interesses, os
países rivais compuseram uma série de alianças militares
e o desacordo culminou na Primeira Guerra Mundial,
iniciada no ano seguinte.

41
Faça diferente, faça a diferença!

A segunda lição

N
o final da tarde do dia 5 de junho de 1914, enquanto
baixava sozinho o pesado portão de ferro da loja,
pensava na guerra que eclodira na Europa e na sua
influência em minha vida particular bem como na
economia de meu país. Aquele fora o dia de meu aniversário, e
os meus colegas de trabalho trouxeram um bolinho e cantaram
parabéns comemorando os meus dezoito anos de idade.
Era para eu estar feliz. No último ano, fizera mais
dinheiro do que em toda a minha vida. Meus sonhos
tornaram-se realidade em curto espaço de tempo. Já tinha
um cavalo alazão, batizado de Sol, sonho de infância que
realizei muito antes do que havia previsto, uma vez que
era uma de minhas metas de longo prazo.
Entretanto, sentia um enorme vazio no coração. Já havia
conquistado tudo o que desejava. O meu caderno de
anotações, aquele no qual anotara os sonhos que desejava
realizar, completara o seu ciclo. Eu já não tinha mais objetivos.
Estava com a vida que pedira a Deus, já havia conquistado
tudo o que queria. E agora?
Eu fechava a loja todos os dias e sentia enorme orgulho na
confiança que o senhor Jacó depositava em mim. Daquela

43
Rodrigo Cardoso

vez, porém, não prestei a atenção necessária à tarefa e,


antes que pudesse fazer qualquer coisa, despenquei de
onde estava numa queda violenta.
Imediatamente, senti uma dor intensa no peito e dei-
me conta de que estava preso sob aquela massa de ferro
que trouxera comigo na queda. Sem poder respirar, com
metade do corpo dentro da loja e a outra na calçada, gritei
por socorro, sem me dar conta de que de minha garganta
não saía som algum. E o pior: era muito comum não ter
viva alma naquele lugar ao final do dia.
Que forma ridícula de morrer! A dor aumentava
enquanto uma voz silenciosa questionava dentro de mim:
— Agora que finalmente cheguei onde queria em
minha vida, iria desfalecer dessa maneira? Não é possível,
não posso acreditar, não nasci para morrer assim! Meu
coração batia sob a camisa, bombeando sangue com
uma fúria intensa. Pontos negros surgiram diante de
meus olhos como um bando de corvos surrealistas e, por
um instante, quase tive certeza de que, de um jeito ou
de outro, ia acabar a minha breve vida. Um pensamento
intruso gritou ironicamente: vou morrer justo no dia do
meu aniversário!
Fiquei imaginando o que o senhor Jacó e os funcionários
diriam, caso me vissem naquele estado. É provável que
achassem até graça de minha falta de atenção, não fosse
tão trágico a situação em que me metera. Mas eu não
estava achando nada daquilo engraçado. Meu peito doía
muito. Pensei em voltar a gritar por ajuda quando senti o
portão ser levantado.

44
Faça diferente, faça a diferença!

Ergui os olhos lentamente e senti uma forte


emoção. Um frio percorreu todo o meu corpo ao ver
um senhor alto, bonito, com olhos grandes e escuros,
do tipo que chamam de olhos ibéricos, e com uma
pinta na orelha esquerda.
Na súbita retirada do peso sobre o meu peito veio o
alívio imediato da dor, voltei a respirar, voltei a pensar,
voltei a falar:
— Meu senhor! Que grande alegria revê-lo! Obrigado
por me ajudar. Achei que fosse morrer aqui, que falta de
atenção a minha! – e percebi rapidamente que desejava
compartilhar com ele:
— Tenho muito para contar! Consegui realizar as mi...
Sem permitir que eu terminasse de falar ele disse:
— Olá, Pedro, meu rapaz. Não precisa agradecer. Tenho
acompanhado o seu sucesso e vim dar os parabéns pelo
seu aniversário.
Enquanto ele me ajudava a levantar, fiquei curioso em
descobrir como ele sabia que aquele era o dia do meu
aniversário. Mas eu tinha tantas coisas para falar que
simplesmente agradeci e, enquanto me reestabelecia, eu disse:
— Meu senhor, tudo o que me ensinou foi de grande
valia. Naquela época, sem dinheiro, sem comida, sem
lugar para dormir, o máximo que eu podia desejar era
voltar a estudar, aprender uma profissão, ter onde morar,
ser respeitado como pessoa. Agora, veja só! Sempre quis
ter o meu próprio cavalo. Esta semana me dei este lindo
alazão como presente de aniversário.

45
Rodrigo Cardoso

Era um majestoso equino, alto, castanho-avermelhado,


com uma mancha em forma de estrela branca no meio
da testa. Poucas pessoas na cidade tinham um cavalo
como aquele.
— Parabéns, meu rapaz, em apenas um ano alcançou
todas as suas metas! Você deveria estar radiante, feliz
como nunca. Contudo, sente uma tristeza inexplicável
dentro de você, não é mesmo?
Como era possível ele saber daquilo?
— Meu senhor, estou curioso, quem é você? Qual é o
seu nome?
— Sou apenas um amigo, pode me chamar assim.
Quero que você venha até a minha fazenda, pois temos
muito que conversar.
Sem pestanejar, subi em meu cavalo, a dor do acidente
já era suportável. Mais algum tempo ali, sem poder
respirar por completo poderia ter sido fatal. Salvara ele
a minha vida? Um pensamento ecoou num tom leve e
sorridente em meu cérebro: “Acho que sim... Ele salvou
minha vida... E não foi a primeira vez”.
Segui a linda carruagem negra que rumava para fora da
cidade. No caminho fui pensando em quem ele era e na razão
para tanto mistério. Decidi confiar. Após atravessarmos um
riacho com águas rasas e cristalinas e cascalho ao fundo,
seguimos por uma estrada estreita, orlada por grandes árvores
que filtravam os últimos raios de luz do sol poente, formando
um padrão de luzes e sombras que mais lembrava um quadro
feito por um hábil e inspirado pintor impressionista.

46
Faça diferente, faça a diferença!

Logo chegamos à entrada da fazenda. Era um belo


portão, recém-construído, envolto por um arco de
alvenaria coberto de telhas para proteger da chuva os
recém-chegados. Estava aberto. Da entrada, já era
possível ver a casa grande onde meu amigo morava.
Ele saltou da carruagem e chamou por mim. Apeei e
entrei com ele em sua casa. O vestíbulo levava a uma
sala com pé-direito muito alto, móveis estilo Luís XV,
quadros autênticos e bem distribuídos pelas paredes.
Ao fundo do salão havia uma passagem para outra sala,
esta mais austera, porém com o mesmo bom gosto da
sala principal. Bem à nossa frente havia dois confortáveis
sofás diante de uma lareira. Eu estava absolutamente
encantado com o lugar e com a decoração quando a voz
de meu amigo interrompeu meus pensamentos:
— Sente-se, Pedro, fique à vontade.
— Obrigado, senhor, muito obrigado por me convidar
para conhecer a sua casa.
— Não há de quê, meu rapaz.
Sentei-me em um dos sofás e, antes de se acomodar,
ele acendeu a lareira. Lembrei-me de nosso primeiro
encontro e disse:
— Nunca me esqueci de que devemos primeiro colocar
“lenha” na vida e depois, somente depois, esperar que
ela nos dê “fogo”.
— Sei que você aprendeu bem essa lição. Os
resultados comprovam. No entanto, eu o trouxe até

47
Rodrigo Cardoso

aqui pois precisamos continuar a nossa conversa. Pedro,


meu amigo, deseja que eu continue passando-lhe
experiências e dando-lhe instruções? Acomodei-me
naquele confortável sofá e com a expressão de quem não
queria perder nem um segundo de seus ensinamentos,
assenti com um ansioso menear de cabeça.
— A felicidade não está na realização de suas metas!
— afirmou.
— Meu senhor, da outra vez em que nos encontramos,
aprendi que era importantíssimo ter metas claras e
definidas, escritas no papel — falei, um tanto atordoado
com o que acabara de ouvir. — Eu as tenho aqui comigo
desde aquela noite até o dia de hoje.
Minha vida mudou muito, consegui tudo o que queria!
O senhor tinha razão, estava certo! Por isso não consigo
compreender esta nova lição, não faz sentido.
— Você está feliz? — ele me perguntou, como se já
soubesse a resposta. Pensei, baixei o olhar e num tom de
voz quase imperceptível respondi:
— Acho que não! Tenho sentido um vazio que não
consigo explicar e isso está me tirando a alegria que sentia
ao alcançar cada uma de minhas metas neste último ano.
— Esse é o ponto aonde quero chegar. A felicidade
não se encontra na realização de suas metas e sim no
caminho para realizá-las!
A felicidade não é uma estação chamada “Sonhos
realizados” e sim uma jornada chamada “Em direção
aos seus sonhos”! — E concluiu: — Por isso nunca

48
Faça diferente, faça a diferença!

deixe de sonhar e tenha sempre novas metas em sua


vida. É a esperança no futuro que traz a força e a alegria
de viver no presente.
— Então serei mais feliz enquanto estiver buscando do
que quando alcançar uma meta? — perguntei.
— Exato. É claro que a sensação da conquista é algo
maravilhoso, você mesmo já a experimentou. Mas e
depois? Se você não tiver novos sonhos, novos objetivos
sentirá essa sensação de vazio que agora o perturba.
— Mas imaginei que, caso fosse escrever novas
metas, estaria sendo ambicioso demais. Hoje tenho
muito mais do que imaginei ter algum dia. Tenho até
mesmo um cavalo!
— Meu rapaz, se você pedir à vida um tostão, ganhará
um tostão. Se pedir um milhão, ganhará um milhão. A
vida nunca lhe dará aquilo que você não acredita que
merece. Querer mais nada tem a ver com ambição e sim
com a vontade de continuar feliz, de estar sempre se
aperfeiçoando e sendo o melhor que puder a cada dia.
Por exemplo, qual é a meta de um atleta que se prepara
para uma corrida de cem metros rasos?
— Ser o vencedor, é claro!
— Sim, claro que sim. Você ficou feliz, ao comprar o
seu cavalo?
— Muito — respondi, sem ainda entender aonde ele
queria chegar.
— Em que momento você acredita que o atleta é mais

49
Rodrigo Cardoso

feliz: nos treinos preparatórios, na corrida, enquanto ele


vivia o esforço de cada passada, na visão da fita de chegada
se aproximando, ou alguns dias depois que a corrida acabou?
— Penso que as lembranças do esforço e do momento
da corrida o fazem muito mais feliz do que a lembrança
do que já aconteceu — respondi, convencido de que
acabara de aprender algo novo.
— Parabéns, meu garoto, vejo que começa a entender.
Deixe-me dar-lhe outro exemplo. Certa vez, quando eu era
criança, decidi brincar de soldadinho de chumbo. Para isso
precisava construir um forte antes de dar início à brincadeira.
Passei o dia todo ocupado com aquela construção, fazendo
um rio em volta do forte, construindo pontes, montando
grandes muros com torres de vigilância e tudo o mais.
Porém, ao fim de tudo, quando terminei a construção, a
brincadeira perdeu a graça. Foi então que percebi que
a alegria está no caminho. Somos muito mais felizes na
construção de nossos sonhos do que simplesmente nos
acomodando após a sua realização.
— Sim, agora compreendo. Devo ter novas metas sempre
e entender que a felicidade está no caminho para realizá-las.
Por isso devo sempre estar traçando novas metas.
— Muito bem, parabéns. Nunca se acomode. Acredite
que sempre pode mais.
— O senhor está querendo me dizer que se eu sempre
posso mais, significa que sou mais forte do que imagino ser?
— Filho, você me surpreende. Percebo que está
preparado para mais uma lição...

50
Faça diferente, faça a diferença!

A terceira lição

M
eu amigo levantou-se e foi até a lareira para
ajeitar as achas de lenha consumidas pelo fogo.
Neste instante, uma porta numa das paredes da
sala chamou a minha atenção. Perguntei-lhe o
que havia por trás daquela porta e ele me respondeu que ali
ficava o seu escritório e biblioteca. Em seguida, convidou-
me para conhecer o outro ambiente.
Quando ele abriu a porta, avistei uma linda escrivaninha
de madeira nobre, uma cadeira de couro e uma enorme
estante contendo centenas e centenas de livros. Antes
que eu perguntasse qualquer coisa, ele disse:
— São cerca de dez mil volumes.
Não entendia como ele fazia aquilo, parecia que lia os
meus pensamentos. Mas eu já estava me acostumando.
Talvez o meu espanto fosse óbvio demais.
— Você já leu todos eles? — perguntei.
— Quase todos. Mas os melhores não estão aí.
— Onde estão?
— Na escrivaninha. No gavetão da esquerda há uma

51
Rodrigo Cardoso

pequena biblioteca contendo os melhores volumes de


minha coleção. Com eles, aprendi princípios básicos e
essenciais para obter sucesso, como me relacionar melhor
com as pessoas, como alinhar meus valores, como vencer
medos e barreiras, até mesmo como me vestir, comer...
Enfim, toda a minha cultura foi adquirida com esses
autores. O melhor, Pedro, é que aprendi a ser humilde
sem me humilhar e a viver a vida livre como um pássaro,
lembrando-me muitas vezes de apreciar o pôr do sol, sem
me preocupar muito com pequenos problemas. Descobri
que posso ir e vir, realizar os meus sonhos, bastando que
os registre em minha mente, transcreva-os num papel e
diariamente os visualize como se já fossem realidade.
Essa atitude cria uma poderosa atração para que
o universo lhe dê as coordenadas e providencie as
oportunidades necessárias para a realização daquilo
que deseja.
Aprendi também o poder da gratidão, compreendi que
por mais que a vida não esteja como gostaria que estivesse,
ela poderia estar ainda pior, portanto, é importante ser
grato, sempre grato com aquilo que já se tem, saber olhar
o que possui de bom em sua vida, perceber que sempre
tem algo bom. Ficou claro que a gratidão era o caminho
mais curto para novas realizações futuras e, sendo assim,
descobri a importância de se ter esperança no futuro,
mas sem esquecer de viver intensamente o agora! Viver
o momento presente.
Eu ouvia a preleção de meu mestre, absorto.
— Um futuro maravilhoso pertence àqueles que acreditam
na beleza de seus sonhos e estão permanentemente em

52
Faça diferente, faça a diferença!

busca deles, contemplando com atenção e intensa presença


o caminho para realizá-los.
Sabe, Pedro, a diferença entre o possível e o impossível
está na sua vontade. É importante você respeitar os seus
semelhantes, tratá-los com dignidade e nunca, em tempo
algum, desrespeitar os mais fracos ou os mais velhos e
experientes, bem como aqueles que lhe deram a vida,
seus progenitores. Muitas pessoas fortes acreditam ser
fracas e, consequentemente, não obtêm os resultados
que desejam. E estas pessoas só acreditam nisso devido
a padrões limitadores impostos no decorrer de suas
vidas. A propósito, você já foi ao circo alguma vez?
Sem esperar pela minha resposta, ele disse:
— Lembro-me de como o circo me encantava quando
eu era criança. O que eu mais gostava era dos animais.
O elefante me chamava muito a atenção. Durante o
espetáculo, aquele animal enorme fazia exibições de força
descomunal. Contudo, logo depois da atuação, assim
como até um segundo antes de entrar em cena, o elefante
permanecia atado a uma corrente que aprisionava uma
de suas patas a uma pequena estaca cravada no chão. A
estaca era apenas um pedaço de madeira enterrado alguns
centímetros na terra. E mesmo que a corrente fosse grossa
e pesada, me parecia óbvio que aquele animal, capaz
de derrubar uma árvore com a própria força, poderia
arrancar a estaca e fugir facilmente. Que mistério! O que
o mantinha preso? Por que não fugia? Quando eu era
pequeno ainda confiava na sabedoria dos adultos.
Pedi então a algum professor, ou a algum parente,
não me recordo agora, que me esclarecesse o mistério

53
Rodrigo Cardoso

do elefante. A explicação que me deram foi a de que


o elefante não fugia porque era amestrado. Fiz então a
pergunta óbvia: “Se é amestrado, por que o prendem?”.
Não me recordo de ter recebido resposta coerente.
Meu amigo e mestre sorriu e disse, a seguir:
— Com o tempo esqueci-me do elefante e da estaca.
E não foi senão anos depois que descobri que o elefante
do circo não escapava porque fora atado à estaca desde
muito, muito pequeno. Nesta fase de sua existência, a
estaca ainda era muito forte para ele e, não importando
o quanto forçasse, não conseguia livrar-se dela.
Finalmente, o animal aceitou a sua impotência e se
resignou ao seu destino. O elefante enorme e poderoso
que vemos no circo não escapa porque realmente
acredita que não pode se livrar. Ele tem o registro e a
recordação de sua impotência, daquela impotência que
sentiu quando era pequeno e com a qual se habituou
pelo resto da vida. O pior de tudo é que ele jamais voltou
a questionar seriamente esse registro. Jamais voltou a
testar a sua força.
Meu amigo fez uma pausa e concluiu a seguir:
— Muitas vezes, somos como os elefantes. Vivemos
cercados de limitações simplesmente porque, alguma vez,
quando éramos crianças, tentamos e não conseguimos.
Assim como o elefante, gravamos em nossa mente:
“Não posso. Não posso e nunca poderei!” Crescemos
carregando essas limitações que impomos a nós mesmos
e nunca mais voltamos a tentar. Quando muito, de vez
em quando testamos as correntes, as fazemos ranger,

54
Faça diferente, faça a diferença!

ou olhamos com o canto dos olhos para a estaca,


confirmando o estigma do “não posso e nunca poderei”.
A única maneira de romper esta limitação é tentar de
novo, com muita coragem no coração. Contei esta
história para você, Pedro, para que se lembre sempre de
que é muito mais capaz do que imagina ser.
Ouvindo aquela história, imaginei como o elefante
ficaria feliz se continuasse tentando, se não desistisse
da ideia de escapar. Também percebi que a nova lição
combinava com a outra que eu recebera de meu amigo
na primeira vez em que nos encontramos. Primeiro,
eu deveria escrever os meus objetivos e entrar em
ação. Depois, deveria continuar traçando novas metas,
pois a felicidade estava mais na construção do que na
realização. Viver o caminho é o que importa. Sendo
assim, eu poderia até mesmo alterar as minhas metas,
caso estas não fizessem mais sentido, pois ao longo da
vida mudamos nossos valores. E, finalmente, eu deveria
ter sempre a consciência de que somos muito mais fortes
e que podemos realizar muito mais do que imaginamos.
Enquanto eu pensava, ele me interrompeu dizendo:
— Meu rapaz, já é tarde. Amanhã é sábado e, se você
quiser, pode ficar por aqui.
— Obrigado, meu senhor. Mas e sua família, sua
esposa, seus filhos? O senhor mora sozinho nesta casa
enorme?
— Não, Pedro. Eles estão em viagem. Fiquei para
resolver alguns negócios e também porque queria falar
com você.

55
Rodrigo Cardoso

— Comigo?
— Sim, você terá uma missão muito importante na
vida. Deverá receber os mesmos ensinamentos que
recebi através dos grandes mestres, autores destes livros.
— Eu? Mas como?
— Lembre-se da terceira lição — disse ele. — Você é
muito mais forte do que imagina ser.
Naquele momento, decidi traçar novas e grandiosas
metas e automaticamente peguei a caneta preta que
trazia comigo desde nosso último encontro, aquela que
tinha gravada a palavra “Amigo”, em dourado brilhante.
Em seguida, peguei o velho caderno. Foi quando ele me
interrompeu, dizendo:
— Para novas metas novas, novos cadernos.
Meu amigo virou a chave do gavetão de sua escrivaninha
e tirou de lá de dentro um caderno de capa dura, marrom,
onde se lia: “Livro dos Sonhos”.
— Este é o seu presente de aniversário — disse ele. —
Recorte figuras de tudo o que quer ser, fazer e ter e cole
neste Livro dos Sonhos. Escreva as datas como já ensinei
e leia-o diariamente.

56
Faça diferente, faça a diferença!

A felicidade voltou

A
cordei com a luz do sol que atravessava a janela
do escritório e batia em meu rosto, e logo
percebi que adormecera ali mesmo, escrevendo
meus novos objetivos. A grande cadeira de
couro estava vazia. Em cima da escrivaninha, encontrei um
bilhete que dizia:
“Pedro, meu rapaz, precisei sair cedo. No momento certo, nos
encontraremos novamente. Se precisar, já sabe onde me encontrar.
Um grande abraço.
Seu amigo”.
Antes de sair, olhei para a escrivaninha e senti vontade de
abrir o gavetão misterioso. Mas logo me envergonhei daquele
pensamento, atravessei a sala e saí da mansão. Era um sábado
de muito sol, dia 6 de junho de 1914, meu primeiro dia com a
idade de dezoito anos. Meu cavalo me esperava lá fora, mas a
carruagem já havia partido.
Chegando à cidade, ao passar por uma rua de paralelepípedos
que contornava a praça, vi um homem aparentemente bêbado
jogar um punhado de moedas no rosto de um garoto com
cerca de doze anos de idade e que, aparentemente, havia

57
Rodrigo Cardoso

acabado de engraxar os sapatos de seu agressor. Comovido,


parei ao lado do menino e perguntei:
— Qual é o seu nome?
— Meu nome é José, senhor.
Era a primeira vez que alguém me chamava de senhor.
— O que aconteceu, José?
A tristeza em seus olhos era evidente.
— Aquele bêbado disse que não engraxei os sapatos dele
direito e que só iria me pagar a metade do combinado. Então,
jogou essas moedas na minha cara.
Ao saber um pouco mais sobre a vida daquele garoto, constatei
que tínhamos muita coisa em comum. Ele era órfão de pai e
mãe, lutava para ter o que comer e não tinha onde morar.
— O senhor por acaso se chama Pedro? — perguntou o
menino subitamente.
— Sim, esse é meu nome, mas como você sabe?
— Todos os engraxates da cidade conhecem o senhor como
aquele que, em apenas um ano, comprou um cavalo novo e
aprendeu a fabricar sapatos!
Não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu, ídolo dos
engraxates da cidade! Como pode? Quem diria?
— José, meu rapaz — prossegui — temos muita coisa
em comum.
A diferença é que, um dia, recebi ajuda de um amigo. Deixe-
me fazer uma pergunta: você tem metas e objetivos?

58
Faça diferente, faça a diferença!

Sentia um enorme prazer em poder, pela primeira vez,


passar a alguém os ensinamentos valiosos que recebera de
meu mestre.
— Eu? Como assim?
Percebi que ele ainda estava um pouco atordoado. Deixei
de lado aquela conversa e convidei-o para comer alguma
coisa. Logo depois, estávamos de volta à praça e sem me
importar com a roupa que estava vestindo, sentei-me no
chão, ao lado do garoto, e ensinei-lhe a primeira lição:
escrever as próprias metas e agir.
Na segunda-feira, dia 8 de junho de 1914, voltamos a
trabalhar na loja, ainda oferecendo a promoção de engraxar
sapato de graça. Só que, desta vez, o engraxate era José.
Consegui convencer o senhor Jacó a deixá-lo trabalhar
conosco na loja. Meu foco era a fábrica. Queria aprender
tudo o que pudesse sobre a fabricação de sapatos. De vez em
quando, eu observava o garoto José. Ele tinha um brilho nos
olhos e uma vontade de vencer que me faziam lembrar de
minha recente infância.
No fim da tarde, senti uma vontade imensa de voltar à casa
de meu amigo. Como não era mais eu quem fechava a loja e
sim José, que passaria a dormir lá por uns tempos, e agora
muito bem avisado a respeito do risco do portão cair sobre
seu corpo, pedi permissão ao senhor Jacó para sair alguns
minutos mais cedo naquele dia. Mesmo sem gostar muito da
ideia, ele consentiu. Imagino que tinha alguns pontos com ele.
Subi em meu cavalo, passei pelo riacho, peguei a estrada
margeada de árvores e novamente divisei a bela entrada
da fazenda.

59
Rodrigo Cardoso

Entristeci-me quando não avistei a carruagem preta com


seus cavalos e imaginei que meu amigo não estivesse em casa.
No entanto, algo me chamou a atenção. A porta da entrada
principal estava aberta. Entrei na sala e vi que a porta do
escritório também estava entreaberta.
Quando me aproximei ouvi a voz:
— Entre, Pedro, seja bem-vindo, eu estava à sua espera.
Lá estava ele, sentado em sua vistosa cadeira de couro, atrás
da escrivaninha de madeira nobre, como sempre trajando um
elegante chapéu preto.
— Olá, meu senhor, achei que não estivesse em casa. Não vi
a sua carruagem nem os seus cavalos.
— Somente os uso quando necessário.
— Como sabia que eu voltaria hoje?
— Você é um rapaz com sede de conhecimento, sabia que
voltaria.
Ele fez uma pausa e disse a seguir:
— Pedro, meu rapaz, hoje será uma noite importante. Farei
uma longa viagem e não sei quando estarei de volta. Você já
aprendeu as três lições, certo? Quais são elas?
Percebi que estava diante de uma chamada oral, uma espécie
de teste de recapitulação, sentindo-me entusiasmado em poder
mostrar que valorizei muito o meu aprendizado, comecei:
— Primeira Lição: devemos traçar as nossas metas no papel,
colocar datas e agir;

60
Faça diferente, faça a diferença!

— Segunda Lição: a felicidade se encontra no caminho e


não no fim;
— Terceira Lição: somos muito mais fortes do que
pensamos.
— Meus parabéns! – exclamou ele - Essas lições, que você
aplicou na prática, o tornaram apto para conhecer os dez
princípios e então alcançar o objetivo máximo que é poder
ter acesso às três mensagens finais. Hoje lhe darei tudo o que
precisa para começar esta nova etapa de sua vida. Com apenas
dezoito anos de idade, você tem um belo futuro pela frente.
Não sei se nos encontraremos novamente, mas o importante
é que você consiga conhecer as três mensagens finais.
— Três mensagens? — perguntei.
— Sim. Mas só terá o direito de conhecê-las se fizer de sua
vida um exemplo. Se seguir os dez princípios que transmitirei
para você esta noite.
— O senhor quer dizer que após ter aprendido as três lições
deverei seguir os dez princípios?
— Sim.
— E que o objetivo principal é conhecer as três mensagens
finais? — perguntei.
— Exatamente, para poder passar o conhecimento para
toda a humanidade — foi a resposta.
— Mas só irei conhecer as três mensagens se eu seguir os
dez princípios, certo? – verifiquei.
— Exatamente. Você é muito inteligente, meu rapaz! —

61
Rodrigo Cardoso

elogiou, fazendo-me sentir orgulhoso por certificar-me de


estar realmente entendendo a explanação.
— Senhor, quando irei conhecer as três mensagens?
— Tudo ao seu tempo. O importante, agora, é se concentrar
nos dez princípios.
Antes que ele começasse a falar, perguntei:
— Para onde o senhor vai?
— Vou me encontrar com minha esposa. E isso tem a ver
com o primeiro princípio.
Ajeitei-me na cadeira, apoiei o meu caderno marrom na
escrivaninha, meu novo livro dos sonhos, e empunhei a minha
caneta preta. Olhei para ele com aquela expressão de quem
estava pronto para aprender e lembro-me de ter visto uma luz
a sua volta, como a aura que entrevi na primeira vez em que
nos encontramos.

62
Faça diferente, faça a diferença!

Os dez princípios
Meu amigo começou a falar e imediatamente passei
a registrar, tanto no papel quanto na memória, os
princípios que me eram transmitidos:

Primeiro princípio: constitua


uma família.
— Todos nós devemos ter uma família, buscando um
parceiro com o qual compartilhar anseios e objetivos
semelhantes. Você ainda é jovem, Pedro, logo encontrará
a sua alma gêmea. Um homem sem uma companheira
é um homem incompleto. As mulheres têm o poder de
construir e destruir os sonhos de um homem. Sua alma
gêmea o apoiará na realização de seus sonhos, que serão
os sonhos dela também. E este processo não para, é a lei
da própria vida. A mulher tem um papel importantíssimo
na vida do homem. Quando ela dá à luz um filho, inicia-
se o ciclo da vida. Neste momento, nasce a verdadeira
família e a mulher experimenta o maior e mais poderoso
amor que existe: o amor incondicional de mãe. Já o
homem passa a ter um motivo muito forte para continuar
a lutar pela vida.
Meu mestre olhou-me com ternura e disse:
— Não se apresse Pedro, faça a escolha certa, encontre
a sua parceira e entenderá um pouco mais sobre esse
princípio do qual lhe falo agora. O dia em que você for

63
Rodrigo Cardoso

pai, saberá quão especial e importante é a mulher. E quão


magnífica é a dádiva divina de poder gerar um filho.
E então ele me contou a seguinte história:
Uma criança prestes a nascer perguntou a Deus:
— Senhor, disseram-me que estarei sendo enviado à
Terra amanhã. Como vou viver por lá, uma vez que sou tão
pequeno e indefeso?
E Deus disse:
— Escolhi um anjo especial para tomar conta de você.
— Aqui no céu sou muito feliz. Serei feliz lá? —
perguntou a criança.
— Seu anjo cantará e sorrirá para você — disse Deus.
— A cada dia, a cada instante, você sentirá o amor de seu
anjo e será feliz.
— Como poderei entender o que dizem se não conheço
a língua que falam as pessoas da Terra? — perguntou a
criança.
— Com muita paciência e carinho, seu anjo o ensinará
a falar.
— E o que farei quando sentir saudade e quiser
Lhe falar?
— Seu anjo juntará as mãos e o ensinará a orar.
— Ouvi dizer que há homens maus na Terra. Quem me
protegerá?

64
Faça diferente, faça a diferença!

— Seu anjo o defenderá mesmo que isso signifique arriscar


a própria vida.
— Mas ficarei triste, pois não mais poderei vê-Lo!
— Seu anjo sempre lhe falará a meu respeito e lhe ensinará
a maneira de vir a mim, e estarei sempre dentro de você.
— Ó Senhor! Antes que eu parta, diga-me ao menos o
nome de meu anjo!
E Deus respondeu:
— Você chamará o seu anjo de... mãe.
Neste momento de nossa conversa meus olhos
encheram-se de lágrimas, pois lembrei de minha mãe e
senti muitas saudades dela.
— A família é a força do homem, meu garoto!
— prosseguiu. — Lembre-se deste importante
princípio. Se o seu desejo é ter sucesso, é ser um
vencedor, saiba que a única forma de conseguir
isso é ajudando as pessoas a também conseguirem
o que querem! — prosseguiu meu sábio amigo,
introduzindo o segundo princípio.

Segundo princípio: ajude seu


semelhante.
— Não seja prepotente. Saiba ser humilde e reconheça
os méritos dos que estão ao seu lado.
Então eu falei:
— Tenho um amigo, seu nome é José. Ele me chama

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Rodrigo Cardoso

de senhor. Conheci-o na praça e levei-o para trabalhar


comigo na sapataria. Hoje foi seu primeiro dia de trabalho.
— Parabéns, é exatamente isso o que deve fazer. Ajude
as pessoas transmitindo-lhes o que você sabe. Não
deve fazer nada por elas e sim ensiná-las a fazer o que
precisam. Dê tudo o que tem para os outros, mesmo que
tenha pouco a oferecer. Há uma tremenda alegria em
fazer outras pessoas felizes. Dividir problemas e pesares
é ter metade de uma aflição. Mas a felicidade, quando
compartilhada, representa o dobro de felicidade.
Eu anotava tudo o que ele me ensinava. Aquele senhor
realmente era um sábio que, através de exemplos e
metáforas, me transmitia os seus ensinamentos.
— Jesus ensinava através de parábolas e metáforas
— prosseguiu ele. — Isso facilitava a compreensão da
Palavra pelos seus discípulos.
Fiquei pasmo. Tinha a impressão de que ele lia os meus
pensamentos. Mas certamente tudo não passava de uma
grande coincidência, ou talvez eu tivesse deixado transparecer
os meus pensamentos pela minha expressão facial.

Terceiro princípio: trabalhe


em equipe.
— Contam que, certa vez, houve uma estranha
assembleia em uma carpintaria — disse meu mestre,
recostando-se em sua esplêndida cadeira. — As
ferramentas decidiram se reunir para acertar as suas
diferenças. Até então, o martelo exercia a presidência,
mas os participantes queriam que este renunciasse.

66
Faça diferente, faça a diferença!

Fiquei imaginando um martelo “animado” sentado


atrás de uma mesa com uma faixa presidencial ao redor
do “peito”.
— Mas por que queriam que o martelo renunciasse?
— perguntei.
— Porque fazia muito barulho — respondeu meu amigo.
— Além do que, passava o tempo todo batendo nos outros.
O martelo aceitou a renúncia, mas exigiu que o parafuso
também fosse exilado, dizendo que era um tipo que
dava muitas voltas para conseguir as coisas. Diante do
ataque, o parafuso concordou, mas, por sua vez, exigiu
a expulsão da lixa, alegando que ela era muito áspera e
sempre entrava em atrito com as demais ferramentas.
A lixa contra-atacou, exigindo a expulsão do metro, que
vivia medindo os outros segundo a sua medida, como se
fosse perfeito.
Nesse momento, porém, o carpinteiro entrou na oficina,
juntou todo o material e iniciou o seu trabalho. Utilizou
o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente, a
rústica madeira se converteu num fino móvel.
Quando ele se foi, reiniciou-se a sessão da estranha
assembleia. Foi então que o serrote tomou a palavra.
“Senhores”, disse ele. “Ficou demonstrado que temos
defeitos, mas que, se nos concentrarmos em nossas
qualidades, em nossos pontos fortes, e trabalharmos
em equipe, poderemos realizar grandes coisas”.
Foi quando a assembleia entendeu que o martelo era
barulhento, sim, mas que também era extremamente

67
Rodrigo Cardoso

forte. Já o parafuso de fato dava voltas, mas apenas para


unir as coisas fortemente. A lixa era especialista em polir
e remover asperezas da madeira. Já o metro, inflexível
que fosse, era preciso e exato. Sentiram-se então como
uma equipe, perfeitamente capaz de produzir móveis de
qualidade.
E alegraram-se com a oportunidade de trabalhar juntos.
— Ocorre o mesmo com os seres humanos —
concluiu meu amigo. — Basta observar e comprovar.
Quando se busca com sinceridade o ponto forte dos
outros, florescem as melhores conquistas humanas. É
fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas
encontrar qualidades para obter os melhores resultados
de um trabalho em equipe... isso é apenas para os sábios!
Eu estava adorando aqueles ensinamentos e conseguia
imaginar perfeitamente as histórias contadas por meu
mestre. Através delas, via que seria possível me lembrar
de cada detalhe daquele momento.

Quarto princípio: aprenda a ser forte na


adversidade.
— Filho, não reclame das dificuldades, agradeça-as.
Lembre-se de que elas existem para torná-lo mais forte.
E acredite: Deus nunca permitirá que você enfrente uma
luta que não seja capaz de vencer.
Ao terminar de dizer isso, meu mestre me contou a
seguinte história:
“Certo dia, um homem passou horas observando
uma borboleta que tentava passar através de uma

68
Faça diferente, faça a diferença!

abertura em seu casulo. Durante horas observou como


a borboleta se esforçava para fazer o corpo passar
através daquela estreita abertura. Em dado momento,
pareceu que o bicho parara de fazer qualquer
progresso. Parecia que não conseguiria prosseguir.
Então o homem decidiu ajudar a borboleta.
Pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo,
ajudando a borboleta a sair com facilidade. Mas logo
viu que o corpo da recém-nascida estava murcho,
atrofiado, e que tinha asas amarrotadas.
O homem continuou a observar a borboleta,
pois esperava que, a qualquer momento, as asas da
borboleta se abrissem e esticassem, tornando-a capaz
de suportar o próprio corpo, que deveria se afirmar
com o tempo. Mas nada disso aconteceu. Em verdade,
aquela borboleta passou o resto da vida rastejando,
com um corpo murcho e as asas atrofiadas. E nunca
foi capaz de voar. O que o homem não compreendeu
foi que o casulo apertado e o esforço necessário à
borboleta para passar através da pequena abertura
era o modo de que Deus dispunha para que o fluido
do corpo da borboleta fosse para as asas, fazendo
com que estivesse pronta para voar uma vez livre do
casulo”.
E ele continuou:
— Algumas vezes, um pequeno esforço é tudo
do que precisamos. Se atravessássemos a vida sem
quaisquer obstáculos, seríamos “rastejantes”. Não
seríamos tão fortes quanto poderíamos ter sido.
Nunca poderíamos voar!

69
Rodrigo Cardoso

— Lembre-se sempre — concluiu meu mestre: —


quando pedir força, Deus lhe dará dificuldades para
torná-lo mais forte. Quando pedir sabedoria, Deus
lhe dará problemas para resolver. Quando pedir
coragem, Deus lhe dará perigos a superar. Quando
pedir amor,
Deus lhe dará pessoas com problemas a quem ajudar.
Quando pedir favores, Deus lhe dará oportunidades.
Quando pedir prosperidade, Deus lhe dará trabalho.
Talvez não receba nada do que pedir. Mas receberá
tudo do que precisar.

Quinto princípio: dê o melhor de si em


tudo o que faz.
Meu mestre recostou-se em sua poltrona de couro e
contou-me então a seguinte história:
“Vou viajar durante um ano — disse um construtor ao
mestre de obras com quem trabalhava havia anos. — Quero
que construa naquele belo terreno uma grande casa para
que, ao voltar, eu possa morar nela. Para obter o dinheiro
necessário à obra basta pedi-lo ao departamento financeiro da
minha empresa. O mestre de obras, que estava a apenas alguns
dias do início de sua aposentadoria, viu-se numa enrascada:
teria de trabalhar mais um ano inteiro. Aborrecido com isso,
na hora de escolher o cimento, a areia e as pedras, escolheu
material de segunda categoria. Da mesma forma, não se
preocupou com a qualidade e sim com a velocidade com que
terminaria aquela obra. Apesar de todo o dinheiro liberado
pelo patrão, comprou material barato, mais fácil de instalar.

70
Faça diferente, faça a diferença!

Poderia ter escolhido piso de granito ou mármore, mas


preferiu fazer o chão de cimento liso, pois o terminaria
mais rápido.
Considerava um desaforo ser solicitado para trabalhar
tão próximo de sua aposentadoria e, portanto, fez a casa de
qualquer jeito, terminando-a três meses antes do previsto. Ao
fim de tudo, o mestre de obras foi para casa desfrutar de sua
tão sonhada aposentadoria.
Completado um ano desde a sua partida, o chefe voltou e
mandou chamar o mestre de obras. Ao vê-lo perguntou:
— A casa ficou pronta?
— Sim, senhor — respondeu o mestre. — Aqui estão
as chaves.
O construtor abriu um largo sorriso e disse:
— Pois bem, meu velho amigo. Após tantos anos
trabalhando para mim, não saberia como agradecê-lo a não
ser dando-lhe esta casa de presente!
E devolveu a chave para o mestre, que a essa altura já
estava extremamente arrependido por não ter dado o melhor
de si naquela obra.

Sexto princípio: não seja preguiçoso.


Meu amigo olhou-me com olhos repletos de sabedoria,
sorriu, e contou-me então a seguinte história:
“Há muitos e muitos anos, num país muito distante,
vivia um rei muito sábio que não poupava esforços para
educar o seu povo. Frequentemente, fazia coisas que

71
Rodrigo Cardoso

pareciam estranhas e inúteis, mas tudo isso para ensinar


o povo a ser mais trabalhador e cauteloso. ‘Nada de bom
pode vir a uma nação cujo povo só reclama e espera que os outros
resolvam seus problemas’ — dizia ele. — O universo só dá
as coisas boas da vida para aqueles que sabem lidar com seus
próprios problemas.
Certa noite, quando todos dormiam, o rei pôs uma enorme
pedra bem no meio da estrada que passava pelo palácio. Depois
foi esconder-se atrás de uma cerca e esperou para ver o que
acontecia.
Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada
de grãos que levava para a moagem na usina. ‘Quem já
viu tamanho descuido? — disse o fazendeiro, contrariado,
enquanto desviava a parelha e contornava a pedra. ‘Por que
esses preguiçosos não mandam retirar essa pedra da estrada?’.
E continuou reclamando da inutilidade dos outros, sem nem
ao menos tocar na pedra.
Logo depois, um jovem soldado veio cantarolando pela estrada.
A longa pluma do seu chapéu ondulava na brisa noturna, e uma
espada reluzente pendia de sua cintura. O soldado não viu a
pedra, tropeçou nela e se estatelou no chão empoeirado. Ergueu-
se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada e enfureceu-se com
os preguiçosos que haviam deixado uma pedra daquele tamanho
no meio da estrada. Então, ele também se afastou, sem sequer
pensar que ele próprio poderia ter retirado a pedra.
Assim foi durante todo o dia. Todos que por ali passavam
reclamavam e resmungavam por causa da pedra no meio da
estrada, mas ninguém a tocava. Finalmente, ao cair da noite, a
filha do moleiro por lá passou. Era uma menina muito dedicada
e estava muito cansada, pois trabalhara no moinho desde cedo.

72
Faça diferente, faça a diferença!

Mesmo assim, a menina disse para si mesma: ‘Já está quase


escurecendo, alguém pode tropeçar nesta pedra à noite e se ferir
gravemente. Vou tirá-la do caminho’.
E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas a
moça empurrou, empurrou e empurrou até que finalmente
conseguiu o que queria. Para sua surpresa, encontrou uma caixa
debaixo da pedra. Era uma caixa muito pesada. Na tampa,
estavam gravados os seguintes dizeres: “Esta caixa pertence a
quem retirar a pedra”.
Então, a filha do moleiro abriu a caixa e descobriu que estava
cheia de ouro. Quando o fazendeiro, o soldado e todos os outros
souberam do que tinha ocorrido, juntaram-se no local da estrada
onde estava a pedra, na esperança de encontrar mais ouro, porém
foi em vão.
— Meus amigos — disse o rei, surgindo subitamente em
meio aos arbustos. — Com frequência encontramos obstáculos
em nosso caminho. Podemos reclamar enquanto nos desviamos
deles ou podemos movê-los e descobrir o que realmente significam.
Geralmente, a decepção é o preço da preguiça.
Então, o sábio rei montou em seu cavalo, desejou boa noite a
todos e retirou-se.

Sétimo princípio: tenha coragem e


arrisque-se.
— Pedro — disse meu mestre — haverá momentos
na vida em que você deverá se arriscar. Faça isso, tenha
coragem e vá em frente. Veja: certa vez fizeram uma
pesquisa com doentes terminais, já no leito de morte, aos
quais foi perguntado de que mais se arrependiam na vida.
A resposta foi unânime: “De não ter arriscado mais”.

73
Rodrigo Cardoso

E contou-me outra história:


“Duas jovens sementes estavam lado a lado em
solo fértil de primavera. A primeira semente, cheia
de sonhos e objetivos, disse: ‘Eu quero crescer! Quero
que minhas raízes avancem pelo solo e meu caule atravesse
a terra acima de mim! Desejo que minhas primeiras folhas
anunciem a chegada da primavera! Desejo sentir o calor do
sol e a bênção da manhã em minhas pétalas’!
A semente cresceu e realizou os seus desejos. A segunda
semente, negativa e descrente, disse: ‘Tenho medo de
aprofundar as minhas raízes no solo, não sei o que
encontrarei naquela escuridão. Se tentar empurrar meu
caule através do solo, vou quebrar meus delicados ramos. E
mesmo que consiga me tornar uma árvore e os meus frutos
desabrocharem, não haverá sempre outros que tentarão
comê-los? E, se eu abrir as minhas flores, até mesmo uma
criança poderá arrancar suas pétalas. Não, prefiro esperar
até ter alguma segurança.
E então ela esperou. Enquanto esperava, uma galinha do
mato que ciscava o chão em busca de comida encontrou a
semente cuidadosa e, sem a menor cerimônia, prontamente a
bicou e a enviou para o papo”
— Portanto, filho — concluiu meu mestre — aqueles
que não arriscam e se recusam a crescer, perderão a
oportunidade de viver.
— Meu senhor! — disse eu, maravilhado. — As pessoas
precisam saber de tudo isso! Por que não recebi esses
ensinamentos antes? Posso ver claramente em minha
mente as imagens do rei, da semente, de Deus falando

74
Faça diferente, faça a diferença!

com a criança, das ferramentas discutindo na carpintaria,


da fraca borboleta e até mesmo da casa malfeita pelo
empregado preguiçoso.
— Que bom que está aprendendo, Pedro. Fico feliz e
orgulhoso por ser tão inteligente e dedicado.
— Meu senhor, e as três mensagens finais?
— Rapaz, você deve primeiro viver de acordo com os
princípios que está aprendendo e, talvez, daqui a alguns
anos, mereça receber as três mensagens.
Embora estivesse muito curioso, percebi que deveria
ouvir mais e falar menos caso quisesse aprender e
aproveitar o máximo daquele precioso encontro. Então
me dei conta de que estávamos conversando havia horas
e que eu estava com sede.
Lembro-me de que, neste exato momento, ele
se levantou sem dizer palavra, saiu pela porta do
escritório em direção à sala e logo depois voltou com
uma jarra de água e dois copos. Realmente, eu não
conseguia acreditar. Seria coincidência? Será possível
que ele também estivesse com sede e pensara em
beber água no mesmo momento que eu?
— Vamos ao próximo princípio — disse meu
nobre amigo, enquanto gentilmente nos servia água.

Oitavo princípio: tenha fé.


Após completar o meu copo, ele puxou um belo
cachimbo do bolso e, enquanto o preparava, disse:
— Certo dia um grupo de pessoas se reuniu para

75
Rodrigo Cardoso

escalar o topo de uma montanha. Como estas pessoas


nunca tinham estado naquele lugar antes, resolveram
cada qual se preparar: colocaram mantimentos e mudas
de roupa em suas mochilas e começaram a jornada. No
meio do caminho, ouviram uma voz de trovão, que lhes
disse: “Parem onde estão. Olhem ao redor. Vocês irão
se dar conta de que existem muitas pedras. Apanhem
tantas pedras quantas puderem ou quiserem. Ponham-
nas em suas mochilas. Ao atingirem o seu objetivo,
olhem novamente para estas pedras. Neste instante,
cada um de vocês sentirá muita alegria, mas, ao mesmo
tempo, muita tristeza”.
Sorvi mais um gole de água e me acomodei melhor
para ouvir a história.
— Depois que a voz se calou, alguns pegaram dez
pedras, outros pegaram vinte e aqueles que sempre
questionam a voz do universo pegaram uma ou outra
pedra, só para não dizerem que não haviam pego pedra
alguma. Ao fim da escalada, ao chegarem no topo, todos
deitaram as mochilas no chão e, ansiosos, abriram-
nas. De fato, como lhes dissera a voz, sentiram muita
alegria: as pedras que haviam trazido até ali tinham se
transformado em maravilhosos diamantes. Em seguida,
cada um deles sentiu muita tristeza: por que não haviam
pegado mais pedras? Afinal estavam lá, à disposição.
Meu amigo deu uma baforada em seu cachimbo, voltou
os olhos para mim e prosseguiu:
— Assim é a nossa vida. Muitas vezes não nos damos
conta das pedras que estão ao nosso redor, ao alcance
de nossas mãos. Basta-nos apanhar estas pedras e,

76
Faça diferente, faça a diferença!

através de uma vida que valha a pena, transformá-las em


diamantes. Que a partir deste nosso encontro, Pedro,
você possa se dar conta desta maravilhosa realidade e
possa transformar em diamantes de sucesso e felicidade
não somente as pedras, mas a sua própria vida. Muitas
vezes você escutará a voz do universo, que muitos
chamam de intuição. Tenha fé, acredite nela.

Nono princípio: não se preocupe tanto.


— Com fé, você não se preocupa tanto com os problemas
da vida — prosseguiu meu amigo. Preocupação, o próprio
nome já diz, é uma “pré-ocupação”. É o mesmo que se
ocupar antes da hora. Existem coisas na vida das quais
não se tem o controle. Devemos aceitá-las e pronto! Se
não o fizermos, prejudicaremos a nossa felicidade.
Problemas existem, e quando você for capaz de controlá-
los deve entrar em ação para resolvê-los, mas quando não
for assim, deve aceitá-los e, muitas vezes, esquecê-los.
E contou-me outra história:
Certa vez, um monge tibetano convocou todos os discípulos de
um mestre recém-falecido para resolver um grande problema.
Quando todos estavam reunidos, sentados, formando um
círculo, o monge apontou para um vaso com motivos em azul e
dourado pousado em mesinha no centro da roda.
— Nosso mestre deixou-nos este vaso precioso que, em
realidade, é um grande enigma a ser decifrado por algum de
vocês. Quem conseguir resolver este problema será o novo mestre.
Então, todos começaram a meditar e a se concentrar no vaso

77
Rodrigo Cardoso

para encontrar a solução do enigma. Após alguns minutos, porém,


um dos discípulos levantou-se, pegou um cajado de madeira, foi até
onde estava o vaso e, com toda força, destruiu-o. E todos ficaram
estupefatos, alguns até furiosos, quando o monge anunciou que
aquele discípulo seria o novo grande mestre.
— O que temos a aprender com essa história — disse
meu amigo — é que, quando se enfrenta um problema,
não se deve importar com a sua aparente beleza. Se aquilo
é enunciado como um problema, você deve eliminá-lo e
parar de se preocupar com ele.
Eu estava adorando os ensinamentos, e fiquei imaginando
como seria maravilhosa uma vida inteiramente baseada
naqueles princípios. Tomei mais um gole de água, quando
meu amigo me olhou nos olhos e revelou o último
princípio.

Décimo princípio: aprenda a perdoar.


— Se algum dia soubesse que nunca mais veria um
amigo, você lhe daria um abraço mais forte? Se soubesse
que seria a última vez que ouviria a sua voz, você gravaria
cada palavra dita por ele? Se soubesse que seria a última
vez em que poderia dizer “eu gosto de você”, você o
diria ou deixaria o outro sem saber? Se soubesse que
hoje é o último dia para compartilhar da companhia de
alguém, você viveria este dia muito mais intensamente,
ou o deixaria simplesmente passar?
Depois de um tempo em silêncio, ele continuou:
— Pedro, meu rapaz, sempre acreditamos que haverá o
amanhã para corrigirmos um descuido, para termos uma

78
Faça diferente, faça a diferença!

segunda chance. Será que haverá uma segunda chance


para dizer “eu te amo”? O amanhã não é garantido para
ninguém, e hoje pode ser a última chance de abraçarmos
aqueles que amamos.
A voz grave de meu amigo calava profundamente
dentro de mim. E ele não havia terminado:
— Então, por que não agirmos imediatamente? Assim,
se o amanhã nunca chegar, não nos arrependeremos por
não termos dispensado um sorriso, um abraço, um beijo,
por estarmos muito ocupados para darmos a alguém
aquilo que poderia ser o seu último desejo. Abracemos
hoje aqueles que amamos, sussurremos em seus ouvidos
dizendo-lhes o quanto nos são caros. Encontremos
tempo para dizer: desculpe-me, perdoe-me, obrigado, eu
perdoo você. Sempre há tempo para amarmos e, caso
não haja amanhã, também não haverá remorsos para
carregarmos hoje. Pense nisso agora.
As lágrimas escorriam de meus olhos. Não consegui
segurar a emoção. Meu sábio amigo levantou-se de sua
cadeira, contornou a mesa e estendeu-me os braços. Eu
me levantei e abracei-o fortemente. Pareceu-me que ele
também estava emocionado.

79
Faça diferente, faça a diferença!

Uma grande ideia

E
ra véspera de Natal de 1914 e, apesar do início
da Primeira Guerra Mundial, as vendas estavam
aquecidas e as pessoas andavam sorridentes pelas
ruas da cidade, tomadas pelo espírito natalino.
Eu caminhava por uma ladeira de paralelepípedos. Sentia-
me feliz, pois estava procurando viver de acordo com os
dez princípios que havia aprendido. Tinhas novas metas
traçadas em meu Livro dos Sonhos.
Ao me aproximar do porto, pude observar a movimentação
da feira de Natal. Pessoas andavam de um lado a outro,
sorrindo. Havia mães de mãos dadas com seus filhos, casais
abraçados, transeuntes apressados em busca do presente de
última hora. Eu observava tudo aquilo com um sorriso de
satisfação nos lábios, quando o barulho das rodas de uma
carruagem sobre os paralelepípedos me chamou a atenção.
Voltei-me para olhar e, subitamente, senti-me atordoado
pelo olhar profundo e penetrante da mais bela jovem que
já vira em toda a vida. Ficamos a nos olhar por alguns
instantes. Ela sorriu. “Que sorriso lindo!”, pensei. Tinha
o cabelo castanho-claro, levemente ondulado. Trajava
um belo vestido com tons de vermelho. Lembro-me de
ter ficado imóvel durante os segundos em que nossos

81
Rodrigo Cardoso

olhares se cruzaram. Até que ela acenou e, com um belo


sorriso em seus lábios perfeitos, esboçou de longe o que
me pareceu ter sido um suave “Adeus”.
Sem saber por que, como que hipnotizado, comecei a correr
atrás da carruagem que levava a bela jovem. Acelerei os passos,
mas o veículo ia se afastando, se afastando, até que parei. Estava
ofegante. Mantive o olhar fixo no horizonte até a carruagem
sumir por completo. Quando olhei ao redor, percebi que estava
bem longe da feira. Voltei-me, desiludido, imaginando como
faria para ver novamente aquela jovem. Quem era ela? Qual
o seu nome? Que sorriso lindo! Que olhar penetrante! Voltei
à loja, peguei o meu cavalo e segui em direção àquela estrada
onde a avistara pela última vez. Precisava conhecê-la.
Já ouvira falar em amor à primeira vista, mas não tinha
certeza de que aquilo realmente existisse. Seria isso o que
eu estava sentindo agora? Não podia acreditar nisso, eu
nem a conhecia! Mas uma coisa era certa: existia uma
vibração invisível sentida por mim quando nossos olhos
se cruzaram que era quase palpável.
Procurei-a em todas as fazendas daquela estrada até
o fim do dia, porém não mais a encontrei. Procurava-a
diariamente, ao entardecer e aos fins de semana. Busquei-a
durante meses a fio. Mas não consegui qualquer resultado.
Teria sido uma visão? As lembranças de meu mestre e da
bela moça da feira de Natal não saíam de minha mente.
Não sabia se os veria novamente. E essa incerteza era a
fonte de toda a minha inquietação naquela época.
Por outro lado, a vida profissional ia muita bem.
O senhor Jacó já estava ficando velho e passou a
delegar mais responsabilidades administrativas para

82
Faça diferente, faça a diferença!

mim. Gradativamente, fui me envolvendo nos negócios


da empresa até que o senhor Jacó se aposentou, disposto
a viver o resto da vida numa bela fazenda nos arredores
de nossa cidade.
Alguns anos mais tarde, veio a falecer. Fiquei muito triste.
Gostava imensamente de meu bom patrão, com quem
aprendera tudo o que sabia sobre a fabricação de sapatos,
administração de empresas, técnicas de venda e trato com o
público. E qual não foi a minha surpresa ao descobrir que
ele, que não tinha herdeiros e me considerava como a um
filho, havia deixado todos os seus bens para mim! Foi deste
modo que, com pouco mais de vinte anos de idade, me
tornei um bem-sucedido empresário do ramo de calçados.
Em pouco tempo, a empresa cresceu mais do que o
esperado, obrigando-me a me dedicar cada vez mais
aos negócios. Naquela época, era comum eu dormir
no escritório a maior parte da semana e fazer serões
contábeis madrugadas afora, ao fim de cada mês.
José, que a essa altura passara de engraxate na loja a
empacotador da fábrica, fazia questão de me acompanhar
nesses serões, ansioso para aprender mais sobre nosso
ramo de negócio.
Durante anos, nada fiz além de me dedicar ao trabalho.
Inteiramente voltado para a fábrica e a promoção de
nossos produtos, não tinha tempo para pensar em outra
coisa. Tudo o que me ocorria era descobrir o que fazer
para aumentar nossos ganhos financeiros. Aquela história
sobre linha de montagem de automóveis inventada pelo
senhor Ford não saía de minha cabeça. Como eu poderia
aplicá-la ao meu ramo de negócios?

83
Rodrigo Cardoso

Até então, os sapatos eram feitos de modo artesanal, sob


medida para os clientes. Eu não pretendia acabar com nossa
linha de sapatos sob medida, mas sentia que, caso conseguisse
produzir sapatos em grande escala, conseguiria baixar o
preço final do produto, produzindo mais e, evidentemente,
vendendo muito mais ainda. Foi quando tive a grande ideia
de minha vida. Havia mais de oitenta anos que a fórmula
de preservação da borracha fora descoberta nos EUA. Era
o chamado processo de vulcanização, utilizado por Charles
Goodyear para aumentar a durabilidade dos pneus fabricados
por sua empresa. Ora, pensei cá comigo, os pneus são os
“calçados” dos automóveis, então, por que não?
O novo calçado por mim inventado logo tornou-se um
sucesso de vendas. Mais barato, mais fácil de ser produzido
em linha de montagem, mais leve e confortável, o sapato
com solado de borracha caiu rapidamente no gosto do
público, especialmente entre os praticantes de esportes,
que necessitavam de um calçado que lhes garantisse
conforto e maior aderência ao solo das quadras. Pronto.
Estava inventado o tênis!
Cerca de cinco anos depois de ter criado o sapato com
sola de borracha, após uma hábil estratégia de propaganda
entre comerciantes e fornecedores, tanto no Brasil quanto
no exterior, passei a exportar a minha invenção para diversos
países, especialmente para os EUA, lugar onde foram adotados
pelos jogadores de um esporte de elite chamado críquete e
eram vendidos a peso de ouro para seus abastados praticantes.
Eu era ainda um jovem empresário, mas estava me
tornando muito, muito rico! E tudo isso graças às três
lições e a uma vida baseada nos dez princípios aprendidos
com meu mestre.

84
Faça diferente, faça a diferença!

Reencontro

A
invenção do tênis provocou uma reviravolta em
minha vida. Como criador do novo calçado, era
convidado para todo tipo de feira e exposição
comercial, tanto no Brasil quanto no exterior. E
foi justamente na Feira do Centenário da Independência
do Brasil, em 1922, no Rio de Janeiro, à qual fui convidado
como expositor para demonstrar o novo e revolucionário
produto que eu havia inventado, que tive uma das maiores
e mais agradáveis surpresas de minha vida.
Eu acabara de fazer uma exposição detalhada de
como a borracha poderia ser utilizada com vantagens
na fabricação de solas de sapatos quando, ao descer do
palco, avistei uma moça de cabelos ondulados que saía
pela porta do auditório lotado. Meu coração bateu mais
rápido. Não podia acreditar! Era ela! Sua imagem estivera
guardada em minha memória naqueles últimos oito anos.
Aproximei-me rapidamente. Meu coração palpitava. Eu
estava ofegante. No momento em que ia chamá-la, a
moça virou-se, como se pressentindo a minha presença.
— Olá! — disse ela. E, com a voz trêmula, acrescentou:
— Você?
— Você me conhece?

85
Rodrigo Cardoso

— Sim, acabo de assistir à sua explanação sobre sapatos


com sola de borracha. Você é muito famoso! Não pude
notar o seu olhar quando estava sentada na plateia –
comentou ela. — Engraçado, você me lembra muito...
um rapaz, na feira de Natal do ano de 1914...
E eu me atrevi a continuar a frase dela?
— ...Que usava um terno preto e correu atrás de uma
carruagem que levava a mais bela moça que já vira em
toda a sua vida.
— Era você mesmo?! — exclamou ela, com um tom
de voz misto de alegria e surpresa. — Como é bom
reencontrá-lo! Eu o vi correndo atrás da carruagem, pedi
à minha avó para mandar o cocheiro parar, mas ela não
concordou de jeito nenhum. Fiquei com a imagem de
seu sorriso e de seus olhos guardada em meu coração
durante todos esses anos. Voltei depois àquela feira,
porém nunca mais o vi. O tempo fez com que eu me
esquecesse da sua fisionomia, mas não de seus olhos.
Vejo agora que você era aquele rapaz.
— Qual é o seu nome? Quem é você?
— Sou Isadora. Eu e minha família estamos no Rio de
Janeiro em visita a parentes. Aproveitei para visitar a feira.
Não preciso dizer que começamos a namorar e
alguns dias depois eu realizava mais um grande sonho:
pedi Isadora em casamento ao pai dela. O velho
conhecia a minha história de vida e prontamente
autorizou a união. Foi quando comecei a viver o
primeiro princípio, que pregava que todo homem
deve constituir uma família.

86
Faça diferente, faça a diferença!

Ela era realmente uma mulher muito especial. Tinha


fibra, uma grande personalidade, sabia o que queria da
vida, de uma beleza única, linda de morrer, extremamente
inteligente e era acima de tudo muito amável e carinhosa.
Certo dia, numa noite estrelada, eu e Isadora fomos
passear na praia. Caminhávamos descalços sentindo a
areia fofa sob os nossos pés. Havíamos tomado uma
garrafa de vinho importado do Chile, encorpado, sua
tonalidade era de um tom rubi escuro, de uma uva
chamada Syrah, um Gran Reserva de uma safra bem
antiga, para brindarmos nosso maravilhoso reencontro.
— Que noite mais linda é essa — disse ela subitamente
olhando para o caminho prateado formado pelo reflexo
da lua cheia nas águas calmas e cristalinas do oceano. —
Apenas nós dois aqui, contemplando o mar...
— Degustando esse vinho delicioso! — completei,
sorrindo, ao brindarmos.
Ela também sorriu. Aproveitei para dizer:
— Creio que está quente o bastante para um banho...
Isadora não se fez de rogada.
— Acho que o mar não se zangaria se tomássemos um
banho nele agora, não é mesmo? — disse ela.
— Podemos?
— Claro que sim. Vamos?
De fato, o clima quente daquela noite convidava a um
delicioso banho de mar. Ao sair da água deitei-me numa
toalha que estendi sobre a areia. Isadora também saiu da

87
Rodrigo Cardoso

água e caminhou em minha direção. Prendi a respiração.


Era uma mulher tão linda que se tornava difícil obedecer
ao costume da época, que proibia que os casais fizessem
amor antes do casamento.
Ela caiu em meus braços. Em sua boca provei o gosto
do mar. Senti o corpo dela estremecer ao contato com
o meu. Senti-lhe o coração pulsar desordenadamente.
Que mulher! Contra todos os padrões de moralidade da
época, nos amamos intensamente naquela praia.
Ao fim de tudo, ainda em estado de êxtase, nos sentamos
e ficamos apreciando a lua em toda sua cumplicidade
do momento. Naquela noite, contei-lhe toda a minha
história, sem esconder nenhum detalhe. Contei sobre
aquele dia em que passava frio, falei sobre aquele senhor,
meu amigo e mestre que me aqueceu com o cobertor.
Contei sobre o dia do meu aniversário de dezoito anos.
Falei sobre os dez princípios e o quanto eu estava feliz
por agora poder vivê-los intensamente.
— Quais são exatamente os dez princípios? —
perguntou ela.
Fiquei feliz em poder responder tal pergunta com tanta
facilidade:
— O primeiro é: constitua uma família. Que tal,
Isadora, gostaria de seguir essa missão comigo?
Ela sorriu e me deu um beijo no rosto, que sinto até
hoje, dizendo: - Eu adoraria! Claro que sim!
— Segundo, ajude os outros. Sinto um orgulho
especial por ter mudado a vida de José. Vi esse garoto ser

88
Faça diferente, faça a diferença!

humilhado em uma praça pública e hoje, apesar da pouca


idade, ele já é auxiliar de contabilidade na empresa. E
possui uma criatividade impressionante.
Ela sorriu, pensativa.
— O terceiro princípio é: trabalhe em equipe. Hoje
tenho trezentos empregados, que constituem uma
fabulosa equipe. O senhor Jacó me ensinou muito nessa
área, pois tinha uma grande habilidade com pessoas e
sabia como montar um time vencedor.
E assim continuamos noite afora, falando detalhadamente
sobre cada um dos dez princípios, até que os primeiros
raios de sol no horizonte nos avisaram de que era hora
de voltar para casa.

89
Faça diferente, faça a diferença!

Casamento

Q
uase exatamente um ano após o nosso
encontro, no dia dos namorados, eu e Isadora
nos casamos em minha fazenda. Lembro-
me bem de que, logo após ter erguido o véu
de meu amor e de tê-la beijado publicamente, selando
assim o compromisso de nosso casamento, abri os olhos
e avistei ao longe, em meio à multidão, um homem
sorridente e muito elegante, batendo palmas e meneando
a cabeça em sinal de aprovação. Respirei fundo, apertei a
mão da minha esposa e disse:
— Não acredito! Ele veio, amor! Ele veio! Quero que
você o conheça! Meu amigo está ali! — E apontei na
direção em que ele estava.
Ansioso, puxei Isadora através da multidão, abrindo
caminho entre as pessoas. Quando estávamos a ponto de
nos livrar daquele mar de gente, minha esposa esbarrou
acidentalmente na bandeja de um garçom, derramando
um copo de vinho branco em seu vestido.
— Pedro, vá falar com ele — disse ela. — Vou me limpar
e já volto. Não quero conhecê-lo neste estado.
Em seguida, deu-me um beijo e se foi.

91
Rodrigo Cardoso

Aproximei-me de meu amigo com um largo sorriso


nos lábios e, sem dizer uma palavra, abracei-o. Muito
sorridente e feliz, ele retribuiu o abraço e disse:
— Pedro, meu amigo, estou realmente orgulhoso de
você. Aprendeu a viver de acordo com os dez princípios
e encontrou a mulher de sua vida!
— É verdade! E tudo o que você me ensinou tem sido
de grande valia. Como estou feliz em vê-lo! Eu sabia que
voltaria um dia, eu sabia!
— Sim, meu amigo, voltei. E também estou muito feliz
em vê-lo. Você terá uma grande missão pela frente. O
melhor ainda está por vir, meu rapaz. Com o seu exemplo,
com a sua história de vida, você vai ajudar muita gente.
— Puxa, que bom ouvir isso, imagino que seja uma
missão maravilhosa, sinto que já estou fazendo isso. José é
hoje um funcionário muito competente. Meus empregados
são pessoas muito felizes e adoram trabalhar comigo.
— Sim, eu sei. Mas você irá descobrir um meio de
ajudar muito mais pessoas, de realmente fazer a diferença.
E sua mulher terá um papel fundamental neste seu novo
caminho.
Naquele momento, ele fez uma pausa, olhou-me no
fundo dos olhos e disse:
— Pedro, chegou a hora. Você agora está pronto para
conhecer as três mensagens finais.
Neste momento, senti a mão de minha esposa sobre
a minha mão esquerda e me voltei para vê-la. Contudo,
antes que eu pudesse apresentá-la ao meu amigo, ela disse:

92
Faça diferente, faça a diferença!

— Pedro, me leve até ele, quero conhecê-lo. Onde


ele está?
— Como assim? — disse eu, surpreso, voltando-me
rapidamente.
Não havia mais ninguém ali.
— Não é possível — falei. — Ele estava conversando
comigo quando você chegou! Chegou a vê-lo?
— Não, não vi ninguém.
Ele sempre fazia aquilo. Mas daquela vez fora demais.
— Isadora, preciso fazer uma coisa. E sei que você
vai entender.
Como se pudesse adivinhar os meus pensamentos,
ela disse:
— Vai até a fazenda dele, não é mesmo? Então vá e faça
o que precisa ser feito. Estarei esperando aqui. Nunca se
esqueça de que o amo muito!
Cada vez mais me surpreendia com aquela mulher. Eu
realmente era uma pessoa abençoada por tê-la como
minha esposa. Isadora me abraçou com carinho e me
empurrou, encorajando-me a sair “de fininho”, sem ser
visto pelos convidados. Ansioso para partir, beijei-a,
montei Sol, meu alazão, e galopei até a fazenda onde sabia
que iria encontrar meu amigo.
Havia muito tempo que eu não voltava ali. Não que eu
não tivesse tido vontade de fazê-lo. Entretanto, algo me
dizia que, ao voltar de viagem, ele iria me procurar, como

93
Rodrigo Cardoso

de fato aconteceu. Sentia saudades daquele caminho. O


velho riacho de águas rasas e cristalinas com cascalho ao
fundo ainda estava lá.
Contudo, ao me aproximar da fazenda, percebi algo de
errado. E meu coração bateu mais forte ao ver que o portão
em arco estava completamente destruído. Logo, dei-me
conta de que a fazenda estava abandonada, o mato crescido
nos jardins que a circundavam. A magnífica porta da
entrada principal estava rachada ao meio. Eu simplesmente
não conseguia entender o que estava acontecendo.
Ao entrar, vi que a sala que outrora tivera móveis de
primeira estava repleta de teias de aranha, coberta de pó e
mato. No teto, através do forro rasgado, vi que faltavam
muitas telhas no telhado. Decididamente, aquela casa
estava abandonada havia décadas.
Tomado de emoção, eu disse:
— Meu senhor, onde está?
Não obtive resposta.
— Meu amigo, onde você está?
Foi quando meus olhos toparam com a porta da
biblioteca, que certamente não era aberta havia anos. Ao
abri-la, porém, vi que a linda escrivaninha de madeira nobre
e a imponente cadeira de couro ainda estavam novas em
folha, como se tivessem sido postas ali havia pouco.
Movida por uma brisa vinda do nada, a cadeira voltou-
se lentamente para mim, como se pedindo para que eu me
sentasse nela.

94
Faça diferente, faça a diferença!

Não tinha por que não fazê-lo. Perguntava-me se tudo


aquilo não fora um sonho, buscando em minha memória
provas de que aquele lugar era real, que os momentos
que ali vivera realmente aconteceram.
Abatido, baixei a cabeça e vi o misterioso gavetão
da escrivaninha, onde meu mestre guardava os seus
melhores livros. Nada me impedia de abri-lo, então. No
topo da pilha de livros havia algo que parecia ser um
álbum de casamento, com capa azul-marinho e papel-
de-arroz separando as páginas. Recostei-me na cadeira
e, ao abrir o álbum e deparar-me com as primeiras
fotos, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo.
Não pude acreditar no que meus olhos me diziam:
aquelas eram fotos de minha mãe vestida de noiva! O
que aquele álbum fazia ali?
Foi então que, ao virar a página seguinte, vi a foto da
minha mãe ao lado do noivo: um homem de chapéu preto,
muito elegante, com o cabelo bem cortado e uma pinta
discreta na orelha esquerda. Senti as lágrimas correrem
pelo meu rosto.
Meu amigo, meu mestre e mentor era, em verdade, meu
falecido pai.

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Faça diferente, faça a diferença!

A carta

E
nquanto, emocionado, eu folheava o álbum
de retratos, caiu em meu colo um envelope
dentro do qual encontrei a seguinte carta:

Pedro,
Como posso continuar me comunicando com você, meu filho,
como posso me fazer ouvir se a minha voz é um eco distante para
os seus ouvidos? Choro, meu filho, choro a vida que lhe dei e da
qual não farei parte. Mas embora eu tenha lhe dado a vida, você
me deu muito mais. Nos breves momentos em que estivemos juntos,
aprendi muitas coisas.
Para ser filho se faz necessário ser pai. Aprendi a respeitar
o meu pai, a compreender-lhe os sentimentos, a felicidade,
as insuficiências. Você é a prova de que um dia andei sobre
a terra. Você é o mais precioso legado que eu podia deixar
para o mundo. Todos os valores nada são comparados a você.
Porque você é o milagre de minha carne. Você é o elo que me
liga ao amanhã.
O som da minha voz lhe é estranho aos ouvidos e, contudo,
no fundo do seu ser, você sabe quem eu sou. Você me vê no seu

97
Rodrigo Cardoso

inconsciente! É assim que nos comunicamos. Eu sou você, e você é


parte de mim. E o homem que começou desde o início dos tempos
viverá para sempre na Terra. Como eu vivi um dia. Use tudo o
que lhe ensinei e não sinta vergonha de sentir saudades. Viver nos
corações dos que ficam não é morrer. É realizar!
Percebi, naquele instante, que nunca mais iria ver meu
senhor, meu amigo e meu mestre.
Meu pai.

98
Faça diferente, faça a diferença!

As três mensagens

E
numeradas ao fim da carta, encontrei as três
mensagens das quais ele sempre me falara e
que tanto desejei conhecer.

Primeira mensagem:
Associe-se a pessoas positivas Filho, os amigos são a
família que nos permitimos escolher. Que essa escolha seja
bem-feita. Os amigos com quem temos afinidades são em
geral um espelho de nossas crenças, valores e identidades. O
ser humano que queira se tornar uma pessoa melhor e mais
feliz deve entender essa simples mensagem. Parafraseando o
antigo ditado: “Diga-me com quem andas, que te direi para
onde vais”.

Segunda mensagem:
Aprenda a usar o poder da palavra. A palavra falada tem
poder, tem o poder de curar, de magoar, de ferir, de resgatar
a felicidade de outro ser humano. Seja específico ao enunciar
aquilo que quer da vida. Ensine as pessoas a falarem apenas
o que desejam, pois assim estarão sempre focando o positivo.
Quando dizem: “Não quero ser pobre”, “Não quero perder

99
Rodrigo Cardoso

meus negócios”, “Não quero brigar com meus filhos” etc.,


enviam uma mensagem negativa para o próprio cérebro e,
infelizmente, é isso que acabam atraindo para suas vidas.
Naquele momento, parei de ler e fiquei lembrando de
nosso primeiro encontro. Que momento magnífico! Eu
era apenas um engraxate, estava passando frio e fome
quando esse anjo apareceu em minha vida!

Terceira mensagem:
Seja um eterno aprendiz. Nunca perca a humildade e
saiba que a vida é um eterno aprendizado.
Pedro, meu rapaz, termino aqui as três mensagens. Você tem
uma missão e sabe disso. Já começou a realizá-la. Agora, você deve
ler os livros que estão no gavetão da escrivaninha e enriquecer o
conteúdo de seus ensinamentos. O seu exemplo fará uma grande
diferença na história da humanidade.
Descubra uma forma de ensinar as três lições, os dez princípios e,
por fim, as três mensagens. Estas ajudarão as pessoas a dirigirem
as suas vidas a um futuro melhor. Não credite este conhecimento a
você, tampouco a mim. Uma inteligência universal, acima de nossa
compreensão racional, que chamamos Deus, é o responsável pelas
ideias que brotam no coração dos homens.
Filho, você tem uma vida pela frente. Viva-a da melhor maneira
possível.
Que Deus o abençoe.
Seu eterno amigo.
Bem, eu finalmente tinha uma missão. Recolhi os

100
Faça diferente, faça a diferença!

livros que encontrei no gavetão da escrivaninha e


surpreendi-me ao constatar que estavam novos, que
pareciam vir de outro tempo. Fiquei impressionado
com a quantidade de conhecimento valioso que tinha
comigo naquele momento. Deitei todos os livros sobre
a mesa e, quando ia fechar o gavetão, vi que havia
esquecido um último livro lá no fundo. Era um grosso
volume com capa preta e as inscrições em dourado
características das Sagradas Escrituras.

101
Faça diferente, faça a diferença!

A missão

A
pós voltar da fazenda arruinada, contei tudo
para Isadora e ela, além de acreditar em mim,
apoiou-me em minha missão dali por diante.
Tomamos a decisão de não comentarmos o
que acontecera e, nos catorze anos que se seguiram, nos
dedicamos a transformar a qualidade de vida das pessoas
através dos ensinamentos que meu pai havia me legado.
As vendas de calçados iam de vento em popa. José, meu
fiel amigo, tornara-se um ótimo gerente e cuidava muito bem
dos nossos negócios. Isso me proporcionou certa liberdade
para que eu e minha esposa pudéssemos cuidar daqueles que
nos procuravam em busca de mudanças em suas vidas.
Em 1939, com a idade de 43 anos, decidi escrever
um livro contendo as lições, princípios e mensagens
aprendidos com meu pai. Um livro que pudesse atravessar
fronteiras e ir muito além do que me permitiam minhas
limitações físicas.
O livro tornou-se um grande sucesso. Eu recebia
cartas de agradecimento de diversos países do mundo.
Graças a este livro, tive oportunidade de viajar e expor
as minhas ideias em muitos lugares.

103
Rodrigo Cardoso

De acordo com a previsão de meu pai, anjo e


amigo, Isadora teve um papel fundamental em minha
vida. Montamos uma nova empresa. Ministrávamos
treinamentos ao redor do mundo. Ela falava muito
sobre o primeiro princípio, sua especialidade: família,
relacionamentos e amor. Eu completava os ensinamentos
repassando o segredo para o sucesso que havia aprendido
com meu pai. Era um programa de imersão em que os
participantes vivenciavam experiências incríveis sobre
como realizar os seus próprios sonhos.
Tivemos uma vida maravilhosa e conhecemos lugares
fascinantes em todo o mundo. Esquiamos na neve nos
Alpes, conhecemos o Havaí, Fernando de Noronha, os
castelos da Europa, os campos da Toscana, a Grécia, os
Arquipélagos de Maldivas, mergulhamos em Galápagos,
conhecemos também Indonésia, Puerto Escondido,
fizemos o caminho de Santiago e muitos outros lugares.
Quem diria! Que poder têm as metas definidas! Eu
era um exemplo vivo de que é possível fazer verdadeiras
mudanças na vida de um homem. Com o dinheiro
que ganhávamos, pudemos ajudar muitas instituições.
Principalmente de crianças que não tinham onde morar.
Esse era um dos meus focos de atuação. Construir
moradias e dar apoio social, financeiro, psicológico e
profissional para as crianças de rua.
Foi nessa época que tivemos nosso filho. Lembro-
me com espantosa nitidez de quando o segurei no colo
pela primeira vez. Era um milagre, um presente de
Deus. Eu sabia que a vida dele seria diferente. Meu filho
teria a oportunidade de ler os “livros do gavetão” —

104
Faça diferente, faça a diferença!

forma carinhosa que encontrei para nomear obras tão


importantes — e conheceria desde cedo as importantes
lições de seu avô. Mais importante que tudo, ele não iria
passar pelas tribulações que tive de passar.
Eu e Isadora estávamos muito orgulhosos e curtíamos
cada fase. Quando ele começou a andar, falar papai e
mamãe, quando escreveu a primeira cartinha para nós.
Enfim, cada fase foi muito especial para nós.
Até que um dia, por força do destino, nossa alegre
família sofreu uma perda irreparável: estávamos num
parque brincando com nosso filho quando a bola com
que jogávamos escapuliu. Instintivamente, nosso filho
correu atrás da bola, que rolava em direção a uma rua
movimentada. Minha mulher correu atrás dele. Tudo
aconteceu muito rápido. Ouvi a violenta freada de
um automóvel e vi nitidamente quando minha esposa
se jogou diante do carro e empurrou nosso filho para
longe do perigo. Isadora, porém, não conseguiu escapar
e foi atropelada. Corri em direção ao lugar do acidente.
Uma multidão se juntara na rua. Minhas pernas estavam
bambas. Meu coração se apertava em meu peito. Abri
caminho acotovelando a multidão e caí sobre o corpo
inerte de minha amada.
O carro a arrastara por vários metros. Eu não conseguia
pensar em outra coisa senão: “Isso não está acontecendo.
Respire, Isadora, por favor, respire!” Mas foi em vão. Ela
dera a própria vida para salvar a vida de nosso filho. Um
entorpecimento tomou conta de mim à medida que me
afastava da cena. Abracei meu filho, que chorava muito.
Podia bem imaginar o que ele estava sentindo.

105
Rodrigo Cardoso

Subitamente, o tempo começa a passar mais rápido


diante de meus olhos e vejo-me no último andar do prédio
recém-construído de minha bem-sucedida empresa. Era
um belo escritório. Na estante havia cerca de dez mil
títulos de livros. Na parede, um certificado de best-seller
consagrando a minha obra. Na prateleira, empilhavam-se
diversos prêmios e troféus ganhos em palestras e cursos
por mim ministrados ao longo dos anos.
Em cima da minha mesa de madeira nobre havia um
porta-retrato: de um lado, uma foto mostrava a mim,
Isadora e nosso filho ainda bebê. Do outro, havia uma
foto de nosso filho já com 23 anos de idade, no dia
em que assumiu a gerência dos negócios da empresa,
ocupando o lugar de José, que constituíra uma bela
família e então fazia parte do conselho de veteranos. Eu
estava aposentado e dedicava-me à nova fazenda.
Meu filho casou-se naquele mesmo ano. Minha nora
era uma mulher adorável, lembrava muito minha amada
e querida Isadora. Na noite do casamento, tive a honra de
recebê-la no altar. Trajava um belo vestido de noiva. Foi
realmente uma festa maravilhosa. Todos estavam felizes,
alegres e sorridentes. Enquanto todos se divertiam
na festa de casamento, deixei o salão e fui até a porta
dos fundos, voltada para um enorme campo gramado
cortado apenas por um longo caminho de árvores que
escondiam o riacho rumorejante mais adiante. Sentia-
me um tanto melancólico e decidira caminhar para
espairecer e pensar na vida.
Eu era uma pessoa muito bem-sucedida, mas, apesar
de ter ajudado milhares de pessoas em todo o mundo,

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Faça diferente, faça a diferença!

me sentia sozinho. Afinal, estava longe das pessoas


mais importantes da história de minha vida. Ainda
tinha muitas saudades do Dr. Laurindo, que me educou,
do senhor Jacó, que tanto me apoiou e me ajudou em
minha carreira, de meu velho pai e amigo, que tanto me
ensinou e, principalmente, daquela menina maravilhosa
com olhos de jabuticaba, minha amada esposa Isadora.
Estava tão entretido com esses pensamentos que me
descuidei e escorreguei numa pedra coberta de limo. Na
queda, bati com a cabeça e fiquei inconsciente. Algum tempo
depois, apesar de toda a animação de sua festa de casamento,
meu filho deu por minha falta. Logo a festa foi interrompida
e todos na fazenda começaram a procurar por mim.
Foi meu filho quem me encontrou estendido no chão,
junto ao riacho. Ele gritou e o médico da família me
socorreu. Felizmente, não fora nada de grave. Fiquei
com uma bruta dor de cabeça durante uns três dias
seguidos, mas logo me recuperei e voltei à velha forma.
Foi também por essa época que construí um hangar
em minha fazenda e consegui comprar um Waco CSO,
o “Vermelhinho”. A ideia de voar me fascinava, era uma
nova meta. E eu sabia o que uma nova meta podia fazer
com o ânimo de uma pessoa.
Foi uma grande novidade em toda a região. Todos os
fazendeiros vizinhos, assim como meu filho e diversos
amigos da família, vieram assistir ao meu primeiro voo.
— Contato! — gritou meu filho ao girar a hélice.
Toquei o manche, empurrei-o para a frente e a zoeira
do motor Wright Whirlwind de sete cilindros me

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Rodrigo Cardoso

ensurdeceu. Imprimi potência máxima e comecei a


ganhar velocidade na pista. A máquina queria sair do
chão, dava para sentir. Na hora certa, puxei levemente o
manche em minha direção e ganhamos altura.
A sensação do vento batendo em meu rosto era
magnífica. O chão se afastou e o avião começou a
voar. Todos aplaudiram, e ainda pude perceber o olhar
abismado dos mais incrédulos.
Também vi o sorriso estampado no rosto de meu
filho. Ele estava feliz porque eu estava feliz. Meu neto
de oito anos, Júnior, acenava e minha nora batia palmas,
ambos exultantes. Mas logo as pessoas sumiram de
vista, tornando-se pequenos pontos coloridos no chão
lá embaixo. Da altura onde eu estava, via o gramado
da fazenda, a copa das árvores, os cavalos, o telhado
de nossa mansão, a fonte de água na entrada principal,
o riacho onde eu me acidentara no casamento de
meu filho. Era uma visão maravilhosa. Que sensação
impressionante!
Quando eu já estava a mais de 250 metros do chão,
o motor engasgou, passou a emitir um ruído esquisito
e, em seguida, começou a pegar fogo. Calmamente,
desliguei-o e comecei a planar, embora ainda houvesse
fumaça para todo lado. Sem tempo para outra coisa além
de ser prático, pensei rápido, traçando mentalmente a
curva que deveria fazer para chegar à cabeceira da pista e
fazer um pouso forçado em planeio, o que consegui com
relativa facilidade.
Ao sair do avião, todos estavam apavorados. No
entanto eu estava bem calmo, o rosto ainda sujo pelo

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Faça diferente, faça a diferença!

óleo espirrado pelo motor. Meu filho, porém, mais


assustado que os demais, não descansou até me fazer
prometer que eu iria abandonar a ideia de voltar a voar.
Disse-lhe que iria consertar o aparelho e depois vendê-
lo. Mas não era o bastante. Ele queria que eu jurasse que
nunca mais ia voar. Não tive opção senão jurar.
Contudo, alguns meses depois...

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Faça diferente, faça a diferença!

Epílogo

A
pós todas as lembranças de minha vida
passarem diante de mim como em um filme
em alta velocidade, volto ao tempo presente.
Tudo o que sinto é o pulsar de meu coração.
Vejo-me numa situação extremamente delicada. Será
que conseguirei chegar à praia apenas planando?
Aparentemente, não. O avião começa a perder altitude
com rapidez, ganhando velocidade na queda. A praia
está ficando cada vez mais distante e o mar se aproxima
rápido demais. Tento controlar o aparelho para fazer um
pouso na água, mas a pressão no manche é gigantesca.
Consigo, mal e mal, recuperar a linha do horizonte,
mas esse breve alívio é bruscamente interrompido pela
quebra do manche, que sai em minha mão. O avião
começa a cair de bico. O mar se aproxima. O barulho é
ensurdecedor. De repente, um impacto violento e tudo
fica branco ao meu redor.
Começo a ouvir uma música suave, sinto-me leve, sem
medo, com uma sensação de paz muito intensa. Então,
vejo uma luz brilhante que emana de uma jovem com um
lindo vestido em tons avermelhados, cabelos ondulados e
os olhos mais belos do mundo. Ela está sorrindo para mim.

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Rodrigo Cardoso

Passo a sorrir e a chorar ao mesmo tempo, e uma


indescritível emoção de felicidade invade a minha alma.
Isadora abre os seus braços e, após tanto tempo, seu
amor volta a aquecer meu coração.
A sensação de bem-aventurança se torna ainda maior
quando sinto ao meu lado um casal, também iluminado
por uma luz resplandecente. É uma bela senhora,
abraçada por um senhor muito elegante, alto, com um
chapéu preto e um sorriso encantador.
Meu pai, meu mestre. Meu amigo.

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