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AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ________ .

________ , ________ , ________ , inscrito no CPF


sob nº ________ , ________ , residente e domiciliado
na ________ , ________ , ________ , ________ ,
________ , vem à presença de Vossa Excelência, por
meio do seu Advogado, infra assinado, ajuizar

AÇÃO ORDINÁRIA DE RESOLUÇÃO DE


CONTRATO C/C INDENIZAÇÃO

em face de ________ , ________ , ________ ,


inscrito no CPF sob nº ________ , ________ ,
residente e domiciliado na ________ , ________ ,
________ , na Cidade de ________ , ________ ,
________ , pelos motivos e fatos que passa a expor.

BREVE RELATO DOS FATOS

O Autor firmou em ________ um contrato para


________ com a Ré de ________ nas especificações e prazos dispostos no
contrato em anexo.
O prazo previsto para cumprimento do objeto era de ________
dias contados do pagamento da entrada financeira acordada, o que ocorreu em
________ .

Ocorre que com a Pandemia declarada em 11 de março de 2020


pela Organização Mundial da Saúde, bem como pelo Estado de Calamidade
Pública reconhecido pelo Governo Federal por meio do Decreto Legislativo nº 6,
de 2020 o contrato tornou-se insustentável.

A quarentena instituída pela Lei nº 13.979/2020 impediu o


normal funcionamento das atividades do Autor e de todo o comércio local,
afetando diretamente a continuidade do presente contrato, configurando um
FATO SUPERVENIENTE.

Com a suspensão das atividades, o Autor que vinha exercendo


________ , notoriamente afetadas pela quarentena, com um impacto
insustentável no seu fluxo de caixa, conforme ________ que junta em anexo,
evidenciando a ONEROSIDADE EXCESSIVA.

Em contrapartida, considerando que o contrato foi firmado em


situação diversa, evidente que o Réu acaba auferindo um benefício superior ao
devido para este período, configurando enriquecimento ilícito.

Trata-se de caso fortuito que tornou excessivamente oneroso o


contrato e insustentável para o Autor, motivando a rescisão.

A quarentena instituída pela Lei nº 13.979/2020 impediu o


normal funcionamento das atividades do Autor e de todo o comércio local,
afetando diretamente a continuidade do presente contrato, configurando um
FATO SUPERVENIENTE.
Com a suspensão das atividades, o Autor ficou completamente
impedido de dar seguimento ao serviço contratado, configurando
IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE DA PRESTAÇÃO, nos termos do Art.
248 do Código Civil.

No entanto, ________ , razão pela qual o Autor imediatamente


notificou a Ré para promover a rescisão contratual, a qual respondeu
________

Portanto, não obtendo êxito na solução junto ao Réu


extrajudicialmente, tem-se motivos suficientes para pleitear a rescisão do
contrato firmado com a Ré com a imediata devolução dos valores pagos,
cumulado com multa por descumprimento contratual, danos materiais e
morais.

DA PRESCRIÇÃO DECENAL

Ao analisar o prazo prescricional em casos semelhantes, o STJ


entende por aplicável o prazo prescricional de 10 anos aos casos que:

a) Há relação jurídica entre as partes,

b) Existe ação específica.

Assim, considerando existir entre as partes contrato de serviço,


bem como, ser possível o ingresso de ação específica de repetição de
indébito, devido o reconhecimento do prazo prescricional decenal ao presente
caso, conforme recente posicionamento do STJ sobre o tema:

"Com a devida vênia, a tese adotada no âmbito do


acórdão recorrido, de que a pretensão de repetição de
indébito por cobrança indevida de valores referentes a
serviços não contratados, promovida por empresa de
telefonia, configuraria b e, portanto, estaria abrangida
pelo prazo fixado no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil,
não parece ser a mais adequada.

A pretensão de enriquecimento sem causa (ação in rem


verso) possui como requisitos: enriquecimento de
alguém; empobrecimento correspondente de outrem;
relação de causalidade entre ambos; ausência de causa
jurídica; inexistência de ação específica. Trata-se,
portanto, de ação subsidiária que depende da inexistência
de causa jurídica. (...)

A discussão acerca da cobrança indevida de


valores constantes de relação contratual e
eventual repetição de indébito não se enquadra
na hipótese do art. 206, § 3º, IV, do Código Civil,
seja porque a causa jurídica, em princípio, existe
(relação contratual prévia em que se debate a
legitimidade da cobrança), seja porque a ação de
repetição de indébito é ação específica. (...)

Ante o exposto, voto pelo conhecimento, em parte, e, no


ponto conhecido, pelo provimento dos embargos de
divergência, de sorte a vingar a tese de que a repetição
de indébito por cobrança indevida de valores
referentes a serviços não contratados, promovida
por empresa de telefonia, deve seguir a norma
geral do lapso prescricional (10 anos - art. 205 do
Código Civil), a exemplo do que decidido e sumulado
(súmula 412/STJ) no que diz respeito ao lapso
prescricional para repetição de indébito de tarifas de
água e esgoto." (EAREsp 738.991/RS, Rel. Ministro OG
FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em
20/02/2019, DJe 11/06/2019)

Assim, tratando-se de matéria obrigacional firmada em contrato,


não se pode aplicar o prazo prescricional do Art. 206, §3º Do código Civil, isto
porque tal norma prescreve prazo exclusivamente para reparação civil.

No ordenamento jurídico, há expressa diferenciação entre a


reparação civil por dano contratual ou extracontratual, tal como nos Arts. 397 e
398 do CC/2002, nos Arts. 402 e ss. e 406 e ss., bem ainda nos Arts. 944 a 947
do mesmo Código.

Portanto, não há que se aplicar por analogia o restrito prazo de


reparação civil para os casos de descumprimento contratual. Caso assim fosse o
intuito do legislador, estaria previsto na redação legal.

O STJ, ao analisar o tema, leciona com clareza tal inaplicabilidade:

"É verdade que o termo "reparação" é usado pelo Código


Civil ao tratar da obrigação de indenizar pelo dano
extracontratual (arts. 932, 942 e 943 do CC/2002) e que a
mesma palavra não foi escolhida pelo Código para tratar
do dever de indenização pelo inadimplemento de
obrigações em geral. Com efeito, em lugar de dispor que o
devedor deve "reparar" o dano, o legislador dispôs que
"não cumprida a obrigação, 'responde' o devedor por
perdas e danos" (art. 389 do CC/2002). (...) Assim:
para exigir o cumprimento de prestação
contratual ilíquida, o prazo é de 10 anos (art.
205); para exigir o cumprimento de prestação
contratual líquida, o prazo é de 5 anos (art. 206, § 5º, I);
para exigir a reparação de dano, o prazo é de 3 anos (art.
206, § 3º, V ou IV); para exigir juros o prazo é também
de 3 anos (art. 206, § 3º, III)." (EREsp 1281594/SP, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão
Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado
em 15/05/2019, DJe 23/05/2019)

Nesse sentido, foi ementado o referido posicionamento do


Superior Tribunal de Justiça:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE


DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. DISSENSO
CARACTERIZADO. PRAZO PRESCRICIONAL
INCIDENTE SOBRE A PRETENSÃO DECORRENTE DA
RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL.
INAPLICABILIDADE DO ART. 206, § 3º, V, DO CÓDIGO
CIVIL. SUBSUNÇÃO À REGRA GERAL DO ART. 205, DO
CÓDIGO CIVIL, SALVO EXISTÊNCIA DE PREVISÃO
EXPRESSA DE PRAZO DIFERENCIADO. CASO
CONCRETO QUE SE SUJEITA AO DISPOSTO NO ART.
205 DO DIPLOMA CIVIL. EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA PROVIDOS. I -(...)II - A prescrição,
enquanto corolário da segurança jurídica, constitui, de
certo modo, regra restritiva de direitos, não podendo
assim comportar interpretação ampliativa das balizas
fixadas pelo legislador. III - A unidade lógica do
Código Civil permite extrair que a expressão
"reparação civil" empregada pelo seu art. 206, §
3º, V, refere-se unicamente à responsabilidade
civil aquiliana, de modo a não atingir o presente
caso, fundado na responsabilidade civil
contratual. IV - Corrobora com tal conclusão a
bipartição existente entre a responsabilidade civil
contratual e extracontratual, advinda da distinção
ontológica, estrutural e funcional entre ambas, que obsta o
tratamento isonômico. V - O caráter secundário assumido
pelas perdas e danos advindas do inadimplemento
contratual, impõe seguir a sorte do principal (obrigação
anteriormente assumida). Dessa forma, enquanto não
prescrita a pretensão central alusiva à execução da
obrigação contratual, sujeita ao prazo de 10 anos (caso não
exista previsão de prazo diferenciado), não pode estar
fulminado pela prescrição o provimento acessório relativo
à responsabilidade civil atrelada ao descumprimento do
pactuado. VI - Versando o presente caso sobre
responsabilidade civil decorrente de possível
descumprimento de contrato de compra e venda e
prestação de serviço entre empresas, está sujeito à
prescrição decenal (art. 205, do Código Civil). Embargos
de divergência providos. (EREsp 1281594/SP, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão
Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em
15/05/2019, DJe 23/05/2019)

Seguindo este entendimento, considerando a existência de


contrato entre as partes, bem como o cabimento da ação específica de repetição
de indébito, o prazo prescricional no presente caso deve aplicar o prazo
estabelecido pela regra geral do Código Civil, ou seja, de 10 anos, previsto no
art.205 do Código Civil de 2002.

Assim, requer seja determinada a repetição de indébito


dos últimos 10 anos de cobrança indevida.

DO DIREITO À RESCISÃO CONTRATUAL

O direito à rescisão contratual é inerente à natureza de


bilateralidade de vontades formalizada pelo instrumento contratual. Afinal,
ninguém pode ser obrigado a manter-se numa relação pactuada quando deixam
de existir os elementos motivadores da relação.

No presente caso o ________ impede a continuidade do


contrato, motivando a presente ação.

DA TEORIA DA IMPREVISÃO - FATO FORTUITO

Trata-se de grave situação em nível mundial causado pelo COVID-


19, que dispensa maiores explicações, motivando inclusive, o Governo Federal a
decretar no estado de Calamidade Pública por meio do Decreto Legislativo
nº 6, de 2020, configurando FATO FORTUITO E DE FORÇA MAIOR.

É de notório conhecimento os efeitos nefastos da pandemia na


economia brasileira, impedindo a normal continuidade das atividades
comerciais, devendo ser considerados no presente caso.

Afinal, o autor sofreu com tais efeitos, em especial por


________ , causando ONEROSIDADE EXCESSIVA na continuidade do
contrato, conforme ________

Trata-se de situação prevista pelo Código Civil, amparando a


rescisão do contrato sem qualquer penalidade, por tratar-se de um fato fortuito
e manifestamente imprevisível, in verbis:

FATO FORTUITO E DE FORÇA MAIOR

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos


resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior


verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir.

IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE DA PRESTAÇÃO

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem


culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa
dele, responderá por perdas e danos.

TEORIA DA IMPREVISÃO - ONEROSIDADE EXCESSIVA

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou


diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a
outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar
retroagirão à data da citação.
VIABILIDADE DE REEQUILÍBRIO OU RESCISÃO

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier


desproporção manifesta entre o valor da prestação
devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure,
quanto possível, o valor real da prestação.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o


réu a modificar eqüitativamente as condições do
contrato.

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a


apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua
prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-
la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

Trata-se de efetiva aplicação da TEORIA DA IMPREVISÃO, pelo


qual uma das partes contratantes não tem condições de seguir no contrato
diante de grave desvantagem a que não tenha dado causa.

Cabe ainda destacar, que conforme entendimento do STJ, não se


exige prova de qualquer vantagem à parte adversa, sendo suficiente a
prova da onerosidade excessiva ao requerente, conforme enunciado do CJF-
STJ:

Enunciado 365 do CJF-STJ: A extrema vantagem do art.


478 deve ser interpretada como elemento acidental da
alteração das circunstâncias, que comporta a incidência
da resolução ou revisão do negócio por onerosidade
excessiva, independentemente de sua demonstração
plena.

Ao analisar os impactos da pandemia, a doutrina reforça a


aplicabilidade da teoria da imprevisão a casos como este:

"O artigo 393, portanto, pode ser invocado para excluir a


responsabilidade do devedor por perdas e danos
decorrentes da falta de adimplemento de sua obrigação,
sempre que a obrigação tenha se tornado impossível,
definitiva ou temporariamente, (incluindo-se aí a
inviabilidade econômica, que impõe gastos
desproporcionais para o adimplemento da obrigação),
em razão de eventos inafastáveis e excepcionais não
sujeitos ao controle do devedor. (...) Aliás, em situações
extremas como a pandemia atual, é essencial que as
partes contratuais ajam de boa-fé e tentem adotar
soluções baseadas nessa atuação. Na grande maioria dos
casos, os efeitos das medidas adotadas pelos governos
para combater a pandemia (quarentena e medidas de
afastamento social) atingem de forma ampla todos os
envolvidos. Se as questões surgidas não forem conduzidas
com a boa-fé imposta pelo próprio código civil (art. 422),
os prejuízos serão ampliados e multiplicados." (Justen
Filho, Marçal. Covid-19 e o Direito Brasileiro . Edição do
Kindle. p. 2403)

Nesse sentido, a doutrina reforça a necessária observância da boa


fé das partes, de forma a manter um contrato equilibrado e, na sua
impossibilidade, permitir a resolução:

"Onerosidade excessiva. Resolução ou revisão do


contrato. A onerosidade excessiva, que pode tornar a
prestação desproporcional relativamente ao momento de
sua execução, pode dar ensejo tanto à resolução do
contrato (CC 478) quanto ao pedido de revisão de
cláusula contratual (CC 317), mantendo-se o contrato.
Esta solução é autorizada pela aplicação, pelo juiz, da
cláusula geral da função social do contrato (CC 421) e
também da cláusula geral da boa-fé objetiva (CC 422). O
contrato é sempre, e em qualquer circunstância,
operação jurídico-econômica que visa a garantir a
ambas as partes o sucesso de suas lídimas pretensões.
Não se identifica, em nenhuma hipótese, como
mecanismo estratégico de que se poderia valer uma das
partes para oprimir ou tirar proveito excessivo de outra.
Essa ideia desocialidade do contrato está impregnada na
consciência da população, que afirma constantemente
que o contrato só é bom quando é bom para ambos os
contratantes." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa
Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed.
Editora RT, 2017. Versão ebook, Art. 478)

Nesse sentido, é o posicionamento do STJ, no qual veda a


continuidade do contrato que reflita em INSUSTENTÁVEL DESVANTAGEM a
uma das partes:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. COBRANÇA DE MULTA
POR RESCISÃO DE CONTRATO DE LOCAÇÃO DE
PRÉDIO COMERCIAL. NÃO INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. REAL INTENÇÃO DOS
CONTRATANTES. CÂNONE HERMENÊUTICO DA
TOTALIDADE E DA COERÊNCIA. FINS ALMEJADOS
PELAS PARTES. TEORIA DA IMPREVISÃO. FATO
SUPERVENIENTE IMPREVISÍVEL.
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. MULTA DO ART. 1.021, §
4º, DO CPC. 1. (...). 4. Isso porque, nas declarações de
vontade, atender-se-á mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem,
devendo ser preservadas as legítimas expectativas criadas
pelas partes de boa-fé. 5.(...). Assim, a justa hermenêutica
a ser utilizada perpassa pela ocorrência de fato imprevisto
que pudesse inviabilizar a continuidade da atividade
empresarial. 8. Efetivamente ocorreu um fato imprevisto,
que culminou na prévia desocupação do imóvel, o que
atrai a incidência da cláusula contratual em testilha, cujo
efeito é isentar a parte recorrida do pagamento da multa
estipulada. 9. Como agentes da operação econômica,
exige-se daqueles que figuram nos polos da relação
jurídica contratual que atuem de forma diligente com
relação aos seus próprios interesses, isto é, que atuem em
conformidade com o standard médio do bonus
paterfamilias, máxime em se tratando de relação jurídica
paritária que representa a veste jurídica formal de
operação econômica. 10. Nota-se que foi exatamente o
que ocorreu no caso concreto: os recorridos
agiram em conformidade com a conduta do bonus
paterfamilias, com cálculo e prudência na
realização do negócio jurídico, mas, por alteração
superveniente das circunstâncias fáticas,
modificou-se o equilíbrio econômico do contrato.
11. Em consequência, procedendo-se à interpretação
baseada nos fins almejados na celebração do contrato de
locação comercial, é possível inferir que os recorridos
estariam dispensados do adimplemento da multa
contratual justamente nos casos de imprevisão.
Assim, a cobrança de multa, no caso concreto, ensejará o
enriquecimento ilícito dos ora recorrentes. 12. A simples
interposição de agravo contra decisão do relator não
implica a imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º,
do CPC 13. Agravo interno não provido. (STJ, AgInt no
AgInt nos EDcl no AREsp 1475627/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 05/03/2020)

Nesse sentido, confirma a jurisprudência sobre o tema:

(...) No Brasil, conquanto o Código Civil de 1916 não tenha


previsto a teoria aqui referida como regra geral para a
revisão contratual, o Código Civil de 2002 não incorreu na
mesma omissão, prevendo, expressamente, em seu artigo
478, de forma indireta, a possibilidade de sua aplicação.
Diante disso, para aplicação da teoria da imprevisão,
portanto, verifica-se indispensável que o acontecimento
que altera as circunstâncias prévias ao contrato seja
imprevisível, imprevisto, extraordinário e excepcional,
bem como a alteração circunstancial seja, de fato, radical,
de forma a impossibilitar o cumprimento das obrigações
contraídas. Soma-se a isso a necessidade de averiguar-se a
existência de prejuízo financeiro, inesperado e injusto, de
um dos contratantes, enquanto há enriquecimento daquele
que figura na outra ponta do negócio jurídico entabulado,
ou seja, deve ser evidente a onerosidade excessiva
suportada por uma das partes, a impedi-lo de prosseguir
na execução do contrato. Neste caso, verificando-se a
existência desses três pressupostos para teoria da
imprevisão, esta poderá ser aplicada pelos Tribunais
quando da revisão do contrato firmado, com base no art.
478 do Código Civil de 2002, de forma que a parte em
défice poderá requerer a resolução do contrato e os efeitos
da sentença retroagirão à data da citação. Logo, considera-
se que a modificação radical do quadro circunstancial em
que fora firmado o contrato garante o direito àquele que se
entender prejudicado resolver a contratação, ou ao menos
adaptar a forma de cumprimento daquilo que fora
acordado às condições que se impuseram, com
fundamento na equidade e na boa-fé objetiva. Neste
diapasão, a teoria contratual contemporânea contempla
quatro grandes princípios: autonomia privada, boa-fé,
justiça contratual e função social do contrato. (...) (TJ-RJ,
APELAÇÃO 0004879-46.2014.8.19.0037, Relator(a):
DES. RENATA MACHADO COTTA , Publicado em:
12/08/2019)

(...) A Pandemia decorrente da circulação do vírus SARS-


CoV-2, causadora da doença denominada COVID-19, é
fato público e notório, dispensável de ser explicada. Os
seus efeitos espraiam-se sob dois aspectos: o da saúde,
referente à alta morbidade da doença junto a grupos
vulneráveis, levando as autoridades públicas, com base em
manifestações de infectologistas e epidemiologistas, a
determinar o isolamento social da população, de modo a
não sobrecarregar o sistema de saúde e preservar vidas,
núcleo fundamental de qualquer país democrático e com
uma Constituição de cunho humanista. O segundo
aspecto, devido ao referido isolamento, é o
econômico. Em razão das já mencionadas e
necessárias medidas de isolamento social - até
mesmo de lockdown - há um profundo abalo no
funcionamento das economias, atingindo
principalmente os empresários na área de
serviços, profissionais liberais, trabalhadores
informais, etc... As atividades econômicas são baseadas
na troca de serviços, bens e circulação de capital e estão
completamente imbricadas a relações jurídicas inúmeras.
Em situações de crise econômica, em razão da
disfuncionalidade das trocas, as relações jurídicas
tencionam-se, deságuam em pretensões resistidas, e, ao
fim, em causas levadas ao Poder Judiciário. O Poder
Judiciário deve ser fonte de Segurança Jurídica. Por isso,
em termos ditos normais, tem de ser fiador da execução
dos contratos, da execução de garantias, da estabilidade
dos pactos, havendo a prevalência, pois, do Princípio da
Obrigatoriedade dos Contratos. Em situações como a
presente, de calamidade, entretanto, o Poder
Judiciário deve atuar de forma a mitigar as
consequências da crise, distribuindo os prejuízos
econômicos de forma adequada, de maneira a não
agravar mais ainda a situação de depressão
econômica. Com base nesse raciocínio, entra em
ação o Princípio da Imprevisão, autorizando-se a
modulação das obrigações quando evento externo,
imprevisível, ataca a relação jurídica e a torna difícil de ser
executada para um dos seus polos. Dependendo da
situação, portanto, poderá o Juiz relativizar o
cumprimento da obrigação, preservando até mesmo o
próprio Contrato, pois a sua não relativização levaria ao
rompimento da relação jurídica, prejudicando o próprio
credor. (...) Acredito ser adequada e equânime, portanto,
ao menos neste juízo inicial de delibação, a redução do
aluguel para o próprio valor apresentado pelo credor, mas
estendendo tal redução para os meses de abril e maio, não
apenas março, devendo eventual compensação, se existir,
ser verificada apenas quando do julgamento do mérito,
quando se terá maiores elementos para verificar as
condições econômicas do locador. A atuação, desta forma,
ao menos para mim, diminui a tensão da relação entre as
partes, considerada, sempre, a excepcionalidade do
quadro mundial. (...) (TJDF - Agravo de iNstrumento
0707596-27.2020.8.07.0000. Rel. Des. Eustáquio de
Castro. 01/04/2020)

Portanto, ficando demonstrada a imprevisibilidade da pandemia e


do alto grau de prejudicialidade financeira ao requerente, cabível a aplicação da
teoria da Imprevisão ao presente contrato.

Ao firmar o contrato, o Autor teve a legítima expectativa de


receber adequado ao uso de acordo com as expectativas geradas na compra, ou
seja, sem a necessidade de qualquer adaptação, e principalmente, que este não
possua nenhum vício que lhe diminua o valor ou que o impossibilite de utilizá-lo
normalmente.

No presente caso, não houve em qualquer momento previamente à


contratação ou mesmo previsto em contrato a informação de que ________ , o
que exigiu do Autor ________ .

Trata-se, portanto, de vício oculto, que diminui o valor do bem,


objeto contratado, que não era de conhecimento do Autor, caracterizando o
vício oculto, conforme disposição do Código Civil:

Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste


ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se
perecer por vício oculto, já existente ao tempo da
tradição.

No presente caso, o vício foi constatado somente quando


________ , portanto, supervenientemente ao contrato, sendo responsabilidade
dos Réus a devida reparação, conforme conceitua a doutrina:

"Vício oculto é aquele que já estava presente quando da


aquisição do produto ou do término do serviço, mas que
somente se manifestou algum tempo depois; ou seja, é
aquele cuja identificação não se dá com simples exame
pelo consumidor."(GARCIA, Leonardo. Código de defesa
do consumidor. Juspodvm. 2017. p.397)

Nesse sentido confirmam os precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C.C.


INDENIZATÓRIA - Compra e venda de veículo mediante
financiamento - Descoberta, quando da realização
de vistoria para venda do bem, de que o veículo
era proveniente de leilão (sinistrado) -
Reconhecimento da decadência do direito da autora de
reclamar dos vícios - Sentença de improcedência -
DECADÊNCIA DO DIREITO DE RECLAMAR DO VÍCIO -
Não configuração - Bem durável - Vício oculto, eis
que não facilmente identificável pelo consumidor
- Noventena legal que começa a correr a partir do
momento em que se tornou conhecido o vício - Prazo não
exaurido - MÉRITO - Não demonstração de que a
procedência do veículo foi previamente informada
à adquirente - Mero fato de o antigo proprietário ser
uma seguradora que é insuficiente para demonstrar que a
autora foi informado que o veículo era proveniente de
leilão - Requeridas que não requereram a produção de
provas quando instadas a tanto - RESCISÃO DA COMPRA
E VENDA que se impõe - RESCISÃO DO CONTRATO DE
FINANCIAMENTO - Desfazimento da compra e venda que
implica no cancelamento do contrato de financiamento -
(...) Recurso provido. (TJSP; Apelação Cível 1003408-
04.2017.8.26.0481; Relator (a): Hugo Crepaldi; Órgão
Julgador: 25ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Presidente Epitácio - 1ª Vara; Data do Julgamento:
14/02/2019; Data de Registro: 14/02/2019)
APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. AÇÃO REDIBITÓRIA CUMULADA
COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COMPRA E
VENDA DE VEÍCULO SINISTRADO. RESCISÃO DO
NEGÓCIO HAVIDO ENTRE AS PARTES EM VIRTUDE
DO VÍCIO REDIBITÓRIO. PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS
FORMULADOS NAS RAZÕES RECURSAIS. INOVAÇÃO
RECURSAL. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. 1. O
vício existente no produto adquirido padece de
possibilidade de ser sanado. Fato é que não está o
adquirente obrigado a permanecer com um bem ou pagar
um preço a maior, que, sabidamente, é
viciado/depreciado, ante a falta de prévia informação
quanto ao sinistro do veículo. Nesse contexto, deve ser
mantida a sentença que rescindiu o negócio havido entre
as partes em virtude do vício redibitório. 2. (...). 3. Os fatos
ocorridos causaram dissabores à autora que ultrapassam o
razoável, na medida em que frustraram sua expectativa em
adquirir um veículo que, apesar de seminovo, após a
compra, descobriu que era proveniente de sinistro,
sentido-se ludibriada e enganada. RECURSO DE
APELAÇÃO INTERPOSTO PELO RÉU CONHECIDO EM
PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO E
RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO PELA AUTORA
PROVIDO. (TJRS, Apelação 70076393354, Relator(a):
Adriana da Silva Ribeiro, Décima Quinta Câmara Cível,
Julgado em: 09/05/2018, Publicado em: 18/05/2018)

Motivos que devem conduzir ao imediato deferimento do pleito de


rescisão contratual, cumulada com perdas e danos.
DO INADIMPLEMENTO DO CONTRATO

Conforme já acima citado, o contrato foi claro ao prever


________ não dispondo sobre qualquer tolerância.

No entanto, até o momento, mais de ________ da


assinatura do contrato, não há qualquer notícia de conclusão ou
mesmo satisfação pelo não cumprimento do contrato.

Ao firmar o referido contrato, o Réu já deveria


considerar os riscos inerentes ao segmento, não deixando a cargo da
outra parte a responsabilidade de se preparar para um inadimplemento e
absorver os prejuízos.

Portanto é indiscutível que houve um inadimplemento contratual


que ampara a resolução do contrato aqui pleiteado, cumulado com indenização
por perdas e danos, conforme previsto expressamente no CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.

Sendo cabível, portanto, ser dada a opção ao consumidor, nos


termos do Art. 18, §1º do CDC, pela rescisão e restituição total do valor pago,
cumulado com perdas e danos.
Assim, deve-se adotar, ao presente caso, a teoria do risco do
empreendimento, de Sérgio Cavalieri Filho, segundo a qual:

"todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade


no mercado de consumo tem o dever de responder pelos
eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos,
independentemente de culpa". (in Responsabilidade Civil,
2008. p. 475)

No caso, a entrega de um produto diferente das condições


contratadas e a demora na prestação do serviço enquadra-se perfeitamente, no
conceito de "defeito". O autor Sérgio Cavalieri aduz, ainda, que:

"a responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se


alguém a realizar atividade (...) ou executar
determinados serviços. O fornecedor passa a ser o
garante dos produtos e serviços que oferece no mercado
de consumo" (in Responsabilidade Civil, 2008. p. 476).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.AÇÃO


DE CUMPRIMENTO DE CONTRATO C/C
INDENIZAÇÃO. PRELIMINAR. INCOMPETÊNCIA
JUÍZO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRANSITADA EM
JULGADO APÓS A PROPOSITURA DESTA AÇÃO.NÃO
CONFIGURAÇÃO. INTELIGÊNCIA ARTIGO 81 DO CDC.
SERVIÇOS FUNERÁRIOS.ILEGALIDADE. EMPRESA
NÃO PERMISSIONÁRIA.FALHA NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO. RELAÇÃO DE CONSUMO. CDC.
APLICABILIDADE.RESCISÃO CONTRATO. ART. 42, DO
CDC.AUSÊNCIA DE ENGANO
JUSTIFICÁVEL.DEVOLUÇÃO EM DOBRO.
POSSIBILIDADE.RESSARCIMENTO POR DANOS
MORAIS.FIXAÇÃO. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO.1. O ajuizamento de ação civil pública, não
impede a propositura de ação individual
concomitantemente pela parte, ainda de versa sobre o
mesmo objeto, por não se caracterizar litispendência, nos
termos do artigo 81 do CDC.2. Constatada a
impossibilidade de cumprimento do contrato, afigura-se
correta a decretação da sua rescisão, com a devolução dos
valores pagos.3. Nos termos do artigo 42 do CDC, não
sendo caracterizado engano ou erro escusável, a
restituição deverá ser em dobro.4. No caso, a situação
narrada ultrapassa os meros aborrecimentos, sendo
devidos o ressarcimento por danos morais.5. Recurso
conhecido e não provido. (TJPR - 11ª C.Cível - AC -
1633239-5 - Colombo - Rel.: Fábio Haick Dalla Vecchia -
Unânime - J. 04.07.2018)

Portanto é indiscutível que houve um inadimplemento contratual


que ampara a resolução do contrato aqui pleiteado.

Nestes casos, o Código Civil Brasileiro, previu em seu artigo 475 a


possibilidade de resolução do contrato:

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode


pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-
lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
indenização por perdas e danos.
Assim, diante do desinteresse do Autor em exigir o cumprimento
do compromisso, resta a via judicial para buscar a resolução do contato firmado,
o que deve ocorrer com a devolução integral dos valores que já
foram pagos, e indenização pelos danos sofridos, conforme
posicionamento firmado nos Tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.


AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. EMBARGOS DE
TERCEIRO. SENTENÇA CONJUNTA. Inadimplemento
pela promitente compradora do qual decorre o
direito à rescisão contrato de promessa de compra e
venda com a reintegração da promitente vendedora na
posse do bem. Embargos manejados por terceiro, que
firmou contrato de promessa de compra e venda com a ré
da ação principal sem a ciência da autora daquele feito
nem a prévia anuência da incorporadora e proprietária
registral. Situação em que prevalece o direito
reintegratório da promitente vendedora do contrato
resolvido, a qual sempre contou com a anuência negocial
exarada pela incorporadora do imóvel. APELO
DESPROVIDO. (TJRS, Apelação 70080071483,
Relator(a): Mylene Maria Michel, Décima Nona Câmara
Cível, Julgado em: 28/03/2019, Publicado em:
01/04/2019)

AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO C/C PEDIDO DE


RESTITUIÇÃO DE VALORES. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS EDUCACIONAIS. REVELIA. PRESUNÇÃO DE
VERACIDADE DOS FATOS ALEGADOS. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESCISÃO DO
CONTRATOPOR CULPA DA RÉ. RESTITUIÇÃO DE
VALORES. MULTA CONTRATUAL. A revelia gera a
presunção de veracidade dos fatos alegados. Diante disso,
tem-se que a rescisão do contrato se deu por culpa da
demandada, que descumpriu o que pactuou com a autora.
Dessa forma, viável a rescisão do contrato, com a
restituição dos valores adimplidos e comprovados nos
autos. Recurso da autora provido, no ponto. (...)
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível
Nº 71008463861, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe,
Julgado em 24/04/2019).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO DE


CONTRATO - CONTRATO DE FRANQUIA
EMPRESARIAL - INADIMPLEMENTO CONTRATUAL
DA FRANQUEADORA - COMPROVAÇÃO - RESCISÃO
DO CONTRATO POR CULPA DA FRANQUEADORA -
DANOS MATERIAIS - IMPOSSIBILIDADE - DANOS
MORAIS - CONFIGURAÇÃO - HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS - CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO -
MAJORAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. Restando
comprovado nos autos o inadimplemento
contratual da franqueadora, que deixou de
entregar os produtos solicitados pelos
franqueados, de rigor a rescisão do contrato
celebrado por culpa da mesma franqueadora, com
o pagamento da multa estipulada no referido
contrato. Considerando que os valores cobrados a título
de danos materiais não têm relação com o
descumprimento do contrato pela franqueadora em não
proceder à entrega dos seus produtos, não se há de falar
em sua condenação a esse título. Os sentimentos de
transtorno e constrangimento do franqueado que, em
razão da não disponibilização dos produtos solicitados,
fica impossibilitado de desenvolver de forma efetiva, o seu
comércio, não podem ser considerados como mero
dissabor, ensejando dano moral passível de reparação.
Consoante preconizado no art. 85, § 2º, do Novo Código de
Processo Civil, os honorários advocatícios devem ser
fixados entre o mínimo de dez por cento e o máximo de
vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa, atendidos os critérios
estabelecidos nos incisos I, II, III e IV do mesmo
dispositivo legal.(TJ-MG - AC: 10024134030584001 MG,
Relator: José de Carvalho Barbosa, Data de Julgamento:
18/07/2019, Data de Publicação: 26/07/2019)

Dessa forma, diante de um notório inadimplemento contratual,


deve ser reconhecido o direito à rescisão com a devolução imediata dos valores
pagos, devidamente atualizados, cumulado com multa contratual e indenização
por danos materiais e morais.

No presente caso, o Réu permaneceu de posse do bem por mais de


________ , sendo devida a indenização pelo período que o mesmo usufruiu do
imóvel, conforme bem disciplinado pela Súmula n° 1, do TJSP:

"O compromissário comprador de imóvel, mesmo


inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver
as quantias pagas, admitida a compensação com gastos
próprios de administração e propaganda feitos pelo
compromissário vendedor, assim como com o valor
que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem".

Trata-se de valor que deve ser arbitrado com base no valor de


aluguel de imóveis semelhantes, conforme precedentes sobre o tema:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. Compromisso de


compra e venda de imóvel. (...). Cláusulas contratuais
válidas e que devem ser cumpridas. Reconvenção.
Rescisão contratual. Inadimplência dos compradores.
Retenção de 10% dos valores pagos. Aluguel devido no
período de inadimplência. Sentença mantida.
Honorários advocatícios majorados. Recurso não provido,
com observação. (TJSP; Apelação 1010737-
23.2016.8.26.0604; Relator (a): Fernanda Gomes
Camacho; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Sumaré - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento:
08/03/2018; Data de Registro: 08/03/2018)

COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - RESCISÃO


CONTRATUAL - INADIMPLÊNCIA DOS
COMPRADORES - PERDA DOS VALORES PAGOS
HAVIDA POR VÁLIDA - LOCATIVOS PELO
PERÍODO TOTAL DE OCUPAÇÃO DO IMÓVEL -
CORRETA FIXAÇÃO DA SUCUMBÊNCIA - SENTENÇA
CONFIRMADA - APELO NÃO PROVIDO. (TJSP;
Apelação 1016842-40.2014.8.26.0554; Relator (a): Giffoni
Ferreira; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Santo André - 6ª Vara Cível; Data do Julgamento:
10/10/2017; Data de Registro: 10/10/2017)

Razões pelas quais , devido o total provimento da presente ação.

DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL

Inerente ao descumprimento contratual encontra-se ainda o dever


dos Réus em arcar com MULTA CONTRATUAL POR
INADIMPLEMENTO, conforme clara previsão contratual:
________

Desta forma, diante da demonstração inequívoca do


descumprimento do contrato por parte da Ré, resta evidente o direito da Autora
em ter o contrato rescindido com a devolução na íntegra das parcelas pagas e
aplicação de multa.

DO RETORNO AO SATUS QUO ANTE

Com a resolução do contrato, requer o retorno das partes ao status


quo ante, ou seja, com a imediata ________ .

Trata-se de medida necessária diante da rescisão contratual


motivada pela ré. Nesse sentido, confirmam precedentes sobre o tema:

"(...) Uma vez reconhecida a resolução de contrato


de cessão de direitos sobre veículo financiado, é salutar
o retorno das partes ao status quo ante. Isso
porque, em regra, a resolução dissolve o contrato
e retroage os contratantes ao status quo, com
efeitos ex tunc, como se o contrato jamais tivesse
se realizado, de forma a evitar o enriquecimento
indevido de qualquer participantes contratuais.
Assim, implementada a resolução da cessão de direitos
sobre veículo financiado cabe ao devedor/cessionário, em
tese, a devolução do veículo e, ao credor/cedente, a
devolução dos valores por ele pagos (eventual ágio e
parcelas do financiamento). (...)" (TJDFT, Acórdão
n.1103517, 20150410058243APC, Relator(a): ALFEU
MACHADO, 6ª TURMA CÍVEL, Julgado em: 13/06/2018,
Publicado em: 19/06/2018)
Assim, com a declaração de rescisão do contrato, requer o
imediato ________ .

DA ABUSIVIDADE DA MULTA RESCISÓRIA

Pela breve leitura da cláusula ________ do contrato do contrato


celebrado entre as partes, verifica-se a nítida desproporcionalidade da
pena pela rescisão contratual, uma vez que aplica ao Autor uma penalidade
pela rescisão do contrato no aporte de ________ % do valor pago, o que é
ABUSIVO!

Tanto a legislação material civil (geral) e a lei consumerista


(aplicável no caso em tela, pelo princípio da especialidade), repudiam cláusulas
contratuais como a estabelecida pela Ré em seu contrato de adesão:

Código do Consumidor - "Art. 6º São direitos básicos do


consumidor:
...
IV -a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços".

"Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
...
IV -estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou a eqüidade;
...
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a
vantagem que:
..
II -restringe direitos ou obrigações fundamentais
inerentes à natureza do contrato, de tal modo a
ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;
III -se mostrar excessivamente onerosa para o
consumidor, considerando-se a natureza e
conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso".

Ora, a manutenção da cláusula contratual que estipula a retenção


de ________ % dos valores é manifestamente abusiva, especialmente quando
o SERVIÇO SEQUER FOI PRESTADO, em claro enriquecimento
ilícito, expressamente vedado pelo Código Civil:

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se


enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.

Verifica-se, portanto, que a multa aplicada pela rescisão contratual


configura enriquecimento ilícito, devendo ser revisto, para que a rescisão seja
possível.

DAS PERDAS E DANOS

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova testemunhal


que que será produzida no presente processo, o nexo causal entre o dano e a
conduta da Ré fica perfeitamente caracterizado pelo ________ , gerando o
dever de indenizar, conforme preconiza o Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse mesmo sentido, é a redação do art. 402 do Código Civil que


determina: "salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e
danos devidas ao credor abrangem, além do que efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar".

No presente caso, toda perda deve ser devidamente indenizada,


especialmente por que a negligência do Réu causou ________ , assim
especificado:

________ - R$ ________

________ - R$ ________

A reparação é plenamente devida, em face da responsabilidade


civil inerente ao presente caso.
DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Toda e qualquer reparação civil esta intimamente ligada à


responsabilidade do causador do dano em face do nexo causal presente no caso
concreto, o que ficou perfeitamente demonstrado nos fatos narrados. Sendo
devido, portanto, a recuperação do patrimônio lesado por meio da indenização,
conforme leciona a doutrina sobre o tema:

"Reparação de dano. A prática do ato ilícito coloca o


que sofreu o dano em posição de recuperar, da forma
mais completa possível, a satisfação de seu direito,
recompondo o patrimônio perdido ou avariado do titular
prejudicado. Para esse fim, o devedor responde com seu
patrimônio, sujeitando-se, nos limites da lei, à penhora de
seus bens." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria
de Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed. Editora RT,
2017. Versão ebook, Art. 1.196)

Trata-se do dever de reparação ao lesado, com o objetivo de


viabilizar o retorno ao status quo ante à lesão, como pacificamente doutrinado:

"A rigor, a reparação do dano deveria consistir na


reconstituição específica do bem jurídico lesado, ou seja,
na recomposição in integrum, para que a vítima
venha a encontrarse numa situação tal como se o
fato danoso não tivesse acontecido." (PEREIRA,
Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol II -
Contratos. 21ª ed. Editora Forense, 2017. Versão ebook,
cap. 283)

Motivos pelos quais devem conduzir à indenização ao danos


materiais sofridos, bem como aos lucros cessantes.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELOS LUCROS CESSANTES

Dispõe o Código Civil, nos termos do art. 395, que responde o


devedor pelos prejuízos decorrentes da negligência do Réu.

No presente caso, o nexo causal é perfeitamente configurado, na


medida em que há plena demonstração da relação de causa e efeito entre a
conduta praticada pela empresa Ré e o dano suportado pelo Autor.

Afinal, caso o ________ ________ , resultando em mais renda


ao Autor.

Os lucros cessantes são indenizáveis conforme clara redação do


art. 402 do Código Civil que determina:

"salvo as exceções expressamente previstas em lei, as


perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar".

Assim, necessária a compensação pela privação injusta da posse da


coisa dotada de expressão econômica, conforme predomina nos Tribunais:

LUCROS CESSANTES. Alegação da autora de que deve ser


ressarcida no valor total. ADMISSIBILIDADE: A
indenização em decorrência dos lucros cessantes
visa à composição daquilo que a parte
efetivamente auferia e que deixou de ganhar. Valor
demonstrado pelo laudo pericial. Sentença reformada
neste ponto. DANO MORAL. Condenação do réu ao
pagamento de indenização. CABIMENTO: a pessoa
jurídica pode sofrer dano moral - Súmula 227 STJ. A
antecipação indevida de recebíveis e o seu posterior
descontos causaram débitos que a autora não deu causa,
além do travamento das máquinas de cartão, com queda
nas vendas atestadas na perícia, desembocando no
fechamento da empresa. Sentença mantida. RECURSO DO
RÉU DESPROVIDO E DA AUTORA PROVIDO. (TJ-SP -
AC: 10146953220168260405 SP 1014695-
32.2016.8.26.0405, Relator: Israel Góes dos Anjos, Data
de Julgamento: 28/06/2019, 37ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 28/06/2019)

A doutrina ao confirmar este entendimento, esclarece:

"Quando os efeitos atingem um patrimônio atual,


acarretando a sua diminuição, as perdas e danos
denominam-se "emergentes", ou damnum emergens; se
a pessoa deixa de obter vantagens em
consequência de certo fato, vindo a ser privada
de um lucro, temos as perdas e danos "cessantes",
ou lucrum cessans." (RIZZARDO, Arnaldo. Contratos.
16 ed. Editora Forense, 2017. Versão kindle, p 21232)

"As perdas e danos incluem os prejuízos efetivos e os


lucros cessantes por efeito direto e imediato da
inexecução (CC 402 e 403). (…) Lucros cessantes
consistem naquilo que o lesado deixou
razoavelmente de lucrar como consequência
direta do evento danoso (CC 402)." (NERY JUNIOR,
Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil
Comentado. 12 ed. Editora RT, 2017. Versão ebook, Art.
402 )

Razão pela qual, requer a condenação da Ré ao pagamento dos


lucros cessantes devidos pelo lucro previsto e não efetivado em decorrência da
falha da empresa Ré.

DO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova testemunhal


que que será produzida no presente processo, o dano moral fica perfeitamente
caracterizado pelo dano sofrido pelo Autor ao ________ , expondo o Autor a
um constrangimento ilegítimo, gerando o dever de indenizar, conforme
preconiza o Código Civil em seu Art. 186.

Trata-se de proteção constitucional, nos termos que dispõe a Carta


Magna de 1988 que, em seu artigo 5º:

Art. 5º - (...) X - são invioláveis a intimidade, (...) a


honra, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua
violação;

No presente caso, a Ré deixou de cumprir com sua obrigação


contratada gerando graves transtornos à empresa afetando diretamente a sua
reputação, afinal ________ .
A busca diária pela solução junto à empresa Ré, sem qualquer
êxito, causou sérios transtornos aos sócios e clientes, pois passaram meses
amargando com uma ________ prejudicando a imagem da empresa no
cumprimento de seus prazos e no perfeito atendimento.

Ademais, ________

Assim, é assegurada a indenização à Pessoa Jurídica que foi


compelidos a tolerar diariamente o descaso da empresa Ré, com danos à sua
imagem, devendo ser indenizado.

E nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça assegura o direito à


indenização nos casos de manifesto dano à reputação da Autora, decorrente do
descumprimento da empresa Ré:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO


CPC/73)- AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO
MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AO
RECLAMO. INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ. 1. A
jurisprudência desta Corte reconhece a
possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano
moral (Súmula 227/STJ), desde que demonstrada
ofensa à sua honra objetiva (imagem e boa fama).
Precedentes. Incidência da Súmula 83/STJ. 2.(...)(STJ -
AgInt no AREsp: 913343 RS 2016/0114648-5, Relator:
Ministro MARCO BUZZI, Data de Julgamento:
06/03/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 13/03/2018)

Nesse sentido é a orientação dos tribunais:


APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. TELEFONIA. AÇÃO COMINATÓRIA
POR FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
TELEFONIA FIXA. INTERRUPÇÃO IMOTIVADA DOS
SERVIÇOS. DANO MORAL CARACTERIZADO NO CASO
CONCRETO. QUANTUM MANTIDO. - Desídia do
fornecedor em relação aos deveres que possui
frente ao consumidor que se manteve em dia com
suas obrigações financeiras - É possível o
reconhecimento de a pessoa jurídica sofrer dano
moral, conforme o entendimento - Súmula n. 227
do STJ desde que haja comprovação de violação à honra
objetiva da pessoa jurídica para que faça jus à indenização
por danos morais, como é o caso dos autos, uma vez que a
falha na prestação dos serviços ultrapassou o mero
dissabor cotidiano - A indenização deve levar em conta o
tempo de duração da ilicitude; a situação
econômico/financeiro e coletiva do ofensor e ofendido;
existência de pedido administrativo do ofendido ao
ofensor para a regularização; o atendimento do pedido
administrativo formulado pelo ofendido; a repercussão do
fato ilícito na vida do ofendido e a existência ou não de
outras circunstâncias em favor ou em desfavor do
consumidor - Quantum indenizatório mantido. APELO
DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70076094549, Décima
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Gelson Rolim... Stocker, Julgado em 07/03/2018).

E nesse sentido, a indenização por dano moral deve


representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de
alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e
alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado
completo descaso aos transtornos causados.
Portanto, considerando que o Réu ultrapassou os limites razoáveis
do exercício de seu direito, afetando seriamente a dignidade do Autor o expondo
ao ridículo, devida indenização por danos morais.

A narrativa demonstra claramente o grave abalo moral sofrido


pelo Autor em manifesto constrangimento ilegítimo. A doutrina ao lecionar
sobre a matéria destaca:

"O interesse jurídico que a lei protege na espécie refere-se


ao bem imaterial da honra, entendida esta quer como o
sentimento da nossa dignidade própria (honra interna,
honra subjetiva), quer como o apreço e respeito de que
somos objeto ou nos tornamos mercadores perante os
nossos concidadãos (honra externa, honra objetiva,
reputação, boa fama). Assim como o homem tem direito à
integridade de seu corpo e de seu patrimônio econômico,
tem-no igualmente à indenidade do seu amor-próprio
(consciência do próprio valor moral e social, ou da
própria dignidade ou decoro) e do seu patrimônio
moral." (CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 288).

Assim, diante da evidência dos danos morais em que o Autor fora


acometido, resta inequívoco o direito à indenização.

E nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar


para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido
e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma
vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos causados.

DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define,
de forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado
das condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do
referido Código.

No presente caso, tem-se de forma nítida a relação consumerista


caracterizada, conforme redação do Código de defesa do Consumidor:

Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou


jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Assim, uma vez reconhecido o Autor como destinatário


final dos serviços contratados, e demonstrada sua hipossuficiência
técnica, tem-se configurada uma relação de consumo, conforme entendimento
doutrinário sobre o tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor


deve ser interpretado a partir de dois elementos: a) a
aplicação do princípio da vulnerabilidade e b) a
destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e
tendo em vista a teleologia da legislação protetiva deve-
se identificar o consumidor como o destinatário final
fático e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM,
Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT,
2016. Versão ebook. pg. 16)

Ademais, a sujeição das instituições financeiras às disposições do


Código de Defesa do Consumidor foi declarada constitucional pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal no julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade 2.591/DF DJU de 13.4.2007, p. 83.

Trata-se de redação clara da Súmula 297 do Superior Tribunal de


Justiça, que assim dispõe:

O Código de Defesa do consumidor é aplicável às


instituições financeiras.

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das


responsabilidades inerentes à sua atividade, dentre as quais prestar a devida
assistência técnica, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus
consumidores.

DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define,


de forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado
das condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do
referido Código.

O fato de tratar-se de PESSOA JURÍDICA não retira per se a


qualidade de consumidor.

No presente caso, a VULNERABILIDADE do consumidor,


mesmo que pessoa jurídica, fica perfeitamente demonstrada pela
hipossuficiência:

Hipossuficiência Econômica, uma vez que evidente o


desequilíbrio entre a empresa fornecedora, de grande
porte em face da ________ adquirente, em especial pela
situação financeira da empresa que ________ ;

Hipossuficiência Jurídica, uma vez que pelo porte das


empresas já se vislumbra a desigualdade no suporte
jurídico, em que obviamente a empresa fornecedora conta
com equipe interna de Advogados atuando
constantemente, enquanto a empresa contratante conta
com consultorias esporádicas pelo alto custo envolvido;

Hipossuficiência Técnica, uma vez que atuantes em


segmentos manifestamente distintos, fica claro o total
desconhecimento por parte da empresa contratante sobre
as nuances e detalhes do serviço contratado, confirmando
o distanciamento técnico entre ambas as partes.

Destaca-se a VULNERABILIDADE TÉCNICA que se


caracteriza na medida em que, mesmo sendo pessoa jurídica, não dispõe de
conhecimento técnico suficiente para fazer oposição aos argumentos da parte
contrária quanto às impropriedades do produto comprometedores de seu
desempenho, evidenciando o desequilíbrio.
No presente caso, o produto adquirido era para consumo final da
empresa, não fazendo parte da cadeia produtiva do objeto da empresa,
tratando-se de verdadeira destinatária final do produto.

Tem-se, portanto, perfeito enquadramento ao CDC:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Portanto, uma vez que enquadrada como destinatária final dos


serviços prestados pelo réu , bem como evidenciada sua hipossuficiência técnica
em relação ao produto, resta configurado o enquadramento ao direito do
consumidor.

Nesse sentido, confirma a jurisprudência sobre o tema

VULNERABILIDADE TÉCNICA. CONSUMIDOR


PESSOA JURÍDICA. A expressão destinatário final, de
que trata o art. 2º , caput, do Código de Defesa do
Consumidor abrange quem adquire produtos e serviços
para fins não econômicos, e também aqueles que,
destinando-os a fins econômicos, enfrentam o mercado de
consumo em condições de vulnerabilidade. A
vulnerabilidade referida no CDC não é apenas a
econômica, mas, entre outras, também a técnica.
Hipótese em que a parte autora, embora pessoa
jurídica, é tecnicamente vulnerável perante a
requerida, sendo caso de aplicação do CDC à
espécie. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.
DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº
70081360067, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado
em 30/04/2019).

APELAÇÃO - AÇÃO COMINATÓRIA - BANCO


DEPOSITÁRIO - CHEQUE - EX-SÓCIO - RETIRADA -
LIQUIDAÇÃO - OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR -
FOTUITO INTERNO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA
- CDC - BANCOS - APLICAÇÃO. O banco depositário que
recebe cheque emitido por ex-sócio de sociedade
empresária, cuja retirada já havia sido processada,
inclusive na Junta Comercial, e liquida-o, da obrigação de
indenizar a importância do cheque não pode ser furtar,
porquanto liquidou cheque emitido por pessoa não
autorizada, situação própria de fortuito interno, objeto de
responsabilidade objetiva, inerente ao risco do
empreendimento. O CDC aplica-se na relação dos bancos
com seus clientes pessoas jurídicas, sendo a pessoa
jurídica destinatária final do serviço, inexistente a hipótese
de tomada de capital que caracterize insumo. (TJ-MG -
Apelação Cível 1.0000.19.127338-2/001, Relator(a): Des.
(a) Renan Chaves Carreira Machado (JD Convocado),
julgamento em 22/01/2020, publicação da súmula em
23/01/2020)

No presente caso, ainda que o produto seja adquirido para uso na


atividade econômica da empresa, tem-se no presente caso a perfeita
configuração de sua hipossuficiência.

O STJ já vem reiteradamente reconhecendo a mitigação da teoria


finalista para o enquadramento no CDC, nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROMESSA DE COMPRA


E VENDA DE UNIDADE DE APART-HOTEL.
PARALISAÇÃO DAS OBRAS. AÇÃO RESOLUTÓRIA.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
APLICABILIDADE. CONSUMIDOR FINAL.
AFASTAMENTO. INVESTIDOR. TEORIA FINALISTA
MITIGADA. VULNERABILIDADE. AFERIÇÃO.
NECESSIDADE. (...). 3. O adquirente de unidade
imobiliária, mesmo não sendo o destinatário final do bem
e apenas possuindo o intuito de investir ou auferir lucro,
poderá encontrar abrigo da legislação consumerista com
base na teoria finalista mitigada se tiver agido de boa-fé e
não detiver conhecimentos de mercado imobiliário nem
expertise em incorporação, construção e venda de imóveis,
sendo evidente a sua vulnerabilidade. Em outras palavras,
o CDC poderá ser utilizado para amparar concretamente o
investidor ocasional (figura do consumidor investidor),
não abrangendo em seu âmbito de proteção aquele que
desenvolve a atividade de investimento de maneira
reiterada e profissional. 4. (...). 5. Na hipótese, é inegável
que a promissária compradora era investidora, pois tinha
ciência de que as unidades habitacionais não seriam
destinadas ao próprio uso, já que as entregou ao pool
hoteleiro ao anuir ao Termo de Adesão e ao contratar a
constituição da sociedade em conta de participação para
exploração apart-hoteleira, em que integraria os sócios
participantes (sócios ocultos), sendo a Blue Tree Hotels a
sócia ostensiva. Pela teoria finalista mitigada, a Corte local
deveria ao menos aferir a sua vulnerabilidade para fins de
aplicação do CDC. 6. (...). 8. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 1785802/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/02/2019, DJe 06/03/2019)

Nesse sentido, confirma a jurisprudência sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRODUTO
FORA DO PRAZO DE VALIDADE. ABALO À IMAGEM
DO AUTOR. DANO MORAL CONFIGURADO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. Situação dos
autos em que a parte autora adquiriu produtos
alimentícios produzidos pela demandada (picolés) que
estavam com prazo de validade vencido e impróprios para
consumo, frustrando a realização de evento promocional
para o qual foi contratado, prejudicando sua imagem e
atividade profissional de produtor de eventos. Hipótese
que, embora a parte autora não figure tecnicamente como
destinatário final do produto, mostra-se possível a
incidência das normas protetivas do CDC, diante de sua
hipossuficiência e vulnerabilidade em relação à
demandada, aplicando-se a teoria finalista mitigada.
Precedentes do STJ. Circunstância de responsabilidade
pelo vício do produto, em que o demandado responde
objetivamente pelos danos decorrentes, conforme
inteligência do art. 18, §6º, I, do CDC. Prova dos autos
evidencia que, em razão de os picolés estarem com a data
de validade vencida, restou frustrada a realização da ação
promocional de lançamento de um refrigerador para a
qual fora contratado o autor como promotor de eventos.
Demonstração de que o fato prejudicou a imagem do autor
perante o contratante, afetando sua reputação profissional
e causando abalos à sua esfera extrapatrimonial. Danos
morais configurados. Não comporta adequação o valor da
indenização, fixado em R$ 8.000,00, vez que fixado de
acordo com as peculiaridades do caso em concreto, os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, além da
natureza jurídica da indenização. RECURSOS
DESPROVIDOS. (TJ-RS; Apelação Cível, Nº
70082479643, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em: 18-
12-2019)

Assim, uma vez reconhecid a hipossuficiência técnica, tem-


se configurada uma relação de consumo, conforme entendimento doutrinário
sobre o tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor


deve ser interpretado a partir de dois elementos: a) a
aplicação do princípio da vulnerabilidade e b) a
destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e
tendo em vista a teleologia da legislação protetiva deve-
se identificar o consumidor como o destinatário final
fático e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM,
Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT,
2016. Versão ebook. pg. 16)

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das


responsabilidades inerentes à sua atividade, dentre as quais prestar a devida
assistência técnica, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus
consumidores.
DAS PROVAS QUE PRETENDE PRODUZIR

Para demonstrar o direito arguido no presente pedido, o autor


pretende instruir seus argumentos com as seguintes provas:

a) Depoimento pessoal do ________ , para


esclarecimentos sobre ________ , nos termos do Art. 385
do CPC;

b) Ouvida de testemunhas, uma vez que ________ cujo


rol segue abaixo: ________

c) Obtenção dos documentos abaixo indicados, junto ao


________ nos termos do Art. 396 do CPC;

d) Reprodução cinematográfica a ser apresentada em


audiência nos termos do Parágrafo Único do art. 434 do
CPC;

e) Análise pericial da ________ .

Importante esclarecer sobre a indispensabilidade da prova


pericial/testemunhal, pois trata-se de meio mínimo necessário a comprovar o
direito pleiteado, sob pena de grave cerceamento de defesa:

CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DA


PRODUÇÃO DE PROVA ORAL E COMPLEMENTAÇÃO
DE PERÍCIA. Constitui-se cerceamento de defesa o
indeferimento da produção de prova oral e prova técnica
visando comprovar tese da parte autora, considerando o
julgamento de improcedência do pedido relacionado a
produção da prova pretendida. (TRT-4 - RO:
00213657920165040401, Data de Julgamento:
23/04/2018, 5ª Turma)

Tratam-se de provas necessárias ao contraditório e à ampla defesa,


conforme dispõe o Art. 369 do Novo CPC, "As partes têm o direito de
empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos
fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz."

Trata-se da positivação ao efetivo exercício do contraditório e da


ampla defesa disposto no Art. 5º da Constituição Federal:

"Art. 5º (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;(...)"

A doutrina ao disciplinar sobre este princípio destaca:

"(...) quando se diz "inerentes" é certo que o


legislador quis abarcar todas as medidas
passíveis de serem desenvolvidas como estratégia
de defesa. Assim, é inerente o direito de apresentar as
razões da defesa perante o magistrado, o direito de
produzir provas, formular perguntas às testemunhas e
quesitos aos peritos, quando necessário, requerer o
depoimento pessoal da parte contrária, ter acesso aos
documentos juntados aos autos e assim por diante." (DA
SILVA, Homero Batista Mateus. Curso de Direito do
Trabalho Aplicado - vol. 8 - Ed. RT, 2017. Versão ebook.
Cap. 14)

Para tanto, o autor pretende instruir o presente com as provas


acima indicadas, sob pena de nulidade do processo.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a


configuração da necessária inversão do ônus da prova, conforme disposição
expressa do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a


facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade


ou grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor,
sendo amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova
implementada pelo Novo Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova
de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

No presente caso a HIPOSSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA fica


caracteriza diante da ________ .

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o


qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os
limites de sua desigualdade. Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão
do ônus da prova para viabilizar o acesso à justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA DE


REVISÃO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
CONFISSÃO DE DÍVIDA. INVERSÃO DO ÔNUS A
PROVA. POSSIBILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.
PRESENTE O REQUISITO DO ART. 6º, INCISO VIII, DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL. RECURSO
DESPROVIDO. (a) O Código de Defesa do
Consumidor adotou a teoria da distribuição
dinâmica do ônus da prova. Assim, a inversão do ônus
nesse microssistema não se aplica de forma automática a
todas as relações de consumo, mas depende da
demonstração dos requisitos da verossimilhança da
alegação ou da hipossuficiência do 16ª Câmara Cível -
TJPR 2 consumidor, consoante dispõe o art. 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Os elementos
que constam dos autos são suficientes para
demonstrar que a autora encontrará dificuldade
técnica para comprovar suas alegações em juízo,
uma vez que pretendem a revisão de vários
contratos, os quais não estão em seu poder. (b)
Insta salientar que os requisitos da verossimilhança das
alegações e da hipossuficiência não são cumulativos,
portanto, a presença de um deles autoriza a inversão do
ônus da prova. (TJPR - 16ª C.Cível - 0020861-
59.2018.8.16.0000 - Paranaguá - Rel.: Lauro Laertes de
Oliveira - J. 08.08.2018)

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma


vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível
concessão do direito à inversão do ônus da prova, que desde já requer.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do Art. 300 do CPC/15, "a tutela de urgência será


concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo."

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados,


vejamos:

A PROBABILIDADE DO DIREITO resta caracterizada diante


da demonstração inequívoca de que ________ .
Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para
aguardar o desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há


racionalidade em obrigar o autor a esperar o tempo
necessário à produção da provas dos fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos, uma vez que o autor já se
desincumbiu do ônus da prova e a demora inerente à
prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu certamente o
beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de
Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)

Já o RISCO DA DEMORA, fica caracterizado pela ________ ,


ou seja, tal circunstância confere grave risco de perecimento do resultado útil do
processo, conforme leciona Humberto Theodoro Júnior:

"um risco que corre o processo principal de não


ser útil ao interesse demonstrado pela parte", em
razão do "periculum in mora", risco esse que deve ser
objetivamente apurável, sendo que e a plausibilidade do
direito substancial consubstancia-se no direito "invocado
por quem pretenda segurança, ou seja, o "fumus boni
iuris" (in Curso de Direito Processual Civil, 2016. I. p.
366).

Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza


conduta irreversível, não conferindo nenhum dano ao réu .

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado


receio de dano irreparável, sendo imprescindível a ________ , nos termos do
Art. 300 do CPC.
DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente atualmente é ________ , tendo sob sua


responsabilidade a manutenção de sua família, razão pela qual não poderia
arcar com as despesas processuais.

Ademais, em razão da pandemia, após a política de distanciamento


social imposta pelo Decreto ________ nº ________ (em anexo), o
requerente teve o seu contrato de trabalho reduzido, com redução do seu salário
em ________ , agravando drasticamente sua situação econômica.

Desta forma, mesmo que seus rendimentos sejam superiores ao


que motiva o deferimento da gratuidade de justiça, neste momento excepcional
de reduçào da sua remuneração, o autor se encontra em completo descontrole
de suas contas, em evidente endividamento.

Como prova, junta em anexo ao presente pedido ________ .

Para tal benefício o autor junta declaração de hipossuficiência e


comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das
custas judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do
Art. 99 Código de Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na petição
para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá
seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver


nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de


insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa
natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus o Requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE


SEGURANÇA - JUSTIÇA GRATUITA - Assistência
Judiciária indeferida - Inexistência de elementos nos
autos a indicar que o impetrante tem condições de
suportar o pagamento das custas e despesas
processuais sem comprometer o sustento próprio
e familiar, presumindo-se como verdadeira a
afirmação de hipossuficiência formulada nos
autos principais - Decisão reformada - Recurso provido.
(TJSP; Agravo de Instrumento 2083920-
71.2019.8.26.0000; Relator (a): Maria Laura Tavares;
Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro
Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de
Registro: 23/05/2019
Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do
requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de


necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou
faturamento máximos. É possível que uma pessoa
natural, mesmo com bom renda mensal, seja merecedora
do benefício, e que também o seja aquela sujeito que é
proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez.
A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de
viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito
tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens,
liquidando-os para angariar recursos e custear o
processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed.
Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário


que a parte seja pobre ou necessitada para que
possa beneficiar-se da gratuidade da justiça.
Basta que não tenha recursos suficientes para pagar as
custas, as despesas e os honorários do processo. Mesmo
que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se estes bens
não têm liquidez para adimplir com essas despesas, há
direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo
Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos
Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 98)
Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição
Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao
requerente.

A existência de patrimônio imobilizado, no qual vive a sua família


não pode ser parâmetro ao indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E/OU DISSOLUÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL OU CONCUBINATO. REVOGAÇÃO DA
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. (...) Argumento da
titularidade do Agravante sobre imóvel, que não
autoriza o indeferimento do benefício da
gratuidade de justiça, pois se trata de patrimônio
imobilizado, não podendo ser indicativo de
possibilidade e suficiência financeira para arcar
com as despesas do processo, sobretudo, quando
refere-se a pessoa idosa a indicar os pressupostos à
isenção do pagamento de custas nos termos do art. 17,
inciso X da Lei n.º 3.350/1999. Direito à isenção para o
pagamento das custas bem como a gratuidade de justiça
no que se refere a taxa judiciária. Decisão merece reforma,
restabelecendo-se a gratuidade de justiça ao réu agravante.
CONHECIMENTO DO RECURSO E PROVIMENTO DO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. (TJRJ, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 0059253-21.2017.8.19.0000, Relator(a):
CONCEIÇÃO APARECIDA MOUSNIER TEIXEIRA DE
GUIMARÃES PENA, VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL,
Julgado em: 28/02/2018, Publicado em: 02/03/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO


MONOCRÁTICA. AÇÃO DE USUCAPIÃO. BENEFÍCIO
DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. COMPROVAÇÃO DA
NECESSIDADE. DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO. -
Defere-se o benefício da gratuidade da justiça sem outras
perquirições, se o requerente, pessoa natural, comprovar
renda mensal bruta abaixo de Cinco Salários Mínimos
Nacionais, conforme novo entendimento firmado pelo
Centro de Estudos do Tribunal de Justiçado Rio Grande do
Sul, que passo a adotar (enunciado nº 49). - A condição
do agravante possuir estabelecimento comercial
não impossibilita que seja agraciado com a
gratuidade de justiça, especialmente diante da
demonstração da baixa movimentação financeira
da microempresa de sua propriedade. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº
70076365923, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em
10/01/2018).

Afinal, o Requerente possui inúmeros compromissos financeiros


que inviabilizam o pagamento das custas sem comprometer sua subsistência,
veja:

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ...

Ou seja, apesar do patrimônio e renda elevada, todo valor auferido


mensalmente esta comprometido, inviabilizando suprir a custas processuais.
DA GRATUIDADE DOS EMOLUMENTOS

O artigo 5º, incs. XXXIV e XXXV da Constituição Federal assegura


a todos o direito de acesso à justiça em defesa de seus direitos,
independente do pagamento de taxas, e prevê expressamente ainda que a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Ao regulamentar tal dispositivo constitucional, o Código de


Processo Civil prevê:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma
da lei.

§ 1º A gratuidade da justiça compreende:


(...)

IX - os emolumentos devidos a notários ou


registradores em decorrência da prática de
registro, averbação ou qualquer outro ato notarial
necessário à efetivação de decisão judicial ou à
continuidade de processo judicial no qual o benefício
tenha sido concedido.

Portanto, devida a gratuidade em relação aos emolumentos


extrajudiciais exigidos pelo Cartório. Nesse sentido são os precedentes sobre o
tema:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
BENEFICIÁRIO DA AJG. EXECUÇÃO DE SENTENÇA.
REMESSA À CONTADORIA JUDICIAL PARA
CONFECÇÃO DE CÁLCULOS. DIREITO DO
BENEFICIÁRIO INDEPENDENTEMENTE DA
COMPLEXIDADE. 1. Esta Corte consolidou jurisprudência
no sentido de que o beneficiário da assistência judiciária
gratuita tem direito à elaboração de cálculos pela
Contadoria Judicial, independentemente de sua
complexidade. Precedentes. 2. Recurso especial a que se
dá provimento. (STJ - REsp 1725731/RS, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 07/11/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


EMOLUMENTOS DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL.
ABRANGÊNCIA. Ação de usucapião. Decisão que
indeferiu o pedido de isenção dos emolumentos, taxas e
impostos devidos para concretização da transferência de
propriedade do imóvel objeto da ação à autora, que é
beneficiária da gratuidade da justiça. Benefício que se
estende aos emolumentos devidos em razão de
registro ou averbação de ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial (art. 98, § 1º, IX, do
CPC). (...). Decisão reformada em parte. AGRAVO
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2037762-55.2019.8.26.0000; Relator (a):
Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 3ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Santos - 10ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 14/08/2014; Data de Registro: 22/03/2019)

Assim, por simples petição, uma vez que inexistente prova da


condição econômica do Requerente, requer o deferimento da gratuidade dos
emolumentos necessários para o deslinde do processo.
DOS PEDIDOS

Isso posto, requer a Vossa Excelência:

1. A concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, por


ser o Autor pobre na acepção legal do termo;

2. A citação dos réus para, querendo, responder a presente ação;

3. A total procedência da presente demanda com a declaração da


resolução do contrato, a determinação de devolução imediata
dos valores pagos devidamente atualizados, acrescidos de
multa contratual;

4. Cumulativamente, requer seja o Réu condenado a pagar R$


________ por danos materiais e por danos morais em valor
não inferior a R$ ________ , considerando os fatos acima
narrados;

5. A produção de todas as provas admitidas em direito;

6. A inversão do ônus da prova, uma vez que ________ , com a


exigência ao Réu que apresente ________ ;

7. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios


nos parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC.

8. Requer que as intimações ocorram EXCLUSIVAMENTE em


nome do Advogado ________ , OAB ________ .

Por fim, manifesta o ________ na audiência conciliatória, nos termos do Art.


319, inc. VII do CPC.
Dá-se à causa o valor R$ ________ .

Nestes Termos, Pede Deferimento.

________ , ________ .

________

ANEXOS

1. Comprovante de renda

2. Declaração de hipossuficiência

3. Cópia do RG e CPF do Autor

4. Comprovante de residência do Autor

5. Procuração

6. Custas Judiciais

7. Cópia do contrato

8. Prova da notificação e resposta do Réu


9. Provas do alegado

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