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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA
SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE

ESPÍRITO SANTO
SERVIÇO SOCIAL E SÁUDE1

https://trxonline.com.br/portal/geral/assistente-social-de-terra-roxa-se-destaca-em-projeto-de-acao-voluntaria-na-bahia/

Para a análise do Serviço Social e Saúde na atualidade é necessário recuperar os


avanços e lacunas ocorridos na profissão a partir dos anos de 1980. Essa década marca o
início da maturidade da tendência hegemônica na academia e nas entidades representativas
da categoria – intenção de ruptura – e, com isso, a interlocução real com a tradição marxista.
No entanto, os profissionais dessa vertente se inserem, na sua maioria, nas universidades e
têm pouca capilaridade nos serviços (NETTO, 1996a; BRAVO, 1996).
Na saúde, os avanços conquistados pela profissão no exercício profissional são
considerados insuficientes, pois o Serviço Social chega à década de 1990 ainda com uma
incipiente alteração do trabalho institucional; continua enquanto categoria desarticulada do
Movimento da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e organizada ocupação na máquina
do Estado pelos setores progressistas da profissão (encaminhamento operacionalizado pela
Reforma Sanitária) e insuficiente produção sobre “as demandas postas à prática em saúde”
(BRAVO, 1996).

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Texto extraído no link:
www.cfess.org.br/.../Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.p.

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Considerando que os anos de 1990 foram o período de implantação e êxito ideológico
do projeto neoliberal no país, identifica-se que, nesse contexto, os dois projetos políticos em
disputa na área da saúde, passam a apresentar diferentes requisições para o Serviço Social20
(BRAVO, 1998).
O projeto privatista vem requisitando ao assistente social, entre outras demandas, a
seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento,
ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo por meio da ideologia
do favor e predomínio de práticas individuais.
Entretanto, o projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas que o
assistente social trabalhe as seguintes questões: democratização do acesso as unidades e
aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade;
trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às informações
e estímulo à participação popular.

http://casadesantaana.blogspot.com.br/p/programa-de-atendimento-integral.html

Destaca-se, a partir do exposto, que há uma relação entre o projeto ético-político e o de


reforma sanitária, principalmente, nos seus grandes eixos: principais aportes e referências
teóricas, formação profissional e princípios. Os dois projetos são construídos no processo de
redemocratização da sociedade brasileira e se consolidam na década de 1980. As demandas
democráticas e populares, a mobilização e organização dos trabalhadores urbanos e rurais

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colocam na agenda política brasileira a exigência de transformações políticas e sociais e a
necessidade de articulação dos projetos profissionais aos projetos societários que são
propostos para o conjunto da sociedade.
Atualmente, identifica-se que alguns importantes desafios devem ser enfrentados.
Os dois projetos políticos existentes na saúde continuam em disputa (o projeto da
reforma sanitária versus o projeto privatista). O atual governo ora fortalece o primeiro projeto,
ora mantém a focalização e o de financiamento, característicos do segundo. Percebe-se,
entretanto, uma ênfase maior no projeto privatista.

http://www.upb.org.br/noticias/definida-agenda-para-as-conferencias-de-assistencia-social/

Serviço Social não passa ao largo dessa tensão. Ao mesmo tempo em que a década
de 1990 é marcada pela hegemonia da tendência à intenção de ruptura e, não por acaso,
quando o Serviço Social atinge sua maioridade intelectual; é também, nesta mesma década,
que se identifica a ofensiva conservadora a esta tendência. O questionamento à tendência à
intenção de ruptura afirma que o marxismo não apresenta respostas para o conjunto dos
desafios postos à profissão pela contemporaneidade. Segundo Netto (1996a), as críticas
apresentam em comum o fato de apontarem como problemas o dogmatismo, quando de fato
trata-se de ortodoxia, e os equívocos da tradição marxista, quando na realidade tratar-se-ia de
possíveis lacunas dessa tradição no âmbito do Serviço Social.
Na saúde, em que esse embate claramente se expressa, a crítica ao projeto
hegemônico da profissão passa pela reatualizarão do discurso da cisão entre o estudo teórico
e a intervenção, pela descrença da possibilidade da existência de políticas públicas e,

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sobretudo, na suposta necessidade da construção de um saber específico na área, que
caminha tanto para a negação da formação original em Serviço Social ou deslancha para um
trato exclusivo de estudos na perspectiva da divisão clássica da prática médica.

http://www.revistaapolice.com.br/2016/07/novos-servicos-de-assistencia-social-psicologica-e-nutricional/

Sobre o último eixo assinalado, cabe aqui apresentar três expressões. A primeira é a
constatação de que ainda existe na categoria segmentos de profissionais que, ao realizarem
a formação em saúde pública, passam a não se considerarem como assistentes sociais,
recuperando uma auto apresentação de sanitaristas. A segunda tendência, na atualidade com
mais vigor, é a de resgatar no exercício profissional um privilegiamento da intervenção no
âmbito das tensões produzidas subjetivamente pelos sujeitos e tem sido autodenominada
pelos seus executores como Serviço Social Clínico. E, por fim, percebe-se, gradativamente, o
discurso da necessidade da criação de entidades ou da realização de fóruns de capacitação e
debates dedicados a importância da produção do conhecimento sobre o Serviço Social nas
diferentes áreas de especialização da prática médica, de forma fragmentada.
Sobre esses pontos, cabem algumas reflexões. O problema não reside no fato dos
profissionais de Serviço Social buscarem aprofundamentos na área da saúde, o que é
importante. O dilema se faz presente quando este profissional, devido aos méritos de sua

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competência, passa a exercer outras atividades (direção de unidades de saúde, controle dos
dados epidemiológicos, entre outros) e não mais as identifica como as de um assistente social.
Assim, o profissional recupera – por vezes impensadamente – uma concepção de que fazer
Serviço Social é exercer o conjunto de ações que historicamente lhe é dirigido na divisão do
trabalho coletivo em saúde. Este consistiria apenas na ação direta com os usuários, o que
Netto (1990) denomina de execução terminal da política social. As novas demandas como
gestão, assessoria e a pesquisa, consideradas como transversal ao trabalho profissional e
explicitadas na Lei de Regulamentação da Profissão (1993) e nas Diretrizes Curriculares da
ABEPSS (1996), na maioria das vezes, não são assumidas como competências ou atribuições
profissionais.

http://fatmasocial.blogspot.com.br/2015/07/a-profissao-de-assistente-social-em.html

Outra questão é a tentativa de obscurecer a função social da profissão na divisão social


e técnica do trabalho, pois o problema não está no uso de referências que abordam o campo
desconsiderar as dimensões subjetivas vividas pelo usuário25 e nem se reduzir a defesa de
uma suposta particularidade entre o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais nas
diferentes especialidades da medicina. Esta última perspectiva fragmenta a ação do assistente
social na saúde e reforça a concepção de especialização nas diversas áreas médicas e

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distintas patologias, situação que tem sido colocada pelas demais profissões de saúde como
necessária de superação.

http://www.faculdade.net/pos-graduacao-de-gestao-em-servico-social/

As novas diretrizes das diversas profissões têm ressaltado a importância de formar


trabalhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde, com visão generalista e não
fragmentada. Sobre doenças, mas sim quando este profissional, no cotidiano de seu trabalho
profissional, se distancia do objetivo da profissão, que na área da saúde passa pela
compreensão dos determinantes sociais, econômicos e culturais que interferem no processo
saúde-doença e na busca de estratégias político-institucionais para o enfrentamento dessas
questões.
O exercício profissional do assistente social não deve desconsiderar as dimensões
subjetivas vividas pelo usuário e nem se reduzir a defesa de uma suposta particularidade entre
o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais nas diferentes especialidades da medicina.
Esta última perspectiva fragmenta a ação do assistente social na saúde e reforça a concepção
de especialização nas diversas áreas médicas e distintas patologias, situação que tem sido
colocada pelas demais profissões de saúde como necessária de superação. As novas

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diretrizes das diversas profissões têm ressaltado a importância de formar trabalhadores de
saúde para o Sistema Único de Saúde, com visão generalista e não fragmentada.
Outra preocupação que se coloca é a necessidade de sujeitos históricos individuais e
coletivos não caírem no possibilismo, que significa flexibilizar os princípios defendidos no
projeto ético-político profissional e na proposta de Reforma Sanitária com vistas a assegurar
pequenos ganhos políticos, “a partir de concessões e revisionismos teórico-políticos” (BRAZ,
2004).

https://br.financas.yahoo.com/fotos/as-9-carreiras-que-mais-causam-depress%C3%A3o-1354554810-slideshow/assistente-social-photo-
1639989855.html

Essa é uma realidade que está posta na saúde, nos movimentos sociais e tem
repercutido no Serviço Social, devendo ser problematizada à luz dos princípios e diretrizes do
projeto ético político do Serviço Social brasileiro.
Na saúde, a grande bandeira continua sendo a implementação do projeto de Reforma
Sanitária, construído a partir de meados dos anos de 1970, uma vez que esse projeto tem
relação direta com o projeto profissional dos assistentes sociais, como já foi explicitado
anteriormente. Identificar os impasses para a efetivação desses projetos deve ser uma
preocupação central.

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Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social – numa ação necessariamente
articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de
Saúde (SUS) – formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços
de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando que o trabalho do assistente social
que queira ter como norte o projeto- ético político profissional tem de, necessariamente, estar
articulado ao projeto da reforma sanitária (MATOS, 2003; BRAVO; MATOS, 2004). Considera-
se que o Código de Ética da profissão apresenta ferramentas imprescindíveis para o trabalho
dos assistentes sociais na saúde em todas as suas dimensões: na prestação de serviços
diretos à população, no planejamento, na assessoria, na gestão e na mobilização e
participação social.

http://www1.imip.org.br/imip/assistenciaesaude/diagnosticoeterapia/servicosocial.html

Pensar e realizar uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde
consiste em:
• estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam
pela real efetivação do SUS;
• conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes
sociais que interferem no processo saúde-doença;
• facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e da
rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa não submeter

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à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que
descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no projeto de Reforma
Sanitária;
• buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da
atenção em saúde;
• estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a
articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos serviços e
do atendimento às necessidades sociais;
• tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde,
espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas
decisões a serem tomadas;
• elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica
e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre temáticas
relacionadas à saúde;
• efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar
a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das políticas
sociais, ampliando os canais de participação da população na formulação, fiscalização e
gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos conquistados.

http://www.redelucymontoro.org.br/site/composicao-da-equipe-de-reabilitacao/servico-social.html

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Enfim, não existem fórmulas prontas na construção de um projeto democrático e a sua
defesa não deve ser exclusiva apenas de uma categoria profissional. Por outro lado, não se
pode ficar acuado frente aos obstáculos que se apresentam na atualidade e nem
desconsiderar que há um conjunto de atividades e alternativas a serem desenvolvidas pelos
profissionais de Serviço Social. Mais do que nunca, os assistentes sociais estão desafiados a
encarar a defesa da democracia, das políticas públicas e consubstanciar um trabalho – no
cotidiano e na articulação com outros sujeitos que partilhem destes princípios – que questione
as perspectivas neoliberais para a saúde e para as políticas sociais, já que este macula direitos
e conquistas da população defendidos pelo projeto ético-político profissional.

ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS
DE ASSISTENTES SOCIAIS

http://efnl.no.comunidades.net/ativ-da-escola

As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social, sejam aquelas


realizadas na saúde ou em outro espaço sócio ocupacional, são orientadas e norteadas por
direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da

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Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos profissionais quanto pelas
instituições empregadoras. No que se refere aos direitos dos assistentes sociais, o artigo 2º
do Código de Ética assegura:
a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de
Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;
b) livre exercício das atividades inerentes à profissão;
c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais e na formulação e
implementação de programas sociais;
d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,
garantindo o sigilo profissional;
e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos princípios
deste Código;
g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar de
assuntos de interesse da população;
h) ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar serviços
profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;
i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de
participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

https://www.unit.br/cursos/cursos-graduacao/servico-social/

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No que se refere aos deveres profissionais, o artigo 3º do Código de Ética estabelece:
a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,
observando a legislação em vigor;
b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão;
c) abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o
cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência
aos órgãos competentes.

O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional (conforme


estabelecido nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, 1996), demanda uma atuação
profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação das determinações
sociais, econômicas e culturais das desigualdades sociais. A intervenção orientada por esta
perspectiva teórico-política pressupõe: leitura crítica da realidade e capacidade de
identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito
do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta
e organização dos trabalhadores em defesa de seus direitos; formulação e construção coletiva,
em conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas para modificação da
realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos
financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e à ampliação dos direitos.

http://www.rondonia.ro.gov.br/2014/02/3293/

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As competências e atribuições dos assistentes sociais, nessa direção e com base na
Lei de Regulamentação da Profissão, requisitam do profissional algumas competências gerais
que são fundamentais à compreensão do contexto sócio histórico em que se situa sua
intervenção, a saber:
• apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das relações
sociais numa perspectiva de totalidade;
• análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as
particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as particularidades regionais;
• compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio
histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas
na realidade;
• identificação das demandas presentes na sociedade, visando formular respostas
profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações
entre o público e o privado (ABEPSS, 1996).

http://www.noticiasdecontagem.com.br/news-item/sos-drogas-comple/

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São essas competências que permitem ao profissional realizar a análise crítica da
realidade, para, a partir daí, estruturar seu trabalho e estabelecer as competências e
atribuições específicas necessárias ao enfrentamento das situações e demandas sociais que
se apresentam em seu cotidiano.
A Lei de Regulamentação da Profissão estabelece, no seu artigo 4º, como competências
do assistente social:
• elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto à órgãos da
administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;
• elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam de
âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
• encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população;

http://deolhoemmipibu.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html

• orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar


recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;
• planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;

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• planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da
realidade social e para subsidiar ações profissionais;
• prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta, indireta,
empresas privadas e outras entidades;
• prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas
sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;
• planejamento, organização e administração de serviços sociais e de Unidade de
Serviço Social;
• realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços
sociais junto aos órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras
entidades.

http://www.ricardobanana.com/atuacao-do-servico-social-reforca-atendimento-humanizado-aos-usuarios-do-hdm-hrj-e-upae/

No artigo 5º, apresenta como atribuições privativas do Assistente Social:


• coordenar, planejar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos,
programas e projetos na área de Serviço Social;
• planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço
Social;

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• assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas
privadas e outras entidades em matéria de Serviço Social;
• realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a
matéria de Serviço Social;
• assumir, no magistério de Serviço Social, tanto a nível de graduação quanto pós-
graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de
formação regular;
• treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;
• dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e
pós-graduação;

http://www.camacari.ba.gov.br/portal/detalhe_noticia.php?cod_noticia=22569

• dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço


Social;
• elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de
concursos e outras formas de seleção para assistentes sociais, ou onde sejam aferidos
conhecimentos inerentes ao Serviço Social;

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• coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre
assuntos de Serviço Social;
• fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e Regionais;
• dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;

http://cursosabrafordes.com.br/curso-perito-social

• ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e


entidades representativas da categoria profissional.
O Código de Ética Profissional (1993) também apresenta ferramentas fundamentais
para a atuação profissional no cotidiano, ao colocar como princípios:
• reconhecimento da liberdade como valor ético central:
• defesa intransigente dos direitos humanos;
• ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais
e políticos das classes trabalhadoras;
• defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização política e da riqueza
socialmente produzida;

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• posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de
acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão
democrática;
• empenho na eliminação de todas as formas de preconceito;
• garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais democráticas
existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento
intelectual;
• opção por um projeto vinculado ao processo de construção de uma nova ordem
societária, sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero;
• articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos
princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores;
• compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
• exercício do Serviço Social sem discriminação. Esses instrumentos legais são
fundamentais para a delimitação das atribuições e competências dos assistentes sociais na
saúde que serão abordadas a seguir.

PARÂMETROS PARA A ATUAÇÃO DE ASSISTENTES


SOCIAIS NA SAÚDE

http://revistaicone.com/home/claretianas-realizam-semana-de-servico-social/

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Para explicitar os parâmetros de atuação profissional na saúde é importante caracterizar
o entendimento de ação profissional que, segundo Mioto (2006 apud MIOTO; NOGUEIRA,
2006), se estruturam sustentadas no conhecimento da realidade e dos sujeitos para os quais
são destinadas, na definição dos objetivos, na escolha de abordagens e dos instrumentos
apropriados às abordagens definidas. A ação profissional, portanto, contém os fundamentos
teórico-metodológicos e ético-políticos construídos pela profissão em determinado momento
histórico e os procedimentos técnico-operativos.
O projeto ético-político da profissão, construído nos últimos trinta anos, pauta-se na
perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de sua fundamentação como
já foi referido. Alguns conceitos são fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde
como a concepção de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a
interdisciplinaridade, já ressaltados no primeiro item deste documento.

http://cursosabrafordes.com.br/area-servico-social

O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990


ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a saúde é direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar como fatores

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determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e
o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do País” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º).
Essas expressões da questão social devem ser compreendidas, segundo Lamamoto
(1982), como o conjunto das desigualdades da sociedade capitalista, que se expressam por
meio das determinações econômicas, políticas e culturais que impactam as classes sociais.
Ao defender essa concepção de saúde, o movimento de Reforma Sanitária salientou a
importância da determinação social sustentada nas categorias de trabalho e reprodução social
da vida. Nessa concepção, é fundamental o contexto e as condições sociais que impactam o
processo saúde-doença.

http://oliveira-servicosocial.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html

Aliás, é também por isso que a saúde do trabalhador vem se apresentando como uma
importante área de atuação do assistente social nas últimas décadas. A dimensão social e
histórica do trabalho ganha relevância nos determinantes das condições de saúde do
trabalhador, com a complexidade da realidade atual, marcada pela precarização das condições
de trabalho, aumento do mercado informal, flexibilização das relações de trabalho e restrição
de direitos.

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A saúde do trabalhador envolve o coletivo de trabalhadores, inserido no processo
saúde/doença no trabalho, não abrangendo apenas àqueles que têm o adoecimento neste
processo. Exige o desenvolvimento de ações de atendimento, prevenção e promoção da
saúde, de fiscalização do ambiente e condições de trabalho, defesa das condições ambientais,
de acesso aos direitos previdenciários e trabalhistas envolvendo diferentes atores.
O assistente social atua no atendimento aos trabalhadores, seja individual ou em grupo,
na pesquisa, no assessoramento e na mobilização dos trabalhadores, compondo muitas
vezes, equipe multiprofissional. Os desafios são muitos. Apesar dos avanços, a exemplo da
realização da III Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador em 2005, muito tem de se
construir na implementação da política e no combate a atuação segmentada dos diferentes
órgãos e instituições, como órgãos públicos da saúde, previdência social, trabalho e emprego,
poder judiciário, empregadores, pesquisadores, movimentos dos trabalhadores, com destaque
para a organização sindical, entre outros. É um campo privilegiado de atuação para o
assistente social – que com a direção social adotada pela profissão nas últimas décadas e com
a atuação conjunta com outros profissionais e movimentos sociais que compartilhem dos
princípios e diretrizes defendidos pelo projeto ético político –, o qual contribuirá para o
fortalecimento dos trabalhadores enquanto sujeitos históricos neste processo.

http://www.prosaude.org.br/noticias_ver.asp/478

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Já nas equipes de saúde mental, o assistente social deve contribuir para que a Reforma
Psiquiátrica alcance seu projeto ético-político. Nessa direção, os profissionais de Serviço
Social vão enfatizar as determinações sociais e culturais, preservando sua identidade
profissional. Não se trata de negar que as ações do assistente social no trato com os usuários
e familiares produzam impactos subjetivos, o que se põe em questão é o fato do assistente
social tomar por objeto a subjetividade, o que não significa abster-se do campo da saúde
mental, pois cabe ao assistente social diversas ações desafiantes frente às requisições da
Reforma Psiquiátrica tanto no trabalho com as famílias, na geração de renda e trabalho, no
controle social, na garantia de acesso aos benefícios (ROBAINA, 2009).
Os assistentes sociais na saúde atuam em quatro grandes eixos: atendimento direto
aos usuários; mobilização, participação e controle social; investigação, planejamento e gestão;
assessoria, qualificação e formação profissional. A partir do exposto, se explicitará as
principais ações desenvolvidas pelo assistente social nesses quatro eixos. Importante destacar
que esses eixos não devem ser compreendidos de forma segmentada, mas articulados dentro
de uma concepção de totalidade.

ATENDIMENTO DIRETO AOS USUÁRIOS

http://mundodapsi.com/centros-atencao-psicossocial-caps/

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O atendimento direto aos usuários se dá nos diversos espaços de atuação profissional
na saúde, desde a atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média
e alta complexidade, e ganham materialidade na estrutura da rede de serviços brasileira a
partir das unidades da Estratégia de Saúde da Família, dos postos e centros de saúde,
policlínicas, institutos, maternidades, Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), hospitais gerais,
de emergência e especializados, incluindo os universitários, independente da instância a qual
é vinculada seja federal, estadual ou municipal.
As ações que predominam no atendimento direto são as ações socioassistenciais, as
ações de articulação interdisciplinar e as ações socioeducativas. Essas ações não ocorrem de
forma isolada, mas integram o processo coletivo do trabalho em saúde, sendo complementares
e indissociáveis.
Cabe ressaltar, entretanto, que para a realização das ações explicitadas é fundamental
a investigação, considerada transversal ao trabalho profissional; o planejamento; a mobilização
e a participação social dos usuários para a garantia do direito à saúde, bem como a assessoria
para a melhoria da qualidade dos serviços prestados e a supervisão direta aos estudantes de
Serviço Social.

AÇÕES SOCIOASSISTENCIAIS

http://www.redemunicipiosps.org.br/wordpress/?p=1014

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Essas ações têm-se constituído como as principais demandas aos profissionais de
Serviço Social. Segundo Costa (2000), a inserção dos assistentes sociais nos serviços de
saúde é mediada pelo reconhecimento social da profissão e por um conjunto de necessidades
que se definem e redefinem a partir das condições históricas sob as quais a saúde pública se
desenvolveu no Brasil. A implementação do SUS, a partir dos anos de 1990, vai exigir novas
formas de organização do trabalho em saúde, a partir das reivindicações históricas do
movimento sanitário, que são exemplos a universalização, a descentralização e a participação
popular.
Entretanto, novas contradições são criadas com a contrarreforma na saúde, que tentam
não viabilizar o SUS constitucional, acarretando, no cotidiano dos serviços, diferentes questões
operativas: demora no atendimento, precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na
assistência médica curativa, problemas com a qualidade e quantidade de atendimento, não
atendimento aos usuários. Essas questões vão aparecer no cotidiano dos serviços por meio
das seguintes demandas explícitas:
• solução quanto ao atendimento (facilitar marcação de consultas e exames, solicitação
de internação, alta e transferência);
• reclamação com relação a qualidade do atendimento e/ou ao não atendimento
(relações com a equipe, falta de medicamentos e exames diagnósticos, ausência de referência
e contra referência institucional, baixa cobertura das ações preventivas, entre outros);
• desigualdade na distribuição e cobertura dos serviços de saúde, nos municípios e entre
os municípios, obrigando a população a ter de fazer grandes deslocamentos para tentar
acesso aos serviços;
• agravamento das situações de morbidade e mortalidade por doenças passíveis de
prevenção.

Outras demandas referem-se às condições reais de vida dos usuários que se


apresentam como: desemprego e subemprego; ausência de local de moradia; violência
urbana, doméstica e acidentes de trabalho; abandono do usuário.
As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais devem transpor o caráter
emergencial e burocrático, bem como ter uma direção socioeducativa por meio da reflexão
com relação às condições sócio históricas a que são submetidos os usuários e mobilização
para a participação nas lutas em defesa da garantia do direito à Saúde.

25
http://www.americobrasiliense.sp.gov.br/site/caps-realiza-1a-roda-de-conversa-de-saude-mental-mitos-e-verdades/

O profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências para estabelecer


prioridades de ações e estratégias, a partir de demandas apresentadas pelos usuários, de
dados epidemiológicos e da disponibilidade da equipe de saúde para ações conjuntas. As
demandas emergenciais, se não forem reencaminhadas para os setores competentes por meio
do planejamento coletivo elaborado na unidade, vão impossibilitar ao assistente social o
enfoque nas suas ações profissionais. A elaboração de protocolos que definem o fluxo de
encaminhamentos para os diversos serviços na instituição é fundamental.
A avaliação socioeconômica dos usuários tem por objetivo ser um meio que possibilite
a mobilização dos mesmos para a garantia de direitos e não um instrumento que impeça o
acesso aos serviços, ou seja, deve se buscar evitar que a avaliação socioeconômica funcione
como critério de elegibilidade e/ou seletividade estrutural, ainda que considerando os limites
institucionais.

http://www.uba.mg.gov.br/Materia_especifica/90841/Forum-Permanente-de-Saude-Mental-tem-primeiro-encontro-deste-ano

26
As visitas domiciliares são importantes instrumentos a serem utilizados por assistentes
sociais porque favorece uma melhor compreensão acerca das condições de vida dos usuários,
que envolvem a situação de moradia (residência e bairro) e as relações familiares e
comunitárias. Portanto, faz com que o profissional, a partir do conhecimento da realidade do
usuário, tenha mais elementos para buscar o alargamento dos direitos sociais que podem ser
acessados por esse usuário. Nesse sentido, não pode ser utilizada como meio de verificação
de dados fornecidos pelo usuário. Deve-se superar qualquer perspectiva de fiscalização dos
modos de vida da população, que também envolvem sua cultura e suas rotinas.

http://www.prefeiturademossoro.com.br/blog/desenvolvimento-social/928

Não cabe ao profissional de Serviço Social se utilizar no exercício de suas funções de


terapias individuais, de grupo, de família ou comunitárias, mas sim potencializar a orientação
social com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais.
É importante ressaltar essa questão, pois alguns segmentos profissionais vêm se dedicando à
terapia familiar e individual, reivindicando o reconhecimento do campo psíquico enquanto
ampliação do espaço ocupacional do assistente social, qualificando-o de Serviço Social
Clínico, conforme já referido. Essa abordagem é anunciada como uma ressignificação do
Serviço Social de Casos, apoiada numa visão “holística do ser humano”. Ressalta-se que
essas ações fogem ao âmbito da competência do assistente social, pois não estão previstas
na legislação profissional, seja referente ao ensino da graduação, expressa nas diretrizes
curriculares aprovadas pelo MEC, seja na lei de regulamentação da profissão (IAMAMOTO,
2002).

27
As principais ações a serem desenvolvidas pelo assistente social são:
• democratizar as informações por meio de orientações (individuais e coletivas) e /ou
encaminhamentos quanto aos direitos sociais da população usuária;
• construir o perfil socioeconômico dos usuários, evidenciando as condições
determinantes e condicionantes de saúde, com vistas a possibilitar a formulação de estratégias
de intervenção por meio da análise da situação socioeconômica (habitacional, trabalhista e
previdenciária) e familiar dos usuários, bem como subsidiar a prática dos demais profissionais
de saúde;
• enfatizar os determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes
por meio das abordagens individual e/ou grupal;
• facilitar e possibilitar o acesso dos usuários aos serviços, bem como a garantia de
direitos na esfera da seguridade social por meio da criação de mecanismos e rotinas de ação;
• conhecer a realidade do usuário por meio da realização de visitas domiciliares, quando
avaliada a necessidade pelo profissional do Serviço Social, procurando não invadir a
privacidade dos mesmos e esclarecendo os seus objetivos profissionais;
• conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar os direitos sociais
por meio de visitas institucionais, quando avaliada a necessidade pelo Serviço Social;
• fortalecer os vínculos familiares, na perspectiva de incentivar o usuário e sua família a
se tornarem sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção, recuperação e
reabilitação da saúde;
• organizar, normatizar e sistematizar o cotidiano do trabalho profissional por meio da
criação e implementação de protocolos e rotinas de ação.

https://secure.avaaz.org/po/petition/Fixa_o_piso_salarial_do_Assistente_Social_em_R_372000_para_uma_jornada_de_trabalh/?pv=37

28
PARÂMETROS PARA A ATUAÇÃO DE
ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE

Para explicitar os parâmetros de atuação profissional na saúde é importante


caracterizar o entendimento de ação profissional que, segundo Mioto (2006 apud MIOTO;
NOGUEIRA, 2006), se estruturam sustentadas no conhecimento da realidade e dos sujeitos
para os quais são destinadas, na definição dos objetivos, na escolha de abordagem e dos
instrumentos apropriados às abordagens definidas. A ação profissional, portanto, contém os
fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos construídos pela profissão em
determinado momento histórico e os procedimentos técnico-operativos.

http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/sss

O projeto ético-político da profissão, construído nos últimos trinta anos, pauta-se na


perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de sua fundamentação como
já foi referido. Alguns conceitos são fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde
como a concepção de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a
interdisciplinaridade, já ressaltados no primeiro item deste documento.
O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990
ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a saúde é direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco

29
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar como fatores
determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e
o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do País” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º).
Essas expressões da questão social devem ser compreendidas, segundo Iamamoto
(1982), como o conjunto das desigualdades da sociedade capitalista, que se expressam por
meio das determinações econômicas, políticas e culturais que impactam as classes sociais.
Ao defender essa concepção de saúde, o movimento de Reforma Sanitária salientou a
importância da determinação social sustentada nas categorias de trabalho e reprodução social
da vida. Nessa concepção, é fundamental o contexto e as condições sociais que impactam o
processo saúde-doença.

http://www.cursoseprofissoes.com/quanto-ganha-um-assistente-social/

Aliás, é também por isso que a saúde do trabalhador vem se apresentando como uma
importante área de atuação do assistente social nas últimas décadas.
A dimensão social e histórica do trabalho ganha relevância nos determinantes das
condições de saúde do trabalhador, com a complexidade da realidade atual, marcada pela
precarização das condições de trabalho, aumento do mercado informal, flexibilização das
relações de trabalho e restrição de direitos.

30
A saúde do trabalhador envolve o coletivo de trabalhadores, inserido no processo
saúde/doença no trabalho, não abrangendo apenas àqueles que têm o adoecimento neste
processo.
Exige o desenvolvimento de ações de atendimento, prevenção e promoção da saúde,
de fiscalização do ambiente e condições de trabalho, defesa das condições ambientais, de
acesso aos direitos previdenciários e trabalhistas envolvendo diferentes atores.

https://www.immi-canada.com/profisses-regulamentadas-assistncia-social/

31
REFERENCIAIS

BERLINGUER, Giovanni. Medicina e Política. São Paulo: CEBES/ HUCITEC, 1978.


BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social pública ainda é possível! Revista Inscrita, Brasília,
nº 10, CFESS, 2007.
BRAVO, Maria Inês Souza. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas
profissionais. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996.
______. Superando Desafios – O Serviço Social na Saúde na década de 90. Superando
Desafios – Cadernos do Serviço Social do HUPE, Rio de Janeiro, nº 3, UERJ, 1998.
______. A política de saúde na década de 90: projetos em disputa. Revista Superando
Desafios – Cadernos do Serviço Social do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro,
nº 4, UERJ /HUPE, 1999.
______. Gestão Democrática na Saúde: o potencial dos conselhos. In: BRAVO, Maria Inês
Souza; PEREIRA, Potyara Amazoneida (Org.). Política Social e Democracia. São Paulo:
Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2001.
______. Desafios Atuais do Controle Social no Sistema Único de Saúde (SUS). Serviço
Social e Sociedade, São Paulo, nº 88, Cortez, 2006.
______. Serviço Social e saúde: desafios atuais. Temporalis. Revista da Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS/Política de Saúde e Serviço
Social: Impasses e Desafios, São Luís, nº 13, ABEPSS, jan./jun. 2007.
______. MATOS, Maurílio Castro. A Saúde no Brasil: Reforma Sanitária e Ofensiva
Neoliberal. In: BRAVO, Maria Inês Souza; PEREIRA, Potyara Amazoneida (Org.). Política
Social e Democracia. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2001.
______. MATOS, Maurílio Castro. Reforma Sanitária e o Projeto Ético-Político do Serviço
Social: elementos para o debate. In: BRAVO, Maria Inês Souza; VASCONCELOS, Ana
Maria; GAMA, Andréa de Souza; MONNERAT, Gisele Lavinas (Org.). Saúde e Serviço Social.
São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
BRAZ, Marcelo. O governo Lula e o projeto ético-político do Serviço Social. Serviço Social
e Sociedade, São Paulo, nº 78, Cortez, 2004.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Parâmetros para atuação de assistentes
sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas
Sociais, nº 1, Brasília: CFESS, 2009.

32
LEITURA COMPLEMENTAR

Nome do autor: Francis Sodré


Data de acesso: 02/01/2017
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n103/a04n103.pdf

SERVIÇO SOCIAL E O CAMPO DA SAÚDE: PARA ALÉM DE


PLANTÕES E ENCAMINHAMENTOS

Resumo
Trata-se de um artigo que visa analisar a política de saúde e o trabalho do assistente social a partir de dois
momentos distintos das formas de gestão do trabalho: o modelo fordista e o modelo de acumulação flexível.
Esses dois eixos de análise serão discutidos aplicados ao campo da saúde e à inserção do trabalho do assistente
social na saúde. Os dois eixos foram escolhidos para apontar um exame sobre tendências dos determinantes
sociais à saúde pública e ao processo de trabalho do assistente social neste campo.

Palavras-chave: Serviço Social. Processo de Trabalho. Saúde Pública. Saúde Coletiva.

A necessidade de escrever sobre o trabalho do assistente social no campo da saúde traz


desafios recorrentes desde a inserção do profissional de Serviço Social nesta área de atuação.
Temos há muito tempo acúmulo nas discussões produzidas para a saúde pública através das
ferramentas que o Serviço Social, juntamente com outros profissionais, desenvolveu e
aprimorou ao longo da reforma sanitária e da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS),
tornando-as coletivas.
Do conhecimento acumulado nas lutas sociais, o assistente social contribuiu para a
politização do campo da saúde. Inseriu o debate sobre os determinantes sociais de forma
definitiva e ainda hoje se insere nas frentes de trabalho para demarcar um posicionamento
macro político que luta por um SUS menos biomédico nas suas mais diversas redes de
serviços e especialidades.
Nas duas décadas de vida deste Sistema Único de Saúde comemoramos também trinta
anos do Congresso da Virada, algo que não foi simples coincidência histórica. O nascimento

33
do SUS é verdadeiramente um produto das lutas sociais, nas quais os assistentes sociais
tiveram importante contribuição e trouxeram para si a afirmação de um referencial teórico até
então hegemônico pautado nas reflexões de uma teoria social crítica e comprometida com um
projeto de sociedade que determinou toda a história subsequente desta profissão.
Na área da saúde, verifica-se as interfaces da história e das políticas públicas que
vivenciamos através das conexões estabelecidas com as políticas sobre a vida. O que é uma
política de saúde se não uma política sobre a vida? Ou em chave marxista: as políticas de
reprodução social.
Neste campo das relações sociais, duas observações serão aqui pontuadas em
diferentes momentos históricos dos processos de gestão do trabalho em saúde: o fordismo e
a acumulação flexível em suas determinações na saúde — uma demarcação que fizemos para
elucidar momentos diferenciados da política de saúde e que influenciam nas práticas dos
profissionais, entre eles o assistente social inserido na saúde coletiva.
Essa demarcação histórica norteará toda nossa análise no decorrer do debate que ora
propomos. Esse exame sobre tendências está pautado na produção de Harvey (1989), que
contrapõe dois momentos distintos nas formas de gestão do trabalho denominados por ele
como fordismo e acumulação flexível. Desse arcabouço produzido pelo autor, aplicaremos tal
análise ao campo da saúde, refletindo sobre a inserção dos assistentes sociais.

A MODERNIDADE E O FORDISMO NA SAÚDE PÚBLICA

A afirmação da industrialização por meio da formação de um amplo parque industrial


abrigado em um discurso nacionalista trouxe a modernidade ao país. A industrialização
endógena e financiada por um capital exógeno fez com que o Brasil vivenciasse um amplo
processo de crescimento dos seus centros urbanos. Essa mesma industrialização trouxe
consigo as mazelas de um trabalho de fábrica, conflitos urbanos e a criação de políticas de
controle da força de trabalho.
Para o Serviço Social isso representou a necessidade de criação de práticas “modernas”,
a exigência de uma racionalidade burocrática-administrativa e a inserção do seu trabalho em
estruturas institucionais complexas do ponto de vista organizacional.1 O embate de tendências

34
estruturalistas retomadas no Serviço Social e confrontadas com referenciais da psicologia e
da sociologia caracterizam a chegada da modernidade à profissão.
No campo da saúde pública, foi o momento das grandes instituições centralizadas e
verticalizadas em uma estrutura única de poder. A construção de um Estado forte e presente
por meio do fomento às políticas sociais fez determinar a criação do campo da saúde pública.
A própria terminologia “saúde pública” refere-se à formação de uma política estatal, portanto
“pública” no seu sentido de ser atrelada ao Estado.
As instituições de porte estavam também correlacionadas à chegada dos grandes
projetos industriais, principalmente aqueles que trouxeram a promessa do desenvolvimento
econômico, invertendo o perfil populacional do Brasil rural para o Brasil urbano.
Modelos americanizados de políticas públicas funcionalistas entravam em discussão,
colocando o cerne do debate profissional do assistente social na clássica divisão
caso/grupo/comunidade. Ou seja, o indivíduo, o grupo e a vida em sociedade eram tratados
de forma estanque, como se fossem diferenciados ou como se não estivessem
correlacionados.
Esse misto entre funcionalismo e estruturalismo no campo do Serviço Social pautou
práticas sociais importantes e momentos históricos para a profissão.
Destaca-se entre eles a inserção maciça dos assistentes sociais nos grandes hospitais,
o trabalho muitas vezes higienista de retirada das populações de rua com o discurso do
sanitarismo organizado por meio de normas de higiene e cuidado com o corpo.
No Brasil, o Serviço Social demarcou sua entrada no campo da saúde pública pelo viés
dos trabalhos com comunidade, por meio de práticas educativas sobre procedimentos de
higiene aplicados à vida privada, incentivando o controle de natalidade, o controle de doenças
infantis, de higiene bucal, de saneamento para a criação das primeiras políticas urbanas de
saúde, muitas vezes realizado por meio de um trabalho educativo baseado em proporcionar
acesso à informação sobre o próprio corpo e a higiene do mesmo.
Esse era um trabalho que se mostrava necessário a um país sem escolaridade, com
grande parte da população em condição de miséria e revelando desconhecimento sobre o
próprio corpo.
Também nesse período, por meio das políticas urbanas, as abordagens individuais sobre
a saúde foram desenvolvidas de forma ampla.

35
O Serviço Social de caso para a saúde pública era a representação da necessidade de
intervenção do assistente social nas políticas de reprodução social. Trazia ainda o
reconhecimento de que a saúde possuía seus determinantes sociais, mas também a afirmação
que muitos desses determinantes eram tratados isoladamente. Isso caracterizou uma ação
maciça de atendimentos de “casos sociais” — quase um contrassenso.
Assim, o atendimento de caso nas grandes instituições se ampliou, apoiado em um
excesso de demandas com o qual o assistente social teve de se deparar. A prática da
sistematização se perdeu em muitas instituições devido ao grande contingente de pessoas
atendidas.
Desse mesmo período, nasce nos hospitais públicos, como ferramenta do Serviço
Social, o “livro preto”. Um livro de ata, com capa preta, em que o assistente social relata o
atendimento que chega até ele como registro de sua demanda. Atualmente, o “livro preto” está
para o Serviço Social no campo da saúde como o Ford modelo T está para o fordismo — algo
superado.
Trata-se de um registro superficial, sem dados que venham a servir de fonte para uma
sistematização qualificada. Registros pontuais realizados de acordo com a vontade, o tempo
e a decisão do assistente social no momento da chegada do usuário. Uma forma padronizada
de dizer “resolva no próximo plantão”.
Assim, as demandas que chegam ao Serviço Social são tratadas como uma situação
isolada fazendo com que o próprio assistente social desqualifique seu trabalho, não colocando
a dimensão macrossocial que está contida em cada atendimento que realiza, ou melhor, não
destacando a complexidade das manifestações da questão social naquela demanda trazida
ao campo da saúde pública.
O grande hospital traz consigo a gestão do trabalho em um formato semelhante ao
concebido dentro da grande fábrica. Atendimentos em massa, cirurgias em massa, internações
contabilizadas pelo seu gasto financeiro, leitos em série e atendimentos sequenciais sem
tempo de parada. Desta forma, aos poucos molda-se uma rotina também para aquele trabalho
que não deveria ser considerado rotineiro.
O Serviço Social criou e reproduziu normas institucionais de forma mecanizada para
todos aqueles que o procuravam. Mas como não ter um texto pronto se a proposta institucional
é seriada, dividida por especialidades? Em cada clínica, enfermaria ou ambulatório “apertam-
se parafusos” em partes diferentes do corpo humano.

36
A especialidade técnica na saúde pública criou equipes que não interagem. São
profissionais compartimentalizados, como se a vida fosse a junção de conhecimentos sobre
pedaços do corpo humano. O “fordismo modernizador” proporcionou ao campo da saúde uma
formação maciça de profissionais que tratam a vida como partes contidas em um todo.
A estrutura administrativa centralizada do grande hospital, proporcionou a criação de
um modelo de saúde-fábrica. Uma produção sem originalidade, centrada em um discurso de
defesa do Estado protetor que nunca conhecemos através do fordismo na saúde pública.
A criação da saúde-fábrica deu origem também a formação dos primeiros cartéis de
terceirização nos serviços de saúde.
A criação dos planos de saúde ou mesmo a chegada decisiva de serviços
especializados de grande custo que funcionam dentro dos hospitais públicos de todo o Brasil
marcaram esse modelo.
Em hospitais universitários, filantrópicos ou mesmo hospitais de médio porte, tornou-
se comum o surgimento de serviços de hemodiálise, quimioterapia ou radioterapia, fornecidos
por equipes que detêm o controle sobre as má- quinas.
Exatamente o mesmo formato capitalista do início da sociedade burguesa: um grupo
de médicos detém as máquinas de radioterapia e por eles serem os donos das máquinas,
fornecem (dentro de um serviço público) seus trabalhos altamente especializados, cobrando o
quanto querem pelo serviço e sendo pagos pelo Estado.
Este modelo de Estado-empresa reflete não só o campo da saúde, mas o único
formato de Estado de bem-estar social que o país conheceu, reforçando teses dos estudos
marxistas em que o Estado sempre foi a representação de uma classe.
Para o Serviço Social, isso não foi muito diferente. A hegemonia do discurso biomédico
dentro da instituição hospitalar reforçou uma atitude aguerrida dos assistentes sociais para
afirmarem seu espaço na saúde pública.
O modelo estatal era pautado pela atuação no grande hospital-fábrica ou nos centros
de saúde que funcionavam por meio de um modelo militar campanhista. A associação entre
ambos formava uma lógica dual de atuação exclusiva para o campo da saúde. A inserção dos
assistentes sociais nesses dois âmbitos proporcionava questionamentos de politização da
saúde que não só se resumiam a esse modelo dual, mas a outras formas de inserção e outras
formações de um discurso não hegemônico à saúde pública.

37
Este questionamento já demarcava os idos dos anos 1980 com a inserção decisiva da
teoria social crítica no debate profissional. Também a crítica ao Estado classista que convivia,
contraditoriamente, com referenciais fenomenológicos e outras correntes de pensamento que
à época formavam os debates da sociologia e da filosofia.
Não se pode afirmar que todo esse contexto histórico tenha gerado uma atuação
específica dos assistentes sociais no campo da saúde, mas surgem nesse momento histórico,
em reposta à saúde-fábrica, o modelo de resistência também pautado na ideologia de uma
produção em massa e em série: associações de assistentes sociais da oncologia, da infância,
da clínica... como se a profissão estivesse de fato inserida na serialização da saúde pública
que o Estado fordista criou.
Em outro ponto de vista, o livro de Maria Inês de Souza Bravo, que narra a trajetória
do Serviço Social na reforma sanitária, mostra também outras formas de resistência, lutas
coletivas, em que os assistentes sociais foram aliados dos movimentos de moradia, de luta
pela saúde e pela políticas urbanas de saneamento básico — um reflexo que apontava para
transições ou deslocamentos do modelo vigente trazendo os ideais do sanitarismo.
Por isso à saúde-fábrica atribui-se a lógica intervencionista estatal como se as políticas
de saúde criadas pelo Estado não fossem passíveis de ser questionadas, pois trazem consigo
uma falsa noção que exercem unicamente o “bem comum”. As políticas fordistas ao campo da
saúde proporcionaram uma contraditoriedade: por um lado, um avanço no campo das
conquistas pelas lutas sociais em criar, executar e garantir as políticas sociais de saúde; por
outro, no campo do Serviço Social, criou “legitimidade” de um discurso “estatalista” que
reforçava as políticas fordistas intervencionistas como algo legítimo, provedor de bem-estar
para a sociedade.
O discurso do Estado provedor esteve presente em muitos meios acadêmicos, como
se o Estado não fosse porta-voz dos interesses de classe. Com certa opacidade, isso legitimou
a entrada violenta do capital privado nos serviços públicos e a lógica privatista e privatizante
de muitas dessas políticas.
Por essas ações do jogo macro político, o Estado fordista pode ser considerado o
Estado-empresa, pois colocou dentro das instituições públicas o modo de produção gerido “em
parceria” entre o público e o privado, como se isso fosse o caminho “natural” das coisas.

38
Esse cenário, introduzido de forma ampliada pelo discurso modernizador industrial no
campo da saúde, abriu os precedentes necessários para a chegada do neoliberalismo na
década seguinte.
A saúde pública sofreu refrações desse discurso. A construção das grandes
instituições de saúde verticalizadas e associadas à Previdência Social no controle da força de
trabalho foi aliada ao fordismo estatal.
A política “modernizadora” de industrialização só foi possível no cenário brasileiro
quando associada à Previdência (que funcionava como uma seguradora privada) e à Saúde
(que cuidava de vidas como se cuidasse somente de corpos aptos ao trabalho).
No campo das práticas, foi sob a égide desse modelo que foi criado o prontuário do
usuário separado por atuação profissional.
O assistente social tinha o seu prontuário, e os demais profissionais tinham outros. Por
onde o usuário da saúde passava deixava um registro em uma “gaveta” diferente. O argumento
para isso foi a ética do sigilo profissional. Algo que não diz nada ao usuário que segue de porta
em porta de uma mesma instituição e não recebe um retorno dos profissionais que não
dialogam entre si.
Sabemos que as informações sigilosas podem ser sistematizadas em um documento
à parte que fique sob a guarda do assistente social, por isso não explicam a
compartimentalização das informações. Não temos claro até que ponto tal atitude seja, em vez
da “ética do sigilo”, a “ética do corporativismo”.
O prontuário não pode servir de instrumento de diálogo se cada um só quer dialogar
apenas com seus pares. Neste jogo, somente o usuário perde, pois não encontra equipes
provocativas que coloquem no centro das discussões um debate sobre a demanda atendida.
Desta forma, reproduz-se serviços hierarquizados, padronizados, centralizados,
compartimentalizados e corporativistas, como o fordismo nos ensinou.
Os assistentes sociais precisam atentar para não repetir o modelo de produção em
massa, que no caso da saúde-fábrica pode ser compreendido por plantões e
encaminhamentos. Aquele arquétipo resumido em uma sala, um livro preto, um assistente
social e uma agenda antiga com contatos telefônicos desatualizados.
O que poderia ser equiparado ao médico que só entrega receitas. Este modelo não
condiz com o discurso que foi criado pelo Serviço Social, que apregoa a emancipação humana
como princípio. O que a instância hospitalar proporcionou à formação profissional foi uma

39
lógica inserida na dimensão histórica maior da instituição — uma máquina de fabricar produtos
sem sentidos para o seu produtor e para o seu demandante. Produtos que se esgotam em si
mesmos e perdem a dimensão processual do trabalho do assistente social.
O modelo saúde-fábrica cria as bases para a atuação pautada em um discurso
moralizador, que trata a pobreza como algo irreversível ou as instituições como um âmbito da
política pública em que não há caminhos para mudanças. De forma ampliada, introjeta no
campo da saúde pública a naturalização da pobreza, despolitiza a miséria, realizando serviços
pobres e práticas esvaziadas aos mais pobres. Gera um vazio de sentidos às instituições, aos
profissionais e aos usuários, em um conformismo que reforça a banalização da pobreza em
todos os âmbitos da vida.

A SAÚDE, O SERVIÇO SOCIAL E O MODELO DE ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL

Os anos 1990 inseriram de forma ampliada a transição do fordismo-taylorismo para as


modos flexíveis de acumulação (o toytismo foi o maior exemplo). Proporcionou o envio das
fábricas para regiões sem tradição industrial, com maiores perspectivas de exploração da
classe trabalhadora — o que veio a incrementar novas formas de extração de superlucros.
Todo esse contexto favorece a “naturalização” da mercantilização da vida no capitalismo
avançado, transformando os cidadão sujeito de direito em um “cidadão consumidor”,6 o
desempregado em um “empreendedor” ou em mero cliente das políticas de assistência social
focalizadas.
Este mesmo cenário, aprofundado em períodos neoliberais, demarcou o crescimento
de inciativas da sociedade civil, por meio da expansão das ONGs, do voluntariado, da
filantropia e do denominado “terceiro setor”.
Nesse quadro de profundas perdas para os trabalhadores, foi se desfazendo o seu
potencial político-organizativo.
Entre outros fatores, as novas práticas flexíveis de gestão da força de trabalho, o
trabalho por domicílio, o trabalho nas infovias de comunicação, as terceirizações, o trabalho
parcial, temporário e fragmentado estabeleceram mecanismos e novos meios de controle e
dominação sobre a classe trabalhadora com o argumento falso e perverso da
“empregabilidade”.

40
É interessante notar como essas mudanças nos modelos de gestão da força de
trabalho desencadeiam influências importantes sobre o campo da saúde. Na evolução do
discurso dos campos de conhecimento, percebe-se um deslocamento entre as terminologias
saúde pública e saúde coletiva. Pode-se, de forma breve, introduzir que o campo da saúde
coletiva traz questionamentos às políticas públicas de saúde em seu formato gerido
unicamente pelo Estado “parceiro” das empresas de saúde. Cabe aqui destacar exemplos
como a indústria de equipamentos hospitalares, os cartéis dos planos de saúde, a indústria de
medicamentos e as organizações não governamentais, tão presentes na atual política de
saúde.
A nomenclatura “saúde coletiva” não representa apenas uma mudança entre termos,
mas a incorporação de questionamentos trazidos principalmente pelas lutas sociais. A saúde
coletiva desperta para o fato de que o motor do desenvolvimento das políticas públicas são os
movimentos de resistência, e não a modernização proposta por mais industrialização. Para a
saúde, um campo empírico por excelência, o acúmulo já produzido pela reforma sanitária
forneceu elementos sufi cientes para este entendimento. Despertou-nos para o fato de que
não será mais industrialização que trará desenvolvimento, mas sim a abertura definitiva de um
diálogo do Estado com as lutas sociais — admitindo a demanda dos movimentos como agenda
das políticas públicas.
Tomando esse raciocínio como central a esse segundo momento de análise, podemos
inferir que do ponto de vista dos movimentos de resistência, a década de 1990 foi a expressão
máxima de que esse jogo estava temporariamente perdido.
A chegada avassaladora do neoliberalismo às políticas de saúde deixou muito claro,
por um lado, os atores sociais que disputavam projetos privatistas de saúde e, por outro lado,
a continuidade dos ideais da reforma sanitária. Esse embate que marcou a década passada
deixou-nos heranças muito representativas, a maior delas o silenciamento dos movimentos.
As lutas sociais do trabalho na década de 1990 expressaram a fragmentação da classe
trabalhadora em diversas formas de vínculos e contratos empregatícios que manifestaram a
precarização das relações de trabalho no período de crise do fordismo.
Por muitos, esse período foi denominado como sendo de acumulação flexível, guiando
várias formas de gerir não somente o campo das políticas do trabalho, mas também, nesse
caso, as formas de gestão das políticas de saúde.

41
Diante desse quadro, o assistente social demarcou de forma vertical sua atuação na
reprodução das relações sociais. Na saúde coletiva, foi o reflexo dos questionamentos que
tentavam distanciar o fordismo das políticas de saúde, um questionamento definitivo ao modelo
saúde-fábrica. Criou-se como principal estratégia para operacionalizar seu posicionamento no
campo um modelo denominado estratégia de saúde da família (ESF). Diferentemente da lógica
de produção fordista, a produção passava a ser por demanda, e não em série. O trabalho dos
profissionais da saúde retomava uma antiga discussão no campo das ciências: o retorno do
generalista e a crítica ao especialista.
A ESF retomou o debate que propunha menos operários que apertassem somente
parafusos, mas inseria uma leitura de que as políticas de saúde são de fato políticas sobre a
vida, por isso não são objeto de forma exclusiva a um único saber profissional ou peça a ser
trocada por um especialista. O discurso científico pedia a ampliação do campo, alargava as
bases de análise e a tornava multiprofissional de forma definitiva. Com isso, passa a existir um
chamamento ao discurso da participação e da multiplicidade.
Outro momento importante foi a criação das equipes de agentes comunitários. Os
agentes precisavam ser locais, “nativos” em seus territórios de trabalho. Os agentes de saúde
saem todos os dias das unidades de saúde com o objetivo de capturar os “nichos”, exatamente
como no modelo de acumulação flexível. Em cada casa que se entra busca-se o hábito, o
comum, o cotidiano, o corriqueiro, a rotina para se compreender a “saúde como estilo”, como
forma de vida.
Isso proporciona aos assistentes sociais, profissionais da saúde, dois pontos de
reflexão: 1) Frente aos determinantes sociais que conhecemos sobre a saúde, o que seria um
estilo de vida saudável? Iremos pontuar a miséria e a pobreza como critério de avaliação ou
encontraremos estilos saudáveis mesmo dentro das condições de pobreza da população? 2)
O que essa inversão proposta pelo campo da saúde coletiva nos coloca como demanda? Que
modos de reprodução da vida estão sendo pautados?
No início dos anos 2000 assistiu-se à contratação em grande escala de agentes
comunitários. Durante um longo período tomou-se conhecimento de que o trabalho do agente
comunitário era basicamente centrado no ato de entrar de casa em casa, obter delas
informações importantes para direcionar o trabalho das equipes de saúde da família nas
unidades. Este trabalho, se feito de forma mais politizada, traria uma processualidade
interessante à saúde — uma provável perspectiva de continuidade com diálogos mais

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profícuos com a população. Os assistentes sociais perceberam com isso a perda de um espaço
no mercado.
A técnica de vista domiciliar é parte da história da profissão do assistente social.
Entramos no âmbito privado da vida das pessoas, no espaço residencial, doméstico.
Certamente, para usar a linguagem biomédica, um procedimento invasivo. A visita domiciliar
proporciona essa leitura sobre o privado, uma busca por informações que personalizam a ação
do profissional com seu usuário; portanto, uma ferramenta perfeita ao modelo flexível de
saúde.
Para a saúde coletiva, o território tornou-se o foco da ação; milimetricamente
esquadrinhado, os hábitos e as manifestações da cultura local são colocados como
determinantes sociais da saúde.
Aliás, nunca os determinantes sociais foram tão evidentes à saúde, operando de forma
clara, marcando a esfera da reprodução social. As dinâmicas dos territórios são dinâmicas
locais com influências das políticas mundializantes, a cultura se manifesta nesse diverso, e os
hábitos tornam-se a fonte primária para trabalhar a saúde como produto final da ação
profissional.
O que aqui queremos afirmar é que esse trabalho requer uma ação política por
excelência. Dinamizar redes, ativar e conhecer as dinâmicas produtivas dos territórios,
conhecer hábitos e a cotidianidade da coletividade posta em análise nas lentes das unidades
de saúde focadas no território. Um trabalho característico da ação de um profissional de
Serviço Social.
Nos hospitais, a saúde coletiva também proporcionou um olhar flexível sobre a relação
saúde-doença. Aqui queremos chamar a atenção para um discurso que circula com fluidez
entre os profissionais da saúde e entre os assistentes sociais que atuam no campo da gestão:
o discurso da humanização.
Pontuamos a humanização como discurso porque ela é parte de uma série de ações
que dizem tornar humano aquilo que não possui formas ou atitudes humanas. Retirar a
centralidade do trabalho morto, aquilo que está incorporado às máquinas, e recolocar a
centralidade do trabalho vivo na saúde — objetivar-se na ação humana.
Tem-se por sabido que o discurso da humanização propõe as mesmas ações
planejadas pelas formas flexíveis de acumulação: atenção, acolhimento, cuidado, criar
vínculos — afetividade posta em um processo de trabalho que se dá em ato. Esse processo

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de trabalho humanizado, ao mesmo tempo que proporciona relações mais abertas com o
usuário, também abre precedentes para trabalhos mais alienantes do ponto de vista da sua
execução. Certa vez ouvi de um profissional da saúde: “É fácil ser ‘humanizado’ com alguém
que está vulnerável”. E tomamos então isto como ponto principal de nossa análise, nos
direcionando aos assistentes sociais gestores das políticas públicas.
Há uma ambiguidade no discurso da humanização. Se por um lado promove menos
máquinas, menos produção em série, menos fordismo na saúde, por outro traz uma prática
extremamente alienante, tanto do ponto de vista do profissional da saúde, quanto para seu
usuário.
No campo hospitalar, hoje, os usuários caracterizam-se por pessoas doentes. Não
existem pessoas saudáveis em busca de atendimento hospitalar. Neste sentido, qualquer um
desses demandantes estão ali à espera de qualquer profissional que lhe dê o mínimo de
atenção, de escuta ou mesmo uma ínfima informação.
Assim compreende-se melhor a frase acima citada, ouvida de um profissional de
saúde. Em situação extremamente vulnerável, qualquer discurso profissional que contenha
mínimas informações pode ser entendido como “humano” ao usuário.
Por outro lado, do ponto de vista do trabalhador, o modelo flexível da saúde propõe
um profissional de saúde participativo, que introjete certa docilidade, seja compreensivo na
ação, sensível em seus procedimentos ou palavras.
O gestor humanizante é aquele que transmite informações, tenta não tratar de forma
piramidal seus modos de gerir e que ainda atenda o usuário para se tornar próximo a ele. Um
modelo de trabalhador pressuposto pela acumulação flexível como participativo; aquele que
além do trabalho feito com as mãos, tão caro ao âmbito hospitalar, é também requerido em
seu espírito — sempre compreensivo e atento ao outro, independentemente de suas condições
de trabalho. Ou seja, uma evidência que os níveis de exploração sobre o trabalhador da saúde
atual chegaram ao extremo em suas formas de exploração.
O assistente social tem sido cada vez mais convocado a atuar na gestão dessa força
de trabalho no campo da saúde, algo que nos desafia a pensar sobre essas relações de forma
mais aprofundada.
Ao profissional que se resume a dar plantões e encaminhamentos, as políticas de
saúde lhe reservam lugares extenuantes de trabalho, equipes despreparadas, ambientes

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insalubres, condições inferiores de administrar seu processo de trabalho no atendimento aos
usuários.
O modelo flexível da saúde requer um assistente social para além do arquétipo
“plantão-encaminhamento”. Um caminho de mão dupla que abre janelas para longos debates.
Não existe aqui intencionalidade de dizer que o plantão do Serviço Social é uma
atividade desnecessária ou superada, pois sabemos bem que ele se constitui, muitas vezes,
como a única porta de entrada realmente existente aos usuários das instituições tradicionais;
um momento em que o usuário é recebido para ser ouvido em sua queixa sobre a própria
instituição, buscar orientações breves, complementar um atendimento realizado por outro
profissional (e que o usuário sai de lá sem as informações que realmente necessitava), abrir
um diálogo com os canais da rede de serviços ou mesmo intrainstitucionais.
No entanto, atentamos para o fato de que o trabalho desse assistente social não pode
se esgotar nisso, como se encontrasse um fim em si mesmo.
O assistente social despreparado continua a repetir que “apaga incêndios” ou que
somente resolve problemas nos hospitais.
Mas quem não resolve problemas em hospitais? A instituição hospitalar colocou-se na
modernidade como uma máquina de resolver problemas de saúde.
Todos no campo hospitalar atuam com a finalidade de desenvolver estratégias para
fazer viver, ampliar a sobrevida, retirar a população que lhe demanda de uma condição de
sofrimento, que na maior parte das vezes trata-se de um sofrimento físico ou psicológico.
A maneira como se deu (e ainda acontece) a implantação da política de saúde traz
aspectos importantes para analisar a forma fabril de fazer a ação de Estado.
O assistente social é solicitado, durante todo o seu tempo de trabalho, a atender
demandas complexas, de forma desmedida pode ser considerada a sua intensidade. Por
vezes, o atendimento a uma só pessoa pode ocupar dias de trabalho devido a sua
complexidade.
E mesmo com demandas grandes e intensas de atendimento direto à população, é
também convocado a ocupar cargos que dialogam com a gestão.
O projeto de lei que defende trinta horas semanais de trabalho para o assistente social
tem no seu excesso, intensidade e sobrecarga de trabalho a base de toda a discussão
apresentada em 2008.

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A questão trabalhista maior centra-se na forma em como fazer reconhecer nesse perfil
de trabalhador sua peculiaridade de ação profissional sem destituí-la em seu salário. Um claro
dilema fabril do trabalho mensurado através da hora trabalhada ou do produto concreto que
produz, e não pela sua processualidade, como se dá entre todas as demais profissões que
atuam na reprodução da vida.

INFORMAÇÃO É CAPITAL

Diante desse cenário, temos assistido de forma ainda muito tímida o crescimento da
demanda por pesquisa ou assessoria para as políticas públicas de saúde. As pesquisas
solicitadas aos assistentes sociais pedem que os mesmos realizem uma interface entre os
dados empíricos obtidos com a política executada, geralmente por órgãos públicos.
É interessante notar como a produção do assistente social nesta leitura macropolítica
sobre a realidade da saúde agrega capital ao Estado na sua forma de direcionar os serviços e
os programas de governo.
A produção de informação sistematizada e qualificada pelo assistente social
proporciona leituras que subsidiam o trabalho do gestor. No modelo de acumulação flexível, a
informação tornou-se um capital valiosíssimo.
Daí o crescimento da demanda por pesquisas e estudos que precedem as ações dos
gestores das políticas sociais. A dimensão investigativa do trabalho do assistente social tem
sido também demandada por outros fatores, não dependendo exclusivamente de uma “atitude”
desse profissional.
A produção de pesquisa tem sido demandada de forma mais constante ao assistente
social, que hoje tem se preocupado com a sua inserção nas pós-graduações tanto lato sensu
quanto stricto sensu.
Essa preocupação aparece de forma recorrente entre aqueles assistentes sociais
interessados em atualizar conhecimentos e produzir uma prática crítica. Mesmo nas cidades
que fogem ao circuito das grandes metrópoles, essa necessidade em qualificar-se e inserir
estudos à sua prática começa a tomar maiores proporções.
Sabemos que a inserção nos cursos de especialização ou mestrados não garantem a
continuidade da prática da pesquisa em seus ambientes de trabalho, todavia desperta o

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interesse e o experimento nesse campo, atentando para a necessidade e a realidade que esse
trabalho não seja necessariamente exclusivo dos meios acadêmicos.
O atual momento do Serviço Social deixa claro sua intencionalidade de buscar
incessantemente o novo. Uma busca pelas tendências às demandas dos usuários que traz a
sua inserção definitiva na prática da pesquisa dentro das instituições públicas e privadas.
O Sistema Único de Assistência Social, modelo criado a partir da experiência do SUS,
já mostra a preocupação com a criação do cargo de pesquisador como parte do âmbito da
gestão. Informação sistematizada e geração de conhecimento associado à produção tornam-
se um capital importante às novas formas de gestão. “O conhecimento não é só um verniz que
se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser dispensado, mas é um meio
pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho a ser realizado”, diz
Iamamoto (2001, p. 63).
No modelo “flexível” de produção da saúde a pesquisa não tem sido uma alternativa
ou mera liberalidade do profissional em escolher com ela trabalhar ou não.
Por mais que ainda apresente um caráter de sazonalidade nas formas como são
produzidas, geralmente atendendo a interesses imediatos dos profissionais, verifica-se um
novo momento em que o assistente social é convocado a produzir sistematizações mais
elaboradas, traduzindo-se em processos de análise que requerem maior disponibilidade de
tempo para a percepção de novas demandas ou a identificação de tendências e possibilidades
na ação das políticas públicas e sociais.
É exatamente nessa dimensão investigativa do trabalho que imprimimos uma noção
constituinte do direito à saúde e aos serviços sociais. Quando os assistentes sociais pensam
a realidade, capturando o seu movimento, projetam e imprimem ações que proporcionam
enxergar a necessidade de ampliação e de universalização.
Assim, em vez de compreender o direito como um campo que se esgota na lei, no
constituído, passam a visualizá-lo como um campo aberto, em que novas demandas se
reconfiguram, fazendo imprimir a necessidade de pensar as leis, o acesso, a política e a
universalização de forma cada vez mais ampla.
Por outro lado, também as próprias instituições públicas começam a criar suas
estratégias para garantir seus pactos corporativos diante de tal crescimento da publicação de
estudos e pesquisas sobre órgãos públicos.

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Se antes os comitês de ética e pesquisa eram uma prerrogativa do trabalho acadêmico
hoje, as instituições públicas tentam se resguardar criando seus próprios comitês de ética, os
quais burocratizam por meses a entrada de determinados estudos em campo para coleta de
dados. Uma forma clara de dizer não à cientificidade quando atinge as bases críticas das
políticas públicas.
Os comitês de ética criam verdadeiras barreiras burocráticas a estudos que não
venham de suas próprias demandas. As Secretarias Estaduais de Saúde, municipais, hospitais
públicos e unidades de saúde colocam profissionais desautorizados a falar em nome dos
serviços que atuam, se antes não passar pelo aval dos seus comitês internos.
Os assistentes sociais, que sempre estiveram na porta de entrada das instituições
públicas de saúde, são hoje muitos dos que estão entre aqueles que não permitem a entrada
de pesquisadores nas instituições de saúde pública sem ter antes uma carta de apresentação
dos seus próprios comitês internos.

O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E AS NOVAS DEMANDAS PARA


A SAÚDE

Não é recente o conflito em que o assistente social se insere e que demarca os


interesses polarizados entre as instituições sociais e as necessidades dos usuários na busca
pelo acesso aos serviços sociais.
Esse espaço tensionado torna-se inevitável às profissões que atuam nas políticas
sociais durante os séculos XIX e XX, por meio do reconhecimento dos direitos sociais. O
caráter social do Estado, sob a forma de direitos de cidadania, reconhece formalmente a
exploração, a impossibilidade de satisfação das necessidades básicas da vida tendo como
única fonte o salário direto.
O que se traz como elemento de análise é o processo de trabalho do assistente social
que tem seu objeto manifesto nas expressões das contradições da questão social. Por isso, o
Serviço Social não está vinculado às profissões que geram produtos materiais, concretos.
Ele atua nas condições de vida, reproduzindo aquelas condições que são
indispensáveis ao funcionamento de uma ordem — o que, no campo da saúde, ganha
evidências expressivas.

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Temos como pressuposto que toda riqueza existente é fruto do trabalho humano. Essa
riqueza é redistribuída na forma de rendimentos distintos, bem como parte dela é transferida
ao Estado, especialmente sob a forma de impostos e taxas pagas pela população. Por outro
lado, parte dessa riqueza apropriada é transferida para a classe trabalhadora sob a forma de
serviços sociais. Desta maneira, muitas vezes tais serviços ganham a forma de “doação” ou
“benefício”. Em nosso caso, as políticas de saúde se travestem claramente com esse perfil
“provedor” de Estado, aparecendo como políticas sobre a vida, com forte nuance
“humanizadora”.
Merece destaque o processo de trabalho do assistente social em sua dimensão
educativa dentro dessa política aparentemente provedora de um “bem comum”. O assistente
social realiza atividades que incidem sobre comportamentos e atitudes da população e tem na
linguagem seu principal instrumento privilegiado de ação. Isso lhe permite trabalhar nas
expressões concretas das relações sociais, no cotidiano da vida dos sujeitos e faz com que
disponha de relativa autonomia na condução do exercício de suas funções institucionais
(Iamamoto, 2007).
Nas ações de execução das políticas de saúde, esse perfil “humanizado” da política
social ganha maior visibilidade, visto que o trabalho dos profissionais da saúde, neste caso do
assistente social, cria os nexos de ligação entre os interesses de Estado e os dos usuários por
meio da linguagem, uma ação eminentemente humana.
Por intermédio dessa dimensão do trabalho vivo, pode-se afirmar que nunca seu
processo de trabalho será idêntico, ainda que as tentativas dos interesses de seu empregador
sejam transformar esse trabalho em uma ação serializada, maciça, sem reflexão contida na
ação.
O SUS, modelo brasileiro que nasceu das lutas sociais, tem servido de parâmetro para
esse debate em toda a América Latina. As respostas e as formas de resistência ao capital
mundializado também têm sido manifestadas de forma mundializada. Os movimentos sociais
atuais têm apontado para isso.
Se o neoliberalismo pautou a focalização, a agenda dos movimentos é formada de
novas formas de luta que transcendam as fronteiras dos Estados nacionais. E não se trata de
mais um discurso de “solidariedade” ou a busca por um prêmio Nobel; refere-se a estar atento
às estratégias do capital em se disseminar como ordem única, parasitária, apropriando-se
unicamente do trabalho humano em todo o planeta.

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Deve se atentar para esse momento histórico como um novo momento e uma outra
forma de pautar a agenda pública, visto que esses novos movimentos sociais preencheram as
plataformas de governo da atual esquerda que chegou em bloco ao Cone Sul.
A primeira década dos anos 2000 foi marcada pelas causas ligadas à terra, à questão
indígena, aos negros, aos pobres, trabalhadores desempregados e ao ambiente. Mas também
por dimensões novas das lutas sociais: a luta por produção de conhecimento e por direito à
informação, por mais democracia e transparência.
Nessa tendência, identificamos claramente os processos de trabalho dos assistentes
sociais como essenciais. A contribuição do Serviço Social a este momento histórico é distante
de padrões fordistas de produção na gestão do seu trabalho, mas claramente pautada pela
sua primazia: produção de informação qualificada na era da produção do acesso. Proporcionar
o ter direito aos direitos e, assim, concretizar a democracia.

REFERÊNCIAS

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