Você está na página 1de 54

PORTUGUES

GRAMÁTICA

Conjunto sistematizado de regras (normas) e orientação


para se escrever e falar de acordo com o padrão culto da língua.
Fonologia: phoné (som) + logia (estudo). Analisa as palavras
sob o ponto de vista sonoro.
Morfologia: morphé (forma) + logia (estudo).
seus elementos formadores (morfema).
os processos de formação das palavras.
suas classes e flexões.
Sintaxe: sintaxis (grego) significa arranjo, ordem, disposição.
análise sintática
sintaxe de regência (verbal e nominal)
sintaxe de concordância (verbal e nominal)
sintaxe de colocação

LINGUAGEM
Linguagem é a representação do pensamento por meio de
sinais que permitem a comunicação e a interação entre as
pessoas.
Linguagem verbal: é aquela que tem por unidade a palavra.
Linguagem não verbal: tem outros tipos de unidade, como
gestos, o movimento, a imagem e etc.
Linguagem mista: como as histórias em quadrinhos, o
cinema e a tv que utilizam a imagem e a palavra.

LÍNGUA
É o tipo de código formado por palavras e leis combinatórias
por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si.
Variedades lingüísticas:
São as variações que uma língua apresenta, de acordo com
as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é
utilizada.
Norma culta: é a língua padrão, a variedade lingüística de
maior prestígio social.
Norma popular: são todas as variedades lingüísticas
diferentes da língua padrão.
Dialetos: São variedades originadas das diferenças de região,
de idade, de sexo, de classes ou de grupos sociais e da
própria evolução histórica da língua (ex.: gíria).
Intencionalidade discursiva: são as intenções, explícitas ou
implícitas, existentes na linguagem dos interlocutores que
participam de uma situação comunicativa.
Texto: É uma unidade lingüística concreta, percebida pela
audição (na fala) ou pela visão (na escrita), que tem unidade
de sentido e intencionalidade comunicativa.
Discurso: É a atividade comunicativa capaz de gerar sentido
desenvolvido entre interlocutores. Além dos enunciados

-1-
PORTUGUES
verbais, engloba outros elementos do processo comunicativo
que também participam da construção do sentido do texto.

Coesão textual: são as articulações gramaticais existentes


entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores
de um texto que garantem sua conexão seqüencial.
Coerência textual: é o resultado da articulação das idéias de
um texto ; é a estruturação lógica- semântica que faz com que
numa situação discursiva palavras e frases componham um
todo significativo para os interlocutores.

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS


Derivação:
Prefixal: ou prefixação, resulta no acréscimo de prefixo à
palavra primitiva, que tem o seu significado alterado ex.: o
verbo pôr, verbos derivados: repor, dispor, compor, contrapor,
etc...
Sufixal: ou sufixação resulta do acréscimo de sufixo à palavra
primitiva, que pode sofrer alteração de significado ou mudança
de classe gramatical. Em “unhada”, por exemplo, houve
mudança de significado. Em “alfabetização”, o sufixo – ção
transforma em substantivo o verbo alfabetizar. Esse verbo, por
sua vez, já resulta do substantivo alfabeto.
Parassintética ou Parassíntese: Prefixal e Sufixal, ocorre
quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo
de prefixo e sufixo à palavra primitiva, principalmente
derivadas de substantivos (ex.: amanhecer, enraizar) e
adjetivos (ex.: esclarecer, amadurecer).
Regressiva: ocorre quando se retira a parte final de uma
palavra primitiva. Ex.: buscar (busca), ajudar (ajuda). etc...
Imprópria: ocorre quando uma palavra, sem sofrer acréscimo
ou supressão em sua forma, muda de classe gramtical. Ex.:
“não aceitarei um não como resposta” (na frase não, um
advérbio, converteu-se em substantivo.
Composição: produz palavras compostas a partir da
aproximação de palavras simples. Ex.: amor-perfeito.
Justaposição: os elementos que formam os compostos são
simplesmente colocados lado a lado. Ex.: pé-de-moleque,
girassol, etc...
Aglutinação: quando os elementos que formam o composto
se aglutinam e pelo menos um deles perde sua integridade
sonora. Ex.: vinagre (vinho + acre), planalto (plano + alto),
etc...
Hibridismo: União de dois ou mais idiomas. Ex.: goiabeira -
goiab = tupi; beira = português

Classes gramaticais
1. Substantivo: são palavras que designam tanto seres –
visíveis ou não, animados ou não (quanto as ações,
estados, desejos, sentimentos e idéias);

-2-
PORTUGUES
2. Adjetivo: é a palavra que caracteriza os seres. Refere-se
sempre a um substantivo explícito ou subentendido na frase,
com o qual concorda em gênero e número;
3. Numeral: é a palavra que expressa quantidade exata de
pessoas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa
determinada seqüência;
4. Artigo: é a palavra que precede o substantivo, indicando-lhe
o gênero e o número, ao mesmo tempo, determina ou
generaliza o substantivo;
5. Advérbio: é a palavra que basicamente modifica o verbo,
acrescentando a ele uma circunstância;
6. Pronome: é a palavra que substitui ou acompanha o
substantivo, indicando a sua posição em relação as pessoas
do discursou mesmo situando-o no espaço e no tempo;
7. Preposição: é a palavra invariável que une termos de uma
oração, estabelecendo entre elas variadas relações;
8. Conjunção: é a palavra invariável usada para ligar orações
ou termos semelhantes de uma oração;
9. Interjeição: é a palavra invariável usada para exprimir
emoções e sentimentos;
10. Verbo: é a palavra que se flexiona em número, pessoa,
tempo e voz. Em termos significativos, o verbo costuma
indicar uma ação, um estado ou fenômeno da natureza.

Conjunções
São palavras invariáveis que unem termos da oração ou
orações.
1. Coordenada ou coordenativa : ligam termos ou orações
equivalentes.
2. Subordinativas: ligam uma oração principal a uma
subordinada.
Ex: [Maria leu a apostila] e [fez os exercícios]. leu = verbo e =
conjunção
[Ele veio à praia] [ e não jogou bola].e = conjunção
coordenada aditiva.
Ele e ela fugiram. e = conjunção ligando dois termos.
[Ele disse] [que não faria a prova]. Ele = sujeito disse=
V.T.D que não faria a prova = complemento verbal (objeto
direto). Oração Subordinada - Orações independentes.
Conjunções Coordenativas: Ligam orações sintaticamente
independentes;
Conjunções Subordinativas: Ligam orações dependentes
sintaticamente;
Conjunções Integrantes (que, se): Ligam orações cujas
funções sintáticas podem ser:
Sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal,
aposto e predicativo.
Ex: [Convém] [que você venha logo] - que = Conjunção
subordinativa integrante, pois liga orações cuja função sintática é
sujeito da oração principal. que você venha logo = sujeito.

-3-
PORTUGUES
[Não sei] [se ele virá.] - se ele virá = objeto direto
[Necessito] [de que você me ajude.] de que você me ajude =
objeto direto.
[Tenho necessidade] [de que você me ajude.] de que você me
ajude = complemento nominal.
[Meu desejo é] [que você seja feliz] que você seja feliz =
predicativo do sujeito.
Conjunções Subordinativas
Subordinativas adverbiais: Indicam circunstância - função
sintática de adjunto adverbial.
Causal: "Já que você não vai, eu não vou."
Comparativa: "Ela chorava como uma criança."
Condicional: "Só iremos ao clube se você for."
Conformativa: "Os alunos escreviam conforme o professor
falava."
Consecutiva: "Marta falou tanto que ficou afônica."
Final: "Estamos bastante a fim de fazermos boa prova."
Proporcional: "À medida que os alunos chegaram,
receberam o livro."
Temporal: "Quando cheguei ao colégio, estava escuro."
Concessiva: "Embora tenha feito os trabalhos, não foi
aprovada."
Voz Passiva e Voz Ativa
Os alunos estudarão um assunto novo - Voz Ativa
Um novo livro será comprado por você - Voz Passiva
Ser:
Pretério
Perfeito Imperfeito Mais-que-perfeito
Fui Era Fora
- Nas escolas, os alunos recitavam muitas poesias - Voz Ativa
Nas escolas, muitas poesias eram recitadas pelos alunos - Voz
Passiva
- O terreno tinha sido invadido pelo mato - Voz Passiva
O mato tinha invadido o terreno. - Voz Ativa
Obs.:
1. Somente orações com objeto direto podem ser apassivadas. O
objeto direto da ativa torna-se o sujeito da passiva.
2. Nem sempre o agente da passiva está expresso. Neste caso,
a passagem para a voz ativa se faz com o verbo na 3º pessoa no
plural.
Ex.: Os mortos foram sepultados - Voz passiva
Sepultaram os mortos - Voz ativa

Análise sintática dos pronomes relativos


Pronomes relativos: Que, quem, qual, quanto, cujo, onde, como.
São aqueles que apresentam, numa segunda oração, alguma
palavra que já apareceu na oração anterior. Essa palavra da
oração anterior chama-se antecedente.
Para analisar o pronome relativo pode-se usar o seguinte artifício:
permuta-se (troca-se) o pronome pelo seu antecedente. A função

-4-
PORTUGUES
que cabe ao termo perguntado cabe ao pronome relativo.
Ex: Não encontramos as galinhas que fugiram.
As galinhas: Antecedente
Que: Pronome relativo
Sujeito = As quais
O sujeito sensível que ele era tornou-se um cético
O sujeito sensível: antecedente
Que: predicativo do sujeito
Classificação do sujeito
Sujeito determinado: existe. e eu sei quem é.
1. Simples;
2. Composto;
3. Oculto;
Sujeito Indeterminado: existe, mas eu não sei quem é.
Oração sem sujeito: sujeito inexistente
São formadores de oração sem sujeito principalmente os
seguintes verbos, que, justamente por não terem sujeito, são
denominados verbos impessoais e ficam sempre na 3º pessoa do singular.
1. Verbos que indicam fenômeno da natureza;
Ex: Choveu muito durante a madrugada.
2. O verbo "Haver" no sentido de "existir" ou indicando tempo
decorrido;
Ex: Há dois meses ...
3. O verbo Fazer indicando fenômeno metereológico ou tempo
decorrido;
Ex: Faz calor nesta época do ano.
4. O verbo Ser indicando "hora", "dia" ou "distância".
Ex: Já são oito horas.
Exceção: Verbo ser no plural: O verbo ser sem sujeito passa a
concordar com o predicativo. Predicativo plural = verbo ser no
plural.

Predicação
A predicação é o tipo de relação que o verbo mantém com o
sujeito da oração. De acordo com essa relação, há dois grupos
de verbos: os de estado ou de ligação e os significativos. Quando
o verbo significativo é intransitivo, temos sempre um predicativo
do sujeito. Quando o verbo é transitivo, podemos ter predicativo
do sujeito ou predicativo do objeto.
O verbo é de ligação quando ele serve como elemento da
ligação entre o sujeito e seu atributo. A transitividade verbal é a
necessidade que alguns verbos apresentam de ter outras
palavras como complemento. A esses verbos que exigem
complemento chamamos de transitivos e aos que não exigem
complemento chamamos de intransitivos. A predicação de um
verbo só pode ser determinada através do contexto da frase em
que ele aparece, isoladamente é impossível determinar sua
transitividade. O verbo é transitivo direto quando o complemento
se liga diretamente ao verbo. Quando o complemento se liga ao
verbo por uma preposição ele é classificado como verbo

-5-
PORTUGUES
transitivo indireto.

Verbo Transitivo Direto e Indireto


Ver : Alguém, alguma coisa - VTD
Gostar : De alguém, De alguma coisa - VTI
VTD: Ouvir, ler, cantar, escrever.
VTI: Depender, concordar, pensar, confiar.
Imperativo
É o modo verbal que indica ordem, convite, pedido.
Imperativo afirmativo: Não possui a 1º pessoa do singular. A 2º
pessoa do singular e plural são extraídas do Presente do
Indicativo SEM O 'S'. O restante é extraído do Presente do
Subjuntivo sem alterações.
Imperativo negativo: Não possui a 1º pessoa do singular. Toda a
conjugação se dá de modo igual ao Presente do Subjuntivo.
Exceção: Verbo ser = Imperativo afirmativo:
Sê tu
Seja você
Sejamos nós
Sede vós
Sejam vocês

Se: Partícula Apassivadora ou Índice de Indeterminação do


Sujeito
Se : Partícula apassivadora (levar o verbo para voz passiva).
VTD - Concorda com o sujeito
VTDI
Se - Índice de Indeterminação do Sujeito.
VTI
VI - 3º Pessoa do Singular
VL
Suplemento do Sujeito
1. Haver/Existir:
O verbo Haver, no sentido de Existir é impessoal, por isso
aparece na 3º pessoa do singular.
O verbo Existir, tem sempre sujeito com o qual deve concordar.
Os verbos impessoais transmitem a impessoalidade aos verbos
auxiliares e com eles formam locução.
O auxiliar do verbo existir concorda normalmente com o sujeito.
2. Verbos que indicam fenômenos da natureza:
Usados em sentido figurado esses verbos têm sujeito. Esses
verbos têm sujeito e deixam de ser impessoais.
Ex: O pastor trovejava ameaças.
Eu amanheci feliz.
3. Sujeito e partícula "se":
Se - partícula apassivadora (VTD, VTDI): Varia de acordo com o
sujeito.
Se - Índice de Indeterminação do Sujeito (VTI, VI, VL): Não varia
de acordo com o sujeito (sujeito indeterminado).
Ex: Plastificam-se documentos.(Partícula apassivadora)

-6-
PORTUGUES
Acredita-se em marcianos. (I.I.S)
4. Verbo "Haver"pessoal:
Quando o verbo "haver" for verbo auxiliar de uma locução verbal,
ele será pessoal.
Quando o verbo haver é empregado de forma pessoal, ele
concorda normalmente com seu sujeito.
5. Erro no emprego do "ter" pelo "haver":
Ter indica posse.
INCORRETO CORRETO
Tem um carro na calçada Há (existe) um carro na
calçada
Tem peixes no aquário Há (existe) peixes no
aquário.
6. Sujeito e Preposição:
Elementos do sujeito jamais poderão aparecer contraídos com
preposição.
Sujeito e preposição nunca se fundem, apenas se repelem.
Ex: Está na hora de o ônibus chegar. (não "do ônibus..")
Chegou o momento de eles saírem.

Classificação do Predicado
Nominal:
Verbo de Ligação (VL): Predicado nominal.
Função do VL: Liga o sujeito ao predicado e não é significativo. É
aquele que tem um núcleo que geralmente indica "estado"ou
"qualidade"do sujeito. É formado por um verbo de ligação mais o
predicativo do sujeito.
Verbal:
Verbo transitivo direto (VTD), indireto (VTI), direto e indireto
(VTDI) e verbo intransitivo: Predicado Verbal (Verbo nominal
também).
Verbos significativos ou nocionais: Ação
É aquele que tem como núcleo um verbo que geralmente
expressa idéia de ação. Apresenta sempre um verbo significativo.
Verbo-Nominal:
VTD, VTI, VTDI, VI : Ação + Estado.
É aquele que tem dois núcleos: um verbo que indica ação e um
nome que indica qualidade ou um estado do sujeito ou do objeto.
É formado por um verbo significativo mais um predicativo do
sujeito ou do objeto.
Predicado verbo-nominal com predicativo do sujeito:
O maestro regia a orquestra satisfeito.
Predicado verbo-nominal com predicativo do objeto:
O juiz declarou o réu inocente.
Eu acho Denise bonita.

Obs.:
O predicativo do objeto ocorre somente com os verbos seguintes:
Achar, Acusar, Eleger, Imaginar, Julgar, Tornar, Considerar,
Encontrar, Chamar (apelidar, nomear) e sinônimos.

-7-
PORTUGUES
Podemos antepor o predicativo a ser objeto.
Termos Integrantes da Oração
1. Complementos Verbais:
Objeto direto: é um complemento de um VTD, ou seja, o
complemento que normalmente vem ligado sem preposição.
Objeto indireto: é um complemento de um VTI, isto é, o
complemento que se liga ao verbo por meio de preposição
obrigatória.
2. Complemento Nominal:
Nome: Substantivo, adjetivo ou advérbio. É o termo que completa
a significação de um nome transitivo. Vem ligado ao nome
através de uma preposição obrigatória.
Ex: Esse remédio é prejudicial ao organismo.
O juiz decidiu favorável ao réu.
Obs.: O complemento nominal pode ser representado por um
pronome oblíquo. Nesse caso a preposição está implícita no
pronome.
Ex: Caminhar a pé lhe era saudável.
- Não confunda Objeto Indireto co Complemento Nominal!
Ex: Confio em Deus. OI - Confia em quem? Em Deus.
Tenho confiança em Deus. C. Nominal - Confiança em quem?
Em Deus.
3. Agente da Passiva
É o termo que indica o ser que pratica a ação quando o verbo
está na voz passiva. Vêm regido pela preposição "por" e
raramente pela preposição "de".
Ex: A cidade foi cercada pelo exército.
Crase
1. a (preposição) + a (artigo) = à
Fomos a (prep.) a (artigo) praia. Fomos à praia.
A crase só ocorre antes de substantivo FEMININO.
Não ocorre crase quando o verbo não exige a preposição.
Não ocorre crase quando o termo regido (nome próprio) não
aceita artigo. Ocorre crase nesse caso apenas se o termo
regente exigir a preposição "a" e o termo regido aceitar o artigo
feminino "a".
2. A (preposição) + Aquele (s), Aquela (s), Aquilo = Àquele
(s), Àquela (s), Àquilo.
Só ocorre com esses três pronomes demonstrativos.
Sempre que o termo regente exigir a preposição "a" e vier
seguido dos pronomes demonstrativos "aquele (s), aquela (s),
aquilo" , haverá crase da preposição "a" com o "a" inicial desses
pronomes.
Termos Acessórios da Oração
1. Adjunto Adverbial
É o termo que denota circunstância e modifica o sentido de
um verbo, adjetivo ou advérbio. São os advérbios e as locuções
adverbiais que atuam nas orações como adjunto adverbial.
- Atenção! Não confunda Predicativo com Adjunto Adverbial:
Os aviões passavam velozmente sobre a cidade. (adj. Adverbial)

-8-
PORTUGUES
Os aviões passavam velozes sobre a cidade. (predicativo)
2. Adjunto adnominal
É o termo da oração que modifica um substantivo, qualquer
que seja sua função sintática, qualificando-o, especificando-o,
determinando-o ou indeterminando-o. Pode ser sintaticamente
um artigo, pronomes, adjetivo, locuções adjetivas e numerais.
Exemplos:
· No desfile, duas garotas vestiam calças e camisetas brancas.
· Pode levar também este jornal; meu filho caçula já leu o
caderno de esportes.
· Roubaram-lhe as economias.
· O espetáculo de dança foi suspenso até segunda ordem.
· O espetáculo coreográfico foi suspenso até segunda ordem.
Atenção! Não confunda predicativo com adjunto adnominal.
Predicativo: Não pertence e refere.
Adjunto adnominal: Pertence e refere.
Ex: O time contratou um bom goleiro - Adjunto Adnominal.
O técnico considera bom o goleiro. - Predicativo do obj. direto.
Dica: Substitui o objeto direto pelo pronome correspondente
(oblíquo átono).
Ex: O time contratou-o. (Adj. Adnominal).
O técnico considera-o bom. (predicativo).
3. Aposto
É o termo da oração que se refere a um substantivo, a um
pronome ou a uma oração, para explicá-los, ampliá-los, resumilos
ou identificá-los. Mais comumente o aposto é marcado por
uma pausa entre o termo que se refere, mas não é regra geral.
Exemplos:
· Àquela hora a avenida Brasil estava intransitável.
· O resto, isto é, as louças, os cristais e os talheres, irá nas
caixas menores.
· Este advogado, como representante da comunidade, é
imprescindível.
4. Vocativo
É o termo da oração por meio do qual chamamos ou
interpelamos nosso interlocutor, real ou imaginário. Geralmente é
isolado por vírgulas, e, em algumas vezes, acompanhado de uma
interjeição.
Exemplos:
· Você viu, doutor, que notícia agradável?
· Deus, me ajude!
· Ó filho, me ajude a carregar as compras.
Período Composto
Período Composto por Coordenação
É formado por orações coordenadas.
Orações coordenadas
São orações que no período não exercem função sintática
uma em relação as outras, portanto são sintaticamente
independentes embora ligadas pelo sentido.
Período Composto por subordinação

-9-
PORTUGUES
É formado por oração principal e oração subordinada (uma
ou mais).
Oração principal: É aquela que possui um ou mais de um de seus
termos representados por orações subordinadas.
Oração subordinada: É aquela que, sintaticamente, representa
um termo da oração principal.
Período Composto por Coordenação e Subordinação
É formado por oração coordenada mais uma outra oração
que será coordenada em relação a primeira, e principal em
relação a próxima, que será subordinada.
O. Coor. O. Coor. O. Subor.
O.
Principal
Ex: O homem entrou na sala e pediu que todos saíssem.
e pediu: Oração coordenada e principal.
Períodos Compostos por Coordenação
Assindética: Não vêem introduzidas por conjunção.
Sindética: Vêem introduzidas por conjunção e são introduzidas
de acordo com essa.
Classificação das orações coordenadas sindéticas
1. Aditivas: Expressam uma adição, uma seqüência de
informações.
Conjunções: e, nem, não só, mas também, ...
2. Adversativas: Expressam idéia de adversidade, oposição,
contraste.
Conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, ...
3. Alternativas: Expressam idéia de alternância, escolha.
· Conjunções: ou, ou...ou, ora...ora .
Ex: Ora ganhava, ora perdia.
4. Conclusivas: Expressam idéia de conclusão:
Conjunções: logo, portanto, por conseguinte.
Ex: Todos estudaram muito, logo passaram no vestibular.
5. Explicativas: Expressam uma explicação, uma justificativa.
Conjunções: pois, porque, que.
Ex: Respeite a natureza, pois ela é a sua casa.
Obs.:
1. A conjunção "pois" pode ter valor explicativo ou conclusivo
Ex: Venha imediatamente, pois sua presença é
indispensável. (explicativa)
Ele está confuso; precisa, pois, de nosso apoio. (conlusiva)
Quando o "pois" tema apenas uma virgula é explicativo, vem
antes do verbo. Quando apresenta duas virgulas é conclusiva,
vem depois do verbo.
2. A conjunção "que"pode ter valor aditivo.
Ela fala que fala.
Só é aditivo se estiver entre o mesmo verbo repetido.
3. A conjunção "e" pode assumir valor adversativo.
Vi um monstro, e não senti medo.
Orações subordinadas substantivas
São aquelas que desempenham as funções sintáticas

- 10 -
PORTUGUES
próprias do substantivo. Sujeito, objeto direto, objeto indireto,
predicativo, complemento nominal e aposto.
1. Subjetiva
Funcionam como sujeito do verbo da oração principal.
Ex: É importante que você aprenda português.
que: Conjunção subordinativa integrante.
Obs.: Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o
verbo da oração principal fica sempre na 3º pessoa do singular.
2. Objetiva direta
Funcionam como objeto direto do verbo da oração principal.
Ex: Não sei se Teresa virá.
se: Conjunção subordinativa integrante.
3. Objetivas indiretas
Funcionam como objeto indireto do verbo da oração principal.
Ex: Gostaria de que todos me apoiassem.
que: conjunção subordinativa integrante.
4. Predicativas
Funcionam como predicativo do sujeito da oração principal.
Verbo de ligação: predicativo do sujeito.
Ex: Nossa esperança é que chova logo.
que: Conjunção subordinativa integrante.
5. Completivas Nominais
Funcionam como complemento nominal de um nome da
oração principal.
Ex: Ninguém teve dúvida de que a propaganda mentiu.
6. Apositivas
Funcionam como aposto de um nome da oração principal.
Ex: Só desejo uma coisa: que vivam felizes.
Obs.: Tem que possuir dois pontos (:).
Reduzidas: Não tem conectivo (conjunção).
Apresenta o verbo numa das formas nominais: infinitivo (-r),
gerúndio (-ndo) e particípio ( - do).
Obs.:
As orações subordinadas substantivas são geralmente
iniciadas pelas conjunções integrantes: "que" e "se". Podem, no
entanto, vir inicidas por outras palavras, tais como:
Pronome interrogativo: que, quem, qual, quanto.
Ex: Ninguém imagina qual será o prórpio destino.
Advérbios interrogativos
Ex: Não sei onde ele está.
Orações Subordinadas adjetivas
São aquelas que têm o valor e a função de um adjetivo
(sempre se referem a um substantivo ou pronome da oração
principal)
São iniciadas por pronomes relativos: que, quem, o qual, cujo,...
Dicas: Pronome relativo:Tente substituir o pronome por "o
qual (is) " para confirmar se ele é ou não relativo.
O pronome relativo exerce uma função sintática.
Ex: Admiramos alunos estudiosos Admiramos alunos que
estudam

- 11 -
PORTUGUES
Orações subordinas adjetivas.
1. Orações subordinadas adjetivas Restritivas
Restringem ou limitam a significação do nome a que se refere.
Não são separadas por vírgulas. Funcionam como adjunto
adnominal de um nome da oração principal.
Ex: Os homens que fumam vivem pouco. (O.S. Adjetiva
Restritiva)
Havia ali crianças pedindo esmola. (O.S. Adjetiva Restritiva
Reduzida de gerúndio).
2. Orações Subordinadas Adjetivas Explicativas
Indicam uma simples explicação ou detalhe do nome a que se
refere. Vêm sempre separadas por vírgulas. Funcionam como
aposto (entre vírgulas) de um nome da oração principal.
Ex: O Sol, que é uma estrela, é o centro do nosso sistema
planetário.
As orações subordinadas adjetivas e a vírgula:
Já vimos que as orações adjetivas explicativas são
separadas por vírgulas, mas as adjetivas restritivas não. O
emprego, ou não, das vírgulas com as orações adjetivas gera
frases de sentidos toalmente diferentes. Compare:
Os balões que subiam eram aplaudidos pelas crianças.
(restritiva)
Os balões, que subiam, eram aplaudidos pelas crianças.
(explicativa)
Apesar de terem a mesma estrutura, esses períodos têm
sentidos bem diferentes. Note que no período primeiro, entendese
que nem todos os balões subiam, apenas uma parte deles é
que subia. E só os que subiam eram aplaudidos. A oração "que
subiam"é, portanto, adjetiva restritiva.
- Já no período segundo, entende-se que todos os balões subiam
e todos eram aplaudidos pelas crianças. A oração "que subiam"
é, portanto, adjetiva explicativa.
Orações Subordinadas Adverbiais
Exercem a função sintática de adjunto adverbial da oração
principal. São iniciadas pelas conjunções subordinativas
adverbiais. Classificam-se de acordo com a circunstância que
expressam.
Ex: O porteiro chegou à noitinha O porteiro chegou quando
anoitecia.
Adjunto adverbial de tempo Oração Subordinada Adverbial
Temporal.
1. Causais:
Exprimem causa, motivo, razão.
Ex: Ele gritou porque viu um vampiro.
porque: Conjunção subordinativa adverbial causal.
2. Comparativas
- Representam o segundo termo de uma comparação.
- Muitas vezes, as orações comparativas vêm com o verbo
elíptico (subentendido).
Ex: Nadei como um cão (nada).

- 12 -
PORTUGUES
como: Conjunção subordinativa adverbial causal.
3. Concessivas:
- Exprimem um fato que se concede, que se admite, em oposição
ao fato expresso na oração principal.
Ex: Era simples, embora fosse rico.
4. Condicional:
- Exprimem uma condição, hipótese.
Ex: Estudando desse jeito, você ficará louco.
O.S. Adverbial Condicional reduzida de Gerúndio.
5. Conformativas:
- Exprimem acordo ou conformidade de um fato com o outro.
Ex: Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.
O.S. Adverbial Conformativa.
6. Consecutivas:
- Exprimem uma conseqüência, um efeito ou resultado.
Ex: Estava tão distraído que pisou na lama.
7. Finais:
- Exprimem finalidade, objetivo.
Ex: Marcelo recolheu sua mala para que o intruso se
acomodasse.
Obs.: Para que : Locução conjuntiva (faz o papel de uma
conjunção). Todas terminam em "que".
8. Proporcionais:
- Exprimem proporcionalidade:
Ex: À medida que se vive, mais de aprende.
À medida que: Locução conjuntiva subordinativa adverbial
proporcional.
6. Temporais:
- Exprimem circunstância de tempo.
Ex: Mal entrou em casa, tocou o telefone.
O.S. Adverbial Temporal.
Obs.:
- As orações subordinadas que exercem idêntica função sintática
podem aparecer coordenadas entre si.
Ex: Teus pais desejam que estudes e que te formes.
- Dois conectivos juntos (e + *): Duas orações subordinadas
iguais, a função do "e" é ligar as duas orações idênticas (e -
conjunção coordenativa).
- Orações Subordinadas Coordenadas entre si.
Obs.2:
- O. S. Adjetiva separada por vírgula só as explicativas.
- O. S. Substantivas separadas por vírgulas apenas as apositivas.
- O. S. Adverbial vier depois da Oração Principal, vírgula
facultativa.
- O. S. Adverbial vier antes ou intercalada na Oração Principal,
vírgula obrigatória.
Concordância verbal
· Regra geral: O verbo concorda com o sujeito em número e
pessoa.
Ex: Bancários iniciam campanha eleitoral.

- 13 -
PORTUGUES
Concordância do verbo com o sujeito composto:
1º. Caso:
Quando o sujeito composto vier anteposto ao verbo, o verbo irá
para o plural.
Ex: O milho e a soja subiram de preço.
Obs.:
- Quando os núcleos do sujeito forem sinônimos, o verbo poderá
ficar no singular ou no plural.
Ex: Medo e terror nos acompanha (acompanham) sempre.
- Quando os núcleos do sujeito vierem resumidos por tudo, nada,
alguém ou ninguém, o verbo ficará no singular.
Ex: Dinheiro, mulheres, bebida, nada o atraía.
- Quando o sujeito for formado por núcleos dispostos em
gradação (ascendente ou descendente) o verbo ficará no singular
ou no plural.
Ex: Uma briga, um vento, o maior furacão não os inquietava
(inquietavam).
2º. Caso:
Quando o sujeito composto vier posposto ao verbo, o verbo irá
para o plural ou concordará apenas com o núcleo do sujeito que
estiver mais próximo.
Ex: Chegou o pai e a filha. Chegaram o pai e a filha.
3º. Caso:
Quando o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais
diferentes, o verbo irá para o plural na pessoa que tiver
prevalência. 1º , 2º , 3º. 2º , 3º.
Ex: Eu, tu e ele fizemos o exercício.
Tu e ele fizeste / fizeram.
4º. Caso:
Quando os núcleos do sujeito vierem ligados pela conjunção "ou"
, o verbo ficará no singular se houver idéia de exclusão. Se
houver idéia de inclusão o verbo irá para o plural.
Ex: Pedro ou Antônio será o presidente do clube. (Exclusão)
Laranja ou mamão fazem bem a saúde. (Inclusão)
Casos especiais de concordância verbal:
1º. Caso:
Com a expressão "um dos que" o verbo ficará no singular e no
plural. O plural é construção dominante.
Ex: Você é um dos que mais estudam (estuda).
2º. Caso:
Quando o sujeito for constituído das expressões "mais de",
"menos de", "cerca de" o verbo concordará com o numeral que
segue as expressões.
Ex: Mais de uma pessoa protestou contra a lei.
Mais de vinte pessoas protestaram contra a decisão.
Obs.: Com a expressão "mais de um"pode ocorrer o plural:
- Quando o verbo dá idéia de ação recíproca (troca de ações).
Ex: Mais de uma pessoa de abraçaram.
- Quando a expressão "mais de um" vêm repetida.
Ex: Mais de um amigo, mais de um parente estavam presentes.

- 14 -
PORTUGUES
3º. Caso:
Se o pronome interrogativo ou indefinido estiver no singular o
verbo só concordará com ele. Se esses pronomes estiverem no
plural o verbo concordará com ele ou com o pronome pessoal.
Ex: Qual de nós?
Alguns de nós.
Qual de nós viajará?
Quais de nós viajarão (viajaremos)?
4º. Caso:
Quando o sujeito for um coletivo o verbo ficará no singular.
Ex: A multidão gritava desesperadamente.
Obs.:
- Quando o coletivo vier seguido de um adjunto no plural, o verbo
ficará no singular ou poderá ir para o plural.
Ex: A multidão de torcedores gritava (gritavam)
desesperadamente.
5º. Caso:
Quando o sujeito de um verbo for pronome relativo "que", o verbo
concordará com o antecedente deste pronome.
Ex: Sou eu que pago.
6º. Caso:
Quando o sujeito de um verbo for um pronome relativo "quem", o
verbo concordará com o antecedente ou ficará na 3º pessoa do
singular concordando com o sujeito quem.
Ex: Sou eu quem paga (pago).
7º. Caso:
Quando o sujeito for formado por nome próprio que só tem plural,
não antecipado de artigo, o verbo ficará no singular; se o nome
próprio vier antecipado de artigo o verbo irá para o plural.
Ex: Minas Gerais possui grandes fazendas.
Os Estados Unidos são uma nação poderosa.
8º. Caso:
Os verbos impessoais ficam sempre na 3º pessoa do singular.
Ex: Faz 5 anos...
Havia crianças na fila.
Obs.:
- Também fica na 3º pessoa de singular o verbo auxiliar que se
põe junto a um verbo impessoal formando uma locução verbal.
Ex: Deve haver crianças na fila.
- O verbo existir não é impessoal.
Ex: Existiam crianças na fila.
Devem existir crianças na fila. (O verbo auxiliar de um verbo
pessoal concordará com o sujeito).
9º. Caso:
Com os verbos "dar", "bater", "soar" se aparecer o
sujeito"relógio"a concordância se fará com ele; se não aparecer
com o sujeito "relógio" a concordância se fará com o número de
horas.
Ex: O relógio deu cinco horas.
Deram cinco horas no relógio da matriz.

- 15 -
PORTUGUES
... relógio da matriz: Adjunto adverbial de lugar.
10º. Caso:
Quando o sujeito for formado por um pronome de tratamento o
verbo irá sempre para 3º pessoa.
Vossa Excelência leu meus relatórios?
11º. Caso:
Quando "se" funcionar como partícula apassivadora o verbo
concordará normalmente com o sujeito da oração.
Ex: Pintou-se o carro.
Alugam-se casas.
12º. Caso:
Quando o "se" funcionar como Índice de Indeterminação do
Sujeito o verbo ficará sempre na 3º pessoa do singular.
Ex: Precisa-se de secretária.
Vive-se bem aqui.
13º. Caso:
O verbo parecer, seguido de infinitivo admite duas construções:
- Flexiona-se o verbo parecer e não se flexiona o infinitivo.
- Flexiona-se o infinitivo e não flexiona-se o verbo parecer.
Ex: Os prédios parecem cair.
Os prédios parece caírem.
Regência Nominal
Relação de um nome com seu complemento nominal.
Na regência nominal, não há tantos desencontros entre a norma
culta e a fala popular. Por isso, pode-se confiar na intuição.
A seguir um quadro com alguns nomes e suas regências mais
comuns:
a
acessível, adequado, alheio, análogo, apto, avesso,
benéfico, cego, conforme, desatento, desfavorável,
desleal, equivalente, fiel, grato, guerra, hostil,
idêntico, inerente, nocivo, obediente, odioso, oposto,
peculiar, pernicioso, próximo (de), superior, surdo
(de), visivel.
de
amante, amigo, ansioso, ávido, capaz, cobiçoso,
comum, contemporâneo, curioso, devoto, diferente,
digne, dotado, duro, estreito, fértil, fraco, inocente,
menor, natural, nobre, orgulhoso, pálido, passível,
pobre, pródigo (em), temeroso, vazio, vizinho.
com afável, amoroso, aparentado, compatível, conforme,
cruel, cuidadoso, descontente, furioso (de), ingrato,
liberal, misericordioso, orgulhoso, parecido (a), rente
(a, de).
contra desrespeito, manifestação, queixa.
em
constante, cúmplice, diligente, entendido, erudito,
exato, fecundo, fértil, fraco, forte, hábil, indeciso,
lento, morador, perito, sábio, sito, último (de, a),
único.

- 16 -
PORTUGUES
entre convênio, união.
para apto, bom, essencial, incapaz, inútil, pronto (em), útil
para
com afável, amoroso, capaz, cruel, intolerante, orgulhoso
por ansioso, querido (de), responsável, respeito (a, de)
sobre dúvida, influência, triunfo.
Fonte: Gramática Reflexiva. Texto, semântica e
interação.
Silepse ou Concordância Ideológica
Muitas vezes, a concordância não é feita com a forma gramatical
das palavras, mas com a idéia ou o sentido que está
subentendido nelas. A esse tipo de concordância, dá-se o nome
de concordância ideológica ou silepse.
- Silepse de Gênero:
Ex: São Paulo é violenta.
- Silepse de número:
Ex: A molecada corria pelas ruas e atiravam pedras.
- Silepse de pessoa:
Ex: Os pobres corremos da polícia.
Concordância Nominal
Regra geral: O adjetivo e as palavras adjetivas (artigo,
numeral e pronome) concordam em gênero e número com o
substantivo a que se refere.
Ex: Revistas novas. (Feminino - Feminino, Plural - Plural).
- Um só adjetivo qualificando mais de um substantivo.
- Adjetivo posposto aos substantivos.
1º. Caso:
Quando o adjetivo é posposto a vários substantivos do mesmo
gênero, ele vai para o plural ou concorda com o substantivo mais
próximo.
Ex: Tamarindo e limão azedos (azedo).
2º. Caso:
Se os substantivos forem de gêneros diferentes, o adjetivo pode
ir para o plural masculino ou pode concordar com o substantivo
mais próximo.
Ex: Tamarindo e laranja azedos (azeda).
3º. Caso:
Quando o adjetivo posposto funciona como predicativo, vai
obrigatoriamente para o plural.
Ex.: O tamarindo e a laranja são azedos.
Adjetivo anteposto aos substantivos:
1º. Caso:
Quando o adjetivo vem anteposto aos substantivos, concorda
com o mais próximo.
Ex.: Ele era dotado de extraordinária coragem e talento.
2º. Caso:
Quando o adjetivo anteposto funciona como predicativo, pode
concordar com o substantivo mais próximo ou pode ir para o
plural.
Ex: Estavam desertos a casa e o barraco.

- 17 -
PORTUGUES
Estava deserta a casa e o barraco.
Um só substantivo e mais de um adjetivo:
1º. Caso:
Ex.: O produto conquistou o mercado europeu e o americano.
O substantivo fica no singular e repete-se o artigo.
2º. Caso:
Ex.: O produto conquistou os mercados europeu e americano.
O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo.
Outros casos de concordância nominal:
1º. Caso:
Bastante:
- Função adjetiva: Variável - refere-se a substantivo.
- Função adverbial: Invariável - refere-se a verbo, adjetivo e a
advérbio.
Ex.: Ele tem bastantes amigos (substantivo).
Eles trabalham (verbo) bastante.
Elas são bastante simpáticas (adjetivo).
Obs.:
- Nessa regra, podemos incluir ainda as seguintes palavras:
meio, muito, pouco, caro, barato, longe. Só variam se
acompanhar o substantivo.
2º. Caso:
Palavras como: quite, obrigado, anexo, mesmo, próprio, leso e
incluso são adjetivos. Devem, portanto, concordar com o nome a
que se referem.
Ex.: Nós estamos quites com o serviço militar.
Ela mesma fez o café.
Obs.: A expressão "em anexo" é invariável.
Ex.: As cartas seguem em anexo.
3º. Caso:
Se nas expressões: "é proibido", "é bom", "é preciso" e "é
necessário", o sujeito não vier antecipado de artigo, tanto o verbo
de ligação quanto o predicativo ficam invariáveis.
Ex.: É proibido entrada.
- Se o sujeito dessas expressões vier determinado por artigo ou
pronome, tanto o verbo de ligação quanto o predicativo variam
para concordar com o sujeito.
Ex.: É proibida a entrada.
4º. Caso:
As palavras: alerta, menos e pseudo são invariáveis.
Ex.: Os vestibulandos estão alerta.
Nesta sala há menos carteiras.
Caso:
Nas expressões "o mais ... possível" e "os mais ... possíveis" , o
adjetivo "possível"concorda com o artigo que inicia a expressão.
Ex.: Carro o mais veloz possível.
Carros os mais velozes possíveis.
Carros o mais velozes possíveis.

- 18 -
PORTUGUES

ALGUNS ERROS MAIS COMETIDOS NA LÍNGUA


PORTUGUESA
· Há dez anos atrás
Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas: "Há dez anos"
ou "Dez anos atrás".
· Fazem cinco anos
Fazer quando exprime tempo, é impessoal. Faz cinco anos, Fazia
dois séculos, Faz quinze dias.
· Aluga-se casas
O verbo concorda com o sujeito. Alugam-se casa, Fazem-se
consertos, Procuram-se empregados, É assim que se evitam
acidentes.
· Houveram muitos acidentes
Haver (VTD) como existir, é invariável. Houve muitos acidentes,
Havia muitas pessoas, Deve haver muitos casos.
· Existe muitas esperanças.
Existir (VI), bastar, faltar, restar e sobrar admitem verbalmente o
plural. Existem muitas esperanças, Bastariam dois dias, Faltavam
poucas peças, Restaram alguns objetos, Sobravam idéias.

OBRIGADO (A) / EU MESMO (A)


"Eu mesma fiz essa bolsa", é assim que se fala?
É possível, mas é necessário fazer a concordância.
Quando quem fala é homem deve dizer "eu mesmo". Se for
mulher, "eu mesma"
Você, referindo-se a uma mulher, deve dizer "você mesma",
"ela mesma".
No plural e havendo pelo menos um homem, "nós mesmos".
Havendo só mulheres "nós mesmas".
A concordância deve ser feita quando é necessário agradecer.
O homem diz "Obrigado". A mulher, "obrigada".

PRONOME RELATIVO PRECEDIDO DE PREPOSIÇÃO


Esse módulo trata do uso do pronome relativo QUE . Em
certos casos ele deve ser acompanhado da preposição EM ,
como no caso da letra da música "GOSTAVA TANTO DE
VOCÊ" (Edson Trindade). Tim Maia canta:
"...Pensei até em me mudar, lugar qualquer que não exista o
pensamento em você ...".
Leila Pinheiro corrige e canta:
"... lugar qualquer em que não exista o pensamento em você
..." Leila Pinheiro tem razão. Afinal,, se esse pensamento
existe em algum lugar, o correto seria dizer "lugar qualquer em
que não exista o pensamento em você". Trata-se do emprego
da preposição com o pronome relativo "que".
Na linguagem do dia-a-dia essa preposição desaparece. É
comum as pessoas dizerem "A empresa que eu trabalho". Se
eu trabalho em algum lugar, deverei dizer "A empresa em que
trabalho".

- 19 -
PORTUGUES

PRONOMES - USO PADRÃO E USO POPULAR


Na linguagem do dia-a-dia há uma confusão muito comum
quanto ao uso dos pronomes.
Ex: Você fez o que eu te pedi?
Na linguagem formal isso não seria posssível. Você é 3ª
pessoa, te é 2ª. O correto seria dizer "Você fez o que eu lhe
pedi?"
Às vezes o exagero é maior.
Veja o exemplo no nome da música "Eu te amo você", de Kiko
Zambianchi.
"Eu te amo você"
São dois os problemas nesse título.
a mistura do te que é 2ª pessoa e você que é 3ª;
a repetição desnecessária de pronomes: Eu te amo você".
É perfeitamente possível dizer "Eu te amo a ti", já que os
pronomes estão na mesma pessoa.
No dia-a-dia ouve-se também, "Eu te disse pra você".
O correto seria "Eu te disse a ti". Mas é uma forma inadequada
para se falar cotidianamente. Ficaria melhor numa linguagem
mais formal.

GRAFIA DOS VERBOS


"Eu pus a carta no correio. "
"Eu me machuquei, formou-se uma ferida e aí apareceu pus.
Como escrevo este'pus' do verbo pôr e como escrevo
'pus' relativo a ferida?
Essas são as questões que se colocam ao público na rua.
Muita gente fica na dúvida. A maioria acerta. O 'pus' da ferida
é com S. O 'pus' do verbo, também.
Não existe pus com z, seja verbo ou substantivo. Para esses
casos deve-se esquecer a letra z.
Pus, puser, puseram, pusesse, todas essas palavras são com
s.
Quis, quiser, quisesse, quiseram, quisemos, também.
Todas as formas dos verbos querer, pôr e derivados devem
ser grafados com s: depor, propor, impor, repor, sobrepor,
decompor e outros.

VOLIÇÃO
Você sabe o que é uma frase volitiva? Frase volitiva é aquela
que expressa vontade, desejo. A idéia de querer, de desejar,
às vezes vem expressa de uma forma sutil. Veja a letra da
canção "A cura", gravada por Lulu Santos:
"Existirá
em todo porto tremulará a velha bandeira da vida
acenderá
todo o farol iluminará uma ponta de esperança...".
Você notou que a letra traz um tempo verbal, o futuro do
presente, que não se usa muito no dia-a-dia, no Brasil. Nós

- 20 -
PORTUGUES
não falamos "amanhã eu farei", e, sim, "amanhã eu vou fazer".
Justamente pelo fato de não ser muito usado, o futuro do
presente reveste-se de um caráter um pouco mais formal. No
caso da cançÃo de Lulu, tem um valor volitivo. No fundo, o que
o artista está expressando é o desejo de que determinadas
coisas venham a acontecer.
Portanto o futuro, além de todos os seus outros valores, pode
expressar desejo, que foi o que aconteceu de forma muito
apropriada na letra de Lulu Santos.

USO DO "POR QUE"


Trecho da canção "Pedacinhos" (Guilherme Arantes) :
"Pra que tornar as coisas
tão sombrias
na hora de partir?
Por que não se abrir?
Se o que vale é o sentimento
e não, palavras quase
sempre traiçoeiras,
e é bobeira se enganar."
Nesta canção, Arantes usa a frase "Por que não se abrir?"
Esse "por que" é separadíssimo! Toda vez que for possível
substituir o "por que" por "por qual razão" ou "por que razão",
ele deve ser escrito separado:
por que não se abrir
por qual razão não se abrir
Veja este trecho da canção "Coisa Mais Linda", de Carlos Lyra:
"... Coisa mais linda,
é você assim,
justinho você - eu juro -
eu não sei por que você
não me quer mais..."
"Eu não sei por que você não me quer mais" equivale a dizer
"eu não sei por qual razão você não me quer mais". Sempre
que essa troca for possível, escreva "por que" separado: "por"
para cá, "que" para lá!

FORMAS PARALELAS DE PALAVRAS TERMINADAS EM "X"


E o adjetivo relativo a tórax?
Qual é o plural de tórax?
É toráxico ou torácico?
Com essas perguntas o professor Pasquale inicia o programa
e esclarece.
O plural de tórax é tórax: o tórax, os tórax. Já o adjetivo é
torácico, com c e não com x.
Mas nem todos os plurais de palavras terminadas em x
seguem o mesmo modelo. Um exemplo vem da música "Cálix
Bento" (letra adaptada por Tavinho Moura da Folia de Reis do
Norte de Minas Gerais) cantada por Pena Branca e
Xavantinho.

- 21 -
PORTUGUES
"... onde mora o cálix bento,
... onde mora o cálix bento..."
Deve-se atentar para a pronúncia correta da palavra cálix. O x
não é pronunciado como na palavra tórax e sim, com som de
s. Cálix tem uma forma paralela, cálice.
Nas palavras que terminam em x e têm forma paralela, o plural
é feito pela forma paralela.
Ex: cálix, cálice, cálices
apêndix ( neste caso, pronuncia-se o x ), apêndice, apêndices
índex, índice, índices
látex, látice, látices
( normalmente, diz-se latéx. Errado. O certo é látex).

ADJETIVO DANDO ORIGEM A SUBSTANTIVO ABSTRATO


Nós aprendemos na escola algumas coisas esquisitas. Por
exemplo: você se lembra daquela história de substantivo
concreto e abstrato, quando aprendemos que "concreto a
gente pega e abstrato a gente não pode pegar"? Essa história
é simplesmente horrorosa! Apague-a da sua cabeça!
Vamos falar um pouco sobre substantivo abstrato. Uma de
suas possibilidades é indicar nome de qualidade. Observe um
trecho da letra da canção "Amor", gravada por Ivan Lins:
"... Vem afastar as assombrações
arejar meus porões
vem acalmar os meus vendavais
meus temores, meus ais
Vem e me faz cada vez mais audaz,
cada vez mais capaz
de acreditar
que ainda posso tentar continuar..."
Você notou que o letrista Vítor Martins usou as palavras capaz
e audaz. Ambas as palavras funcionam como adjetivos, dos
quais saem os respectivos substantivos, que dão nome às
qualidades:
audaz - audácia
capaz - capacidade
Quem é audaz tem a qualidade de audácia, e quem é capaz
tem a qualidade de capacidade. Audácia e capacidade são
substantivos abstratos, substantivos que dão nome a
qualidade, estado (como alegria), ação e outros valores.

VERBO VIR E DERIVADOS


Neste módulo o professor Pasquale discute a conjugação de
certos verbos derivados ou, como também são conhecidos,
verbos compostos.
De início sugere a seguinte pergunta ao público na rua:
"A polícia interviu ou a polícia interveio?"
O correto é "A polícia interveio". O verbo "intervir" deriva do
verbo vir.
No presente do indicativo a conjugação do verbo vir é

- 22 -
PORTUGUES
"Eu venho Tu vens Ele vem..."
Como o verbo "intervir" é derivado, sua conjugação é feita a
partir do verbo vir.
"Eu intervenho Tu intervéns Ele intervém..."
O gramático e professor Napoleão Mendes de Almeida reforça
a tese. Afirma : "A conjugação dos verbos compostos deve
seguir a conjugação dos verbos simples. O verbo deter, por
exemplo. A pessoa não deve dizer "Ele deteu". Sim, "Ele
deteve".
Assim, deve-se dizer:
- "Se a polícia intervier" (no futuro) e não "Se a polícia intervir".
- "Eu só comprarei se o preço convier" e não "...se o preço
convir". - "Eu comprei porque o preço conveio" e não ".. o
preço conviu". Para conjugar verbos como intervir, convir,
provir, etc. devemos nos basear sempre no verbo vir. Ele é
base de toda a família.

TREMA

SE NÃO / SENÃO
Esta dúvida foi enviada, por e-mail, pela telespectadora Mirian
Keller. Ela quer saber qual a diferença entre as palavras
"senão" e "se não". Para explicar isso, vamos observar um
trecho da canção "Nos Lençóis desse Reggae", de Zélia
Duncan:
"Nos lençóis desse reggae,
passagem pra Marrakesh,
dono do impulso que empurra o coração
e o coração, pra vida.
Não me negue, só me reggae,
só me esfregue quando eu pedir
e eu peço sim,
senão pode ferir o dia
todo cinza que eu trouxe pra nós dois"
Esse "senão" que Zélia usou na letra deve ser escrito numa
palavra só. Ele significa "do contrário" ou "caso contrário".
senão = do contrário / caso contrário
Exemplo:
"Faça isso, senão haverá problemas."

- 23 -
PORTUGUES
"Faça isso, do contrário haverá problemas."
"Faça isso, caso contrário haverá problemas."
Já as palavras "se" e "não" têm outro significado. "Se" é uma
conjunção condicional, isto é, uma conjunção que indica
condição.
"Se não chover, irei à sua casa."
"Caso não chova, irei à sua casa."
Nesse caso, a dica é simples: substitua mentalmente o "se
não" por "caso não". Se for o sentido desejado, escreva "se" e
"não" separadamente.

VERBOS DEFECTIVOS : "REAVER"


Há certos verbos que são complicados quanto ao uso. Um
deles é o verbo reaver, que significa possuir outra vez,
recuperar. O professor Pasquale propõe perguntas ao público:
"Eu reavi o dinheiro ou eu reouve o dinheiro"
"Ele reaveu ou ele reouve"
"Se eu reaver ou se eu reouver"
"Eles reaveram ou eles reouveram".
As respostas são absolutamente desencontradas e o motivo é
simples. O verbo reaver é defectivo, sua conjugação é
absolutamente irregular.
O presente do indicativo é incompleto, há apenas duas formas:
nós reavemos, vós reaveis. Como as demais formas não
existem, é aconselhável usar sinônimos como, por exemplo, o
verbo recuperar.
Já no pretérito perfeito existem todas as formas. (Aliás, não
existem verbos sem o pretérito perfeito). Se reaver fosse verbo
regular seria "eu reavi". Como é irregular, apresenta-se assim:
Eu reouve Nós reouvemos
Tu reouveste Vós reouvestes
Ele reouve Eles reouveram
A 2ª pessoa do singular do pretérito-perfeito gera a raiz de
todos os tempos derivados. Basta tirar as três últimas letras (
reouveste - ste ) que se encontra a raiz "reouve".
reouve + sse = reouvesse ( Imperfeito do Subjuntivo)
reouve + ra = reouvera ( Mais-que-perfeito)
reouve + r = reouver ( Futuro do Subjuntivo )

REGÊNCIA
Observe a letra da canção "Política voz", gravada pelo Barão
Vermelho:
"Eu não sou um mudo balbuciando querendo falar
Eu sou a voz, a voz do outro, que há dentro de mim
Guardada, falante, querendo arrasar
Com o teu castelo de areia
Que é só soprar, soprar
Soprar, soprar e ver tudo voar..."
Você notou alguma coisa diferente na letra? Nós vemos, a
certa altura:

- 24 -
PORTUGUES
"Arrasar com o teu castelo de areia"
Existe aí um fenômeno lingüístico chamado contaminação. Em
tese, o verbo arrasar é transitivo direto: uma coisa arrasa
outra.
"O furacão arrasou a cidade."
Muitas vezes encontramos o verbo acabar sendo usado com o
mesmo sentido:
"O furacão acabou com a cidade."
Assim, o que acontece é a transferência da regência do verbo
acabar - com esse sentido de destruir, que requer a
preposição "com" - para o verbo arrasar. Os sinônimos de
certas palavras acabam recebendo a companhia da
preposição que na verdade não exigem. O verbo arrasar é um
deles. No padrão formal da língua, deve ser usado sem a
preposição "com".
Os lingüistas podem argumentar que essa variante deve ser
aceita, mas em nosso programa temos sempre a preocupação
de ensinar o padrão formal e mostrar o que acontece nas
variantes lingüísticas. No texto formal, quando você for
escrever uma dissertação, utilize o verbo arrasar sem a
preposição.

NÚMERO DOS SUBSTANTIVOS


A moçada, hoje, gosta de usar patim. As pessoas falam "o
patins". Patins é plural. São os patins ou, então, o patim. O
mesmo erro acontece, normalmente, com a palavra óculos.
Duas canções ilustram bem o problema.
A primeira é "Vampiro", de Jorge Mautner. A outra é "Como
vovó já dizia", de Raul Seixas e Paulo Coelho. Em "Vampiro" a
letra diz:
"... Eu uso óculos escuros pra minhas lágrimas esconder..."
Jorge Mautner fala em óculos escuros e acerta. Óculos é plural
de óculo. Usamos dois óculos, um óculo para a vista direita e
outro óculo para a vista esquerda. Logo, o aparelho corretor
chama-se óculos.
Raul Seixas diz "... quem não tem colírio usa óculos escuro".
Errado. Certo seria dizer óculos escuros.
Óculos é plural, assim como férias. "As minhas férias" e não "A
minha férias".
Não se deve confundir férias com féria, no singular, que é a
arrecadação de dinheiro de um certo período.
Muita gente fala "o ciúmes". Não, é o ciúme.
As cadeiras são azul-claras, as camisas azul-escuras.
Neste caso a regra é esta: quando tenho um adjetivo
composto formado por dois adjetivos, mantenho o primeiro e
mexo só no segundo.
Ex: proposta lusobrasileira,
sentimento luso-brasileiro
cadeira azul-clara, cadeiras azul-claras

- 25 -
PORTUGUES
PRONOME:
USO CULTO X USO POPULAR 2
Dois amigos conversam:
Amigo 1: "Faz tempo que não vejo ela".
Amigo 2: "Pois eu vi ela ontem à noite".
Há quem brinque com esse tipo de construção da frase: "Eu vi
ela, tu rua, ele avenida"...
No português falado do Brasil, na língua do dia-a-dia, o
pronome reto (eu, tu, ele, nós, vós, eles) assumiu
definitivamente o papel de complemento verbal. Nós dizemos,
no dia-a-dia, "faz tempo que não vejo ele", "eu vou encontrar
ela amanhã" e por aí vai. Isso não está no padrão formal da
língua portuguesa. O correto seria:
"Faz tempo que eu não o vejo."
"Eu devo encontrá-la amanhã."
No padrão formal, frases como "Faz tempo que não vejo ele"
não são aceitas de jeito nenhum, mas são tão usadas que
acabam se tornando uma tendência em outros ambientes
lingüísticos. Vamos a um exemplo, a canção "O astronauta de
mármore", gravada pelo grupo Nenhum de Nós:
"... Sempre estar lá e ver ele voltar
não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar
sempre estar lá e ver ele voltar
o tolo teme a noite como a noite vai temer o fogo
vou chorar sem medo
vou lembrar do tempo
de onde eu via o mundo azul..."
Você notou o uso, por duas vezes, da expressão "ver ele
voltar". O correto, pelo padrão culto, seria "vê-lo voltar". Essa
discussão nunca vai ter fim. Na fala do dia-a-dia, no Brasil,
esse uso errado já está sacramentado. Mesmo assim, coloque
o pronome corretamente ao redigir um texto formal.

INFINITIVO
Observe essa frase:
"Nós precisamos lutarmos para podermos vencermos os jogos
que vamos disputarmos, do contrário não iremos nos
classificarmos."
Muito estranha essa frase, não? Lendo em voz alta, chega a
soar mal. Claro que é um exemplo exagerado, mas o que
queremos mostrar é a excessiva preocupação que algumas
vezes podemos ter com a flexão do verbo no infinitivo.
Vamos ver um trecho da canção "Belos e Malditos", gravada
pelo Capital Inicial:
"Belos e malditos,
feitos para o prazer,
os últimos a sair,
os primeiros a morrer..."
"Os últimos a sair" ou "os últimos a saírem" ? "Os primeiros a
morrer" ou "Os primeiros a morrerem"?

- 26 -
PORTUGUES
Nesse caso, a dica é simples: sempre que o infinitivo for
precedido por preposição (que, no caso , é "a"), é
desnecessário flexionar o verbo.
"Os veículos estão proibidos de circular."
"Foram obrigados a ficar."
Vamos a outro exemplo, a canção "Há Tempos", gravada pelo
Legião Urbana:
"...Tua tristeza é tão exata,
e o hoje o dia é tão bonito.
Já estamos acostumados
a não termos mais nem isso..."
O correto, do ponto de vista formal, é "não ter". Mas há quem
defenda que a poesia permite esse tipo de liberdade. No caso,
o plural - "não termos" - serviria para enfatizar, realçar a idéia
do autor. Em um texto poético, tudo bem, é até possível. Num
texto formal, nunca flexione o infinitivo precedido de
preposição.

É PROIBIDO / É PROIBIDA
Uma pessoa vai a um edifício comercial, a um ambiente mais
formal, e vê ali uma tabuleta:
"É proibido a entrada"
Pouco depois, ao entrar no prédio ao lado, a pessoa depara-se
com outra tabuleta:
"É proibida a entrada"
Uma confusão, não é? O programa foi às ruas consultar
algumas pessoas e perguntou quais eram as formas corretas:
"Não é permitido a entrada" ou "Não é permitida a entrada"
"É proibido a entrada" ou "É proibida a entrada"
Houve empate no número de respostas certas e erradas, o
que mostra que a confusão é mesmo grande. Vamos a alguns
exemplos para esclarecer essa questão:
A sopa é boa
Sopa é bom
A cerveja é boa
Cerveja é bom
Quando se generaliza, quando não se determina, não se faz a
concordância, usa-se o masculino com valor genérico, com
valor neutro. Portanto:
Sopa é bom / É bom sopa
Cerveja é bom / É bom cerveja
Entrada é proibido / É proibido entrada
Entrada não é permitido / Não é permitido entrada
Se não existe um artigo ou uma preposição antes de "entrada",
se não há nenhum determinante, o particípio passado dos
verbos "proibir" e permitir" deve ficar no masculino. Mas, se
houver algum determinante, o verbo deve, então, concordar
com a palavra "entrada". Veja as formas corretas:
É proibido entrada
É proibida a entrada

- 27 -
PORTUGUES
Não é permitido entrada
Não é permitida a entrada

HÍFEN

SUBJUNTIVO
Qual destas formas é a correta?
"O que você quer que eu faço"
ou
"O quer você quer que eu faça"
Na linguagem do dia-a-dia, na linguagem corrente, não é muito
comum o uso da forma "faça". É mais comum ouvirmos "o que
você quer que eu faço"... "o que quer que eu digo"... "você
quer que eu compro..." "você quer que eu vou lá..." e assim por
diante.
Esta forma pode ser usual, mas, na língua formal, no padrão
culto, o correto é:
"Você quer que eu vá?"
"O que você quer que eu faça?"
"O que você quer que eu diga?"
"O que você quer que eu compre?"
Trata-se do modo subjuntivo, usado quando desejamos
expressar hipótese, dúvida, possibilidade, probabilidade,
suposição, especulação. O grupo Paralamas do Sucesso usa
o subjuntivo na canção "La Bella Luna":
"...Por mais que eu pense,
que eu sinta, que eu fale,
tem sempre alguma coisa
por dizer..."
"Por mais que eu pense" indica que estou me referindo a uma
situação que pode acontecer, que talvez venha a acontecer ou
que acontece com freqüência. Com frases como "Por mais que
eu fale...", "por mais que eu sinta...", eu me refiro a fatos que
não são reais no momento, mas são uma hipótese, têm uma
probabilidade de acontecer. Por isso a canção usa
corretamente o modo subjuntivo.
Portanto:
Modo subjuntivo é adequado à idéia de dúvida, hipótese,
possibilidade, probabilidade, especulação, suposição.

- 28 -
PORTUGUES

PRONOME RELATIVO E REGÊNCIA


Há pouco tempo foi exibido na televisão um anúncio cujo texto
dizia: "... a marca que o mundo confia."
Acontece que, "quem confia, confia em". Logo, o correto seria
dizer: "... a marca em que o mundo confia."
As pessoas falam "A rua que eu moro", "Os países que eu fui",
"A comida que eu mais gosto". O correto seria dizer "A rua em
que moro", "Os países a que fui", "A comida de que mais
gosto".
O problema também está presente em uma letra da dupla
Roberto e Erasmo Carlos, "Emoções".
"... são tantas já vividas
são momentos que eu não me esqueci..."
Se eu me esqueci, eu me esqueci de
Quem esquece, esquece algo
Quem se esquece, esquece-se de algo
Logo, o correto seria "são momentos de que não me esqueci."
Pode-se, também, eliminar a preposição de e o pronome me.
Ficaria "são momentos que eu não esqueci"
Em um jornal de grande circulação o texto de uma campanha
afirmava: "A gente nunca esquece do aniversário de um
amigo.."
O correto seria: "A gente nunca esquece o aniversário de um
amigo" ou "A gente nunca se esquece do aniversário de um
amigo."
Vale o mesmo esquema para o verbo lembrar.
Quem lembra, lembra algo
Quem se lembra, lembra-se de algo
Ex: Eu não lembro o seu
nome.
Eu não me lembro do
seu nome.
Como você pode notar, esses erros de regência são muito
comuns. É necessário redobrar a atenção para não cometê-los
mais.

USO DA PALAVRA ONDE


O professor Pasquale fala de um assunto que é muito comum
em abordagens oficiais da língua, o uso da palavra onde.
É chamada a atenção para dois pontos:
1º- A palavra onde indica lugar, lugar físico e, portanto, não
deve ser usada em situações em que a idéia de lugar não
esteja presente.
2º- Não se deve confundir onde com aonde. O a da palavra
aonde é a preposição a que se acrescenta e que indica
movimento, destino. O aonde só pode ser usado quando na
expressão existir a idéia de destino.
Ex: Ir a algum lugar.
Chegar a algum lugar.

- 29 -
PORTUGUES
Levar alguém a algum lugar.
Dirigir-se a algum lugar.
Não se pode usar aonde com o verbo morar.
Ex: Aonde você mora? Errado. O certo é "Onde você mora ?"/
"Em que lugar você mora?"
Há muita confusão entre aonde e onde. Um exemplo é uma
letra de Belchior, "Divina Comédia Humana", na qual ele diz:
".... viver a Divina Comédia Humana onde nada é eterno...."
Em "... viver a Divina Comédia Humana ..." não existe a idéia
de lugar. É, apenas, uma situação que seria vivida. Nela, na
Divina Comédia Humana, nada é eterno.
Portanto, o correto seria não usar a palavra onde substituindoa
por "em que" ou "na qual".
O autor preferiu usar essa forma do dia-a-dia, mas não
admissível pela norma culta. Resumo: Não se pode usar a
palavra onde para ligar idéias que não guardem entre si a
relação de lugar.
Diga "A rua onde mora", "A cidade onde vive"

PONTUAÇÃO - VÍRGULA
Como usar a vírgula? Seu uso está relacionado à respiração?
Não.
A vírgula depende da estrutura sintática da oração.
Às pessoas, na rua, foi sugerida uma questão. Pediu-se que
colocassem vírgulas no seguinte texto:
"O diretor de Recursos Humanos da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos declarou que não haverá demissões
neste mês."
A maioria acertou. Não há vírgula.
"O diretor de Recursos Humanos da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos" é o sujeito do verbo declarar. Foi
ele, o diretor, que declarou.
Entre sujeito e verbo não há vírgula.
Depois, " ...que não haverá demissões neste mês."
Como a seqüência está na ordem direta, não há por que
colocar vírgula.
Mas, às vezes, vírgula pode decidir o sentido do texto.
O professor Pasquale fala da sua participaão no Programa Jô
Soares, quando pediu a ele que escrevesse um telegrama.
Irás voltarás não morrerás
Dependendo do sentido que se quer dar, ocorre a pontuação.
Irás. Voltarás. Não morrerás.
Irás. Voltarás? Não. Morrerás.
Resumo.
No primeiro caso não há por que usar a vírgula. O texto está
na ordem direta e em seqüências diretas não se usa
pontuação. No caso do telegrama pontua-se de acordo com
aquilo que se quer dizer. A pontuação decide o sentido.

- 30 -
PORTUGUES
USO DO "QUÊ"
Quando é que se coloca acento na palavra "quê"?
Bem, sabemos que os monossílabos tônicos terminados em a
- e - o - as - es - os sempre têm acento. Acontece que nem
sempre a palavra "que" funciona como monossílabo tônico.
Pelo contrário, quase sempre aparece como monossílabo
átono:
"Eu quero que você me diga..."
Observe que na frase acima o "que" é lido como "qui", ou seja,
é átono, tem sonoridade fraca. Portanto a palavra "que" usada
como conjunção, unindo orações, é um monossílabo átono.
Mas há casos em que a palavra leva acento circunflexo, como
na letra da canção "Comida", gravada por Marisa Monte:
"... Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de
quê?(...)"
Vemos que, nesse caso, "quê" é tônico, tem uma sonoridade
mais forte que no exemplo anterior e é a última palavra da
frase. Trata-se de um monossílabo tônico terminado em "e" e,
portanto, leva acento. Uma dica:
A palavra "quê", quando é a última palavra da frase, sempre
leva acento circunflexo.
A palavra "quê" leva acento também em outra situação:
quando é usada como substantivo:
"Ela tem um quê de misteriosa..."
"Ela tem um ar de misteriosa..."
"Ela tem um jeito de misteriosa..."
Sem dúvida, a palavra "quê" usada dessa forma, como
substantivo, também é um monossílabo tônico. Portanto leva
acento.

NUMERAIS
Na vida escolar, todos nós um dia aprendemos os numerais,
aquela classe de palavras que trata dos números. "Um, dois,
três..." são os cardinais, que indicam quantidade. "Primeiro,
segundo, terceiro..." são os ordinais, que indicam ordem.
Depois temos "dobro, triplo, quádruplo...", que são os
multiplicativos. Temos ainda "um meio, um terço, um quarto..."
que são os fracionários. E assim vai.
Normalmente os numerais são ensinados por meio da
memorização pura e simples, a chamada "decoreba". Na
verdade, existem formas mais criativas de tratar os numerais,
que têm na língua uma expressividade muito forte. Vamos a
um trecho da canção "Corações a Mil", gravada pela cantora
Marina Lima:
Minhas ambições são dez,
dez corações de uma vez,
pra eu poder me apaixonar

- 31 -
PORTUGUES
dez vezes a cada dia,
setenta a cada semana,
trezentas a cada mês..."
Esse é um uso criativo do numeral. "Essa mulher é dez". Por
que "dez"? Porque vem de "nota dez", a nota máxima. O
numeral deixa de ter valor numérico e passa a ter valor de
adjetivo.
No verso "minhas ambições são dez", podemos ter um duplo
sentido. Elas são dez porque são maravilhosas, são valiosas.
Ou são mesmo dez ambições.
Em seguida, Gilberto Gil (autor da letra) começa a fazer contas
na letra da música: se são dez vezes por dia, são setenta em
uma semana e trezentas em um mês. É mesmo um modo
criativo de utilizar os numerais, reforçando o exagero para
mostrar a força da idéia. A começar pela letra da música,
"Corações a mil". Nós usamos muito essa expressão, "hoje
estou a mil", ou seja, "estou a mil por hora", "estou com o gás
todo."

VERBOS PRONOMINAIS
É redundante dizer que o Brasil é grande e por isso tem muitos
falares diferentes.
Em países menores, como Portugal e Itália, por exemplo, os
falares variam, em alguns casos, de cidade para cidade. Há
muita diferença de sotaque e até de vocabulário.
O nosso mineiro tem um hábito muito particular em relação ao
verbo com o pronome, o chamado verbo pronominal.
Há uma canção que, apesar de não ser de um mineiro, ilustra
o caso: Cordão, de Chico Buarque.
"... ninguém , ninguém vai me sujeitar/
Arrancar do peito a minha paixão/
Eu não, eu não vou desesperar...)
Ninguém diz "naquele momento eu desesperei". Dizemos
"naquele momento eu me desesperei", "desesperei-me".
Os mineiros têm o hábito de comer o pronome oblíquo. Em
entrevista, Fernando Brant diz: "Eu formei em direito, mas
advogado eu não sou. Freqüentei a faculdade, formei ...".
Correto seria dizer "Eu me formei em direito...".
É bom lembrar que são pronominais os verbos a seguir:
orgulhar-se
apaixonar-se
dignar-se
arrepender-se
queixar-se
Por outro lado, não são pronominais os verbos abaixo, que,
normalmente, são tratados como tal:
confraternizar ( Os atletas confraternizam. É errado dizer "Os
atletas se confraternizam" )
simpatizar ( Eu simpatizo com ela . É errado dizer "Eu me
simpatizo com ela")

- 32 -
PORTUGUES
deparar ( Eu deparei com fulano... É errado dizer "Eu me
deparei com fulano ...)
Não utilize o pronome quando ele não existir. Use-o sempre
quando o verbo o exigir.

VERBOS TERMINADOS EM "iar"


O saudoso Adoniran Barbosa cantava uma canção em que
dizia: "É que de um relógio pro outro as hora vareia". Ele tinha
o jeitão dele, "as hora vareia", com uma linguagem bem
popular. Só que "as hora" não "vareia", todo mundo sabe que
as "horas variam".
A hora varia
As horas variam
O verbo "variar" termina em iar e É regular, ou seja, segue um
determinado modelo, um determinado paradigma, como esses
exemplos:
anunciar - anuncia
denunciar - denuncia
reverenciar - reverencia
policiar - policia
E o verbo "incendiar", como fica? Será que está certa a frase
"Você incendia meu coração"? Vamos ver o quer diz a letra da
canção "Você pra mim", gravada por Fernanda Abreu:
"... Um segredo inviolável
de uma paixão inflamável
mas que nunca incendeia
nem em noite de lua cheia..."
Essa é a forma correta, "incendeia", do verbo incendiar - que
não é regular, não segue a conjugação padrão. Vamos a mais
alguns exemplos de verbos irregulares terminados em iar:
mediar - medeia
ansiar - anseia
remediar - remedeia
incendiar - incendeia
odiar - odeia
Uma maneira de memorizar esses verbos é o nome "Mario":
As letras iniciais das cinco palavrinhas formam a palavra
"Mario": mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. É um
pequeno truque para facilitar a memorização desses verbos
irregulares.

GÊNERO
Trecho da canção "Seduzir", gravada por Djavan:
"Amar é perder o tom
nas comas da ilusão.
revelar
todo sentido,
Vou andar, vou voar
para ver o mundo.
Nem que eu bebesse o mar

- 33 -
PORTUGUES
encheria o que eu tenho de fundo..."
Nesse trecho da música de Djavan, vimos que ele usou a
palavra "comas". De acordo com os dicionários, a palavra
"coma" tem vários significados. Na letra de "Seduzir" ela foi
usada com o significado de "estado de inconsciência", "estado
de coma". É uma palavra que pode ser masculina ou feminina,
tanto faz. "O" coma ou "a" coma.
No dia-a-dia costumamos acertar sempre as concordâncias de
gênero. No entanto, certas palavrinhas podem nos
surpreender, como acontece com "dó". Nós costumamos falar:
"Você não imagina a dó que eu senti..." Está errado. Segundo
os dicionários, "dó" é uma palavra masculina.
"Você não imagina o dó que eu senti."
A língua falada, do dia-a-dia, não assimila com facilidade o
gênero culto de algumas palavras. Vamos ver outro caso, a
palavra "libido", agora num trecho da canção "Alívio Imediato",
gravada pelos Engenheiros do Hawaii:
"...A Líbia bombardeada,
a libido e o vírus,
o poder, o pudor, os lábios e o batom..."
Vamos ver de que forma essa mesma palavra é utilizada na
canção "Garota Nacional", gravada pelo Skank:
"... Porque ela derrama um banquete, um palacete,
um anjo de vestido, uma libido do cacete..."
As letras das duas músicas grafaram corretamente: a libido.
Nunca use "o" libido, estaria errado. É uma discussão sobre
gênero culto, que muitas pessoas acertam tranqüilamente.
Preste sempre atenção nisso.

VERBO TER E DERIVADOS


Neste módulo discute-se a questão dos verbos compostos ou
derivados. Precisamente, a família do verbo ter. É difícil
alguém errar a conjugação do verbo ter, seja no presente, no
passado ou no futuro. Mas, quando se trata de conjugar os
verbos derivados de ter, os verbos compostos, já não há tanta
facilidade. Na rua as pessoas comprovam isso. Foi proposta a
seguinte questão:
Qual a forma correta de se falar:
Se a máquina reter o cartão ou...
Se a máquina retiver o cartão.
A maioria errou.
O correto é "Se a máquina retiver o cartão."
O verbo reter é um dos tantos filhos da família do verbo ter:
deter, reter, entreter, obter, conter, abster, etc.
Logo:
eu tenho eu retenho
eu mantenho
eu detenho
eu obtenho
eu contenho

- 34 -
PORTUGUES
No futuro do subjuntivo é a mesma coisa:
"Quando eu tiver", "Se o goleiro tiver sorte".
Ninguém diz:
"Quando eu ter", "Se o goleiro ter sorte."
Assim ,
"Se a máquina retiver o cartão."
"Se você mantiver a calma."
"Se a mãe entretiver a criança."
"Se os deputados se abstiverem de votar."
Para a conjugação dos verbos derivados do verbo ter o
raciocínio é simples. Apoie-se no verbo ter, na primeira pessoa
do singular do presente do indicativo: Eu tenho.
Aí, fica fácil:
Eu detenho, eu mantenho, etc... Depois é só seguir esta linha
de conjugação.

O TREMA / O APÓSTROFO

REGÊNCIA VERBAL II
Regência, em gramática, é o conjunto de relações que existem
entre as palavras. Por exemplo: quem gosta, gosta de alguém.
O verbo "gostar" rege a preposição "de". Nós aprendemos a
regência naturalmente, no dia-a-dia. Só que a gramática,
muitas vezes, estabelece formas diferentes das que utilizamos
na linguagem cotidiana. Costumamos, por exemplo, dizer que
chegamos em algum lugar, quando a norma culta indica que
chegamos a algum lugar.
INCORRETO: "A caravana chegou hoje em Brasília."
CORRETO: "A caravana chegou hoje a Brasília."
Da mesma forma, o correto é dizer "chegou a Manaus",
"chegou ao Brasil".
Outro exemplo é o verbo "esquecer". Vamos ver o trecho da
canção "As Canções que você Fez pra mim", de Roberto e
Erasmo Carlos:
"... Esqueceu de tanta coisa
que um dia me falou,
tanta coisa que somente
entre nós dois ficou..."
É muito comum que se fale "esqueceu de tanta coisa", mas

- 35 -
PORTUGUES
quem esquece, esquece algo. Quem se esquece, esquece-se
de algo. Portanto, as formas corretas são:
"Esqueceu tanta coisa."
"Esqueceu-se de tanta coisa."
A mesma coisa vale para o verbo "lembrar". Vamos ver um
trecho da canção "Tempo Perdido", gravada por Paulo
Ricardo:
"...Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias, antes de dormir,
lembro e esqueço como foi o dia,
sempre em frente,
não temos tempo a perder..."
O uso está correto. Poderia ser também "Lembro-me e
esqueço-me de como foi..."
Quem lembra, lembra algo.
Quem se lembra, lembra-se de algo.

PALAVRAS INGLESAS
(PLUG, DIET)
Observe a letra desta canção:
"Eu não pedi pra nascer
eu não nasci pra perder
nem vou sobrar de vítima
das circunstâncias
Eu tô plugado na vida
eu tô curando a ferida
às vezes eu me sinto
Uma mola encolhida..."
Essa canção, "Toda forma de amor", foi gravada por Lulu
Santos e por outros artistas. Nessa letra vemos o uso da
palavra "plugado", particípio do verbo "plugar". A palavra, que
até há pouco tempo não existia em português, começa a surgir
nos novos dicionários. Vem do inglês "plug in", verbo que quer
dizer "conectar", "ligar na tomada". Nos últimos anos, muitos
artistas brasileiros, como Gilberto Gil, Titãs e Moraes Moreira,
têm gravado discos "unplugged". Esse prefixo "un" em inglês
significa "não". Assim, o termo "unplugged", algo como
"desconectado", "desligado da tomada", é usado para
expressar que a gravação foi feita somente com instrumentos
acústicos.
Para falar de outro caso desse tipo, vamos ver um trecho da
canção "Coisa bonita", gravada por Roberto Carlos:
"Amo você assim e não sei
por que tanto sacrifício
Ginástica, dieta
não sei pra que tanto exercício
Olha, eu não me incomodo
Um quilinho a mais
não é antiestético
pode até me beijar, pode me

- 36 -
PORTUGUES
lamber que eu sou dietético..."
Você já experimentou pedir num restaurante um refrigerante
dietético? É bem possível que ninguém saiba do que você está
falando. Mas, se você pedir um "guaraná diet", aí, sim... Bem,
"dietético" é um adjetivo que vem de "dieta", que, por sua vez,
é de origem grega e significa "gênero de vida". Portanto a
palavra dietético não tem nada a ver com esse uso que temos
feito da palavra "diet", que nada mais é do que "dieta" em
inglês.

SEJA / ESTEJA
Muitas pessoas têm dúvida sobre o uso das expressões "seja"
e "esteja". Há quem troque por "seje" ou "esteje"... É uma
dúvida fácil de entender, porque acontece com freqüência
quando conjugamos o presente do subjuntivo. É o tempo
verbal que usamos em frases como "ela quer que eu fale...",
"ele quer que eu beba...", "ela quer que eu permita..." Existe
um esquema simples que podemos utilizar na conjugação
desse tempo:
Verbos terminados em "AR" - a conjugação termina em "E".
Verbo falar - "Ela quer que eu fale..."
Verbos terminados em "ER" e "IR" - a conjugação termina em
"A".
Verbo fazer - "Ela quer que eu faça..."
Verbo permitir - "Ela quer que eu permita..."
No caso de "seja", trata-se do presente do subjuntivo do verbo
"ser". Lulu Santos utilizou a expressão na canção "Assim
Caminha a Humanidade":
"Ainda vai levar um tempo
Pra fechar o que feriu por dentro,
Natural que seja assim"...
O grupo Barão Vermelho também utiliza a expressão na
canção "O Poeta Está Vivo":
"Se você não pode ser forte,
Seja pelo menos humana"...
Nas duas canções a expressão é utilizada corretamente, já
que os verbos terminados em "ER" levam a vogal básica "A"
no presente do subjuntivo. Mas - e o verbo "estar"? O certo,
pela regra, é que a vogal básica seja "E", mas isso não
acontece. O verbo "estar" é uma exceção. A frase correta,
quando usamos o verbo "estar" no presente do subjuntivo, é
"ela quer que eu esteja..." e não "esteje..."
Então não esqueça:
Verbo ser - SEJA
Verbo estar – ESTEJA

SOB / SOBRE
Você certamente já viu em postos de gasolina, por exemplo,
aquela tradicional faixa: "Sob nova direção". É o tipo de faixa
que sempre vemos em postos, bares, restaurantes e outros

- 37 -
PORTUGUES
estabelecimentos comerciais. Mas algumas vezes o que está
escrito é: "Sobre nova direção". E agora?
O programa foi às ruas perguntar qual a forma correta:
"O posto está sob nova direção ou sobre nova direção?"
O resultado foi ótimo: das seis pessoas entrevistadas, cinco
acertaram. Responderam "O posto está sob nova direção".
Sob = embaixo
Sobre = em cima
Se você coloca o livro sobre a mesa, você está colocando o
livro em cima da mesa. Se você coloca o livro sob a mesa,
ele, então, ficará embaixo da mesa. Sob e sobre, portanto,
têm significados opostos. Há uma canção interessante que fala
a respeito disso. Chama-se "A mesma praça", de Paulo Miklos:
"Sou do chão negro asfalto
da avenida São João
Sob o escuro manto fumaça
sombra do minhocão
Sob o céu cinzento de
São Paulo insano e mau
Brasileiro cuspido dos canhões
na Hungria cigano e bárbaro
bastardo dos portugueses
mouro feroz e bárbaro
desorientado dos beijos de
línguas e lugares embaralhados
Da rua Apa quando desaba
a Barra Funda dos prostíbulos
de toneladas de poeira e fuligem
sobre a poesia
Judeu de disfarce católico
ateu crente no candomblé
de todas as fugas e enfrentamentos
continuo de pé".
Paulo Miklos utiliza as duas expressões com muita
consciência, e a diferença fica bem clara. É simples, não?
Basta apenas um pouco de atenção para não confundir as
duas palavras.
sob = embaixo

PREPOSICIONAMENTO DO OBJETO
De você eu gosto.
Eu gosto de você.
As palavras são as mesmas, só muda a ordem. Será que a
primeira frase tem exatamente o mesmo sentido da segunda?
Podemos até considerar que o sentido é o mesmo, mas
ninguém coloca as palavras numa certa ordem por acaso.
Quando alguém diz "De você eu gosto", acaba havendo ênfase
na expressão de você. Essa inversão da ordem gera mudança
de foco, mudança de luz. Note que "de você eu gosto" é
diferente de "eu gosto de você" no que diz respeito àquilo que

- 38 -
PORTUGUES
está sendo destacado: de você eu gosto, dela não.
No português é possível inverter a ordem das palavras numa
frase. Essa inversão tem normalmente algum significado
estilístico. Vamos a um exemplo, a canção "Zé Ninguém",
gravada pelo Biquíni Cavadão:
"... Quem foi que disse que a justiça tarda, mas não falha?
Que, se eu não for um bom menino, Deus vai castigar!
Os dias passam lentos
aos meses seguem os aumentos
cada dia eu levo um tiro
que sai pela culatra
eu não sou ministro, eu não sou magnata
eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
aqui embaixo, as leis são diferentes... "
Você notou a frase "aos meses seguem os aumentos".
aos = a + os a = preposição
Nessa frase houve uma inversão na ordem, com uma intenção
muito clara. Na ordem direta seria "os aumentos seguem os
meses", ou seja, os meses vão correndo e, com eles, ao
aumentos. Na ordem direta não haveria rima entre as palavras
lentos e aumentos. Como o letrista teve a intenção de rimar,
ele precisou colocar a preposição a para manter o sentido da
frase. Isso é um recurso estilístico perfeitamente possível. É a
gramática, a estrutura frasal, atendendo àquilo que
efetivamente se quer dizer.

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO
Todo mundo estudou, na escola primária e no primeiro grau,
os tempos verbais (presente, passado e futuro). No passado,
ou pretérito, encontramos o Pretérito Imperfeito, o Pretérito
Perfeito e o Pretérito mais-que-perfeito.
Por que esses nomes?
Muita gente acha que Pretérito mais-que-perfeito tem esse
nome porque é mais perfeito, é perfeitíssimo. Não é verdade.
Vamos estudar um exemplo.
"Quando o árbitro apitou, a bola já entrara."
Esse entrara é o Pretérito mais-que-perfeito. Significa tinha ou
havia entrado.
"Quando o arbitro apitou ( pretérito perfeito ), a bola já tinha, já
havia entrado, a bola entrara (pretérito mais-que-perfeito).
O pretérito perfeito acontece num momento determinado do
passado:
"...o árbitro apitou ...".
O pretérito mais-que-perfeito acontece antes do pretérito
perfeito, "... a bola já entrara."
Uma letra de Gilberto Gil ilustra bem o caso desse tempo
verbal, "Super-Homem - A Canção".
" ... que até então se resguardara...
... quem dera, pudesse todo homem compreender
Oh! Mãe, quem dera..."

- 39 -
PORTUGUES
"Minha porção mulher que até então se resguardara...", tinha,
havia se resguardado. Esse fato - havia se resguardado - é
anterior a outro. Na seqüência, a letra diz "...quem dera...".
Dera é, também, pretérito mais-que-perfeito, usado com outro
valor.
É necessário lembrar que os tempos verbais podem ser
usados no lugar de outro, fora de seu uso comum.
Ex: como se fora/ como se fosse
Fora é pretérito mais-que-perfeito, fosse é imperfeito do
subjuntivo.
"Quem dera" é a mesma coisa que "eu gostaria, tomara". No
entanto, "dera" é mais-que-perfeito,ao pé da letra, mais velho
que o perfeito ou fato ocorrido antes de outro.

SUFIXAÇÃO
Não é novidade parara ninguém que grafia, em português, é
uma encrenca danada. Todo mundo sabe a confusão que
acontece no uso do "s" e do "x", do "x" e do "ch".
Por falar em "x" e "ch", temos aí uma confusão engraçada.
Muitas pessoas dizem, por exemplo, que na palavra "lixo" o "x"
tem som de "ch". Nada disso. Na palavra "cachorro", por
exemplo, o "ch" é que tem som de "x", e não o contrário! Em
"lixo", o "x" tem o som dele mesmo, afinal o nome da letra é
"xis"!
Grafia é mesmo uma bela encrenca. Vamos ver a canção
"Olhar 43", de Paulo Ricardo:
"... é perigoso o seu sorriso,
é um sorriso assim, jocoso,
impreciso, diria misterioso,
indecifrável riso de mulher..."
Nós vimos o emprego das palavras "perigoso", "jocoso",
"misterioso", palavrinhas que têm o sufixo "oso". É um sufixo
que indica a idéia de posse plena, de abundância, de
existência em grande quantidade. É bom lembrar: o sufixo
"oso" é sempre com "s", jamais com "z".
perigoso = com muito perigo
misterioso = cheio de mistério
jocoso = com muita jocosidade
Veja a canção "Vitoriosa", de Ivan Lins. A letra é de Vítor
Martins:
"...quero sua risada mais gostosa,
esse seu jeito de achar
que a vida pode ser maravilhosa.
Quero sua alegria escandalosa,
vitoriosa por não ter vergonha
de aprender como se goza."
Nessa canção vimos o sufixo "oso" no feminino. "Gostosa,
"maravilhosa", escandalosa" etc. Sempre com "s"! E vimos
também a palavra "goza", com "z". Mas ela não tem nada a ver
com a nossa história. "Goza" é forma do verbo "gozar", com

- 40 -
PORTUGUES
"z".
Então, cuidado! Não basta que o som seja semelhante a "oso"
e "osa" para colocarmos o "s". Precisamos entender o
significado da palavra. Se for sufixo designando posse plena
ou grande quantidade, aí sim, a grafia correta é com "s".

ORTOGRAFIA
"A grafia na Língua Portuguesa é uma ‘pedra’ no sapato, muita
gente tem dificuldade para escrever corretamente. Nesses
casos, é preciso ter humildade para dizer ‘Eu não sei’ ou para
consultar um dicionário."
Assim o professor Pasquale inicia esse módulo que trata de
Ortografia. O público na rua é chamado para dar sua opinião
sobre a grafia de determinadas palavras. A primeira pergunta é
como se escreve a palavra chuchu. Muitos erram. Chuchu se
escreve, como você já pode perceber, com ch e sem acento.
Outra "curiosidade" que a língua nos oferece diz respeito à
palavra viagem.
O povo na rua volta a se manifestar. Algumas pessoas
garantem que é com g, outras , com j. Qual a forma correta?
Pasmem, as duas. Viajar se escreve com j, mas viagem pode
ser tanto com g como com j. Viagem com g é o substantivo.
Viajem com j é a forma verbal do verbo viajar. Veja.
Que eu viaje
Que tu viajes
Que ele viaje
Que nos viajemos
Que vós viajeis
Que eles viajem
Ex: Eu quero que vocês viajem agora e que façam uma ótima
viagem
Interessante, não ?
Mais dúvidas aparecem quanto à grafia das palavras através,
atrás, atrasado.
Elas são escritas com s ou com z ?
Atrás, atrasado, atrasar são palavras de uma mesma família,
têm o mesmo radical e todas são escritas com s.
Através também é escrita com s.
Problemas relacionados à grafia existem em outras línguas,
não são exclusivos da Língua Portuguesa.
Em todos os casos, não há outra saída. Leia com constância
para fixar a grafia das palavras e não se esqueça: quando a
dúvida permanecer vá ao dicionário, a certeza está no
dicionário.

PARTICÍPIO
Você lembra o que é particípio? São formas como "falado",
"beijado", "bebido", "esquecido"... e por aí vai. Há verbos,
muitos verbos, que têm dois particípios. Na hora de escolher
entre um e outro, aparece a confusão. Dois exemplos: o verbo

- 41 -
PORTUGUES
salvar tem dois particípios, salvo e salvado. O verbo entregar
também: entregado e entregue.
O Nossa Língua Portuguesa foi às ruas perguntar qual a forma
correta :
"Eu havia entregado o pacote."
ou
"Eu havia entregue o pacote."
Das oito pessoas entrevistadas, quatro acertaram: "Eu havia
entregado o pacote". Este é o que as gramáticas chamam de
particípio longo, que termina em ADO ou IDO . O particípio
longo é usado quando o verbo auxiliar é ter ou haver. Os
particípios curtos, como "salvo" e "entregue", são usados
quando o verbo auxiliar é ser ou estar. Portanto:
Particípio longo:
"Eu havia entregado o pacote."
"O árbitro tinha expulsado o jogador"
"Ele foi condecorado por ter salvado a moça."
Particípio curto:
"O pacote foi entregue."
"O jogador foi expulso."
"A moça foi salva, e isso lhe valeu uma condecoração".
Claro que essa regra vale apenas para verbos que têm dois
particípios. Nos verbos com um único particípio, não há
escolha. O verbo fazer, por exemplo, tem um só particípio. Por
isso a gente não ouve por aí pessoas dizendo "eu tinha fazido
a comida", mas apenas "eu tinha feito a comida". Cuidado
com o verbo chegar: apesar de muita gente dizer "Eu tinha
chego", para a língua culta o particípio desse verbo é
"chegado". Em situações formais, diga e escreva sempre "Eu
tinha chegado".

USO CORRETO DO PRESENTE DO SUBJUNTIVO


Na linguagem do dia-a-dia no Brasil é comum se ouvir frases
como estas:
"Você quer que eu compro?"
"Você quer que eu sirvo?"
"Você quer que eu faço?"
Isso no padrão formal da língua é inaceitável e a razão é muito
simples.
Quando alguém diz "Você quer que eu...", o ato que vem em
seguida, representado por um verbo, ainda não aconteceu, é
hipotético.
Alguém está lhe perguntando se você quer algo e esse algo
depende de você. Portanto, existe aí o modo da dúvida, da
suposição, da hipótese e é esse o valor do subjuntivo. Logo, o
correto seria dizer:
"Você quer que eu compre?" "Você quer que eu sirva?" "Você
quer que eu faça?"
A canção "Pra que discutir com madame" de Haroldo Barbosa
e Janet de Almeida, no programa interpretada por Moraes

- 42 -
PORTUGUES
Moreira e Pepeu Gomes, ilustra muito bem o bom uso do
tempo subjuntivo.
"... Madame não gosta que ninguém sambe..."
A letra significa que "madame não gosta que ninguém sambe"
agora ou no futuro, sob qualquer hipótese.
É importante saber que o presente do subjuntivo tem
terminações fixas.
Para os verbos que terminam em AR ( falar, pensar, sambar,
andar, cantar, etc.), a vogal temática é E. Portanto, ...que eu
fale, ...que eu pense, ...que eu sambe, etc.
Para os verbos terminados em ER e IR ( correr, beber, dormir,
dirigir, etc.), a vogal temática é A. Logo, ...que eu corra, ...que
eu beba, ...que eu durma,...que eu dirija, etc.
Lembra-se, também, que a vogal temática se mantém em
todas as pessoas, da primeira à última. Assim, que eu sambe,
que tu sambes, que ele sambe, que nós sambemos, que vós
sambeis, que eles sambem.
A exceção fica por conta do verbo ESTAR que termina em AR
mas faz o presente do subjuntivo com a vogal temática A: Ela
quer que eu esteja ( nunca, ...eu esteje ). Neste caso, a vogal
temática A fica até o fim - que eu esteja, que tu estejas, que
ele esteja, etc.

ORAÇÃO REDUZIDA
Você já deve ter ouvido falar em oração reduzida. Com alguns
exemplos muito simples podemos identificá-la.
"Quando você fizer tal coisa..."
"Ao fazer tal coisa..."
No primeiro caso o verbo fazer está no futuro do subjuntivo.
Você percebeu.
No segundo, eliminamos a conjunção "quando" e não
conjugamos o verbo fazer, deixando-o no infinitivo.
Em suma, reduzimos a oração.
Outro exemplo.
"Precisando, telefone."
A primeira oração "precisamos" pode ser desdobrada.
"Se precisar, telefone" ou "Quando precisar, telefone".
Passamos a usar as conjunções "se" ou "quando".
Quando usamos verbos no gerúndio ( falando, bebendo,
partindo), no infinitivo ( falar, beber, partir ) ou no particípio (
falado, bebido, partido ), não se usa o elemento ( se , quando )
que introduz a oração, ou seja, a conjunção. A oração começa
direto com o verbo. É reduzida.
Veja o fragmento de uma letra de Caetano Veloso e Gilberto
Gil:
"No dia em que eu vim m'embora
... sentia apenas que a mala de couro que eu carregava
embora estando forrada fedia, cheirava mal..."
"Estando" é gerúndio e o gerúndio estabelece a oração
reduzida. Logo, nessa letra a conjunção embora não poderia

- 43 -
PORTUGUES
ter sido usada com o gerúndio.
Ficaria assim
"... sentia apenas que a mala de couro que eu carregava,
embora forrada, fedia, cheirava mal..."
No caso, houve uma distração. Não pode ser abonado pela
norma culta.
Outro caso:
Muita gente fala "Isso posto, vamos ao que interessa." Errado.
Em português a oração reduzida começa pelo verbo. O correto
é "Posto isso, vamos ao que interessa."
Não se diz "A questão discutida, passamos ao item seguinte".
Diz-se "Discutida a questão, passamos ao item seguinte."
Oração reduzida sempre começa com o verbo no gerúndio, no
particípio ou no infinitivo.

GÊNERO DOS SUBSTANTIVOS


Neste módulo o professor Pasquale conta a surpresa que teve
ao ouvir, em Belém do Pará, uma moça dizer: "LEVEI UMA
TAPA".
O professor não tinha, ainda, ouvido alguém se expressar
dessa maneira, apesar de constar nos livros.
Uma tapa, um tapa, o tapa ou a tapa são formas corretíssimas.
Trata-se de uma palavra que pode ser tanto do gênero
masculino como do gênero feminino.
Algumas palavras causam certa estranheza. É o caso de
sabiá. Na canção "Sabiá" de Tom Jobim e Chico Buarque
temos:
"Vou voltar.
Sei que ainda vou voltar
para o meu lugar.
Foi lá e é ainda lá
que eu hei de ouvir cantar
uma sabiá, o meu sabiá".
Chico Buarque usou as duas formas. Ambas corretas. Veja
nos dicionários.
Mas algumas palavras não admitem duplo gênero. É o caso de
dó.
Ouve-se falar "Você não imagina a dó que eu senti". Errado.
O certo seria falar " Você não imagina o dó que eu senti". Dó é
do gênero masculino.
Em muitos lugares ouve-se "a champanhe". Está errado. É "o
champanhe" ou "o champanha". A palavra pode ser escrita
com e ou com a no final, mas sempre no masculino, nunca no
feminino.
O professor chama a atenção para uma outra canção. "Seu
Tipo" ( Duardo Dusek e Luis Carlos Góes ) c/ Ney Matogrosso.
"... coloca aquele vestido
tipo comprido
E vê se não brinca com a minha libido".
Ao contrário do que muita gente pensa, o certo é a libido,

- 44 -
PORTUGUES
como diz a cancão, e não o libido.
Outro problema são aquelas palavras que mudam o sentido
quando o gênero é alterado. É o caso de "grama".
Não se deve confundir "o grama" com "a grama", "o moral"
com "a moral".
"O grama" é a unidade de massa.
Compram-se duzentos gramas de queijo.
"A grama" é o vegetal.
"O moral" é o estado de espírito.
O time está com o moral elevado.
"A moral" é o código de princípios de uma sociedade.
Quando houver dúvida quanto ao gênero de palavras não se
deve arriscar. A sugestão é recorrer ao dicionário.

PALAVRAS TERMINADAS EM "EZ"


Como é que se escreve "chinês"? Com "s" no fim, é claro, e
acento circunflexo no "e". E "holandês" ? Mesma coisa: "s" no
fim e circunflexo no "e". E quem é tímido? Quem é tímido
possui uma propriedade que às vezes atrapalha um pouco...
Uma propriedade, uma qualidade chamada...
Bem, vamos ver um trecho de uma canção com o grupo
Biquíni Cavadão:
"... Se eu tento ser direto, o medo me ataca.
Sem poder nada fazer,
sei que tento me vencer e acabar com a mudez.
Quando chego perto, tudo esqueço e não tenho vez.
Me consolo (foi errado o momento talvez...),
mas na verdade nada esconde essa minha timidez..."
Essa música chama-se "Timidez", exatamente o que nos
interessa. Quem é tímido é dotado de timidez. "Timidez" não
se escreve com "s", mas com "z". Trata-se de um substantivo
abstrato, que, entre outras coisas, dá nome de qualidade,
como "honestidade" e "rapidez". O adjetivo "tímido" dá origem
a "timidez", substantivo abstrato. Sempre que acontece esse
processo, com acréscimo de "EZ" e "EZA", usamos a letra "z".
Substantivos abstratos derivados de
adjetivos terminam em EZ - EZA
É o caso também da palavra mudez, outra palavra que está na
letra da canção. "Mudez", substantivo abstrato, vem de
"mudo", adjetivo. Por isso, "mudez", como "timidez", escrevese
sempre com "z", de "zebra"!
E o substantivo abstrato também serve para dar nome de
estado ou situação. Vamos entender melhor com a canção
"Somos quem Podemos Ser", gravada pelos Engenheiros do
Hawaii:
"... A vida imita o vídeo,
garotos inventam um novo inglês,
vivendo num país sedento,
um momento de embriaguez.
Somos quem podemos ser,

- 45 -
PORTUGUES
sonhos que podemos ter."
Nessa canção existe a palavra embriaguez. É o nome de um
estado, de uma situação, como "gravidez".
E aquela raça de cachorro... será "pequinês" ou "pequinez" ?
Bem, pequenez é a qualidade de algo pequeno. Pequeno é
adjetivo, pequenez é substantivo abstrato. Portanto, com "z". A
raça do cachorro chama-se "pequinês" porque é originária da
cidade de Pequim, na China. E, assim como "holandês" e
chinês", grafa-se com "s" no fim e circunflexo no "e".

GERÚNDIO
Vamos falar um pouco sobre o gerúndio. Se formos às
gramáticas, vamos descobrir que o gerúndio é uma das formas
nominais do verbo. Por que "formas nominais"? Porque é
quando o verbo pode atuar como nome.
No caso do gerúndio, que é aquela forma que termina em -ndo
(falando, bebendo, partindo, correndo etc), sabemos que ele
pode ser usado como se fosse um adjetivo. Por exemplo:
água fervendo
(água que ferve)
O gerúndio é usado basicamente para que se dê a idéia de
algo em processo de execução, em curso, de algo que dura.
Há uma diferença entre o uso brasileiro e o uso português. O
brasileiro exagera no uso do gerúndio, talvez por influência da
língua inglesa. Aliás, está na moda uma coisa horrorosa: "O
senhor poderia estar enviando um fax para nós amanhã". Por
que não dizer "O senhor pode enviar um fax para nós amanhã"
? É uma moda exagerada essa do gerúndio com três verbos,
um cacoete muito esquisito. Em Portugal não se usa esse tipo
de coisa. Lá, em vez de "Estou correndo", diz-se "Estou a
correr".
Vamos a uma canção de Gonzaguinha, "Explode coração", em
que ele usa o gerúndio de forma extremamente contundente e
interessante:
"... Eu quero mais é me abrir
e que essa vida entre assim
como se fosse o sol
desvirginando a madrugada
quero sentir a dor dessa manhã
nascendo, rompendo, rasgando
tomando meu corpo e então
eu chorando, sofrendo,
gostando, adorando, gritando
feito louca alucinada e criança
eu quero meu amor se derramando
não dá mais pra segurar
explode coração!".
Você viu na letra da canção os versos "Como se fosse o sol /
Desvirginando a madrugada". Em Portugal seria "Como se
fosse o sol / A desvirginar a madrugada". O gerúndio dá a idéia

- 46 -
PORTUGUES
da coisa em processo de execução: o sol durante o processo
de desvirginar. Isso acontece também com os outros verbos no
gerúndio usados por Gonzaguinha: nascendo, rompendo,
rasgando, tomando, chorando, sofrendo, gostando, adorando,
gritando, derramando. Esse recurso utilizado no texto de
Gonzaguinha dá a idéia de que tudo está em processo de
execução. Essa é a função básica do gerúndio em português.

PLURAL
DOS SUBSTANTIVOS ABSTRATOS
Quem não se lembra daquela história de substantivos
concretos e substantivos abstratos? Todo mundo um dia
estudou isso na escola, e pouca gente consegue entender por
quê.
Um apelo que deve ser feito de modo genérico aos
professores de português é que eles evitem ensinar aos
alunos que substantivo concreto é aquele que se pode pegar e
que substantivo abstrato é aquele que não se pode pegar. Isso
é uma grande bobagem.
O substantivo abstrato é simplesmente aquele que dá o nome
a alguma coisa, que designa o ato de alguma coisa. O ato de
quebrar é "quebra". O ato de participar é "participação". O ato
de vender é "venda", e assim por diante. Todos esses
substantivos são abstratos. Como Gilberto Gil na música
"Rebento":
"Rebento, substantivo abstrato...".
Por que abstrato? Porque "rebento" é o ato de rebentar.
Nomes de sentimento, como "amor", de estado, como
"gravidez", e de qualidade, como "inteligência", também são
substantivos abstratos.
Existe uma polêmica em torno do plural dos substantivos
abstratos: existe o plural dessas palavras? Bem, cada caso é
um caso. Você faria plural de "raiva", por exemplo? Ou de
"inveja"? São palavras que soam esquisitas no plural, mas isso
não estabelece uma regra. Vamos ver um exemplo com a
palavra "ciúme". Observe a letra da canção "Olhos nos olhos",
gravada por Maria Bethânia:
"...Quando você me deixou,
meu bem,
me disse pra eu ser feliz
e passar bem.
Quis morrer de ciúme,
quase enlouqueci
mas depois, como era
de costume, obedeci...".
Você notou, a certa altura, o verso "quis morrer de ciúme".
Muita gente por aí fala "ciúmes". Nada contra, mas precisamos
escolher: ou falamos "o ciúme" ou "os ciúmes". Nunca "o
ciúmes". Na verdade, a forma singular - "o ciúme" - é
preferencial, já que em tese o substantivo abstrato não se

- 47 -
PORTUGUES
pluraliza, ao menos na maioria dos casos. Vamos ver outro
caso, agora tomando como exemplo a canção "Você pra mim",
gravada por Fernanda Abreu:
"Às vezes passo dias inteiros
imaginando e pensando em você
e eu fico com tantas saudades
que até parece que eu posso morrer.
Pode acreditar em mim.
Você me olha, eu digo sim...".
A exemplo do que acontece com "ciúme", não são poucas as
pessoas que falam "estou com uma saudades de você". Ora, é
necessário sempre concordar o substantivo com seu
determinante. Se o substantivo vai para o plural, o pronome ou
o artigo devem ir também.

PRONOMES DE TRATAMENTO
O tema desse módulo são os pronomes de tratamento,
usados, normalmente, em situações de cerimônia: excelência,
senhoria, etc.
Quando o presidente fala em cadeia nacional, o locutor diz
"Vamos ouvir a palavra do Excelentíssimo Senhor Presidente
da República...".
"Excelentíssimo Senhor Presidente ..." porque o presidente
é Excelência. Usa-se esse pronome de tratamento para todas
as autoridades constituídas, do vereador ao presidente.
Aqui vale eliminar uma confusão. Quando falar "Vossa" ou
"Sua"?
Ao se falar diretamente com a pessoa, usa-se "Vossa".
Quando se estiver falando da pessoa, usa-se "Sua".
Lembrando o exemplo acima, o locutor da Agência Nacional
anunciaria aos brasileiros "Sua Excelência, o Presidente da
República ...". No caso, o locutor estaria falando do Presidente.
Se estivesse falando com o presidente, o correto seria " Vossa
Excelência...".
Outra confusão corrente é quanto ao uso do possessivo.
Qual das duas formas a seguir seria correta?:
"Vossa Senhoria deve expor seu projeto" ou ...
"Vossa Senhoria deve expor vosso projeto".
A pergunta foi sugerida às pessoas na rua. A maioria
respondeu "... expor vosso projeto".
Errado.
Vossa Senhoria é pronome de tratamento e pertence sempre
à 3ª pessoa.
Vosso seria correto se estivesse usando Vós.
EX: Vós deveis apresentar vosso projeto.
Há uma dica para facilitar a compreensão. Pense na palavra
você, que também é pronome de tratamento da 3ª pessoa.
Como você diria?
"Você deve expor seu pensamento" ou...
"Você deve expor vosso pensamento".

- 48 -
PORTUGUES
A primeira alternativa é a correta.
Se "Vossa Senhoria" ou "Vossa Exelência" é 3ª pessoa,
usamos "seu" projeto ou "seu" pensamento.
Caso você encontrasse o Presidente da República perguntaria
a ele: "Vossa Excelência recebeu a carta que lhe enviei ou... a
carta que vos enviei"?
O correto seria "...a carta que lhe enviei". Eu enviei ao
Senhor, a Vossa Excelência, a você. Sempre falamos de 3ª
pessoa, portanto, "...a carta que lhe enviei".
Os pronomes de tratamento sempre estão relacionados à 3ª
pessoa.

REGÊNCIA VERBAL
Regência é a relação que se verifica entre as palavras. Por
exemplo: quem gosta, gosta de alguma coisa. Assim, o verbo
"gostar" rege a preposição "de". Existe, entre o verbo e a
preposição, um mecanismo, uma relação.
A regência se ocupa de estudar essa relação entre as
palavras. Na língua falada, no entanto, regência é algo que se
aprende intuitivamente. Ninguém precisou ensinar para nós
que quem gosta, gosta de alguém. Ou que quem concorda,
concorda com alguma coisa. Ou que quem confia, confia em
algo. E assim por diante.
A língua culta, por seu lado, tem suas regras de regência, que
levam em conta o significado do verbo. Um verbo com mais de
um sentido, por exemplo, pode ter duas regências diferentes.
Vamos ver o que acontece na canção "O Nome Dela", gravada
pelo goleiro Ronaldo & Os Impedidos:
"Eu não lembro
nem do lugar
ela me diz
que eu paguei o jantar
ela me diz
que eu prometi o mundo
eu não me lembro
de nenhum segundo..."
As gramáticas dizem que quem lembra, lembra alguma coisa.
E que quem se lembra, lembra-se de alguma coisa.
Quem lembra,
lembra algo
Quem se lembra,
lembra-se de algo.
Será que essa regra na língua efetiva vale sempre? Vamos ver
o que acontece na canção "Lembra de Mim", cantada por Ivan
Lins. A letra é de Vítor Martins:
"Lembra de mim
dos beijos que escrevi
nos muros a giz
Os mais bonitos continuam opor lá
documentando que alguém foi feliz

- 49 -
PORTUGUES
Lembra de mim
nós dois nas ruas
provocando os casais..."
De acordo com a gramática normativa, o título da canção e a
letra estariam errados. Deveria ser "Lembra-se de mim..."
Acontece que no dia-a-dia as pessoas não falam assim, com
todo esse rigor, com essa consciência do sistema de regência.
Dessa forma, nós podemos dizer "lembra de mim", sem
problema. A língua falada permite essas licenças, e a poesia
musical também, já que não deixa de ser um tipo de língua
oral. Mas na hora de escrever, de adotar outro padrão, é
conveniente obedecermos àquilo que está nos livros de
regência. No texto formal, lembra-se de mim é o exigível, é o
correto.

ONDE/AONDE
"Onde" ou "aonde"? Muitas pessoas algum dia tiveram essa
dúvida. E nem vale muito a pena tentarmos esclarecê-la por
meio dos textos literários, porque não é incomum que até
mesmo os grandes escritores utilizem as expressões de modo
diferente do que é pregado pela gramática normativa. Preste
atenção no trecho desta canção, "Domingo", gravada pelos
Titãs:
"... não é Sexta-Feira Santa,
nem um outro feriado,
e antes que eu esqueça aonde estou,
antes que eu esqueça aonde estou,
aonde estou com a cabeça?"
"Aonde eu estou" ou "onde estou"? Para esta pergunta, a
resposta seria: "Estou em tal lugar", sem a preposição "a". E
as gramáticas ensinam que, não havendo a preposição "a",
não há motivo para usar "aonde". Assim, a forma correta na
letra da canção seria:
"... e antes que eu esqueça onde estou,
antes que eu esqueça onde estou,
onde estou com a cabeça?"
Vamos a outro exemplo, a canção "Onde você mora", gravada
pelo grupo Cidade Negra:
"... Você vai chegar em casa,
eu quero abrir a porta.
Aonde você mora,
aonde você foi morar,
aonde foi?
Não quero estar de fora...
Aonde está você?"
Quem vai, vai a algum lugar. Portanto, a expressão correta
nesse caso é "aonde".
Aonde você foi?
Mas quem mora, mora em algum lugar. Quem está, está em
algum lugar. Nesse caso, a expressão correta é "onde":

- 50 -
PORTUGUES
Onde você mora?
Onde você foi morar?
Onde está você?
Veja agora este trecho da canção "Bete Balanço", gravada
pelo Barão Vermelho:
"Pode seguir a tua estrela,
o teu brinquedo de star,
fantasiando um segredo,
o ponto aonde quer chegar..."
Ensinam as gramáticas que, na língua culta, o verbo "chegar"
rege a preposição "a". Quem chega, chega a algum lugar. A
preposição é usada quando queremos indicar movimento,
deslocamento. Portanto, a letra da música está correta:
O ponto aonde você quer chegar.
Eu chego ao cinema pontualmente.
Eu chego a São Paulo à noite.
Eu chego a Brasília amanhã.
Na linguagem coloquial, no entanto, é muito comum vermos
construções como "eu cheguei em São Paulo", "eu cheguei no
cinema". Não há grandes problemas em trocar "onde" por
"aonde" na língua do dia-a-dia ou em versos de letras musicais
populares, dos quais fazem parte o ritmo, a melodia e outros
fatores. Mas, pela norma culta, num texto formal, use "aonde"
sempre que houver a preposição "a" indicando movimento:
ir a / dirigir-se a / levar a / chegar a
Regência verbal
- Verbos que mudam o sentido de acordo com a regência -
Verbo Sentido Regência Exemplo
cheirar Não pede
preposição.
Ele aspirou o
perfume.
Aspirar
querer Pede preposição a.
Ele aspira ao
cargo.
Ele aspira à
direção
ver Pede preposição a.
Ele assistiu ao
filme.
Ele assistiu à
cena. Assitir
ajudar Não pede
preposição.
A enfermeira
assistiu o
doente.
fazer mira Não pede
preposição.

- 51 -
PORTUGUES
O caçador
visou o bando
de pássaros.
ter como
objetivo
Pede preposição a.
Ele visava ao
cargo.
Ele visava à
direção.
Visar
dar visto Não pede
preposição.
O professor
visou meu
caderno.
convocar Não pede
preposição.
Ele chamou o
instrutor.
invocar Pede preposição por.
Chamava por
todos os
santos.
Chamar
nomear
Ver os casos de
construções
especiais.
-
desejar Não pede
preposição.
Ele queria um
prato de
comida. Querer
gostar Pede preposição a. Ele queria bem
ao irmão.
- Verbos com construções especiais -
Verbo Construções que admite
Chamar
(com sentido de
nomear)
a) Chemei-lhe amigo naquela situação.
b) Chamei-lhe de amigo naquela situação.
c) Chamei-o amigo naquela situação.
d) Chamei-o de amigo naquela situação.
Custar
(com sentido de
ser difícil, ser
custoso)

- 52 -
PORTUGUES
Custou-lhe achar o filho na loja.
Esquecer e
lembrar
a) Esqueci seu nome.
b) Esqueci-me de seu nome.
c) Esqueceu-me seu nome. (sentido de "cair no
esquecimento")
Lembrou-me seu nome. (sentido de "vir à
lembrança", "ocorrer")
Informar
Informar (algo) ( a alguém).
Informei a João seu endereço.
Informar (alguém) (de algo).
Informei João de seu endereço.
Preferir Preferir (uma coisa) (a outra).
Prefiro salgado a doce.
Pagar e perdoar Pagar / Perdoar (algo) (a alguém).
Paguei a conta ao garçom.
- Verbos cuja regência pode gerar dúvida -
Caso Regência Exemplo
Implicar
Não pede preposição
quando tem o
sentido de acarretar.
Sua atitude implicou
problemas durante o
debate.
Obedecer e
desobedecer
Exigem a preposição
a.
Obedeça ao
professor.
Obedeça à
professora.
Simpatizar e
antipatizar
Exigem a preposição
com e não admitem
pronome.
Simpatizei com ela.
E não: "Eu me
simpatizei com ela."
Namorar
Por incrível que
pareça, não pede a
preposição com.
Ele namora sua
prima.
E não: "Ele namora

- 53 -
PORTUGUES
com sua prima."
Sabe como se pede
em namoro de acordo
com o português
culto?
"Você quer me
namorar?"
O difícil vai ser ouvir
um "sim" depois
dessa...
Regência nominal
acostumado: a,
com
adaptado: a
afável: a, com,
para com
alheio: a
alusão: a
analogia: com,
entre
ávido: de, por
contíguo: a
devoto: de, a
imbuído: de, em
passível: de
propenso: para, a
vinculado: a

- 54 -

Você também pode gostar