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Revista Faz Ciência, v. q, u. 9, Jan./Ju!. 2007, pp.

1:99-322

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
ADMINISTRAÇÃO: reflexões de sua contribuição
para a f o r m a ç ã o profissional

Rosane Calgaro Festinalli1


L i l i a n e Canopf 1
Omella Bertuol3

Resumo
Este estudo se propõe a acrescentar alguns subsídios à discussão
da contribuição do estágio supervisionado em administração para
a formação profissional. Relata informações pertinentes contidas
na legislação própria e em autores que abordam esse tema. A
discussão ê ampliada através de pesquisa de campo com
estagiários do curso de Administração de duas instituições de ensino
superior da Região Sudoeste do Paraná. O estudo se caracteriza
como exploratório. com aplicação de questionários fechados a um
universo de 15S estagiários, tendo 114 respondentes. As
considerações finais reconhecem, a partir da legislação, das
perspectivas dos autores e da visão dos acadêmicos, a efetiva
contribuição do estágio na formação profissional. Além disso,
revelam a existência de contradição a partir da mudança na
concepção de estágio exposta nas Diretrizes Curriculares para o
Curso de Administração, publicadas em 2005.

Palavras-chave: Estágio supervisionado; formação profissional.

I D o c e n t e cio C u r s o d e A d m i n i s t r a ç ã o d a U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d o O e s t e d o P a r a n á -
U N I O E S T E , C a m p u s de F r a n c i s c o B e l t r ã o . E - m a i l : r f e s t i u a l l i @ b o l . c o m . b r
- D o c e n t e do C u r s o de A d m i n i s t r a ç ã o da U n i v e r s i d a d e T e c n o l ó g i c a Federal do Paraná - U T F P K ,
C a m p u s de Pato Branco. E - m a i l : l i l í a n e c ® p b . c e f e t p r . b r
II D o c e n t e d o C u r s o d e A d m i n i s t r a ç ã o cia F a c u l d a d e d e P a t o B r a n c o - F A D E P .
E-mail: ornella@fndep.br
Estâgio supervisionado e m administraçâo: reüexöes d e sun contribuiçâo para a formaçâo professional

SUPERVISED TRAINEESHIP IN ACADEMIC


BUSINESS COURSE: reflections upon its
contribution for the professional qualification

Abstract
Abstract:This study intends to provide some data to the discussion
concerning the contribution of supervised traineeship in academic
business course for the professional qualification. It reports
pertinent information present in its own legislation and in authors
that approach that theme. Our discussion is enhanced by means of
field research with trainees of Academic Business Courses of two
institutions of higher education in the southwest area of Parana.
The study is characterized as exploratory, with the application of
closed questionnaires in a realm of 158 trainees, with 114
respondents. The final considerations recognize, from the
legislation, the authors' perspectives and the academics' vision,
the effective contribution of the traineeship in the professional
qualification. Besides, they reveal the existence of contradiction
concerning the change in the traineeship conception exposed in the
Curricular Policies for the Academic Business Course, published in
2005.

Key-words: Supej'vised traineeship; professional qualification.

Introdução

O Estágio Supervisionado é prática oficialmente presente em


diversos cursos superiores do Brasil, especialmente cursos de cunho
profissionalizante, desde 1977. Além da obrigatoriedade presente
na legislação que originou a prática de estágio, diversos autores
(PICONEZ, 1991; PIMENTA, 1995; ZABALZA, 2004) enfatizam a
contribuição dessa fase dos estudos para a formação profissional. A
presença do estágio nas grades curriculares dos cursos aponta para
o fato dele contribuir de alguma forma para a formação dos futuros
profissionais.

ínn
Rosane Calgaro Festinalli - Liliane Canopf - Ornella Bertuol

No entanto nas Diretrizes Curriculares aprovadas para o Curso


de Administração em 2005, depois de i S anos de obrigatoriedade, o
estágio passa a ser um elemento opcional para o currículo do curso,
apesar de mantidas orientações que o consideram como forma de
c o m p l e m e n t a r a f o r m a ç ã o do acadêmico. Esta mudança suscita
novas questões além das já existentes com relação ao tema.
A o tratar de estágio, Piconez (1991) considera que existem
a l g u m a s q u e s t õ e s i m p l í c i t a s ao seu d e s e n v o l v i m e n t o que
d e t e r m i n a m o alcance e o impacto da realização do estágio na
formação do profissional. Dentre elas estão: a compreensão dos
vínculos estabelecidos entre o estágio e os demais componentes do
currículo; o valor atribuído ao estágio por docentes e discentes; o
eixo a r t i c u l a d o r da r e l a ç ã o t e ó r i c o - p r á t i c a na f o r m a ç ã o do
profissional. Para tanto, uma das inquietações de quem atua nesta
formação está em definir a sua concepção do profissional que se
quer f o r m a r considerando o contexto de inserção e as condições
profissionais da classe a que pertence.
P a r t i n d o da c o n c e p ç ã o p r e s e n t e na l e g i s l a ç ã o , aliada à
discussão p r o m o v i d a por alguns autores, algumas inquietações
motivaram a realização do presente estudo acerca da contribuição
do e s t á g i o s u p e r v i s i o n a d o p a r a a f o r m a ç ã o p r o f i s s i o n a l em
A d m i n i s t r a ç ã o . Diante da realidade presente em dois cursos de
Administração de duas instituições da Região Sudoeste do Paraná
alguns q u e s t i o n a m e n t o s são pertinentes: de que forma se dá o
processo do estágio supervisionado? Quais são os agentes envolvidos
na realização do trabalho e qual o papel de cada um deles? Qual é a
visão dos estagiários a partir da sua experiência no estágio?
Na tentativa de elucidar essas questões, o presente trabalho
se propõe discutir a contribuição do estágio para a formação dos
futuros profissionais, considerando a perspectiva da legislação, de
a l g u n s a u t o r e s e de u m a a m o s t r a de e s t a g i á r i o s . Para tanto,
i n i c i a l m e n t e a p r e s e n t a a l e g i s l a ç ã o p e r t i n e n t e ao e s t á g i o
supervisionado no Brasil, mais especificamente para os cursos de
administração. Na seqüência, aborda uma breve discussão sobre o
papel do estágio na formação do profissional em Administração,
bem como, o processo de realização e os agentes envolvidos na sua
efetivação. Estão expostos também os procedimentos metodológicos
que nortearam a pesquisa, os resultados obtidos e sua análise,
seguidos das considerações finais.

301
Estágio supervisionado em administração: refiexotfs de sua contribuído para a formação profissional

C o n c e p ç õ e s da L e g i s l a ç a o s o b r e E s t á g i o S u p e r v i s i o n a d o

O estágio curricular supervisionado foi instituído pela Lei


Federal n.° 6.494, sancionada em 07/12/1977 (BRASIL, 1977) e
regulamentado pelo Decreto Federal 11.0 S7.497 de 1S/0S/1982
(BRASIL, 1982). Tais documentos definem o estágio supervisionado
como uma forma de complementar o ensino e a aprendizagem,
proporcionando uma experiência prática na linha de formação do
acadêmico. O decreto S7.497/1982 em seu artigo 2 o considera
estágio "as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural
proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais
de vida e trabalho" que podem ser efetivadas em organizações
públicas ou privadas e até mesmo na comunidade em geral. Tanto a
lei quanto o decreto esclarecem que o estágio deve estar articulado
com a proposta curricular do curso em questão e deve ser planejado,
executado e avaliado pela instituição de ensino superior.
A observação dos documentos que originaram o estágio
supervisionado revela a sua intenção explícita de aproximação do
estudante ao mercado de trabalho, como complemento da formação.
Nos documentos são mencionados os agentes que fazem parte do
processo de estágio, sendo eles o estagiário, a instituição de ensino
e a organização concessora do estágio, com maior ênfase no pape!
do estagiário e da instituição de ensino.
A legislação que instituiu o currículo mínimo para formação
em Administração -Resolução do Conselho Federal de Educação -
CFE de 02/1993 - fixou carga horária mínima de 300h/a para o
estágio, equivalendo a 10% do total de horas previsto para o curso
(BRASIL, 1993). Em relação ao estágio, o referido documento trata
somente da carga horária, mantendo-o como atividade obrigatória
para a graduação em Administração. Já o parecer 146/2002 do
Conselho de Educação Superior e Conselho Nacional de Educação
(BRASIL, 2002), além de reforçar a permanência do estágio como
atividade regular e obrigatória, define-o como conteúdo curricular
implementador do perfil do formando. Além disso, o documento
enfatiza a necessidade de um processo contínuo de acompanhamento
das atividades que torne possível ao acadêmico reconhecer a
necessidade de retificação da aprendizagem nos aspectos que se
revelarem insuficientes. O parecer ressalta a relevância do estágio
para a formação como um mecanismo de revisão constante do

302
R o s a n c Cnig;iro l-estinalii - L i l i a n e C a n u p f - O m e l l a Bertuoi

processo de ensino-aprendizagem e um elemento fundamental de


inserção do acadêmico na realidade de atuação.
As Diretrizes Curriculares aprovadas para o Curso de
Administração pela Resolução 4/2005 do Conselho Nacional de
Educação (BRASIL, 2005) reforçam a orientação presente em
documentos anteriores (Lei 6.494/77; Decreto 87.497/82; Parecer
146/02), acerca da atribuição de cada instituição para a organização
do programa de estágio curricular supervisionado considerando o
direcionamento dado ao projeto pedagógico do Curso de
Administração. Também são mencionados no documento a
necessidade de regulamentação própria, o programa de atividades,
a supervisão, o acompanhamento e os procedimentos de avaliação
dessa fase dos estudos. A possibilidade de reprogramação e
reorientação do programa de estágio de acordo com os resultados
alcançados gradualmente pelos alunos, conforme revelar o sistema
de acompanhamento adotado pela instituição, permanece na
orientação das diretrizes de 2005.
Um elemento novo neste documento é o fato de o estágio ser
um elemento opcional para o currículo do curso. A observação das
manifestações presentes nos documentos anteriores, enfatizando a
relevância do estágio para a formação do profissional em
Administração, gera certa dicotomia, pois. ao mesmo tempo em que
se mantém o discurso acerca da contribuição do estágio para
formação, ele é colocado como atividade optativa. Os presidentes
do Conselho Federal de Administração (CFA) e da Associação
Nacional da Graduação em Administração (ANGRAD), através de
um comunicado nacional emitido em setembro de 2005 (ANGRAD/
CFA, 2005), manifestaram sua preocupação com a opção dada pela
legislação. O comunicado esclarece que o estágio continua a ser
percebido, por essas instituições, como um componente fortalecedor
do curso no qual se concretiza a relação entre a teoria e a prática
para a consolidação do processo de ensino-apredizagem.

Estágio Supervisionado e Formação Profissional

A preocupação com a prática profissional do acadêmico em


formação tem sido foco das discussões relacionadas ao estágio
supervisionado para além do que propõe a legislação. Pimenta (1995)
defende que se o curso de graduação tem por finalidade principal a

303
Estágio supczvisionndo eni administrado: reflexões de sua contribuição pmvi formação profissional

formação do profissional, é natural que a prática seja uma


preocupação sistemática no currículo. Essa prática era entendida
nos anos 6o como a observação e a r e p r o d u ç ã o de modelos
considerados bons, utilizados no campo de trabalho do futuro
profissional. Nessa época, o campo de atividade não apresentava
mudanças significativas, por isso. a possibilidade de manutenção de
modelos de atuação por longo período de tempo.
No caso da formação do profissional em Administração, o
acadêmico poderia adquirir as habilidades da prática profissional
estando presente nas organizações de negócios para observar,
compreender e adotar as práticas avaliadas como eficazes e
utilizadas pelos administradores experientes. Modelos como a visão
sistêmica da organização e a abordagem do desenvolvimento
organizacional (CARAVANTES, 1998) predominavam nesse período
na gestão de negócios.
Essa perspectiva de formação, a partir da observação e
reprodução de modelos, disseminou a percepção de que teoria e
prática são diferentes, sendo a teoria um conjunto de regras,
procedimentos e conhecimentos sistematizados que podem ser
aplicados a qualquer contexto. Pimenta (1995, p. 67) relata a
concepção reinante na qual "a teoria tem primazia em relação à
prática e esta é aplicação daquela, podendo, eventualmente, ser
corrigida ou aprimorada pela prática". A autora caracteriza essa
concepção de prática como decorrente da perspectiva positivista e
alerta para a necessidade da compreensão dialética da prática.
Vasquez cipud Pimenta (1995) defende que teoria e prática
são componentes indissociáveis que fazem parte de um exercício
teórico-prático. Há um campo ideal representado pela teoria, e um
campo material identificado como prática. Porém, somente uma
abstração pode conceber os dois campos isolados. Sendo assim,
praticar a profissão significa considerar a unidade entre a teoria
apreendida e a prática a ser desenvolvida. A prática inclui a análise
teórica da realidade como ponto de partida e de chegada e as duas
constituem o núcleo articulador da formação profissional.
Fá vero (2001, p. 66) evidencia o estágio curricular como uma
proposta não só formadora, mas também de ratificação da função
social da universidade. Para a autora, o estágio enquanto elemento
integrador deve ser visto "como uma forma de abrir caminhos a
novas relações, não só no campo estritamente acadêmico, mas
30-i
R o s a n e C.iJgaro FustinnHí - Liísnne C í i n u p f - O m e l l a Bertuol

também no social". A formação profissional não é fruto, nessa


perspectiva., da simples freqüência a um curso de graduação. Mais
do que isso, só é alcançada a partir do comprometimento com a
construção de uma práxis. alicerçada na capacidade de compreensão
das relações entre teoria e prática, possíveis a partir da realização
do estágio curricular.
Aliando a discussão da relação teórico-prática ao estágio
supervisionado, este tem a finalidade de aproximar o acadêmico da
realidade onde irá atuar, não se constituindo, portanto, como momento
prático do curso, mas como uma aproximação à prática. O estágio é uma
fase conseqüente ao estudo da teoria e deve promover uma reflexão do
futuro profissional sobre a realidade de atuação, considerando as
especificidades de contexto. A finalidade do estágio vai além da aplicação
imediata de técnicas aprendidas na teoria, pois a prática implica superar o
fazer e remete a uma reflexão que enriquece a teoria que serviu de base
para tal. "O estágio é um processo criador, de investigação, explicação,
interpretação e intervenção da realidade" (DOCUMENTO SÍNTESE DOS
SEMINÁRIOS REGIONAIS SOBRE ESTÁGIO CURRICULAR apuei
PIMENTA, 1995, P- 74)-
Para o estágio em administração, a partir da inserção na
organização, o acadêmico tem condições para investigar a realidade
interna e estabelecer as relações com a realidade externa, através
do arcabouço de conhecimento trabalhado no decorrer do curso.
As conseqüentes ações de explicação e interpretação de tal realidade
permeiam o processo criativo de ações intervencionistas na
organização.
Pensar o estágio supervisionado como parte de um processo
amplo de formação significa concebê-lo como elemento articulador
da formação, que tem nas disciplinas que compõem o currículo do
curso um dos subsídios para sua efetivação. Ou seja, as disciplinas
fundamentam o processo formativo que é enriquecido pela fase do
estágio. Nesse sentido, Piconez (1991) argumenta que o estágio não
é tarefa exclusiva do período estipulado para tal, indo além de uma
atividade isolada ou mais uma parte da formação. Ele está
diretamente ligado aos demais componentes do currículo do curso
e deve ser influenciado pelo aprendizado ocorrido nos diversos
momentos da graduação.
Zabalza (2004) concorda com Piconez (1991) e acrescenta
que o estágio é um componente transversal da formação que deve
305
Estágio supervisionado em administração: refiexotfs de sua contribuído para a formação profissional

influenciar e ser influenciado por todas as disciplinas curriculares.


Quando a prática nas organizações está desvinculada dos conteúdos
e das metodologias das disciplinas há uma descaracterização do
estágio como elemento articulador da formação profissional.
Uma argumentação semelhante é feita por Fazenda citada por
Piconez (1991) quando questiona se é possível pensar em estágio
sem incluí-lo em um projeto coletivo maior para a formação do
profissional. Trata-se de uma prática inadequada a percepção do
estágio como o salvador do curso em sua fase terminal, sem que
esteja engajado com as disciplinas de formação básica, profissional
e complementar. E necessário, portanto, considerar que esta fase de
estudos precisa estar integrada à formação do acadêmico como
administrador, em função dos diversos conteúdos tratados durante
a graduação. As disciplinas de formação básica, formação
complementar e formação profissional devem servir de base para o
complemento do aprendizado ocorrido durante o estágio, sendo elas
uma base científica, técnica, social e econômica de conhecimentos
indispensáveis à compreensão do processo produtivo e do seu
gerenciamento no âmbito das organizações. O estágio tem como
finalidade, nessa perspectiva, a ampliação do conhecimento teórico-
prático e o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural que
viabilizam a aplicação dos conhecimentos da Administração à
realidade de gestão das organizações (FADEP, 2003).
Pensando a formação do administrador, o estágio é um ponto
de contato entre a universidade e a organização. Dessa forma,
permite a observação e análise das práticas de gestão, seu
aprimoramento e também das teorias que servem de base para a
análise da realidade. Nas palavras de Pimenta (1995, p.71) "A reflexão
sobre a prática, sua análise e interpretação constroem a teoria que
retorna à prática para esclarecê-la e aperfeiçoá-la". Tem-se então, a
consolidação do processo de refiexão-ação-reflexão. fundamental
para a aprendizagem efetiva.

O P r o c e s s o de Estágio S u p e r v i s i o n a d o e S e u s A g e n t e s

A discussão do papel do estágio supervisionado na formação


do profissional de Administração suscita a análise de outros aspectos
relevantes para sua operacionalização. Berger citado por Pimenta
(1995) comenta sua preocupação com alguns aspectos relativos ao
306
Rosane Calgaro Festinalli - Liliane Canopf - Ornella Bertuol

planejamento e execução do estágio. Fatores como a receptividade


do estagiário 110 campo de trabalho, as condições necessárias para
efetivação do estágio, as expectativas e a avaliação que a organização
faz dos estágios já realizados fazem parte do processo de formação.
Percebe-se que o encaminhamento do estágio envolve uma série de
variáveis que dependem não somente da atuação docente em sala
de aula, mas de um conjunto de ações do corpo discente, docente,
coordenação de curso e administração dos estágios, articulado com
o campo de trabalho pretendido para o profissional em formação.
Sendo assim, são abordados brevemente o processo do estágio e os
agentes que influenciam diretamente na sua efetivação.

O Processo

Uma vez que a Instituição de Ensino Superior, ofertante do


curso de graduação em Administração, estabeleça, juntamente com
o Colegiado de Curso, como requisito para os académicos a realização
do Estágio Supervisionado, necessário se faz o estabelecimento das
etapas e procedimentos inerentes à realização do mesmo, o que
geralmente resulta no desenvolvimento de um Regulamento de
Estágio. Porém, isto não é uma regra, diferentes cursos podem ter
diferentes entendimentos de estágio supervisionado e diferentes
formas de normatizá-lo. No entanto, há alguns pontos considerados
básicos para iniciar o processo do estágio. Roesch (2005) considera
imprescindível a definição de três, quais são: o tema do trabalho, a
organização concessora e o processo de orientação.
A autora não estipula a ordem exata entre estas etapas, pois
diversas circunstâncias podem influenciar na escolha, mas relembra
que a seqüência do trabalho dependerá de todas já estarem atendidas.
Dada a sua importância, cada uma das etapas será tratada
separadamente.
Em relação a definição do tema do trabalho, é possível
perceber diversas dificuldades por parte dos estagiários. Ao ingressar
em um curso superior, os novos acadêmicos têm acesso a diversas
informações através de fontes como a grade curricular e o manual
do acadêmico, entre outras, nas quais está disposto sobre a
necessidade de realização do estágio supervisionado. No entanto, a
grande maioria só irá atentar para este fato na série ou ano da
obrigatoriedade deste, ou, no máximo, na série ou ano

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Estágio supervisionado e m administração: refiexotfs d e sua c o n t r i b u í d o para a formação profissional

i m e d i a t a m e n t e anterior. E, apesar de r e c e b e r e m indicação de


professores e colegas para que definam o tema o mais cedo possível,
em uma área com a qual tenham afinidade e preferencialmente
auxílio de um professor e da organização concessora (Roesch, 2005),
o que se percebe é que esta acaba sendo a etapa mais difícil de
realizada para a maioria dos acadêmicos.
Essa dificuldade pode ser reflexo de várias questões como a
tentativa de conciliar o interesse da empresa, a competência e o
interesse do acadêmico e do orientador. Neste momento não basta
o acadêmico ter obtido boas notas em determinadas disciplinas ao
longo do curso, dependerá da reflexão deste a respeito do curso
como um todo e dos r u m o s que p r e t e n d e dar à sua c a r r e i r a
profissional.
Na tentativa de auxiliar nessa escolha, Roesch (2005) sugere
alguns critérios para a escolha do tema: ser relevante para a área da
Administração; ser viável, com relação a fontes de informação, tempo
e custo; ser de interesse da organização concessora e do orientador.
Após analisar esses critérios, o esperado é que o acadêmico tenha
conseguido estabelecer seu tema de estágio,
A escolha correta da organização concessora é fundamental
para o bom andamento do estágio, mas como esta na maioria das
vezes é deixada a cargo dos acadêmicos, que em sua grande maioria
trabalham, a escolha geralmente recai sobre as empresas onde já
atuam profissionalmente. Esta alternativa apresenta vantagens e
desvantagens. Entre as vantagens pode-se citar a familiaridade com
o ambiente e a possibilidade do acadêmico demonstrar habilidades
e competências profissionais que não eram conhecidas por seus
superiores. Como desvantagem, está um possível viés do acadêmico,
que inicia o estágio com idéias pré-concebídas sobre a organização.
Outra possível desvantagem é o acadêmico encontrar resistência de
colegas e s u p e r i o r e s no f o r n e c i m e n t o de i n f o r m a ç õ e s . Roesch
(2005) sugere, para este caso, a realização do estágio em outro
departamento ou seção da organização.
Parece evidente que a orientação contribui para a qualidade
do trabalho final, mas é imprescindível que o acadêmico tenha idéias
claras sobre o que p r e t e n d e f a z e r e acesso às i n f o r m a ç õ e s na
organização concessora. A colaboração entre professor e acadêmico,
juntamente com o interesse e conhecimento de ambos, também
influenciam. Roesch (2005) ressalta que o papel do orientador é

308
R o s a n e C a l g a r o Festinalli - Liliane Canopf - Ornella Bertuol

prover meios (facilitar contatos, indicar bibliografia, sugerir


métodos e técnicas) e incentivar o trabalho do acadêmico, mas que,
a qualidade final é de maior responsabilidade do acadêmico, pois o
orientador irá auxiliar a partir do que este apresenta, respeitando
suas escolhas e seu tempo.
Roesch (1999) sugere que as fases de planejamento e execução
do projeto de estágio supervisionado devem ser acompanhadas pela
orientação de um professor com formação na área de Administração,
que também possua conhecimentos na área de metodologia, para
possibilitar a construção e execução do projeto a partir de princípios
científicos. A atuação do professor orientador deve ser entendida
como acompanhamento e assessoria dada ao aluno no decorrer do
programa. A orientação do estágio supervisionado é considerada
atividade de ensino e objetiva dar condições ao acadêmico para o
desenvolvimento das atividades em consonância com os princípios
e valores inerentes à realidade da sua atividade profissional, bem
como ao desempenho prático necessário ao desenvolvimento das
habilidades conceituais, humanas e técnicas do profissional formado
em administração.
Vencidas estas etapas, o próximo passo é a elaboração do
projeto de estágio. Entretanto, antes de redigir um projeto alguns
passos devem ser dados. Gil (1996) e Marconi e Lakatos (2001)
l e m b r a m que em p r i m e i r o l u g a r são n e c e s s á r i o s e s t u d o s
preliminares que p e r m i t a m verificar o estado da questão que se
pretende desenvolver sob o aspecto teórico e de outros estudos. No
caso do estágio supervisionado, esses estudos preliminares devem
ser tanto decorrentes das disciplinas já cursadas pelo estagiário
durante seu curso, quanto encaminhados pelo orientador.
Na etapa seguinte o estagiário, juntamente com seu orientador,
deve optar pelo tipo de pesquisa que melhor se adapte ao seu tema
de estágio. Roesch (2005) faz uma síntese de possibilidades: pesquisa
aplicada para gerar soluções potenciais para problemas humanos;
avaliação de resultados para julgar a efetividade de um plano ou
programa; avaliação f o r m a t i v a para melhorar um programa ou
plano e acompanhar sua implantação; proposição de planos para
apresentar soluções para problemas já diagnosticados, podendo ou
não incluir a implementação do plano; e pesquisa-diagnóstico para
explorar o ambiente organizacional e de mercado, levantar e definir
problemas.

30 g
Estágio supervisionado em administração: refiexotfs d e sua c o n t r i b u í d o para a f o r m a ç ã o profissional

Neste contínuo o projeto de estágio segue o modelo de projeto


de p e s q u i s a : a p r e s e n t a ç ã o do tema do t r a b a l h o , a s i t u a ç ã o
problemática, a justificativa, os objetivos, revisão e discussão da
literatura sobre o assunto, método a ser utilizado no trabalho,
cronograma, orçamento, bibliografia e anexos (GIL, 1996).
Concluído o projeto, o estagiário terá clareza nos objetivos e etapas
do trabalho necessárias para alcançá-los, bem como terá ampliado
seu e m b a s a m e n t o t e ó r i c o p a r a f a z e r f r e n t e a r e a l i d a d e a ser
investigada, analisada e interpretada.
A aplicação do projeto de estágio gerará o Relatório Final do
Estágio Supervisionado, também chamado de Trabalho de Conclusão
de Curso. Este é um documento escrito que descreve o trabalho de
preparação do estágio, relata o que foi efetivamente realizado, bem
como a análise dos r e s u l t a d o s , c o n c l u s õ e s e p r o p o s i ç õ e s â
organização concessora do estágio. O t r a b a l h o de conclusão é
a p r e s e n t a d o a uma b a n c a e x a m i n a d o r a , que é p ú b l i c a e sua
composição poderá ter variações de acordo com o regulamento de
cada instituição. A apresentação tanto escrita quanto oral do trabalho
comporão o conceito final do acadêmico, indicando-o ou não para a
aprovação.
Roesch (2005) aponta alguns indicadores que podem auxiliar
na avaliação do estágio:
a) utilidade do trabalho para a organização concessora;
b) conhecimento da organização demonstrado pelo estagiário;
c) capacidade demonstrada pelo estagiário em criar clima
organizacional favorável a seu trabalho;
d) conteúdo e lógica interna do trabalho;
e) qualidade da apresentação do trabalho escrito;
f) qualidade da apresentação oral.

O processo de estágio pode não terminar na aprovação da


banca e passar para fase de aplicação das sugestões apresentadas
pelo estagiário. Como já apontado nesse trabalho, através de Pimenta
(l995)í 0 configura o coroamento de um estágio, que requer
tempo e esforços de acadêmicos, orientadores e organizações, será
a c a p a c i d a d e do p r o c e s s o c r i a d o r de u l t r a p a s s a r as fases de
investigação, explicação e interpretação, chegando à intervenção
da realidade. Para alcançar este patamar, as relações entre os agentes

310
Rosnne Calgaro FestinaHi - Liliane Canopf - O m e l l a Bertuol

envolvidos durante todo o tempo do processo d e v e m ter sido


harmoniosas e cooperativas, conforme discutido a seguir.

Os Agentes

Na opinião de Roesch (2005) a operacionalização do estágio


supervisionado implica na disposição de uma estrutura composta
por alguns agentes que, de diversas formas, influenciam no processo
de realização do estágio e, por conseqüência, no alcance de seus
objetivos. Dentre estes agentes estão a relação u n i v e r s i d a d e -
empresa, a administração dos estágios e o estagiário como sujeito
do processo.
Souza et ai. (1997) chamam a atenção de que, dentre os temas
que têm sido objeto de estudos e preocupação constante dos
envolvidos com o ensino de Administração no Brasil, encontram-
se, além da formação do administrador, a adequação do ensino de
A d m i n i s t r a ç ã o à r e a l i d a d e nacional e a necessidade de maior
integração entre universidade e empresas. Entende-se que a relação
entre a instituição de ensino, formadora do futuro profissional e o
conjunto de empresas atuantes na região de inserção desta, deve ser
p e r m e a d a por uma troca contínua de saberes. A realidade
organizacional não pode ser percebida somente como fonte geradora
de demandas por p r o f i s s i o n a i s com esta ou aquela habilidade
específica. Ao mesmo tempo em que favorece o entendimento da
linha de formação a ser seguida pela universidade, a realidade
organizacional tem a possibilidade de alimentá-la com informações
e práticas vivenciais que servirão de cenário para a prática orientada
de atuação do futuro profissional.
Plonski (1999) alerta que para tornar a relação universidade-
empresa mutuamente benéfica é necessário que ambas tenham
clareza das missões distintas, porém complementares, que possuem
nessa relação. Chaimovich (1999) concorda, ao afirmar que um
encaminhamento adequado para a interação entre a empresa e a
u n i v e r s i d a d e está c o n d i c i o n a d o à existência de atitudes
transparentes que permitam manter as diferenças essenciais nos
papéis dos envolvidos. Além disso, enfatiza que cabe à universidade
p r e o c u p a r - s e com a p e s q u i s a e o ensino, ou seja, geração do
conhecimento e p r e p a r a ç ã o de profissionais para atuarem nas

311
Estágio supervisionado em administração: refiexotfs d e sua c o n t r i b u í d o para a f o r m a ç ã o profissional

organizações do setor produtivo.


R o e s c h (2005) a c r e s c e n t a que, no caso do e s t á g i o
supervisionado, pode se verificar a quase inexistência de ações que
facilitem a intermediação de organizações concessoras dos estágios
para os alunos. A responsabilidade pela identificação da organização
concessora do estágio geralmente fica a cargo dos acadêmicos, que,
como já se disse, acabam por optar por aquelas nas quais já exercem
sua atuação profissional. Apesar do grupo de docentes ter influência
e/ou contatos com o meio empresarial, são raros os casos em que
f a c i l i t a m ou i n t e r m e d i a m p e l a via i n s t i t u c i o n a l o a c e s s o às
organizações.
Eboli (1999) defende que a integração entre a empresa e a
universidade facilita a realização dos estágios, possibilitando aos
a c a d ê m i c o s testarem s e u s c o n h e c i m e n t o s , h a b i l i d a d e s e
competências, integrando a teoria e a prática. Para as empresas,
esse m o m e n t o p o d e se c o n s t i t u i r uma o p o r t u n i d a d e p a r a o
desenvolvimento e a p e r f e i ç o a m e n t o das competências dos seus
colaboradores.
A participação da organização concessora é determinante na
e f e t i v a ç ã o das ações do e s t á g i o s u p e r v i s i o n a d o . A l é m de
compreender e acatar a proposta do programa de estágio, cabe a ela
designar um supervisor que acompanhará o acadêmico durante a
r e a l i z a ç ã o do trabalho, f o r n e c e n d o - l h e c o n d i ç õ e s f í s i c a s e
i n f o r m a ç õ e s n e c e s s á r i a s à r e a l i z a ç ã o de sua a t i v i d a d e na
o r g a n i z a ç ã o . A l g u m a s i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o d e t e r m i n a m a
obrigatoriedade de o supervisor de estágio possuir formação de nível
superior, preferencialmente em Administração. Contudo, a realidade
empresarial revela a predominância de micro e pequenas empresas,
em sua maioria de constituição familiar, onde nem sempre há o
atendimento desta condição. Ressalta-se a necessidade do supervisor
do estágio conhecer o programa de estágio supervisionado e seus
objetivos, bem como recepcionar, situar, orientar, acompanhar,
organizar e avaliar as atividades desenvolvidas pelo estagiário na
empresa como condições sine qua non para o sucesso do estágio.
Em relação à administração dos estágios, conforme o Decreto
n ° S 7 . 4 9 7 de 1 8 / 0 8 / 2 0 0 2 ( B R A S I L , 2 0 0 2 ) a o r g a n i z a ç ã o ,
orientação, supervisão e avaliação dos estágios é uma atribuição
das instituições de ensino. Sendo assim, cabe ao Departamento do
Curso de Administração a definição das regras que nortearão o
312
Rosane Calgaro Festinalii - Liliane Canopf - Orncila Bertuol

processo de estágio supervisionado dos acadêmicos. Inclui-se nesta


f u n ç ã o t o d a s as a t i v i d a d e s r e l a c i o n a d a s à d i s p o n i b i l i d a d e de
docentes, distribuição dos estagiários entre os orientadores e meios
de i n s e r ç ã o do estágio nas p o s s í v e i s organizações c o n c e s s o r a s
(Roesch, 2005). Para fazer frente a essas funções, normalmente, a
c o o r d e n a ç ã o do D e p a r t a m e n t o de A d m i n i s t r a ç ã o d e s i g n a u m
d o c e n t e p a r a o c u p a r a f u n ç ã o da C o o r d e n a ç ã o de E s t á g i o
Supervisionado, ficando suas decisões subordinadas à apreciação
do Colegiado de Estágios e. se for o caso, também do Colegiado de
Curso. É de fundamental importância que a Coordenação de Estágios
atue de m a n e i r a s i n é r g i c a j u n t o a orientadores, a c a d ê m i c o s e
organizações concessoras, mediando decisões e orientando a
condução do estágio de forma que este venha cumprir o designado
nas diretrizes curriculares do curso de Administração.
O estagiário, s u j e i t o desse processo, é antes de tudo um
a c a d ê m i c o . Ruiz [1996) c a r a c t e r i z a acadêmicos c o m o a d u l t o s ,
capazes de dirigir a própria vida social, disciplinar e de estudos, o
que confirma a importância da participação ativa do estagiário em
todas as fases do estágio. Diferentes pesquisas têm buscado delinear
especificamente o perfil do acadêmico do curso de Administração,
entre elas podemos citar Oliveira et al. (2005), Ferraz et al. (2005) e
Godoy et al. (2005), que pesquisaram, respectivamente, 108, 73 e
441 acadêmicos de diferentes instituições e regiões do país. Apesar
das d i f e r e n ç a s das a m o s t r a s , os r e s u l t a d o s d e s s a s p e s q u i s a s
apontaram algumas características em comum como o fato de que
muitos alunos começaram a estudar depois de acumularem certa
experiência profissional e muitos conciliarem trabalho e estudo.
Na pesquisa conduzida por Ferraz et al. (2005) quase a metade
dos e n t r e v i s t a d o s b u s c o u o c u r s o pelo que os p e s q u i s a d o r e s
chamaram de vocação e mais de 20% deles na busca de melhores
oportunidades de trabalho. Resultado corroborado por Godoy et al.
(2005. p.8) que apontou "oportunidade no mercado de trabalho'"
como principal motivo de escolha do curso de administração pelos
a c a d ê m i c o s , em s e g u n d o lugar a "aptidão pessoal" seguida por
"relação com o trabalho atual". A motivação mercadológica pareceu
se c o n f i r m a r , pois q u a s e t o d o s os a c a d ê m i c o s e n t r e v i s t a d o s
d e c l a r a r a m d e s e n v o l v e r a t i v i d a d e s p r o f i s s i o n a i s total ou
parcialmente relacionadas com o curso de administração. Estar
cursando administração foi considerado determinante para inserção

2.13
Estáíiio supervisionado cm administração: retle.xoes du sua contribuição para a íòmiação profissional

profissional por 65% deles e quase 30% consideraram importante a


indicação para estágio por meio de serviço ou convênios da
faculdade. Essas são características acadêmicas que devem ser
consideradas no momento da instituição de ensino estabelecer seu
regulamento de estágio pois serão influenciadoras do processo e
podem determinar o comprometimento do acadêmico com a sua
realização. Na condução do estágio supervisionado cabe ao
acadêmico a concentração de esforços que determinará o sucesso
do processo.
Fica exposto que nenhum dos agentes anteriormente
discutidos consegue, isoladamente, ancorar o estágio e conduzi-lo
ao cumprimento de seus objetivos. No entanto, vale ressaltar o papel
fundamental desempenhado pelo acadêmico como articulador,
receptor e condutor das ações dos demais agentes. Nesse sentido, se
considera como condição básica que o acadêmico conheça
profundamente o Projeto Pedagógico do seu curso, bem como, o
formato de inserção do estágio supervisionado neste. É somente a
partir de uma visão total do curso que o acadêmico conseguirá
compreender as possibilidades de formação encerradas 110 estágio.

M e t o d o l o g i a da P e s q u i s a

A presente pesquisa acerca das contribuições do estágio


supervisionado para a formação em Administração foi realizada com
formandos do ano de 2005 em duas instituições de ensino superior
da região sudoeste do Paraná, sediadas no município de Pato Branco:
a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Faculdade
de Pato Branco (FADEP).
Em relação aos seus objetivos, a pesquisa realizada é tida como
exploratória, por se tratar de um primeiro estudo que traz o
aprimoramento de idéias relacionadas ao tema no contexto em
questão, e como descritiva, pois descreve as opiniões de uma
população delimitada de acadêmicos em relação às contribuições
do estágio supervisionado para a formação em administração (GIL.
1996).
A coleta dos dados foi conduzida mediante a distribuição de
questionários com perguntas fechadas de estimação ou avaliação
(MARCONI e LAKATOS, 2003) ao universo de estagiários em
Administração das duas instituições de ensino, que totalizou 15S

314
RosaneCaigaro Festinalli - Liliane Canopf - Ornclia BerUiol

acadêmicos. O instrumento de coleta de dados foi respondido por


114 acadêmicos, perfazendo uma amostragem representativa do
universo em questão. O levantamento da visão dos acadêmicos
ocorreu através do tratamento-estatístico das informações coletadas,
possibilitando a análise de freqüência das respostas.
Apesar de abordar a visão de acadêmicos de duas instituições
de ensino superior bastante distintas (uma pública federal e outra
privada), a pesquisa não teve como objetivo traçar comparações
entre as particularidades das instituições, mas sim considerar, em
suas generalidades, as contribuições dos diferentes programas de
estágio supervisionado das instituições para a formação acadêmica
do administrador.

A p r e s e n t a ç ã o e d i s c u s s ã o dos dados

A busca pelo entendimento da visão dos acadêmicos com


relação às contribuições fornecidas pelo estágio supervisionado para
sua formação profissional foi baseada na compreensão de que o
processo de estágio necessita, primeiramente, estar integrado às
demais disciplinas cursadas pelo acadêmico, além de possibilitar
um momento de vivência profissional conduzido sob orientação
acadêmica. Esses dois fatores devem, na concepção que norteia esse
trabalho, serem capazes de propiciar ao acadêmico a realização de
um diagnóstico administrativo da organização concessora e a
sugestão de modificações ou aprimoramentos em seu processo de
gestão.
A questão inicial do instrumento de coleta utilizado teve como
propósito verificar a opinião dos respondentes sobre a relação entre
os conteúdos trabalhados nas disciplinas e o estágio. Os ciados,
apresentados no Gráfico 1. demonstram que a maior parte dos
acadêmicos consultados (61,8/6) visualiza essa relação em grande
parte do programa de estágio e que 24,8% dos acadêmicos afirmam
ter sido possível a visualização dos conteúdos das disciplinas durante
todo o período. Isso demonstra que. apesar de existirem momentos
do estágio que não estão vinculados à estrutura curricular do curso,
na maior parte do processo existe a integração do estágio com ela.
Os momentos em que isso não ocorre podem ser explicados por Gil
(1996) e Marconi e Lakatos (2001) quando afirmam que durante o
estágio novos conhecimentos são construídos, reforçando seu

315
Estágio supervisionado em administração: reflexões d e sua contribuição para a formação profissional

caráter de transversalidade, tornando-o capaz de ser influenciado e


influenciar o conjunto dos elementos que compõem o currículo do
curso fZABALZA, 2004). A parcela dos acadêmicos que visualiza o
conteúdo das disciplinas em poucos ou em nenhum momento do
programa de estágio (13,8%), possivelmente, seja conseqüência de
disfunções relacionadas ao processo e aos agentes que influenciam
a operacionalização do programa de estágio, merecendo a reflexão
da instituição de ensino.

61,5 m :l. D »rali! c S.uSit i>


60 p!oilE'Jm^ dc csrá^M
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50 - Ei b.í.;iti urixiJc f1 uric iii>
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Fonte: Dados da Pesquisa (2005).


G r á f i c o 1 - V i s u a l i z a ç ã o dos c o n t e ú d o s d a s d i s c i p l i n a s d u r a n t e a r e a l i z a ç ã o
d o e s t á g i o s u p e r v i s i o n a d o em A d m i n i s t r a ç ã o .

Em relação ao acompanhamento docente, o Gráfico 2 mostra


que 43,4/o dos acadêmicos declaram que esse ocorreu durante todo
o período do estágio e 40,1% afirmam que se efetivou em grande
parte do programa. De acordo com os dados, é possível perceber
também que um percentual expressivo (16,5%) visualizou a vivência
profissional orientada em pequena ou em nenhuma parte do
programa. Isso pode demonstrar a necessidade de revisão do
exercício das atribuições da orientação relacionadas ao
direcionamento do trabalho, como indicação de bibliografias e
sugestões de métodos e técnicas para a pesquisa, conforme aponta
Roesch (2005). Além disso, pode ser explicado pela dificuldade dos
acadêmicos em compreender seu papel de sujeitos do processo de
formação, que tem o orientador como um mediador e não como o
agente condutor do processo.

3i6
Rosano Calgaro Festinalli - Liliane Canopf - O m e l l a Bsrtuol

@ ,i. D u r a n t e ioííü o
p r o ü r ; i m : i üi: e s t á g i o

a ii.Ein g r a n i s (Jiiriií fio


p r o g r a m a de cstíigic

Of.Ojii poucos momciilos


d o progruitt.-i de e s f ã s i o

• d.Não foi possível c m


n e n h u m m o m e n t o do
p r o g r a m a de e s t á g i o

Fonte: Dados da Pesquisa (2005).

Gráfico 2 - 0 estágio supervisionado em A d m i n i s t r a ç ã o como um


m o m e n t o de vivência profissional orientada.

Às respostas dos acadêmicos acerca dos objetivos do estágio,


como realização do diagnóstico e proposição de melhorias,
demonstram que o encaminhamento dado para o estágio pelas
instituições envolvidas na pesquisa está em consonância com a
proposição de Roesch (2005). A autora discute o processo de estágio
sugerindo vários tipos de pesquisa, que podem ser trabalhados pelo
acadêmico, permitindo o conhecimento da realidade e a sugestão
ou não de melhorias na organização concessora. Dessa mesma forma,
o Gráfico 3 mostra que 8,9% dos respondentes também manifestam
entendimento do processo quando afirmam que houve o diagnóstico,
porém não era objetivo do seu trabalho propor melhorias à gestão
organizacional. Considerando que os programas de estágio das duas
instituições prevêem como objetivos a realização do diagnóstico e/
ou a proposição de melhorias para a organização concessora.
entende-se que 2,1% dos acadêmicos que afirmam não ter sido
possível o alcance desses objetivos representam aqueles que não
tiveram seu trabalho encaminhado para a banca examinadora ou
não foram aprovados quando da apresentação.

31?
Estágio supervisionado em administração: refiexotfs de sua contribuído para a formação profissional

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Fonte: Dados da Pesquisa (2005).


Gráfico 3 - Visão dos acadêmicos q u a n t o à r e a l i z a ç ã o do d i a g n ó s t i c o e
p r o p o s i ç ã o de m e l h o r i a s à o r g a n i z a ç ã o c o n c e s s o r a .

De acordo com o Gráfico 4 fica evidente a opinião dos


participantes da pesquisa sobre a contribuição plena ou parcial do
estágio para a formação profissional. Apesar das disfunções
observadas em outras respostas (como a visualização dos conteúdos
das disciplinas e o estágio como um momento de vivência
profissional orientada), apenas 4,7% dos respondentes considera
que o estágio contribuiu minimamente ou não contribuiu para sua
formação em administração. Em relação aos acadêmicos que
percebem a contribuição parcial do estágio (38,5%), alguns
esclarecem no campo destinado à justificativa para suas respostas,
que o estágio não é o único responsável pela formação, ressaltando
o entendimento das Diretrizes Curriculares para o Curso de
Administração de 2002 (BRASIL, 2002), nas quais o estágio é
apresentado como um elemento implementador do perfil pretendido
para o profissional.
A predominância da opinião sobre a contribuição plena ou
parcial do estágio pode ser relacionada aos propósitos explícitos
tanto na legislação que estabeleceu a obrigatoriedade dessa atividade
(BRASIL, 1977; 1982), quanto na discussão dos autores consultados
(PICONEZ, 1991; PIMENTA, 1995 E ZABALZA, 2004)- Ambos,
legislação e autores, alicerçam a construção dos programas de estágio
por parte das instituições de ensino pesquisadas e estes demonstram
que têm sido eficazes ao proporcionar ao acadêmico a compreensão
das possibilidades encerradas na realização do estágio.

318
Rosane Caigaro Festinalli - Liliane C a n o p f - Ornclia BerUiol

60 3Í.&
0 Contribuiu plenamente
para a f o r m a ç ã o em
administração
.vS',5 B Contribuiu purciulmcnic
40 t —
para a f o r m a ç ã o em
administração
- • Teve contribuição
m í n i m a para a f o r m a ç ã o

20 em administração
Q Não leve contribuição
p a r u a f o r m a ç ã o um
...
4.3 adminisi ração
".V&; 1
1 0,4
-

F o n t e : D a d o s da P e s q u i s a (2005).
G r á f i c o 4 - C o n t r i b u i ç ã o do estágio s u p e r v i s i o n a d o para a f o r m a ç ã o em
Administração.

Considerações Finais

O estágio curricular supervisionado pode ser considerado um


momento ímpar de aprendizado do acadêmico, já que proporciona
condições de ensaiar sua atuação profissional sob o
acompanhamento de docentes, alicerçado pela instituição de ensino.
Promovida a discussão sobre a sua contribuição, resgatando a
legislação, autores e visão dos acadêmicos, é possível fazer algumas
constatações:
• O estágio supervisionado constitui uma atividade teórico-
prática que tem como sujeito do processo o acadêmico em busca do
aperfeiçoamento técnico, científico e cultural. Trata-se de uma fase
da formação profissional que deve estar articulada com os demais
componentes do currículo do curso visando contribuir na
implementação do perfil pretendido para o profissional.
• Vários são os fatores envolvidos na efetivação do estágio
supervisionado. Dentre eles está o processo de realização do trabalho
que depende da proposta adotada pela instituição, e normalmente é
norteado pela definição do tema, elaboração de um projeto, seguido
da sua aplicação. Além disso, toda a fase de realização do trabalho
suscita a influência direta de alguns agentes que precisam ser
considerados como a relação universidade-empresa, a
administração dos estágios e o papel do estagiário.

319
Esrágio supervisionado em administração: reflexões de sua contribuição para a formação profissional

• A pesquisa realizada com os acadêmicos de duas instituições


demonstra que na visão deles o estágio supervisionado contribui
para a formação profissional, corroborando com a discussão feita
pelos autores consultados sobre o tema, bem como, com a legislação
que instituiu a obrigatoriedade do estágio.
• As diretrizes curriculares para o curso de Administração,
publicadas em 2005. apontam o estágio como atividade opcional
para a formação. Certamente esse fato representa a existência de
contradições acerca da questão, principalmente porque não são
conhecidas as razões que levaram a tal mudança de concepção por
parte das diretrizes.
Diante das constatações expostas é importante ressaltar que
este artigo constituiu uma discussão inicial sobre a prática do estágio
supervisionado, que aborda a visão dos acadêmicos, mas não deixa
de considerar a importância de novas pesquisas para conhecer a
visão dos demais agentes envolvidos no processo (organizações
concessoras, orientadores e administração dos estágios).

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