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FLORESTA
Coordenação executiva
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier e Isabela Cribari
Comissão técnica
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier (presidente)
Antonio Carlos Caruso Ronca, Ataíde Alves, Carmen Lúcia Bueno Valle,
Célio da Cunha, Jane Cristina da Silva, José Carlos Wanderley Dias de Freitas,
Justina Iva de Araújo Silva, Lúcia Lodi, Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero
Revisão de conteúdo
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier, Célio da Cunha, Jáder de Medeiros Britto,
José Eustachio Romão, Larissa Vieira dos Santos, Suely Melo e Walter Garcia
Secretaria executiva
Ana Elizabete Negreiros Barroso
Conceição Silva
Editora Massangana
Avenida 17 de Agosto, 2187 | Casa Forte | Recife | PE | CEP 52061-540
www.fundaj.gov.br
Coleção Educadores
Edição-geral
Sidney Rocha
Coordenação editorial
Selma Corrêa
Assessoria editorial
Antonio Laurentino
Patrícia Lima
Revisão
Sygma Comunicação
Ilustrações
Miguel Falcão
Capítulo I
Que caso os homens fazem das mulheres, e se é com justiça
Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o
que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acor-
do em dizer que nós nascemos para seu uso, que não somos pró-
prias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger
uma casa, servir, obedecer, e aprazer a nossos amos, isto é, a eles
homens. Tudo isso é admirável e mesmo um muçulmano não
poderá avançar mais no meio de um serralho de escravas.
Entretanto, eu não posso considerar esse raciocínio senão como
grandes palavras, expressões ridículas e empoladas, que é mais fá-
cil dizer do que provar. Os homens parecem concluir que todas as
outras criaturas foram formadas para eles, ao mesmo tempo em
que eles não foram criados senão quando tudo isso se achava dis-
posto para seu uso. Eu não me proporia a fazer ver a futilidade
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A autora utiliza em sua argumentação a Doutrina Utilitarista, uma tendência do pensa-
mento ético, político e econômico inglês, dos séculos XVIII e XIX. Essa doutrina vê no útil
(e na utilidade) o valor supremo da vida. A coincidência entre a utilidade individual com a
social foi um dos principais temas do Utilitarismo.
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Alexander Pope (1688-1744), poeta inglês, escreveu poemas satíricos em que ridicula-
rizava a sociedade elegante de sua época. Publicou também ensaios filosóficos sob a
forma poética, como Ensaio sobre o homem e Ensaio sobre a crítica. Este último foi
traduzido para o português pelo Conde de Aguiar, e publicado no Rio de Janeiro, pela
Imprensa Régia, em 1810. Talvez sejam desta tradução os versos acima citados.
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Homem que veio do nada, o mesmo que ‘nonada’.
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Capítulo V
Se as mulheres são naturalmente capazes
de ensinar as ciências ou não
Quanto à Retórica, é preciso convir que nós somos os seus
modelos e mestres avaliados12. A eloquência é um talento tão natu-
ral e particular às mulheres, que ninguém lhes pode disputar. Elas
estão em estado de persuadir tudo que lhes apraz: podem ditar,
defender e distinguir o justo do injusto sem o recurso das leis. Não
tem havido juiz que não tenha experimentado que elas são os mais
esclarecidos conselheiros, e poucos litigantes que não saibam por
experiência, que elas são juízes muito retos, cujo talento é o mais
ilustrado. Quando as mulheres tratam de algum objeto, elas se di-
rigem de uma maneira tão delicada, que os homens são obrigados
a reconhecer que elas lhes fazem sentir o que dizem. Toda arte
oratória das escolas não é capaz de dar a um homem essa eloquência
e facilidade de se expressar, que a nós nada custa; e o que sua baixa
inveja chama em nós uma superfluidade de palavras, não é outra
coisa mais que uma prontidão de ideias e uma facilidade de dis-
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Padre Miguel do Sacramento Lopes (1791-1852), redator de jornais no Recife e no Rio
de Janeiro, e conhecido como crítico social dos mais agudos, por várias vezes em um de
seus jornais – intitulado O Carapuceiro – defendeu a habilidade feminina para a retórica,
bem como para exercer outras atividades mais condizentes com seus talentos. Sacra-
mento Blake, no Diccionario bibliographico brazileiro, vol. VI, de 1900, sugere que Nísia
teria conhecido o padre Lopes Gama, no tempo em que residiu em Olinda, porque muitas
de suas ideias sobre as mulheres eram coincidentes.
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Nísia parece não se dar conta de que essa “lei positiva” que impede as mulheres de
preencher algumas funções da hierarquia eclesiástica também foi feita pelos homens.
Mesmo assim, quando aceita a restrição “divina”, inverte o raciocínio usual e tira partido
para seu sexo.
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Conclusão
De quanto tenho dito até o presente não tem sido com a intenção
de revoltar pessoa alguma de meu sexo contra os homens, nem de
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Thomas Birch (1705-1766): historiador e biógrafo inglês. Autor de quase todas as
biografias do General dictionary, historical and critical (1743-1745), e do Memory of the
reign of Queen Elizabeth (1754).
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Após haver “provado” a superioridade feminina, Nísia Floresta recua e afirma não querer
incitar o seu sexo à revolta. Também nesse aspecto ela não segue o texto original de Mary
Wollstonecraft, que, ao contrário, declara que só uma REVOLUÇÃO (assim escrita, em
maiúsculas) seria capaz de alterar as condições de vida das mulheres inglesas. Esta
posição cautelosa de Nísia Floresta também está presente no Opúsculo humanitário, obra
em que, após traçar um drástico panorama da situação feminina, declara ficar satisfeita
apenas com o acesso das meninas à educação.
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