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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE

COLEGIADO DE PSICOLOGIA

ÁGATHA PIROVANI
ANA CAROLINA SOUZA
ANA CRISTINA BODEVAN
ARIANA TURINO

O PAPEL DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL

Alegre
2021
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................

2. DESENVOLVIMENTO............................................................................

2.1 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SISTEMA


PRISIONAL.................................................................................................

2.2 COMO FUNCIONA O SISTEMA PRISIONAL E QUAIS OS


PROBLEMAS ENFRETADOS PELOS PSICÓLOGOS NESSE
MEIO...........................................................................................................

3. CONSIDERAÇÕES
FINAIS....................................................................

REFERÊNCIAS..........................................................................................
INTRODUÇÃO

Simbolicamente, as prisões constituem-se em locais de depósito de dejetos, do que


é abjeto, degradante, devendo ser apartado, escondido, esquecido nessa margem
circunscrita pelos muros que supostamente separam bem e o mal, o puro do impuro.
Assim, as prisões surgem historicamente como um mecanismo de execução penal
com dupla finalidade: punir um delito e transformar o condenado disciplinando-o
para o trabalho socialmente necessário (FOUCAULT, 2013). Entretanto, vem
adquirindo novos significados a partir das transformações recentes do capitalismo e
do avanço da globalização, caracterizando-se como um instrumento que pretende a
manutenção da ordem social e a neutralização de uma parcela da população que
não encontra espaço no mercado de trabalho formal e no mercado consumidor
(BARROS, 2009; SEQUEIRA, 2004).

O sistema prisional foi pensado como um mecanismo eficiente de adestramento


social daqueles sujeitos que possuíam alguma conduta desviante, uma vez que seu
objetivo era torná-los aptos a retornar ao convívio da sociedade após estarem
devidamente ressocializados (Miyamoto & Krohling, 2012). Assim, as punições por
meio dos suplícios dos corpos foram gradativamente sendo substituídas por técnicas
de vigilância através de formas de regulação social, as quais estipulariam as regras
do comportamento disciplinado (Foucault, 1987). A violência incorpórea
representada pelas práticas disciplinadoras da instituição prisão atua no sentido de
anular as vontades e os desejos pessoais (Fonseca, 2006). Entretanto, se
estruturam sobre um discurso que visa à positividade de sua existência, justificadas
pelas supostas múltiplas funções da pena: proteger a sociedade, neutralizar os(as)
criminosos(as), dissuadir o cometimento de crimes, punir, ressocializar o(a) preso(a)
e prevenir sua recidiva.

Analiticamente, as prisões integram o campo do chamado ‘negativo psicossocial’


(LHUILIER, 2009), espaço simbólico onde se situam as instituições encarregadas de
tratar o que é rejeitado pelo corpo social – a morte, os dejetos e as prisões. Seus
objetos são desvalorizados, rejeitados e em alguns casos temidos pela
contaminação que supostamente possam provocar. Por isso, frequentemente se
tornam espaços de esquecimento e invisibilidade, onde se conjugam
desconhecimento, rejeição, ocultação e negação. Michele Perrot (2009) denomina
as prisões de “instituições impossíveis”; para Grégory Salle (2009) são “a parte
sombria do Estado de direito”; já para os pesquisadores da área, representa um
desafio, sempre renovado, de compreendê-las também como um espaço de
trabalho, uma das entradas possíveis neste universo encarcerado temido,
desconhecido e invisibilisado.

Nesse sentido, é possível afirmar que não são apenas os(as) detentores(as) de uma
pena privativa de liberdade que estão enclausurados(as) nos altos muros prisionais.
O trabalho de todos os(as) profissionais aí inseridos(as) padece da estrutura
sombria do encarceramento, exigindo dos(as) que a compõe maneiras específicas
de agir, o que os(as) inserem em um permanente debate de normas. Entendendo
assim que para sobreviver na prisão, para não sucumbir à destruição subjetiva e às
inscrições corporais que produz, é preciso aos prisioneiros e prisioneiras construir
interstícios de liberdade, tendo também um olhar para profissionais que lá
trabalham, cabendo à Psicologia conceber possibilidades para tal construção.
DESENVOLVIMENTO

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL

Os psicólogos procuram intervenções que vão além dos problemas pessoais. Essas
ações têm como foco as questões mais amplas e específicas da sociedade
brasileira, que envolvem o mais amplo espectro de políticas públicas e são sempre
pautadas pela visão de proteção aos direitos humanos. Este contexto inovador tem
promovido consequências e desafios para a profissão, exigindo a construção de
novos parâmetros para o encargo profissional. Com isso, a intervenção realizada
pelo psicólogo dentro do sistema prisional passa a ser ligada a uma atuação em que
se procura promover transformações significativas, não só em relação às pessoas
em cumprimento de pena privativa de liberdade, mas também de todo sistema,
inclusos nesses funcionários e familiares dos apenados.

É preciso a reflexão de que as soluções para a violência e para a criminalidade não


são consolidadas através somente do ingresso do indivíduo na cadeia, ou do
aprisionamento e da exclusão social. Pelo contrário, direcionar o sujeito para longe
da interação social com o mundo externo pode agravar sua condição. Com a busca
da qualificação das intervenções no Sistema Prisional, o Psicólogo deve também se
conscientizar que a práxis se encontra, nos dias atuais, relacionada às graves
dificuldades pelas quais passa o Sistema Prisional, decorrentes da sua precarização
como Sistema, composto de deficiências nas condições de trabalho, com a
preocupante falta de profissionais da Psicologia trabalhando nas instituições penais,
em que muitas vezes são inexistentes também os profissionais da área da saúde,
dentre outras dificuldades.

Ao buscar habilitações para intervir no sistema prisional, o psicólogo também deve


estar ciente de que a prática atual está relacionada às graves dificuldades vividas
pelo sistema prisional, que se deve à instabilidade do sistema prisional como
sistema, incluindo as seguintes deficiências: É preocupante a escassez de
profissionais de psicologia trabalhando em instituições criminais, onde os
profissionais de saúde geralmente estão ausentes, e outras dificuldades. A
necessidade absoluta de repensar a prática psicológica intensificou ainda mais toda
a busca pela qualificação profissional, direcionando-os para a perspectiva da
reinserção na sociedade e superação dos padrões de classificação e estigmatização
pessoal.

Deve haver uma conexão estreita entre a psicologia jurídica e o direito, e há uma
ampla gama de interações entre esses dois métodos. Ao promover subsídios aos
profissionais do direito, os psicólogos têm contribuído para simplificar os
procedimentos jurídicos e torná-los mais eficazes. Acrescentou ainda que a
psicologia no campo judicial deve também responder às necessidades sociais, o que
evidencia a necessidade de compreender o campo jurídico como um importante
campo das políticas públicas de saúde e educação. Da mesma forma, a forma de
conhecimento criminal não deve ser imposta ao domínio e subordinação da
psicologia.

Normalmente, os juízes até apontam os instrumentos a serem usados para a


avaliação psicológica. Mesmo diante de alterações ao Direito Penal, alguns juízes
resistem a essa mudança. Eles continuam exigindo que os psicólogos realizem
exames criminológicos para obter benefícios ou para o desenvolvimento do poder
político prognóstico para reincidência. Dessa forma, ocorrendo à elisão de relações
de dominâncias, pode ocorrer conversação e convívio entre os saberes.

O Conselho Federal de Psicologia, conforme órgão regulador da profissão, e


incluído nessa atual conjuntura, deve se notar a exigir referências, debates e
providências por queixa dos psicólogos e, para que se possam mudar as formas de
práticas psicológicas nesse campo. O primeiro caminho seria questionar e refletir
sobre em que permanentemente consiste, a ação do psicólogo nesse âmbito,
pensando-se numa prática que possa ir além daquela que os psicólogos já exerciam
e que, muitas vezes, restringia-se à emissão de laudos e pareceres a ofício de
juízes.

COMO FUNCIONA O SISTEMA PRISIONAL E QUAIS OS


PROBLEMAS ENFRETADOS PELOS PSICÓLOGOS NESSE MEIO
No dia a dia, na maioria das vezes as ações dos psicólogos são praticadas
individualmente, em alguns casos em dupla com assistente social. O mais solicitado
em relação ao sistema penitenciário é a elaboração de laudos, avaliações, relatórios
técnicos de avaliação psicológica, para os detentos que estão entrando, ou os que já
estão no cumprimento de suas penas, para que possam ter acesso a benefícios.
Então, é necessário manter uma agenda bem definida para manter a qualidade do
serviço, visando que o trabalho do psicólogo no sistema penitenciário haja na
finalidade de que os direitos humanos em âmbito institucional e interdisciplinar sejam
respeitados. Assim, existe uma problematização nos atendimentos com os agentes,
a falta de humanização e a dificuldade de entender o motivo da atuação do
psicólogo neste campo. Mas como assim? “Preso ter direitos a atendimentos
psicológicos? Bandido tem que apanhar!”

Os psicólogos atuantes nesse campo trabalham com laudos e pareceres, o que


acabam sendo rotulados da progressão ou não das penas dos detentos, os presos
criam uma visão um tanto que equivocada em relação à atuação do psicólogo nesse
campo, achando que os psicólogos estão ali para prejudicá-los o que dificulta o
relacionamento com eles. As relações com os familiares, ou preconceito, muitas
famílias têm dificuldade em acolher esse indivíduo quando ganha liberdade,
dificuldade em estar visitando, principalmente aqueles que acabam desenvolvendo
um problema mental.

O trabalho do psicólogo ainda vai além de promover os direitos humanos dos


detentos ele deve compreender o sujeito na sua totalidade histórica cultural social
humana e emocional os processos de construção da cidadania em contraposição à
cultura da primazia da segurança de vingança e de disciplina do indivíduo a
desconstrução do conceito de crime está relacionado unicamente a patologia ou a
história individual enfatizado os dispositivos sociais que promovem o processo de
criminalização construção de estratégias que visam ao fortalecimento de laços
sociais e uma participação maior do sujeito por meio de projetos interdisciplinares
que tenham por objetivo o resgate da cidadania e da inserção na sociedade
extramuros.
Observa-se que ainda há um desafio muito grande em afirmar uma ética profissional
em busca dos direitos humanos, quando muita das vezes existe uma demanda
autoritária do poder judiciário.A relação com os outros funcionários nem sempre é
amigável,o que pode tornar o trabalho no campo inviável,pois devem estar aliados
tanto aos funcionários quanto aos demais técnicos do sistema. A fim de desenvolver
um importante papel para a redução dos danos dos efeitos do encarceramento, com
sua prática sempre contextualizada e comprometida com a garantia dos direitos
humanos, com um “tratamento penal” individualizado com vistas a ser “reeducado” e
“ressocializado”, tendo em vista práticas como “aconselhar”, “orientar”, “educar” e
“disciplinar”, expressões também comuns em outros espaços de trabalho, como
escolas, hospitais psiquiátricos, empresas, dentre outros, chamadas por Foucault
(2014) de práticas de “ortopedia social”.

O Brasil ocupa o 3º lugar no ranking mundial de países com a maior população


carcerária, possuindo cerca 726 mil PPL no censo divulgado em 2017 pelo sistema
de informações penitenciárias (Brasil, 2017a), atrás apenas dos Estados Unidos
(2.217.000) e da China (1.657.812). Do total de pessoas condenadas e
encarceradas no Brasil hoje, quase um terço (28%) foi acusado de envolvimento
com o tráfico de drogas. Este é o maior percentual de condenações por tipo de
crimes, seguido de roubo (25%), furto (13%), homicídio (10%), Entre 2014 e 2017,
6.368 pessoas morreram sob a custódia do Estado, seja por doenças, homicídios ou
suicídios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho do psicólogo nas instituições prisionais existe a mais de quarenta anos,
de forma voluntária e informal, mas somente a partir de 1984, quando foi
promulgada a lei da LEP, que esse trabalho ficou oficialmente reconhecido. A
importância do trabalho do psicólogo dentro do sistema prisional visa à subjetividade
do indivíduo e também o combate à violação dos Direitos Humanos. Assim, a
psicologia tem um trabalho amplo dentro da instituição carcerária, pois possui muitas
demandas.

Esse trabalho é de enorme importância dentro das equipes multidisciplinares. Nas


unidades prisionais é fundamental tanto dentro, quanto fora da instituição, pois os
indivíduos que cumprem ou cumpriram pena privativa de liberdade são passíveis de
sofrer algum dano que pode afetar seu estado psicológico.

Além de estar totalmente voltado para o compromisso social e a práticas que


possam contribuir para que se faça cumprir essa Lei de 1984 a partir de
intervenções baseadas na prevenção, educação, justiça e responsabilização dos
sujeitos e da sociedade (SILVA, 2007). Azevedo (2000) diz que o trabalho do
psicólogo na área dos Direitos Humanos tem como objetivo defender esses
indivíduos, de maneira a combater as várias formas de exclusões existentes na
sociedade, contribuindo para a cidadania e fazendo com que a sociedade reflita
sobre a violação desses direitos.

Outro fator que torna esse trabalho importante é a possibilidade de mudar a maneira
de enxergar o problema, atuando junto aos indivíduos que estão cumprindo pena
privativa de liberdade, aos familiares dos mesmos, à comunidade, aos egressos e na
realização de trabalhos com os funcionários do sistema. Esse trabalho ajuda os
indivíduos em cumprimento de pena privativa de liberdade a perceber o seu papel
como cidadão, fazendo com que se interessem por diversos temas que a tempos
poderiam ter se ocultado. Isso faz com que surja a oportunidade de mudança para
que sejam novamente inseridos na sociedade de uma maneira que anteriormente
não puderam ser.

Portanto, conclui-se que a psicologia realiza trabalhos de destaque no sistema


prisional, e seu conhecimento é vital e necessário para atender às diversas
necessidades do sistema prisional e fornecer um suporte psicológico necessário às
condições ambientais. Sendo assim, a atuação do psicólogo no sistema prisional é
imprescindível, tendo em vista que sua atuação está totalmente voltada para a
proteção dos direitos humanos e se empenha para que a LEP seja efetivamente
implementada, de forma a alcançar resultados satisfatórios.

Então para os psicólogos, trabalhar com pessoas privadas de liberdade não é


apenas para o bem-estar dessas pessoas, mas também para o bem-estar de toda a
sociedade. Na tentativa de mudar conceitos e preconceitos que existem dentro e
fora do sistema prisional, é fundamental o trabalho de uma equipe multidisciplinar
envolvendo psicólogos, com ênfase no trabalho de reabilitação de indivíduos que
cumprem penas privativas de liberdade.
REFERÊNCIAS

• BRASIL. (2017), Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias


(Infopen). Relatório Sintético [referente às informações de 2016]. Brasília,
Ministério da Segurança Pública.

• FRANÇA, Fátima;PACHECO,Pedro; OLIVEIRA, Rodrigo Tôrres. O Trabalho


da (o) psicóloga (o) no sistema prisional: Problematizações, ética e
orientações. Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2016. 170pp.
Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2016/12/O-trabalho-
do-psicologo-grafica-web1.pdf. Acesso em: 27 de maio de 2021.

• Foucault, M. (2014). Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes.

• NASCIMENTO, João Paulo Lima do. NOVO, Benigno Núñez A PSICOLOGIA


NA RESSOCIALIZAÇÃO PRISIONAL. Revista Científica Semana Acadêmica.
Fortaleza, ano MMXVII, Nº. 000114, 27/10/2017. Disponível em:
https://semanaacademica.com.br/artigo/psicologia-na-ressocializacao-
prisional Acessado em: 03/06/2021.

• MEDEIROS, A. C. A.; SILVA, M. C. S. A atuação do psicólogo no sistema


prisional: Analisando e propondo novas diretrizes; TRANSCRESSÕES,
CIENCIAS CRIMINAIS EM DEBATE. Brasília. p.1-12, 2007. Disponível em:
6658-Texto do artigo-16688-1-10-20150209.pdf.

• Mello, I., Castro, J. (2018, 24 de junho). Mais de quatro detentos morrem por
dia em prisões do país. O Globo. Recuperado de
https://oglobo.globo.com/brasil/mais-de-quatro-detentos-morrem-por-dia-em-
prisoes-do-pais-22815782?
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