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ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA:


UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO*

VALUE AND GROWTH STRATEGIES IN BOVESPA STOCKS:


AN ANALYSIS OF SEVEN RISK INDICATORS

LUCIANO ROSTAGNO RODRIGO OLIVEIRA SOARES


Doutorando em Economia Aplicada e Estatística Professor Adjunto do Curso de Mestrado em Ciências Contábeis
na University of Nevada – Reno do Centro de Ciências Econômicas
E-mail: lrostagno@cabnr.unr.edu da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - RS
E-mail: rosoares@unisinos.br

KARINA TALAMINI COSTA SOARES


Professora Assistente do Departamento de Ciências Contábeis
do Centro de Ciências Econômicas
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - RS
E-mail: ksoares@unisinos.br

RESUMO

Este trabalho procurou investigar aspectos referentes ao risco nas estratégias de investimento envolvendo ações
de valor e crescimento na Bovespa. Foram utilizados, na ordenação dos portfolios, seis indicadores de mercado
capazes de identificar ações de valor negociadas no período compreendido entre dezembro de 1994 e abril de
2003. A avaliação do risco foi feita através da utilização de sete parâmetros. Também foi utilizada a abordagem de
Lakonishok, Shleifer e Vishny (1994), que consiste na verificação dos retornos relativos de curto prazo envolvendo
as duas estratégias. Os principais resultados apontaram que as estratégias de valor formadas a partir da variável
fundamentalista lucro/preço apresentaram retornos consistentemente maiores em relação às de crescimento.
Quanto à análise do risco, o indicador liquidez foi capaz de justificar, com significância estatística, o maior
retorno nas estratégias de valor. Por sua vez, a análise do índice de Sharpe para todos os parâmetros de ordenação
dos portfolios demonstrou um maior prêmio por unidade de risco para as estratégias de valor, em relação às de
crescimento.

Palavras-chave: Estratégias de investimento; Carteiras de valor e crescimento; Parâmetros de risco; Análise de risco.

ABSTRACT

This paper aims to investigate risk-related aspects of investment strategies involving value and growth stocks at
Bovespa. To assemble the portfolios, we used six market indicators capable of identifying value stocks traded in the
period from December 1994 to April 2003. The risk analysis was conducted using seven parameters. We also included
Lakonishok, Shleifer, and Vishny’s (1994) risk approach, which consists of verifying short-term relative returns
involving both strategies. The main results show that value strategies involving the fundamental variable earnings/
price present consistent higher returns than growth strategies. Concerning risk analysis, the liquidity index was capable
of rationalizing, with statistical significance, the higher returns attained by value strategies. On the other hand, the
Sharp index analysis, applied in all parameters used to assemble the portfolios, shows a greater premium per unit of
risk for value strategies in comparison with growth strategies.

Keywords: Investment Strategies; Growth and Value Portfolios; Risk Parameters; Risk Analysis.

Recebido em 21.04.2006 • Aceito em 21.08.2006 • 2ª versão aceita em 24.10.2006


* Artigo originalmente apresentado no 3º Encontro Brasileiro de Finanças, São Paulo-SP, 2003.

R. Cont. Fin. • USP • São Paulo • n. 42 • p. 7 - 21 • Set./Dez. 2006


8 Luciano Rostagno • Rodrigo Oliveira Soares • Karina Talamini Costa Soares

1 INTRODUÇÃO

Um dos pilares fundamentais da teoria financeira é a re- ca analisar os retornos de diferentes portfolios de ações,
lação entre risco e retorno, de acordo com a qual é esperado, formados com base em estratégias de valor e de cresci-
para um ativo, retorno condizente com o seu risco. Tal relação mento. Tal vertente tem como base o trabalho de Fama e
serve como base para os principais modelos de precificação French (1992), que formaram carteiras com base em variá-
de ativos, com destaque para o modelo CAPM (Capital Asset veis fundamentalistas, separando portfolios de valor dos de
Pricing Model) que ocupa, segundo Costa Jr. e Neves (2000), crescimento de acordo com tais variáveis. Os resultados
um lugar fundamental entre os modelos de precificação. encontrados pelos autores apontaram a relação valor pa-
Um ponto central do CAPM, de acordo com Fama e trimonial da ação/preço (VPA/P) e o indicador tamanho2
French (1992), é que a carteira de mercado é eficiente, como estatisticamente significantes para a explicação das
no sentido preconizado pelo modelo de Markowitz. Os variações dos retornos das ações. Fama e French (1992)
mesmos autores afirmam que a eficiência do portfolio de sugerem que o beta, então, não estaria mensurando o risco
mercado implica que os retornos esperados dos ativos são como prediz o CAPM, aderindo, portanto, à corrente que
uma função linear positiva de seus betas (que é a inclina- questiona o modelo de precificação, e não a relação risco-
ção da regressão do retorno de um título sobre o retorno retorno.
de mercado), e que o beta de mercado é suficiente para Estudos no mercado brasileiro (MESCOLIN, BRAGA e
descrever os retornos esperados. COSTA JR., 1997; MELONE JR., 1999; RAMOS, PICANÇO
Entretanto existem estudos que revelam aspectos con- e COSTA JR., 2000; RODRIGUES, 2000; COSTA JR. e NE-
traditórios às predições do CAPM1. Particularmente, no que VES, 2000; BRAGA e LEAL, 2002; ROSTAGNO, SOARES e
diz respeito à relação entre risco e retorno, têm sido verifica- SOARES, 2005) têm confirmado a superioridade da estra-
das inconsistências entre os dados empíricos e as predições tégia de valor em relação às de crescimento. Entretanto,
teóricas. Tal descolamento entre a realidade dos mercados tais estudos diferem na análise do risco. Enquanto Costa Jr.
e o CAPM conduz a dois tipos de questionamentos acerca e Neves (2000), Ramos, Picanço e Costa Jr. (2000) utilizam
de tal modelo: o da crítica a toda a teoria, nos moldes rea- o beta como medida do risco, Braga e Leal (2002) realiza-
lizados por Haugen (1995) e Haugen e Baker (1996), que ram uma análise baseada no índice de Sharpe.
propuseram que as predições sobre o retorno das ações se- Este artigo busca analisar, através de sete indicadores,
jam realizadas com base somente em modelos estatísticos, o risco dos portfolios de valor e crescimento no Brasil, no
sem um embasamento na teoria econômica e o da crítica a período compreendido entre dezembro de 1994 e abril de
elementos existentes nos modelos atuais, em que se inclui 2003. O objetivo é o de verificar se medidas alternativas de
o CAPM, sem que seja descartada a teoria econômica sub- risco podem ser capazes, consideradas de forma isolada,
jacente. Esse último caminho tem sido seguido por diversos de justificar o maior retorno das ações de valor em relação
autores [MERTON (1973); FAMA e FRENCH (1993; 1995; às de crescimento. O trabalho divide-se da seguinte forma:
1996;1998), Ball, Kothari e Shanken (1995)] que vêm bus- primeiramente, são revistos aspectos de estudos interna-
cando encontrar fatores capazes de capturar o risco de forma cionais relativos ao tema em questão. Alguns estudos rea-
mais efetiva do que o beta do CAPM, ou mesmo que com- lizados no mercado brasileiro são, então, relatados. Poste-
plementem esse último num modelo multifatorial, capaz de riormente, são detalhados o método e a amostra utilizados
explicar melhor as questões que têm sido levantadas. no presente estudo, para finalmente serem apresentados
Uma vertente de estudos que vem explorando as con- os resultados e tecidas algumas considerações finais.
tradições entre o CAPM e os dados empíricos é a que bus-

2 AÇÕES DE VALOR E DE CRESCIMENTO

Fama e French (1992) , como citado anteriormente, rea- tinha as ações com maior valor das dimensões utilizadas
lizaram um trabalho seminal em termos de sistematização para o ordenamento (ações de valor) e o portfolio de nú-
das diferenças entre ações de valor e de crescimento. Os mero 10, as de menor valor para as mesmas dimensões
autores estudaram todas as ações de empresas não-finan- (ações de crescimento). O objetivo foi o de acompanhar o
ceiras negociadas em três Bolsas de Valores nos Estados desempenho dessas 10 carteiras, comparar as diferenças
Unidos: NYSE, AMEX e NASDAQ, no período de 1963 a dos retornos alcançados pelos portfolios de valores extre-
1990. No estudo, os autores ordenaram, periodicamente, mos (números 1 e 10) e verificar se as dimensões utiliza-
as ações em relação às dimensões valor patrimonial por das para a formação das carteiras de ações apresentavam
ação/preço unitário da ação (VPA/P) e lucro/preço da ação relação com os seus retornos futuros e risco. Os resultados
(L/P), formando 10 portfolios, em que o primeiro deles con- apontaram que as ações de valor proporcionam retornos

1 Exemplos são Roseff e Kinney (1976), French (1980), Basu (1983), De bondt e Thaler (1985), Jegadeesh e Titman (1993), Haugen e Baker (1996).
2 Como proxy para tamanho os autores utilizaram a capitalização de mercado da empresa.

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médios anuais superiores aos das ações de crescimento e autores testaram, também, as diferenças relativas entre os
menor beta. Entre as ações de valor, o maior desempenho portfolios de valor e crescimento em períodos menores de
foi observado para as ações de maior razão VPA/P. tempo. O objetivo foi o de testar a premissa de que, se há
Um estudo similar ao de Fama e French (1992) envol- um risco que justifique o maior retorno das estratégias de
vendo seis países (Estados Unidos, Alemanha, França, Rei- valor em relação às de crescimento, em alguns momentos
no Unido, Japão e Suécia), foi realizado por Capaul, Rowley as últimas deverão apresentar um retorno superior ao das
e Sharpe (1993), durante o período de janeiro de 1981 a ju- primeiras. Os resultados não apontaram maior risco para
nho de 1992. O trabalho em questão confirma os resulta- as estratégias de valor em relação às de crescimento.
dos obtidos previamente em todos os países. Neste estu- Como pode ser visto através dos estudos apresenta-
do, que utilizou o índice de Sharpe como medida de risco, dos, a superioridade dos retornos oferecidos pelas ações
as ações de valor (ações com maior razão VPA/P) também de valor diante das ações de crescimento é um fenômeno
apresentaram maior retorno e menor risco em relação às observado em diversos países, em diferentes períodos. As
ações de crescimento (ações com menor razão VPA/P). explicações para a ocorrência de tal fenômeno, entretanto,
Buscando avaliar o desempenho das ações de valor e não são tão evidentes, não existindo consenso entre os
de crescimento ao redor do mundo, Fama e French (1998) pesquisadores. Para Fama e French (1993, 1995, 1996 e
selecionaram treze países (Estados Unidos, Japão, Reino 1998), o retorno diferencial relativo entre as ações de valor
Unido, França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça, e de crescimento pode ser explicado como um prêmio pelo
Suécia, Austrália, Hong Kong e Singapura) e construíram risco não capturado pelo CAPM. Dessa forma, a crítica recai
portfolios com base nas variáveis: VPA/P, L/P, FC/P (Fluxo de sobre a capacidade explicativa do beta do CAPM. Entretan-
caixa/preço) e DIV/P (dividend yield) durante o período de to, em outros estudos (LAKONISHOK, SHLEIFER e VISHNY
1975-1995. Os autores utilizaram um modelo com dois fa- (1994), HAUGEN (1995), HAUGEN e BAKER (1996) e La
tores (o beta e mais um fator baseado no prêmio das ações PORTA, LAKONISHOK, SHLEIFER e VISHNY (1997)) argu-
de valor em relação às de crescimento) para buscar expli- menta-se que a explicação envolvendo o prêmio de risco
car os retornos das ações. Mais uma vez as ações de valor para a diferença dos retornos entre as ações de valor e de
superaram as ações de crescimento em todas as dimen- crescimento são pouco evidentes e inconsistentes. Para
sões quanto à rentabilidade oferecida. As ações de valor esses autores, fatores comportamentais e institucionais
selecionadas a partir da razão VPA/P ofereceram retornos podem exercer um papel importante na justificativa de
superiores aos das ações de crescimento em doze dos treze tal fenômeno. O comportamento de precificação de ações
países, denotando a presença de prêmio de valor também baseado em indicadores passados ignora a tendência de
em mercados emergentes. O portfolio global construído reversão à média, fazendo com que haja supervalorização
com ações de maior razão VPA/P ofereceu retorno anual das ações de crescimento e subvalorização das ações de
médio superior em 7,68% ao portfolio de caráter oposto. valor. Assim, as ações de valor apresentam retornos su-
Adicionalmente, Lakonishok, Shleifer e Vishny (1994) periores às ações de crescimento devido às expectativas
procuram evidenciar a influência de outras medidas de equivocadas dos investidores sobre os resultados futuros
valor além da razão VPA/P, também caracterizadoras das das empresas.
ações de valor, nos retornos das ações. Eles afirmam que, Dessa forma, Lakonishok, Shleifer e Vishny (1994),
apesar do bom desempenho das carteiras selecionadas a Haugen (1995) e Haugen e Baker (1996) afirmam que a
partir da razão VPA/P, essa não se apresenta como uma atitude do mercado de subavaliar as ações de valor (ações
variável pura, relacionada unicamente às características re- com perspectivas futuras abaixo da média) e superavaliar
veladoras das perspectivas econômicas das empresas, e, as ações de crescimento (ações com perspectivas futuras
portanto, pode distorcer avaliações. A explicação, segundo acima da média), é a responsável pelo prêmio dos retornos
os autores, é que a razão VPA/P esconde muitos fatores médios da estratégia de valor. Para eles, os erros na precifi-
distintos, que podem levar a interpretações similares para cação das ações causam distorções nos modelos baseados
diferentes empresas. Por exemplo, um baixo valor para essa nos retornos realizados, podendo provocar confusões so-
razão pode descrever, igualmente, uma empresa com mui- bre a verdadeira natureza da relação entre risco e retorno
tos ativos intangíveis e uma empresa com várias oportu- esperado.
nidades atrativas de crescimento. A seleção dos portfolios
para o estudo foi feita, então, com o acréscimo das va- 2.1 Estudos no Mercado Brasileiro
riáveis fluxo de caixa/preço e taxa média de crescimento Alguns estudos no mercado brasileiro apresentam re-
das vendas, além dos indicadores estudados por Fama e sultados semelhantes quanto ao maior retorno de carteiras
French (1992). As carteiras foram mantidas constantes formadas por ações de valor, em relação àquelas formadas
pelo período de cinco anos. Os resultados demonstram por ações de crescimento. Entretanto, os resultados dife-
que as ações de valor selecionadas a partir das variáveis rem quanto às análises do risco nos portfolios estudados.
acrescidas também apresentam retornos superiores em re- Mescolin, Braga e Costa Jr. (1997) buscando verificar
lação às ações de crescimento. O desempenho dentre os se, à semelhança do trabalho de Fama e French (1995), os
diversos portfolios das ações de valor, no entanto, foi apro- portfolios formados por ações de valor possuem maior re-
ximadamente o mesmo para os indicadores utilizados. Os torno e menor risco que aqueles formados por ações de

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crescimento, estudaram, no mercado brasileiro, a relação às ações de crescimento. Entretanto, há que se ressaltar
risco-retorno entre carteiras de ações de valor e crescimen- que tal retorno maior para as carteiras de valor foi justifica-
to, negociadas na Bovespa, e classificadas anualmente de do por um maior risco (maior beta e desvio-padrão).
acordo com os índices VPA/P, lucro por ação/preço (LPA/ Costa Jr. e Neves (2000) buscaram verificar a existência
P) e dividend yield (DIV/P), durante o período de jan/86 a de outras variáveis – capitalização de mercado, índice pre-
jun/96. Os autores concluem pela contradição entre os re- ço/lucro e índice valor patrimonial da ação/preço da ação
sultados e o CAPM, pois foram construídos dois portfolios – além do beta, como fatores explicativos dos retornos das
com retornos diferentes e, ao mesmo tempo, com riscos ações. O período do estudo foi de janeiro/86 a fevereiro/96
similares. Dessa maneira, os resultados encontrados pe- e a amostra foi composta por 117 ações negociadas na
los autores vão ao encontro aos de Fama e French (1995). Bovespa. Foram formadas carteiras ordenadas através dos
Quanto aos portfolios formados a partir do índice L/P e di- índices P/L, capitalização de mercado, VPA/P, sendo que
vidend yield os resultados são condizentes com a teoria as carteiras foram rebalanceadas a cada ano. O estudo
uma vez que as ações com maior retorno apresentaram apontou uma relação negativa entre a rentabilidade média
maior risco, medido pelo beta. Entretanto, para carteiras das carteiras e as variáveis índice P/L e capitalização de
classificadas através do índice dividend yield, as ações de mercado. Quanto ao VPA/P a relação encontrada foi po-
valor apresentaram desempenho e betas superiores, relati- sitiva. Finalmente, os autores concluíram que, apesar da
vamente às de crescimento, enquanto para carteiras classi- contribuição de tais variáveis para a explicação do retorno
ficadas de acordo com o índice P/LPA ocorreu o oposto. É das ações, foi o coeficiente beta que apresentou o melhor
importante ressaltar o caráter exploratório do estudo, que poder de explicação.
não apresentou qualquer teste de significância estatística Um teste da existência da golden opportunity3 no mer-
dos resultados. cado brasileiro foi empreendido por Ramos, Picanço e Cos-
Com o objetivo de testar a capacidade do coeficiente ta Jr. (2000) que replicaram o estudo realizado por Haugen
beta quanto à explicação dos retornos das ações no Bra- (1995), o qual encontrou evidências contrárias à teoria de
sil, Mellone Jr. (1999) testou, inicialmente, a existência de eficiência de mercado. Para tanto os autores utilizaram da-
uma relação linear positiva entre o beta e o retorno de 233 dos das ações de empresas listadas na Bovespa de 1989 a
ações negociadas na Bovespa no período entre janeiro de 1994, excluindo as empresas financeiras. Foram construí-
1994 e agosto de 1998, não encontrando a relação pre- dos portfolios ordenados com base na variável VPA/P, clas-
dita pelo CAPM. O autor testou, também, através de um sificando os 20% das ações com maior razão como ações
modelo multifatorial, a explicação do retorno através de de valor e os de menor razão como ações de crescimento.
quatro variáveis fundamentalistas em combinação com o Os resultados confirmam indícios da existência da golden
beta. As variáveis testadas foram: tamanho (patrimônio opportunity, uma vez que as ações de valor apresentaram
líquido); alavancagem financeira; índice lucro/preço e va- maior retorno e menor risco, medido pelo beta. Entretanto
lor patrimonial sobre o valor de mercado. Os resultados a significância estatística dos resultados foi baixa.
apontaram as variáveis L/P e VPA/P como relevantes para a Por sua vez, Halfeld e Procianoy (2000) testaram car-
explicação dos retornos das ações, estando de acordo com teiras formadas mensalmente a partir de diversas variáveis
os resultados de Fama e French (1992). fundamentalistas no mercado brasileiro, no período com-
Rodrigues (2000), num estudo em que foram exami- preendido entre janeiro de 1992 e junho de 1998. Os resul-
nadas 180 ações negociadas na Bovespa, no período de tados apontaram uma superioridade dos retornos das car-
06/1991 a 05/1999, buscou verificar a existência do efeito teiras de valor, verificando também que no período anterior
valor e do efeito tamanho como determinantes do risco das à crise do México, de 1995, o beta das carteiras de valor
ações. O autor utilizou um modelo de regressão múltipla indicava um menor risco em relação às de crescimento. No
com dois fatores além do prêmio pelo risco do CAPM tra- período total da análise, o beta não foi capaz de explicar os
dicional. Os fatores utilizados foram o prêmio da carteira retornos futuros das ações.
de maior valor patrimonial em relação à de menor valor pa- Braga e Leal (2002) testaram o índice de Sharpe para
trimonial, e o prêmio da carteira de maior valor para a rela- os portfolios de valor e de crescimento. Os autores cons-
ção valor contábil/valor de mercado. As carteiras, formadas tataram evidências significativas de um maior prêmio por
com base nos dois fatores descritos foram rebalanceadas unidade de risco nas carteiras de valor. Os resultados en-
ano a ano, sendo o ponto de corte das carteiras o primeiro contrados levaram os autores a sugerir que o prêmio por
e o último quartil. Como resultados o autor aponta que a risco das ações com alto VPA/P em relação às ações com
estrutura do CAPM não é suficientemente adequada para baixo VPA/P deva ser considerado nos modelos de precifi-
se explicar as variações dos retornos das ações. No modelo cação no Brasil.
multifatorial os dois fatores adicionais contribuíram para Rostagno, Soares e Soares (2005) analisaram o de-
tal explicação. Por outro lado, foi constatada a superiorida- sempenho de portfolios formados de acordo com quatro
de das estratégias baseadas em ações de valor em relação diferentes variáveis fundamentalistas, e três diferentes

3 Haugen (1995) denomina golden opportunity a possibilidade de alta rentabilidade com baixo risco, a curto prazo.

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valores para os percentuais na formação dos portfolios maior para as carteiras de valor, em relação às de cres-
de valor e crescimento. Também foram testados diferen- cimento, contrariando as predições do CAPM. Também
tes períodos para a reordenação das carteiras (1, 2, 3 e 6 os testes envolvendo a análise da variação dos retornos
anos). Quanto ao risco, foi efetuado o teste de diferença em momentos de turbulência indicaram um menor risco
dos betas médios dos portfolios formados. Adicionalmen- para a estratégia de valor. Os autores concluem que os
te foi feita a verificação da proposição de Lakonishok, Sh- resultados apresentados sugerem a existência da “golden
leifer e Vishny (1994), de que ações menos arriscadas de- opportunity” no mercado de capitais brasileiro.
vem superar, em termos de retorno, as ações com maior Como pode ser visto, os estudos realizados no merca-
risco em determinados momentos ao longo de um perío- do brasileiro conduzem a diferentes resultados e a maio-
do extenso, principalmente em situações de turbulência ria apresenta resultados que contradizem as predições do
na economia. Para tanto, foi verificado o primeiro semes- CAPM4. Este estudo visa lançar uma análise mais ampla
tre de 1999, quando ocorreram mudanças nas regras do envolvendo o risco das ações de valor e crescimento, bus-
câmbio e uma maxidesvalorização do real. Os principais cando contribuir para o preenchimento de lacunas com re-
resultados apontaram retornos maiores para os quatro lação às estratégias de investimento em ações no mercado
parâmetros de valor testados, com destaque para o VPA/ brasileiro.
P e L/P. Os autores constataram, ainda, um beta médio

3 O MÉTODO

Os procedimentos metodológicos adotados seguiram a crescimento foram chamadas de portfolios intermediários


lógica apresentada em Fama e French (1992). A seguir, são baixos. Dessa forma, para cada ano e para cada medida de
descritos tais procedimentos, bem como os critérios para a valor adotada foram formados quatro portfolios diferentes.
amostragem utilizados neste estudo. Para a classificação das ações foram utilizadas cinco di-
ferentes medidas de valor, sendo cada uma delas aplicada
3.1 Procedimentos Metodológicos separadamente, não havendo, portanto, qualquer combi-
Adotados nação entre elas para determinar a ordenação dos portfo-
Neste estudo, foram adotados os procedimentos me- lios. A descrição e a forma como foram obtidas as medidas
todológicos apresentados por Fama e French (1992). O pri- de valor adotadas são apresentadas a seguir:
meiro passo deste estudo consistiu na formação dos port- 1) Índice valor contábil/valor de mercado da ação: va-
folios de valor e crescimento. Para tanto, a amostra para lor patrimonial por ação dividido pelo preço da ação
cada ano e para cada medida de valor adotada, foi dividida (doravante referida neste texto como VPA/P).
em quatro grupos de igual tamanho5 (quartis). Em suma, 2) Índice lucro/preço: lucro líquido por ação dividido
os portfolios de valor e crescimento podem ser definidos da pelo valor de mercado da ação (doravante referida
seguinte forma: neste texto como L/P).
• Carteiras das ações de valor: composto pelas ações 3) Índice dividendos/preço: total de dividendos distri-
que, ordenadas de acordo com determinada medida buídos no ano dividido pelo valor de mercado da
de valor, localizam-se no extremo superior da clas- ação (doravante referida neste texto como DIV/P).
sificação (25% das ações). 4) Índice vendas/preço: receita operacional líquida por
• Carteiras das ações de crescimento: composto pe- ação dividido pelo valor de mercado da ação (dora-
las ações que, ordenadas de acordo com determina- vante referida neste texto como V/P).
da medida de valor, localizam-se no extremo inferior 5) Índice EBITDA/preço: lucro operacional próprio
da classificação (25% das ações). mais depreciação e amortização dividido pelo valor
de mercado da ação (doravante referida neste texto
Além desses, foram computados, também, os portfolios como EBITDA/P).
intermediários, ou seja, aqueles que se localizam na região 6) Capitalização de mercado: preço de fechamento, no
central da classificação. Esses portfolios foram, igualmen- mês, da ação, vezes o número de ações em circulação.
te, compostos com aproximadamente 25% das ações do
total da amostra para cada ano. As carteiras vizinhas às Todas as medidas de valor foram tomadas em dólar ame-
de valor foram denominados como portfolios intermediá- ricano6, sendo referentes aos meses de dezembro que ante-
rios altos, enquanto que aquelas vizinhas aos portfolios de cederam à formação das carteiras (ano t-1). Assim, para um

4 Dentre os estudos consultados, apenas Rodrigues (2000) verificou maior risco, medido pelo beta, para as estratégias vencedoras (de valor).
5 Quando o número de itens da amostra não era divisível por 4, foram compostos, aleatoriamente, grupos com um componente a mais. Assim, quando a amostra era com-
posta de 91 ações, por exemplo, foram compostos 3 grupos de 23 ações e um grupo com 22 ações.
6 A utilização dos retornos em dólar objetivou o teste da variação das carteiras de valor e crescimento em situações de turbulência no mercado, sugerido por Lakonishok,
Shleifer e Vishny (1994). Como a situação de turbulência testada está relacionada a momentos de desvalorizações cambiais, a mensuração dos retornos em dólar pode capturar
a variação real dos retornos das carteiras testadas.

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dado ano, os dados contábeis necessários à composição das 1) Beta de mercado: regressão dos últimos 60 meses
medidas de valor, utilizadas para a formação dos portfolios de de excesso de retornos mensais.
ações, foram obtidos a partir das demonstrações contábeis 2) Volatilidade do retorno total: volatilidade da ação
divulgadas no final do ano anterior, assim como as infor- nos últimos 60 meses.
mações de mercado componentes dos indicadores de valor 3) Liquidez: liquidez em Bolsa nos últimos 60 meses.
e crescimento, através da cotação de fechamento das ações 4) Coeficiente de endividamento: Passivo circulante
em dezembro do ano precedente. Já o retorno oferecido pelas mais exigível de longo prazo dividido pelo patrimô-
ações componentes dos portfolios envolveu a cotação de fe- nio líquido da ação.
chamento dessas em junho dos dois anos subseqüentes ao 5) Risco de rendimentos: Erro-padrão da reta de re-
cômputo das medidas de valor (anos t e t+1), com exceção gressão dos rendimentos por ação nos últimos 5
apenas para o último ano do período de estudo (2003), no anos.
qual se tomou a cotação de fechamento em abril (último mês 6) Variabilidade dos rendimentos: Desvio-padrão do
com disponibilidade das cotações). Por exemplo, para mon- lucro por ação nos últimos cinco anos.
tagem dos portfolios em junho do ano de 1995, utilizaram-se
os valores contábeis e de mercado das empresas de dezem- Além dessas 6 medidas relacionadas ao risco, foi utili-
bro de 1994. Já para determinar o retorno oferecido por cada zado o índice de Sharpe, que mede o prêmio por unidade
portfolio, utilizaram-se as cotações de fechamento das ações de risco da carteira. O objetivo foi o de verificar aspectos da
nos meses de junho de 1995 e junho de 1996. Esse procedi- relação risco-retorno. Para tanto, o índice de Sharpe foi cal-
mento, adotado por Fama e French (1992), justifica-se pela culado com base no desvio-padrão dos retornos mensais,
garantia de que todas as informações contábeis das empre- projetados para o período de um ano. A taxa livre de risco
sas no ano anterior, estejam disponíveis aos investidores no utilizada para o cálculo do prêmio por risco da carteira, foi
momento da seleção das carteiras. Essa defasagem de seis a taxa Selic8.
meses parece razoável para garantir tal cenário no Brasil. Todo o procedimento descrito anteriormente foi re-
Após a formação dos portfolios, prosseguiu-se, então, alizado anualmente cobrindo todo o período em análise:
com o cômputo da taxa de retorno anual alcançada por dezembro de 1994 a abril de 2003. De posse de todos os
cada ação componente dos respectivos portfolios. Os re- valores calculados, foi realizado, então, um teste t de dife-
tornos foram tomados pressupondo capitalização discreta, rença de médias. O objetivo é o de verificar se as diferenças
seguindo a seguinte equação: nas médias obtidas são estatisticamente diferentes. Vale
dizer que os testes cobriram todas as combinações possí-
Rj,t = (Pj,t+1 – Pj,t)/Pj,t veis entre os portfolios, tendo como resultado uma matriz
simétrica (3x3). Tal análise permite averiguar a forma como
Em que: os diferentes portfolios se diferenciam entre si.
Rj,t é o retorno total da ação j, no ano t; Pj,t+1 é a cota-
ção de fechamento da ação j, no mês de junho do ano t+1, 3.2 Amostra
ajustada a dividendos e outros proventos; Pj,t é a cotação A amostra utilizada neste estudo envolveu ações de
de fechamento da ação j, no mês de junho do ano t, tam- empresas não financeiras negociadas na Bolsa de Valores
bém ajustada a dividendos e outros proventos. de São Paulo no período de dezembro de 1994 a abril de
De posse dos retornos individuais das ações compo- 2003. A opção por excluir as ações de empresas financeiras
nentes de cada portfolio, o passo seguinte foi o de compu- deveu-se à alta alavancagem inerente às suas atividades, o
tar o retorno médio de cada carteira. Para tanto, efetuou-se que poderia causar distorções nos resultados. A base de
o cálculo da média aritmética simples envolvendo os retor- dados consultada foi a Economática.
nos das ações componentes. Vale ressaltar, que não houve A seleção da amostra dependeu da disponibilidade
qualquer tipo de ponderação na formação das carteiras, de dados necessários para compor os portfolios durante
ou seja, cada ação contribuiu com igual proporção para a o intervalo supracitado. As ações de empresas que não
composição do retorno médio dos portfolios. apresentavam dados relacionados às medidas de valor as-
Para avaliar o risco das carteiras formadas, foi feito, sumidas, ou cotações nos meses de junho nos anos de
concomitantemente ao cálculo dos retornos médios, o cál- interesse e abril de 2003 foram sistematicamente excluí-
culo da média das diversas medidas de risco adotadas nes- das. Assim, foram incluídas nas análises somente as ações
te estudo. O procedimento adotado segue o anteriormente de empresas que disponibilizaram dados contábeis e valor
descrito. O objetivo é o de avaliar diferenças nos riscos das de mercado da ação de dezembro de 1994 a dezembro de
diferentes carteiras. 2002 e cotação de fechamento da ação nos meses de ju-
A seguir, são apresentadas as referidas medidas de ris- nho de 1995 a 2002 e abril de 2003. Além disso, para as
co7 bem como a forma como foram obtidas: empresas com mais de uma série de ações que cumpriam

7 Além das seis medidas descritas, foi utilizado o índice de Sharpe, que é tratado posteriormente, de forma separada, por se tratar de uma medida relativa de retorno por
unidade de risco.
8 Foram retirados da base de dados Economática, os valores, em dólar, da taxa Selic mensal. Sendo assim, ela apresentou, em algumas observações, valores negativos.

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ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA: UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO 13

Tabela 1 Tamanho da amostra por parâmetro de valor e período de cômputo do retorno

Período VPA/P L/P DIV/P V/P EBITDA/P Capit. de mercado


Jun/95-jun/96 90 78 60 77 64 90
Jun/96-jun/97 89 64 72 77 59 90
Jun/97-jun/98 90 62 62 78 65 90
Jun/98-jun/99 88 72 62 78 63 90
Jun/99-jun/00 88 63 73 77 62 90
Jun/00-jun/01 86 60 59 78 63 90
Jun/01-jun/02 88 72 64 74 60 90
Jun/02-abr/03 86 68 64 75 68 90

o requisito anterior, manteve-se apenas aquela de maior L/P, DIV/P, V/P, EBITDA/P e Capitalização de Mercado posi-
liquidez. A tabela 1 mostra, para cada medida de valor tivos torna mais coerente o argumento de que essas vari-
e período correspondente, o número de ações envolvidas áveis exercem a função de proxy para os retornos futuros
na amostra. incorporados no preço das ações. Além disso, esse proce-
Vale ressaltar, ainda, que, na amostra de cada perío- dimento diminui o viés de sobrevivência da base de dados
do, foram utilizadas somente as empresas apresentando consultada, pois pressupõe-se que as empresas que fali-
medidas de valor positiva. Esse critério permitiu trabalhar ram durante o período em estudo, e que, portanto, foram
somente com empresas que alcançaram resultados positi- excluídas da base de dados, são, em sua grande maioria
vos no último ano antes da ordenação dos portfolios. Tal (senão todas), aquelas que, por algum tempo, já vinham
procedimento torna-se necessário para validar as conclu- enfrentando dificuldades financeiras, provavelmente acu-
sões extraídas neste estudo uma vez que as comparações mulando prejuízos. Portanto, essas empresas não fariam
entre o desempenho dos portfolios de valor e crescimento parte da amostra selecionada, mesmo estando listadas na
apenas apresentam sentido quando se adota tal restrição. base de dados após a sua falência.
A utilização somente de ações de empresas com VPA/P,

4 RESULTADOS

A apresentação dos resultados obtidos será efetuada valor. Para ambas medidas de valor, entretanto, os testes
em duas etapas. Primeiramente, será abordada a análise de de diferença de médias não apresentaram nenhum resulta-
desempenho das carteiras de valor e crescimento formadas do significante9.
com base nas diferentes variáveis fundamentalistas. Pos- Dentre as estratégias de valor, ainda segundo a tabe-
teriormente, o risco das carteiras é analisado a partir dos la 2, pode-se destacar os portfolios selecionados a partir
parâmetros de risco utilizados. do índice EBITDA/P, apresentando maior média do retorno
anual (24,06%). Nesse caso, a média encontrada diferen-
4.1 Análise de Desempenho das ciou-se das demais ao nível de 5%. Quanto ao retorno acu-
Carteiras mulado no período, o melhor desempenho foi alcançado
As análises reportadas, nessa seção, referem-se ao de- pelos portfolios de valor classificados pelo parâmetro L/P
sempenho médio e acumulado das carteiras ordenadas de (256,15%). Um aspecto interessante relacionado a esse
acordo com as seis medidas de valor consideradas neste fator de valor foi o fato de ele ter sido capaz de ordenar os
estudo: VPA/P, L/P, DIV/P, V/P, EBITDA/P e capitalização de quatro portfolios de forma crescente, quanto à média do
mercado. retorno anual e o retorno acumulado, ou seja, houve uma
Observando a tabela 2 , nota-se que as carteiras de tendência de aumento dessas grandezas partindo do port-
valor apresentaram desempenho superior aos das demais folio de crescimento até o portfolio de valor. Além disso,
no que tange ao desempenho acumulado no período e à esse foi o único caso em que o teste de diferença de médias
média do retorno anual. Como exceção a essa constatação apontou que as carteiras dos extremos são diferentes entre
têm-se as médias do retorno anual das carteiras seleciona- si e em relação às demais.
das a partir dos parâmetros DIV/P e capitalização de mer- Quanto ao parâmetro VPA/P, muito utilizado em estu-
cado, nas quais o portfolio intermediário alto e o portfolio dos envolvendo ações de valor e crescimento, as médias
de crescimento, respectivamente, superaram o portfolio de encontradas para os portfolios dos extremos (quartis 1 e

9 Os resultados para os testes de diferença de médias encontram-se no anexo 1.

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14 Luciano Rostagno • Rodrigo Oliveira Soares • Karina Talamini Costa Soares

Tabela 2 Média dos retornos anuais e retorno acumulado


por portfolio ordenado de acordo com cada medida de valor

Portfolio Retorno Crescimento Intermediário baixo Intermediário alto Valor


Média 1,81% -2,64% 10,19% 17,71%
VPA/P
Acumulado -17,90% -36,99% 58,82% 92,95%
Média -4,57% 5,97% 9,45% 23,64%
L/P
Acumulado -48,42% 14,66% 40,66% 256,15%
Média 7,64% 2,45% 12,89% 11,82%
DIV/P
Acumulado 31,31% -21,59% 83,73% 91,87%
Média 1,31% 7,62% 8,37% 11,88%
V/P
Acumulado -18,53% 31,52% 18,48% 42,83%
Média 5,20% -0,01% 7,49% 24,06%
EBITDA/P
acumulado -6,38% -16,80% 22,53% 216,24%
Capitalização Média 10,68% 5,22% 4,69% 6,09%
de mercado Acumulado 26,53% 1,63% -8,88% 28,16%

4) se diferenciaram das demais mas não dos portfolios vi- das demais e entre si com 1% de significância. Quanto à li-
zinhos (quartis 2 e 3, respectivamente). Assim, nota-se a quidez, os quartis 1 e 2 apresentaram maior liquidez e foram
formação de dois grupos distintos de desempenho. A me- diferentes das demais (significante a 1%), porém não entre
tade superior, contendo os quartis 3 e 4, apresentou uma si. Já o quartil 4 mostrou ter menor liquidez, tendo o teste
média dos retornos anuais e retorno acumulado maior em t sido significante a 1% em relação às outras médias. Para
relação à metade inferior. a medida do coeficiente de endividamento, os portfolios de
Por fim, as médias dos retornos anuais encontradas crescimento revelaram-se menos arriscados e os portfolios
para os portfolios selecionados pelo índice V/P foram esta- de valor exibiram maior risco, ambos diferenciados dos de-
tisticamente diferentes apenas entre os portfolios de cres- mais a 10%. Exceção apenas do teste t entre o quartil 4 e o
cimento e de valor, sendo que os primeiros obtiveram pior quartil 3, ao qual o resultado foi significante a 11%.
desempenho. No que tange à ordenação das ações utilizando a variá-
vel EBITDA/P, os portfolios de valor distinguiram-se dos de-
4.2 Análise de Risco das Carteiras mais por possuírem menor beta, maior volatilidade, menor
Para o primeiro parâmetro testado (VPA/P), pode-se liquidez, maior coeficiente de endividamento e maior risco
observar, através da tabela 3 , que os portfolios de valor de rendimentos, todos esses alcançando significância de
(quartil 4) apresentaram maior volatilidade em relação aos 10%. Já os quartis 1 e 2 apresentaram menor volatilidade,
demais portfolios (0,729). Esse resultado foi significante maior liquidez e menor coeficiente de endividamento e di-
ao nível de 5%. Quanto à liquidez, o quartil 1 apresentou ferenciaram-se dos outros (significante a 10%), porém não
maior liquidez e o quartil 4, menor. Esses se diferenciaram entre si. Por fim, a variabilidade dos rendimentos encon-
dos demais (significante a 5%) menos dos quartis vizinhos trados foi maior para os portfolios de valor e crescimento,
(2 e 3, respectivamente). Para as medidas envolvendo a va- respectivamente. Os testes de diferença de médias entre
riabilidade e o risco dos rendimentos, o quartil 4 mostrou- esses portfolios e os demais foram significantes ao nível de
se menos arriscado, uma vez que os valores encontrados 5%, entretanto, não houve diferença significativa no teste
foram inferiores aos demais. O teste t, nesse caso, acusou aplicado entre os portfolios extremos.
diferença das médias em relação aos quartis 1 e 2, porém, Lakonishok, Shleifer e Vishny (1994) apresentam uma
não quando comparado ao quartil 3. análise alternativa do risco. Tais autores afirmam que, se as
Quanto à estratégia que utilizou o índice L/P para or- estratégias de valor são, de alguma forma, mais arriscadas
denar as ações, os portfolios de crescimento foram aqueles do que as estratégias de crescimento, essas devem apre-
de maior risco sistemático (beta). Esse se diferenciou dos sentar, num período longo, retornos relativos inferiores,
demais com 1% de significância. Já os portfolios de valor, com um mínimo de freqüência, principalmente em perío-
com menor beta, distinguiram-se dos demais com exceção dos de turbulência no mercado. O motivo é que em tais
apenas do quartil 3 (significante a 10%). No que diz res- períodos tende a ocorrer um aumento da utilidade marginal
peito à liquidez, os quartis dos extremos diferenciaram-se da riqueza do investidor, fazendo com que ele tenda a con-
dos demais e o primeiro quartil apresentou maior liquidez centrar seus investimentos em ações mais seguras.
e o quarto, menor. Seguindo a idéia dos autores supracitados, foi feita uma
Analisando a razão V/P, percebe-se que as carteiras de análise da diferença relativa dos retornos entre as carteiras
valor obtiveram maior volatilidade enquanto as carteiras de de valor e de crescimento, para as estratégias que apre-
crescimento foram menos voláteis. Ambas diferenciaram-se sentaram diferenças significantes entre os retornos desses

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ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA: UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO 15

Tabela 3 Médias das medidas de risco dos portfolios

Portfolios
Proxies Crescimento Intermediário baixo Intermediário alto Valor
Beta 0,720 0,700 0,734 0,704
Volatilidade 0,665 0,649 0,687 0,729
VPA/P

Liquidez 0,527 0,433 0,273 0,234


Coef. Endividamento 469,14 126,47 138,24 74,38
Risco Rendimentos 0,343 0,121 0,326 0,033
Var. Rendimentos 0,404 0,157 0,345 0,059
Beta 0,819 0,682 0,653 0,621
Volatilidade 0,664 0,633 0,641 0,656
Liquidez 0,790 0,498 0,367 0,092
L/P

Coef. Endividamento 92,82 24,79 43,94 79,68


Risco Rendimentos 0,083 0,198 0,053 0,348
Var. Rendimentos 0,131 0,244 0,088 0,346
Beta 0,761 0,701 0,685 0,652
Volatilidade 0,659 0,615 0,623 0,654
DIV/P

Liquidez 0,758 0,454 0,431 0,225


Coef. Endividamento 70,69 76,48 63,50 131,92
Risco Rendimentos 0,037 0,022 0,150 0,062
Var. Rendimentos 0,056 0,035 0,205 0,122
Beta 0,683 0,848 0,719 0,713
Volatilidade 0,624 0,681 0,672 0,786
Liquidez 0,733 0,621 0,170 0,053
V/P

Coef. Endividamento 58,04 109,16 123,24 556,94


Risco Rendimentos 0,092 0,153 0,032 0,117
Var. Rendimentos 0,122 0,192 0,058 0,172
Beta 0,751 0,777 0,775 0,662
Volatilidade 0,635 0,623 0,697 0,748
EBITDA/P

Liquidez 0,643 0,752 0,336 0,138


Coef. Endividamento 86,27 43,86 160,05 702,00
Risco Rendimentos 0,051 0,038 0,024 0,098
Var. Rendimentos 0,096 0,050 0,044 0,131
Beta 0,679 0,639 0,705 0,843
Valor mercado

Volatilidade 0,779 0,676 0,644 0,644


Liquidez 0,031 0,062 0,147 1,180
Coef. Endividamento 25,620 505,107 182,634 82,834
Risco Rendimentos 0,355 0,137 0,327 0,041
Var. Rendimentos 0,425 0,182 0,339 0,060

portfolios. A Figura 1 apresenta a evolução do spread evidências de que o maior retorno proporcionado por essa
obtido pelas ações de valor, no período em estudo. estratégia de valor seja justificado por um maior risco. Para
Nota-se que, para o indicador L/P, não houve, em ne- a medida EBITDA/P, houve dois anos de spreads negativos,
nhum ano, spread negativo, ou seja, os retornos das ações porém pouco significantes. Nos demais anos, os spreads
de valor sustentaram rendimentos superiores aos das de foram consistentemente positivos.
crescimento ao longo de todo o período. Tal fato se sus- Esse último resultado é contraditório com a análise an-
tentou inclusive em períodos de turbulência de mercado, teriormente efetuada dos fatores de risco, no que se refere
como a maxidesvalorização cambial no primeiro semestre à estratégia de valor baseada no indicador EBITDA/P, em
de 1999, bem como o período do segundo semestre de que ocorreu a diferenciação em relação à de crescimento,
2000, em que as incertezas acerca da sucessão presidencial quanto aos seguintes fatores de risco: volatilidade, liqui-
causaram forte instabilidade no câmbio. Diante disso, não dez, coeficiente de endividamento e risco de rendimentos.
há, de acordo com uma abordagem mais ampla do risco, Quanto à estratégia de valor baseada no indicador L/P, o

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16 Luciano Rostagno • Rodrigo Oliveira Soares • Karina Talamini Costa Soares

80%

Spread (Valor – Crescimento)


70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-10% período
95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 01-02 02-03

VPA/P L/P V/P EBITDA/P

Figura 1
Diferença relativa de retornos dos portfolios de valor e crescimento

único fator de risco que a diferenciou da de crescimento foi tre de 1999, houve forte perda por parte dos portfolios de
a liquidez, o que não se traduziu em spreads negativos no valor frente aos de crescimento. Tal fato, entretanto, não
teste da diferença relativa de retorno dos portfolios. se repetiu no período recente no qual o câmbio sofreu
Diante desses resultados, procurou-se analisar o com- forte desvalorização a partir de meados de 2002, até o
portamento relativo mensal dos portfolios de valor e cres- início de 2003.
cimento, buscando verificar se as carteiras de valor, que Quanto ao gráfico da figura 3, envolvendo os portfolios
apresentaram maior rendimento no longo prazo, mantive- formados pelo EBITDA/P, houve maior freqüência de dife-
ram, consistentemente, tal superioridade no curto prazo. renças relativas negativas dos retornos das carteiras extre-
Para tanto foram computadas, para as estratégias ba- mas, o que é condizente com as análises dos indicadores
seadas nos indicadores L/P e EBITDA/P, as diferenças men- de risco anteriormente feitas. Esse indicador, portanto,
sais10 entre os retornos das carteiras extremas, conforme demonstrou maior variabilidade no prêmio oferecido pelos
pode ser visualizado no gráfico das figuras 2 e 3 . portfolios de valor sobre os de crescimento.
Observando a figura 2, pode-se perceber que as dife- Por fim, procurou-se verificar a recompensa pelo risco
renças de retornos mensais entre os portfolios de valor e para cada um dos indicadores de valor enfocados no estu-
crescimento, selecionados a partir do índice L/P, foi po- do. Isso foi realizado utilizando o índice Sharpe, calculado
sitiva em um maior número de meses. Todavia, pode-se para todo o período, conforme pode ser visualizado na ta-
constatar que, no período de turbulência correspondente bela 4 . Tal índice foi calculado como o prêmio médio pelo
à maxidesvalorização cambial ocorrida no primeiro semes- risco de um ativo, dividido pela sua volatilidade (calculados

0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
jul/95

jul/96

jul/97

jul/98

jul/99

jul/00

jul/02
jul/01
nov/95

nov/96

nov/97

nov/98

nov/99

nov/00

nov/02
nov/01
mar/96

mar/97

mar/98

mar/99

mar/00

mar/02

mar/03
mar/01

-0,05
-0,1
-0,15
-0,2

Figura 2
Diferença relativa mensal dos retornos dos portfolios de valor e crescimento formados a partir do parâmetro L/P

10 Apesar de os retornos serem calculados mensalmente, as carteiras foram rebalanceadas anualmente, como descrito anteriormente.

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ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA: UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO 17

0,3

0,2

0,1

0
jul/95

jul/96

jul/97

jul/98

jul/99

jul/00

jul/02
jul/01
mar/96

mar/97

mar/98

mar/99

mar/00

mar/02

mar/03
mar/01
nov/95

nov/96

nov/97

nov/98

nov/99

nov/00

nov/02
nov/01
-0,1

-0,2

-0,3

Figura 3
Diferença relativa mensal dos retornos dos portfolios de valor e crescimento formados a partir do parâmetro EBITDA/P

Tabela 4 Índice de Sharpe no período de 1995 a 2003 dos portfolios por medida de valor

Portfolio Crescimento Inter. Baixo Inter. Alto Valor


VPA/P -2,39 -2,93 -0,22 0,40
L/P -2,97 -0,68 -0,93 4,72
DIV/P -0,45 -2,37 0,19 0,43
V/P -2,59 -1,05 -1,42 -0,80
EBITDA/P -1,93 -2,35 -1,35 3,20
Valor de mercado -1,20 -1,94 -2,05 -0,63

com base nos sessenta meses anteriores). Para todos os indicadores, obtiveram uma maior recompensa por esse
parâmetros testados para a formação das carteiras, o maior risco. Cabe destacar os índices de Sharpe alcançados nas
prêmio por unidade de risco foi obtido pelas de valor, e o estratégias de valor e crescimento a partir do índice L/P que
menor índice de Sharpe foi verificado nas carteiras de cres- foram, respectivamente, o melhor e pior resultado, dentre
cimento. Dessa forma, pode-se afirmar que os portfolios de todos os testados.
valor, mesmo tendo apresentado maior risco para alguns

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou investigar aspectos referentes Dessa forma, somente nas carteiras formadas de acordo
ao risco nas estratégias de investimento envolvendo ações com o indicador capitalização de mercado da empresa é
de valor e crescimento na Bovespa. Foram utilizados, na que houve melhor desempenho, apesar de não significante
ordenação dos portfolios, seis indicadores de mercado ca- estatisticamente, das ações de crescimento em relação às
pazes de identificar ações de valor negociadas no período de valor.
compreendido entre dezembro de 1994 e abril de 2003. A Cabe ressaltar a avaliação do risco efetuada nos portfo-
avaliação do risco foi feita por meio da utilização de 7 pa- lios ordenados pelos parâmetros L/P e EBITDA/P, os quais se
râmetros. Também foi utilizada uma abordagem ampla, que apresentaram como as estratégias de valor de maior retorno,
consistiu na verificação dos retornos relativos, envolvendo dentre as testadas. Enquanto as carteiras formadas a partir
as duas estratégias. do EBITDA/P se mostraram mais arriscadas, de acordo com
Os resultados apontaram, de forma consistente com os indicadores de risco volatilidade, liquidez, coeficiente de
estudos anteriores (por exemplo, COSTA JR. e NEVES endividamento e risco de rendimentos, as formadas a partir
(2000), BRAGA e LEAL (2002); ROSTAGNO, SOARES e do L/P caracterizaram-se por possuir apenas menor liquidez
SOARES (2005)), evidências de superioridade dos rendi- e, em todos os outros parâmetros de risco testados, a estra-
mentos das estratégias de valor em relação às de cresci- tégia de valor não apresentou maior risco, com significância
mento no mercado brasileiro. Tal observação foi válida para estatística, em relação à de crescimento.
os portfolios formados a partir de cinco dos seis parâmetros Esse último resultado é intrigante uma vez que as cartei-
testados, a saber: VPA/P, L/P, EBITDA/P, V/P, DIV/P, sendo ras baseadas no parâmetro L/P apresentaram no período tes-
que, nesse último caso, não houve significância estatística. tado, além de um maior retorno acumulado para a estratégia

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18 Luciano Rostagno • Rodrigo Oliveira Soares • Karina Talamini Costa Soares

de valor em comparação à de crescimento, retornos médios Finalmente, cabe ainda levantar a questão de possí-
anuais sempre superiores para os portfolios de valor em re- veis influências de características do mercado brasileiro de
lação aos de crescimento. Os testes mensais das diferenças capitais nos resultados deste trabalho. Em primeiro lugar,
relativas entre as carteiras extremas formadas a partir desse destaca-se a baixa de liquidez do mercado de capitais bra-
parâmetro também apresentaram poucos valores negativos, sileiro como um fator que dificulta os estudos baseados
indicando uma consistência no maior retorno dos portfolios em preços das ações, pois a falta de negociações pode cau-
de valor. Finalmente, a verificação do índice de Sharpe apon- sar distorções nos mesmos. Ao se exigir um nível mínimo
tou o maior prêmio por unidade de risco para a estratégia de de liquidez o efeito colateral é a redução do número de
valor baseada no L/P e o menor prêmio para a estratégia de empresas no estudo, o que também produz conseqüências
crescimento baseada nesse indicador. adversas. Outro ponto característico do mercado brasileiro
A análise de risco indicou que a predição do CAPM, é o risco do ambiente legal e institucional, em termos de
de que o beta é suficiente para explicar os retornos das descumprimento de contratos, que se torna um obstáculo
ações, não foi confirmada nos testes. Apesar da análise de aos investimentos. Num ambiente onde não há incentivos
alguns dos parâmetros para a formação de estratégias de ao investimento, o comportamento do mercado em relação
valor confirmar um maior risco para os portfolios vencedo- à valorização das ações de crescimento pode ser diferente
res, justificando, de acordo com a relação risco-retorno, os do esperado, pois as oportunidades de crescimento ten-
ganhos nessas estratégias, as carteiras formadas pelo L/P deriam a não ser valorizadas. Entretanto, tais dificuldades
parecem confirmar a chamada “golden opportunity”, predi- são inerentes a quaisquer estudos no ambiente brasileiro,
ta por Haugen (1995), apresentando maior retorno para os e não tornam inválidos os resultados do trabalho.
portfolios de valor em relação aos de crescimento, sem que Como sugestão para estudos futuros, recomenda-se,
se tenha encontrado uma justificativa, baseada no risco, assim como proposto por Braga e Leal (2002), que o prê-
para tal prêmio, exceto pela menor liquidez. Pode-se ar- mio por unidade de risco seja considerado nos modelos de
gumentar que o fato de as carteiras de valor serem menos precificação de ativos. Também o índice L/P merece estudos
líquidas possa causar distorções dado que a falta de nego- mais aprofundados, dados os resultados encontrados neste
ciações pode fazer com que a sua variabilidade seja menor, trabalho. Por fim, a liquidez, único indicador relacionado ao
distorcendo, a análise do risco. Merece destaque, também, risco que foi significante estatisticamente para justificar o
o índice de Sharpe, que mostrou um maior prêmio por uni- maior retorno das carteiras de valor em relação às de cresci-
dade de risco para todas as estratégias de valor, em conso- mento, também merece estudos mais pormenorizados.
nância com os resultados de Braga e Leal (2002).

Referências Bibliográficas
BALL, R.; KOTHARI, S.; SHANKEN, J.. Problems in Measuring Portfolio Performance: An Application to Contrarian Investment Strategies,
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ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA: UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO 19

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NOTA – Endereço dos autores


University of Nevada – MS 204 Universidade do Rio dos Sinos
1664 – North Virginia Street Av. Unisinos, 950 - Bairro Cristo Rei
Reno – Nevada São Leopoldo - RS
89557 93.022-000

R. Cont. Fin. • USP • São Paulo • n. 42 • p. 7 - 21 • Set./Dez. 2006


20 Luciano Rostagno • Rodrigo Oliveira Soares • Karina Talamini Costa Soares

Anexo 1 Resultados dos testes de diferença de médias por carteiras (p-values)

VPA/P
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,217 0,092 0,019 0,296 0,391 0,360 0,215 0,201 0,005 0,234 0,012 0,004
Q2 0,016 0,003 0,194 0,423 0,036 0,000 0,058 0,023
Q3 0,180 0,251 0,025 0,324
L/P
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,054 0,030 0,000 0,000 0,000 0,000 0,159 0,204 0,454 0,051 0,011 0,000
Q2 0,376 0,019 0,238 0,065 0,432 0,185 0,204 0,000
Q3 0,040 0,278 0,234 0,003
DIV/P
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,307 0,226 0,299 0,084 0,061 0,024 0,046 0,110 0,403 0,034 0,027 0,000
Q2 0,111 0,155 0,408 0,161 0,335 0,086 0,476 0,021
Q3 0,405 0,209 0,176 0,016
V/P
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,155 0,140 0,089 0,000 0,115 0,224 0,009 0,006 0,000 0,227 0,000 0,000
Q2 0,423 0,310 0,001 0,003 0,436 0,000 0,000 0,000
Q3 0,389 0,436 0,000 0,009
EBITDA/P
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,184 0,421 0,023 0,243 0,328 0,031 0,393 0,016 0,000 0,260 0,017 0,000
Q2 0,128 0,002 0,414 0,005 0,008 0,000 0,003 0,000
Q3 0,032 0,012 0,024 0,011
Capitalização de mercado
Retorno Beta Volatilidade Liquidez
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,247 0,213 0,261 0,127 0,223 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Q2 0,462 0,441 0,027 0,000 0,046 0,062 0,000 0,000
Q3 0,393 0,001 0,481 0,000

R. Cont. Fin. • USP • São Paulo • n. 42 • p. 7 - 21 • Set./Dez. 2006


ESTRATÉGIAS DE VALOR E DE CRESCIMENTO EM AÇÕES NA BOVESPA: UMA ANÁLISE DE SETE INDICADORES RELACIONADOS AO RISCO 21

Anexo 1 Resultados dos testes de diferença de médias por carteiras (p-values) – continuação

VPA/P
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,141 0,145 0,103 0,088 0,482 0,022 0,060 0,419 0,011
Q2 0,441 0,166 0,227 0,040 0,222 0,037
Q3 0,002 0,136 0,115
L/P
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,031 0,196 0,243 0,203 0,242 0,190 0,202 0,233 0,205
Q2 0,304 0,062 0,140 0,293 0,119 0,331
Q3 0,276 0,168 0,170
DIV/P
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,285 0,314 0,174 0,035 0,062 0,070 0,074 0,048 0,040
Q2 0,094 0,201 0,040 0,009 0,028 0,010
Q3 0,153 0,128 0,209
V/P
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,011 0,002 0,077 0,263 0,129 0,339 0,230 0,160 0,238
Q2 0,321 0,100 0,065 0,330 0,040 0,397
Q3 0,106 0,000 0,002
EBITDA/P
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,153 0,014 0,068 0,211 0,015 0,044 0,040 0,025 0,215
Q2 0,012 0,056 0,103 0,016 0,322 0,014
Q3 0,095 0,002 0,009
Capitalização de Mercado
Exig/PL Risco Rend Variab Rend
Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4 Q2 Q3 Q4
Q1 0,061 0,013 0,101 0,212 0,464 0,120 0,166 0,381 0,066
Q2 0,150 0,084 0,127 0,031 0,159 0,015
Q3 0,036 0,036 0,028

R. Cont. Fin. • USP • São Paulo • n. 42 • p. 7 - 21 • Set./Dez. 2006

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