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Análise da Holding Familiar como instrumento de

planejamento e controle sucessório e sobre o seu uso para a


obtenção de economia fiscal no momento do inventário

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo foi baseado em um trabalho que realizei no tempo da faculdade e tem
o propósito de fazer uma abordagem sobre a holding familiar e suas características, a
depender do tipo empresarial adotado para sua constituição. Para tanto, entender os
principais pontos das formas societárias existentes no Brasil é essencial para verificar
qual a espécie societária que melhor se adapta aos seus desafios.

Dessa forma, inicialmente será realizada uma análise sobre as sociedades empresariais
existentes no Brasil, fazendo-se uma explanação sobre as diferentes formas de
responsabilidades dos sócios.

Feitas essas considerações, será explicado o que é uma holding, fazendo-se uma


abordagem histórica sobre a holding no Brasil, visto que nem sempre ela foi aceita com
bons olhos, demonstrando o caminho para o conceito atual, podendo, assim, apontar
os seus pontos positivos e negativos, especialmente no planejamento sucessório.

Analisadas as formas empresariais existentes no Brasil que podem se enquadrar para


a constituição da holding, e feita a análise histórica e conceitual sobre essa forma
empresarial, deve-se observar que o detentor de bens ao realizar o seu planejamento
sucessório por meio da holding tem de atentar-se, além das regras de Direito
Societário, às regras de Direito Sucessório do Código Civil, razão pela qual também
será explanado as restrições trazidas pelo referido diploma que devem ser respeitadas
pelo detentor dos bens na hora de fazer uma holding familiar com o objetivo de
realizar o seu planejamento sucessório.
Feitas essas ponderações, o último capítulo tratará de mostrar as vantagens
da holding com o viés do planejamento sucessório, pois suas vantagens são variadas e
desconhecidas pela maioria.

A presente discussão se faz necessária no âmbito acadêmico e social, devido ao visível


crescimento dessa forma de empresa na sociedade e sua forma de planejar a sucessão,
visto que é para a grande maioria das pessoas uma coisa nova e que causa certo
“temor”, pois desconhecem como realmente funciona essa forma empresarial, motivo
pelo qual muitos ainda têm um certo preconceito em relação à holding.

Apesar desse assunto ser importante, a pouco tempo passou a ser dada mais atenção
para este tipo de empresa e sua influência nos campos organizacionais, principalmente
em meios acadêmicos, por isso a necessidade de estudá-la.

Por outro lado, as holdings estão amplamente divulgadas pela doutrina, como opção a
facilitar a administração e a sucessão dos bens do seu titular, em razão que
muitas holdings são formadas justamente com este único propósito, além de, em
alguns casos específicos, propiciarem uma grande economia fiscal após a morte de seu
proprietário.

O objetivo geral é demonstrar quais os benefícios que a holding pode trazer aos seus
sócios, visto que a maioria das pessoas desconhecem este tipo de empresa e quando
conhecem não entendem que suas vantagens vão muito além da economia fiscal e
organização sucessória.

2 A HOLDING

2.1 AS SOCIEDADES EMPRESÁRIAIS

Quando se fala em holding, não há um único tipo especifico de sociedade, tudo


dependerá da escolha que melhor atender as pretensões do (s) sócio (s). Em se
tratando de holding familiar, sua característica essencial se dará em razão de seu
objetivo, função, e não por sua natureza jurídica. O empresário ao constituir
uma holding pode optar por todas as possibilidades empresárias existentes no
mercado, com exceção da sociedade cooperativa, já que essa não atende às
características de holding familiar (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 108).

Hoje no Brasil há duas possibilidades de sociedades empresárias a serem constituídas,


que são as sociedades simples e as sociedades empresárias. Em regra, não existe muita
diferença entre essas duas formas societárias. Isso tanto é verdade que três tipos
societários podem ser constituídos da forma simples ou empresária, que são: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedade limitada (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 108).

Contudo, entre a sociedade simples e sociedade empresária há diferenças significativas


que devem ser analisadas para melhor se escolher qual o melhor tipo societário a ser
adorado. A primeira é o registro, pois as sociedades simples são registradas em
Cartórios de Registro Público de Pessoas Jurídicas, e as sociedades empresárias são
registradas nas Juntas Comerciais, e isso deve ser levado em, pois as Juntas Comerciais
são mais rígidas sobre os atos empresariais, ao passo que os Cartórios de Registros
interferem bem menos. Prova disso é que as Juntas Comerciais têm órgãos
deliberativos com poder de julgamento, ao tempo que os Cartórios de Registros apenas
podem suscitar as dúvidas ao poder judiciário. Sobre isso também há outro ponto que
deve ser considerado, os atos praticados pelas Juntas Comerciais devem ser julgados
pela justiça federal, ao passo que os atos registrais cíveis são discutidos na justiça
estadual (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 108).

Além do mais, as sociedades simples não estão submetidas à Lei 11.101/2005, ou seja,


não podem pedir recuperação judicial e falência. Dessa forma, a sociedade deverá, caso
não cumpra com suas obrigações, ser submetida ao processo de insolvência, prevista
no Código Civil e Código de Processo Civil (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 108).

Nesse sentido também é o entendimento de Sílvio de Salvo Venosa e Cláudia Rodrigues


(2010, p. 91) ao afirmarem que “apenas as sociedades empresárias sujeitam-se à
recuperação judicial ou extrajudicial e à falência. As sociedades civis subordinam-se
aos princípios da insolvência do CPC”.
Muitos ainda diferenciam as sociedades simples das empresárias pelo seu intuito
lucrativo, o que é um equívoco, pois há inúmeras sociedades simples que também visa
o lucro, a exemplo a sociedade de advogados (COELHO, 2009, p. 110).

Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 111) explica que:

O que irá, de verdade, caracterizar a pessoa jurídica de direito privado não-estatal


como sociedade simples ou empresária será o modo de explorar seu objeto. O objeto
social explorado sem empresarialidade (isto é, sem profissionalmente organizar os
fatores de produção) confere à sociedade o caráter de simples, enquanto a exploração
empresarial do objeto social caracterizará a sociedade como empresária.

Entretanto, esse critério de organização dos fatores de produção tem suas exceções,
como no caso das sociedades por ações, quem sempre serão empresárias, ou nos casos
das sociedades cooperativas, que serão sempre simples (COELHO, 2009, p. 111).

Sobre o tema, Sílvio de Salvo Venosa e Cláudia Rodrigues (2010, p. 91) explicam,
também, que “Segundo o vigente Código Civil, a sociedade que tenha por objeto o
exercício da atividade própria de empresário sujeito a registro será considerada
sociedade empresária, enquanto as demais serão consideradas simples”.

A distinção entre sociedade empresária e simples é de suma importância, pois as


sociedades empresárias devem obrigatoriamente obedecer aos tipos empresariais
dispostos no Código Civil (VENOSA e RODRIGUES , 2010, p. 92).

As sociedades empresariais classificam-se por diversos critérios, sendo que os mais


importantes são: a classificação da sociedade de acordo com a responsabilidade dos
sócios; a classificação quanto ao regime de sua constituição; e a classificação quanto às
condições para alienação da participação societária (COELHO, 2009, p. 115).

A classificação quanto as responsabilidades dos sócios pelas obrigações sociais


dividem-se em três tipos de sociedades empresárias, quais sejam: (1ª) sociedade
ilimitada, na qual todos os sócios respondem de forma ilimitada pelas obrigações da
sociedade; (2ª) sociedade mista, na qual alguns sócios respondem de forma limitada e
outros de forma ilimitada, e; (3ª) sociedade limitada, na qual os sócios respondem de
forma limitada pelas obrigações da sociedade. As sociedades de responsabilidade
limitada, que são as que mais nos interessa, são as famosas sociedades limitadas (Ltda)
e as sociedades anônimas (S/A) (COELHO, 2009, p. 117-118).

Esses aspectos são de suma importância e devem ser levados em consideração, pois a
depender da escolha da forma societária o empresário não poderá optar, futuramente,
pelo processo de falência ou de recuperação judicial, o que pode ser considerado ruim
ao ponto de vista de um e, talvez, vantajoso ao olhar de outro, haja vista a sua
estratégia empresária.

Visto isso, é de suma importância observar que certo conjunto societário tem seu
regime de constituição e dissolução regidos pelo Código Civil e outro grupo rege-se pela
Lei nº 6.404/76 (COELHO, 2009, p. 120).

Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 120) ensina que segundo o critério de classificação
quanto ao regime de constituição e dissolução tem-se:

1. Sociedades contratuais – cujo ato constitutivo e regulamentar é o contrato social.


Para a dissolução desse tipo de sociedade não basta a vontade majoritária dos
sócios, reconhecendo a jurisprudência o direito de os sócios, mesmo minoritários,
manterem a sociedade, contra a vontade da maioria: além disso, há causas
específicas de dissolução desta categoria de sociedades, como a morte ou a
expulsão de sócios. [...]

2. Sociedades institucionais – cujo ato regulamentar é o estatuto social. Estas


sociedades podem ser dissolvidas por vontade da maioria societária e há causas
dissolutórias que lhes são exclusivas como a intervenção e liquidação
extrajudicial. [...]

Analisados esses aspectos societários, vale ressaltar que as sociedades contratuais tem
sua constituição e dissolução regidos pelo Código Civil, enquanto as sociedades
institucionais regem-se pela Lei nº 6.404/76 (RAMOS, 2014, p. 227).
Sobre as Sociedades Contratuais, o Código Civil determina que podem ter quatro tipos
societários, nos quais deve-se observar se o tipo se enquadra em sociedade simples ou
empresária. Os tipos societários existentes para a formação de uma sociedade
contratual simples são: sociedade simples (em sentido estrito ou comum), sociedade
em nome coletivo e sociedade em comandita simples ou sociedade limitada. Já as
sociedades empresárias contratuais podem ter os seguintes tipos: sociedade em nome
coletivo, sociedade em comandita simples ou sociedade limitada. Em todos esses tipos
descritos o capital social de cada sócio se fará por meio de quotas, daí também o nome
de sociedade por quotas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 109).

Nas sociedades contratuais há uma reciprocidade de obrigações entre os sócios, pois


todos estão obrigados e obedecerem as determinações do contrato social, no qual
qualquer alteração societária deve constar no contrato (MAMEDE e MAMEDE, 2017,
p. 109).

Quanto a autonomia da vontade dos sócios nas sociedades contratuais, Ramos


(RAMOS, 2014, p. 227) explica que:

Nas sociedades contratuais, diz-se que a autonomia da vontade dos sócios para
a constituição do vínculo societário é máxima, podendo eles disciplinar as suas relações
sociais como bem entenderem, desde que não desnaturem o tipo societário escolhido.

Elas podem serem constituídas intuitu pecuniae, quando não há restrições à cessão de


quotas, ou intuitu personae, quando para haver a cessão de quotas a um terceiro deve
haver a aprovação da totalidade dos demais sócios ou, nos casos das sociedades
limitadas, a autorizacao de 75% do capital social (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 110).

Ramos (RAMOS, 2014, p. 227) explica que as sociedades de pessoas são as também
chamadas de intuitu personae e as sociedades de capital são as chamadas intuitu
pecuniae.

Nas sociedades contratuais há dois focos possíveis para a constituição da sociedade. O


primeiro seria a sociedade em razão dos sócios, pois são apenas aqueles sócios que
interessam a todos que façam parte da sociedade (intuitu personae). Já o segundo foco
principal que se observa nas sociedades contratuais seria a constituição da sociedade
levando em consideração não quem são seus sócios, mas sim qual o capital investido na
sociedade, sendo irrelevante quem o investirá (intuitu pecuniae) (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 110).

Em regra, as sociedades contratuais são intuitu personae e as estatutárias são intuitu


pecuniae, mas a depender do que está previsto no contrato ou estatuto social isso pode
ser diferente (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 110).

Contudo, caso não haja essa determinação se a sociedade funcionará visando as


pessoas dos sócios ou o capital social, as normas legais deverão ser observadas para
resolver-se problemas que possam a surgir. Por exemplo, o art. 1.002 do Código
Civil prevê que o sócio não pode ser substituído sem que haja a concordância dos
demais sócios e a modificação do contrato social. O art. 1.003 faz a limitação da cessão
das quotas sem o consentimento dos demais sócios. Já o art. 1.026 proibi a cessão de
quotas ao credor dos sócios, permitindo apenas que a execução recaia sobre o lucro que
lhe cabia na sociedade ou o valor da liquidação. Ainda há o art. 1.028 que regula a
sucessão da titularidade da (s) quota (s) do sócio falecido e o art. 1.057, que prevê que
nas sociedades limitadas há a possibilidade do sócio ceder suas quotas a estranho,
desde que os titulares de mais de um quarto do capital social não se oponham
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 110).

Entretanto, mesmo que cada tipo societário tenha suas características próprias, em
razão do princípio da autonomia da vontade, os sócios podem, por meio de cláusulas
dispostas nos atos constitutivos que devem se tornar públicas por meio do seu
arquivamento no registro, tonar uma sociedade que normalmente seria intuitu
pecuniae em intuitu personae ou fazer o inverso (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 111).

Assim, não se pode mais nos dias atuais afirmar que uma sociedade que normalmente
seria constituída intuitu personae, como é o caso das limitadas, ou intuitu
pecuniae, como é o caso das sociedades anônimas, realmente tem essas feições, pois
antes é necessário analisar os seus atos constitutivos (contrato ou estatuto social) para
verificar os aspectos neles previstos (RAMOS, 2014, p. 228).
Quanto às sociedades estatutárias, também chamadas de sociedades por ações ou
sociedades institucionais, são constituídas através de estatutos e não por contratos. O
estatuto social não registra um acordo recíproco de obrigações e faculdades, mas traz
as regras da instituição. Ou seja, a autonomia da vontade dos sócios nessas sociedades
é mínima (RAMOS, 2014, p. 227).

O estatuto social é o resultado da ação dos instituidores e dos acionistas que


eventualmente adquiram simples títulos societários e, assim, venham a compor a
companhia, o que se fará pela mera anotação no Livro de Registro de Ações
Nominativas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 114).

Esse tipo societário também é nomeado como companhias abertas, pois tem uma
maior dinâmica na alteração societária. Dessa forma, não serve para a constituição de
uma holding familiar, já que esse tipo empresarial serve para preservar o patrimônio
familiar, mantendo o poder familiar sobre as empresas controladas, não havendo a
alteração societária, salvo exceções autorizadas em contrato (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 114).

Em decorrência da Lei nº 6.404/76, as sociedades por ações têm um custo elevado,


pois devem fazer a publicação de diversos atos sociais, e tais publicações são caras
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 114).

Como as sociedades por ações tem a natureza intuitu pecuniae, ou seja, a cessão livre
das ações é um elemento que compõe a essência das ações, a companhia que deseja
criar uma holding pode colocar cláusulas no estatuto social que mitiguem o risco de ser
desfeito o controle familiar. Contudo, não se pode simplesmente proibir a cessão das
ações ou obrigar que a maioria (simples, absoluta ou qualificada) autorizem essa
cessão. A opção para esse caso é criar um direito de preferência ou estipular o direito
de recesso (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 114 e 115).

Rodrigo Ferraz Pimenta da Cunha (2007, p. 318) explica que o acordo de acionistas é
caracterizado como um “pacto parassocial em que os acionistas envolvidos
convencionam, sobre a compra e venda de suas ações, o direito de preferência para
adquiri-las ou o poder de controle”.
Analisados esses aspectos quanto as sociedades contratuais e estatutárias, vale avaliar
a classificação quanto às condições de alienação da participação societária.

Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 121) ensina que “há sociedades em que os atributos
individuais do sócio interferem com a realização do objeto social e há sociedades em
que não ocorre essa interferência”.

Devida a tal realidade é que foi criado pelo direito comercial um grupo de sociedades
onde para um sócio alienar a terceiro a participação societária os demais sócios terão
que assim autorizar e outro grupo societário no qual a anuência dos demais sócios é
irrelevante (COELHO, 2009, p. 121).

Assim, conforme ensinado por Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 122) dividem-se as
sociedades quanto as condições de alienação como “a) Sociedades de pessoas – em que
os sócios têm direito de vetar o ingresso de estranho no quadro associativo.
b) Sociedade de capital – em relação às quais vige o princípio da livre circulabilidade
da participação societária”.

Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 123) ainda explica que “as sociedades institucionais são
sempre “de capital”, enquanto as contratuais podem ser “de pessoas” ou “de capital””.

Devida às informações trazidas, normalmente se pensaria que para a constituição de


uma holding a melhor espécie societária seria a de pessoas, já que na sociedade de
capital a circulação da participação societária é em regra livre.

Entretanto, ao ser constituída uma holding na forma de sociedade institucional (por


ações), há uma vantagem que vale a pena ser analisada: a constituição de ações
ordinárias e preferenciais. A diferenciação entre as ações da companhia pode ser um
importante mecanismo para dividir a companhia de acordo com as capacidades
técnicas de cada sócio. Por exemplo, pode ser especificado no ato constitutivo da
sociedade que apenas os acionistas ordinários terão direito a voto. Assim os acionistas
com ações preferenciais apenas participarão dos resultados da companhia (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 115).
Essa forma societária ainda pode trazer outro benefício que muitos queiram utilizar,
que é a chamada debênture. As debêntures são um instrumento que permite aos seus
titulares um direito de crédito sobre a companhia. Assim, para a empresa conseguir
crédito para ampliar suas atividades, por exemplo, deve dar um valor à debênture, que
muitas vezes é de R$ 1,00 (hum real) e emitir quantas debentures achar convenientes.
Os mutuantes então adquirem esses títulos e passam a serem titulares dos benefícios
que as suas debêntures renderem (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 116).

Dessa forma, a holding na forma de sociedade estatutária pode se tornar, além de uma
forma para preservar o patrimônio familiar, um instrumento para otimizar esse
patrimônio e, até mesmo, aumentá-lo (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 116).

Como já aludido, a principal desvantagem ao se constituir uma sociedade estatutária é


o custo, pois há diversos atos que devem ser publicados. Além do mais, essas
publicações também acarretam outra grande desvantagem, que é dar um grande
conhecimento sobre a companhia, não tendo um grande sigilo contábil a sociedade. Em
decorrência dessa transparência que a sociedade deve ter em razão da Lei nº 6.404/76,
muitas grandes empresas brasileiras decidiram por optar pela forma de sociedade
limitada. Isso geou a criação da Lei nº 11.638/07, que obriga todos os tipos de
sociedade de grande porte a publicarem os seus atos contábeis (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 116).

2.2 CONCEITO DE HOLDING

Inicialmente, antes de adentrar a descrição sobre a holding, em especial a holding


família, é de suma importância explicar o que seria a holding.

Para tanto, deve-se observar que a palavra holding advém de to hold, em inglês, que
significa segurar, deter, sustentar e etc. A expressão holding, contudo, não deve ser
vista apenas forma de segurar, deter, e afins, mas sim como forma de domínio. Isso
decorre em razão que uma holding é uma pessoa jurídica que atua como titular de bens
e direitos dos mais variados (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 13 e 14).
Mamede e Mamede (2017, p. 14) observam que a “holding (ou holding company) é uma
sociedade que detém participação societária em outra ou de outras sociedades. Tenha
sido constituída exclusivamente para isso (sociedade de participação), ou não
(holding mista)”.

Enquanto as sociedades controladas estão mais voltadas com a concorrência, com o


mercado em que atuam, entre outros problemas externos, a holding tem uma visão
mais interna, pois seu interesse é a produtividade das empresas por Ela controlada e
não quais os seus produtos. Sua principal meta e a rentabilidade (LODI e LODI, 2004).

O produto da holding são seus investimentos (fábricas, atividades rurais, grupos


empresariais, cadernetas de poupanças, entre outros). Visando o desenvolvimento de
suas atividades, a holding deve criar diretrizes com o fim de atender o grupo social e
ter uma melhor rentabilidade (LODI e LODI, 2004).

Como a holding é nada mais do que uma sociedade empresarial, pode assumir diversas
formas. Assim, Mamede e Mamede (2017, p. 16) destacam, de uma forma muito
dinâmica, as diferentes formas de holding:

Holding pura: sociedade constituída com o objetivo exclusivo de ser titular de quotas
ou ações de outra ou outras sociedades. É também chamada de sociedade de
participação.

Holding de controle: sociedade de participação constituída para deter o controle


societário de outra ou de outras sociedades.

Holding de participação: sociedade de participação constituída para deter


participações societárias, sem ter o objetivo de controlar outras sociedades.

Holding de administração: sociedade de participação constituída para centralizar a


administração de outras sociedades, definindo planos, orientações, metas etc.

Holding mista: sociedade cujo objeto social é a realização de determinada atividade


produtiva, mas que detém participação societária relevante em outra ou outras
sociedades.
Holding patrimonial: sociedade constituída para ser a proprietária de determinado
patrimônio. É também chamada de sociedade patrimonial.

Holding imobiliária: tipo específico de sociedade patrimonial, constituída com o


objetivo de ser proprietária de imóveis, inclusive para fins de locação.

Veja-se que a holding tem diversas formas, cada uma com seu objetivo diferente,
devendo os proprietários dos bens verificar qual delas melhor supre suas necessidades.

Ainda sobre o conceito de holding, Modesto Carvalhosa (2009, p. 14) também dá um


conceito. Veja-se:

As holdings são sociedades não operacionais que tem seu patrimônio composto de
ações de outras companhias. São constituídas ou para o exercício do poder de controle
ou para a participação relevante em outras companhias, visando nesse caso, constituir
a coligação. Em geral, essas sociedades de participação acionária não praticam
operações comerciais, mas apenas a administração de seu patrimônio. Quando exerce o
controle, a holding tem uma relação de dominação com as suas controladas, que serão
suas subsidiárias.

Contudo, a holding familiar, que é a tratada no presente trabalho, não é um tipo


específico, mas sim uma “contextualização específica”, visto que pode ter diversas
formas, dependendo de quais os objetivos que o proprietário pretenda com a
sua constituição (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 16).

Visto essa diversidade de possibilidades que uma holding pode trazer, em especial


a holding familiar, sua constituição precisa de numerosos conhecimentos. Entre esses
conhecimentos estão o empresarial e administrativo, o jurídico (aqui com ênfase ao
estudo societário e fiscal), a sociologia e a psicologia. A inobservância de tais campos
de estudos é um erro que muitos cometem ao constituir uma holding (LODI e LODI,
2004).

Dessa forma, percebe-se que, visto à amplitude de objetivos em que pode ser usada
a holding, foi necessário criar diferentes formas, cada uma com suas características
especificas, a fim de suprir as necessidades dos proprietários de diversos tipos de bens,
havendo, inclusive, holding que englobas mais de uma forma de holding, que é o caso
da holding familiar.

Pelas bocas dos que se atrevem a falar e explicar como poderia ser constituída
uma holding, há equívocos comuns mencionado, inclusive, por certos doutrinadores.
Entre esses equívocos existem os mais variados, desde de pessoas que afirmam que
a holding só pode ser uma sociedade limitada, quanto quem afirme que
a holding possa ser uma sociedade simples. Há, ainda quem afirme que só quem pode
ser sócio de uma holding é uma pessoa física, não sendo possível um dos sócios ser
uma pessoa jurídica, como outra sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 17)

Entretanto, todas essas afirmações não são verdadeiras.

Para suprir essa dúvida, Mamede e Mamede (2017, p. 17) explicam que:

A sociedade de participação pode ter todos os sócios que sejam pessoas físicas ou
pessoas jurídicas. Pessoas físicas podem ser sócias de pessoas jurídicas. Aliás, entre os
sócios pode haver, mesmo, outra ou outras sociedades de participação, o que não é
raro. Não há limitação sobre o tipo de pessoa, nem mesmo sua natureza jurídica. As
pessoas jurídicas podem ser até fundações ou associações. Portanto, uma única
sociedade operacional pode ser constituída por várias sociedades de participação
(holdings); em meio a tais sócias, pode haver pessoas naturais, assim como pode haver
outras pessoas jurídicas, como sociedades operacionais.

Ao ser analisado o conceito de holding, grande discussão se faz em relação se esse tipo
de sociedade pode ser caracterizado como simples ou empresária.

Essa distinção quanto aos tipos de sociedades dá-se em razão do disposto no


art. 982 do Código Civil, que diz que as sociedades diferenciam umas das outras como
sendo simples ou empresárias.

Dessa forma, muitos ainda confundem essas duas formas societárias, acreditando que
a holding apenas pode ser formada da forma simples ou empresária.
Para melhor explanação das espécies societárias simples e empresariais, observe-se a
FIGURA 1:

FIGURA 1 – Formas societárias simples e empresariais

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 19.

Percebe-se que de uma certa forma que esses dois tipos societários até são parecidos.

Mas então qual o tipo de sociedade que a holding pode ser caracterizada?

Sobre o assunto, Mamede e Mamede (2017, p. 20) dizem que:

[...] não há qualquer limitação ou determinação sobre a natureza jurídica de uma


holding. Consequentemente, tais sociedades em tese podem revelar natureza simples
ou empresária e, dependendo do tipo societário que venham a adotar, poderão ser
registradas quer na Junta Comercial, quer no Cartório de Registro de Pessoas
Jurídicas. Portanto, também a natureza jurídica que se dará à holding constitui uma
alternativa estratégica à disposição do especialista que, considerando as
particularidades de cada caso, elegerá a melhor escolha.

Dessa forma, percebe-se que a holding pode ser criada tanto como sociedade
empresarial, quanto como sociedade simples.
Além do mais, é importante observar que o direito brasileiro é embasado pelo princípio
da tipicidade societária, que significa que só pode ser criada uma sociedade, simples ou
empresaria, se seguida uma de suas formas (tipos) previamente previstas na legislação.
Não há como formar uma sociedade mista, com um pouco de cada forma prevista em
lei. Contudo, isso não significa que todas são padronizadas, pois cada tipo de sociedade
tem características mínimas a serem seguidas e vedadas, no qual superado esses
padrões há um grande espaço, para os contratos sociais e estatutos sociais, a ser
explorado com o objetivo em ser dada uma cara própria à sociedade (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 21).

As sociedades contratuais têm seu foco na pessoa dos contratantes e no vínculo


recíproco (vínculo contratual) que estabelecem entre si. Nesse tipo societário é
obrigatório que cada sócio esteja qualificado e nomeado no ato constitutivo, assinando-
o. Qualquer alteração na composição societária, como nos sócios ou na participação de
cada sócio na participação societária, o contrato social deve ser alterado para constar
tal alteração. O capital social das sociedades contratuais são divididos em quotas, razão
que também são conhecidas como sociedades por quotas (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 21).

Sobre o contrato social, Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 129) explana que “é uma espécie
bastante peculiar de contrato. As normas gerais de direito civil, pertinentes aos
contratos, não podem, pura e simplesmente, ser aplicadas à disciplina do contrato
social, em razão mesmo de suas particularidades”.

É um contrato do gênero “plurilateral”, no qual os contratantes, no caso os sócios,


convergem para um mesmo objetivo, qual seja, a exploração de uma atividade e
consequente lucro. Fora esses aspectos, vale lembrar que deste contrato nascerá um
novo sujeito de direito, que é a sociedade (COELHO, 2009, p. 130).

Já nas sociedades estatutárias o foco é na pessoa jurídica que se constitui, razão pela
qual no estatuto social, ato constitutivo desse tipo societários, sequer lista-se seus
membros, ou seja, sequer traz a lista de seus sócios, fazendo referência apenas aos
sócios fundadores da sociedade. Nas sociedades estatutárias, também chamadas de
sociedades institucionais, em razão que o foco principal é no ente constituído, em tese,
os membros entram e saem sem que haja a alteração no ato constitutivo. Assim, os
sócios não matem relação jurídica direta entre si, não podendo se falar em
reciprocidade entre os acionistas ou cooperados. Os direitos e deveres são apenas com
a sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 21).

Para melhor elucidação dos fatos, observe-se a FIGURA 2 que, de maneira


exemplificada, explica os tipos de atos constitutivos a depender do tipo societário
escolhido:

FIGURA 2 - Atos constitutivos

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 22.

Destaca-se que a regra geral é que qualquer pessoa, física ou jurídica, pode ser sócia de
uma sociedade simples ou empresária. Há algumas limitações, como sociedades
contratuais ajustadas entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de
bens ou pelo regime da separação obrigatória de bens. Contudo, no Direito Brasileiro
existem algumas pessoas atuem como empresárias (registrar-se como firma
individual), as quais também, dessa forma, não podem exercer a função de
administradores societários, a exemplo: Juízes, Promotores, Servidores Públicos,
Militares da ativa, o falido, caso não sejam declaradas extintas suas obrigações, os
moralmente inidôneos e os estrangeiros com visto temporário (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 22 e 23).

2.3 A HISTÓRIA DA HOLDING


Mais de trinta anos atrás as holdings eram criadas, muitas vezes, como entidades
financeiras com o objetivo de viabilizar uma linha especial de crédito. Em outros casos
elas eram criadas com o único propósito de ter-se uma economia fiscal, já que na época
a transferência de dividendos entre pessoas jurídicas era isenta de tributação (LODI e
LODI, 2004).

A holding quando começou a ser criada, época em que a legislação era muito diferente
de agora, era considerada por muitos como um delito econômico, decorrente de
objetivos sinistros com o objetivo de obter fins fraudulentos (LODI e LODI, 2004).

Contudo, com o advento da Lei nº 6.404/76, mais especificamente em seu art. 2º, § 3º,
que dispõe que a companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades,
a holding foi colocada definitivamente como forma jurídica (LODI e LODI, 2004).

A palavra “holding” propriamente dita somente apareceu, timidamente, na Resolução


469 de 07/04/78, do Banco Central. Até então não havia a menção da
palavra holding na legislação. Dessa época até os dias atuais houve uma grande
evolução nessa forma societária, pois até mesmo o governo passou a usar os seus
benefícios, criando, por exemplo, a Telebrás, Eletrobrás e Fibase. Com o passar do
tempo a holding passou a ser uma sociedade igual às outras, diferenciando-se
empresarialmente em razão de seus objetivos (LODI e LODI, 2004).

A Constituição Federal de 1988 deu ênfase na necessidade de organização e controle. O


art. 170, por exemplo, estabelece, equivocadamente, as regras para os novos
empreendimentos. O art. 226 demonstra o novo relacionamento familiar. Entre essas
novas regras, quem teve uma visão mais futurística após o advento
da constituição pôde ver as novas possibilidades, e entre essas novas regras
a holding estava inclusa no que diz respeito ao planejamento e estudo de viabilidade de
novos negócios a serem investidos (LODI e LODI, 2004).

Além do mais, com o novo Código Civil, Lei nº 10.406/2002, percebe-se que
a holding se tornou uma excelente forma de planejamento familiar e, talvez, a melhor
forma de se proteger a família, visto que as regras expostas no mencionado diploma
muitas vezes podem ser injustas e confusas na visão de muitos (LODI e LODI, 2004).
Agora que a holding está sendo aceita pela sociedade como uma forma lícita de se
planejar o futuro e manter o controle de outras sociedades e investimentos,
aproveitando os mais variados benefícios dessa forma empresária, o temor de muitos é
que a Receita Federal vendo esses fatos arrume uma maneira de bloquear os benefícios
que a holding trás para tentar cobrar mais impostos e afins dos seus contribuintes.
Caso isso ocorra, a Receita terá que aguentar uma forte perseguição de um grupo que
querem pagar menos impostos, não visando àqueles que não querem pagar nada
(LODI e LODI, 2004).

2.4 A CONSTITUIÇÃO DA HOLDING FAMILIAR

Conforme amplamente demonstrado, a holding familiar pode assumir diversas


formas, podendo ser uma sociedade empresarial ou simples, contratual ou estatutária,
a depender dos objetivos de cada constituinte.

Visto isso, passa-se a demonstrar como ocorre subscrição e integralização do capital


social para que essa forma societária seja constituída.

Ao ser constituída uma sociedade, simples ou empresarial, há a necessidade de ser


realizada a subscrição e integralização do capital social, disposto no contrato ou no
estatuto. O valor disposto por cada sócio para compor o capital social deve ser expresso
em moeda corrente do local onde será registrado o contrato social ou estatuto,
atendendo-se aos princípios da: realidade (ou subscrição integral), da intangibilidade,
da fixidez (ou variabilidade condicionada) e da publicidade (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 117).

Visto isso, deve-se estar atento ao instituto da subscrição, que é o ônus que cada sócio
se comprometeu a investir na sociedade e, assim, integralizar o capital social. O sócio
pode assumir um ou mais títulos (quotas ou ações). Como esses títulos correspondem
uma parcela do capital social, se não forem transferidos à sociedade no ato da
assinatura do contrato ou estatuto social, deve ocorrer posteriormente na forma e no
prazo estipulado pelo contrato ou estatuto (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 117).
A integralização do capital social não precisa ocorrer apenas por dinheiro, mas por
qualquer tipo de bem ou expressão econômica que possa ser atribuído um valor
proveniente da moeda em curso no país. Em certos casos, como na sociedade em nome
coletivo, sociedade simples e sociedade em comandita simples, permite-se que a
integralização ocorra por meio de prestação de serviço (RAMOS, 2014, p. 239).

A integralização também pode ocorrer através de um terceiro, por ato em vida (inter
vivos) ou em função da morte (causa mortis). Não há vedação legal que um terceiro
invista no nome de um dos sócios na sociedade. Aliás, essa é uma via comum
nas holdings familiares (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 118).

Além do mais, nas sociedades simples ou comum, em nome coletivo e em comandita


por ações, a integralização do capital social também pode dar-se através da prestação
de serviços (RAMOS, 2014, p. 240).

Ressalta-se que a depender dos bens que formaram a sociedade será a sua espécie, já
que há uma certa liberdade dos bens que possam integralizar o capital social. Por
exemplo, se a sociedade (holding) for integralizada exclusivamente por participação
societária será uma sociedade de participação, ou se for integralizada exclusivamente
por bens imóveis será considerada uma sociedade imobiliária (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 119).

Ao ser realizada a integralização do capital social, espera-se uma total boa-fé dos
sócios, pois, conforme disposto no artigo 447 do Código Civil, se os bens transferidos
para a integralização do capital social forem pertencentes a outrem, o alienante (o
sócio) responde pela evicção, que são os prejuízos sofridos pelos cessionários, no caso a
sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 119).

Ademais, ressalta-se que o procedimento de integralização do capital social difere-se de


acordo com a forma societária. A exemplo é a sociedade limitada, na qual a Lei não
determina um procedimento específico para a integralização do capital social, apenas
exige que os bens integralizados tenham expressão econômica e torna todos os sócios
solidários entre si (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120).
Assim, devida a essa solidariedade, se um credor sentir-se prejudicado e for constatado
que os bens integralizados não condizem com o valor do capital social, poderá cobrar
de qualquer dos sócios (RAMOS, 2014, p. 267).

Já para as sociedades anônimas a Lei 6.404/76 determina que haja três avaliações dos
bens por perito ou sociedade especializada (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120).

Por fim, deve-se observar a integralização dos bens nas sociedades por ações. Aqui a
integralização também não precisa ser exclusivamente em dinheiro, mas pode ocorrer
por qualquer tipo de bem suscetível de avaliação em dinheiro (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 120).

Nas sociedades por ações os bens apresentados pelos sócios para integralizar o capital
social deveram, obrigatoriamente, segundo a Lei 6.404/76, ser avaliados por três
peritos e/ou por empresa especializada. Esses peritos ou empresa especializada
respondem juntamente com o sócio detentor desse bem por quaisquer prejuízos que
um terceiro possa a vir sofrer devido a um valor avaliado que não condiz com a
realidade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120 e 121).

Além do mais, se o valor pelo qual for transferido o bem à sociedade for superior do
valor real do bem, constante na declaração de bens, deve o sócio detentor de tal bem
pagar Imposto de Renda, conforme decidido no julgamento do Agravo Regimental no
Recurso Especial 1.016.766/PR pela Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 122 e 123).

3 SUCESSÃO E LIMITES LEGAIS

3.1 CONCEITO, TRANSMISSÃO E ACEITAÇÃO DA HERANÇA

Venosa explica que “suceder é substituir, tomar o lugar de outrem no campo dos
fenômenos jurídicos. Na sucessão, existe uma substituição do titular de um direito.
Esse é o conceito amplo de sucessão no direito” (2011, p. 01).
Dessa forma, o comprador sucede ao vendedor na titularidade de uma coisa, e assim
por diante (VENOSA, 2011, p. 01).

Nesse sentido também é o entendimento de Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 01), o


qual explica que:

A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o
lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. Numa compra e
venda, por exemplo, o comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos
que a este pertenciam. De forma idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo
acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito.

Venosa (2011, p. 01) também diz que “sempre que uma pessoa tomar o lugar de outra
em uma relação jurídica, há sucessão. A etimologia da palavra (sub cedere) tem
exatamente esse sentido, ou seja, de alguém tomar o lugar de outrem.”

Contudo, no direito faz-se uma linha divisória entre sucessão que deriva de um ato
entre vivos, como um contrato, e a que deriva ou tem causa a morte (causa mortis),
quando os direitos e obrigações da pessoa que morre transferem-se para seus herdeiros
e legatários (VENOSA, 2011, p. 01).

Dessa forma, ao se falar, na ciência jurídica, em direitos das sucessões, está tratando de
um campo específico do direito civil: a transmissão de bens, direitos e obrigações em
razão da morte (VENOSA, 2011, p. 01).

No direito das sucessões [...] o vocabulário é empregado em sentido estrito, para


designar tão-somente a decorrente da morte de alguém, ou seja, a sucessão causa
mortis. O referido ramo do direito disciplina a transmissão do patrimônio, ou seja, do
ativo e do passivo do de cujus ao autor da herança a seus sucessores (GONÇALVES ,
2008, p. 02).

Clóvis Beviláqua (1945, p. 44) conceitua o direito das sucessões como “o complexo dos
princípios segundo os quais se realiza a transmissão do patrimônio de alguém que
deixa de existir”.
Menciona-se, ainda, a excelente definição dada por Carlos Maximiliano (1952, p. 02)
que assim entende:

Direito das sucessões, em sentido objetivo, é o conjunto das normas reguladoras da


transmissão dos bens e obrigações de um indivíduo em consequência da sua morte. No
sentido subjetivo, mais propriamente se diria – direito de suceder, isto é, de receber o
acervo hereditário de um defunto”.

É inquestionável a importância do direito sucessório no ordenamento jurídico, pois o


homem há de desaparecer, mas seus bens continuam mesmo após sua a morte, ficando
aos herdeiros sobreviventes, dando continuidade na relação sucessória, em contínua
manutenção da imagem do morto, em vida, para mesmo após a morte (LEITE, 2003).

Percebe-se que o direito hereditário se distingue no sentido lato da palavra sucessão,


pois é aplicado, também, à sucessão entre vivos, como por exemplo um contrato de
compra e venda, na qual uma parte cede à outra os direitos sobre um determinado bem
em razão de receber um valor apropriado para tanto.

Dito isso, tem-se que a palavra sucessão não decorre apenas de atos praticados
exclusivamente por vivos, mas também pela morte, que é o foco do presente trabalho.

Quando pela morte, é transmitida uma universalidade, ou seja, a totalidade de um


patrimônio, dá-se a sucessão hereditária, que é a universalidade, pouco importando o
número de herdeiros a que se atribuída (VENOSA, 2011, p. 02).

A sucessão a título singular, no direito hereditário, ocorre por via do testamento, sendo
o bem certo e determinado de seu patrimônio, um legado. Cria-se assim a figura do
legatário, o titular do direito, e o legado, o objeto da instituição feita no testamento
(VENOSA, 2011, p. 02).

Sobre o assunto também há a excelente definição de Carlos Roberto Gonçalves (2008,


p. 26):
Dá-se a sucessão a título universal quando o herdeiro é chamado a suceder na
totalidade da herança, fração ou parte alíquota (percentual) dela. Pode ocorrer tanto na
sucessão legítima como na testamentária.

[...]

Na sucessão a título singular, o testador deixa ao beneficiário um bem certo e


determinado, denominado legado, como um veículo ou um terreno, por exemplo.

Ou seja, a sucessão legítima sempre será a título universal, enquanto a testamentária


poderá ser a título universal ou singular (GONÇALVES , 2008, p. 26).

Portanto, a terminologia Direitos das Sucessões não se confunde com as sucessões


operadas em vida, normalmente disciplinadas pelo direito das obrigações, embora não
seja privilégio único deste compartimento do direito (VENOSA, 2011, p. 02).

Visto isso, vale ressaltar que ao ser criada a holding familiar os limites legais impostos
por lei referente a sucessão devem ser respeitados.

Para tanto, há de se observar que há herdeiro legal, chamado de sucessor universal, e


há o legatário, também chamado de sucessor singular (VENOSA, 2011, p. 07).

Conforme o disposto no art. 1.786, a herança dá-se por lei ou por disposição de última
vontade. Quanto a herança por lei não há dúvidas, pois o Código Civil traz várias regras
que devem ser respeitadas, como será visto à frente. No que diz respeito à disposição
de última vontade, essa ocorre através do testamento, no qual o de cujus deve obedecer
às regras também impostas pelo Código Civil, como respeitar os bens pertencentes aos
herdeiros necessários, pois tais bens constituem a legítima, conforme
artigo 1.846 do Código Civil (BRASIL, 2002).

[...] a sucessão, considerando-se a sua fonte, pode ser legítima ou ‘ab intestato’ e
testamentária. Quando se dá em virtude da lei, denomina-se sucessão legítima; quando
decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo,
chama-se sucessão testamentária (GONÇALVES , 2008, p. 24).
Destaca-se que a vocação hereditária, aquela proveniente da lei, deve prevalecer
quando não for possível cumprir com o testamento (VENOSA, 2011, p. 08).

Vale destacar que a herança é a universalidade, na qual os herdeiros recebem uma


fração indivisa do patrimônio e devem aguardar que a sua quota parte se materialize na
partilha (VENOSA, 2011, p. 09).

Assim, não ocorre quando fala-se de legado, pois como é a manifestação de última
vontade do de cujus, o bem é determinado. O legatário ao ler o testamento sabe, em
regra, qual bem, móvel ou imóvel receberá, já que sucede a título singular (VENOSA,
2011, p. 09).

No testamento pode ser disposto a divisão dos bens para um terceiro, por exemplo,
mas há a possibilidade de ser realizado o testamento para alguém que pela lei já teria
direito a herança (VENOSA, 2011, p.10).

Outro ponto que deve ser observado é que o legatário não responde pelas dívidas do
espólio, cabendo ao herdeiro, na porção de seu quinhão, responder por elas (VENOSA,
2011, p. 10).

De acordo com Cáio Mário da Silva Pereira (1984, p. 186), “o legado consiste em uma
coisa definida e muito se assemelha a uma doação, constando apenas de um
testamento e não de um contrato”.

Conforme disposto no art. 1.784 do Código Civil, com a morte ocorre a imediata


transmissão do patrimônio aos herdeiros legítimos e hereditários. É o famoso princípio
da saisine (VENOSA, 2011, p. 15).

Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 19) define o princípio da saisine como sendo o qual
“o próprio defunto transmite ao sucessor a propriedade e a posso da herança”.

Também há de ser observado que decorre do princípio da saisine a legitimação da Lei


aplicável, visto que deverá ser aquela vigente ao tempo na sucessão, ou seja, ao tempo
do evento morte (GONÇALVES , 2008, p. 22).
Significa que o herdeiro pode entrar na posse dos bens que constituam a herança. O
herdeiro, pessoa física ou jurídica, na defesa de seus bens hereditários, pode exercer
ação de esbulho, de turbação, ou qualquer outra forma de ação possessória (VENOSA,
2011, p. 16 e 17).

Entretanto, para que a transmissão ocorra é necessário que o herdeiro exista no tempo
da transmissão e que a esse tempo seja capaz de herdar (GONÇALVES , 2008, p. 20).

Além do mais, deve-se observar a legitimação para suceder.

Sobre o tema, o art. 1.798 do Código Civil dispõe que “legitimam-se a suceder as


pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” (BRASIL,
2002).

Ou seja, a legitimidade passiva é a regra, enquanto que a ilegitimidade a exceção


(GONÇALVES , 2008, p. 50).

Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 50-51) ensina que:

Como o disposto em apreço refere-se somente a “pessoas”, não podem ser


contemplados animais, salvo indiretamente, pela imposição ao herdeiro testamentário
do encargo de cuidar de um especificamente. Também estão excluídas as coisas
inanimadas e as entidades místicas, como os santos.

[...]

Tanto as pessoas naturais como as jurídicas, de direito público ou privado, podem ser
beneficiadas. [...] Caducam as disposições testamentárias que beneficiarem pessoas já
falecidas, pois a nomeação testamentária tem caráter pessoal (intuitu personae).

Discutida a legitimidade para herdar, passa-se agora a análise sobre o aceite e renúncia
da herança.
Como ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade, este pode renunciar a herança,
embora na maioria dos casos oferta e aceitação sejam imperceptíveis (VENOSA, 2011,
p. 16).

Como em nosso ordenamento jurídico somente é herdeiro quem assim desejar, a


aceitação da herança que lhe seria devida revela-se apenas como a anuência do
herdeiro ou legatário em recebe-la, que ocorre na chamada fase de
deliberar (GONÇALVES , 2008, p. 69).

Zeno Veloso (2002, p. 1598) explica que:

[...] a morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança aos herdeiros ocorrem


num só momento. Os herdeiros, por essa previsão legal, tornam-se donos da herança
ainda que não saibam que o autor da sucessão morreu, ou que a herança lhes foi
transmitida. Mas precisam aceitar a herança, bem como podem repudiá-la,
até porque ninguém é herdeiro contra a sua vontade. Mas a aceitação tem o
efeito – como diz o art. 1.804 – de tornar definitiva a transmissão que já havia
ocorrido por força do art. 1.784. E, se houve renúncia por parte do herdeiro, tem-se por
não verificada a transmissão mencionada no mesmo artigo (art. 1.804, parágrafo
único). (grifo nosso).

O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 69) explana de forma muito


consciente sobre a aceitação. Veja-se:

Aceitação ou adição da herança é o ato pelo qual o herdeiro anui à transmissão dos
bens do de cujus, ocorrida por lei com a abertura da sucessão, confirmando-a.

Trata-se de uma confirmação, uma vez que a aquisição dos direitos sucessórios não
dependem da aceitação.

Sobre a faculdade de deliberar do herdeiro, Walter Moraes (1980, p. 51) explica que:

[...] é uma decorrência necessária da ordem das coisas. Por uma parte a transmissão
imediata da herança é um imperativo de continuidade ininterrupta da vida jurídica do
patrimônio do de cujus, porquanto não é admissível que tal patrimônio fique por algum
tempo vago e sem titular, aberto às depredações. Por outra, contudo, repugna à índole
essencial do direito o ser alguém obrigado a ingressar numa situação patrimonial nova,
contra a sua vontade.

Caso o herdeiro aceite a herança, o seu efeito será retro-operante, ou seja, retroage à
data da abertura da sucessão, que é o momento do evento morte (VENOSA, 2011, p.
16).

Portanto, a aceitação tem efeito retro-operante. Os direitos hereditários não nascem


com ela, mas retroagem, automaticamente e ex vi legis, à data do óbito do autor da
herança (GONÇALVES , 2008, p. 70).

Como já aludido, ninguém será obrigado a herdar. Contudo, caso o herdeiro aceite a
herança, de forma escrita ou tácita, a transmissão torna-se definitiva desde o momento
da morte do de cujus, não podendo mais o herdeiro simplesmente renunciar a herança,
conforme disposto no art. 1.804 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Da mesma forma que ocorrendo o aceite da herança, pelo princípio da saisine, a


transmissão do bem ocorre desde o momento da abertura da sucessão, ocorrendo a
renúncia do bem entende-se que o renunciante nunca foi herdeiro (VENOSA, 2011, p.
17).

Conforme alude Miranda (1973, p. 18) “pelo princípio da saisine, tudo se transmite
como estava no patrimônio do de cujus. Transmitem-se também as dívidas, pretensões
e ações contra ele (...)”.

Whasington de Barros Monteiro (1977, p. 46) diz que a aceitação da herança pelo
herdeiro “é o ato jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara que deseja ser
herdeiro e recolher a herança”.

Ou seja, por mais que pelo princípio da saisine a herança seja transmitida no momento
do evento morte, o herdeiro não é obrigado a aceita-la, pois deve-se sempre ser levado
em consideração que junto com os bens o herdeiro também receberá as dívidas e em
muitos casos o mais aconselhável é renunciar a herança para deixar sobre a
responsabilidade do espólio o dever de saudar as dívidas do de cujus.
3.2 RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE TESTAR

Caso o testador tenha herdeiros necessários, não terá plena liberdade de testar, em
razão do disposto no art. 1.846 do Código Civil. Caso isso ocorra, o testador poderá
dispor a terceiros até metade de seus bens, ficando a outra metade restrita aos
herdeiros necessários, especificados no art. 1.845 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Dessa forma, não havendo herdeiros necessário o testador poderá dispor de todo o seu
patrimônio, podendo afastar a sucessão dos colaterais (GONÇALVES , 2008, p. 25).

Dispondo o testador em seu testamento de uma parte de seu patrimônio, e essa parte
não equivalendo a metade de seu patrimônio, o remanescente será acrescido à legítima
dos herdeiros necessários (VENOSA, 2011, p. 160).

Além do mais é de suma importância verificar se o testador não era casado na


comunhão universal de bens, pois neste caso, conforme explica Carlos Roberto
Gonçalves (2008, p. 25):

Se o testador for casado no regime da comunhão universal de bens, o patrimônio do


casal será dividido em duas meações, e só poderá dispor, em testamento,
integralmente, da sua, se não tiver herdeiros necessários, e da metade, correspondente
a um quarto do patrimônio do casal, se os tiver.

Vale ressaltar que o cônjuge sobrevivente nem sempre terá direito a metade dos bens
ao ser realizada a meação, pois a depender do regime de casamento, cada cônjuge
poderá ter trazido bens particulares, ou que por outra razão não se comunicam. Dessa
forma, como o cônjuge sobrevivente também é herdeiro
necessário, vide art. 1.845 do Código Civil, somente os herdeiros colaterais podem ser
afastados da herança por força do testamento (VENOSA, 2011, p. 160).

Ainda, ressalta-se que o testador de forma indireta pode especificar no testamento


quais os bens que devam compor a legítima, pois ao especificar os bens em legados
estará demonstrando quais os bens que os herdeiros necessários deveram herdar
(VENOSA, 2011, p. 160).
Mas os bens que fazem parte da legítima podem ser especificados através do
testamento?

Segundo Maximiliano (1952, p. 28) essa possibilidade existe, pois:

[...] melhor do que o juiz e os estranhos em geral, conhece o progenitor as fraquezas, as


predileções justas, necessidades e conveniências de cada descendente, para afeiçoar a
partilha ao caráter, ao modo de viver e trabalhar, à capacidade e à posição pecuniária
de cada um. Nada mais aconselhável, portanto, do que substituir pela vontade ilustrada
a fatalidade das prescrições uniformes, o critério incerto de terceiro, pouco mais
valioso que a sorte, o acaso.

Dessa forma, a partilha deverá obedecer a vontade do testador, no que for possível
(VENOSA, 2011, p. 161).

Destaca-se que a parte disponível, já comentada neste trabalho, equivale ao ativo da


herança deixada pelo de cujus, pois considera-se o montante líquido, já abatida as
dívidas deixadas pelo autor da herança (VENOSA, 2011, p. 161).

Em resumo, falecido o autor da herança, pagas as suas dívidas e as despesas de funeral,


divide-se o patrimônio em duas partes iguais. Uma delas constitui a quota disponível.
À outra adicionam-se o valor das doações recebidas do de cujus pelos seus
descendentes, e que estes não tenham sido dispensados de conferir, e ter-se-á a
legítima dos herdeiros necessários (RODRIGUES , 2002, p. 125).

Assim, aqueles herdeiros que já haviam recebido bens do testador devem apresenta-los
para calcular-se a legítima, para assim verificar quais as porções dos demais herdeiros,
conforme disposto no art. 1.847 do Código Civil, a não ser que fossem expressamente
dispensados de fazer (VENOSA, 2011, p. 162).

Conforme já mencionado no presente trabalho, somente pessoas (físicas ou jurídicas)


existentes no momento da transmissão da sucessão (morte do titular dos bens,
segundo o princípio da saisine) e o nascituro tem legitimidade passiva para suceder.

Entretanto, essa não é a regra quando está se falando em sucessão testamentária.


O art. 1.799 do Código Civil (BRASIL, 2002) determina que:

Na sucessão testamentária podem ainda serem chamados a suceder:

I – os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;

II – as pessoas jurídicas;

III – as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma
de fundação.

Diferentemente do disposto no art. 1.798, o art. 1.799 do Código Civil abre um leque


maior sobre quem pode suceder, a diferença é que neste artigo esses sucessores não são
elencados como sujeitos genéricos, abrangendo os herdeiros legítimos, mas sim as
pessoas que receberem a herança ou legado por disposição de última vontade
(GONÇALVES , 2008, p. 53).

Sobre o tema, há de ser observado a exceção à regra, que é o inciso I, o qual admite que
filhos ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador possam herdar, se vivas
no momento da abertura da sucessão (evento morte). É o que chama-se de prole
eventual (GONÇALVES , 2008, p. 53).

Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 53) ainda explica que:

Não se trata mais do nascituro (conceptus), mas do nondum conceptus, ou seja, de


indivíduo nem ainda concebido. Em tais casos, a transmissão hereditária é condicional,
subordinando-se a aquisição da herança a evento futuro e incerto.

Dessa forma, há de ser observado que o referido disposto trata-se exclusivamente dos
filhos de pessoas indicadas pelo testador, no qual qualquer pessoa que não seja filho (a)
e esteja viva no momento da morte do testador, não terá direito à herança, por exemplo
se for neta da pessoa indicada (GONÇALVES , 2008, p. 53).
Na hora do testador fazer seu testamento também deverá estar atendo aos
impedimentos de certas pessoas para serem herdeiras ou legatárias, conforme
disciplina o art. 1.801 do Código Civil (BRASIL, 2002). Veja-se:

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:

I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou


os seus ascendentes e irmãos;

II – as testemunhas do testamento;

III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;

IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer,


assim como o que fizer ou aprovar o testamento.

Sobre as pessoas mencionadas no artigo retro, brilhantemente o doutrinador Carlos


Roberto Gonçalves (2008, p. 62) ensina que:

Entendem alguns autores que o dispositivo em tela cuida de situações de incapacidade


relativa, sendo absoluta a da pessoa ainda não concebida ao tempo da morte do
testador. As hipóteses não são, todavia, de incapacidade relativa, mas
de falta de legitimação, pois as pessoas mencionadas não podem ser
beneficiadas em determinado testamento, conquanto possam sê-lo em
qualquer outro em que não existam os apontados impedimentos. (grifo
nosso).

Percebe-se que o legislador tentou evitar que pessoas relacionadas ao testamento, ou


que poderiam estar relacionadas, pudessem influenciar ou até mesmo alterar a vontade
do testador, para que de alguma maneira fossem beneficiadas pelo testamento
(GONÇALVES , 2008, p. 63).

3.3 CLÁUSULAS DE INALIENABILIDADE, INCOMUNICABILIDADE E


IMPENHORABILIDADE
São inalienáveis aqueles bens que pela doação ou testamento estejam gravados com
cláusula de inalienabilidade. Vale deixar claro que ninguém pode gravar seus próprios
bens. Os únicos bens que podem ser gravados são os bens de terceiros, por meio do
testamento ou doação (VENOSA, 2011, p. 162).

Destaca-se que muito se discutiu no passado quanto a cláusula de inalienabilidade,


pois em muitos casos o de cujus usava dessa determinação não para proteger o bem
herdado ou doado, mas sim unicamente como forma de vingança para com algum
herdeiro que detinha direito em receber o bem como herança (VENOSA, 2011, p. 162 a
164).

Devido a tais problemas, o legislador ao escrever o Código Civil de 2002 tentou


restringir a aplicação da cláusula de inalienabilidade, justamente com a cláusula de
impenhorabilidade e incomunicabilidade. Para tanto, o art. 1.848 do referido diploma
dispõe que “Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade,
sobre os bens da legítima” (VENOSA, 2011, p. 165).

Sobre o disposto no referido artigo, Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 191) esclarece
que:

A limitação imposta no art. 1.848, caput, do Código Civil restringe-se ao testador e à


legitima, não alcançando a parte disponível nem o doador, mesmo porque o art. 1.911
do mesmo diploma dispõe que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por
ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade”. Justifica-se a
restrição no tocante à legítima por se tratar de quota legalmente reservada sobre os
bens do espólio.

A cláusula de inalienabilidade pode ser absoluta, na qual prevalecerá sobre qualquer


caso e sobre qualquer pessoa, ou relativa, se facultada quanto a determinados casos e
pessoas (GONÇALVES , 2008, p. 192).

Ressalta-se, ainda, que a referida restrição não excederá à vida do herdeiro. Ou seja,
não pode ultrapassar uma geração (GONÇALVES , 2008, p. 191-192).
Silvio Rodrigues (RODRIGUES , 2002, p. 129) ainda ensina que a cláusula de
inalienabilidade:

[...] visa proteger o herdeiro inapto contra sua própria inépcia, ou contra as loucuras e
extravagâncias do seu consorte. Dir-se-ia que o legislador agiu como um pai de filha
malcasada, que quer proteger a parte da herança que lhe será inexoravelmente
transmitida, e que descobre um meio de subtrair da mão desastrada do marido aqueles
bens, que do modo seriam por ele dissipados.

Quanto à cláusula de incomunicabilidade, é um artefato muito importante para que o


autor da herança proteja, na medida do possível, que seu herdeiro não acabe perdendo
bens provenientes da herança.

Isso ocorre devido que os bens gravados com essa cláusula não se comunicam,
independente do regime de casamento, ou mais, independendo se o herdeiro já estava
ou não com um relacionamento amoroso, pois a cláusula afeta o bem em si,
protegendo, também, o herdeiro de um relacionamento amoroso que ainda possa a
acontecer (VENOSA, 2011, p. 170).

No mesmo sentido aduz Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES , 2008, p. 193), ao


explicar que:

A cláusula de incomunicabilidade constitui uma eficiente proteção ao herdeiro, sem


que, por outro lado, colida com qualquer interesse geral. O exemplo mais comum é o
do pai cuja filha se casa pelo regime da comunhão de bens. Para evitar que, com a
separação, os bens por ela trazidos sejam divididos com o marido não confiável, ou que
com a morte deste os mesmos bens sejam partilhados com os seus próprios herdeiros,
o genitor impõe a incomunicabilidade da legítima, impedindo o estabelecimento da
comunhão.

Ainda vale ressaltar que a inalienabilidade implica na impenhorabilidade e


incomunicabilidade. Entretanto, a incomunicabilidade não acarreta a inalienabilidade
do bem (GONÇALVES , 2008, p. 192).
Referente a impenhorabilidade, deve-se observar que pode se dar por lei ou disposição
da vontade humana. A por lei não será analisada no presente trabalho, pois fugiria do
objetivo principal.

Entretanto, a impenhorabilidade pela vontade humana há de ser analisada, pois é de


suma importância para se ter um planejamento sucessório.

A cláusula de impenhorabilidade segue os mesmo princípios da cláusula de


inalienabilidade, não podendo diminuir a garantia de credores (VENOSA, 2011, p. 171).

Essa impenhorabilidade derivada da vontade humana pode ser vitalícia ou temporária,


absoluta ou relativa, abrangendo todos os bens ou apenas parte deles, podendo,
inclusive, ser especificado um termo, prazo ou condição (VENOSA, 2011, p. 172).

Ou seja, há inúmeras características que podem ser adotadas pelo detentor do bem ao
instituir a impenhorabilidade.

Essa cláusula visa proteger o bem gravado de uma possível constrição judicial em
execução, por dívidas contraídas pelo herdeiro, restringindo, assim, a atuação dos
credores (GONÇALVES , 2008, p. 193).

Além do mais, o atual Código de Processo Civil, no inciso I do art. 833 dispõe que os
bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução são
impenhoráveis (BRASIL, 2015).

Entretanto, o próprio Código Processual dispõe em seu art. 834 que, na falta de outros
bens, os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis podem ser penhorados
(BRASIL, 2015).

Sobre o tema, Venosa (2011, p. 172) explica que caso o autor da herança especifique de
forma expressa que os frutos e rendimentos dos bens também estão excluídos da
possibilidade de impenhorabilidade, assim deve ocorrer e não deve ser aplicada a lei
processual.
Contudo, o que não serão penhorados são os frutos. Se o herdeiro transformar o
aluguel (fruto) em um investimento financeiro, por exemplo, essa restrição de penhora
deve desaparecer (VENOSA, 2011, p. 172).

Sobre os frutos dos bens gravados com a cláusula de impenhorabilidade, Carlos


Roberto Gonçalves (GONÇALVES , 2008, p. 193) aduz que:

Há uma corrente que admite que o testador pode gravá-los expressamente, juntamente
com a coisa principal. Merece ser prestigiada, entretanto, a corrente contrária, que
entende não poderem ser clausulados, para que a propriedade não se torne de todo
inútil ao dono. Como, não obstante, podem ser gravados com a impenhorabilidade,
consoante entendimento majoritário, uma cláusula que os onere também com a
inalienabilidade deve ser interpretada como relativa apenas à primeira restrição.
Somente os bens seriam inalienáveis, permanecendo disponíveis os frutos e os
rendimentos, embora impenhoráveis.

Ou seja, por mais que o testador tente proteger seus herdeiros através das cláusulas de
Inalienabilidade, Incomunicabilidade e Impenhorabilidade, deve entender que há
inúmeros parâmetros e regras a serem observadas, que visam assegurar a boa-fé de
quem utiliza desses artifícios legais.

4 LIMITES E POSSIBILIDADES DA HOLDING NO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

4.1 VANTAGENS PATRIMONIAIS

Como já foi aludido, muitos ainda tendem a criar uma holding unicamente para


possivelmente obterem uma economia com gastos referentes a sucessão no momento
do evento morte.

Entretanto, estudando sociedade empresária, com todas as suas possibilidades


empresariais, percebe-se que além de em algumas hipóteses haver sim uma economia
razoável com os gastos no momento da sucessão, com a holding também surgem
diversos benefícios que muitas vezes podem até serem mais interessantes que a simples
economia fiscal, a depender dos objetivos do detentor dos bens.
Dessa forma, será explicado neste tópico as principais vantagens patrimoniais que
a holding pode proporcionar aos sócios.

Principiando pela estruturação empresarial e social, Mamede e Mamede (2017, p. 67)


afirmam que o direito tem um papel auxiliar na definição de estratégias
mercadológicas e nas proposições de administração corporativa, ou seja, no
estabelecimento do benchmarking. A definição da engenharia não são questões
jurídicas, mas sim da ciência da Administração Empresarial. Contudo, após os
executivos formarem a estruturação empresarial que acreditem que melhor supra seus
objetivos, os operadores do direito precisam ser consultados a fim de simplesmente
executá-las e identificar se sua proposta é lícita, ou, ainda, se é a melhor em se tratando
de encargos como fiscais, trabalhistas e etc. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 67).

Muitos executivos tem a preocupação de manter o seu conglomerado de empresas no


poder de seus descendentes e para isso precisam formas uma estruturação empresarial
adequada (OLIVEIRA, 2010, p. 25).

Da análise da qual a melhor estruturação empresaria a ser constituída, que possa


resultar na criação de uma holding ou não, dependendo de cada caso, existem
horizontes variados, com numerosas alternativas de posturas administrativas que
possam conduzir para resultados empresariais satisfatórios (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 68).

Para hipótese de exemplo de formas diferentes de administração, cita-se sociedades


com uma estrutura multissocietária (a multiplicação da quantidade de pessoas
jurídicas utilizadas para realizar os negócios), cada qual permitindo uma parcela das
operações, dando margem a uma descentralização administrativa que poderá ser maior
ou menor, de acordo com o previsto no contrato social ou estatuto (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 68).

De outra banda, há grupos empresários que demandam a incorporação ou fusão de


sociedades com finalidade de centralizar a administração, eliminando divergências,
reduzindo os custos etc. Não há uma solução melhor ou pior, tudo depende de cada
caso. A concentração de atividades em uma só sociedade ou a distribuição entre
sociedades diversas são medidas que, em certos casos, podem trazer benefícios como a
economia fiscal lícita (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 68).

Petrin e Rios (2014, p. 09) explicam que:

Quando se tem não apenas uma empresa, mas um grupo de empresas,


a constituição de uma holding, para os autores, pode ser recomendável para centralizar
a administração das diversas sociedades e as diversas unidades produtivas.

As empresas familiares trazem outros benefícios, como acomodar os valores das novas
gerações, permitindo demonstrar suas habilidades em algum projeto. A constituição da
sociedade dá as novas gerações a oportunidade perdida, no mesmo tempo (OLIVEIRA,
2010, p. 25) que preserva o tronco principal da empresa ou grupo de empresas,
permitindo os fracassos de alguns projetos e até mesmo a falência, a exemplo de
quando adotada o tipo societário de sociedade limitada e a sociedade anônima, nas
quais a holding não responde de forma subsidiária pelas obrigações de alguma
controlada, protegendo, assim, o grupo empresarial que está sem obrigações pendentes
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 68).

Além do mais, a holding pode expandir aquela sociedade controlada que está tendo
bons resultados, ao mesmo tempo em que trata de maneira isolada aquelas sociedades
que estão passando por dificuldades, fora que com essa centralização do controle pode-
se, ainda, haver a redução de despesas operacionais (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
68 e 69).

Destaca-se que essa verificação de qual a melhor estratégia para a formação de uma
sociedade não depende só do direito, pois é imprescindível a participação de
profissionais especializados em administração de empresas, economia e contabilidade,
pois o direito apenas traz normas instrumentais, definindo limites lícitos,
procedimentos, requisitos e elementos. Esse diálogo entre especialistas de diferentes
áreas é importante para que o operador do direito possa redigir de forma adequada as
cláusulas, alterações e documentos, sempre com o fim de obter movimentos seguros
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 69).
Em segundo lugar, quanto à uniformidade administrativa, afirmam Mamede e
Mamede (2017, p. 70) que quando se tem várias empresas a holding é ideal para
centralizar a administração de todas, passando, assim, a ter um papel que vai muito
além de simplesmente ser a depositária das participações societárias, passando a
estabelecer metas, definindo processos funcionais uniformes, entre tantas
possibilidades existentes (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 70).

Uma vez constituída, a holding passa a se tornar um centro gerador de planejamento


organizacional e mercadológico. Essa influência administrativa, ainda, vai muito além
das sociedades controladas, pois alcança aquelas sociedades que a holding tem mera
participação societária, pois sua cultura organizacional pode resultar uma influência
positiva como sócia (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 70).

Numa estrutura multissocietária (quando se tem várias sociedades sob o controle ou


com a participação de uma mesma família) a holding além de representar a família,
pode representar as suas sociedades controladas, o que permite obter uma vantajosa
unidade de discurso nas relações de mercado e da sociedade. Ademais,
a holding também pode ser a procuradora de seu grupo empresarial perante ao mais
diversos órgãos públicos e privados, dando mais força ao seu poder de barganha e
também a sua imagem (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 70 e 71).

Veja-se, a propósito, a FIGURA 3 onde é demonstrado como seria a atuação


da holding perante terceiros, representando o grupo como um todo:
FIGURA 3 - Atuação da Holding perante terceiros

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 71.

Vale destacar, também, como o operador do direito pode garantir que a holding tenha
esse papel de controle. Isso se faz através de cláusulas dispostas no ato constitutivo
da holding e de suas controladas, assim como documentos apartados que assegurem,
juridicamente, a predominância da holding sobre as sociedades controladas. Com essas
cláusulas a holding pode tomar medidas judiciais para assegurar sua predominância
sobre as sociedades que deveriam ser controladas por ela (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 71 e 72).

Em terceiro lugar, analisando-se a distribuição de funções, verifica-se que nem todo


mundo nasce com habilidades iguais, pois sempre tem aqueles que se destacam em
uma determinada atividade e outros não.

Pensando neste problema, e desafio para quem deseja fazer o seu planejamento
sucessório, sem ser injusto com o trabalho de cada herdeiro, é que a holding familiar é
citada como uma excelente opção.
Na constituição de uma holding familiar, nomeadamente uma sociedade de
participações (holding pura), todos os herdeiros com seus pais são colocados na mesma
posição de sócios. Como a holding pura não tem atividade operacional, a administração
pode ser exercida por todos os sócios, ou por apenas um sócio, caso em que esse sócio
administrador receberá pro labore, mas os lucros serão distribuídos entre os sócios,
independentemente se este trabalha ou não na sociedade, observando o capital social
de cada um (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78).

Sobre o assunto, veja-se a TABELA 1:

TABELA 1 - Divisão dos membros da família quando há uma Holding

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78.

No âmbito de uma holding pura, uma herdeira/sócia que deseja optar pelo trabalho


doméstico, por exemplo, obterá o mesmo valor de receita (quotas, ações, títulos,
imóveis, móveis etc.) que um filho que seja um executivo. Contudo, aqueles que
demonstrem capacidade e queiram optar por atuar nas sociedades operacionais terão
direito a remuneração por seu trabalho em decorrência das regras do Direito
Empresarial (que é o pro labore, se forem administradores sócios) ou do Direito do
Trabalho (se desempenharem funções operacionais: jornalistas, engenheiros, relações
públicas etc.) (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78).

Em síntese, tem-se que, então, o direito ao pro labore nasce pelo trabalho dos
administradores, ou por meio de salário, para os funcionários, podendo o sócio ser
funcionário da empresa, já que a personalidade jurídica não se confunde. Já o direito
ao dividendo nasce com a titularidade das quotas ou ações, independendo de trabalho
na empresa (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78).
Em quarto lugar, outra função da holding é encontrar quem deve suceder a gestão do
negócio mesmo após a morte do titular dos bens, resguardando a continuidade dos
negócios e até a sobrevivência dos membros da família, desde que não prejudique os
demais herdeiros. Isso porque a holding afasta do poder familiar a administração da
empresa controladora ou empresas controladas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 80).

O problema é que nem sempre os herdeiros tem o dom de administrar um negócio, e


neste caso a constituição de uma holding, com um administrador que embora não seja
um dos sócios, mas profissional capacitado para a função, pode ser a melhor opção
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 80).

Ou seja, quando o sucedido não vislumbrar em seus herdeiros capacidade profissional


e psicológica para dar continuidade nos negócios da família, pode, com
a constituição da holding, determinar que o administrador (gestor) será um
profissional capacitado, não sendo, necessariamente, seu sucessor, respeitando, é
claro, o direito de propriedade de seus herdeiros (BIANCHINI, GONÇALVES, et al.,
2014, p. 5).

Julian Bianchini et al (2014, p. 5) explicam quais as vantagens que a holding traz na


hora de haver a sucessão empresarial. Veja-se:

Dentre as principais vantagens da utilização destas empresas com a finalidade de


facilitar a sucessão empresarial pode-se apontar: i) continuidade do negócio. A
empresa operacional não sofre solução de continuidade mesmo com a
retirada do gestor na medida em que tem administração profissionalizada
(não necessariamente profissional); ii) afasta a empresa operacional das brigas
sucessórias, restringindo tal situação a holding; iii) sua implantação permite o
tempo, em regra, necessário para preparar o novo gestor quando
identificado, alguém dentre os herdeiros e/ou contratação e designação de
administradores profissionais pela holding para o desempenho de tal
atividade na empresa operacional; iv) separação da empresa operacional, que
normalmente congrega os riscos da atividade empresarial, daquela detentora de
patrimônio; v) possibilidade de o gestor transferir seu patrimônio ainda em vida aos
seus herdeiros reservando para si o direito de usufruto das quotas ou ações o que lhe
dá o poder de gestão. (grifo nosso)
O problema é muito mais complicado quando se tem uma coletividade de herdeiros,
pois nestes casos se por ventura um herdeiro despreparado queira administrar a
sociedade, seus erros impactaram toda a sociedade, sendo muito mais grave o
problema do que quando o herdeiro é apenas um, pois neste caso seus erros e
equívocos não produziram prejuízos a outros sócios (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
80).

Ainda, vale destacar que quando há vários herdeiros e pelos erros de um que queira
administrar a sociedade, em se tratado em sociedade por ações, esse fato não é o
suficiente para o sócio insatisfeito com a atuação do outro sócio utilizar o seu direito de
recesso (retirar-se da sociedade e receber a sua parte). Já nas sociedades por quotas, o
direito de recesso é admitido com mais facilidade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 80).

Além do mais, outra grande vantagem em se ter um administrador profissional é que


caso esse profissional não esteja cumprindo de forma satisfatória com o seu dever
perante a sociedade ele pode simplesmente ser dispensado, sem envolver relações
emocionais, diferente de se o administrador for alguém da família, pois neste caso as
discussões são quase que certas, envolvendo muitos sentimentos e brigas (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 81).

Destaca-se que inobstante os administradores profissionais serem os executores de


atos de administração, eles dependem diretamente da vontade da família (sócios) para
tomar suas decisões, pois seus atos devem visar sempre os interesses familiares, já que
podem ser retirados de seus cargos a qualquer momento, podendo, inclusive, um
membro da família tomar essa função (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 81).

Além do mais, sendo a holding uma sociedade contratual, conforme ensina Fábio


Ulhoa Coelho (2009, p. 142) o sócio da sociedade

Tem o dever na administração da sociedade, participando da escolha do administrador,


da definição da estratégia geral dos negócios etc. É claro que a vontade da minoria
societária não prevalecerá em confronto com a da maioria, mas é assegurado a todos os
sócios o direito de participação nas deliberações sociais.
Também vale destacar, ainda falando-se de sociedades contratuais, que os sócios tem o
pleno direito de fiscalizar a administração e como andam os negócios sociais, podendo-
se utilizar, conforme especifica a o Código Civil em seus artigos 1.021 e 1.020,
respectivamente, de duas formas para fazer valer esse direito, quais sejam: 1ª exame
dos livros, documentos e do caixa da sociedade, a qualquer tempo ou conforme
estipulado no contrato; e 2ª pela prestação de contas aos sócios pelos administradores,
conforme previsão contratual ou ao final do exercício fiscal (COELHO, 2009, p. 142).

Dessa forma, conclui-se que a administração profissional além de ser uma excelente
alternativa para aquelas sociedades nas quais os sócios não têm o conhecimento
necessário para administrá-las, de maneira alguma retira o poder dos sócios sobre a
sociedade, já que estes tem todo o direito de participar da sociedade, fiscalizando-a e
exigindo explicações do (s) administrador (es).

Em quinto lugar, quanto ao desenvolvimento de negócios, tem-se que a constituição de


uma holding pode servir como um instrumento jurídico capaz de propiciar a expansão,
a concentração, a diversificação, entre os mais variados objetivos (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 85).

Com a constituição da holding familiar cria-se um centro de poder personalizado, que


pode, e deve, buscar vantagens econômicas lícitas nos mais variados âmbitos,
mantendo o seu papel de controladora ou aceitando a mera participação (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 85).

Conforme Mamede e Mamede explicam:

“a holding permite a conservação de uma unidade entre os investidores (seus sócio),


mesmo quando se faz necessário segmentar mercados, unidade essa que se mantém
quando, em oposição, é preciso concentrar em determinado nicho, fugindo dos riscos e
ameaças (2017, p. 86).

Portanto, na holding familiar não há um contesto único, ela pode, além de manter a


participação societária das empresas controladas, adquirir a participação societária de
outras empresas.
4.2 VANTAGENS FAMILIARES

Infelizmente, as disputas entre familiares são conhecidas por serem uma espécie de
‘vale tudo’, no qual chamam a atenção de terceiros fofoqueiros. Assim, famílias
lançadas a mentiras muitas vezes decorrentes de meros boatos entram em conflito,
colocando em risco o negócio da família. Assim, na busca da vitória, todos perdem
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 72).

Dessa análise, percebe-se outra grande vantagem da constituição da holding, pois o


Direito Empresaria, mais especificamente o Direito Societário, tem regras que não
estão atreladas as emoções dos familiares da família, mas sim voltadas aos sócios da
empresa. Logo, percebe-se que com a constituição de uma holding os familiares terão
que obedecer as regras do direito societário, tendo que cada um atuar como sócio da
empresa, tendo que respeitar não apenas a lei, mas as regras do contrato social ou
estatuto social (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 72).

Desta forma, as relações submetidas ao Direito de Família são submetidas ao Direito


Societário, no qual há instrumentos mais eficazes para controlar os comportamentos
dos indivíduos (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 72 e 73).

Vale destacar que o contrato social ou estatuto social viabilizam a instituição de regras
especificas para a contenção de conflitos entre os sócios, regendo a convivência entre
os sócios, desde que de acordo com a lei e pelos princípios jurídicos (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 73).

Além do mais, ao ser constituída a holding como unidade de controle, afasta-se os


eventuais conflitos familiares do ambiente de produção (sociedades controladas).
Assim, os conflitos ocorrem apenas na holding, sendo ali mesmo, em síntese,
resolvidos, não afetando, ao menos de forma direta, as sociedades controladas
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 73).

A constituição dessa instância societária, no qual os conflitos são contidos no âmbito


da holding, são inúmeros. Um exemplo é que as decisões são tomadas em conjunto,
assim aquele vencido na disputa não pode associar-se a outro sócio, enfraquecendo,
consequentemente, a posição familiar, preservando, assim, o poder familiar (MAMEDE
e MAMEDE, 2017, p. 74).

Outra vantagem é a proteção contra atos de terceiros em razão das dívidas de um sócio.
Se a holding for constituída sob a forma de sociedade por quotas, simples ou
empresária, incluindo-se a sociedade limitada, a previsão de um quórum para a
aprovação de cessão de quota (s) para terceiros ou para o exercício do direito de
oposição ao ingresso de terceiros impedem o ato voluntário de cessão ou, também, para
a validação de gravame (penhor) sobre os títulos societários (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 82).

Contudo, cabe observar que isso não impede atos do Estado. Por exemplo, se um sócio
inadimplente tem suas quotas ou ações adjudicadas por um credor, esse credor não
pode simplesmente ser considerado como sócio da sociedade por deter as quotas ou
ações, para isso ele terá que ser aprovado pelos demais sócios. Caso os sócios não
aprovem a sua inclusão como sócio da sociedade, os valores das quotas ou ações
deveram ser pagos ao adjudicante, por exemplo, mantendo-se intacta o acervo de
quotas ou ações. Claro que o sócio que deu causa a adjudicação, se for o caso de
adjudicação, perderá a participação societária no montante adjudicado (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 83).

Destaca-se que essa proteção à holding, sociedade, pode ser dada até às sociedades por
ações, que são conhecidas em razão das ações serem títulos societários de circulação
ampla, se estipulado no estatuto social, essa circulação de ações pode ser restrita, a
bem da coerência societária. Claro que deve-se observar que mesmo que a circulação
das ações ou quotas sejam restritas, o credor não pode sair no prejuízo, o que se busca
é a proteção à sociedade familiar, não prejudicando aqueles sócios que nada tem a ver
com a dívida de outro (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 83).

Para além da mera proteção contra terceiros, também é possível dizer que
a holding permite proteção contra fracassos amorosos.

Mesmo que esse seja um assunto que muitos não tratem, ou tenham a esperança de
nunca acontecer, a proteção contra uma possível separação é algo de extrema
importância para se evitar dores de cabeça ao término de uma relação.
É sabido que os casais no momento em que estão se conhecendo, uma grande parcela,
não pensam na possibilidade de separação e como podem se precaver nesses casos,
pois ‘iludidos (as)’ pelo amor do momento acreditam que sua relação nunca se acabará.

Contudo, a realidade é diferente e se mostra cruel, pois no momento de uma separação


as juras de amor transformam-se em raiva e dor, fazendo com que o casal faça, em
muitos casos, de tudo para prejudicar o (a) seu (sua) antigo (a) companheiro (a).

Ainda tem que ser levado em consideração aquelas pessoas que apenas contraem o
relacionamento para tirar um proveito financeiro, pois acreditando que seu cônjuge
trará a certeza de vida fácil aplica este golpe que mesmo sendo antigo existe nos dias
atuais (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 84).

Percebendo essas circunstâncias, a holding pode ser uma excelente escolha para quem
quer se proteger dessas situações ou proteger seus herdeiros (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 84).

Para tanto, Mamede e Mamede explicam que “é possível, no ato


de constituição da holding, fazer doação de quotas ou ações gravadas com cláusulas de
incomunicabilidade, evitando que sejam alvo de uma partilha resultante de uma
separação ou divórcio (2017, p. 84).

Ainda há a possibilidade prevista no art. 1.911 do Código Civil, no qual há nos títulos a


cláusula de inalienabilidade, que implica na impenhorabilidade e incomunicabilidade
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 84).

Destaca-se que se a participação societária compõe a legitima, deve-se observar o


disposto no art. 1.848 do Código Civil, que diz que a clausula de inalienabilidade,
impenhorabilidade ou incomunicabilidade deve estar fundamentada (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 84).

Além do mais, conforme o art. 1.027 do Código Civil, no caso das sociedades


contratuais, ainda que limitada, o cônjuge ou convivente (sociedade de fato) está
impedido de exigir a sua parte em face da separação, devendo haver a liquidação das
quotas, permitindo aos demais sócios entregar-lhe em dinheiro e não a participação
societária, devendo o ex-cônjuge perder um naco de sua participação societária (aquilo
que os sócios pagaram ao meeiro será retirado de sua parte para indenizar os sócios)
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 85).

Já nas sociedades por ações não há essa limitação imposta por lei. Contudo, pode-se
dispor no estatuto social que o ingresso de qualquer sócio dependerá da anuência
unânime dos demais sócios. Assim, o ex-cônjuge ou ex-convivente poderá receber o seu
valor reembolsado, calculado conforme a Lei 6.404/76, podendo ser impedido de
ingressar na sociedade ou obtenha participação societária proporcional (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 84).

4.3 VANTAGENS FRENTE AO TESTAMENTO

O momento da sucessão é sempre um momento difícil, pois obviamente se estamos


falando em sucessão estamos falando na morte do titular dos bens.

Contudo, esse momento ainda pode ser mais desgostoso quando não há um
planejamento prévio. Essa falta de planejamento de um fato que deverá acontecer mais
cedo o mais tarde, que é a morte, acontece por um motivo simples, que é a certeza que
muitos tem que a morte deverá acontecer apenas com a sua velhice (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 92).

Contudo, o administrador empresarial não deve querer ditar o momento em que os


fatos devam ocorrer, mas sim preparar a sociedade para enfrentar os fatos possíveis
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 92).

Trabalhar com a ideia de sua própria morte não é, para a maioria, uma tarefa fácil, mas
se for observada a história verá uma série de pessoas que entendendo que o seu fim
poderia acontecer a qualquer momento, fez um planejamento de como seus bens
deveriam ser utilizados e repartidos, podendo, assim, manter seu legado por anos ou
até décadas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 92 e 93).

Sem sobra de dúvidas as pessoas que trabalham com a ideia de sua própria morte têm
uma vantagem incontestável, pois a verdade é que com a morte há a transferência dos
bens aos herdeiros, e se não houver um planejamento prévio poderá ocasionar uma
desordem e conflitos entre os herdeiros.

Veja-se como é definida a sucessão sem planejamento, conforme FIGURA 4:

FIGURA 4 - Hipótese de sucessão intestada

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 93.

Percebe-se que sem o planejamento ainda em vida, as disputas pelos bens ou por sua
administração são, em grande parte dos casos, quase certas, dividindo a opinião e
ocasionando discussões que poderiam ser evitadas se houvesse o planejamento de
como deveria se dispor dos bens ainda em vida.

Há casos incontáveis em que a morte repentina do detentor dos bens, iniciando-se, de


forma inesperada, o processo de sucessão familiar, faz com que a empresa sofra
grandes crises ou até mesmo vá à falência (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 94).

Assim, tem-se que o planejamento ainda em vida da sucessão familiar é de suma


importância, pois nunca se sabe quando a morte do detentor dos bens pode ocorrer.

Com a morte abre-se a sucessão e acontece a imediata transferência dos bens aos
herdeiros legítimos e/ou testamentário, conforme o art. 1.784 do Código Civil. Os
herdeiros necessários são os previstos no art. 1.854 do Código Civil, devendo
receberem, no mínimo, metade dos bens do falecido, conforme disposto no
art. 1.846 do Código Civil, parte essa que constituía a legitima (BRASIL, 2002).
Visto isso, cabe observar que há dois problemas a serem observados no caso de haver
mais de uma empresa nos bens a se partilhar, que são: 1º a administração durante o
processo de inventário e; 2º a discussão dos herdeiros sobre os seus quinhões
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 94 e 95).

Quanto aos herdeiros testamentários, ou seja, aqueles que foram dados bens através da
realização de um testamento, estes só podem deter até metade dos bens no caso de
existência de herdeiros necessário, conforme disposto no art. 1.789 (BRASIL, 2002).

Mamede e Mamede (2017, p. 95) ainda explicam que “é possível atribuir, por meio de
testamento, determinados bens para cada herdeiro, mesmo se, em face dessa
distribuição, um herdeiro receber mais do que o outro, desde que respeitada a
legítima”.

Destaca-se, ainda, que a legítima não afasta o direito da indicação dos bens que cada
herdeiro deverá receber, desde que seja respeitada os limites legais. Por exemplo, um
herdeiro pode herdar uma casa, outras quotas em uma empresa, outro um depósito
bancário, e assim vai, mas a quota parte legitima deve ser respeitada. Se o patrimônio
fosse de R$ 100.000,00, e houvesse 2 (dois) herdeiros, o mínimo que cada um deveria
receber seria de R$ 25.000,00, mas metade do patrimônio poderia ser livremente
distribuída, não impedindo que um herdeiro recebesse R$ 25.000,00 e outro
75.000,00, é o que diz o art. 1.849 do Código Civil (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
96).

Veja-se exemplos trazido na FIGURA 5 quanto a sucessão através do testamento:


FIGURA 5 - Hipótese de sucessão testada

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 96.

Assim, tem-se que o testamento apenas permite a divisão antecipadas dos bens, caso
não ocorra alguma nulidade, é claro. Contudo, ele não resolve o problema da
administração da (s) empresa (s), pois esse encargo caberá aos herdeiros decidirem,
podendo, aqui, acontecer conflitos familiares (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 97).

4.4 VANTAGENS FRENTE A ANTECIPAÇÃO DA LEGÍTIMA

O detentor dos bens deve na hora de fazer a distribuição de seu patrimônio aos
herdeiros atentar-se quais as habilidades de cada um e as necessidades da (s) empresa
(s), visto que seus atos além de repercutir entre os sócios, repercutem entre os
trabalhadores, fornecedores, clientes etc. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 99).

É certo que o Direito Sucessório não supre essa necessidade de se planejar qual a
melhor administração à sociedade, mas se somar com o Direito Societário, pode-se
planejar tanto a sucessão quanto como os bens serão dispostos após a morte
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 99).

Esse planejamento, mesmo quando os herdeiros (sócios) não demonstram qualquer


divergência entre si, é de suma importância, pois com a morte do titular dos bens a
família é lançada a uma grande burocracia, na qual até os melhores profissionais
podem levar longo período para resolver a partilha (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
99).

Observe-se a FIGURA 6 no que se refere a sucessão com a holding familiar:


FIGURA 6 - Hipótese de sucessão com a Holding Familiar

FONTE: MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 100.

Dessa forma, com a constituição da holding todos os atos referentes a sucessão já estão


pré-estipulados, havendo inclusive consolidada qual a melhor administração à
empresa, se por sócios ou por profissionais contratados, não dando margens para
brigas e disputas, pois todos os herdeiros são os sócios e devem respeitar os outros
sócios, conforme condições do contrato ou estatuto social (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 100).

Vale ressaltar que essa participação dos herdeiros (sócios) na sociedade poderá ser
distribuída antes ou após a morte do seu detentor, no qual antes da morte deve ocorrer
por doação, caracterizando adiantamento de legítima, ou se for após a morte, ocorrerá
pelo testamento, mantendo-se, assim, o controle da holding com os ascendentes até a
morte (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 100 e 101).

Ainda há uma terceira forma de se transferir a propriedade dos títulos societários


(quotas ou ações) que é através do usufruto, no qual o genitor pode manter-se na
condição de usufrutuário e, assim, manter a administração da holding (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 100).

Outro grande aspecto relevante que vale ser observado é a proteção que os pais podem
dar ao transferir suas propriedades aos seus filhos, aplicando-se uma cláusula de
proteção (cláusulas restritivas). Dessa forma, basta transferir os títulos com cláusula de
incomunicabilidade e esses títulos estarão excluídos da comunhão, conforme
art. 1.668 do Código Civil, havendo direito do cônjuge receber apenas os frutos desses
títulos (art. 1.669 do Código Civil). Se o título for gravado com cláusula de
inalienabilidade, por força do art. 1.911 do Código Civil esse título também será
impenhorável e incomunicável. Contudo, destaca-se que o testador, nos bens que
façam parte da legítima, salvo se for justificável com justa causa, não pode estabelecer
clausula de impenhorabilidade, inalienabilidade e incomunicabilidade, visto o disposto
no art. 1.848 do Código Civil (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 101).

Ainda, destaca-se, conforme o disposto no art. 979 do Código Civil, que além de serem


arquivados e averbados no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro
Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o
título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou
inalienabilidade. Sem isso, os atos não poderão ser opostos a terceiros (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 101).

4.5 VANTAGENS FISCAIS

Muitos acreditam que a constituição de uma holding, ou como estudado no presente


trabalho da holding familiar, haverá uma vantagem fiscal na hora da sucessão.
Infelizmente essa afirmação não é correta, pois nem sempre a constituição de
uma holding significará menos gastos fiscais. Tudo vai depender de cada caso, mas em
muitas situações a holding não é a melhor opção, pois deve-se levar em conta que se ela
for constituída poderá ter que arcar com tributos que as pessoas naturais não devem
arcar, como a Cofins e o PIS (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 102).

No Brasil a transmissão de bens inter vivos ou causa mortis é tributada em 4% sobre o


valor dos bens transferidos. Contudo, deve-se observar que mesmo que a doação em
vida tenha a mesma carga tributária do que a transferência causa mortis, seus
benefícios são visíveis, pois é muito mais prático a transferência dos bens em vida, do
que após a morte, através de um longo processo de inventário (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 102).

Destaca-se que há muitas situações em que os mesmos fatos estão submetidos a


alíquotas diferentes a depender se for pessoa física ou jurídica, como no caso da
tributação de rendimentos, pois nos casos em que a tributada é pessoa jurídica em
razão da venda de imóvel há mais vantagens do que se fosse uma pessoa física. A
pessoa jurídica deve provisionar valores, visando formar reservas de lucros. Assim, os
valores ganhos pela empresa não estão imediatamente disponíveis, não podendo ser de
imediato tributado pelo imposto de renda (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 103).

De qualquer forma, o Direito Tributário está em constante alteração, razão que


demonstram que mesmo que se faça um longo planejamento tributário, cada vez mais é
necessário estar se atualizando as mudanças e intervindo no planejamento realizado,
em razões de novas determinações para situações que muitas vezes já estavam
consolidadas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 103).

Antes de ser formada uma holding, é de suma importância analisar a realidade vivida


pela empresa e seus sócios, pois nem sempre essa é a melhor das opções (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 104).

Vale observar que no Brasil hoje os órgão fazendários lançam de maneira assustadora
um emaranhado de tributos, nos quais os contribuintes não são capazes de
acompanhar essas mudanças e muitas vezes acabam por cometerem ambiguidades
fiscais, ou seja, posturas diversas para as mesmas hipóteses (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 104).

Vistos esses aspectos, vale ter em mente que a holding familiar pode ser uma grande
solução a esses problemas, pois como ela tem papel centralizado, organizando todas as
sociedades cooperadas, sua postura uniforme, visando as melhores práticas tributárias,
permite que erros sejam evitados, pois assim todas as sociedades terão que seguir suas
recomendações, e não ficam à mercê do que cada administrado das cooperadas ache
melhor, evitando-se o pagamento de tributos indevidos e consequente prejuízos
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 104).

Por vezes as empresas não percebem vantagens tributárias que simplesmente não são
utilizadas, de modo que com a organização e controle societário pela holding familiar,
possíveis benefícios tributários poderão ser aproveitados (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 105).

Quanto a esses possíveis benefícios tributários, Petrin e Rios (PETRIN e RIOS, 2014)
explicam que:
[...] os benefícios podem haver ou não, de acordo com o caso e a estrutura societária de
cada empresa. Portanto, não é correto ver a constituição da holding familiar com a
garantia de menor recolhimento de tributos. A avaliação de um especialista é
indispensável para análise dos cenários fiscais.

Alguns tributos incidentes no processo de inventário ou testamento, por meio


da constituição da holding podem ser evitados ou amenizados. Entre esses tributos
estão o Imposto sobre a Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI), já que a transmissão é
feita mediante a integralização de capital e bens e direitos (PETRIN e RIOS, 2014, p.
09).

Além do mais, por mais que muitos tributos ainda tenham que ser pagos mesmo com
a constituição da holding familiar, há de ser observado que haverá outros benefícios,
como a ausência de incidência das taxas judiciárias, em virtude da antecipação da
sucessão, evitando-se a propositura da ação de inventário e o pagamento com os
honorários dos advogados que atuam nessas causas (PETRIN e RIOS, 2014, p. 10).

A não ser que o titular dos bens tenha bens que não estão integralizados na holding,
não haverá bens a inventaria, já que estará diante da partilha feita em vida
(BIANCHINI, GONÇALVES, et al., 2014, p. 6 e 7).

Sobre o tema, Petrin e Rios (2014, p. 15-17) fizeram um experimento, no qual


simularam uma sucessão com a constituição da holding e uma sem. Veja-se os
resultados obtidos:

TABELA 2 – Valores gastos com a sucessão realizada sem a Holding

FONTE: PETRIN e RIOS, 2014, p. 15.


TABELA 3 – Valores gastos com a sucessão realizada com a Holding

FONTE: PETRIN e RIOS, 2014, p.16.

Ou seja, segundo a pesquisa de Petrin e Rios, no caso em que o valor total da herança
fosse de R$ 8.370.000,00 (oito milhões e trezentos e setenta mil reais) a diferença em
uma sucessão realizada através da holding familiar seria de R$ 1.732.110,00 (hum
milhão, setecentos e trinta e dois mil e cento e dez reais).

Entretanto, como já aludido no presente trabalho, não há como ser ignorado que a
presente pesquisa é apenas um exemplo, mas que com o tempo pode não ter mais
sentido útil, devidas as constantes alterações nas legislações referentes a sucessão.

Além do mais, no caso apresentado não foram apresentados os gastos próprios da


empresa, a depender do tipo societário adotado para a constituição da holding.

Contudo, não há como negar que pessoas com patrimônio relativamente alto não
podem simplesmente ignorar a existência da holding, pois além de trazer inúmeros
benefícios, que vão muito além de uma possível economia tributária, conforme
exaustivamente exposto, pode sim trazer uma economia interessante no momento da
sucessão, conforme exemplo acima exposto.

De qualquer forma, a constituição de uma holding envolve a análise de uma série de


fatores, pois dependendo do tipo societário ela pode ou não ser a melhor opção. Essa
análise dependerá de cada caso, tendo que se ter em mente a diversidade de tributos,
taxas, e entre outras cobranças trazidas pelo Estado (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
105).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais percebe-se que a holding é bem aceita, sendo muito eficaz para se ter
um controle dos bens, economia e organização na hora da sucessão, ponto
importantíssimo do trabalho, visto que ela pode substituir o testamento e facilitar a
sucessão, já que, em regra, no momento do evento morte do titular dos bens a
continuidade dos negócios e divisão dos bens, por quotas ou ações, já estará
estruturada, não havendo grandes surpresas e muitas margens para discussões entre os
herdeiros.

Mesmo concordando que este tipo de empresa é muito eficaz para o planejamento
sucessório, entre tantos outros benefícios, deve-se ter em mente que não é para todos,
visto que para pessoas que detém bens com pouco valor econômico a holding pode não
ser a melhor opção. Esta observância deve-se em razão que a abertura desse tipo de
empresa é muito eficiente e traz muitos benefícios, mas para quem detém um valor
econômico baixo ela pode ser uma opção muito onerosa, pois neste caso um de seus
grandes benefícios que é a economia na transmissão de bens pode não valer a pena em
razão dos gastos decorrentes de uma empresa, como impostos, contador, e outros
gastos inerentes as empresas.

Além do mais, foi demonstrado que uma possível economia fiscal no momento da
sucessão é apenas um dos benefícios trazidos pela holding, já que se bem usada
possibilita uma estruturação empresarial duradoura, uniformizando-se a
administração de outras empresas e possibilitando que cada herdeiro tenha o seu papel
no grupo empresarial segundo as suas habilidades, evitando-se enormes problemas
futuros, coisa que só o Direito Sucessório não é capaz.

Hoje em dia, quando se fala em planejamento sucessório, as possibilidades são


limitadas e na maioria das vezes são muito onerosas e sem a certeza que os (as)
herdeiros (as) usarão de maneira correta os bens deixados ou, ainda, que não haverá
brigas no momento do inventário. A holding serve exatamente para evitar isso, além de
ser uma excelente forma de planejamento sucessório, ainda emprega uma economia na
transmissão e agilidade no processo de inventário, podendo-se evitar futuras brigas
entre os sucessores, já que deverão não apenas obedecer às regras do Direito
Sucessório, mas também as regras do Direito Empresarial e em especial do ato
constitutivo da sociedade empresarial denominada holding.

Dessa forma, conclui-se que a holding já teve um importante avanço desde sua criação,
mas ainda há muito que evoluir, visto que ela pode ser uma solução para muitos e
ainda poucos usufruem de seus benefícios.

Acredito que com o tempo, após o melhor conhecimento da sociedade dessa forma
empresarial, ela passe a ser muito mais comum do que nos dias atuais, afinal, quem
mais a divulga é a doutrina, não tendo o estado dado uma grande importância para este
tipo de empresa.

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