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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo foi baseado em um trabalho que realizei no tempo da faculdade e tem
o propósito de fazer uma abordagem sobre a holding familiar e suas características, a
depender do tipo empresarial adotado para sua constituição. Para tanto, entender os
principais pontos das formas societárias existentes no Brasil é essencial para verificar
qual a espécie societária que melhor se adapta aos seus desafios.
Dessa forma, inicialmente será realizada uma análise sobre as sociedades empresariais
existentes no Brasil, fazendo-se uma explanação sobre as diferentes formas de
responsabilidades dos sócios.
Apesar desse assunto ser importante, a pouco tempo passou a ser dada mais atenção
para este tipo de empresa e sua influência nos campos organizacionais, principalmente
em meios acadêmicos, por isso a necessidade de estudá-la.
Por outro lado, as holdings estão amplamente divulgadas pela doutrina, como opção a
facilitar a administração e a sucessão dos bens do seu titular, em razão que
muitas holdings são formadas justamente com este único propósito, além de, em
alguns casos específicos, propiciarem uma grande economia fiscal após a morte de seu
proprietário.
O objetivo geral é demonstrar quais os benefícios que a holding pode trazer aos seus
sócios, visto que a maioria das pessoas desconhecem este tipo de empresa e quando
conhecem não entendem que suas vantagens vão muito além da economia fiscal e
organização sucessória.
2 A HOLDING
Entretanto, esse critério de organização dos fatores de produção tem suas exceções,
como no caso das sociedades por ações, quem sempre serão empresárias, ou nos casos
das sociedades cooperativas, que serão sempre simples (COELHO, 2009, p. 111).
Sobre o tema, Sílvio de Salvo Venosa e Cláudia Rodrigues (2010, p. 91) explicam,
também, que “Segundo o vigente Código Civil, a sociedade que tenha por objeto o
exercício da atividade própria de empresário sujeito a registro será considerada
sociedade empresária, enquanto as demais serão consideradas simples”.
Esses aspectos são de suma importância e devem ser levados em consideração, pois a
depender da escolha da forma societária o empresário não poderá optar, futuramente,
pelo processo de falência ou de recuperação judicial, o que pode ser considerado ruim
ao ponto de vista de um e, talvez, vantajoso ao olhar de outro, haja vista a sua
estratégia empresária.
Visto isso, é de suma importância observar que certo conjunto societário tem seu
regime de constituição e dissolução regidos pelo Código Civil e outro grupo rege-se pela
Lei nº 6.404/76 (COELHO, 2009, p. 120).
Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 120) ensina que segundo o critério de classificação
quanto ao regime de constituição e dissolução tem-se:
Analisados esses aspectos societários, vale ressaltar que as sociedades contratuais tem
sua constituição e dissolução regidos pelo Código Civil, enquanto as sociedades
institucionais regem-se pela Lei nº 6.404/76 (RAMOS, 2014, p. 227).
Sobre as Sociedades Contratuais, o Código Civil determina que podem ter quatro tipos
societários, nos quais deve-se observar se o tipo se enquadra em sociedade simples ou
empresária. Os tipos societários existentes para a formação de uma sociedade
contratual simples são: sociedade simples (em sentido estrito ou comum), sociedade
em nome coletivo e sociedade em comandita simples ou sociedade limitada. Já as
sociedades empresárias contratuais podem ter os seguintes tipos: sociedade em nome
coletivo, sociedade em comandita simples ou sociedade limitada. Em todos esses tipos
descritos o capital social de cada sócio se fará por meio de quotas, daí também o nome
de sociedade por quotas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 109).
Nas sociedades contratuais, diz-se que a autonomia da vontade dos sócios para
a constituição do vínculo societário é máxima, podendo eles disciplinar as suas relações
sociais como bem entenderem, desde que não desnaturem o tipo societário escolhido.
Ramos (RAMOS, 2014, p. 227) explica que as sociedades de pessoas são as também
chamadas de intuitu personae e as sociedades de capital são as chamadas intuitu
pecuniae.
Entretanto, mesmo que cada tipo societário tenha suas características próprias, em
razão do princípio da autonomia da vontade, os sócios podem, por meio de cláusulas
dispostas nos atos constitutivos que devem se tornar públicas por meio do seu
arquivamento no registro, tonar uma sociedade que normalmente seria intuitu
pecuniae em intuitu personae ou fazer o inverso (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 111).
Assim, não se pode mais nos dias atuais afirmar que uma sociedade que normalmente
seria constituída intuitu personae, como é o caso das limitadas, ou intuitu
pecuniae, como é o caso das sociedades anônimas, realmente tem essas feições, pois
antes é necessário analisar os seus atos constitutivos (contrato ou estatuto social) para
verificar os aspectos neles previstos (RAMOS, 2014, p. 228).
Quanto às sociedades estatutárias, também chamadas de sociedades por ações ou
sociedades institucionais, são constituídas através de estatutos e não por contratos. O
estatuto social não registra um acordo recíproco de obrigações e faculdades, mas traz
as regras da instituição. Ou seja, a autonomia da vontade dos sócios nessas sociedades
é mínima (RAMOS, 2014, p. 227).
Esse tipo societário também é nomeado como companhias abertas, pois tem uma
maior dinâmica na alteração societária. Dessa forma, não serve para a constituição de
uma holding familiar, já que esse tipo empresarial serve para preservar o patrimônio
familiar, mantendo o poder familiar sobre as empresas controladas, não havendo a
alteração societária, salvo exceções autorizadas em contrato (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 114).
Como as sociedades por ações tem a natureza intuitu pecuniae, ou seja, a cessão livre
das ações é um elemento que compõe a essência das ações, a companhia que deseja
criar uma holding pode colocar cláusulas no estatuto social que mitiguem o risco de ser
desfeito o controle familiar. Contudo, não se pode simplesmente proibir a cessão das
ações ou obrigar que a maioria (simples, absoluta ou qualificada) autorizem essa
cessão. A opção para esse caso é criar um direito de preferência ou estipular o direito
de recesso (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 114 e 115).
Rodrigo Ferraz Pimenta da Cunha (2007, p. 318) explica que o acordo de acionistas é
caracterizado como um “pacto parassocial em que os acionistas envolvidos
convencionam, sobre a compra e venda de suas ações, o direito de preferência para
adquiri-las ou o poder de controle”.
Analisados esses aspectos quanto as sociedades contratuais e estatutárias, vale avaliar
a classificação quanto às condições de alienação da participação societária.
Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 121) ensina que “há sociedades em que os atributos
individuais do sócio interferem com a realização do objeto social e há sociedades em
que não ocorre essa interferência”.
Devida a tal realidade é que foi criado pelo direito comercial um grupo de sociedades
onde para um sócio alienar a terceiro a participação societária os demais sócios terão
que assim autorizar e outro grupo societário no qual a anuência dos demais sócios é
irrelevante (COELHO, 2009, p. 121).
Assim, conforme ensinado por Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 122) dividem-se as
sociedades quanto as condições de alienação como “a) Sociedades de pessoas – em que
os sócios têm direito de vetar o ingresso de estranho no quadro associativo.
b) Sociedade de capital – em relação às quais vige o princípio da livre circulabilidade
da participação societária”.
Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 123) ainda explica que “as sociedades institucionais são
sempre “de capital”, enquanto as contratuais podem ser “de pessoas” ou “de capital””.
Dessa forma, a holding na forma de sociedade estatutária pode se tornar, além de uma
forma para preservar o patrimônio familiar, um instrumento para otimizar esse
patrimônio e, até mesmo, aumentá-lo (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 116).
Para tanto, deve-se observar que a palavra holding advém de to hold, em inglês, que
significa segurar, deter, sustentar e etc. A expressão holding, contudo, não deve ser
vista apenas forma de segurar, deter, e afins, mas sim como forma de domínio. Isso
decorre em razão que uma holding é uma pessoa jurídica que atua como titular de bens
e direitos dos mais variados (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 13 e 14).
Mamede e Mamede (2017, p. 14) observam que a “holding (ou holding company) é uma
sociedade que detém participação societária em outra ou de outras sociedades. Tenha
sido constituída exclusivamente para isso (sociedade de participação), ou não
(holding mista)”.
Como a holding é nada mais do que uma sociedade empresarial, pode assumir diversas
formas. Assim, Mamede e Mamede (2017, p. 16) destacam, de uma forma muito
dinâmica, as diferentes formas de holding:
Holding pura: sociedade constituída com o objetivo exclusivo de ser titular de quotas
ou ações de outra ou outras sociedades. É também chamada de sociedade de
participação.
Veja-se que a holding tem diversas formas, cada uma com seu objetivo diferente,
devendo os proprietários dos bens verificar qual delas melhor supre suas necessidades.
As holdings são sociedades não operacionais que tem seu patrimônio composto de
ações de outras companhias. São constituídas ou para o exercício do poder de controle
ou para a participação relevante em outras companhias, visando nesse caso, constituir
a coligação. Em geral, essas sociedades de participação acionária não praticam
operações comerciais, mas apenas a administração de seu patrimônio. Quando exerce o
controle, a holding tem uma relação de dominação com as suas controladas, que serão
suas subsidiárias.
Dessa forma, percebe-se que, visto à amplitude de objetivos em que pode ser usada
a holding, foi necessário criar diferentes formas, cada uma com suas características
especificas, a fim de suprir as necessidades dos proprietários de diversos tipos de bens,
havendo, inclusive, holding que englobas mais de uma forma de holding, que é o caso
da holding familiar.
Pelas bocas dos que se atrevem a falar e explicar como poderia ser constituída
uma holding, há equívocos comuns mencionado, inclusive, por certos doutrinadores.
Entre esses equívocos existem os mais variados, desde de pessoas que afirmam que
a holding só pode ser uma sociedade limitada, quanto quem afirme que
a holding possa ser uma sociedade simples. Há, ainda quem afirme que só quem pode
ser sócio de uma holding é uma pessoa física, não sendo possível um dos sócios ser
uma pessoa jurídica, como outra sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 17)
Para suprir essa dúvida, Mamede e Mamede (2017, p. 17) explicam que:
A sociedade de participação pode ter todos os sócios que sejam pessoas físicas ou
pessoas jurídicas. Pessoas físicas podem ser sócias de pessoas jurídicas. Aliás, entre os
sócios pode haver, mesmo, outra ou outras sociedades de participação, o que não é
raro. Não há limitação sobre o tipo de pessoa, nem mesmo sua natureza jurídica. As
pessoas jurídicas podem ser até fundações ou associações. Portanto, uma única
sociedade operacional pode ser constituída por várias sociedades de participação
(holdings); em meio a tais sócias, pode haver pessoas naturais, assim como pode haver
outras pessoas jurídicas, como sociedades operacionais.
Ao ser analisado o conceito de holding, grande discussão se faz em relação se esse tipo
de sociedade pode ser caracterizado como simples ou empresária.
Dessa forma, muitos ainda confundem essas duas formas societárias, acreditando que
a holding apenas pode ser formada da forma simples ou empresária.
Para melhor explanação das espécies societárias simples e empresariais, observe-se a
FIGURA 1:
Percebe-se que de uma certa forma que esses dois tipos societários até são parecidos.
Dessa forma, percebe-se que a holding pode ser criada tanto como sociedade
empresarial, quanto como sociedade simples.
Além do mais, é importante observar que o direito brasileiro é embasado pelo princípio
da tipicidade societária, que significa que só pode ser criada uma sociedade, simples ou
empresaria, se seguida uma de suas formas (tipos) previamente previstas na legislação.
Não há como formar uma sociedade mista, com um pouco de cada forma prevista em
lei. Contudo, isso não significa que todas são padronizadas, pois cada tipo de sociedade
tem características mínimas a serem seguidas e vedadas, no qual superado esses
padrões há um grande espaço, para os contratos sociais e estatutos sociais, a ser
explorado com o objetivo em ser dada uma cara própria à sociedade (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 21).
Sobre o contrato social, Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 129) explana que “é uma espécie
bastante peculiar de contrato. As normas gerais de direito civil, pertinentes aos
contratos, não podem, pura e simplesmente, ser aplicadas à disciplina do contrato
social, em razão mesmo de suas particularidades”.
Já nas sociedades estatutárias o foco é na pessoa jurídica que se constitui, razão pela
qual no estatuto social, ato constitutivo desse tipo societários, sequer lista-se seus
membros, ou seja, sequer traz a lista de seus sócios, fazendo referência apenas aos
sócios fundadores da sociedade. Nas sociedades estatutárias, também chamadas de
sociedades institucionais, em razão que o foco principal é no ente constituído, em tese,
os membros entram e saem sem que haja a alteração no ato constitutivo. Assim, os
sócios não matem relação jurídica direta entre si, não podendo se falar em
reciprocidade entre os acionistas ou cooperados. Os direitos e deveres são apenas com
a sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 21).
Destaca-se que a regra geral é que qualquer pessoa, física ou jurídica, pode ser sócia de
uma sociedade simples ou empresária. Há algumas limitações, como sociedades
contratuais ajustadas entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de
bens ou pelo regime da separação obrigatória de bens. Contudo, no Direito Brasileiro
existem algumas pessoas atuem como empresárias (registrar-se como firma
individual), as quais também, dessa forma, não podem exercer a função de
administradores societários, a exemplo: Juízes, Promotores, Servidores Públicos,
Militares da ativa, o falido, caso não sejam declaradas extintas suas obrigações, os
moralmente inidôneos e os estrangeiros com visto temporário (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 22 e 23).
A holding quando começou a ser criada, época em que a legislação era muito diferente
de agora, era considerada por muitos como um delito econômico, decorrente de
objetivos sinistros com o objetivo de obter fins fraudulentos (LODI e LODI, 2004).
Contudo, com o advento da Lei nº 6.404/76, mais especificamente em seu art. 2º, § 3º,
que dispõe que a companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades,
a holding foi colocada definitivamente como forma jurídica (LODI e LODI, 2004).
Além do mais, com o novo Código Civil, Lei nº 10.406/2002, percebe-se que
a holding se tornou uma excelente forma de planejamento familiar e, talvez, a melhor
forma de se proteger a família, visto que as regras expostas no mencionado diploma
muitas vezes podem ser injustas e confusas na visão de muitos (LODI e LODI, 2004).
Agora que a holding está sendo aceita pela sociedade como uma forma lícita de se
planejar o futuro e manter o controle de outras sociedades e investimentos,
aproveitando os mais variados benefícios dessa forma empresária, o temor de muitos é
que a Receita Federal vendo esses fatos arrume uma maneira de bloquear os benefícios
que a holding trás para tentar cobrar mais impostos e afins dos seus contribuintes.
Caso isso ocorra, a Receita terá que aguentar uma forte perseguição de um grupo que
querem pagar menos impostos, não visando àqueles que não querem pagar nada
(LODI e LODI, 2004).
Visto isso, deve-se estar atento ao instituto da subscrição, que é o ônus que cada sócio
se comprometeu a investir na sociedade e, assim, integralizar o capital social. O sócio
pode assumir um ou mais títulos (quotas ou ações). Como esses títulos correspondem
uma parcela do capital social, se não forem transferidos à sociedade no ato da
assinatura do contrato ou estatuto social, deve ocorrer posteriormente na forma e no
prazo estipulado pelo contrato ou estatuto (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 117).
A integralização do capital social não precisa ocorrer apenas por dinheiro, mas por
qualquer tipo de bem ou expressão econômica que possa ser atribuído um valor
proveniente da moeda em curso no país. Em certos casos, como na sociedade em nome
coletivo, sociedade simples e sociedade em comandita simples, permite-se que a
integralização ocorra por meio de prestação de serviço (RAMOS, 2014, p. 239).
A integralização também pode ocorrer através de um terceiro, por ato em vida (inter
vivos) ou em função da morte (causa mortis). Não há vedação legal que um terceiro
invista no nome de um dos sócios na sociedade. Aliás, essa é uma via comum
nas holdings familiares (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 118).
Ressalta-se que a depender dos bens que formaram a sociedade será a sua espécie, já
que há uma certa liberdade dos bens que possam integralizar o capital social. Por
exemplo, se a sociedade (holding) for integralizada exclusivamente por participação
societária será uma sociedade de participação, ou se for integralizada exclusivamente
por bens imóveis será considerada uma sociedade imobiliária (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 119).
Ao ser realizada a integralização do capital social, espera-se uma total boa-fé dos
sócios, pois, conforme disposto no artigo 447 do Código Civil, se os bens transferidos
para a integralização do capital social forem pertencentes a outrem, o alienante (o
sócio) responde pela evicção, que são os prejuízos sofridos pelos cessionários, no caso a
sociedade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 119).
Já para as sociedades anônimas a Lei 6.404/76 determina que haja três avaliações dos
bens por perito ou sociedade especializada (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120).
Por fim, deve-se observar a integralização dos bens nas sociedades por ações. Aqui a
integralização também não precisa ser exclusivamente em dinheiro, mas pode ocorrer
por qualquer tipo de bem suscetível de avaliação em dinheiro (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 120).
Nas sociedades por ações os bens apresentados pelos sócios para integralizar o capital
social deveram, obrigatoriamente, segundo a Lei 6.404/76, ser avaliados por três
peritos e/ou por empresa especializada. Esses peritos ou empresa especializada
respondem juntamente com o sócio detentor desse bem por quaisquer prejuízos que
um terceiro possa a vir sofrer devido a um valor avaliado que não condiz com a
realidade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 120 e 121).
Além do mais, se o valor pelo qual for transferido o bem à sociedade for superior do
valor real do bem, constante na declaração de bens, deve o sócio detentor de tal bem
pagar Imposto de Renda, conforme decidido no julgamento do Agravo Regimental no
Recurso Especial 1.016.766/PR pela Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 122 e 123).
Venosa explica que “suceder é substituir, tomar o lugar de outrem no campo dos
fenômenos jurídicos. Na sucessão, existe uma substituição do titular de um direito.
Esse é o conceito amplo de sucessão no direito” (2011, p. 01).
Dessa forma, o comprador sucede ao vendedor na titularidade de uma coisa, e assim
por diante (VENOSA, 2011, p. 01).
A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o
lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. Numa compra e
venda, por exemplo, o comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos
que a este pertenciam. De forma idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo
acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito.
Venosa (2011, p. 01) também diz que “sempre que uma pessoa tomar o lugar de outra
em uma relação jurídica, há sucessão. A etimologia da palavra (sub cedere) tem
exatamente esse sentido, ou seja, de alguém tomar o lugar de outrem.”
Contudo, no direito faz-se uma linha divisória entre sucessão que deriva de um ato
entre vivos, como um contrato, e a que deriva ou tem causa a morte (causa mortis),
quando os direitos e obrigações da pessoa que morre transferem-se para seus herdeiros
e legatários (VENOSA, 2011, p. 01).
Dessa forma, ao se falar, na ciência jurídica, em direitos das sucessões, está tratando de
um campo específico do direito civil: a transmissão de bens, direitos e obrigações em
razão da morte (VENOSA, 2011, p. 01).
Clóvis Beviláqua (1945, p. 44) conceitua o direito das sucessões como “o complexo dos
princípios segundo os quais se realiza a transmissão do patrimônio de alguém que
deixa de existir”.
Menciona-se, ainda, a excelente definição dada por Carlos Maximiliano (1952, p. 02)
que assim entende:
Dito isso, tem-se que a palavra sucessão não decorre apenas de atos praticados
exclusivamente por vivos, mas também pela morte, que é o foco do presente trabalho.
A sucessão a título singular, no direito hereditário, ocorre por via do testamento, sendo
o bem certo e determinado de seu patrimônio, um legado. Cria-se assim a figura do
legatário, o titular do direito, e o legado, o objeto da instituição feita no testamento
(VENOSA, 2011, p. 02).
[...]
Visto isso, vale ressaltar que ao ser criada a holding familiar os limites legais impostos
por lei referente a sucessão devem ser respeitados.
Conforme o disposto no art. 1.786, a herança dá-se por lei ou por disposição de última
vontade. Quanto a herança por lei não há dúvidas, pois o Código Civil traz várias regras
que devem ser respeitadas, como será visto à frente. No que diz respeito à disposição
de última vontade, essa ocorre através do testamento, no qual o de cujus deve obedecer
às regras também impostas pelo Código Civil, como respeitar os bens pertencentes aos
herdeiros necessários, pois tais bens constituem a legítima, conforme
artigo 1.846 do Código Civil (BRASIL, 2002).
[...] a sucessão, considerando-se a sua fonte, pode ser legítima ou ‘ab intestato’ e
testamentária. Quando se dá em virtude da lei, denomina-se sucessão legítima; quando
decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo,
chama-se sucessão testamentária (GONÇALVES , 2008, p. 24).
Destaca-se que a vocação hereditária, aquela proveniente da lei, deve prevalecer
quando não for possível cumprir com o testamento (VENOSA, 2011, p. 08).
Assim, não ocorre quando fala-se de legado, pois como é a manifestação de última
vontade do de cujus, o bem é determinado. O legatário ao ler o testamento sabe, em
regra, qual bem, móvel ou imóvel receberá, já que sucede a título singular (VENOSA,
2011, p. 09).
No testamento pode ser disposto a divisão dos bens para um terceiro, por exemplo,
mas há a possibilidade de ser realizado o testamento para alguém que pela lei já teria
direito a herança (VENOSA, 2011, p.10).
Outro ponto que deve ser observado é que o legatário não responde pelas dívidas do
espólio, cabendo ao herdeiro, na porção de seu quinhão, responder por elas (VENOSA,
2011, p. 10).
De acordo com Cáio Mário da Silva Pereira (1984, p. 186), “o legado consiste em uma
coisa definida e muito se assemelha a uma doação, constando apenas de um
testamento e não de um contrato”.
Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 19) define o princípio da saisine como sendo o qual
“o próprio defunto transmite ao sucessor a propriedade e a posso da herança”.
Entretanto, para que a transmissão ocorra é necessário que o herdeiro exista no tempo
da transmissão e que a esse tempo seja capaz de herdar (GONÇALVES , 2008, p. 20).
[...]
Tanto as pessoas naturais como as jurídicas, de direito público ou privado, podem ser
beneficiadas. [...] Caducam as disposições testamentárias que beneficiarem pessoas já
falecidas, pois a nomeação testamentária tem caráter pessoal (intuitu personae).
Discutida a legitimidade para herdar, passa-se agora a análise sobre o aceite e renúncia
da herança.
Como ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade, este pode renunciar a herança,
embora na maioria dos casos oferta e aceitação sejam imperceptíveis (VENOSA, 2011,
p. 16).
Aceitação ou adição da herança é o ato pelo qual o herdeiro anui à transmissão dos
bens do de cujus, ocorrida por lei com a abertura da sucessão, confirmando-a.
Trata-se de uma confirmação, uma vez que a aquisição dos direitos sucessórios não
dependem da aceitação.
Sobre a faculdade de deliberar do herdeiro, Walter Moraes (1980, p. 51) explica que:
[...] é uma decorrência necessária da ordem das coisas. Por uma parte a transmissão
imediata da herança é um imperativo de continuidade ininterrupta da vida jurídica do
patrimônio do de cujus, porquanto não é admissível que tal patrimônio fique por algum
tempo vago e sem titular, aberto às depredações. Por outra, contudo, repugna à índole
essencial do direito o ser alguém obrigado a ingressar numa situação patrimonial nova,
contra a sua vontade.
Caso o herdeiro aceite a herança, o seu efeito será retro-operante, ou seja, retroage à
data da abertura da sucessão, que é o momento do evento morte (VENOSA, 2011, p.
16).
Como já aludido, ninguém será obrigado a herdar. Contudo, caso o herdeiro aceite a
herança, de forma escrita ou tácita, a transmissão torna-se definitiva desde o momento
da morte do de cujus, não podendo mais o herdeiro simplesmente renunciar a herança,
conforme disposto no art. 1.804 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Conforme alude Miranda (1973, p. 18) “pelo princípio da saisine, tudo se transmite
como estava no patrimônio do de cujus. Transmitem-se também as dívidas, pretensões
e ações contra ele (...)”.
Whasington de Barros Monteiro (1977, p. 46) diz que a aceitação da herança pelo
herdeiro “é o ato jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara que deseja ser
herdeiro e recolher a herança”.
Ou seja, por mais que pelo princípio da saisine a herança seja transmitida no momento
do evento morte, o herdeiro não é obrigado a aceita-la, pois deve-se sempre ser levado
em consideração que junto com os bens o herdeiro também receberá as dívidas e em
muitos casos o mais aconselhável é renunciar a herança para deixar sobre a
responsabilidade do espólio o dever de saudar as dívidas do de cujus.
3.2 RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE TESTAR
Caso o testador tenha herdeiros necessários, não terá plena liberdade de testar, em
razão do disposto no art. 1.846 do Código Civil. Caso isso ocorra, o testador poderá
dispor a terceiros até metade de seus bens, ficando a outra metade restrita aos
herdeiros necessários, especificados no art. 1.845 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Dessa forma, não havendo herdeiros necessário o testador poderá dispor de todo o seu
patrimônio, podendo afastar a sucessão dos colaterais (GONÇALVES , 2008, p. 25).
Dispondo o testador em seu testamento de uma parte de seu patrimônio, e essa parte
não equivalendo a metade de seu patrimônio, o remanescente será acrescido à legítima
dos herdeiros necessários (VENOSA, 2011, p. 160).
Vale ressaltar que o cônjuge sobrevivente nem sempre terá direito a metade dos bens
ao ser realizada a meação, pois a depender do regime de casamento, cada cônjuge
poderá ter trazido bens particulares, ou que por outra razão não se comunicam. Dessa
forma, como o cônjuge sobrevivente também é herdeiro
necessário, vide art. 1.845 do Código Civil, somente os herdeiros colaterais podem ser
afastados da herança por força do testamento (VENOSA, 2011, p. 160).
Dessa forma, a partilha deverá obedecer a vontade do testador, no que for possível
(VENOSA, 2011, p. 161).
Assim, aqueles herdeiros que já haviam recebido bens do testador devem apresenta-los
para calcular-se a legítima, para assim verificar quais as porções dos demais herdeiros,
conforme disposto no art. 1.847 do Código Civil, a não ser que fossem expressamente
dispensados de fazer (VENOSA, 2011, p. 162).
I – os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;
II – as pessoas jurídicas;
III – as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma
de fundação.
Sobre o tema, há de ser observado a exceção à regra, que é o inciso I, o qual admite que
filhos ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador possam herdar, se vivas
no momento da abertura da sucessão (evento morte). É o que chama-se de prole
eventual (GONÇALVES , 2008, p. 53).
Dessa forma, há de ser observado que o referido disposto trata-se exclusivamente dos
filhos de pessoas indicadas pelo testador, no qual qualquer pessoa que não seja filho (a)
e esteja viva no momento da morte do testador, não terá direito à herança, por exemplo
se for neta da pessoa indicada (GONÇALVES , 2008, p. 53).
Na hora do testador fazer seu testamento também deverá estar atendo aos
impedimentos de certas pessoas para serem herdeiras ou legatárias, conforme
disciplina o art. 1.801 do Código Civil (BRASIL, 2002). Veja-se:
II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;
Sobre o disposto no referido artigo, Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 191) esclarece
que:
Ressalta-se, ainda, que a referida restrição não excederá à vida do herdeiro. Ou seja,
não pode ultrapassar uma geração (GONÇALVES , 2008, p. 191-192).
Silvio Rodrigues (RODRIGUES , 2002, p. 129) ainda ensina que a cláusula de
inalienabilidade:
[...] visa proteger o herdeiro inapto contra sua própria inépcia, ou contra as loucuras e
extravagâncias do seu consorte. Dir-se-ia que o legislador agiu como um pai de filha
malcasada, que quer proteger a parte da herança que lhe será inexoravelmente
transmitida, e que descobre um meio de subtrair da mão desastrada do marido aqueles
bens, que do modo seriam por ele dissipados.
Isso ocorre devido que os bens gravados com essa cláusula não se comunicam,
independente do regime de casamento, ou mais, independendo se o herdeiro já estava
ou não com um relacionamento amoroso, pois a cláusula afeta o bem em si,
protegendo, também, o herdeiro de um relacionamento amoroso que ainda possa a
acontecer (VENOSA, 2011, p. 170).
Ou seja, há inúmeras características que podem ser adotadas pelo detentor do bem ao
instituir a impenhorabilidade.
Essa cláusula visa proteger o bem gravado de uma possível constrição judicial em
execução, por dívidas contraídas pelo herdeiro, restringindo, assim, a atuação dos
credores (GONÇALVES , 2008, p. 193).
Além do mais, o atual Código de Processo Civil, no inciso I do art. 833 dispõe que os
bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução são
impenhoráveis (BRASIL, 2015).
Entretanto, o próprio Código Processual dispõe em seu art. 834 que, na falta de outros
bens, os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis podem ser penhorados
(BRASIL, 2015).
Sobre o tema, Venosa (2011, p. 172) explica que caso o autor da herança especifique de
forma expressa que os frutos e rendimentos dos bens também estão excluídos da
possibilidade de impenhorabilidade, assim deve ocorrer e não deve ser aplicada a lei
processual.
Contudo, o que não serão penhorados são os frutos. Se o herdeiro transformar o
aluguel (fruto) em um investimento financeiro, por exemplo, essa restrição de penhora
deve desaparecer (VENOSA, 2011, p. 172).
Há uma corrente que admite que o testador pode gravá-los expressamente, juntamente
com a coisa principal. Merece ser prestigiada, entretanto, a corrente contrária, que
entende não poderem ser clausulados, para que a propriedade não se torne de todo
inútil ao dono. Como, não obstante, podem ser gravados com a impenhorabilidade,
consoante entendimento majoritário, uma cláusula que os onere também com a
inalienabilidade deve ser interpretada como relativa apenas à primeira restrição.
Somente os bens seriam inalienáveis, permanecendo disponíveis os frutos e os
rendimentos, embora impenhoráveis.
Ou seja, por mais que o testador tente proteger seus herdeiros através das cláusulas de
Inalienabilidade, Incomunicabilidade e Impenhorabilidade, deve entender que há
inúmeros parâmetros e regras a serem observadas, que visam assegurar a boa-fé de
quem utiliza desses artifícios legais.
As empresas familiares trazem outros benefícios, como acomodar os valores das novas
gerações, permitindo demonstrar suas habilidades em algum projeto. A constituição da
sociedade dá as novas gerações a oportunidade perdida, no mesmo tempo (OLIVEIRA,
2010, p. 25) que preserva o tronco principal da empresa ou grupo de empresas,
permitindo os fracassos de alguns projetos e até mesmo a falência, a exemplo de
quando adotada o tipo societário de sociedade limitada e a sociedade anônima, nas
quais a holding não responde de forma subsidiária pelas obrigações de alguma
controlada, protegendo, assim, o grupo empresarial que está sem obrigações pendentes
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 68).
Além do mais, a holding pode expandir aquela sociedade controlada que está tendo
bons resultados, ao mesmo tempo em que trata de maneira isolada aquelas sociedades
que estão passando por dificuldades, fora que com essa centralização do controle pode-
se, ainda, haver a redução de despesas operacionais (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
68 e 69).
Destaca-se que essa verificação de qual a melhor estratégia para a formação de uma
sociedade não depende só do direito, pois é imprescindível a participação de
profissionais especializados em administração de empresas, economia e contabilidade,
pois o direito apenas traz normas instrumentais, definindo limites lícitos,
procedimentos, requisitos e elementos. Esse diálogo entre especialistas de diferentes
áreas é importante para que o operador do direito possa redigir de forma adequada as
cláusulas, alterações e documentos, sempre com o fim de obter movimentos seguros
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 69).
Em segundo lugar, quanto à uniformidade administrativa, afirmam Mamede e
Mamede (2017, p. 70) que quando se tem várias empresas a holding é ideal para
centralizar a administração de todas, passando, assim, a ter um papel que vai muito
além de simplesmente ser a depositária das participações societárias, passando a
estabelecer metas, definindo processos funcionais uniformes, entre tantas
possibilidades existentes (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 70).
Vale destacar, também, como o operador do direito pode garantir que a holding tenha
esse papel de controle. Isso se faz através de cláusulas dispostas no ato constitutivo
da holding e de suas controladas, assim como documentos apartados que assegurem,
juridicamente, a predominância da holding sobre as sociedades controladas. Com essas
cláusulas a holding pode tomar medidas judiciais para assegurar sua predominância
sobre as sociedades que deveriam ser controladas por ela (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 71 e 72).
Pensando neste problema, e desafio para quem deseja fazer o seu planejamento
sucessório, sem ser injusto com o trabalho de cada herdeiro, é que a holding familiar é
citada como uma excelente opção.
Na constituição de uma holding familiar, nomeadamente uma sociedade de
participações (holding pura), todos os herdeiros com seus pais são colocados na mesma
posição de sócios. Como a holding pura não tem atividade operacional, a administração
pode ser exercida por todos os sócios, ou por apenas um sócio, caso em que esse sócio
administrador receberá pro labore, mas os lucros serão distribuídos entre os sócios,
independentemente se este trabalha ou não na sociedade, observando o capital social
de cada um (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78).
Em síntese, tem-se que, então, o direito ao pro labore nasce pelo trabalho dos
administradores, ou por meio de salário, para os funcionários, podendo o sócio ser
funcionário da empresa, já que a personalidade jurídica não se confunde. Já o direito
ao dividendo nasce com a titularidade das quotas ou ações, independendo de trabalho
na empresa (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 78).
Em quarto lugar, outra função da holding é encontrar quem deve suceder a gestão do
negócio mesmo após a morte do titular dos bens, resguardando a continuidade dos
negócios e até a sobrevivência dos membros da família, desde que não prejudique os
demais herdeiros. Isso porque a holding afasta do poder familiar a administração da
empresa controladora ou empresas controladas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 80).
Ainda, vale destacar que quando há vários herdeiros e pelos erros de um que queira
administrar a sociedade, em se tratado em sociedade por ações, esse fato não é o
suficiente para o sócio insatisfeito com a atuação do outro sócio utilizar o seu direito de
recesso (retirar-se da sociedade e receber a sua parte). Já nas sociedades por quotas, o
direito de recesso é admitido com mais facilidade (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 80).
Dessa forma, conclui-se que a administração profissional além de ser uma excelente
alternativa para aquelas sociedades nas quais os sócios não têm o conhecimento
necessário para administrá-las, de maneira alguma retira o poder dos sócios sobre a
sociedade, já que estes tem todo o direito de participar da sociedade, fiscalizando-a e
exigindo explicações do (s) administrador (es).
Infelizmente, as disputas entre familiares são conhecidas por serem uma espécie de
‘vale tudo’, no qual chamam a atenção de terceiros fofoqueiros. Assim, famílias
lançadas a mentiras muitas vezes decorrentes de meros boatos entram em conflito,
colocando em risco o negócio da família. Assim, na busca da vitória, todos perdem
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 72).
Vale destacar que o contrato social ou estatuto social viabilizam a instituição de regras
especificas para a contenção de conflitos entre os sócios, regendo a convivência entre
os sócios, desde que de acordo com a lei e pelos princípios jurídicos (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 73).
Outra vantagem é a proteção contra atos de terceiros em razão das dívidas de um sócio.
Se a holding for constituída sob a forma de sociedade por quotas, simples ou
empresária, incluindo-se a sociedade limitada, a previsão de um quórum para a
aprovação de cessão de quota (s) para terceiros ou para o exercício do direito de
oposição ao ingresso de terceiros impedem o ato voluntário de cessão ou, também, para
a validação de gravame (penhor) sobre os títulos societários (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 82).
Contudo, cabe observar que isso não impede atos do Estado. Por exemplo, se um sócio
inadimplente tem suas quotas ou ações adjudicadas por um credor, esse credor não
pode simplesmente ser considerado como sócio da sociedade por deter as quotas ou
ações, para isso ele terá que ser aprovado pelos demais sócios. Caso os sócios não
aprovem a sua inclusão como sócio da sociedade, os valores das quotas ou ações
deveram ser pagos ao adjudicante, por exemplo, mantendo-se intacta o acervo de
quotas ou ações. Claro que o sócio que deu causa a adjudicação, se for o caso de
adjudicação, perderá a participação societária no montante adjudicado (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 83).
Destaca-se que essa proteção à holding, sociedade, pode ser dada até às sociedades por
ações, que são conhecidas em razão das ações serem títulos societários de circulação
ampla, se estipulado no estatuto social, essa circulação de ações pode ser restrita, a
bem da coerência societária. Claro que deve-se observar que mesmo que a circulação
das ações ou quotas sejam restritas, o credor não pode sair no prejuízo, o que se busca
é a proteção à sociedade familiar, não prejudicando aqueles sócios que nada tem a ver
com a dívida de outro (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 83).
Para além da mera proteção contra terceiros, também é possível dizer que
a holding permite proteção contra fracassos amorosos.
Mesmo que esse seja um assunto que muitos não tratem, ou tenham a esperança de
nunca acontecer, a proteção contra uma possível separação é algo de extrema
importância para se evitar dores de cabeça ao término de uma relação.
É sabido que os casais no momento em que estão se conhecendo, uma grande parcela,
não pensam na possibilidade de separação e como podem se precaver nesses casos,
pois ‘iludidos (as)’ pelo amor do momento acreditam que sua relação nunca se acabará.
Ainda tem que ser levado em consideração aquelas pessoas que apenas contraem o
relacionamento para tirar um proveito financeiro, pois acreditando que seu cônjuge
trará a certeza de vida fácil aplica este golpe que mesmo sendo antigo existe nos dias
atuais (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 84).
Percebendo essas circunstâncias, a holding pode ser uma excelente escolha para quem
quer se proteger dessas situações ou proteger seus herdeiros (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 84).
Já nas sociedades por ações não há essa limitação imposta por lei. Contudo, pode-se
dispor no estatuto social que o ingresso de qualquer sócio dependerá da anuência
unânime dos demais sócios. Assim, o ex-cônjuge ou ex-convivente poderá receber o seu
valor reembolsado, calculado conforme a Lei 6.404/76, podendo ser impedido de
ingressar na sociedade ou obtenha participação societária proporcional (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 84).
Contudo, esse momento ainda pode ser mais desgostoso quando não há um
planejamento prévio. Essa falta de planejamento de um fato que deverá acontecer mais
cedo o mais tarde, que é a morte, acontece por um motivo simples, que é a certeza que
muitos tem que a morte deverá acontecer apenas com a sua velhice (MAMEDE e
MAMEDE, 2017, p. 92).
Trabalhar com a ideia de sua própria morte não é, para a maioria, uma tarefa fácil, mas
se for observada a história verá uma série de pessoas que entendendo que o seu fim
poderia acontecer a qualquer momento, fez um planejamento de como seus bens
deveriam ser utilizados e repartidos, podendo, assim, manter seu legado por anos ou
até décadas (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 92 e 93).
Sem sobra de dúvidas as pessoas que trabalham com a ideia de sua própria morte têm
uma vantagem incontestável, pois a verdade é que com a morte há a transferência dos
bens aos herdeiros, e se não houver um planejamento prévio poderá ocasionar uma
desordem e conflitos entre os herdeiros.
Percebe-se que sem o planejamento ainda em vida, as disputas pelos bens ou por sua
administração são, em grande parte dos casos, quase certas, dividindo a opinião e
ocasionando discussões que poderiam ser evitadas se houvesse o planejamento de
como deveria se dispor dos bens ainda em vida.
Com a morte abre-se a sucessão e acontece a imediata transferência dos bens aos
herdeiros legítimos e/ou testamentário, conforme o art. 1.784 do Código Civil. Os
herdeiros necessários são os previstos no art. 1.854 do Código Civil, devendo
receberem, no mínimo, metade dos bens do falecido, conforme disposto no
art. 1.846 do Código Civil, parte essa que constituía a legitima (BRASIL, 2002).
Visto isso, cabe observar que há dois problemas a serem observados no caso de haver
mais de uma empresa nos bens a se partilhar, que são: 1º a administração durante o
processo de inventário e; 2º a discussão dos herdeiros sobre os seus quinhões
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 94 e 95).
Quanto aos herdeiros testamentários, ou seja, aqueles que foram dados bens através da
realização de um testamento, estes só podem deter até metade dos bens no caso de
existência de herdeiros necessário, conforme disposto no art. 1.789 (BRASIL, 2002).
Mamede e Mamede (2017, p. 95) ainda explicam que “é possível atribuir, por meio de
testamento, determinados bens para cada herdeiro, mesmo se, em face dessa
distribuição, um herdeiro receber mais do que o outro, desde que respeitada a
legítima”.
Destaca-se, ainda, que a legítima não afasta o direito da indicação dos bens que cada
herdeiro deverá receber, desde que seja respeitada os limites legais. Por exemplo, um
herdeiro pode herdar uma casa, outras quotas em uma empresa, outro um depósito
bancário, e assim vai, mas a quota parte legitima deve ser respeitada. Se o patrimônio
fosse de R$ 100.000,00, e houvesse 2 (dois) herdeiros, o mínimo que cada um deveria
receber seria de R$ 25.000,00, mas metade do patrimônio poderia ser livremente
distribuída, não impedindo que um herdeiro recebesse R$ 25.000,00 e outro
75.000,00, é o que diz o art. 1.849 do Código Civil (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p.
96).
Assim, tem-se que o testamento apenas permite a divisão antecipadas dos bens, caso
não ocorra alguma nulidade, é claro. Contudo, ele não resolve o problema da
administração da (s) empresa (s), pois esse encargo caberá aos herdeiros decidirem,
podendo, aqui, acontecer conflitos familiares (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 97).
O detentor dos bens deve na hora de fazer a distribuição de seu patrimônio aos
herdeiros atentar-se quais as habilidades de cada um e as necessidades da (s) empresa
(s), visto que seus atos além de repercutir entre os sócios, repercutem entre os
trabalhadores, fornecedores, clientes etc. (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 99).
É certo que o Direito Sucessório não supre essa necessidade de se planejar qual a
melhor administração à sociedade, mas se somar com o Direito Societário, pode-se
planejar tanto a sucessão quanto como os bens serão dispostos após a morte
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 99).
Vale ressaltar que essa participação dos herdeiros (sócios) na sociedade poderá ser
distribuída antes ou após a morte do seu detentor, no qual antes da morte deve ocorrer
por doação, caracterizando adiantamento de legítima, ou se for após a morte, ocorrerá
pelo testamento, mantendo-se, assim, o controle da holding com os ascendentes até a
morte (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 100 e 101).
Outro grande aspecto relevante que vale ser observado é a proteção que os pais podem
dar ao transferir suas propriedades aos seus filhos, aplicando-se uma cláusula de
proteção (cláusulas restritivas). Dessa forma, basta transferir os títulos com cláusula de
incomunicabilidade e esses títulos estarão excluídos da comunhão, conforme
art. 1.668 do Código Civil, havendo direito do cônjuge receber apenas os frutos desses
títulos (art. 1.669 do Código Civil). Se o título for gravado com cláusula de
inalienabilidade, por força do art. 1.911 do Código Civil esse título também será
impenhorável e incomunicável. Contudo, destaca-se que o testador, nos bens que
façam parte da legítima, salvo se for justificável com justa causa, não pode estabelecer
clausula de impenhorabilidade, inalienabilidade e incomunicabilidade, visto o disposto
no art. 1.848 do Código Civil (MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 101).
Vale observar que no Brasil hoje os órgão fazendários lançam de maneira assustadora
um emaranhado de tributos, nos quais os contribuintes não são capazes de
acompanhar essas mudanças e muitas vezes acabam por cometerem ambiguidades
fiscais, ou seja, posturas diversas para as mesmas hipóteses (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 104).
Vistos esses aspectos, vale ter em mente que a holding familiar pode ser uma grande
solução a esses problemas, pois como ela tem papel centralizado, organizando todas as
sociedades cooperadas, sua postura uniforme, visando as melhores práticas tributárias,
permite que erros sejam evitados, pois assim todas as sociedades terão que seguir suas
recomendações, e não ficam à mercê do que cada administrado das cooperadas ache
melhor, evitando-se o pagamento de tributos indevidos e consequente prejuízos
(MAMEDE e MAMEDE, 2017, p. 104).
Por vezes as empresas não percebem vantagens tributárias que simplesmente não são
utilizadas, de modo que com a organização e controle societário pela holding familiar,
possíveis benefícios tributários poderão ser aproveitados (MAMEDE e MAMEDE,
2017, p. 105).
Quanto a esses possíveis benefícios tributários, Petrin e Rios (PETRIN e RIOS, 2014)
explicam que:
[...] os benefícios podem haver ou não, de acordo com o caso e a estrutura societária de
cada empresa. Portanto, não é correto ver a constituição da holding familiar com a
garantia de menor recolhimento de tributos. A avaliação de um especialista é
indispensável para análise dos cenários fiscais.
Além do mais, por mais que muitos tributos ainda tenham que ser pagos mesmo com
a constituição da holding familiar, há de ser observado que haverá outros benefícios,
como a ausência de incidência das taxas judiciárias, em virtude da antecipação da
sucessão, evitando-se a propositura da ação de inventário e o pagamento com os
honorários dos advogados que atuam nessas causas (PETRIN e RIOS, 2014, p. 10).
A não ser que o titular dos bens tenha bens que não estão integralizados na holding,
não haverá bens a inventaria, já que estará diante da partilha feita em vida
(BIANCHINI, GONÇALVES, et al., 2014, p. 6 e 7).
Ou seja, segundo a pesquisa de Petrin e Rios, no caso em que o valor total da herança
fosse de R$ 8.370.000,00 (oito milhões e trezentos e setenta mil reais) a diferença em
uma sucessão realizada através da holding familiar seria de R$ 1.732.110,00 (hum
milhão, setecentos e trinta e dois mil e cento e dez reais).
Entretanto, como já aludido no presente trabalho, não há como ser ignorado que a
presente pesquisa é apenas um exemplo, mas que com o tempo pode não ter mais
sentido útil, devidas as constantes alterações nas legislações referentes a sucessão.
Contudo, não há como negar que pessoas com patrimônio relativamente alto não
podem simplesmente ignorar a existência da holding, pois além de trazer inúmeros
benefícios, que vão muito além de uma possível economia tributária, conforme
exaustivamente exposto, pode sim trazer uma economia interessante no momento da
sucessão, conforme exemplo acima exposto.
Nos dias atuais percebe-se que a holding é bem aceita, sendo muito eficaz para se ter
um controle dos bens, economia e organização na hora da sucessão, ponto
importantíssimo do trabalho, visto que ela pode substituir o testamento e facilitar a
sucessão, já que, em regra, no momento do evento morte do titular dos bens a
continuidade dos negócios e divisão dos bens, por quotas ou ações, já estará
estruturada, não havendo grandes surpresas e muitas margens para discussões entre os
herdeiros.
Mesmo concordando que este tipo de empresa é muito eficaz para o planejamento
sucessório, entre tantos outros benefícios, deve-se ter em mente que não é para todos,
visto que para pessoas que detém bens com pouco valor econômico a holding pode não
ser a melhor opção. Esta observância deve-se em razão que a abertura desse tipo de
empresa é muito eficiente e traz muitos benefícios, mas para quem detém um valor
econômico baixo ela pode ser uma opção muito onerosa, pois neste caso um de seus
grandes benefícios que é a economia na transmissão de bens pode não valer a pena em
razão dos gastos decorrentes de uma empresa, como impostos, contador, e outros
gastos inerentes as empresas.
Além do mais, foi demonstrado que uma possível economia fiscal no momento da
sucessão é apenas um dos benefícios trazidos pela holding, já que se bem usada
possibilita uma estruturação empresarial duradoura, uniformizando-se a
administração de outras empresas e possibilitando que cada herdeiro tenha o seu papel
no grupo empresarial segundo as suas habilidades, evitando-se enormes problemas
futuros, coisa que só o Direito Sucessório não é capaz.
Dessa forma, conclui-se que a holding já teve um importante avanço desde sua criação,
mas ainda há muito que evoluir, visto que ela pode ser uma solução para muitos e
ainda poucos usufruem de seus benefícios.
Acredito que com o tempo, após o melhor conhecimento da sociedade dessa forma
empresarial, ela passe a ser muito mais comum do que nos dias atuais, afinal, quem
mais a divulga é a doutrina, não tendo o estado dado uma grande importância para este
tipo de empresa.
REFERÊNCIAS
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anônimas. São Paulo: Quartier Latin , 2007.
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RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 4ª. ed. São
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