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UERJ – Faculdade de Direito

Disciplina: Direito Administrativo I


Data da Aula: 19/11/2004 (Sexta-feira)
Professora: Patrícia Baptista
Transcritora: Laura Marques

Regime Remuneratório dos Servidores Públicos (Cont.)

Lembram da questão dos 28,8%? Esta questão inundou a Justiça Federal. Havia uma
norma no texto constitucional que determinava que os servidores públicos tinham direito a um
aumento geral. A Constituição, em sua redação original, tratava assim : os servidores públicos, em
seu art 39, por aí. Eram então os dois servidores públicos, os civis e os militares. Em algum
momento o governo deu 28% de aumento aos militares e aí o pessoal invocou, pois a norma se
aplicava aos servidores públicos civis e aos militares pela redação original de 1988. Veio a emenda
18 e a primeira coisa que ela fez foi tirar os militares do grupo dos servidores públicos. Então pela
emenda 18 os militares deixaram de ser servidores públicos. Como foi feito isso? Tiraram os
militares do art 42. Os art 39, 40, 41 e 42 tratam dos servidores públicos e o 42 tratava dos
militares, dentro do estatuto dos servidores públicos militares. O art 42 acabou, trata de outras
coisas, a emenda 19 incluiu, mas os militares foram tirados deste capítulo. Os artigos 142, 143 e
144 tratam de segurança pública, o 142 trata das forças armadas e os militares foram todos postos
no art 142, estando neste artigo as regras de remuneração dos militares. Os militares, pelo texto
constitucional, pela organização dada pela emenda 20 deixaram de ser servidores públicos
qualificados como tais. E aí havia a regra do aumento geral que foi os 28%, por isso que a Justiça
Federal acabou reconhecendo que os servidores públicos civis tinham direito aos 28% que foram
pagos aos militares.
Vem a emenda 19 de 98 e reformou esta norma do aumento geral e implantou a seguinte
regra: hoje é possível o aumento diferenciado, o que é razoável já que no serviço público você tem
milhares de realidades diferentes, sendo, portanto razoável se ter condições remuneratórias
diferentes para as mais variadas carreiras. Mas o legislador ficou um pouco acanhado de acabar
com qualquer garantia e aí, ao invés de assegurar que os aumentos fossem gerais e uniformes
disse o seguinte:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39
somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa
em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
índices;

O subsídio e a remuneração estão sempre juntos. Sumiu a regra que obrigava que os
aumentos fossem sempre gerais, mas instituiu-se uma regra que estabeleceu o direito à revisão de
índice anual, sempre na mesma data e sem distinção de índice. Então os servidores públicos, em
regra, têm direito a uma revisão geral anual, revisão esta que não invalida a revisão específica será
sem distinção de índice.
Até então, 2001 por aí, não tinha saído do papel, o governo federal não tinha dado
qualquer revisão geral anual. Em 2002 ajuizaram uma ação direta de inconstitucionalidade por
omissão (ADO) por descumprimento da norma do art 37, X emendada, rara não é porque a gente
sabe que tem pouca efetividade. O Supremo julgou procedente a ADO. Vocês sabem que ADO
não tem praticamente eficácia nenhuma porque a eficácia é notificar o poder omisso. Como essa
lei que concede a revisão geral anual é de iniciativa privativa do executivo, o omisso era o chefe do
executivo, na época Fernando Henrique que de fato resolveu cumprir a decisão do Supremo e
mandou um projeto de lei que tinha acho um aumento de 12% ou alguma coisa desse gênero, era
um aumento bem pequeno.
Logo alguém levantou uma tese de que a omissão inconstitucional persistia, porque
aqueles 12% não eram suficientes pra se assegurar o efetivo cumprimento desta norma

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constitucional, já que haviam 4 anos sem reajuste. É uma tese ousada que não foi adiante, mas
hoje diante da lei que falou do 0,01% me voltou à cabeça a mesma coisa. Eu acho que a omissão
inconstitucional persiste se você manda um projeto de lei com 0,01%, você não cumpri os
desígnios da norma constitucional. Existe aqui um problema, não dá para o Judiciário controlar, e
ele tem um entendimento de irredutibilidade de vencimentos super nominal, não é valor real, quer
dizer se não aceitou a revisão anual geral vai sobrar valor rel, não é isso... mas também é você
tornar um escape da norma constitucional dar um aumento de 0,01%. É você flagrantemente
frustrar o objetivo do legislador e é uma norma que o próprio Legislativo não pode emendar, pois
geraria aumento de despesas que seria inconstitucional. Então esse projeto de lei que contém este
tipo de reajuste não sana esta omissão, mas eu reconheço que esta é uma tese um tanto ousada,
no sentido de que formalmente se está cumprindo a norma, mas na realidade não . Só que teria
algum limite até o qual a norma precisa exigir alguma realidade. O fato é o seguinte, o erro está é
nesta questão de ser constitucional. Isto não é matéria constitucional, esta discussão não pode ser
discussão constitucional.
Ainda no art 37 Há duas regras relevantes, uma é vinculação e equiparação de
vencimentos e remuneração servidores públicos para qualquer fim no inciso XIII.

Art. 37, XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias


para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;

Isto é a vedação do efeito cascata, isso é como o próprio texto constitucional consagra
para o Poder Judiciário. A própria Constituição, mais adiante, no capítulo do Poder Judiciário, e isto
já foi previsto em legislação infraconstitucional, prevê para o Judiciário remuneração em cascata. É
assim, o ministro do Superior Tribunal de Justiça ganha 90 e tantos % da remuneração do ministro
do STF. O desembargador do Tribunal de Justiça dos estados ganha 90,25% do salário do ministro
do STJ e por aí vai. Até que você chega nessas regressões de percentual ao salário do juiz de 1º
grau, de 1ª instancia estadual. É isso que o 37, XIII veda. Há pouco tempo o MP do Rio mandou
um projeto de lei dizendo que a remuneração do procurador de justiça tinha que ser equivalente a
remuneração do desembargador do TJ. A Associação dos Magistrados do Brasil ajuizou uma ADIN
contra esta lei alegando a violação do 37, XIII porque não pode haver vinculação de vencimentos e
não pode haver estes efeitos cascata, a norma constitucional prevê isto, mas tem aos montes
ainda por aí.

Art 37, XIV - Os acréscimos pecuniários percebidos por servidores públicos não serão
computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.

O legislador quis dizer o seguinte, cria-se o auxílio paletó. Qual é a base de cálculo do
auxílio paletó? O vencimento base. Vamos supor que a lei fixe 30% da remuneração. 30% de
que? A lei diz 30% da soma do vencimento base mais o adicional por tempo de serviço. É isto que
esta norma quer, é simplesmente fazer com que os acréscimos pecuniários ou gratificações
adicionais incidam uns sobre os outros, o que é muito comum na remuneração do servidor público .
Sobre o que esta parcela vai incidir? Sobre a soma daquela outra com aquela outra e com aquela
outra. Então o que você tem? Na verdade é 30%, mas 30% de que? Não do base, mas o que
norma quer é que os acréscimos remuneratórios incidam apenas sobre a remuneração base e não
sobre isso mais isso mais aquilo outro e são esses efeitos cascatas, acréscimos pecuniários uns
sobre os outros que criaram as remuneração dos marajás. É raro você encontrar um marajá, que
na verdade é uma figura que está acabando, pois pelo menos neste quesito, e aí é necessário que
a gente louve Constituição, as leis que criavam estas remunerações foram sendo declaradas
inconstitucionais ou revogadas. O clima geral do país também veio meio que contendo isso. Não
posso dizer que a figura do marajá acabou, mas ela está em extinção.
Por que dificilmente se consegue cortar a remuneração do marajá? Porque muitas das
vezes as remunerações destes sujeitos viraram aquilo por causa disso aqui, porque o sujeito
ganhava vantagem tal, incorporava outra... e aí virava o caos. E não havia ilegalidade, pois na
época em que estas coisas foram aprovadas isto não era inconstitucional, não afrontava a norma
constitucional.

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Aqui no Estado, entre 80 e 91 ou 92, o servidor público ocupava um cargo em comissão,
por exemplo, e ganha R$ 160,00. Um belo dia ele foi nomeado para secretário de Estado cuja
gratificação é de R$ 6.000,00. Bastava que ele ficasse 6 meses no cargo de secretário de Estado
para que estes R$ 6.000,00 passassem a integrar a remuneração dele a vinda inteira. Isto era uma
lei, numa disposição legal então estes sujeitos alcançaram esta situação legalmente. E mais,
vamos supor que este sujeito tivesse um salário base para o seu cargo de R$ 500,00 sobre a qual
incidia o adicional pelo serviço, o triênio, a cada 03 anos ganha mais 5%, que é a regra no Estado.
Este mesmo sujeito que tinha, vamos supor, 40% de triênio sobre o base, a partir do momento que
ele incorporou os R$ 6.000,00 ele passava a ter direito a um total de 40% sobre os 6.000,00. Isso
era lei, a Assembléia Legislativa aprovava isso e é assim que se cria um marajá. Isso praticamente
não existe mais.

Pergunta inaudível
Resposta: É de discutível a constitucionalidade. Existem dois motivos para que esta
gratificação especificamente seja considerada inconstitucional. Uma porque ela não foi criada por
lei e a outra é porque o critério de concessão não é objetivo e sim subjetivo. Esta lei tem muitos
problemas, mas os governantes não querem saber muito disto. É raro um administrador público
político ter qualquer conhecimento, não vou dizer que não tem não, seria um ou outro, a maioria
não tem saco para governar, se cercam de assessores de péssima qualidade. Entre as práticas
administrativas, o texto constitucional e o Estado de Direito existe um vazio, um espaço. As coisas
são lentas.
O último ponto quanto ao regime do servidor público é exatamente sobre isto, que é o
chamado teto de remuneração.
(A professora segue falando que servidor público só pensa em remuneração, em aumento
e da birra dela com relação a esta questão)
Judicialmente é um tema relevante. Como é uma matéria muito constitucionalizada você
tem no Judiciário, sobretudo na Justiça Federal, uma grande massa de ações envolvendo esta
questão. E são poucos os advogados privados que têm algum domínio sobre isto. Os advogados
que advogam nesta área, os bons, ganham um bom dinheiro porque são poucos.
O teto é tratado no art 37, XI . Na verdade teto é um nome popular, a Constituição chama
de limite constitucional de remuneração. Esta é a terceira versão do teto, na CF de 1988, que
ainda não saiu do papel. Terceira porque foi pela emenda 41 e não se consegue, em parte graças
ao Supremo.
O artigo 37, XI em sua redação original dizia assim: “Nenhum servidor público pode ganhar
mais a qualquer tipo do que a remuneração do ministro do STF”. E tinha mais coisa, uma norma
das disposições transitórias, ADCT, no artigo 17 caput, acho que ainda em vigor.

Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as vantagens e os adicionais, bem como os


proventos de aposentadoria que estejam sendo percebidos em desacordo com a
Constituição serão imediatamente reduzidos aos limites dela decorrentes, não se admitindo,
neste caso, invocação de direito adquirido ou percepção de excesso a qualquer título.

Logo, segundo o artigo 37, XI ninguém poderia ganhar mais do que o ministro do STF a
qualquer tipo e de acordo com o art 17 do ADCT tudo que estivesse acima deste limite teria que
ser reduzido sem poder invocar direito adquirido. O que que vocês tiram disso? Que o legislador
constituinte originário, contra o qual não há invocação de direito adquirido, quis de fato que todos
os que ganhassem acima do limite previsto no texto constitucional, na redação original tivessem na
data da Constituição a sua remuneração reduzida. Não há dúvidas quanto a intenção do legislador
constituinte originário. É claro que a questão chegou ao Supremo. Na verdade assim, era matéria
de lei e quando os Estados começaram a querer implantar isto a questão chegou ao Supremo em
91 ou 92. O Supremo declarou que o artigo não incluía as vantagens de natureza pessoal, que
estavam fora do limite constitucional de remuneração as vantagens de natureza pessoal, ou seja, a
qualquer título, a exceção das vantagens de natureza pessoal.
O que são vantagens de natureza pessoal? São vantagens que são próprias daquele
servidor, que aquele servidor incorporou ou alcançou em função do seu tempo de serviço, do seu
exercício de cargo em comissão, do seu nível universitário, ou seja, as vantagens devidas em

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função das condições da prestação de serviço, mas das circunstâncias do servidor. Aonde que o
sujeito escapole do teto? Não é do base. Não conheço uma carreira que tenha um base ou
vantagens próprias do exercício do cargo que ultrapassem o teto. Todo marajá só o é porque foi
incorporando estas coisinhas, tudo em razão das circunstâncias pessoais dele. Ou seja, dizer que
se exclui do teto as vantagens de natureza pessoal significaria dizer que não se tem teto e esta
culpa o Supremo tem que carregar.
Na verdade o Supremo considerou, e não se pode ignorar isto, que o ministro do Supremo
tinha ou tem adicional por tempo de serviço, tem ministros do Supremo, e isto é uma situação
complicadíssima, que até hoje dão aula em faculdades públicas. E aí, você põe que o teto é este,
ninguém pode ganhar além como é que se faz com um sujeito que acumula cargo. O que também
não é justo, pois você não pode impedir que o ministro do Supremo seja professor.
Então esta foi a primeira redação e não deu certo, não se conseguiu implantar o teto.
Então veio a 2ª geração com a emenda 19 de 98 que mexeu de novo na redação do art 37, XI: “A
qualquer título, incluindo as vantagens de natureza pessoal ...” o sujeito redigiu a emenda, a norma
para não deixar espaço para tirar nada. O teto inclui tudo.
Surgem agora dois problemas. O teto não será mais a remuneração do ministro do
Supremo, será fixado por lei de iniciativa conjunta do chefe do Executivo, do Legislativo e do
Judiciário. Vocês acham que alguém conseguiu fazer esta lei? Não se fez por quê? Queriam fixar,
na época, a remuneração do ministro do Supremo em R$ 19.000,00 ou R$ 23.000,00, mas os
chefes dos poderes mais políticos, do Legislativo e do Executivo tinham o seguinte problema:
“Como é que nós, num país onde o salário mínimo é R$ 260,00 vamos encaminhar um projeto de
lei dizendo que o limite máximo de remuneração, reconhecido por todos nós como o judicial é de
R$ 23.000,00, algo em torno de 100 vezes mais do que a remuneração mínima existente no país?”.
Não deu. A norma foi feita, mas não saiu do papel, não se conseguiu aplicar aquele teto. Uma das
razões é a falta da lei de iniciativa conjunta.

(Comentários meus, do Sérgio. Perceberam? Aqui, segundo meu humilde ponto de vista, a
professora fez uma completa confusão cronológica, e analítica, com as emendas constitucionais
deste inciso XI. Para melhor compreensão fiz questão de acrescer, logo abaixo, a esta transcrição
a redação original da Constituição de 1988 e a redação resultante da EC 19/98, extraídas,
oficialmente, do site www.planalto.gov.br. Tirem suas próprias conclusões!).

Art. 37, XI - a lei fixará o limite máximo e a relação de valores entre a maior e a menor
remuneração dos servidores públicos, observados, como limites máximos e no âmbito dos
respectivos poderes, os valores percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, por
membros do Congresso Nacional, Ministros de Estado e Ministros do Supremo Tribunal Federal e
seus correspondentes nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, e, nos Municípios, os
valores percebidos como remuneração, em espécie, pelo Prefeito;  (Vide Lei nº 8.448, de 1992)

Art. 37, XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

O outro problema, que ainda hoje persiste, é a interpretação que o Supremo tem de direito
adquirido ou das cláusulas pétreas de proteção do direito adquirido. O Supremo diz que existe
um direito constitucional de irredutibilidade de vencimentos, que é uma outra norma do art 37. O
Supremo diz que ele recebia licitamente acima do teto antes da emenda 19 de 98 porque as
vantagens pessoais não estavam incluídas no teto, portanto recebidas licitamente. Pode uma
emenda constitucional abolir ou de certo modo frustrar o direito, a garantia da irredutibilidade do
vencimento? Pode a emenda constitucional afetar uma cláusula pétrea, uma garantia individual da
irredutibilidade do vencimento? Esse é o raciocínio do Supremo, que é juridicamente lógico. O
problema aí está na decisão original do Supremo, já não era lícito então. Mas o Supremo não vai

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levar em consideração isso. Como é que uma emenda constitucional vai determinar a redução dos
vencimentos licitamente percebidos se há uma garantia constitucional da irredutibilidade de
vencimento se essa garantia é considerada uma cláusula pétrea. Este é um problema. É um
obstáculo pro teto hoje, e desde 98 pra cá, alcança. A emenda estabeleceu este teto. E a emenda
pode determinar a redução do salário? A intenção do legislador? Não há dúvida, pela leitura das
normas constitucionais aprovadas que há uma intenção efetiva do legislador do poder constituinte
derivado em determinar a redução imediata das remunerações. E como é que fica essa redução
imediata frente à garantia da irredutibilidade do vencimento que pode ser considerada ou não
cláusula pétrea?
(Comentários meus, do Sérgio. Tá confuso? Talvez as redações, original, e pós-emendas 18/98 e
de 19/98, e a cláusula pétrea, que acrescentei abaixo nos ajudem a jogar alguma luz nesta
“explicação” ou não!).

Art. 37, XV - os vencimentos dos servidores públicos, civis e militares, são irredutíveis e a
remuneração observará o que dispõem os arts. 37, XI, XII, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;

XV - os vencimentos dos servidores públicos são irredutíveis, e a remuneração observará o que


dispõem os arts. 37, XI e XII, 150, II, 153, III e § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 18, 1998)

XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são


irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150,
II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

Olhem os obstáculos que esta questão enfrenta do ponto de vista jurídico. O Supremo
ainda não se manifestou sobre o mesmo teto que é o da emenda 41. O que o teto da emenda 41
fez, que é a redação atual? Agora são 20 linhas de redação, a cada emenda o legislador tenta
tapar tudo que é brecha pra ver se passa desta vez e ficou assim:

Art. 37, XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos


públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do
Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito
do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder
Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa
inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos
membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Acabaram com a lei de iniciativa conjunta. Essa nova redação admite a figura do sub-teto,
dando origem a outra discussão: cabe num país do tamanho do Brasil com realidades totalmente
diferentes fazer um teto único de remuneração ou podem os estados e os municípios estabelecer
seus próprios tetos? Do ponto de vista do direito administrativo, tecnicamente é razoável que se
tenha esta autonomia e isto acabou entrando aqui, mas esta é uma discussão enorme, pois na
verdade os Governadores e os Prefeitos fazem uso político disto. Em alguns estados eles
declaram que ganham R$ 2.000,00, por exemplo, e ninguém pode ganhar mais que ele. Só que o
Prefeito e o Governador tem todas as suas despesas custeadas e o valor do seu salário não faz

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diferença. É por isto que os servidores públicos tem pavor deste teto, já que transforma a
remuneração do servidor público em questão de palanque.
O Executivo vive louco pra aplicar o teto, mas ele sempre vai esbarrar neste problema do
direito adquirido, vai ter que esperar o Supremo de novo reinterpretar qual é a extensão da
expressão que ele dá a esse direito adquirido em face das cláusulas pétreas. Pode ser que o
Supremo, com esta nova composição, revise este ponto de vista, o que não é algo absurdo.
Engessar demais a Constituição e a interpretação de suas cláusulas pétreas impedem um pouco a
evolução do texto constitucional o que é um problema. Na verdade o problema é isto estar na
Constituição, o que não devia. Isso leva a Constituição a seguidas mudanças, seguidas reformas e
não se consegue aplicar este negócio de jeito nenhum.

Pergunta inaudível:
Resposta: Passa do teto com estas coisinhas que o servidor vai acumulando. Mas não são
todos, muitos desembargadores, e eu já ouvi isto, são doidos para aplicar o teto, pois sustentam
que a remuneração de todos vai subir, porque se vai aplicar a cascata certinha. Vai criar o
subsídio, vai uniformizar e a remuneração de todos vai subir. Na verdade isto acontece com os que
já acumularam muita coisa e ganham licitamente, não tem nada de ilegal. É difícil fazer isto aí sair
do papel.

Outra pergunta inaudível


Resposta: Esta é a quarta ou terceira geração, eu acho que a emenda 20 mudou a
redação do 37, XI. A 19 mudou e acho talvez que a 20 tenha mudado, mas eu não tenho certeza.
No mínimo é a terceira

A emenda 41 é da Reforma da Previdência e a grande discussão da reforma previdenciária


foi o teto, o que não tem nada haver com previdência, previdência indireta. O teto é a previdência
pública indiretamente. De novo a discussão que chamou a atenção era como fixar o teto
Ainda tem gente que sustenta que isto aqui não é norma auto-aplicável, outra discussão
que se tinha desde a redação original

Vira a fita

(professora dizendo que Barbosa Moreira escreveu um artigo uma vez falando sobre os
juros gerais de 12% ao ano)
O Supremo declarou de era uma norma inconstitucional de eficácia limitada. O Barbosa
Moreira diz que os únicos no país que não sabem o que juros reais de 12% ao ano são os
ministros do STF e daí declarar que se tratava de norma inconstitucional de eficácia limitada
dependendo de lei para regulamentação. Tem-se assim uma discussão em relação ao teto desde a
redação original. O STF chegou a afirmar em alguns julgados que é necessário uma norma
regulamentando o art 37, XI. Na redação da emenda 19 era nítido, não era algo auto-aplicativo,
pois precisava da lei de iniciativa conjunta que nunca veio, portanto não se aplicou, ou pelo menos
as tentativas de aplicação foram todas paradas na Justiça. E aí se tem de novo este tipo de
discussão hoje, se isto é uma norma aplicável ou não, se precisa de uma lei e a tendência de
interpretação é esta, que até hoje não se aplicou à emenda 41 porque é necessário que uma lei
fixe a remuneração do ministro do STF, e como até agora não se fez lei que fixe remuneração do
ministro do STF nada de aplicação. Este problema do teto é um negócio complicado.

Pergunta de aluno: Quanto seria o valor da remuneração do ministro do STF?


Resposta: Não tenho certeza se a lei já fixou subsídio. Na verdade, lei pra remuneração
de ministro do STF tem, não há lei fixando o subsídio, só que desde 98 tem-se que fixar o subsídio,
só que estes nunca foram fixados. É que o ministro do STF não ganha mais remuneração ganha
subsídio, enfim... os argumentos vão por aí.

Esta questão é problemática e seu obstáculo célebre desta é a reivindicação do STF da


garantia da irredutibilidade e do direito adquirido. O STF pra aplicar o teto terá que em algum
momento superar esta jurisprudência que ele tem. Esta questão está perdendo muito da

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relevância interna, porque os marajás estão se aposentando correndo e hoje em dia não se
formam mais marajás . Tem que se ter limites para este poder, mas a Lei da Responsabilidade
Fiscal já tem, isso freou um pouco esse povo o que antes não havia. Esta Lei serviu de um bom
parâmetro para isto, ela fixa limites de gasto por pessoal em todos os poderes, é um sistema
segurado.
Eles ainda fazem uns jogos e umas rearrumações aqui e acolá. Questão sobre isso é a da
Câmara de vereadores do Rio que está começando uma discussão se terá 50 ou 42 vereadores.
Parece que a decisão do Tribunal de Justiça aqui foi por 50. O maior problema que eles tinham é
que cada vereador tem não sei quantos assessores representando um aumento de gasto de
pessoal de “X” e o bolo é um só, é o teto da Lei de Responsabilidade Fiscal. Se você tem mais
vereadores teria que reduzir as verbas dos assistentes . No fundo a preocupação da Câmara de
vereadores era essa e não se eram 50 ou 42 vereadores de acordo com a interpretação da norma
constitucional. Eu tenho o mesmo teto com o limite de pessoal da Lei de Responsabilidade Fiscal
com mais gente pra gastar. A solução que eles deram foi excluir algumas despesas que eles tem
da rubrica gastos de pessoal. Não cortaram nada, conseguiram acomodar todo mundo. Através de
alguma manobra contábil, tributária, com respaldo do Tribunal de Contas, seja lá como for,
conseguiram que do ponto de despesas de pessoal (ticket de alimentação acho) fosse retirado da
rubrica e passaram a computar isto como custeio. Então como custeio, abriu-se o teto das
despesas de pessoal com lugar suficiente para acomodar os novos vereadores e todos os
assessores a que eles têm direito, sem cortar o de ninguém. Mas isso é uma virtude da Lei de
Responsabilidade Fiscal, ela impõe limites e alguma hora estas manobras não vão dar certo, nem
tudo se acomoda. Então a Lei de Responsabilidade Fiscal tem uma virtude, pra todo este pessoal
tem um teto que é o limite de gastos com pessoal fixado por esta lei, limite este distinto para cada
um dos três poderes conforme a participação máxima de cada um na receita anual

Pergunta inaudível
Resposta: Boa pergunta. Quem fixou a regra? A Constituição. Quem fixou a exceção? A
Constituição. É norma de interpretação constitucional, só a Constituição pode fixar exceções a
regras que ela própria cria. Então quando há normas constitucionais em conflito e sabendo que
não há hierarquia entre normas constitucionais, todas têm o mesmo valor jurídico como é que se
soluciona este conflito? Uma é a regra e a outra é a exceção, não tem outra saída. E só a
Constituição pode estabelecer exceções pras regras que ela própria cria, as normas constitucionais
não podem ser excepcionadas pelas normas infraconstitucionais

Pergunta: Você acredita que possa haver inconstitucionalidade constitucional?


Resposta: (Cita o livro de autor inaudível cujo título é Atos Constitucionais
Inconstitucionais). A discussão dele fala das emendas. No nosso sistema as emendas
constitucionais são normas constitucionais e elas podem ser inconstitucionais. Esse é o único caso
válido no nosso ordenamento jurídico da possibilidade de haver normas constitucionais
inconstitucionais. É possível no Brasil haver normas constitucionais inconstitucionais, mas apenas
aquelas fruto do poder constituinte derivado. Não há inconstitucionalidade entre duas normas fruto
do poder constituinte originário.
Este autor também fala de outras coisas. Uma delas é o fato da Suprema Corte
Constitucional Alemã admitir que existem normas supraconstitucionais. Como não temos nada
parecido com isto no nosso ordenamento jurídico fica difícil entender como é que eles fazem este
controle. Eles admitem que existem coisas com valor constitucional acima da Constituição e aí, em
alguma medida seria possível controlar a constitucionalidade das normas constitucionais, mas eu
confesso pra vocês que eu não consegui entender como eles usam ou aplicam isto. Isto se explica
pela história alemã, pois eles tiveram um momento em que a Constituição não os acolheu. Essas
coisas foram escritas pela década de 60 quando as feridas da guerra estavam ainda muito abertas.
E quando se admiti este tipo de coisa entram em jogo outros problemas, como a discussão da
legitimidade da Corte Constitucional Alemã para fazer estas escolhas.
Mas no nosso ordenamento jurídico normas constitucionais inconstitucionais só as
derivadas do poder constituinte derivado que eventualmente violem cláusulas pétreas ou piorem o
processo de formação constitucional das emendas.
As práticas constitucionais nos países variam muito. Há uns anos atrás, em 98 veio aqui na

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UERJ um professor francês de TGE muito famosos e ele ficou espantado ao saber que o STF tinha
poder para declarar inconstitucionalidade de emenda constitucional porque no regime francês não
há a menor possibilidade. A Corte Constitucional "apita" no projeto de lei e olhe lá. Os alemães
admitem de alguma forma um controle supraconstitucional enquanto os franceses sequer admitem
numa lei que já foi promulgada, ou seja, há uma variedade muito grande. Para nós é interessante,
pois nós temos um sistema de controle constitucional que funciona razoavelmente bem.

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