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O Inescrupuloso Comércio

Humano
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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O negro foi trazido da África para o Brasil porque, segundo Thales
de Azevedo, "os portugueses necessitavam de divisas para o seu
comércio internacional e não havendo encontrado ouro no Brasil,
levavam ferro produzido para Portugal, por escravos no Congo e na
Costa do Ouro para trocar esses escravos pelo precioso metal que
ali existia. Os comerciantes europeus, por sua vez, estabeleciam-
se em feitorias na África, protegidos por seus governos e de
comum acordo com os potentados negros, para negociar suas
manufaturas pelos produtos regionais. Assim, provocaram ou
estimulavam as lutas tribais que, desorganizando a ordem social e
a economia, lhes permitiam apoderar-se do comércio regional, ao
mesmo tempo em que obtinham escravos para vender. Por esse
jogo complexo e inescrupuloso, diretamente encorajava-se o
ganancioso comércio humano, o qual também enriquecia os
traficantes no Brasil".

As regiões africanas que mais forneceram escravos para o Brasil


foram o litoral e o Golfo da Guiné. No século XVI, vinham da
Guiné; no século XVII, DE Angola, e no século seguinte, da Costa da
Mina.

Do outro lado do Atlântico, no Brasil, os três maiores centros que


receberam os pretos oriundos da África eram Bahia, Pernambuco e
Rio de Janeiro.

Escravatura Modela Perfil


Brasileiro
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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Os negros, maltratados, se submetiam ou se rebelavam, fugindo
para o mato, formando quilombos. Às vezes, se refugiavam em
comunidades "fechadas", não permitindo pessoas brancas no seu
convívio.

A grande lavoura exigia um grande número de braços. Foi preciso,


portanto, buscar o negro na sua terra. Segundo Jaime Pinsky,
houve "uma grande multiplicidade de grupos negros trazidos ao
Brasil pelos traficantes portuguesas ou ingleses, que se tornaram
os mais expressivos já no século XVII".

Para Décio Freitas, "vicejou no Brasil a formação mais importante


do mundo. Nenhum outro país teve sua história tão modelada e
condicionada pelo escravismo em todos os aspectos, econômico,
social, cultural. Pode-se dizer que a escravutura delineou o perfil
histórico do Brasil e produziu a matriz da sua configuração social".

Lei Áurea: Apenas uma Etapa


Vencida
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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O movimento abolicionista no Brasil representou um sentimento,
defendido por aqueles que desejavam mudanças ou, então, por
pessoas que agiam impulsionadas pelo cristianismo.

Pode ser analisado sob dois aspectos: o seu significado na época da


libertação dos escravos (1888) e como é visto na atualidade.

A assinatura da Lei Áurea, pela princesa Isabel, foi aclamada pela


multidão, numa verdadeira apoteose. Discursos. Aplausos. O dia 13
de maio foi apontado como sendo o ponto culminante de um
movimento liderado por jovens idealistas que pensavam que,
libertando o negro, a obra estava completa. Os abolicionistas
esqueceram que tinham apenas vencido uma etapa. O passo mais
importante estaria por vir, aquele em que o negro deixaria de ser
"peça", para transformar-se em cidadão, podendo lutar pelos seus
direitos e, inclusive, participar do processo político. Era preciso
que o negro, antes de alcançar a sua liberdade, tivesse sido
preparado para agir como cidadão, Mas nada foi feito nesse
sentido, quer pelo governo, que por qualquer grupo de
abolicionista. A falha foi exatamente essa. O movimento
abolicionista, portanto, não foi uma farsa e, sim, errou por não
compreender o que deveria ser feito após a destruição do sistema
escravista.

O fato é que não foi tomada nenhuma providência para que o


negro, uma vez livre, pudesse inserir-se na sociedade, com os
mesmos direitos dos brancos... Resultado: nos primeiros momentos
após a Lei Áurea, os africanos e seus descendentes no Brasil
viveram momentos de grandes dificuldades. Por essa razão, alguns
estudiosos, hoje, afirmam que a abolição da escravidão no Brasil
foi uma verdadeira farsa. Sem nenhuma repercussão histórica. Mais
uma vez, estão enganados. Em primeiro lugar, foram liberados
mais de 700 mil escravos. E como mostrou Caio Prado Júnior, esse
número de pretos representava, para a população branca, "uma
ameaça tremenda; ainda mais porque eles se concentravam em
maioria nos agrupamentos numerosos das fazendas e grandes
propriedades isoladas no interior e desprovidos de qualquer defesa
eficaz".

Com a abolição, o negro deixou de ser "peça" e passou a ser gente,


pessoa humana. Ainda discriminado, perseguido, rejeitado. A
grande maioria, levando uma vida realmente miserável. Sem
perceber ainda o que representava a libertação de um povo. Teria
que ser assim, considerando que o africano era discriminado,
apontado como ser inferior, incapaz de qualquer ascensão social. É
necessário ainda que pensemos no seguinte: não se muda a
mentalidade de um indivíduo ou de uma sociedade, independente
de cor ou ideologia, através de decretos. Rodos processo de
mudança é lento e o novo é, quase sempre, rejeitado pela maioria.
Naquela época, qualquer tipo de transformação ocorria muito
devagar, a não ser quando imposta por uma revolução. O negro foi
libertado, porém, continua sendo odiado ou, pelo menos,
desprezado pela elite.

A abolição, contudo, foi o primeiro passo dado pelo negro no Brasil


para ascender socialmente como povo.

A abolição acabou, no mesmo instante, com duas classes sociais: a


do senhor de escravos e a dos escravos. De acordo com Décio
Freitas, "a substituição de um modo de produção por outro
configura uma revolução social. Todos admitem que esta foi a
mudança social mais importante ocorrida desde a colonização".
Mão-de-obra Escrava e
Comunidades Negras
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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O Rio Grande do Norte se abastecia de escravos em dois centros:
Pernambuco e Maranhão. De Pernambuco os negros eram enviados
para a região açucareira potiguar, sobretudo a partir de 1845,
quando a indústria do açúcar foi ativada nos municípios de São
Gonçalo, Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Papari, Goianinha e
Canguaretama.

Os negros comprados no Maranhão chegavam ao Rio Grande do


Norte via Ceará, sendo desembarcados em Areia Branca,
atendendo às necessidades da indústria salineira de Açu, Mossoró,
Macau e Areia Branca.

O negro, portanto, atuava principalmente em dois tipos de


trabalho: nas indústrias açucareira e salineira, e em menor
quantidade nas fazendas de gado.

Alguns negros, contudo, não suportavam a vida miserável que


levavam. Fugiam, penetrando no interior, e formando
comunidades "fechadas", que se isolavam da sociedade dos
brancos, mantendo somente um contato estritamente necessário,
como aconteceu em Coqueiros, Sibaúma, Zumbi, Negros do Riacho,
Capoeira dos Negros etc.

Essas comunidades, provavelmente, não se originaram de


quilombos.

Exemplo: Capoeira dos Negros. Os habitantes desse local, conta o


Sr. Severino Paulino da Silva, um de seus descendentes, vieram de
Açu, talvez por causa de uma grande seca. Faziam parte de uma
família formada pelo casal Joaquim e sua senhora, Caiada, e seus
filhos, todos negros. O casal vendeu doze cavalos não adultyos
para comprar a propriedade. O Sr. Carrias, antigo dono da
Capoeira, enganou seu Joaquim entregando uma procuração em
lugar do documento de venda. Quando o Sr. Joaquim morreu, o Sr.
Carrias reuniu os filhos do falecido e disse a verdade, exigindo
mais cem mil réis para passar o documento legal da venda do sítio.
Os filhos do Sr. Joaquim pagaram a quantia exigida, assegurando a
posse definitiva da terra.

Os bisavós do Sr. Severino Paulino da Silva foram, portanto, o


núcleo original da população de Capoeira dos Negros.

A área inicial da comunidade era de 36 quilômetros, conforme


informa o Sr. Nobre. Nos dias atuais, a área de Capoeira dos
Negros diminuiu muito, porque alguns de seus moradores venderam
suas partes. Em Capoeira, nos dias de hoje, há dois grupos
distintos, um de pessoas com cor de pele mais escura e outro com
a pele mais clara, fruto de uma miscigenação. Por essa razão, o
antropólogo Raimundo Teixeira, do Museu Câmara Cascudo, já
falecido, dividiu Capoeira em duas partes: uma que ele chamou de
"Capoeira Branca", e outra que ele denominou de "Capoeira Negra".

A comunidade costuma se reunir na sede do Bangu Futebol Clube.


Nesse local se realizam também reuniões do Sindicato e da Emater
que, segundo informações obtidas in loco, financia a compra de
instrumentos agrícolas (enxada, foice, máquinas etc.).

Os agricultores compram as sementes através de um intermediário,


geralmente uma pessoa fora do grupo, para posteriormente vender
sua produção a esse mesmo intermediário. Produzem mandioca,
feijão e milho. Vendem seus produtores nas feiras de Macaíba, no
sábado, e na de Bom Jesus, no domingo.

A religião predominante é a católica, ocorrendo, entretanto, um


sincretismo com crendices populares, oriundas de cultos africanos
e nativos, conforme afirma Josenira F. Holanda.

Uma tradição muito antiga da comunidade é a "Dança do Pau


Furado", hoje sem continuadores, lembrada pelos mais velhos, mas
com tendência ao desaparecimento.

O Pioneirismo da Abolição
Mossoroense
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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Disse Câmara Cascudo: "a idéia da abolição encontrou adeptos
entusiastas e adversários com antipatia pessoal aos propagandistas
e não ao pensamento de restituir ao negro o estado de liberdade".
Esse clima de hostilidade entre os grupos antagônicos, a favor ou
contra, foi provocado, certamente, pelo entusiasmo dos jovens,
com ativa participação em comícios públicos. Havia também um
clima de aventura.

O macauense Joaquim Honório da Silveira viajou para o Ceará,


numa jangada, para levar "uma petição de Habeas Corpus em favor
dos escravos que estavam prisioneiros na Fortaleza, sendo
condecorado com uma medalha de prata pelo "Clube do Cupim",
narrou Pedro Moura.

Uma das características do movimento foi a participação


entusiástica dos padres na campanha: "Pe. Pedro Soares de Freitas,
Pe. João Cavalcanti de Brito (Natal), Pe. Antônio Joaquim
(Mossoró), Pe. Amaro Theat Castor Brasil (Caicó), entre outros.

Macaíba contava, em 1869, com uma sociedade que lutava pela


libertação dos escravos. Mas foi em Mossoró que se iniciou uma
campanha sistemática, com forte influência cearense. A
"Libertadora Mossoroense" foi fundada em 6 de janeiro de 1883,
libertando seus escravos no dia 30 de setembro de 1883.

Damasceno de Menezes mostra a ascendência cearense no


acontecimento: "Do Estado vizinho, Mossoró recebera relevante
contingente de homens de alta formação cívica, e cedo a
sociedade local participara do espírito libertador pelas influências
de intercâmbio cultural e comercial que desde os seus primórdios
se entrelaçaram à vida das comunidades do Oeste Potiguar".

O mesmo autor mostra que não houve, naquele trinta de


setembro, um ato subversivo, porque não feriu nenhum dispositivo
legal. Os escravos foram libertados através da entrega das Cartas
de Liberdade. Isso acontecia de várias maneiras. A diferença é
que, em Mossoró, no dia trinta de setembro de 1883, as cartas
foram entregues na mesma data, em solenidade pública,
libertando todos os escravos que ainda existiam no município.
Segundo Damasceno de Menezes, "juridicamente houve
abolicionismo em Mossoró. Sim, comemorou-se o civismo de um
povo. O cristianismo houve por bem abalar os corações
magnânimos do grande povo potiguar, o dar-se a extinção
antecipada do elemento servil em a terra de Santa Luzia, para
exemplo, memória e prova de altruísmo de uma geração que
diante da justiça e pelo amor, pela prova de alto espírito
compreensivo se tornou imortal".

Mas após o trinta de setembro, foi fundado o "Clube dos


Spartacus", cujo primeiro presidente foi um ex-escravo, de nome
Rafael. O objetivo dessa associação era promover a fuga de
escravos de outros municípios para Mossoró... Essa concepção, na
realidade, era subversiva, porque contrariava a legislação vigente
no País. Mossoró era, assim, na prática, um município livre.
Libertou seus escravos de maneira legal, porém acabou com a
instituição da escravidão em suas terras. Dentro dessa perspectiva,
houve abolicionismo em Mossoró.

O exemplo dessa cidade passou a ser seguido por outras


comunidades do interior. Açu libertou seus escravos em 24 de
junho de 1885. Depois foi a vez de Carnaúba (30/03/1887) e, logo
a seguir, Triunfo ( 25/05/1887). Natal não possuía mais escravos
em fevereiro de 1888.

Natal teve sua Guarda Negra, criação do Partido Conservador e


instrumento de combate às idéias republicanas. Segundo os
conservadores, os negros, por gratidão deveriam defender a
monarquia... Em Natal, a Guarda Negra recebeu o nome de Clube
da Guarda Negra. O seu presidente foi Malaquias Maciel Pinheiro.
Instalada a 10 de fevereiro de 1889, com muita festa, essa
organização, na apuração de Câmara Cascudo, nada fez de bom ou
mal...

O Combate do Poeta Segundo


Wanderley
Publicação: 04 de Maio de 2009 às 00:00
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Manoel Segundo Wanderley nasceu em Natal, em 6 de abril de
1860. Filho de Dr. Luiz Lins Wanderley e D. Francisca Carolina Lins
Wanderley.

Estudou em Natal e em Recife e, em 1880, partiu para Salvador,


onde se formou em Medicina, no ano de 1886. Nesse mesmo ano,
ele se casou com Raimunda Amália da Motta Bittencourt.

Na concepção de Cláudio Augusto Pinto Galvão, "por influência de


Castro Alves, abraçou o "condoreirismo", a terceira geração do
romantismo brasileiro, sentiu a indicação dos caminhos da forma,
que não eram outros, senão a forma e a temática do próprio estilo,
tão populares ainda, àquele momento".

O livro "Poesias", de Segundo Wanderley, teve três edições, dias


editadas em Fortaleza (1910 e 1928) e a última, pela tipografia
Galhardo, em Natal, no ano de 1915. A primeira edição traz um
estudo de Gotardo Neto que analisa os dois poetas, o baiano Castro
Alves e o potiguar Segundo Wanderley, chegando a dizer que "no
gênero patriótico, as duas individualidades se completam
admiravelmente".

Segundo Wanderley foi considerado o maior poeta do Rio Grande


do Norte de sua época.

Não foi apenas um grande poeta. Exerceu ainda diversas


atividades: médico, foi também professor de Atheneu Norte-Rio-
Grandense e dramaturgo. Mas seu maior destaque foi, sem dúvida,
como poeta. Gotardo Neto, falando sobre a poesia de Segundo
Wanderley, afirmou: "Falar do espólio intelectual de Segundo
Wanderley é lançar uma vista sobre a poesia legítima de minha
terra".

"Ele dominou e comoveu tanto o coração patrício que, mesmo o


eclipse da morte não ensombrou sequer a grandiosidade das suas
conquistas".

"Elas perduram e perdurarão, alacres e soberanas, como o espírito


altaneiro do poeta desaparecido".

Na época em que morou em Salvador, predominou na mente de


Segundo Wanderley a preocupação pelo destino do negro,
combatendo a escravidão. E é justamente esse aspecto que
Cláudio Augusto Pinto Galvão salienta em seu estudo, publicado na
revista "História UFRN". Em um dos versos citados, segundo
Wanderley chega a dizer:

"Uma idéia - Abolição


Seu verbo - é mais que espada
Seu braço forte é a enxada
Do túmulo da escravidão".

Uma de suas poesias mais conhecidas entretanto, é provavelmente


"O Naufrágio do Solimões", que começa assim:

"Tristeza! Funda tristeza


Nos enluta os corações;
Já nada resta das águias,
Dos bravos do ‘Solimões’
O mar, esse negro abismo,
Que não respeita o heroísmo,
Nem sabe o que seja o lar,
Rolando, sobre as glaucas entranhas
Para os heróis sepultar".

Romulo C. Wanderley cita suas peças teatrais: "Amar e Ciúme",


1901; "A Providência", 1904, "Brasileiros e portugueses", 1905.
Escreveu ainda a fantasia "Entre o céu e a Terra", em homenagem
à memória do aeronauta Augusto Severo.

Apesar do seu talento, Segundo Wanderley foi duramente


criticado, sobretudo por causa da forte influência que recebeu do
poeta baiano Castro Alves. Na defesa do poeta, argumenta Cláudio
Galvão: "Muito se comentou no princípio do século, sobre a
influência de Castro Alves na poesia de Segundo Wanderley, como
se consistisse em demérito ao discípulo, guardar as marcas do
mestre".

Cláudio Galvão destaca também um aspecto muito importante:


"Segundo Wanderley foi o único poeta norte-rio-grandense a ter
participação ativa no movimento abolicionista".

Segundo Wanderley morreu em Natal, no dia 14 de janeiro de


1909.

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