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Módulo Extra:

Noções de Direito Contratual, com Mayara Ribeiro


Aula 2 – Direitos da personalidade e direito de imagem nos
contratos

Seja muito bem-vinda a mais uma aula do Método MIDAS, ministrada pela
Mayara Teixeira Ribeiro, advogada e professora universitária. Como os direitos
da personalidade e os direitos da imagem refletem e repercutem no Direito
Contratual?
Em primeiro lugar, é importante ter
em mente que o direito de imagem, como
sendo um direito da personalidade, não
pode ser negociado na via contratual de
forma ilimitada. Ou seja, deve haver uma
limitação do objetivo, de forma a evitar
excessos e abusos: a imagem será utilizada
para quais fins? Qual o alcance? Por
quanto tempo? Quais os limites?
O Direito, além de resguardar a boa-fé dos contratos, visa proteger a
dignidade dos indivíduos. Afinal, espera-se de uma sociedade que o nome e a
imagem das pessoas sejam, sim, protegidos. É por isso que as cláusulas
contratuais traçam os limites, que foram combinados previamente, no direito na
negociação.
Mas o que é um direito da personalidade? Vamos entender, primeiro, o
que é uma personalidade. O Direito Civil brasileiro traz alguns conceitos, algumas
definições.

“Pessoa é o sujeito da relação jurídica. Aqui, podemos falar tanto de


pessoa natural (ou seja, pessoa dotada de personalidade e
capacidade e que, em hipótese alguma, pode ser reduzida à objeto
da relação jurídica) como da pessoa jurídica (que também é sujeito
das relações jurídicas, com a particularidade que, por ser também
um objeto, pode ser vendida).
Personalidade jurídica, então, é a aptidão genérica para titularizar
direitos e contrair obrigações. Ou, em outras palavras, é o atributo
necessário para ser pessoa de direito. Todo ser humano possui
personalidade jurídica”.

Com isso em mente, os direitos da personalidade têm por finalidade a


proteção dos direitos indispensáveis à dignidade e integridade da pessoa. E
o que são esses direitos? A vida, a integridade (seja ela física ou intelectual), a
liberdade, a sociabilidade, a honra, a privacidade, a autoria, a imagem, a moral,
entre outros...
Como isso funciona na prática? Vários são os exemplos, mas podemos
abordar uma situação em específico. Em 2017, durante as gravações de uma
cena de novela, a Ísis Valverde, atriz brasileira, foi fotografada com seus seios à
mostra e a revista Playboy publicou esse momento.
Quando a equipe jurídica de Ísis moveu uma ação, a Editora Abril,
responsável pela revista Playboy, argumentou que não houve nenhuma
ilegalidade na divulgação da foto, uma vez que havia em vigência um contrato
de cessão de direitos autorais entre a atriz e a empresa que fez a foto.
O Superior Tribunal de Justiça, porém, não concordou. Por mais que
existisse um contrato, houve um abuso de direito, uma ofensa à intimidade, à
vida privada. O direito da imagem tem, sim, limites, principalmente quando
esbarra em situações vexatórias, humilhantes. Não é só porque uma pessoa é
famosa que pode ter sua imagem propagada de forma leviana, irresponsável.
Se preferir, você pode ler mais sobre esse caso aqui: http://bit.ly/342UqUI.


É importante entendermos alguns conceitos jurídicos principalmente
quando pensamos nos contratos por clique, ou seja, aqueles famosos botões de
“concordo” ou “aceito”. Infelizmente, não é todo mundo que possui essa ciência,
mas esse botões equivalem ao ato de assinar um documento, igual quando
usamos caneta e papel. Portanto, uma recomendação valiosa: não assine nada
sem ler e entender exatamente com o que você está concordando.
Voltando para a questão do direito da imagem, é importante ressaltar que
esse é um direito personalíssimo. Isso significa que ele pode ser flexibilizado
desde que não seja uma disposição permanente, ou seja, é preciso ser
temporário. Uma imagem, portanto, não pode ser vendida. Isso não existe.

Contratante e contratado não podem


fazer um acordo eterno, porque a imagem
pertence, irrevogavelmente, ao sujeito
contratado. É um direito individual que foi
cedido temporariamente, para um
determinado fim e para um determinado
parceiro. Em sua essência, porém, é um direito
intransmissível e irrenunciável.

O que acontece, então, se em um determinado contrato, exista uma


cláusula que aponte para esse sentido? Essa cláusula não será validado pelo
direito jurídico. Uma determinada marca, portanto, não pode fazer uma
campanha com uma influenciadora e utilizar aquelas fotos eternamente. Um
prazo precisa ser estabelecido e determinado em contrato.
A cantora, influenciadora e ex-BBB Manu Gavassi, por exemplo,
recentemente pintou o cabelo de loiro, em parceria com a Redken, uma marca
de cuidado e coloração capilar. Claro que jamais saberemos os pormenores
desse contrato (essas questões, aliás, dizem respeito apenas às partes
envolvidas), mas podemos afirmar que a Manu não é obrigada a permanecer
com o cabelo loiro para sempre, eternamente. O contrato, com certeza,
determina um prazo.

É importante que pensemos, também, na responsabilidade civil do


influencer quando da oferta e/ou divulgação de produtos e/ou serviços.
Nesses casos, aquele que oferta, de certa forma, pode acabar respondendo por
eventuais danos que possam surgir ao longo das relações comerciais.
Se não houver a efetiva entrega do produto ao consumidor, por exemplo,
o influenciador pode acabar sendo responsabilizado também. Claro que a maior
responsabilidade decai sobre a marca, a empresa. No entanto, comunicadores
precisam estar atentos com quem estão firmando contratos, uma vez que
figuram na posição de garantidores desses produtos e/ou serviços.
Apesar de serem "sujeitos comuns", os influenciadores digitais são vistos
como profissionais da internet e, portanto, também são obrigados a respeitar
princípios de boa-fé e transparência em prol dos consumidores. Então, se você
trabalha como influenciadora, tenha cuidado com o que você oferta.
Claro que podem ser eximidos de responsabilidade se for possível provar
que esses influenciadores não tinham conhecimento de eventuais vícios,
defeitos, danos. Essas relações são bilaterais, portanto, as marcas têm deveres
para com seus contratados. Portanto, se você tiver uma marca e faz (ou deseja
fazer) parcerias com influenciadores digitais, esteja atenta às suas
responsabilidades enquanto empresa.

Tenha em mente, também, que a arte do contrato é a arte da


previsibilidade de problemas. Fica evidente, portanto, a importância da
fase pré-contratual, quando todos os eventuais conflitos devem ser previstos.
É claro que o ideal é que nada de errado aconteça, mas é importante se
precaver. Problemas são inerentes da vida em sociedade e um bom
empreendedor precisa estar preparado para os piores cenários.
Mais uma vez, ressalta-se a importância de um bom advogado que auxilie
nos casos contratos. É esse profissional jurídico que saberá decidir se a redação
do contrato está adequada para ambas as partes, se existe clareza do objetivo
contrato, se existe respeito em relação às vontades de todos os envolvidos.
Um bom contrato também precisa ser claro em relação aos valores e às
entregas. Quem fica responsável pelo que? Haverá primeiro a entrega e, depois,
o pagamento? Ou primeiro o pagamento e, depois, a entrega? Como será essa
entrega? Quando? Onde? Como?
Em relação aos contratos de publicidade, de comunicação, outra pauta
importante deve ser abordada: como o contratado (geralmente, o influenciador)
deve se posicionar diante o público? Qual a expectativa? Qual será a troca
efetiva? O que essa marca deseja que esse influenciador compartilhe? Quais
comportamentos são toleráveis e quais não são?
Ainda, existirão obrigações restritivas? Enquanto o contrato estiver
vigente, esse influenciador pode fazer publicidade de marcas concorrentes? É
sempre importante ressaltar que essas obrigações restritivas não podem
coincidir com os direitos da personalidade fundamentais, como o direito da
liberdade de expressão. Um contrato jamais deve prever censura.
Por fim, um contrato sempre deve prever as saídas. Quando ocorrerá o
fim de um contrato? Haverá multas caso haja uma dissolução antecipada? Se
sim, qual o valor? Quando ela será paga? Como? A previsão de multa contratual,
aliás, tem basicamente duas funções: desestimular o comportamento
indesejado e compensar a outra parte, que não teve suas expectativas atendidas.
O que é responsabilidade das partes? O que não é? Ter consciência
desses pormenores faz parte da atividade empreendedora, faz parte de ter
um negócio e ter o controle total sobre ele. É, também, uma medida de
segurança, evitando possíveis conflitos e prezando pela maior transparência.
O importante é entender, mais uma vez, que cada contrato é particular e,
dentro dele, deve estar o que faz sentido, o que é razoável, para as partes
envolvidas. Além disso, vale ressaltar que os contratos são feitos para serem
cumpridos, o que, consequentemente e de forma positiva, fortalece a relação dos
envolvidos.

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