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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

Israel Rodrigues Teixeira

Luana Oliveira de Carvalho

Raphael Rios Zeymer

ASPECTOS RELACIONADOS À TÉCNICA DE CORTE COM FIO DIAMANTADO

Belo Horizonte

2015
Israel Rodrigues Teixeira

Luana Oliveira de Carvalho

Raphael Rios Zeymer

ASPECTOS RELACIONADOS À TÉCNICA DE CORTE COM FIO DIAMANTADO

Trabalho disciplinar de graduação


apresentado ao Departamento de Mineração
da Escola de Engenharia da Universidade
Federal de Minas Gerais

Área de habilitação: Perfuração e Desmonte


de Rochas

Orientador: Prof. Dr. José Ildefonso Gusmão


Dutra

Belo Horizonte

2015
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS ......................................................................................... i

LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................iii

RESUMO ................................................................................................................................... 4

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5

2. A EXTRAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS ............................................................. 7

2.1. Métodos de Lavra ........................................................................................................ 8


2.1.1. Técnicas de Corte Cíclicas ................................................................................... 9
2.1.1.1. Corte pelo Uso de Perfuração e Explosivos .................................................. 9
2.1.1.2. Perfuração Contínua .................................................................................... 10
2.1.1.3. Divisão Mecânica dos Blocos Por Meio de Inserção de Cunhas ................ 11
2.1.1.4. Divisão por Agentes Expansivos................................................................. 11
2.1.2. Técnicas de Corte Contínuo ............................................................................... 12
2.1.2.1. Fio Helicoidal .............................................................................................. 13
2.1.2.2. Jet-Flame ..................................................................................................... 14
2.1.2.3. Cortador a Corrente ..................................................................................... 14
2.1.2.4. Water Jet...................................................................................................... 15
2.1.2.5. Fio Diamantado ........................................................................................... 16
3. ESCOLHA DAS TÉCNICAS DE CORTE A SEREM ADOTADAS ............................. 17

4. TÉCNICA DE CORTE COM FIO DIAMANTADO ....................................................... 19

4.1. Abrasivos ................................................................................................................... 20


4.2. Constituição do Fio Diamantado ............................................................................... 21
4.3. Pérolas Diamantadas .................................................................................................. 22
4.3.1. Pastas Eletrodepositadas ..................................................................................... 23
4.3.2. Pastas Sinterizadas.............................................................................................. 24
4.4. Tipos de Fios Diamantados........................................................................................ 25
4.5. Equipamento de Corte ............................................................................................... 26
4.6. Operações de Corte .................................................................................................... 29
4.6.1. Ciclo Operacional ............................................................................................... 29
4.6.2. Tipos de Cortes Realizados com Fio Diamantado.............................................. 32
4.6.2.1. Corte Vertical Normal ................................................................................. 34
4.6.2.2. Corte Vertical em “L” ................................................................................. 34
4.6.2.3. Corte Horizontal Normal ............................................................................. 35
4.6.2.4. Corte Horizontal em “L” ............................................................................. 36
4.6.2.5. Corte Cego................................................................................................... 37
4.7. Vantagens do Uso do Corte a Fio Diamantado .......................................................... 38
4.7.1. Problemas no Uso do Corte a Fio Diamantado .................................................. 39
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 45


i

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

Figura 1: Desmonte mecânico por meio da divisão dos maciços rochosos a partir da inserção
de cunhas. ................................................................................................................................... 7

Figura 2: Esquema simplificado das metodologias empregadas na lavra de rochas ornamentais.


.................................................................................................................................................... 8

Figura 3: Operário realizando a carga de furos dispostos em linha reta para posterior detonação
e divisão de blocos a partir do plano de carga. A seta na figura, indica a linha sobre cuja a qual
os furos foram dispostos. ............................................................................................................ 9

Figura 4: Esquema simplificado da execução da perfuração contínua. .................................... 10

Figura 5: Finalização do corte de um bloco através de cunhas mecânicas............................... 11

Figura 6: Corte de granito através de argamassa expansiva. Na visão apresentada, observa-se


os furos nos quais a argamassa será inserida. ........................................................................... 12

Figura 7: Bloco separado por utilização de agentes auto expansivos. Percebe-se a presença de
resíduos brancos, formados pela argamassa, nas calhas dos furos. .......................................... 12

Figura 8: Esquema ilustrativo da utilização da técnica de corte por fio helicoidal. ................. 13

Figura 9: Corte de rocha silicatada pelo emprego de Jet-Flame. ............................................. 14

Figura 10: Cortadores a corrente, sendo o da esquerda constituído por uma corrente diamantada.
.................................................................................................................................................. 15

Figura 11: Detalhe do trabalho de equipamento composto por fios diamantados em sua
utilização no préacabamento de rochas graníticas. ................................................................... 16

Figura 12: Representação dos tipos de desgaste abrasivo. ....................................................... 19

Figura 13: Constituição do fio diamantado com separação à mola e com montagem simétrica.
.................................................................................................................................................. 21

Figura 14: Fio diamantado com cobertura vulcanizada. .......................................................... 21

Figura 15: Dimensões comuns das pérolas diamantadas.......................................................... 23

Figura 16: Pérola com pasta diamantada eletrodepositada. ...................................................... 24

Figura 17: Pérolas de pasta homogeneizada depositada por sinterização. ............................... 24

Figura 18: Mecanismo de desgaste das pérolas sinterizadas e eletrodepositadas. ................... 25


ii

Figura 19: Cabos de revestimento: (A) - por molas; (B) - vulcanizados; (C) - plastificados. .. 26

Figura 20: Máquina de acionamento de fio diamantado. ......................................................... 27

Figura 21: Controle à distância do maquinário de corte pela utilização de um Painel de


Comando................................................................................................................................... 28

Figura 22: Esquematização dos componentes do ciclo operacional de corte a fio diamantado.
.................................................................................................................................................. 30

Figura 23: Perfuratriz realizando um furo horizontal. .............................................................. 31

Figura 24: Introdução do fio diamantado com auxílio de um fio de nylon e ar comprimido... 31

Figura 25: Torção aplicada ao fio diamantado. ........................................................................ 31

Figura 26: Alguns tipos de emendas existentes no mercado. ................................................... 31

Figura 27: Circulação inicial do fio para prevenir rupturas por travamento. ........................... 32

Figura 28: Exemplos esquemático (esquerda) e real (direita) da metodologia aplicada na lavra
de rochas ornamentais (granítica, no exemplo). Nota-se a aplicação do corte a fio diamantado
como método de obtenção primária de blocos rochosos a serem trabalhados. ........................ 33

Figura 29: Representação do corte vertical normal. ................................................................. 34

Figura 30: Representação do procedimento de corte vertical em "L". ..................................... 35

Figura 31: Representação do corte horizontal normal. ............................................................. 36

Figura 32: Execução do corte horizontal em "L". .................................................................... 36

Figura 33: Representação da execução do corte cego. ............................................................. 37

Figura 34: Inserção da coluna para realização de corte cego. .................................................. 38

Figura 35: Adensamento das marcas deixadas pelo fio............................................................ 40

Figura 36: Esquema ilustrativo de um corte vertical, mostrando o ângulo de abertura α, mantido
desejavelmente elevado com a inserção da polia na parte superior do bloco........................... 40

Figura 37: Anomalia de desgaste diferenciado - ovalização. ................................................... 41

Figura 38: Realização de emendas em fio diamantado. ........................................................... 41

Figura 39: Efeito cometa em uma pérola diamantada. ............................................................. 42

Figura 40: Diminuição da distância entre as pérolas, provocada pelo superaquecimento do fio.
.................................................................................................................................................. 43
iii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Produção anual de rochas ornamentais. ...................................................................... 5

Tabela 2: Comparação técnico-econômica entre algumas tecnologias existentes para a lavra de


mármore. ................................................................................................................................... 17

Tabela 3: Comparação técnico-econômica entre algumas tecnologias existentes para a lavra de


granito. ...................................................................................................................................... 18

Tabela 4: Frequência de disposição das pérolas ao longo do cabo de aço guia. ...................... 22
4

RESUMO

O uso de fio diamantado como técnica de desmonte na lavra de rochas ornamentais


(especialmente) é uma técnica com crescente uso. Tal técnica é relativamente recente e merece
ser alvo de estudos mais robustos, uma vez que, apesar de ser uma técnica promissora, apresenta
inúmeros problemas decorrentes de sua má utilização. A potencialidade de uso no Brasil é ainda
pouco aproveitada tendo em vista a vasta explotação de rochas ornamentais nesse país. Apesar
de seu maior custo operacional e um relativo alto desgaste do elemento cortante, o uso do fio
diamantado apresenta inúmeras vantagens como: aumento da produtividade, melhoria na
qualidade de corte, maior recuperação na lavra e diminuição do nível de impactos ambientais.

Palavras-chave: fio diamantado, desmonte, lavra


5

1. INTRODUÇÃO

A economia mineral brasileira, assim como a de diversos países, conta com uma robusta
cadeia produtiva de rochas ornamentais. Segundo o Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), em sua publicação do Sumário Mineral de 2014, a produção mundial de
rochas ornamentais atingiu, em 2013, um montante de 123,5 Mt. Desse total, o Brasil contribuiu
com uma produção de 8,4%. O crescimento da produção brasileira de rochas ornamentais
aumentou cerca de 400%, em um período de aproximadamente 20 anos, sendo o crescimento
da produção mundial neste mesmo período estipulado em 270%.

Ainda segundo o DNPM, em sua publicação do Anuário Mineral Brasileiro de 2010, as


reservas lavráveis brasileiras são cotadas na ordem de 7 bilhões de toneladas. Estatísticas
confiáveis a respeito das reservas mundiais são escassas, muito pelo fato de existirem grandes
produtores dotados de política externa estrategicamente menos aberta.

A produção brasileira no ano de 2013 chegou a um montante de 10,5 Mt, mostrando


grande crescimento em relação aos anos anteriores (cerca de 13% a mais que a produção de
2012). O crescimento observado é subsidiado tanto pelo crescimento do mercado interno quanto
do externo.

Tabela 1: Produção anual de rochas ornamentais.

Produção (10³ t)
País %
2011 2012 2013
[2014/2013]
Brasil 9.000 9.300 10.500 8,4
China 33.000 36.000 38.000 30,5
Índia 13.250 14.000 17.500 14,0
Turquia 10.000 10.600 11.500 9,2
Irã 8.500 8.500 7.000 5,6
Itália 7.800 7.500 7.250 5,8
Espanha 5.750 5.500 5.250 4,2
Egito 3.500 3.500 3.000 2,4
Portugal 2.750 2.750 2.750 2,2
Outros 18.050 18.650 21.950 17,6
TOTAL 111.600 116.300 124.700 100,0

Fonte 1: DNPM, 2014 - adaptado.


6

O crescimento nas exportações tem grandes implicações na indústria extrativa brasileira.


A entrada no mercado externo é alavancada (e, na maioria das vezes, dependente) pelo
aperfeiçoamento das técnicas e tecnologias utilizadas. O emprego de métodos mais condizentes
com a vanguarda da explotação de rochas ornamentais influencia no aumento da produtividade
e qualidade dos bens.

Tendo em vista a necessidade de produzir cada vez mais, com a maior qualidade
possível, tem-se observado uma melhora progressiva na lavra, em especial nas técnicas de corte.
Dentre as técnicas aprimoradas encontra-se a de corte por fio diamantado (REGADAS, I. C. M.
C, 2006).

Vale a pena ressaltar que, apesar do ganho tecnológico, a qualidade de corte não
melhorou na mesma proporção. Esse fato pode ser relacionado à ineficiência de treinamento de
pessoal, o que, inevitavelmente, influencia tanto na produtividade quanto na qualidade.

O aumento no nível de utilização da técnica de fio diamantado, especialmente nas


pedreiras de granito, gerou crescimento na taxa de retira de blocos. Além do aumento da
produtividade das empresas e da qualidade dos produtos gerados, aspectos importantes tais
como a diminuição do nível de vibrações, ruídos e geração de resíduos finos são verificados
quando do emprego da técnica em questão.

Como toda tecnologia existente o emprego do corte nesses moldes tem, também, alguns
aspectos negativos, os quais, por vezes, inviabilizam seu uso ao levarmos em conta as
características inerentes à indústria extrativa brasileira. Os custos dos equipamentos e insumos
para o corte a fio diamantado são elevados para empresas pequenas. Além disso, se observa
muitos problemas advindos da má utilização do equipamento o que acaba por neutralizar os
ganhos em produtividade, os quais, por si só, deixariam o custo marginal de produção menor.
7

2. A EXTRAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

As jazidas características de rochas ornamentais podem ser levadas em matacões e em


maciços rochosos, respeitando, sempre, a necessidade de adequação das técnicas e métodos
utilizados à relação custo/benefício (IDEMBURGO, K.,2012).

Os métodos de lavra de rochas ornamentais foram amplamente aperfeiçoados ao longo


da história. As primeiras formas de desmonte de tais minerais, com intuito de explotação, dizem
respeito ao emprego de cunhas nas fissuras das rochas de forma a dilatá-las, dividindo-as
consequentemente.

Figura 1: Desmonte mecânico por meio da divisão dos maciços rochosos a partir da inserção de cunhas.
Fonte: REGADAS, 2006.

A primeira grande evolução observada foi introduzida com o advento dos explosivos,
os quais eram inseridos nas falhas e fraturas dos maciços rochosos, gerando blocos passíveis de
movimentação após serem detonados.

As evoluções posteriores, consideradas importantes na lavra, consistiram do fomento de


tecnologias e métodos tais como: corte a fio helicoidal, cortador à corrente e a fio diamantado.
Inicialmente, tais tecnologias eram empregadas em desmonte de rochas menos resistentes,
sendo que no final da década de 1980 essa tecnologia teve um incremento tecnológico que
permitiu seu uso no desmonte de rochas como os granitos.
8

2.1. Métodos de Lavra

Haja vista a grande gama de metodologias existentes, o conhecimento das características


da rocha cuja qual se deseja desmontar é extremamente importante. Tais características darão
parâmetros fundamentais para uma escolha ótima da metodologia de lavra. O objetivo do
emprego de uma técnica de lavra, seja ela qual for, é otimizar os ciclos produtivos, visando,
obviamente, maximizar o retorno econômico-financeiro.

Ao escolher um método de lavra, em suma, o planejador deve levar em conta parâmetros


diversos, como: localização do projeto, morfologia do maciço, volume da reserva, grau de
anisotropia, características físicas das rochas, adequação à política de minimização de danos
ambientais e etc. Após uma análise pormenorizada desses e de outros fatores é possível escolher
uma sequência espacial e temporal lógica de operações, subdivididas em ciclos, para o máximo
aproveitamento da jazida.

De uma forma simplista pode-se subdividir os métodos de lavra de rochas ornamentais


conforme apresentado na figura a seguir.

LAVRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Matacão Maciço Rochoso

Seletiva Subterrânea Bancadas Desmoronamento

Altas (> 4m)

Baixas (< 4m)

Figura 2: Esquema simplificado das metodologias empregadas na lavra de rochas ornamentais.


Fonte: IDEMBURGO, K., 2012 – adaptado.
9

Com relação ás técnicas de corte de rochas ornamentais, existem dois grandes campos
a serem discriminados: as tecnologias cíclicas e as de corte contínuo. As tecnologias de corte
contínuo são tecnologias de vanguarda, incorporando técnicas modernas e que buscam a
maximização da eficiência das operações.

2.1.1. Técnicas de Corte Cíclicas

O emprego das técnicas de corte cíclicas é caracterizado pela realização de sucessivas


operações, podendo ou não serem sobrepostas, para isolar a massa rochosa desejada. As
metodologias do tipo são bastante relacionadas com o emprego de técnicas de perfuração. Uma
vantagem notável das metodologias cíclicas consiste na grande flexibilidade de suas operações,
o que leva a um processo produtivo versátil e adaptável.

2.1.1.1. Corte pelo Uso de Perfuração e Explosivos

O método consiste em realizar furos próximos, dispostos especialmente em linha reta, e


carrega-los fracamente. A baixa carga faz com que, após a detonação, a rocha se rompa apenas
no plano desejado.

Como em qualquer método produtivo, por ser uma técnica extremamente flexível e com
baixa padronização, é utilizada em maior escala em pedreiras de porte pequeno a médio.

Figura 3: Operário realizando a carga de furos dispostos em linha reta para posterior detonação e divisão de blocos
a partir do plano de carga. A seta na figura, indica a linha sobre cuja a qual os furos foram dispostos.
Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.
10

Caso a separação de grandes massas rochosas seja necessária, é possível se empregar


agentes explosivos em uma maior escala. Por exemplo, desejando-se separar uma prancha de
grande volume, carrega-se os furos com maior intensidade, o que garante a divisão.

2.1.1.2. Perfuração Contínua

A técnica consiste em realizar uma série de furos por perfuração justaposta, de modo a
obter um plano de ruptura consistente com o plano de interseção de tais furos. Um exemplo de
sequenciamento operacional consiste em realizar uma série de furos de 2,5” de diâmetro, com
posterior justaposição de furos de 3,0” de diâmetro. Tais furos secundários são posicionados
nos “vazios” observados entre os furos iniciais.

A metodologia mencionada é esquematizada conforme a figura a seguir. Os círculos


sombreados em azul correspondem à perfuração já realizada, enquanto os de contorno tracejado
são as perfurações que serão feitas na etapa posterior.

Figura 4: Esquema simplificado da execução da perfuração contínua.


Fonte: Contribuição dos autores.
11

2.1.1.3. Divisão Mecânica dos Blocos Por Meio de Inserção de Cunhas

Após realizar perfurações segundo direções em cujas quais o rompimento levará ao


plano desejado, insere-se cunhas nos furos. Por meio de esforço mecânico na inserção das
cunhas, o maciço rochoso se afasta e acaba por se dividir. Por ser uma técnica extremamente
simples e barata, é largamente utilizada, desde os primórdios do desmonte de rochas
ornamentais.

Figura 5: Finalização do corte de um bloco através de cunhas mecânicas.


Fonte: CPRM, 2013.

2.1.1.4. Divisão por Agentes Expansivos

O uso de agentes expansivos é bastante apreciado pelas empresas extratoras de rochas


ornamentais. Seu mecanismo de funcionamento consiste em realizar perfurações, da mesma
forma que as feitas para divisão com cunhas, sendo, porém mais espaçadas. Esse maior
espaçamento incorre na diminuição dos custos de produção.

Após a perfuração, os furos são preenchidos com espécie de argamassa auto expansiva,
a qual, ao aumentar de volume, rompe a compacidade da rocha e a divide. A divisão feita por
esse método, além de ter um menor custo produtivo, permite uma maior recuperação do maciço
rochoso, pois mantém de forma mais desejável as características da rocha no plano de
faturamento.
12

Figura 6: Corte de granito através de argamassa expansiva. Na visão apresentada, observa-se os furos nos quais a
argamassa será inserida.
Fonte: MENEZES, 2005

Figura 7: Bloco separado por utilização de agentes auto expansivos. Percebe-se a presença de resíduos brancos,
formados pela argamassa, nas calhas dos furos.
Fonte: CPRM, 2013.

2.1.2. Técnicas de Corte Contínuo

É classificada como contínua, a técnica de corte cuja qual é executada em uma única
operação. Ou seja, não há o desenvolvimento de técnicas combinadas complementares,
alternadas ou não. (MENEZES, 2005).
13

Em uma definição mais simplista, classifica-se uma operação de corte como contínua
quando não verifica-se o emprego predominante de perfuração e/ou explosivos em suas
operações. (ALENCAR, 1996).

2.1.2.1. Fio Helicoidal

O fio helicoidal utilizado na lavra de rochas ornamentais é composto por três filamentos
de aço, geralmente com diâmetros variando de 3,0 mm a 5,0 mm, entrelaçados de modo a
formar uma espécie de hélice. O mecanismo de corte consiste em tracionar o fio sobre a
superfície da rocha, sendo que junto do fio que se movimenta, uma lama abrasiva é adicionada,
aumentando a efetividade da operação. Todo o processo é executado em circuito fechado, com
acionamento a motor e utilização de um sistema de roldanas.

A sua aplicabilidade é indicada em rochas específicas, geralmente menos resistentes


(menos duras). O seu emprego em projetos extratores de granito é limitado, o que pode ser
explicado pelos altos custos do material abrasivo, aliado a redução da sua já baixa velocidade
de corte, agravado pelas dificuldades de controle operacional do mecanismo e o elevado custo
de mão de obra. (MENEZES, 2005).

Por sua inerente limitação, tal técnica está sendo rapidamente substituída pela utilização
de fio diamantado. Hoje em dia sua aplicação é quase que totalmente restrita no corte de
volumes primários de mármores em lavras nordestinas, sendo que, mesmo em tais localidades,
a tendência é que caia em desuso.

Figura 8: Esquema ilustrativo da utilização da técnica de corte por fio helicoidal.


Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.
14

2.1.2.2. Jet-Flame

O corte por Jet-Flame é realizado através de uma lança contendo em sua ponta um
maçarico robusto, o qual gera uma chama de temperatura consideravelmente alta. A incidência
da chama sobre a rocha, a qual preferencialmente deve ser homogênea e silicatada, faz com que
os minerais se dilatem de forma diferenciada. Essa dilatação diferencial segrega os minerais,
principalmente o quartzo e demais silicatos, de forma a expulsa-los sob forma de areia. O
método é aplicável pelo fato dos diversos minerais terem diferentes coeficientes de dilatação
térmica.

As dimensões ideais da fenda a ser trabalhada com o maçarico são de 0,10 m a 0,20 m
de largura, com uma profundidade de até 6 m.

Figura 9: Corte de rocha silicatada pelo emprego de Jet-Flame.


Fonte: MENEZES, 2005.

2.1.2.3. Cortador a Corrente

O equipamento consiste em um maquinário constituído, basicamente, de um braço no


qual uma corrente é prendida. A corrente dentada gira sobre o braço, de modo a cortar a rocha
na direção do conjunto.
15

Em sua aplicação em rochas menos resistentes a corrente é feita por dentes de uma liga
metálica dura, sendo que a mesma é diamantada com intuito de uso em rochas mais duras. O
método tem uma importante limitação, de característica dimensional: o comprimento do braço,
o qual representa uma limitação da profundidade do corte realizado.

Figura 10: Cortadores a corrente, sendo o da esquerda constituído por uma corrente diamantada.
Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.

2.1.2.4. Water Jet

Essa técnica consiste em cortar a rocha utilizando-se um ou mais jatos de água à alta
pressão. O corte é realizado pois as partículas encontradas nas imediações das
microdescontinuidades da rocha são segregadas das demais por meio de arraste mecânico.

A técnica em questão pode ser considerada como de recente evolução, e apresenta


crescente aplicação na lavra de rochas ornamentais. Sua maior eficiência é observada em
materiais que possuem granulometria cristalina bem definida, sendo que, a presença de
microdescontinuidades mineralógicas potencializa o processo. (REGADAS, 2006).

Como o processo de corte se dá por arraste mecânico seletivo, as superfícies criadas são
rugosas, porém satisfatoriamente regulares. Os parâmetros importantes do equipamento dizem
respeito, principalmente, à pressão e vazão empregadas, além das características geométricas
da haste e bico utilizados. Desta forma, com a adequação dos parâmetros ao tipo de rocha, pode-
se obter uma espessura de corte que varia geralmente de 20 mm a 50 mm.
16

2.1.2.5. Fio Diamantado

A técnica de corte a fio diamantado, alvo deste trabalho, é a mais utilizada atualmente.
O fio, é composto por um cabo de aço inox flexível, formado por fios torcidos sobre o qual são
acopladas pérolas diamantadas.

O assunto será abordado de forma mais profundo no prosseguir do texto, mas, em caráter
introdutório, pode-se resumir a técnica como versátil, inovadora e promissora. O fio diamantado
pode ser utilizado em cortes verticais e horizontais, em bancadas ou no esquadrejamento após
o desmonte.

Dois parâmetros são extremamente importantes no que diz respeito a performance do


fio diamantado: a velocidade de corte e a durabilidade do material cortante. O ideal,
obviamente, é balancear os parâmetros de entrada da operação (por exemplo a potência
transmitida pelo maquinário ao fio e a tensão do mesmo) de forma a buscar a ótima relação
entre velocidade e durabilidade.

Figura 11: Detalhe do trabalho de equipamento composto por fios diamantados em sua utilização no
préacabamento de rochas graníticas.
Fonte: DIAMANT BOART, 2008.
17

3. ESCOLHA DAS TÉCNICAS DE CORTE A SEREM ADOTADAS

No processo do planejamento da lavra em um empreendimento mineiro é extremamente


importante que seja feita a correta escolha da metodologia a ser posteriormente adotada. Como
resultado dessa etapa, espera-se a geração de um modelo geométrico-espacial da mina, cujo
qual deve ser condizente com as características da jazida.

A escolha da técnica mais viável de desmonte de rochas a ser escolhida, assim como das
tecnologias de corte que a baliza, deve levar em conta parâmetros morfológicos, geológicos,
geométricos, de disponibilidade de insumos em geral e relacionados aos custos da operação.

Os subsetores de explotação de granitos e mármore são de extrema importância para a


indústria mineral de rochas ornamentais, sendo responsáveis por boa parte do mercado. Haja
vista tal importância e levando-se em conta suas importantes características (as quais divergem
bastante entre essas duas rochas) parametrizou-se a escolha do método e tecnologias a serem
aplicadas para essas rochas.

As tabelas a seguir levam em conta aspectos técnicos, econômicos, operacionais, de


localização e relacionados as características dos produtos e subprodutos com objetivo de
estabelecer uma comparação entre as técnicas disponíveis.

Tabela 2: Comparação técnico-econômica entre algumas tecnologias existentes para a lavra de mármore.
Modalidade Operacional e Parâmetros Técnicos
Prestação EXPL FH FD CC PC CMH
Velocidade de Corte (m²/h) - 2-3 10-12 5-7 - -
Largura do Corte (mm) - 9-10 11-12 40-50 - -
Rugosidade (cm) 5-8 1-2 2-4 0-1 2-3 4-8
Espessura da Zona de 10-15 - - - - -
Desperdício (cm)
Dedução Comercial (cm) 15-23 1-2 2-4 0-1 2-3 4-8
Custos de Corte Unitário 20-25 30-40 18-24 23-32 28-38 19-24
(US$/m²)
Valor Perdido de 200 30-46 2-4 4-8 0-2 4-6 8-16
acordo com a 400 60-92 4-8 8-16 0-4 8-12 16-32
qualidade da rocha 800 120-184 8-16 16-32 0-8 16-24 32-64
(US$/m³) [*]
Fonte: REGADAS, 2006.
18

Tabela 3: Comparação técnico-econômica entre algumas tecnologias existentes para a lavra de granito.
Modalidade Operacional e Parâmetros Técnicos
Prestação EXPL FH FD CC PC CMH
Velocidade de Corte (m²/h) - 1-2 3-4 1-3 - -
Largura do Corte (mm) - 80-100 11-12 30-50 - -
Rugosidade (cm) 5-8 4-6 2-4 1-2 2-3 4-8
Espessura da Zona de 5-10 10-20 - - - -
Desperdício (cm)
Dedução Comercial (cm) 10-18 14-26 2-4 1-2 2-3 4-8
Custos de Corte Unitário 23-30 75-90 60-90 35-60 35-40 25-31
(US$/m²)
Valor Perdido de 200 20-36 28-52 4-8 2-4 4-6 8-16
acordo com a 400 40-72 52-104 8-16 4-8 8-12 16-32
qualidade da rocha 800 80-144 104-208 16-32 8-16 16-24 32-64
(US$/m³) [*]
Fonte: REGADAS, 2006

Legenda para as duas tabelas:

EXPL: Desmonte a Explosivo


FH: Fio Helicoidal
FD: Fio Diamantado
CC: Cortador à Corrente
PC: Perfuração Contínua
CMH: Cunha Mecânica ou Hidráulica
(*) Coeficiente de utilização de 50%

A partir de uma análise de parâmetros comparativos tais quais aos apresentados pode-
se gerar bom embasamento teórico à escolha da técnica a ser utilizada na lavra. Vale ressaltar
que a percepção após rápida pesquisa sobre o tema direciona a se pensar que tal análise não é
estática e muito menos uma fórmula mágica. A dinamicidade inerente às operações mineiras
deve ser levada em conta, de modo a adequar a escolha da maneira mais viável possível.
19

4. TÉCNICA DE CORTE COM FIO DIAMANTADO

O corte a fio diamantado se dá a partir do desgaste oriundo da interação entre os “corpos


cortantes” e os “corpos cortados”. Existe um ramo da ciência que estuda tal desgaste, o qual é
causado pela interação de elementos submetidos a um tipo de atrito, tal ciência é nomeada
tribologia.

O corte a fio diamantado se enquadra, para a tribologia, na categoria de desgaste do tipo


abrasivo a dois corpos. A figura abaixo exemplifica os desgastes abrasivos a dois e três corpos.

Figura 12: Representação dos tipos de desgaste abrasivo.


Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.

Observa-se que o corte produzido por um sistema de desgaste a dois corpos gera
superfícies mais lisas e “controladas”. Em um desgaste a dois corpos, o elemento cortante
encontra-se fixado, o que pode explicar esse maior controle de corte. A diferença entre os
aspectos das superfícies formadas por esses dois tipos de desgaste pode ser avaliada pela
parametrização de suas rugosidades. A rugosidade obtida no desgaste a dois corpos varia de 1/5
a 1/10 da rugosidade relacionada ao desgaste a três corpos.

Uma outra característica passível de categorização para o desgaste abrasivo diz respeito
ao carregamento que o sistema de corte proporciona. A abrasão, nesta ótica, pode ser por
riscamento ou goivamento.

Na abrasão por riscamento a tensão do sistema é baixa. Desta forma não ocorre a
fragmentação do abrasivo, sendo o corte obtido basicamente pela velocidade relativa entre os
20

corpos – velocidade de corte. A situação de riscamento é predominante (e até mesmo mais


desejável) no corte de rochas por fio diamantado. Já no goivamento, a tensão do sistema é alta,
o que gera uma retirada mais grosseira de material e uma indesejável fragmentação do elemento
cortante (abrasivo). Haja vista que um melhor controle e menor desgaste do material abrasivo
é obtido no riscamento, tal tipo de abrasão é mais desejável no corte a fio diamantado.

4.1. Abrasivos

Um abrasivo nada mais é que um material capaz de arrancar partículas de outro material
por atrito, causando um, relativamente, rápido e eficiente desgaste no material alvo da abrasão.

A capacidade de um abrasivo qualquer em remover material da peça submetida ao


processo de desgaste é denominada abrasividade. Ao analisar se um material será um bom
abrasivo, alguns fatores importantes devem ser considerados, como:

 Estrutura do material;

 Dureza do material;

 Comportamento mecânico;

 Forma do grão;

 Distribuição granulométrica;

 Tamanho médio dos grãos.

Uma forma de tentar equacionar tais fatores foi introduzida por AGUS et al. (1966):

𝑃𝐴𝑏𝑟 = 𝐻𝑝 . 𝑆. 𝜌𝑝 . 𝑑𝑝 . 𝑚𝐴

onde:

Hp: Dureza do material abrasivo;

S: Forma da partícula;

Ρp: Peso específico do material;

Dp: Diâmetro das partículas;


21

mA: Fluxo de massa.

4.2. Constituição do Fio Diamantado

O fio diamantado consiste basicamente em um cabo de aço galvanizado com 5 mm de


diâmetro (Diamant Boart). Tal cabo de aço serve como suporte para as pérolas diamantadas, as
quais podem ser separadas de duas formas diferentes, dependendo do material que se deseja
cortar. Sendo o emprego em corte de blocos de mármore, a separação é feita por molas metálicas
sem cobertura especial. Já no corte de rochas silicatadas utiliza-se uma separação de material
plástico ou emborrachado. Tal diferença na separação é explicada pelas diferentes dureza e
resistência das rochas a serem cortadas.

Figura 13: Constituição do fio diamantado com separação à mola e com montagem simétrica.
Fonte: DIAMANT-BOART, 2008.

Figura 14: Fio diamantado com cobertura vulcanizada.


Fonte: DIAMANT-BOART, 2008.

As figuras acima são exemplos dos dois tipos de fios diamantados mencionados, sendo
o da Figura 13 o utilizado em corte de materiais menos resistentes como o mármore, e o da
Figura 14 o utilizado em corte de rochas silicatadas como o granito.

As pérolas diamantadas são colocadas, normalmente, em uma quantidade padronizada.


Essa frequência varia de acordo com a necessidade, ou seja, de acordo com o material a se
desgastar.
22

Tabela 4: Frequência de disposição das pérolas ao longo do cabo de aço guia.


Frequência de disposição das
Tipo de material
pérolas (pérolas/metro)
Rochas silicatada resistentes (como granito) 39 a 41
Rochas menos resistentes (como mármore) 29 a 35
Fonte: REGADAS, 2006.

O revestimento do cabo e separação das pérolas pode ser feito conforme dois tipos de
montagem: montagem por mola ou por injeção de polímero. Como já discutido, a diferença
decorre do material no qual de utilizará o abrasivo.

A montagem por mola consiste em introduzir alternadamente no cabo de aço as molas


e as pérolas, juntamente com aros, os quais tem a finalidade de dar “firmeza” ao conjunto. Já
na montagem por injeção, o conjunto inicial pérola-cabo é levado a um molde, o qual injeta o
polímero, conferindo ao sistema grande firmeza e maior proteção e segurança se comparado
com a montagem por mola.

4.3. Pérolas Diamantadas

As pérolas são formadas por um anel de aço que suporta uma “pasta” diamantada,
composta por uma liga metálica e por grãos de diamante. As pérolas diamantadas são os
componentes do fio cujas quais tem a capacidade de corte e, portanto, são de extrema
importância a esse sistema de corte.

A Figura 15 apresentada a seguir esquematiza as dimensões das pérolas, as quais podem


variar de acordo com o fabricante. Usualmente, o anel terminado pela pasta diamantada
apresenta cerca de 10,0 mm a 11,5 mm de diâmetro e o anel interno apresenta um diâmetro de
cerca de 7,0 mm. O comprimento longitudinal das pérolas diamantadas é comumente de 6 mm.

Durante o trabalho o diâmetro das pérolas diminui, sendo que sua perda de função crítica
acontece quando o anel interno de aço é atingido. Ao atingir tal diâmetro, a troca do fio se faz
necessária, para que custos indesejados e baixa produtividade não sejam verificados.

De acordo com o tipo de rocha a ser cortado, necessita-se de uma pérola de maior ou
menor qualidade e eficiência. Para isso deve-se observar, entre outros, parâmetros tais como a
forma de concreção e o tamanho dos diamantes utilizados. A retenção dos diamantes na pérola
23

é feita pela utilização de ligantes, os quais podem possuir diferentes características, também de
acordo com o material a ser cortado.

Figura 15: Dimensões comuns das pérolas diamantadas.


Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.

A pasta diamantada pode ser depositada nos anéis de suporte de duas formas: por
eletrodeposição ou por sinterização.

4.3.1. Pastas Eletrodepositadas

A pasta diamantada é depositada nos suportes anelares de aço por meio de eletrólise. O
processo consiste em submeter os suportes a banhos galvânicos, de forma que grãos de
aproximadamente 0,30 a 0,40 quilates depositam-se sobre eles. As características notáveis dos
materiais fabricados dessa maneira são sua alta robustez, sua boa capacidade de corte no
arranque e a possibilidade de operarem em uma alta velocidade de corte.

O cabo formado por pérolas eletrodepositadas é o mais indicado para cortes realizados
em rochas de baixa dureza. Os diamantes se dispõe de forma mais protuberantes, viabilizando
um corte eficaz, mesmo a pérola se desgastando com mais facilidade. A velocidade de corte é
afetada com o tempo, muito devido ao desgaste das protuberâncias dos grãos de diamantes.
Uma vantagem dos fios perolizados por eletrodeposição é a possibilidade de serem acionados
por máquinas de baixas potência e de necessitarem de uma refrigeração reduzida, o que reduz
os custos operacionais e de investimento em equipamentos.
24

Figura 16: Pérola com pasta diamantada eletrodepositada.


Fonte: DIAMANT-BOART, 2008.

4.3.2. Pastas Sinterizadas

O processo de deposição por sinterização foi concebido como uma forma mais
abrangente de agente cortante. Os fios constituídos por pérolas formadas de tal maneira são
utilizados também em rochas mais duras e abrasivas, e são considerados fios de “longa
duração”, a qual, obviamente, depende da forma com que a operação prossegue.

A sinterização consiste na homogeneização, à altas temperaturas e pressões, de uma


pasta constituída de “poeira diamantada” e “poeira metálica”. O processo permite uma
distribuição mais homogênea e de aspecto menos grosseiro da pasta sobre o suporte metálico.
Essa distribuição mais homogênea e “lisa”, diminui o desgaste das pérolas e permite o corte de
materiais mais duros, uma vez que, ao desgastar-se, novos diamantes são expostos à superfície
cortante.

Como já era de se esperar, a composição da liga metálica, a concentração e


granulometria dos grãos de diamantes, dependem do tipo de aplicação.

Figura 17: Pérolas de pasta homogeneizada depositada por sinterização.


Fonte: DIAMANT-BOART, 2008.
25

As grandes vantagens das pérolas depositadas por sinterização em relação as pérolas


depositas por eletrólise dizem respeito à sua maior constância na velocidade de corte, maior
durabilidade e maior produtividade. O que lhe dá tais vantagens é seu mecanismo de desgaste.

As pérolas sinterizadas são constituídas por multicamadas. Desta forma, ao ter


desgastada uma camada mais externa, uma nova camada diamantada surgirá. Isso garantirá que
o corte prossiga com parâmetros praticamente constantes, até o desgaste final e exposição do
anel metálico de suporte. Já as pérolas feitas por eletrodeposição apresentam uma monocamada
diamantada, o que faz que sua produtividade (velocidade e eficiência de corte) caia
drasticamente em um espaço de tempo menor.

Figura 18: Mecanismo de desgaste das pérolas sinterizadas e eletrodepositadas.


Fonte: CARANASSIOS, A.; PINHEIRO, J.R., 2004 apud REGADAS, 2006.

No esquema acima é importante observar que as linhas pontilhadas, nos últimos quadros
relacionados as pérolas eletrodepositadas, indicam a inexistência de diamantes na pérola. Tal
constatação confirma a menor vida útil de formadas por pérolas do tipo.

4.4. Tipos de Fios Diamantados

O tipo de fio diamantado varia com sua aplicação, ou seja, varia de acordo com o
material que se deseja cortar e com a etapa que se encontra no processo de aproveitamento do
bem mineral (por exemplo se é destinado ao uso em pedreiras ou em serrarias). Respeitando
26

tais parâmetros, um fio diamantado pode ser revestido por: molas, plásticos ou materiais
vulcanizados (borracha).

Figura 19: Cabos de revestimento: (A) - por molas; (B) - vulcanizados; (C) - plastificados.
Fonte: DIAMANT-BOART, 2008 – adaptado.

Inicialmente o tipo de fio empregado era apenas o com revestimento por molas. Contudo
esse sistema tinha inerentes problemas, haja vista as características das operações de lavra. Sua
vida útil era diminuída consideravelmente, uma vez que tal revestimento não protegia os cabos
das intempéries. Além disso, no emprego em rochas mais duras, o revestimento não era capaz
de proteger o cabo de maneira satisfatória da abrasão.

Desta forma o surgimento de revestimentos plásticos e vulcanizados aumentou a vida


útil dos cabos e permitiu, junto com o advento de matérias e técnicas mais robustas, a aplicação
das técnicas de corte com fio diamantado em rochas cada vez mais duras.

4.5. Equipamento de Corte

Os equipamentos cujos quais eram utilizados na técnica de corte com fio helicoidal
foram a base teórica para a elaboração do maquinário específico para o emprego do fio
diamantado. Atualmente existem equipamentos de grande tecnologia, operados de forma
automática através de regulação eletrônica e acionados por motores de grande potência e
eficiência.
27

Figura 20: Máquina de acionamento de fio diamantado.


Fonte: MARINI QUARRIES GROUP.

O maquinário atualmente utilizado nas lavras de rochas ornamentais, principalmente de


granitos, consiste basicamente de uma plataforma de abrigo do motor, sendo o movimento feito
por um sistema pinhão-cremalheira, ou por patins engatados no chassi e cujos quais deslizam
sobre trilhos. O acionamento do sistema é feito a distância, em um painel de comando
eletrônico.

De uma forma geral o maquinário conta com uma série de partes funcionais, as quais
são dispostas de maneira a otimizar a operação.

O volante principal, de diâmetro variando entre 500 mm a 1.000 mm, é posicionado


lateralmente aos trilhos, o que o possibilita que seja rotacionado de 360º. Tal rotação permite
que o maquinário seja utilizado tanto para cortes verticais, quanto para cortes horizontais. O
volante é o responsável pelo movimento do fio, cujo tensionamento é feito por meio do
deslocamento de uma unidade tensionadora. As polias menores, vistas na figura apresentada,
servem de guia para o fio e tem um diâmetro de aproximadamente 350 mm.

A qualidade e eficiência das operações de corte estão diretamente ligadas a parâmetros


do equipamento utilizado. Os parâmetros mais importantes, cujos quais influenciam
significativamente na eficiência da operação e capacidade de corte, são a potência e a
velocidade de rotação.
28

Figura 21: Controle à distância do maquinário de corte pela utilização de um Painel de Comando.
Fonte: MARINI QUARRIES GROUP.

O torque obtido e disponível para o corte é obtido pela equação abaixo:

𝑃
∆𝑇 = 𝑘 ×
𝜔
Onde:

ΔT: Torque do motor principal (kg.f.m);

k: Constante = 716;

P: Potência do motor principal (cv);

ω: Velocidade do motor principal, em revoluções por minuto (rpm).

O torque é um importante fator a ser levado em conta em qualquer corte a fio


diamantado. Quanto maior o seu valor, maior será o comprimento máximo possível do fio, o
que possibilita sua utilização em cortes de maiores dimensões.
29

Em um rápido exercício mental, pode-se chegar a uma relação importante entre as


características da rocha a ser cortada e a velocidade do fio. É de se esperar que uma rocha mais
dura ofereça maior dificuldade para o fio se movimentar. Assim, chega-se à conclusão de que
a velocidade periférica linear do fio diamantado é inversamente proporcional a dureza da rocha
cortada. A equação abaixo matematiza esse raciocínio:

𝜔
𝑉𝑝 = 𝐶𝑐𝑣 ×
𝑘

Onde:

Vp: Velocidade periférica linear do fio (m/s);

Ccv: Comprimento da circunferência do volante (m);

ω: Velocidade do motor principal (rpm);

k: Constante = 60.

4.6. Operações de Corte

4.6.1. Ciclo Operacional

Como em qualquer operação na indústria mineral (e em todas as outras), o correto


prosseguimento das operações constituintes da operação geral é de suma importância para
atingir resultados satisfatórios.

O esquema abaixo apresenta as componentes do ciclo operacional geral de execução de


corte a fio diamantado de forma simplificada.
30

• Realização de furos coplanares que determinam a superfície a ser cortada, por meio do uso de
perfuratrizaes. Segundo REGADAS, 2006; as perfuratrizes mais utilizadas são as do tipo "down-the-
Perfuração hole"

• As polias guia devem ser instaladas com alinhamento condizente ao corte a ser realizado
Polias Guia

• Usa-se um fio de nylon, transportado por ar comprimido até a saída do furo, como auxiliar para a
instalação do fio diamantado. O fio diamantado é amarrado no cordão, o qual é puxado através dos
Instalação do furos
Fio

• Aplica-se uma torção, que pode variar de 1,5 a 2,0 voltas por metro de fio, de modo a buscar o desgaste
homogêneo das pérolas diamantadas
Torção

• Deve-se fechar o círculo do fio diamantado. Para isso usa-se emendas engastadas em suas extremidades
Emenda

• A circulação inicial do fio pelo sistema maquinário-rocha é feita manualmente e tem como finalidade
Circulação previnir possíveis rupturas em caso do fio estar preso na rocha ou polias
Inicial

• Inicia-se o corte com uma baixa velocidade periférica, aumentando-a gradativamente à medida que se
forma uma calha de corte pelo arredondamento das quinas. Nesta fase inicial o fluxo de água deve ser
Início do maior que o normal
Corte

• Após a fase inicial do corte, a velocidade deve ser ajustada para a velocidade operacional linear do fio
Adequar planejada, de acordo com o tipo de material a ser cortado
Velocidade

• A água é um recurso importatne no corte. É utilizada tanto para a refrigeração do fio quanto para a
expulsão do material já desgastado e seu fornecimento deve ser feito em uma quantidade não mais e
Refrigeração nem menos que a necessária

• Paralisações periódics devem ser realizadas com o intuito de checar todo o sistema, em especial o
diâmetro das pérolas diamantadas, uma vez que esse é um parâmetro crucial para o correto
Paralisações prosseguimento do corte

• Na finalização do corte ocorre a diminuição do raio de curvatura do fio, desta forma as pérolas serão
submetidas a um stress maior o que pode vir a gerar desgastes precoces e indesejáveis. Como ação
preventiva, deve-se diminuir a velocidade de avanço do sistema e substituir o cabo utilizado até então
Finalização por um mais velho e desgastado.

Figura 22: Esquematização dos componentes do ciclo operacional de corte a fio diamantado.
Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.
31

As imagens a seguir, retiradas de REGADAS, 2006; ilustram algumas das etapas


individuais descriminadas no esquema apresentado acima.

Figura 23: Perfuratriz realizando um furo horizontal.

Figura 24: Introdução do fio diamantado com auxílio de um fio de nylon e ar comprimido.

Figura 25: Torção aplicada ao fio diamantado.

Figura 26: Alguns tipos de emendas existentes no mercado.


32

Figura 27: Circulação inicial do fio para prevenir rupturas por travamento.

4.6.2. Tipos de Cortes Realizados com Fio Diamantado

A lavra de rochas ornamentais, se dá, na maioria dos casos, em etapas subsequentes de


corte/desmonte dos blocos. Essas etapas, começam com divisão do maciço em grandes blocos,
com posterior diminuição do tamanho, até que se obtenha um material transportável e
beneficiável (acabamento). O fio diamantado tem utilização notável na extração primária de
blocos de rochas ornamentais.

Obviamente, existe uma infinidade de formas de se proceder a lavra. Tendo em vista a


necessidade da sistemática diminuição do tamanho do bloco, pode-se tomar como exemplo de
forma a se seguir os trabalhos, mediante diferentes formas de desmonte, como:

1. Faz-se furos coplanares na rocha, os quais devem permitir, à priori, a passagem


dos fios diamantados para realizar cortes verticais ou horizontais.

2. O corte é realizado conforme descrito no esquema apresentado na Figura 22,


cuja qual discrimina as etapas individuais do ciclo operacional.

3. O bloco obtido em “2” provavelmente será de tamanho avantajado, o que é


incompatível com a necessidade de movimentá-lo e trabalha-lo. Assim se faz
necessário uma segunda etapa de corte, a qual pode ser feita de diversas formas,
como, por exemplo, pela utilização de explosivos, argamassas autoexpansivas,
o próprio fio diamantado e etc.
33

4. O volume obtido é desdobrado em volumes secundários (filões/pranchas) os


quais podem ser tombados para posterior esquadrejamento em blocos
transportáveis e trabalháveis.

A figura abaixo é um exemplo de metodologia de lavra de rochas ornamentais.

Figura 28: Exemplos esquemático (esquerda) e real (direita) da metodologia aplicada na lavra de rochas
ornamentais (granítica, no exemplo). Nota-se a aplicação do corte a fio diamantado como método de
obtenção primária de blocos rochosos a serem trabalhados.
Fonte: MARINI QUARRIES GROUP.
34

O corte por fio diamantado consiste basicamente em puxar uma alça formada pelo fio,
que se encontra enlaçada na rocha por dois furos coplanares. Esse enlaçamento forma um
círculo fechado, onde o desenvolvimento do corte acontece. Como já discutido, o corte é
propiciado pelo movimento circular do fio e pela constante tração a que esse é submetido, tração
essa que faz com que o fio fique pressionado na superfície da rocha.

4.6.2.1. Corte Vertical Normal

O corte vertical normal é de execução simples e, muito por isso, é largamente utilizado.
Sua aplicação é destacada em cortes laterais, sendo que o espaço requerido para o movimento
do maquinário é considerado grande.

Como observa-se na figura abaixo, é comum utilizar-se, não só neste tipo de corte mas
também nos demais, polias auxiliares. Tais polias auxiliam o corte, direcionando o fio e
mantendo o sistema mais estável e firme.

Figura 29: Representação do corte vertical normal.


Fonte: MARINI QUARRIES GROUP apud MARCON; CASTRO; VIDAL, 2013.

4.6.2.2. Corte Vertical em “L”

O corte em “L” nasceu com o propósito de amenizar um grande entravador da


produtividade em uma mina: a possível falta de espaço. Em certas ocasiões, pela natural falta
35

de espaço operacional ou pela existência de muitas frentes de lavra, não existe a possibilidade
de movimentar-se o maquinário paralelamente ao corte. Desta forma utiliza-se uma torre
formada duas duplas de polia, para de formar um arranjo em “L” do fio e cortar a rocha por
meio do movimento perpendicular do maquinário em relação ao sentido do desgaste e avanço
do fio.

A figura abaixo exemplifica o corte vertical em “L”.

Figura 30: Representação do procedimento de corte vertical em "L".


Fonte: MARINI QUARRIES GROUP apud MARCON; CASTRO; VIDAL, 2013.

4.6.2.3. Corte Horizontal Normal

O corte horizontal normal tem procedimento equivalente ao vertical normal. Para que o
corte se dê de forma paralela ao terreno, o volante do equipamento é rotacionado, de modo a
permitir um corte em um plano de planta. O seu desenvolvimento é efetuado por meio de
desgaste na base do maciço, muito por isso, este corte também recebe o nome de corte de
levante.

A figura abaixo representa este tipo de corte. Como mencionado, sua disposição
assemelha-se à do já apresentado para o corte vertical normal, sendo o movimento do
maquinário em sentido paralelo ao do avanço do fio diamantado.
36

Figura 31: Representação do corte horizontal normal.


Fonte: MARINI QUARRIES GROUP apud MARCON; CASTRO; VIDAL, 2013.

4.6.2.4. Corte Horizontal em “L”

Os motivos que levam a se realizar o corte horizontal em “L” são os mesmos da


execução de um corte vertical em “L”. A diferença básica entre os dois consiste na torre. Haja
vista a disposição planar do maquinário para efetuar-se o corte horizontal em “L”, não há
necessidade de instalar-se a torre. A direção é invertida de normal para em “L” simplesmente
colocando-se duas polias na entrada e na saída do furo.

Figura 32: Execução do corte horizontal em "L".


Fonte: REGADAS, 2006 – adaptado.
37

4.6.2.5. Corte Cego

O corte cego é notadamente diferente dos demais. Primeiramente, enquanto nas demais
metodologias os furos são realizados de forma a poderem ser dispostos em um mesmo plano,
no corte cego os dois furos realizados não são coplanares.

Nos dois furos verticais realizados, são introduzidas duas torres. Tais torres são
constituídas de um tubo com duas polias, uma de dimensões pequenas e a outra de dimensões
normais, dispostas, respectivamente, dentro do furo e na parte superior da torre.

A segunda diferença primordial se dá pela observação do sentido de avanço do corte.


Enquanto nos demais métodos o corte se dá de dentro para fora, no corte cego o corte inicia-se
na parte superior externa da rocha, avançando para dentro da mesma.

A justificativa de seu emprego é, mais uma vez, o pequeno espaço de operação existente
em muitas das lavras de rochas ornamentais.

Figura 33: Representação da execução do corte cego.


Fonte: MARINI QUARRIES GROUP apud MARCON; CASTRO; VIDAL, 2013.

A figura abaixo mostra o detalhe da inserção da coluna no furo viabilizador do corte


cego.
38

Figura 34: Inserção da coluna para realização de corte cego.


Fonte: REGADAS, 2006.

4.7. Vantagens do Uso do Corte a Fio Diamantado

Um dos maiores gargalos da extração de rochas ornamentais é a falta de planejamento


da lavra. A tecnologia do corte a fio diamantado possibilita a organização racional dos trabalhos
de lavra, através do planejamento das operações. Desta forma a produtividade do
empreendimento é aumentada consideravelmente, viabilizando inúmeros projetos.

Tendo isto em mente, pode-se citar como maiores vantagens do uso da técnica:

 Maior qualidade da produção, com obtenção de maior volume comercial dos


blocos. Essa vantagem é viabilizada por:

o Maior garantia da integridade física dos blocos;

o Espessura média de corte de apenas 10 mm;

o Regularidade e ótimo acabamento na superfície cortada;

 Elevadas velocidades de corte;

 Menor custo unitário de corte;

 Melhor relação custo-benefício, com notável viabilidade econômica;

 Versatilidade de uso em variadas condições operacionais;


39

 Melhoria das condições de trabalho, haja vista que é uma atividade mais
silenciosa e geradora de menor quantidade de poeira e vibração.

4.7.1. Problemas no Uso do Corte a Fio Diamantado

A técnica, em si, é extremamente vantajosa para os produtores e seus clientes. Porém,


existem alguns problemas em seu uso. Tais problemas relacionam-se com a má utilização do
sistema de corte e emprego da técnica de forma não condizente com o desejável.

Para que o sistema funcione da forma desejável é necessário tomar diversos cuidados,
considerados muitas das vezes irrisórios, mas que afetam significativamente a qualidade e
produtividade do corte. Procedimentos de fácil execução como a colocação do fio em polias e
controle correto de parâmetros operacionais (como por exemplo a velocidade), são muitas vezes
negligenciados.

O sistema dá alguns “avisos” quando não está operando da forma correta. Uma simples
análise visual de características como: ângulo de abertura entre o fio e a polia da máquina,
ovalização das pérolas, características das emendas executadas, o “efeito cometa” e a
diminuição do espaçamento entre as pérolas; podem indicar a necessidade de se modificar o
modo com que se está operando o sistema de corte.

As figuras abaixo exemplificam alguns desses sinais visuais apresentados pelo sistema
em uso não conforme. Verificando-os é recomendável que se modifique parâmetros
operacionais, para que o ótimo potencial da técnica seja totalmente explorado.

Na Figura 35 observa-se um adensamento das marcas deixadas pelo fio cortante (na
imagem disposta na esquerda). Tal adensamento é proveniente pela retirada precoce da polia
guia disposta na parte superior do bloco. Desta forma o ângulo de abertura diminui, gerando
maior atrito.
40

Figura 35: Adensamento das marcas deixadas pelo fio.


Fonte: REGADAS, 2006.

Figura 36: Esquema ilustrativo de um corte vertical, mostrando o ângulo de abertura α, mantido desejavelmente
elevado com a inserção da polia na parte superior do bloco.
Fonte: REGADAS, 2006.

A ovalização, mostrada na figura a seguir, é um problema advindo do desgaste


diferencial das pérolas. Tal problema pode ser minimizado realizando-se torções nos fios antes
de sua atividade. É importante seguir as recomendações dos fabricantes, uma vez que nem todos
os fios se comportam da mesma maneira, por exemplo, não suportando torção nos dos sentidos
possíveis.
41

Figura 37: Anomalia de desgaste diferenciado - ovalização.


Fonte: REGADAS, 2006.

A emenda do fio diamantado é feita retirando-se a proteção do cabo de aço e emendando


suas pontas por meio de engastes, os quais são prensados nas extremidades do cabo. Uma
emenda mal feita gera acúmulo de material em suas imediações. Esse material acaba por
desgastar precocemente o cabo o que pode gerar o rompimento do cabo ou, ao menos, diminuir
sua vida útil.

Figura 38: Realização de emendas em fio diamantado.


Fonte: REGADAS, 2006.
42

O efeito cometa é observado quando um desgaste maior que o esperado ocorre nas
pérolas diamantadas, deixando o aspecto de seus diamantes (e imediações) parecido com o da
passagem de um cometa. Sua existência é ligada à operação do sistema em uma faixa de
velocidade abaixo da recomendada, o que faz com que o contato entre as pérolas e a rocha seja
maior (em tempo), gerando o desgaste excessivo.

Figura 39: Efeito cometa em uma pérola diamantada.


Fonte: REGADAS, 2006.

O baixo fluxo de água no sistema impossibilita que a sua refrigeração seja feita de forma
adequada. Desta forma o fio diamantado se aquece excessivamente, principalmente seu
revestimento. Esse superaquecimento torna o revestimento (principalmente os plásticos) mais
compressível, provocando a diminuição do espaçamento entre as pérolas.
43

Figura 40: Diminuição da distância entre as pérolas, provocada pelo superaquecimento do fio.
Fonte: REGADAS, 2006.
44

5. CONCLUSÃO

A indústria extrativa de rochas ornamentais é hoje uma grande geradora de riquezas para
inúmeros países. A utilização de rochas ornamentais em diversos segmentos da economia tem
forte tendência de crescimento, o que viabiliza a implementação de empreendimentos mineiros
relacionados a sua explotação.

Com o crescimento da demanda e exigência de alta qualidade, verifica-se a necessidade


do uso de técnicas de corte modernas, cujas quais visam garantir altas produtividade e qualidade
dos bens produzidos. O uso da técnica de corte a fio diamantado supre tal necessidade, uma vez
que possui inúmeras vantagens, tais como: alta produtividade, economia de tempo, menor custo
operacional, maior regularidade e qualidade de corte e menores impactos ambientais.

Apesar de suas diversas qualidades a técnica apresenta alguns problemas em seu uso,
principalmente no Brasil. Tais problemas advém de sua má operação, gerando características
não apetecíveis nos blocos obtidos e desgaste precoce dos componentes do fio diamantado.
Além de seus problemas relacionados à má utilização, este tipo de corte apresenta limitações
relacionadas a sua aplicabilidade (não é recomendada sua utilização em materiais muito
fraturados) e operacionalidade de maquinário (a necessidade de maquinário robusto restringe a
localidade de emprego da técnica).

No Brasil, os problemas de aplicabilidade e operacionalidade de maquinário são


diminutos, sendo o mal uso do sistema o principal gargalo da produção. É necessário que haja
um maior treinamento e acompanhamento dos operadores do corte. Desta forma se poderá
explorar as excelentes características do corte a fio diamantado em seu potencial total.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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cutting. Londres, 1996.

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