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A SUPREMACIA DA
CRUZ DE CRISTO
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PREFÁCIO

É com grande interesse e satisfação que propus em meu coração escrever um


livro sobre a supremacia da cruz de Cristo. Não apenas porque é o centro da fé do
verdadeiro cristianismo, mas principalmente por ser a grande auto afirmação da minha
salvação e também daqueles que depositaram a fé na Pessoa Bendita do Senhor Jesus
Cristo. Devo reconhecer que tratar da cruz e, principalmente da grandeza de Quem nela
deu a Sua própria vida em nosso lugar, não é tarefa fácil. Isso porque escrever sobre a
cruz é, sem dúvida, penetrar no mais profundo coração de Deus. De fato, antes mesmo
que nós existissmos, que existissem a terra, os astros e estrelas. Antes mesmo que
existisse até mesmo os céu e os céus dos céus, a cruz e tudo o que ela envolve estava em
Seus propósitos sublimes, de revelar a glória de Seu Amado Filho.

Todos os cristãos que comungam dessa fé evangélica genuína crêem que através
de Cristo, e Este crucificado, a salvação eterna veio ao mundo. Também crêem que o
próprio Deus encarnado veio fazer a substituição do Justo pelos injustos, para que o
homem pudesse novamente ter acesso a Sua Presença. Quando tratamos de injustos,
como cita o apóstolo Pedro em sua primeira epístola, certamente estamos nos referindo
a pecadores, e, de fato, foi por esses mesmos pecadores que Cristo morreu. Ele levou
sobre Si os pecados dos pecadores, tornando-os justos perante um Deus puro e santo.
Não podemos negar que esse é de fato o mais profundo do coração do Senhor e também
o centro do evangelho e de toda a Escritura Sagrada.

Citando John Stott em seu “A cruz de Cristo”, a cruz é o “centro da fé


evangélica. Muitos escritores sérios buscaram em seus livros tratar sobre a cruz e sobre
as virtudes do Cristo crucificado. R.W Dale em “A Expiação” (1875), James Denney
em “A Morte de Cristo” (1903). Leon Morris em seu “Pregação Apostólica da Cruz”
(1955), Ronald Wallace em “A Morte Expiatória de Cristo” (1981), Michael Green “A
Cruz Vazia de Cristo” (1984) e também a de um teólogo chamado Vincent Taylor
escreveu 3 livros sobre a cruz intitulados “Jesus e seu sacrifício”, “A Expiação no
Ensino do Novo Testamento” e “Perdão e Reconciliação”. Sem dúvida, muitas outras
literaturas trataram e tratam da cruz, muitas delas com erros doutrinários sérios outras
com alguns acertos. Porém uma coisa é correta, a cruz de fato é, na história da
cristandade atual o tema de maior controvérsia entre os eruditos cristãos. Isso acontece
porque até os dias de hoje a doutrina da salvação pela fé é tratada como nebulosa e até
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mesmo como contraditória nos meios da cristandade, até mesmo aos chamados
evangélicos ou protestante. Mesmo quando Lutero propagou que a salvação que a
salvação se alcança pela fé e não pelas obras, tornando este o cerne da reforma
protestante, a doutrina da cruz ainda sim era ainda um ponto de muitas controvérsias.
Lutero contrastou a teologia da cruz com a teologia dominante, este afirmou que “No
Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de
Deus”. “A Cruz do cristão”, disse o teólogo, “está em unidade com a cruz de Cristo, e
com isso está excluída por si só toda a idéia de mérito da pessoa, que pudesse ser obtido
pelo sofrimento”. Dessa forma, o conceito luterano não se compara em nada ao
chamado conceito católico sinergista onde o homem obtém o perdão por meio de suas
próprias penitências. Nisso o luteranismo concorda com o ensino do Novo testamento.

No entanto muitos meios protestantes, inclusive em nossos dias tem contestado


fortemente o conceito, também neo testamentário da salvação eterna, incluindo também
outras heresias como a salvação por meio da cruz e do batismo, a salvação por meio de
dízimos e coisas semelhantes. Há, de fato, nos dias atuais um regresso ao conceito
católico sinergista da salvação por meio das obras, e isso vindo do meio protestante!

Pois, se houvesse a possibilidade do batismo salvar alguém então já não é


somente por meio da fé pela cruz, ou também se a salvação dependesse de fidelidade
cristã, dízimos ou coisas semelhantes a cruz também é de fato anulada, como vem
acontecendo ainda com mais intensidade nos meios pentecostais e neo pentecostais.
“Há uma errada compreensão dos grandes conceitos bíblicos de “substituição”,
“satisfação”, “propiciação”, ‘redenção”, “remissão” e “reconciliação”. Todos conceitos
que possuem em sua centralidade a cruz de Cristo.

A imensa impopularidade em nossos dias da palavra pecado é a prova vital do


afastamento da cristandade desses conceitos bíblicos. Está escasso hoje dos púlpitos dos
templos dito cristãos a palavra pecado. Normalmente a mesma está sendo substituída
por dor, maldição, fracasso ou coisas semelhantes, numa temática bem diferente da
bíblica. Dessa forma, os problemas da vida presentes tornam-se mair populares que o
problema do homem perante Deus. Quando a cristandade prega somente que Cristo,
citando Isaías 53, “levou sobre si as nossas enfermidades”, deixa de lado o fato muito
mais sério e mais pronunciado nesse mesmo capítulo do livro do profeta que “ele foi
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trespassado por causa de nossas transgressões”, “que o Senhor fez cair sobre ele as
nossas iniqüidades” e “porque as iniqüidades deles levará sobre si”.

Não podemos tratar da cruz sem tratar da condição do pecado, em seu termo
mais primitivo e original, como também de sua pena e condenação. Dessa forma, quero
dividir esse estudo em sete partes básicas: 1) O pecado e sua pena 2) A necessidade de
salvação e de um Salvador 3) As doutrinas básicas da cruz 4) A multiforme sabedoria
de Deus 5) As profundezas da Cruz de Cristo 6) A supremacia da Cruz 7) O viver
através da Cruz.

Farei isso se Deus permitir, utilizando diversas literaturas como referência


bibliográfica de autores comprometidos com a verdade bíblica, ou seja, com a sã
doutrina.

Que possamos todos, a começar por mim, apreciarmos cada dia mais a cruz de
Cristo e sua superioridade. A cruz de Cristo não foi como a cruz das centenas talvez
milhares de outras que foram utilizadas durante o período do Império Romano para
punir malfeitores e rebeldes contra o sistema político vigente. Na verdade a cruz estava
nos planos de Deus desde a eternidade passada e terá se precioso valor também por toda
a eternidade futura. Desprezar a cruz, no entanto, é, não apenas desprezar o sentido de
existir a eternidade e toda a criação nos céus e na terra, mas é, principalmente, rejeitar o
próprio Deus Supremo. A cruz é o centro de todas as coisas, é o coração que “bombeia”
os séculos. Sem a cruz, o pecado pela força da Lei, teria condição de condenar toda a
raça humana sem exceção, sem remanescente algum. Todos estaríamos condenados,
afastados de Deus para todo o sempre. Na cruz a justiça e a misericórdia se beijaram.
Desejo que essas verdades possam ressoar na mente de cada leitor para o melhor
entendimento acerca da grande obra da salvação efetuada no Calvário.
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Capítulo 1:

O Pecado e sua Pena

Não podemos jamais tratar do perdão de Deus sem mencionarmos de antemão o


problema do pecado. Para entendermos a base do perdão Divino (totalmente diferente
do nosso conceito de perdão) precisaremos conhecer a doutrina do pecado: sua
gravidade, sua origem e suas conseqüências para a humanidade.

A gravidade do pecado está estritamente relacionada com a pureza e santidade


de Deus. Se fossemos dimensionar o quanto Deus é santo, poderemos dimensionais com
mais exatidão o quanto somos pecadores. É um fórmula simples e precisa. A dificuldade
inicial é que tanto nossa percepção da santidade de Deus quanto do pecado é
simplesmente tortuosa e incorreta.

A começar que nossa língua portuguesa emprega somente uma palavra para
pecado enquanto a grega emprega cinco palavras principais, sendo que a mais comum
delas é hamartia (um fracasso em alcançar um objetivo determinado). Também temos a
palavra Adikia que traduzimos como iniqüidade e a palavra Poneria (que seria um tipo
de pecado vicioso e degenerado). As mais utilizadas, no entanto, para descrever uma
transgressão são Parabasis e Anomia. Ambas as palavras indicam uma violação de lei
conhecida ou promulgada. Essas cinco palavras assemelham-se ao que chamamos de
pecado, iniqüidade e transgressão. Pecado é ofensa livre a autoridade de Deus e a Sua
Pessoa. É, de fato, uma hostilidade e rebeldia contra Deus (Rom.8:7). É a proclamação
de uma independência da Divindade, é, como pronunciou Davi “fazer o que é mau
perante os olhos de Deus” (Sl.51:4). Iniquidade é a prática de um iníquo, o contraposto
perfeito da palavra justo. Dessa maneira, quem comete justiça é justo, quem comete
iniqüidade é um iníquo, o oposto (tão bem categorizado por Salomão em seus
provérbios). Paulo escreve aos tessalonicenses acerca do “homem da iniqüidade”, este
“se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se
no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”. De uma forma
mais implícita e original essa é uma boa definição para iniqüidade: se levantar contra
Deus e tentar assumir o Seu lugar. Claro que muitos não fazem isso de forma tão
destacada quanto o “homem da iniqüidade” no futuro, porém em seus corações, é
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exatamente isso que seus atos demonstram diante da santidade e da majestade do


Senhor.

Transgressão é o descumprir a lei de Deus. É verdade que, quando tratamos da


lei, logo nos vem a memória a lei promulgada Deus através de Moisés no Sinai. Porém
as Escrituras nos mostram, como veremos mais adiante, que a lei mosaica é o aguilhão
do pecado, é a força da transgressão e não o resultado da transgressão propriamente dita.
Paulo escreve acerca da “semelhança da transgressão de Adão” (Rm.5:14). Adão
transgrediu. Ele descumpriu uma lei clara dada a ele: “De toda a árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás,
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gên.2:17). O mesmo
apóstolo também na carta aos romanos nos mostra que todos os homens “mostram a
norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os
seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se”. A chamada “lei moral”
foi dada ao homem em sua criação. O homem é a imagem e semelhança de Deus e o
Criador colocou a lei em sua mente. Essa “lei moral” também foi transgredida por
Adão. Nos tempos pré diluvianos, viu o Senhor nos homens daquela época “que era
continuamente mau o desígnio do seu coração” (Gên.6:5), revelando como os homens, a
partir daquela transgressão adâmica, da mesma forma transgrediram em escala bem
maior a “lei moral” gravada em suas mentes e corações. Também todas as gerações que
não conhecem a Deus “fazem a vontade da carne e dos pensamentos” (Ef.2:3). Podemos
dizer que Adão pecou porque ofendeu a natureza santa e a majestade de Deus, Adão
cometeu iniqüidade porque se auto proclamou independente de Deus e Adão transgrediu
porque não cumpriu a lei moral gravada em sua mente e a lei oral revelada pelo Criador.

Porém se todo o homem transgride a lei moral, como Paulo escreve acerca da
ignorância do ser humano? (Ef.4:18). A palavra usada para ignorância é “agnosis” e
indica um não conhecimento não de uma lei determinada mas da própria Pessoa Divina.
Em relação a essa lei todos os homens são conhecedores de Deus. Da mesma forma que
também conhecem a Deus (no sentido existencial) em relação “as coisas que foram
criadas” (Rm.1:20). O homem por causa do pecado foi separado de Deus, não no
sentido físico, pois Deus está em todo o lugar, mas no espiritual. Essa é a morte que
Paulo e o restante do Novo Testamento trata com tanta propriedade, pois o “salário do
pecado é a morte” (Rm.6:23). Isaías escreve que “as vossas iniqüidades fazem
separação entre vós e vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós,
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para que não vos ouça” (Is.59:2). Esse é o sentido primário de “morte”. Quem está
morto está separado de Deus espiritualmente. E essa separação se traduz em que Deus
“encobre o seu rosto”. Talvez seja o mesmo sentido do verbo “entregar” utilizado por
Paulo em Rom.1. Por três vezes a expressão “Deus os entregou” aparece nesse capítulo.
Desde que o homem pecou por meio de Adão, o homem se tornou nulo em seus
próprios raciocínios, obscurecendo-se seus corações insensatos (v.21). Essa “cegueira” e
“trevas” espirituais é conseqüência direta da morte espiritual vinda por meio do pecado.
O homem não glorificou a Deus como Deus, não Lhe rendeu graças, louvor e adoração,
antes viraram as costas ao Criador, preferindo seu caminho. Por isso, “Deus os
entregou” as suas próprias vontades e cobiças. Primeiramente Deus os entregou a
imoralidade para “desonrarem os seus corpos entre si”, depois Deus os entregou a
paixões infames traduzidas pelo homossexualismo e por último, Deus os entregou “a
uma disposição mental reprovável para praticarem coisas incovenientes” de onde
surgem todas as formas de pecado como malícia, avareza, injustiça, homicídio,
contenda, inveja, presunção, desobediência, dentre outros.

Através da história bíblica vemos que essa “entrega” não demorou muito para
acontecer. Afinal, a descendência direta de Adão desenvolveu pelo menos cinco do
terceiro grupo de iniqüidades: malícia, inveja, presunção, contenda e homicídio. Caim,
por causa da rejeição por parte de Deus de sua oferta, sentiu inveja de seu irmão Abel e
o assassinou (Gên.4:5). O apóstolo João deixa claro em sua primeira epístola que Caim
era do Maligno e pergunta: “E por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e
as de seu irmão, justas”. (I Jo.3:12). Também Judas trata do “caminho de Caim” pelo
qual os falsos mestres estavam sendo guiados (Jd.11). Não poderia ser outro o caminho
senão o caminho do oriente pelo qual Caim tomou quando foi expulso, retirando-se da
presença de Deus e habitando na terra de Node, ao oriente do Éden (Gên.4:16).

Adão transgrediu juntamente com Eva, sua mulher e ambos foram expulsos do
jardim do Éden em direção ao oriente (Gên.3:24). Agora Caim, ao cometer homicídio
contra seu irmão é expulso indo para o oriente. Esse oriente é, de fato, uma figura de
afastamento da presença de Deus, é uma alegoria de algo real, da morte espiritual.

Da mesma forma que o pecado assumiu a natureza dos filhos de Adão,


culminando no homicídio de Caim e sua expulsão, assim também a mesma natureza
passou a todos os homens. É o que chamamos de natureza pecaminosa. Paulo escreve
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que éramos “por natureza” filhos da ira, como também os demais. (Ef.2:3) Podemos
aplicar aqui de forma livre a alegoria utilizada por Tiago “acaso a fonte pode jorrar do
mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso pode a figueira produzir azeitona
ou a videira figos? (Tg.3:12). Assim é com o pecado e também com relação a morte
eterna e separação de Deus. Em Cl.2:13 Paulo expressa: “E a vós outros, que estáveis
mortos pelas vossas transgressões.

Paulo explica essa “hereditariedade” do pecado e de sua pena em Rom.5:12 onde


“assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte,
assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Mesmo não
explicando o motivo da deformidade universal da natureza humana, Paulo sustenta
firmemente essa realidade. De fato, a epístola aos romanos expressa bem essa teologia.
Lutero certa vez afirmou que Paulo escreveu a carta aos romanos para “ampliar o
pecado”. De fato o apóstolo por intermédio do Espírito Santo precisou mostrar a
gravidade do pecado da maneira mais crua e verdadeira.

A expressão “pecado original” não é uma expressão bíblica, foi criada por
Agostinho, mas não deixa de ter uma esfera de acordo com a Palavra de Deus. De fato o
pecado nasce com cada ser humano. Davi afirmou em seu salmo que nasceu em
iniqüidade, e em pecado foi concebido (Sl.51:5). Dessa forma, o homem não é pecador
simplesmente porque comete pecados, mas comete pecados porque é pecador, por
natureza. Isso significa que o coração do homem já é inclinado para o mal desde quando
vem ao mundo. A expressão “o pecado jaz a porta” dita por Deus a Caim em Gên.4:7
parece transmitir de forma correta a natureza pecaminosa da humanidade. Traduz a
idéia de águas que deságuam de um riacho. As águas são o pecado e a o riacho é o
coração humano. A natureza caída produz por si mesma o pecado, está ligada a ele. Essa
tão íntima ligação entre nosso coração e nossa origem pecaminosa nos torna escravos do
pecado.

A chamada Confissão de Westminster (IX.3) diz que “o homem, ao cair no


estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem
espiritual que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente
avesso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se
ou mesmo preparar-se para isso”. Assim, o homem naturalmente morto em seus pecados
é chamado de “homem natural”, “homem carnal”, “filho da desobediência”, “filho da
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ira”, dentre outros títulos. Ele é natural pois tem uma natureza caída, é carnal pois está
inclinado para a carne e não pode agradar a Deus (em contraposto com aquele que é
espiritual e está inclinado ao Espírito).

A corrupção universal do homem é tratada da mesma forma por Davi em seus


salmos 14 e 53 (trecho bastante citado por Paulo em seus argumentos desse mesmo
tema de acordo com Rm.3:10-18). Ele escreve que “Do céu, olha Deus para os filhos
dos homens, para ver se á quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se
extraviaram e juntamente se corromperam; não quem faça o bem, não há nem um
sequer” (v.2,3).

Paulo se utiliza desses salmos para mostrar que tanto judeus quanto gentios,
todos estão debaixo do pecado. Provavelmente, ele faz uma mescla entre Sl.14:1-3,
53:1-3 e Ec.7:20, utilizando uma frase interessante: “à uma se fizeram inúteis”. Todos
estão debaixo da “lei do pecado e da morte”, pois “o pendor da carne é inimizade contra
Deus”, portanto “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm.8:2,7,8). Esse
quadro nos traça um terrível perfil do homem em seu estado natural, sem Deus. Ele está
numa condição completamente inútil para o céu, se inclina somente para as coisas da
carne (isto é, de sua natureza corrupta) e pior, torna-se um inimigo de Deus. Por isso,
não há quem faça o bem estando em seu estado natural, no pecado.

Se a graça não viesse em resgate do homem, este estaria para sempre perdido em
seus pecados, longe de Deus para todo o sempre.

Uma pergunta que poderia ser pertinente nesse aspecto seria: se com o pecado de
um homem todos se tornaram pecadores, se alguém pudesse trazer a justiça, essa justiça
também traria a justificação de todos? Paulo responde a essa questão em Rm.5:18:
“...por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que
dá a vida”. Da mesma forma que o pecado veio pela desobediência de Adão, a justiça
veio através da obediência de Cristo, Aquele que “foi obediente até a morte, e morte de
cruz” (Fil.2). No entanto, o assunto da justificação trataremos posteriormente.

Já temos visto que o pecado é universal e hereditário, atinge a todos os homens.


No entanto, a responsabilidade por estar em pecado é individual. Ezequiel escreveu que
“a alma que pecar, esse morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a
iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele” (Ez.18:20). Cada um tem em si a
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responsabilidade por seus próprios pecados. É verdade que todos pecaram e toda a alma
peca por natureza, por isso todos de igual modo são mortos e condenados.

No entanto, aqueles a quem Deus justifica por meio de Seu Filho, esses são
justos, mas essa justiça não representa uma justificação automática para pais ou filhos.
A alma que pecar, essa morrerá, tornando o pecado algo universal e ao mesmo tempo
pessoal, assim como a salvação outorgada por Jesus.
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