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Gino Gehling
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Pesquisas Hidráulicas
Departamento de Obras Hidráulicas
IPH 02058 Tratamento de Água e Esgotos
Engenharia Hídrica
LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
Maio de 2017
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IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto Prof. Gino Gehling
9. LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
As lagoas de estabilização são uma técnica adequada para países em desenvolvimento, pois
demandam por áreas consideráveis (que tem custo mais acessível em países mais pobres),
praticamente não demandam energia elétrica e não requerem equipamentos eletromecânicos
sofisticados. Cabe referir que o efluente final tratado é rico em fósforo e nitrogênio, e que em
períodos de verão carregam grandes concentrações de algas. Na saída das lagoas podem ser
adotadas instalações para remoção parcial das algas no efluente final. A figura 9.1 apresenta
um sistema de lagoas.
Figura 9.1: ETE Serraria em primeiro plano, e ao fundo a ETE Ipanema, do DMAE.
Existem vários tipos de lagoas utilizadas para o tratamento de esgotos. Lagoas anaeróbias e
facultativas são utilizadas para remoção da matéria orgânica carbonácea, enquanto que lagoas
de maturação possuem a finalidade de reduzir o número de organismos patogênicos. Lagoas
anaeróbia, facultativa e de maturação utilizam processos naturais para redução da carga
orgânica e patogênicos. Outro tipo de lagoa, denominada aerada, usa equipamento de aeração
para fornecer oxigênio ao meio e manter os sólidos em suspensão. Este capítulo restringe-se
às lagoas que utilizam processos naturais de remoção dos poluentes.
O link abaixo acessa a Norma Técnica 230 da SABESP, sobre lagoas de estabilização:
http://www2.sabesp.com.br/normas/nts/nts230.pdf
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Tratamento
preliminar
Corpo
Lagoa facultativa receptor
Tratamento
Corpo
preliminar
receptor
Lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia
Tratamento
preliminar Corpo
Lagoa de maturação receptor
Lagoa facultativa
Figura 9.3: Vista transversal de sistema de lagoas (Fonte: Tilley et al., 2008).
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Zona aeróbia: a matéria orgânica solúvel e coloidal permanece dispersa no esgoto. Uma
camada próxima à superfície da lagoa apresenta oxigênio dissolvido que é utilizado para
oxidação da matéria orgânica. O oxigênio é produzido por algas, que, através da fotossíntese
utilizam CO2 para produção de matéria orgânica. Respiração e fotossíntese são reações de
oxidação-redução realizadas por bactérias e algas, respectivamente.
O2 CO2
Zona aeróbia
DBO solúvel Efluente
Afluente Zona Facultativa
DBO suspensa
A energia utilizada para fotossíntese é suprida pela radiação do sol. Por isto, durante a noite,
não ocorre fotossíntese; as algas respiram consumindo oxigênio dissolvido no líquido.
Durante o dia, como há consumo de CO2, o pH se eleva podendo atingir até 10. Durante a
noite, com a produção de CO2, o pH se reduz. A elevação de pH durante o dia causa a
conversão da amônia ionizada em amônia livre, que é um gás e pode escapar para a
atmosfera. Valores elevados de pH contribuem também para a precipitação de fósforo.
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Zona Facultativa: a penetração da luz diminui com a profundidade da lagoa, desta forma, a
fotossíntese reduz-se até chegar ao ponto em que deixa de ocorrer. Existe uma camada
intermediária em que as variações das taxas de fotossíntese e respiração resultam em ausência
de oxigênio em certos períodos e presença em outros. Existem certas bactérias que podem
utilizar outros compostos (nitratos, sulfatos e gás carbônico) na ausência de oxigênio
dissolvido na água como receptor de elétrons. Estas bactérias denominam-se facultativas.
O tempo de residência dos esgotos dentro da lagoa facultativa excede a 20 dias, de maneira
geral. O efluente da lagoa contém alta concentração de sólidos suspensos, formados
principalmente por algas. Estes sólidos são, em sua maioria, não sedimentáveis.
As principais variáveis ambientais que afetam o processo nas lagoas de estabilização são:
Radiação solar, a qual influencia a fotossíntese;
Temperatura, afetando as taxas de fotossíntese e decomposição bacteriana,
solubilidade de gases no líquido e condições de mistura da lagoa;
Vento, o qual interfere com as condições de mistura e reaeração atmosférica.
A área superficial da lagoa é obtida através da razão entre a carga de DBO5 afluente a lagoa e
a taxa de aplicação superficial (Equação 1).
L
A (1)
Ls
sendo L = carga de DBO5 em kg/dia.
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Outros métodos utilizados para a fixação da taxa de aplicação orgânica superficial (Ls)
mencionados na literatura relacionam esta com a temperatura média mensal mínima do ar e da
água (Mendonça, 2000; McGarry e Prescod; Arthur e Gloyna; Mara).
Em geral, a área de uma lagoa facultativa é limitada a 15 ha.
Tempo de detenção
Profundidade
Os regimes utilizados para modelagem de lagoas são (a) fluxo em pistão, (b) mistura completa
e (c) fluxo disperso. As equações representativas destes tipos de reatores são:
C0
Mistura completa: C (9)
1 k t
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a 1 4 k t d (12)
D
d (13)
U L
D é o coeficiente de dispersão longitudinal (L2/T); a = adimensional; d=D/UL (num. de
dispersão, adimensional); U = vel med de fluxo (L/T); L= comprim. da lagoa. A constante de
reação k depende da temperatura (Equação 14).
k (T ) k (20 C ) T 20 (14)
A constante de reação adotada varia entre 0,30 e 0,35 dia-1. Valores do coeficiente de
temperatura utilizados tem sido 1,085 (para k = 0,35 dia-1) e 1,05 (para k = 0,30 dia-1).
O efluente de lagoas de estabilização contém uma DBO constituída por duas contribuições:
DBO solúvel, remanescente do tratamento;
DBO particulada, formada principalmente por algas presentes.
As algas poderão vir a exercer uma demanda de oxigênio no corpo receptor, caso morram e
entrem em decomposição. Mara apud von Sperling (2002) estima que 60% a 90% dos sólidos
em suspensão no efluente de lagoas sejam formados por algas. A demanda de oxigênio que
resulta da decomposição de 1,0 mg de algas é 0,45 mg DBO 5. Assim, cada mg de SS no
efluente tem o potencial de consumir 0,3 a 0,4 mg DBO5.
1,0 mg/L SS 0,3 a 0,4 mg/L DBO5
Entretanto, as algas poderão ser benéficas em sistemas de aquacultura, por exemplo. Neste
caso, as algas entram na cadeia alimentar ao serem consumidas pelo zooplâncton, os quais
servem de alimentos a peixes. Outra alternativa é utilizar o efluente na irrigação de culturas
agrícolas. Ao morrerem, as algas liberam nutrientes que podem ser utilizados pelas culturas.
Uma alternativa para a remoção de algas em efluentes de lagoas é o uso de filtros
intermitentes de areia ou flotador por ar dissolvido. Contudo, a adoção de processos
complementares implicará no aumento de custos.
Em uma lagoa anaeróbia, a carga de DBO por unidade de volume da lagoa determina que a
taxa de consumo de oxigênio dissolvido seja superior a taxa de produção de oxigênio. Desta
forma, são mantidas condições anaeróbias no interior da lagoa.
As lagoas anaeróbias são mais profundas que as lagoas facultativas. A área superficial é
irrelevante uma vez que o processo anaeróbio não utiliza fotossíntese. A eficiência de
remoção de DBO situa-se em torno de 50% (para temperatura menor ou igual a 20C) a 60%
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(temperatura maior do que 20C) (Jordão e Pessôa, 2011). Mara apud von Sperling (2002)
sugere a seguinte equação para estimar a eficiência de remoção de DBO em lagoas
anaeróbias:
E = 2T + 20 (15)
Sendo: E = eficiência de remoção de DBO (%)
T = temperatura média do ar no mês mais frio (oC).
Segundo o autor, a equação (15) é válida para temperaturas superiores entre 10 e 25oC; para
temperaturas maiores que 25oC, a remoção seria de 70%.
A redução de DBO em lagoas anaeróbias não é suficiente na maioria dos casos, havendo
necessidade de um tratamento complementar.
Há potencial para geração de maus odores em lagoas anaeróbias devido à redução de sulfato a
sulfeto. Quando o pH for ácido, o sulfeto estará na forma de H2S, que é um gás mau cheiroso
e tóxico. Contudo, no pH neutro, a maior parte do sulfeto estará presente como HS -, que não
gera odores.
Uma vez definida a taxa de aplicação volumétrica, o volume da lagoa é calculado pela
Equação (19).
L
V (19)
LV
L = carga de DBO5 por dia, kg DBO/dia
LV = taxa de aplicação volumétrica de DBO
Tempo de detenção
É estabelecido em função do tempo requerido para estabilização da matéria orgânica pelo
processo anaeróbio. Normalmente, situa-se entre 3 a 6 dias. A tabela1 apresenta sugestões de
tempo de detenção em função da temperatura na região.
Profundidade
A profundidade de lagoas anaeróbias situa-se na faixa de 3,5 m a 5,0 m.
Geometria
As lagoas anaeróbias apresentam relação comprimento para largura entre 1 e 3.
A taxa de acúmulo de lodo em lagoas anaeróbias tem sido reportada na ordem de 0,03 a 0,10
m3/habano.
N N 0 e kd t (20)
Sendo: N = número de coliformes no efluente, [org/100 ml]
N0 = número de coliformes no afluente, [org/100 ml]
Kd = coeficiente de decaimento bacteriano, [dia-1]
T = tempo de detenção, [dias]
Área da lagoa:
L 889,57kgDBO5 / d
A 4,94ha
Ls 180kgDBO5 / ha * d
Volume da lagoa:
V = H*A
V = 3,0 m * 4,94 ha*10 000 m²/ha
V = 148200 m³
V 148200m³
Tempo de detenção: t
Q 104 L / s * 86400s / d *1m³ / 1000 L
t 16,49dias
Geometria da lagoa:
L/B = 4
L = 4B
A = L*B
4,94 ha * 10 000 m²/ha = 4B *B
B = 111,13 m
L = 444,52 m
DBO5 efluente:
Considerando fluxo em pistão a DBO5 efluente (C) é dada pela equação:
C C0 ek t
O valor de k para as condições climáticas de Pelotas (Temperatura média mês mais frio = 12,3
ºC) é:
k (T ) k (20 C ) T 20
k (12,3º C ) 0,1867d 1
Portanto, a DBO5 efluente é:
C C0 ek t
1
C 99mg / L e 0,1867d *16, 49d
C 4,55mg / L
Fim de plano (considerando a vazão média)
Dados:
Qméd2005 = 130 L/s
DBOafluente = 99 mg DBO5/L (concentração)
Temperatura média mês mais frio = 12,3 ºC
Ls (considerando inverno e insolação moderados) = 180 kgDBO5/ha.dia
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Carga de DBO5 afluente (L): pode ser explicitada
H = 3,0 m
k (20ºC) = 0,35 d-1
Θ = 1,085
Área da lagoa:
L 1111,97kgDBO5 / d
A = 6,18ha
Ls 180kgDBO5 / ha * d
Volume da lagoa:
V = H*A
V = 3,0 m * 6,18 ha*10 000 m²/ha
V = 185400 m³
V 185400m³
Tempo de detenção: t 16,51dias
Q 130 L / s * 86400s / d *1m³ / 1000 L
Geometria da lagoa:
L/B = 4
L = 4B
A = L*B
6,184 ha * 10 000 m²/ha = 4B *B
B = 124,30 m
L = 497,19 m
DBO5 efluente:
Considerando fluxo em pistão a DBO5 efluente (C) é dada pela equação:
C C0 ek t
O valor de k para as condições climáticas de Pelotas (Temperatura média mês mais frio = 12,3
ºC) é
k (T ) k (20 C ) T 20
k (12,3º C ) 0,1867d 1
Portanto a DBO5 efluente é:
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C C0 ek t
1
C 99mg / L e 0,1867d *16,51d
C 4,54mg / L
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JORDÃO, E.P.; PESSÔA, C.A. Tratamento de esgotos domésticos. 6ª ed. Rio de Janeiro:
ABES, 2011.
TILLEY, E.; LÜTHI, C.; MOREL, A.; ZURBRÜGG, C.; SCHERTENLEIB, R. Compendium
of sanitation systems and technologies. Dübendorf: Swiss Federal Institute of Aquatic Science
and Technology, 2008.
VON SPERLING, M. Lagoas de estabilização. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.
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