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IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto Prof.

Gino Gehling
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Pesquisas Hidráulicas
Departamento de Obras Hidráulicas
IPH 02058 Tratamento de Água e Esgotos
Engenharia Hídrica

LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

Professor Gino Gehling

Agradecimento: O prof. Gino agradece ao prof. Antônio D. Benetti pela


cessão do arquivo fonte deste capítulo, gerado por ele para a disciplina IPH
02050 da Engenharia Civil. O mesmo recebeu ajustes de formatação e
conteúdo ao padrão da disciplina IPH 02058 (Tratamento de Água e Esgoto),
oferecida à Engenharia Hídrica no primeiro semestre de 2016.

Maio de 2017

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IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto Prof. Gino Gehling
9. LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

As lagoas de estabilização são uma técnica adequada para países em desenvolvimento, pois
demandam por áreas consideráveis (que tem custo mais acessível em países mais pobres),
praticamente não demandam energia elétrica e não requerem equipamentos eletromecânicos
sofisticados. Cabe referir que o efluente final tratado é rico em fósforo e nitrogênio, e que em
períodos de verão carregam grandes concentrações de algas. Na saída das lagoas podem ser
adotadas instalações para remoção parcial das algas no efluente final. A figura 9.1 apresenta
um sistema de lagoas.

Figura 9.1: ETE Serraria em primeiro plano, e ao fundo a ETE Ipanema, do DMAE.

Existem vários tipos de lagoas utilizadas para o tratamento de esgotos. Lagoas anaeróbias e
facultativas são utilizadas para remoção da matéria orgânica carbonácea, enquanto que lagoas
de maturação possuem a finalidade de reduzir o número de organismos patogênicos. Lagoas
anaeróbia, facultativa e de maturação utilizam processos naturais para redução da carga
orgânica e patogênicos. Outro tipo de lagoa, denominada aerada, usa equipamento de aeração
para fornecer oxigênio ao meio e manter os sólidos em suspensão. Este capítulo restringe-se
às lagoas que utilizam processos naturais de remoção dos poluentes.

As lagoas são antecedidas sempre por tratamento preliminar: gradeamento, desarenador e


medidor de vazão.

Seguindo-se ao tratamento preliminar, as lagoas são projetadas como:


 Lagoa facultativa;
 Lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa;
 Lagoa anaeróbia seguida de lagoas facultativa e de maturação;
 Lagoa facultativa seguida de lagoa de maturação.

O link abaixo acessa a Norma Técnica 230 da SABESP, sobre lagoas de estabilização:
http://www2.sabesp.com.br/normas/nts/nts230.pdf

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As Figuras 9.2 e 9.3 mostram algumas configurações de sistemas de lagoas. A configuração a


ser escolhida dependerá das necessidades de tratamento requeridas e da área disponível. A
seguir serão apresentados detalhes de cada uma das lagoas individualmente.

Tratamento
preliminar
Corpo
Lagoa facultativa receptor

Tratamento
Corpo
preliminar
receptor
Lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia

Tratamento
preliminar Corpo
Lagoa de maturação receptor
Lagoa facultativa

Figura 9.2: Configurações de sistemas de lagoas.

Figura 9.3: Vista transversal de sistema de lagoas (Fonte: Tilley et al., 2008).

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9.1. Lagoas facultativas

9.1.1. Descrição do processo

Em uma lagoa facultativa, ocorrem três zonas, classificadas em função da presença ou


ausência de oxigênio: aeróbia, anaeróbia e facultativa. A Figura 9.4 ilustra um esquema de
uma lagoa facultativa com as suas três zonas.

Zona Anaeróbia: forma-se ao fundo da lagoa devido à deposição de sólidos em suspensão,


uma parcela dos quais é composta por material orgânico. O oxigênio é rapidamente
consumido e não há reposição suficiente. A decomposição da matéria orgânica dá-se por
processo anaeróbio, com a produção de gases como metano, gás carbônico e sulfídrico. Este
tem o potencial de causar mau cheiro, mas é oxidado na zona aeróbia da lagoa. Um resíduo
inerte, não biodegradável acumula-se no fundo da lagoa.

Zona aeróbia: a matéria orgânica solúvel e coloidal permanece dispersa no esgoto. Uma
camada próxima à superfície da lagoa apresenta oxigênio dissolvido que é utilizado para
oxidação da matéria orgânica. O oxigênio é produzido por algas, que, através da fotossíntese
utilizam CO2 para produção de matéria orgânica. Respiração e fotossíntese são reações de
oxidação-redução realizadas por bactérias e algas, respectivamente.

CO2  H 2O  Energia  Matéria orgânica  O2 (Fotossíntese)

Matéria orgânica  O2  CO2  H 2O  Energia (Respiração)

O2 CO2

Zona aeróbia
DBO solúvel Efluente
Afluente Zona Facultativa
DBO suspensa

Zona Anaeróbia CO2, CH4, H2S


Lodo

Figura 9.4: Zonas em Lagoa Facultativa (Fonte: von Sperling, 2002).

A energia utilizada para fotossíntese é suprida pela radiação do sol. Por isto, durante a noite,
não ocorre fotossíntese; as algas respiram consumindo oxigênio dissolvido no líquido.

Durante o dia, como há consumo de CO2, o pH se eleva podendo atingir até 10. Durante a
noite, com a produção de CO2, o pH se reduz. A elevação de pH durante o dia causa a
conversão da amônia ionizada em amônia livre, que é um gás e pode escapar para a
atmosfera. Valores elevados de pH contribuem também para a precipitação de fósforo.
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Zona Facultativa: a penetração da luz diminui com a profundidade da lagoa, desta forma, a
fotossíntese reduz-se até chegar ao ponto em que deixa de ocorrer. Existe uma camada
intermediária em que as variações das taxas de fotossíntese e respiração resultam em ausência
de oxigênio em certos períodos e presença em outros. Existem certas bactérias que podem
utilizar outros compostos (nitratos, sulfatos e gás carbônico) na ausência de oxigênio
dissolvido na água como receptor de elétrons. Estas bactérias denominam-se facultativas.

O tempo de residência dos esgotos dentro da lagoa facultativa excede a 20 dias, de maneira
geral. O efluente da lagoa contém alta concentração de sólidos suspensos, formados
principalmente por algas. Estes sólidos são, em sua maioria, não sedimentáveis.

9.1.2. Condições ambientais

As principais variáveis ambientais que afetam o processo nas lagoas de estabilização são:
 Radiação solar, a qual influencia a fotossíntese;
 Temperatura, afetando as taxas de fotossíntese e decomposição bacteriana,
solubilidade de gases no líquido e condições de mistura da lagoa;
 Vento, o qual interfere com as condições de mistura e reaeração atmosférica.

9.1.3. Critérios de projeto

As lagoas facultativas são dimensionadas considerando-se:


 Taxa orgânica de aplicação superficial
 Tempo de detenção

Taxa orgânica de aplicação superficial

A energia radiante do sol é uma variável fundamental para o funcionamento de lagoas


facultativas. Por isto, a área superficial, ou seja, área exposta ao sol é um critério de projeto
para as lagoas. A taxa de aplicação superficial é dada em termos de carga de DBO por
unidade de área por dia. As cargas de aplicação dependem do clima da região. Von Sperling
(2002) recomenda as seguintes taxas:
 Inverno quente e elevada insolação: Ls = 240 a 350 kg DBO5/hadia
 Inverno e insolação moderados: Ls = 120 a 240 kg DBO5/hadia
 Inverno frio e baixa insolação: Ls = 100 a 180 kg DBO5/hadia

A área superficial da lagoa é obtida através da razão entre a carga de DBO5 afluente a lagoa e
a taxa de aplicação superficial (Equação 1).
L
A (1)
Ls
sendo L = carga de DBO5 em kg/dia.

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Outros métodos utilizados para a fixação da taxa de aplicação orgânica superficial (Ls)
mencionados na literatura relacionam esta com a temperatura média mensal mínima do ar e da
água (Mendonça, 2000; McGarry e Prescod; Arthur e Gloyna; Mara).
Em geral, a área de uma lagoa facultativa é limitada a 15 ha.

Tempo de detenção

Relaciona-se ao tempo necessário para que os organismos realizem a estabilização da matéria


orgânica. O tempo de detenção em lagoas varia entre 15 a 45 dias, e depende também da
temperatura local. É calculado pela Equação (6).
V
t (6)
Q
Sendo: V = volume (m3); Q = vazão (m3/s)

Profundidade

A profundidade de lagoas facultativas varia entre 1,5 a 3,0 m.


O tempo de detenção e a profundidade da lagoa estão associados. Para definição destes
parâmetros, adotam-se as seguintes alternativas:

a) Escolhe-se o valor do tempo de detenção t e calcula-se o volume V da lagoa (Equação 7). A


altura H é dada pela Equação (8).
V = Qt (7)
V
H (8)
A
b) Escolhe-se o valor para a profundidade H da lagoa. Calcula-se o valor do volume V através
do rearranjo da Equação (8), fazendo-se a verificação do tempo de detenção.

Geometria das lagoas


A geometria das lagoas apresenta uma relação comprimento (L) para largura (B) em torno de
2 a 4.

9.1.4. Regime hidráulico

Os regimes utilizados para modelagem de lagoas são (a) fluxo em pistão, (b) mistura completa
e (c) fluxo disperso. As equações representativas destes tipos de reatores são:
C0
Mistura completa: C  (9)
1  k t

Fluxo em pistão: C  C0  ek t (10)


1
4  a  e d
2
Fluxo disperso: CE  C0  a a
(11)

(1 a)  e d
2 2  (1 a) 2  e 2 d

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a  1 4 k t  d (12)

D
d (13)
U L
D é o coeficiente de dispersão longitudinal (L2/T); a = adimensional; d=D/UL (num. de
dispersão, adimensional); U = vel med de fluxo (L/T); L= comprim. da lagoa. A constante de
reação k depende da temperatura (Equação 14).
k (T )  k (20 C )   T  20 (14)
A constante de reação adotada varia entre 0,30 e 0,35 dia-1. Valores do coeficiente de
temperatura  utilizados tem sido 1,085 (para k = 0,35 dia-1) e 1,05 (para k = 0,30 dia-1).

9.1.5. Efluente de lagoas

O efluente de lagoas de estabilização contém uma DBO constituída por duas contribuições:
 DBO solúvel, remanescente do tratamento;
 DBO particulada, formada principalmente por algas presentes.
As algas poderão vir a exercer uma demanda de oxigênio no corpo receptor, caso morram e
entrem em decomposição. Mara apud von Sperling (2002) estima que 60% a 90% dos sólidos
em suspensão no efluente de lagoas sejam formados por algas. A demanda de oxigênio que
resulta da decomposição de 1,0 mg de algas é 0,45 mg DBO 5. Assim, cada mg de SS no
efluente tem o potencial de consumir 0,3 a 0,4 mg DBO5.
1,0 mg/L SS  0,3 a 0,4 mg/L DBO5

Entretanto, as algas poderão ser benéficas em sistemas de aquacultura, por exemplo. Neste
caso, as algas entram na cadeia alimentar ao serem consumidas pelo zooplâncton, os quais
servem de alimentos a peixes. Outra alternativa é utilizar o efluente na irrigação de culturas
agrícolas. Ao morrerem, as algas liberam nutrientes que podem ser utilizados pelas culturas.
Uma alternativa para a remoção de algas em efluentes de lagoas é o uso de filtros
intermitentes de areia ou flotador por ar dissolvido. Contudo, a adoção de processos
complementares implicará no aumento de custos.

9.1.6. Acúmulo de lodo

O acúmulo de lodo em lagoas facultativas é da ordem de 0,03 a 0,08 m3/hab.ano.

9.2. Lagoas anaeróbias

9.2.1. Descrição do processo

Em uma lagoa anaeróbia, a carga de DBO por unidade de volume da lagoa determina que a
taxa de consumo de oxigênio dissolvido seja superior a taxa de produção de oxigênio. Desta
forma, são mantidas condições anaeróbias no interior da lagoa.

As lagoas anaeróbias são mais profundas que as lagoas facultativas. A área superficial é
irrelevante uma vez que o processo anaeróbio não utiliza fotossíntese. A eficiência de
remoção de DBO situa-se em torno de 50% (para temperatura menor ou igual a 20C) a 60%
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(temperatura maior do que 20C) (Jordão e Pessôa, 2011). Mara apud von Sperling (2002)
sugere a seguinte equação para estimar a eficiência de remoção de DBO em lagoas
anaeróbias:
E = 2T + 20 (15)
Sendo: E = eficiência de remoção de DBO (%)
T = temperatura média do ar no mês mais frio (oC).

Segundo o autor, a equação (15) é válida para temperaturas superiores entre 10 e 25oC; para
temperaturas maiores que 25oC, a remoção seria de 70%.

A redução de DBO em lagoas anaeróbias não é suficiente na maioria dos casos, havendo
necessidade de um tratamento complementar.

A estabilização anaeróbia da matéria orgânica é um processo altamente complexo, onde


vários grupos de organismos atuam em uma seqüência de reações até chegar-se aos produtos
finais, metano e gás carbônico. De uma forma muito simplificada pode-se dizer que o
processo anaeróbico compreende duas fases:
 Formação de ácidos orgânicos voláteis pelas bactérias acidogênicas
 Formação de metano pelas bactérias metanogênicas

As bactérias metanogênicas são muito sensíveis, requerendo condições ambientais restritas


para realizarem seu metabolismo. Para isto, a temperatura do líquido deve situar-se acima de
15C, o pH deve ser acima de 6,5 e deve haver ausência absoluta de oxigênio.

Há potencial para geração de maus odores em lagoas anaeróbias devido à redução de sulfato a
sulfeto. Quando o pH for ácido, o sulfeto estará na forma de H2S, que é um gás mau cheiroso
e tóxico. Contudo, no pH neutro, a maior parte do sulfeto estará presente como HS -, que não
gera odores.

9.2.2. Critério de dimensionamento

Para o dimensionamento de lagoas anaeróbias são adotados dois critérios:


 Taxa orgânica de aplicação volumétrica;
 Tempo de detenção.

Taxa orgânica de aplicação volumétrica


Para o caso de lagoa anaeróbia, área superficial não é importante. A taxa de aplicação
volumétrica é tal que garanta um consumo de oxigênio muito maior do que a eventual
produção. Depende também da temperatura da região. As taxas de aplicação volumétrica
sugeridas por Jordão e Pessôa variam entre 0,1 a 0,4 kg DBO5/m3.dia. Mara apud von
Sperling (2002) sugere as seguintes cargas, com base nas temperaturas médias do mês mais
frio:
Lv = 0,02T – 0,10, para temperaturas entre 10 a 20oC (16)
Lv = 0,01T + 0,10, para temperaturas entre 20 a 25oC (17)
Lv = 0,35, para temperaturas maiores que 25oC (18)
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Sendo Lv = taxa de aplicação volumétrica de DBO, kg DBO/m3dia

Uma vez definida a taxa de aplicação volumétrica, o volume da lagoa é calculado pela
Equação (19).
L
V  (19)
LV
L = carga de DBO5 por dia, kg DBO/dia
LV = taxa de aplicação volumétrica de DBO

Tempo de detenção
É estabelecido em função do tempo requerido para estabilização da matéria orgânica pelo
processo anaeróbio. Normalmente, situa-se entre 3 a 6 dias. A tabela1 apresenta sugestões de
tempo de detenção em função da temperatura na região.

Tabela 1: Tempo de Detenção em lagoa anaeróbia (Jordão e Pessôa, 2011)


Temperatura média da lagoa no mês mais
Tempo de Detenção (dias)
frio (C)
 20 4 6
> 20 3 5

Profundidade
A profundidade de lagoas anaeróbias situa-se na faixa de 3,5 m a 5,0 m.

Geometria
As lagoas anaeróbias apresentam relação comprimento para largura entre 1 e 3.

9.2.3. Acúmulo de lodo

A taxa de acúmulo de lodo em lagoas anaeróbias tem sido reportada na ordem de 0,03 a 0,10
m3/habano.

9.3. Lagoa de maturação

9.3.1. Descrição do processo

A principal finalidade da lagoa de maturação é a remoção de organismos patogênicos. Desta


forma, ela pode ser utilizada após qualquer tratamento biológico de esgotos, incluindo lodos
ativados e filtros biológicos. É uma alternativa aos métodos tradicionais de remoção de
patogênicos como a desinfecção com cloro. Contudo, ela requer grande área.

O ambiente externo ao trato intestinal é desfavorável à sobrevivência de microrganismos


patogênicos. Eles enfrentam condições de temperatura, pH, oxigênio, e alimento fora das
faixas ótimas, além de terem de competir com outros organismos e predadores. As lagoas de
maturação procuram ampliar estas condições desfavoráveis, através da entrada de radiação
solar, pH e concentração de OD elevados. A radiação solar contém raios ultravioletas que são
bactericidas. As lagoas de maturação atingem mais de 99,99% de remoção de coliformes.
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Cistos de protozoários e ovos de helmintos são normalmente eliminados do efluente de lagoas
de maturação por sedimentação.

9.3.2. Critérios de projeto

O tempo de residência hidráulico é o principal parâmetro de projeto de lagoas de maturação.


É desejável usar fluxo em pistão para se atingir os elevados níveis de remoção requeridos. A
Equação (20) representa o número de organismos no efluente para reator com fluxo em pistão.

N  N 0  e  kd t (20)
Sendo: N = número de coliformes no efluente, [org/100 ml]
N0 = número de coliformes no afluente, [org/100 ml]
Kd = coeficiente de decaimento bacteriano, [dia-1]
T = tempo de detenção, [dias]

O coeficiente de decaimento bacteriano é função da temperatura T (Equação 21).


kd (T )  kd (20 C )   T  20 (15)

O valor sugerido para a constante  é 1,07.

Lagoas de maturação são dimensionadas para terem baixa profundidade de modo a


maximizarem a penetração da radiação ultravioleta. A profundidade situa-se entre 0,8 e 1,5 m
e o tempo de detenção entre 3 e 40 dias.

9.4. Exemplo de dimensionamento aplicação

Considere que no projeto da ETE Anglo (Pelotas-RS) o filtro biológico e o decantador


secundário foram substituídos por um sistema composto de uma lagoa facultativa, e
dimensione a mesma. Ou seja, o afluente à lagoa a ser dimensionada será o efluente dos
reatores UASB. Para início e fim de plano temos:
Início de plano (considerando a vazão média)
Dados:
Qméd2005 = 104 L/s
DBOafluente = 99 mg DBO5/L (concentração de DBO no efluente do reator UASB)
Temperatura média mês mais frio = 12,3 ºC
Ls (considerando inverno e insolação moderados) = 180 kgDBO5/ha.dia
Carga de DBO5 afluente (L)
H = 3,0 m
k (20ºC) = 0,35 d-1
Θ = 1,085

Carga de DBO afluente à lagoa (L):


L = DBOafluente * Qméd2005
L = 99 mg DBO5/L * 104 L/s * 86400 s/d * 1 kg/106 mg
L = 889,57kgDBO5/d
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Área da lagoa:
L 889,57kgDBO5 / d
A   4,94ha
Ls 180kgDBO5 / ha * d
Volume da lagoa:
V = H*A
V = 3,0 m * 4,94 ha*10 000 m²/ha
V = 148200 m³
V 148200m³
Tempo de detenção: t  
Q 104 L / s * 86400s / d *1m³ / 1000 L
t 16,49dias

Geometria da lagoa:
L/B = 4
L = 4B
A = L*B
4,94 ha * 10 000 m²/ha = 4B *B
B = 111,13 m
L = 444,52 m

DBO5 efluente:
Considerando fluxo em pistão a DBO5 efluente (C) é dada pela equação:
C  C0  ek t
O valor de k para as condições climáticas de Pelotas (Temperatura média mês mais frio = 12,3
ºC) é:

k (T )  k (20 C )   T  20

k (12,3º C )  0,35d 1 * (1,085) (12,320)

k (12,3º C )  0,1867d 1
Portanto, a DBO5 efluente é:

C  C0  ek t
1
C  99mg / L  e 0,1867d *16, 49d

C  4,55mg / L
Fim de plano (considerando a vazão média)
Dados:
Qméd2005 = 130 L/s
DBOafluente = 99 mg DBO5/L (concentração)
Temperatura média mês mais frio = 12,3 ºC
Ls (considerando inverno e insolação moderados) = 180 kgDBO5/ha.dia
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Carga de DBO5 afluente (L): pode ser explicitada
H = 3,0 m
k (20ºC) = 0,35 d-1
Θ = 1,085

Cálculo da carga diária de DBO5:


L = DBOafluente * Qméd2005
L = 99 mg DBO5/L * 130 L/s * 86400 s/d * 1 kg//106 mg
L = 1111,97 kgDBO5/d

Área da lagoa:
L 1111,97kgDBO5 / d
A = 6,18ha
Ls 180kgDBO5 / ha * d

Volume da lagoa:
V = H*A
V = 3,0 m * 6,18 ha*10 000 m²/ha
V = 185400 m³
V 185400m³
Tempo de detenção: t    16,51dias
Q 130 L / s * 86400s / d *1m³ / 1000 L

Geometria da lagoa:
L/B = 4
L = 4B
A = L*B
6,184 ha * 10 000 m²/ha = 4B *B
B = 124,30 m
L = 497,19 m

DBO5 efluente:
Considerando fluxo em pistão a DBO5 efluente (C) é dada pela equação:
C  C0  ek t
O valor de k para as condições climáticas de Pelotas (Temperatura média mês mais frio = 12,3
ºC) é
k (T )  k (20 C )   T  20

k (12,3º C )  0,35d 1 * (1,085) (12,320)

k (12,3º C )  0,1867d 1
Portanto a DBO5 efluente é:

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C  C0  ek t
1
C  99mg / L  e 0,1867d *16,51d

C  4,54mg / L

Comparando-se os dimensionamentos percebe-se que existe pouca diferença entre as etapas


de início e fim de plano. Sendo assim, para implantação da lagoa facultativa serão adotados os
dados de fim de plano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JORDÃO, E.P.; PESSÔA, C.A. Tratamento de esgotos domésticos. 6ª ed. Rio de Janeiro:
ABES, 2011.
TILLEY, E.; LÜTHI, C.; MOREL, A.; ZURBRÜGG, C.; SCHERTENLEIB, R. Compendium
of sanitation systems and technologies. Dübendorf: Swiss Federal Institute of Aquatic Science
and Technology, 2008.
VON SPERLING, M. Lagoas de estabilização. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.

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