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18.1 Resumo
Tendo presente a escassez de propostas de classificação das tecnologias digitais com
base no seu potencial pedagógico e a dificuldade, muitas vezes sentida, na operacionalização
de sistemas de análise que valorizem essa dimensão, o trabalho aqui apresentado pretende
ser um contributo nesse sentido.
Assim, apresentam-se aqui alguns dados sobre o processo e os resultados obtidos na
elaboração de uma grelha de análise e avaliação das tecnologias de informação e
comunicação hoje disponíveis e passíveis de serem utilizadas na elaboração de portefólios,
quer de professores, quer de alunos.
Este trabalho insere-se nas actividades do projecto “DigiFolio – O Portefolio Digital como
Estratégia de Desenvolvimento Profissional de Professores”12, um projecto de âmbito europeu
(Programa Comenius, Acção 2.1) que visa conjugar as potencialidades educativas dos
portefólios com o potencial das Tecnologias de Informação e Comunicação.
18.2 Introdução
O objectivo de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores é um excelente
motivo para reflectir sobre as questões da inovação em Educação e, nessa linha, uma
oportunidade ímpar para o incremento da utilização de portefólios nas práticas educativas.
Os avanços mais recentes das tecnologias digitais proporcionam-nos, por outro lado, a
experimentação de novas formas de organização e de construção de conhecimento que
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Mais informação sobre o projecto encontra-se disponível em: www.fpce.ul.pt/pessoal/ulfpcost/digifolio/
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exaltam a diversidade e a multiplicidade de propósitos, tanto do ponto de vista individual como
colectivamente.
Da reflexão sobre a conjugação destes dois aspectos resulta a proposta aqui
apresentada de análise e avaliação das tecnologias a que a comunidade educativa pode
facilmente aceder hoje e que podem ser mobilizadas para a elaboração de portefólios
electrónicos, quer de professores, quer de alunos.
No caso dos professores, o uso do portefólio pode constituir, aliás, um poderoso meio ao
serviço da renovação das práticas educativas (Cardoso, Peixoto, Serrano e Moreira, 1996) se
entendido como estratégia metacognitiva e reflexiva sobre o ensino e sobre si próprios (Galvão,
2005).
No entanto, a escassez de informação sobre o que são portefólios, que tecnologias
podem ser utilizadas para a sua elaboração, como se preparam e como se pode tirar partido
deles, são questões que apontam para a necessidade de uma preparação específica nesse
domínio.
Em conformidade com isso, o trabalho aqui apresentado tem como principal finalidade
ajudar os professores nesse processo, fornecendo-lhes uma grelha de análise e avaliação das
tecnologias com base nas suas potencialidades pedagógicas para a elaboração de portefólios
electrónicos.
Está organizado em três pontos em função das fases do processo de construção da
referida grelha. No primeiro – “Ponto de partida e objectivos do trabalho” – damos conta das
questões de onde se partiu e dos objectivos do trabalho desenvolvido. Apresenta-se de
seguida a “Estratégia de desenvolvimento” utilizada, dando especial enfoque aos momentos
mais significativos do processo, ou seja, a identificação dos objectivos dos portefólios (ponto
2.1) e a identificação de possíveis categorias de análise (ponto 2.2). No terceiro ponto –
“Grelha de análise“ –, apresenta-se a proposta concreta a que chegámos, resultante da
reflexão feita nas fases de pesquisa anteriores. Terminamos com uma reflexão final onde se
sublinham as ideias principais do trabalho efectuado e seu desenvolvimento futuro.
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Tendo como ponto de partida a dificuldade enunciada, foi nosso propósito propor uma
grelha para análise e avaliação das tecnologias hoje disponíveis, que considerasse os
objectivos concretos normalmente associados à utilização dos portefólios e, desse modo,
contribuísse para a identificação das potencialidades educativas dessas mesmas tecnologias.
Pretendeu-se, por outro lado, que essa grelha de análise e avaliação pudesse vir a
constituir um instrumento de utilização autónoma por parte dos professores e educadores que
desejem utilizar essas ferramentas ou necessitem de ajuda específica nesta área.
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Quadro 1
Objectivos inerentes à construção de portefólios e respectivos focos
Objectivos dos portefólios Dimensão / Foco
educativos
Estimular e activar o pensamento reflexivo Reflexão
Evidenciar processos de auto-reflexão
Estruturar os procedimentos de ensino e Estruturação
aprendizagem
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18.4.2 Categorias de análise
Figura 1
Estratégias de ensino-aprendizagem
(modelo adaptado de Laurillard, 1993)
São precisamente essas estratégias que tomámos como referencial para análise e
avaliação das tecnologias. Uma avaliação baseada nas estratégias de ensinoaprendizagem
preferencialmente utilizadas para alcançar os objectivos inerentes à elaboração de portefólios e
que passamos a explicitar com mais detalhe:
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Estratégia discursiva. Permite sobretudo manter uma relação de comunicação entre
vários intervenientes. É uma estratégia em que preside uma atitude de indagação e de
pesquisa sistemática por parte de professores e alunos e que ajudará na compreensão do
processo de ensino e aprendizagem identificando nele dimensões cognitivas, afectivas e de
acção.
Estratégia adaptativa. Permite sobretudo construir actividades de aprendizagem
baseadas nas concepções dos diversos intervenientes, evoluindo e ajustando-se a cada
situação concreta. O professor procura compreender para intervir, adequando as actividades
às necessidades específicas de cada aluno ou grupo de alunos num determinado momento.
Estratégia interactiva. Permite sobretudo representar e trocar ideias e conteúdos
utilizando várias formas de expressão e representação (texto, imagem, som, vídeo…). É uma
estratégia em que preside uma atitude mútua de escuta e diálogo constante entre professor e
aluno.
Estratégia reflexiva. Permite sobretudo a reflexão e o aprofundamento de
conhecimentos com base no registo de diferentes formas de estruturação e organização do
pensamento. É uma estratégia em que presidem a análise e o pensamento crítico e em que é
suposto que o aluno reflicta não apenas sobre o que está a aprender, mas também sobre como
está a aprender e sobre o seu próprio papel no processo de ensino e aprendizagem.
Quadro 2
Proposta de análise e avaliação do potencial pedagógico das tecnologias em função do
tipo de estratégias e dos objectivos específicos da elaboração de portefólios
POTENCIAL PEDAGÓGICO
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
DISCURSIVA Manter uma relação de comunicação contínua entre vários intervenientes;
(Comunicação, Negociar conteúdos e objectivos (professor e alunos);
Participação) Expressar ideias em função dos objectivos negociados;
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Participar activamente na construção do conhecimento.
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
ADAPTATIVA Construir actividades de aprendizagem adequadas às concepções dos
(Evolução, diversos intervenientes;
Selecção) Adaptar os objectivos de aprendizagem aos interesses dos alunos tendo
em conta as interacções (diálogo) ocorridas;
Tomar consciência das facilidades e dificuldades sentidas na elaboração
do portefólio;
Permitir um empenho pessoal e social no processo de ensino
aprendizagem.
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
INTERACTIVA Fornecer feedback ao aluno, ajudando-o a alcançar os objectivos de
(Motivação, aprendizagem;
Visualização) Reconhecer o significado inerente ao feedback transmitido pelo professor,
de forma a apropriar-se dos conteúdos que melhor se ajustam ao seu perfil;
Adicionar outras informações visando complementar determinado
conteúdo/tópico;
Representar ideias/conteúdos utilizando várias formas de expressão (texto,
imagem, som, vídeo…).
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
REFLEXIVA Reflectir e escrever sobre processo de ensino e aprendizagem;
(Reflexão, Estruturar e registar ideias, percepções e convicções dos alunos;
Estruturação) Reflectir sobre as descrições do aluno;
Fornecer diferentes formas de organização do pensamento possibilitando
o aprofundamento de conhecimentos.
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geração, como é o caso dos “weblogs”, “wikis” e outro “software social”, disponíveis na Internet
a custo zero, mas também às tecnologias e ferramentas de produtividade convencionais,
disponíveis em qualquer computador pessoal, e que encerram um potencial inigualável se
convenientemente integrados e utilizados em contexto educativo.
Uma integração e utilização que passa pelo domínio que os professores tiverem dessas
ferramentas, nomeadamente em termos de selecção e sua adequação a objectivos muito
concretos como é o caso dos portefólios electrónicos. Tópico que deu origem ao estudo em
desenvolvimento no seio do projecto DigiFolio, de cuja fase inicial aqui demos conta, e que
esperamos venha a contribuir para um conhecimento mais profundo do modo como as
“tecnologias podem ajudar a pensar”.
18.7 Referências
ALMEIDA, J.(2003). Implementação de Portfolios no 10º ano de escolaridade:
Contributos para o processo de aprendizagem e avaliação em Matemática. Dissertação
de Mestrado em Matemática/Educação. Porto: Universidade Portucalense.
BERNARDES, C. & MIRANDA, F.(2003). Portfólio. Uma Escola de Competências.
Porto: Porto Editora.
BIRNEY, R., BARRY, M., HÉIGEARTAIGH, M. (2006). Blogs. Engancing the Learning
Experiences for Tecnology Studentes. Paper presented at de International Conference
on ED-MEDIA.
CARDOSO, A.; PEIXOTO, A.; SERRANO, M.C. e MOREIRA, P. (1996). O Movimento
da autonomia do aluno. Repercurssões a nível da supervisão. In Alarcão, I.
(organização). Formação Reflexiva de Professores. Estratégias de Supervisão. Porto:
Porto Editora.
GALVÃO, V. (2005). A utilização de “portfolio” reflexivo na disciplina de Biofísica de um
Curso de Fonoaudiologia. In Sá-Chaves, I. (organizadora). Os “portfolios” reflexivos
(também) trazem gente dentro. Reflexões do seu uso na humanização dos processos
educativos. Porto: Porto Editora.
LAURILLARD, D. (1993). Rethinking university teaching. A framework for the effective
use of educational technology. London: Routledge.
NUNES, J. (2000). O professor e a acção reflexiva. Portfolios, “Vês” heurísticos e
mapas de conceitos como estratégias de desenvolvimento profissional. Porto: ASA
Editores.
SÁ-CHAVES, I. (2000). Portfolios Reflexivos. Estratégia de Formação e de Supervisão.
Aveiro: Universidade de Aveiro.
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SÁ-CHAVES, I. (1997). Novas abordagens metodológicas: os “portfolios” no processo
de desenvolvimento profissional e pessoal dos professores. In Estrela, A. e Ferreira, J.
(org.). VII Colóquio Nacional da AIPELF/AFIRSE.
SERAFIM, M. (2000). Portfolio vocacional. Estudo exploratório sobre a aplicação do
portfolio de competências em aconselhamento de carreiras. Dissertação de Mestrado
em Ciências de Educação, Formação Pessoal e Social. Universidade Católica
Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas
Identificação da Tecnologia
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Weblogger, http://weblogger.terra.com.br/
BigBlogTool, http://www.bigblogtool.com/
Blogalia: http://www.blogalia.com/
TheBlog, http://www.theblog.com.br/
IDIOMA Está disponível em várias línguas
ACESSIBILIDADE A criação de blogs é gratuita na maior parte dos serviços que os
disponibilizam
REQUISITOS Em geral basta ter acesso à Internet e um endereço de correio
electrónico para se poder criar um blog
OBSERVAÇÕES
Potencial Pedagógico
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Acrescentar informação complementar para melhorar a compreensão;
Estimular, reforçar ou incentivar visando um esforço continuado;
Aconselhar ou induzir caminhos alternativos de acordo com os
objectivos a alcançar.
Reconhecendo a importância da interacção com os outros e a utilidade
do feedback, o aluno vê reforçada a sua capacidade aprendizagem,
procurando outras informações com o intuito de aprofundar o estudo de
determinado tema ou assunto.
Esta tecnologia permite representar as ideias/conteúdos sob várias
formas (texto, imagem, som, vídeo) e fazer ligações para o exterior
(links).
ESTRATÉGIA Os weblogs podem ser utilizados pelo aluno para registo da sua reflexão
REFLEXIVA
pessoal sobre o processo de ensino e aprendizagem num determinado
(REFLEXÃO,
ESTRUTURAÇÃO) período de tempo e sobre as próprias aprendizagens efectuadas: o que
se está a aprender, como se está a aprender, as aquisições esperadas e
as aquisições já realizadas, as dificuldades sentidas, os obstáculos
superados, os recursos utilizados, etc..
A partir das reflexões e descrições realizadas pelos alunos, o professor
pode também reflectir sobre o processo e sobre a sua acção particular,
levando-o a melhorar ou considerar diferentes estratégias de
intervenção, procurar e explorar outros recursos, aprofundar o estudo
sobre as diferentes vertentes da sua acção, etc.
Apreciação Global
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gratuitamente na maior parte dos casos, com a rapidez de publicação e
actualização da informação e com a acessibilidade a audiências
potencialmente vastas.
PONTOS Os Weblogs são uma tecnologia adequada à elaboração de portefólios
FORTES
electrónicos, uma vez que permite satisfazer os objectivos normalmente
associados à sua elaboração.
São de realçar as possibilidades que oferece nomeadamente em termos
de interacção e em termos de visualização para o exterior,
proporcionando, por isso, um maior grau de motivação face aos
portefólios tradicionais.
A sua grande flexibilidade é também um ponto forte a considerar:
flexibilidade em termos de formas de apresentação dos conteúdos;
flexibilidade em termos de comunicação (entre aluno/aluno,
aluno/professor, aluno/outros intervenientes).
PONTOS Uma das limitações desta ferramenta é o facto de não ser acessível a
FRACOS
públicos que não tenham acesso à Internet.
EXEMPLOS DE Estágio de matemática da FCUL
BOAS PRÁTICAS
“Espaço em que podemos trocar ideias e comentar as histórias que nos
vão sendo apresentadas. Cada história corresponde a um episódio que
se passou na aula e que, de qualquer modo, vos fez pensar...”
[Disponível on-line]: http://estagios2005.weblog.com.pt/
HEMAJORO
“Aprender faz sorrir e faz crescer… Espaço para aprender e brincar,
conversar e olhar, inventar e interagir. Especialmente dedicado às
Tecnologias, com as tecnologias ao serviço da educação. Bem-vindo(a)
à academia!”. [Disponível on-line]: http://hemajoro.blogspot.com/
OBSERVAÇÕES
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