Você está na página 1de 13

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/262638143

Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação no


ensino fundamental

Article · December 2008

CITATIONS READS

2 551

5 authors, including:

Helen De Castro Silva Casarin Marta Leandro da Mata


São Paulo State University Universidade Federal do Espírito Santo
54 PUBLICATIONS   71 CITATIONS    23 PUBLICATIONS   11 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Tendências e recomendações em formação de usuários em bibliotecas universitárias View project

Mestrado Acadêmico View project

All content following this page was uploaded by Helen De Castro Silva Casarin on 27 May 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


M. L. Mata, H. C. Silva 28
Artigos

Biblioteca escolar e a aplicação da


proposta da competência em informação
no ensino fundamental
Marta Leandro da Mata
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília

Helen de Castro Silva


Doutora em Letras pela UNESP/Araraquara
Docente da graduação e da Pós-Graduação da UNESP/Marília

Resumo: A competência em informação visa o domínio do universo informacional, possibilitando um


aprendizado independente e que sirva para a resolução de problemas. Pensando nisso, desenvolvemos
atividades junto a doze alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de Marília –
SP e que apresentavam dificuldade de aprendizagem. A aplicação das atividades foi dividida em módulos
visando à capacitação das seguintes habilidades: identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de
fontes de informação para a realização de pesquisas escolares e de interesse pessoal e fazer busca em mais
de uma fonte para a realização de atividades de pesquisa escolar. Ao término de cada módulo foi aplicada uma
avaliação. Podemos concluir que as atividades possibilitaram aos participantes adquirirem as habilidades
informacionais almejadas e a iniciação no processo de competência informacional. Também contribuímos para
a mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às fontes de informação. Verificamos que
a proposta de Kuhlthau é possível de ser adaptada e utilizada à realidade brasileira em escolas da rede pública
de ensino fundamental.

Palavras-chave: Competência em Informação; Biblioteca Escolar; Ensino Fundamental.

1 INTRODUÇÃO
A sociedade da informação ou do conhecimento caracteriza-se pela multiplicidade de
informações, pela aceleração dos seus processos de produção e de disseminação,
tornando-se necessário preparar cidadãos capazes de selecionar, avaliar, interpretar e
utilizar as fontes de informação habilmente, conhecendo seus mais variados suportes e
formatos.

Essas habilidades informacionais podem ser denominadas de competência em


informação, que de acordo com Dudziak (2003, p. 28) é “[..] o processo contínuo de
internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessários à
compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de
modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”.

A busca pela formação de cidadãos competentes no uso da informação deve ser iniciada
na pré-escola, acentuando-se no período do ensino fundamental, fase introdutória dos
educandos ao ambiente da biblioteca escolar e com as fontes de informação, sendo o
período propício para a realização da instrução da competência em informação.

A educadora norte-americana Carol C. Kuhlthau desenvolveu a obra Como usar a


biblioteca na escola, que se fundamenta nos estágios cognitivos de Jean Piaget e

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


29 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

consiste em um programa de atividades progressivo, visando capacitar crianças e jovens


para acessar, avaliar e utilizar os diversos recursos informacionais, em suportes
impressos ou eletrônicos (KUHLTHAU, 2006). Esta proposta serviu como base para a
pesquisa por nós desenvolvida.

Tendo como enfoque a competência em informação voltada para a educação (DUDZIAK,


2003), o estudo aqui relatado é parte de uma pesquisa do Núcleo de Ensino da UNESP
de Marília desenvolvida com alunos de 5ª série do ensino fundamental de uma escola da
rede pública de ensino da cidade de Marília-SP, que resultou, além do relatório de
pesquisa (MATA; SILVA, 2006), em um Trabalho de Conclusão de Curso de
Biblioteconomia (MATA, 2006) o qual deu origem a este artigo.

2 CONDIÇÕES IDEAIS PARA A PRÁXIS DA BIBLIOTECA ESCOLAR


A biblioteca escolar, por definição, encontra-se instalada em escolas dos vários níveis de
formação. Ela deve ser inserida em local iluminado, arejado, compatível com o número
de alunos da escola, composta de produtos e serviços para que tenha um mínimo de
adequação ao ambiente em que se encontra e também para proporcionar conforto e
estabilidade, visando atrair os seus usuários. Segundo Santos (1989, p. 101), “[...] os
componentes essenciais para uma biblioteca são: acervo, equipamento, pessoal
capacitado e especializado e, por último, entrosamento direção – professores –
bibliotecário”, acredito então que se deve refletir sobre alguns destes pontos.

É desejável que os materiais sejam bastante variados e estejam organizados de modo


diferenciado do que nas bibliotecas para os adultos. Isto se justifica porque o público
deste tipo de biblioteca é bastante heterogêneo, abrangendo desde as crianças que
ainda não são alfabetizadas, até aqueles que devem estar aptos a desenvolverem
pesquisas escolares e a utilizar a biblioteca e outros recursos informacionais com
autonomia. Além disso, a biblioteca deve oferecer um ambiente agradável a fim de que a
criança possa desenvolver um conceito positivo em relação a ela e se sentir à vontade
ao freqüentá-la (ROVÍLSON, 2006).

Não é somente a estrutura física que compõe a biblioteca, mas também de pessoal
capacitado para exercer o cargo, como o bibliotecário. Segundo o Manifesto da
UNESCO (1999, p. 3) “[...] o bibliotecário escolar é o membro profissionalmente
qualificado, responsável pelo planejamento e gestão da biblioteca escolar”. Este
profissional possui conhecimento para manter a estrutura organizacional da biblioteca
segundo as técnicas biblioteconômicas, para questões de gerenciamento. Além disso,
pode criar projetos e/ou atividades para atrair os usuários para o ambiente e, deve estar
integrado ao projeto pedagógico da escola, fazendo parte das discussões e elaboração
sobre o mesmo (MATA, 2006).

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


M. L. Mata, H. C. Silva 30
Para obter estes recursos, que são o mínimo que uma biblioteca escolar (BE) pode
oferecer aos seus usuários, é necessário ter apoio financeiro. Os governos federal,
estadual e municipal devem destinar uma verba para as bibliotecas escolares. Segundo
Macedo (2005, p. 210) “[...] ao Estado e às outras instâncias governamentais regionais e
locais [...] cabe a responsabilidade do oferecimento de mecanismos orçamentários para
o funcionamento da biblioteca escolar para todos”. A disponibilização e compra de
acervos não tem sido suficiente para fazer com que as bibliotecas escolares funcionem a
contento. A proposta da biblioteca escolar é bem mais abrangente.

Segundo o Manifesto da UNESCO (1999, p. 1) a missão da biblioteca escolar é “[...]


promover serviços de apoio à aprendizagem e livros aos membros da comunidade
escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se tornarem pensadores críticos e efetivos
usuários da informação, em todos os formatos e meios”. O que a missão pressupõe é
que a BE ofereça assistência ao aluno em relação à sua aprendizagem, por isso deve-se
disponibilizar materiais em diversos suportes para que os alunos conheçam as diversas
fontes de informação e adquiram habilidades como a localização, a avaliação e a
utilização, de modo que satisfaça suas necessidades (para resolução de problemas).
Para tanto é necessário um profissional capacitado para mostrar os caminhos.

Em relação aos objetivos da biblioteca escolar, o Manifesto da UNESCO (1999, p. 3)


enfatiza aspectos voltados, de um modo geral, para a competência em informação:

 “apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais


definidos na missão e no currículo da escola;
 desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e
da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao
longo da vida;
 oferecer oportunidades de vivências destinadas à produção e ao
uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, à
imaginação e ao entretenimento;
 apoiar todos os estudantes na aprendizagem e na prática de
habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas
formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar
adequadamente as formas de comunicação com a comunidade
onde estão inseridos;
 prover acesso em nível local, regional, nacional e global aos
recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes
a diversas idéias, experiências e opiniões;
 organizar atividades que incentivem a tomada de consciência
cultural e social, bem como de sensibilidade;

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


31 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

 trabalhar em conjunto com estudantes, professores,


administradores e pais, para o alcance final da missão e dos
objetivos da escola;
 proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à
informação são pontos fundamentais à formação de cidadania
responsável e ao exercício da democracia;
 promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar na
comunidade escolar e ao seu redor.”

Segundo Martucci (2005, p.187), os objetivos da biblioteca escolar estabelecidos no


Manifesto “[...] enfocam o desenvolvimento do prazer da leitura, da aprendizagem e do
uso da biblioteca ao longo da vida, o que inclui o domínio das habilidades de acesso,
avaliação e uso da informação”. Os objetivos do Manifesto parecem estar bem claros e
definidos, bastando ele servir de exemplo e ser seguido pelas bibliotecas escolares do
mundo.

A biblioteca escolar tem imensa importância e contribuição para a sociedade. No entanto,


precisa que as pessoas vejam-na com outros olhos, observando seu real valor. É preciso
criar projetos educacionais amplos, como os projetos da competência informacional.

3 A BIBLIOTECA ESCOLAR E A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO


O fenômeno da Sociedade da Informação, na qual a informação tem valor incontestável,
e com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, as barreiras
locais, regionais, nacionais e mundiais se potencializaram no que concerne à
transmissão da informação. De acordo com Martucci (2005, p.185), “[...] a sociedade da
informação é um fenômeno global com marcante dimensão social, em virtude do seu
elevado potencial em promover a integração, reduzindo distâncias entre as pessoas e
aumentando o seu nível de informação”.

Neste cenário, é importante que todos os indivíduos tenham acesso à informação, já que
dela se constitui a sociedade em que vivemos. O indivíduo que não fizer parte dela
tornar-se-á excluído de todo sistema, pois a integração descrita por Martucci (2005) só
ocorre quando todos os indivíduos têm acesso aos meios difusores da informação.

A biblioteca escolar pode ser um dos maiores veículos de transmissão da informação


para a fase inicial de letramento e conscientização de crianças e jovens do país. É
através dela que qualquer barreira informacional deve ser quebrada, sendo que o
conhecimento tornou-se hoje um dos principais fatores de superação de desigualdade;
logo, a universalização da biblioteca escolar ajudará a garantir a todos o acesso
eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção no país na
sociedade da informação (MATA, 2006).

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


M. L. Mata, H. C. Silva 32
A competência informacional é um dos meios norteadores para habilitar os indivíduos a
usarem a informação, além de que “[..] o uso do termo [competência informacional] no
âmbito escolar é resgatado por estar ligado aos processos cognitivos apresentados na
aprendizagem” (QUEIROZ, 2006, p. 30).

O desenvolvimento de projetos de competência informacional na comunidade escolar,


por meio da biblioteca, possibilita que o aluno seja formado como usuário da informação
em passos gradativos para buscar, entender, organizar, interpretar, avaliar, utilizar e
comunicar a informação. Não significa que seja um processo de aquisição somente de
habilidades formais de busca em catálogos e ferramentas eletrônicas, mas também sirva
de mola propulsora para mudança de atitude a respeito da informação, do conhecimento,
da preparação do escolar para a resolução de problemas e tomada de decisões. O que
se espera é o desenvolvimento do desejado espírito crítico e criativo do estudante no
decorrer da vida toda (MACEDO, 2005).

Para a concretização deste propósito, a biblioteca escolar deve estar integrada às


atividades desenvolvidas em sala de aula pelo professor, pois a integração ao projeto
pedagógico é fundamental para que os recursos disponíveis sejam adequadamente
direcionados às necessidades curriculares da instituição, inserida e integrada nesse
processo de construção do conhecimento.

A educação do aluno deve ser baseada nos recursos informacionais, por isso há uma
necessidade da participação do bibliotecário, professores e demais membros da equipe
pedagógica da escola para disponibilização das informações através dos melhores
recursos disponíveis pela mesma, além dos outros fatores, pois esta integração agiliza
todo o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Queiroz (2006, p. 30) “[...] a
Information Literacy contribui para uma nova concepção de biblioteca escolar, bem como
para mudar a visão da biblioteca na escola começando com a participação, em função
da sua natureza educativa, desde a elaboração do projeto pedagógico”.

A competência em informação é posta como um desafio para a biblioteca escolar, “[...]


ela é desafiadora a transformar-se de mero repositório de informação para constituir-se
em uma organização e espaço aprendente (sic), uma vez que a aprendizagem ocorre
por toda a vida” (QUEIROZ, 2006, p. 27).

Sendo a competência em informação um conceito bastante abrangente que visa, dentre


os propósitos mencionados, formar habilidades para o uso efetivo da informação, a
biblioteca escolar se torna o cenário ideal para iniciar estas atividades de competência
informacional devido à extensão que pode alcançar nesta comunidade. Por isso,
consideramos que este tema deve ser pensado mais seriamente pelo bibliotecário, na

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


33 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

implantação de um projeto de competência em informação nas bibliotecas escolares


brasileiras, assim como já vem ocorrendo em muitos países, nos quais existem vários
projetos deste tipo. Este artigo apresenta o relato de um projeto experimental sobre esta
temática, conforme se verá a seguir.

4 METODOLOGIA
Tomamos como base fundamental nesta pesquisa a proposta de Carol Kuhlthau (2004),
que é apresentada na obra Como usar a biblioteca na escola, que foi adaptada por um
grupo de pesquisadores da Escola de Ciência da Informação da UFMG. No livro são
propostas atividades visando que o aluno adquira algumas habilidades. São
recomendadas de acordo com a série que o aluno estiver cursando e a sua faixa etária.
Fundamentando-se nesta proposta, foram realizadas atividades junto a um grupo de
alunos do ensino fundamental de uma biblioteca escolar. Os participantes desta
pesquisa eram doze alunos das seis turmas de 5ª série oferecidas no período vespertino
por uma escola da rede pública de ensino da cidade de Marília – SP, onde foi
desenvolvida a pesquisa.

As atividades abordavam os diferentes recursos informacionais da Biblioteca escolar.


Além disso, contou-se com o auxílio de materiais da Biblioteca Interativa do Centro de
Estudos da Educação e da Saúde1 (CEES).

Inicialmente, aplicou-se um questionário aos participantes da pesquisa para sua


caracterização e verificação de sua vivência com fontes de informação, bibliotecas e
práticas de busca e uso da informação, o qual continha questões de múltipla escolha e
questões abertas. Em seguida, foi desenvolvido um programa de instrução de
competência em informação, visando o ensino das seguintes habilidades: identificar,
caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de
pesquisas escolares e de interesse pessoal; obter informação utilizando diferentes tipos
de fontes de informação; fazer buscas em mais de uma fonte para a realização de
atividades de pesquisas escolar. O ensino de cada recurso informacional e das
habilidades apropriadas referentes aos mesmos foi ministrado em um módulo
correspondente.

Realizamos encontros semanais entre os membros da equipe do projeto (a pesquisadora,


aluna do 4º ano do curso de Biblioteconomia e uma colaboradora, aluna do 2º ano do
curso de Pedagogia) e os participantes, uma vez por semana, com duração de uma hora
e vinte minutos, durante um período de seis meses. As atividades eram realizadas em
uma sala de aula ou na biblioteca, durante o período de aula. Os professores liberavam

1
A Biblioteca Interativa é um projeto de extensão que oferece variados recursos informacionais e
está inserida na Unidade Auxiliar da UNESP Campus de Marília, o CEES.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


M. L. Mata, H. C. Silva 34
os alunos para a participação no projeto. As instrutoras buscavam os alunos na sala de
aula. A participação da colaboradora ocorria durante a realização da atividade,
auxiliando os alunos em suas dúvidas.

A Biblioteca da escola era composta por diversos tipos de livros, revistas, coleção de
referência, dentre outros, possuindo um acervo rico e diversificado para os alunos. No
entanto, os livros não eram organizados de forma adequada, não possuía um sistema de
classificação, foram separados em estantes por assunto e organizados de acordo com a
ordem de chegada. Revistas de contexto geral e especializadas para crianças eram
adquiridas através de assinatura. Uma professora readaptada era responsável pela
biblioteca.

Para a avaliação da eficácia das atividades desenvolvidas, foram conduzidas avaliações


ao final de cada módulo do procedimento. Os dados obtidos, ao final do módulo I, II e III,
foram analisados para verificar se os estudantes adquiriram as habilidades
informacionais.

Os alunos que fizeram parte da pesquisa foram indicados pela coordenadora pedagógica
da escola. O critério de escolha utilizado foi o relato dos professores sobre a queixa de
dificuldade de aprendizado dos alunos. Os participantes da pesquisa eram, na maioria,
do sexo masculino com 91,3% e apenas 8,3% do sexo feminino.

A faixa etária dos participantes variou entre 11 e 15 anos de idade, sendo que oito
participantes possuíam 11 anos, três tinham 12 anos e apenas um possuía 15 anos.
Este último desistiu da escola durante a realização do projeto e foi eliminado da pesquisa
por não ter completado a participação no programa.

A principal diferença entre a proposta da Carol Kuhlthau e as que foram desenvolvidas


na pesquisa aqui apresentada é que ela propõe que as atividades referentes aos
diversos recursos informacionais sejam aplicadas ao longo das séries correspondentes a
todo o período do ensino fundamental e, em nossa pesquisa – pensando que os alunos
participantes desta atividade já estão na 5ª série e, supõe-se não conheciam e nem
sabiam como utilizar os recursos informacionais – propomo-nos a aplicar algumas das
atividades previstas desde o início do programa, que é voltado para a 1ª série do ensino
fundamental até a 5ª série – que é a fase de escolaridade dos participantes. Deste modo,
separamos as atividades referentes a três tipos de fonte, a saber: o livro, os periódicos
(revistas e jornais), e obras de referência. Foram criados módulos específicos para cada
uma delas, conforme segue.

Módulo I: Conhecendo e usando o livro

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


35 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

Este é o primeiro módulo, no qual trabalhamos com o livro, apresentando a sua estrutura
e suas características para que os participantes conhecessem esta fonte de informação
e aprendessem a utilizá-la. Para desenvolver habilidades previstas no módulo I foram
realizadas as seguintes atividades:

Atividade 1: Elementos do livro, descrição das partes do livro e sua finalidade


Atividade 2: Caça-palavras
Atividade 3: Charada
Atividade 4: Construção do “livrão”
Atividade 5: Avaliação final sobre os elementos do livro

Módulo II: Conhecendo e utilizando as revistas e jornais


Esta atividade foi realizada para que as crianças se familiarizassem com as revistas e
com os jornais, fixando-se a idéia de que a biblioteca possui outros materiais além de
livros e para que conhecessem as características e funções desta fonte – por exemplo,
que possuem caráter informativo, que são fontes de informação corrente, dentre outras.
Para desenvolver habilidades previstas no módulo II foram realizadas as seguintes
atividades:

Atividade 1: Descrição da revista


Atividade 2: Descobrir partes da revista
Atividade 3: Associando as informações da revista
Atividade 4: Construindo uma revista
Atividade 5: Comparação de revistas
Atividade 6: Avaliação final sobre revistas
Atividade 7: Descrição dos jornais
Atividade 8: Avaliação final sobre jornais

Módulo III: Conhecendo e usando a coleção de referência


Neste módulo mostramos os outros tipos de materiais existentes na biblioteca, como a
coleção de referência, e quais as suas funções e suas finalidades. Fazem parte da
coleção de referência, por exemplo, as enciclopédias e os dicionários, que são utilizadas
por alunos, normalmente, para a realização da pesquisa escolar. Um dos propósitos
desta atividade era habilitar os participantes a localizar verbetes dentre as enciclopédias
e dicionários e diferenciar a coleção de referência da coleção geral. Foram realizadas as
seguintes atividades:

Atividade 1: Usando os dicionários


Atividade 2: Avaliação final sobre os dicionários
Atividade 3: Usando as enciclopédias

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


M. L. Mata, H. C. Silva 36
Atividade 4: Procurando informações da enciclopédia
Atividade 5: Avaliação final sobre as enciclopédias

5 RESULTADOS
Caracterização da relação dos sujeitos com a biblioteca e com as fontes de
informação
Os dados sobre a vivência dos alunos com o ambiente da biblioteca e sobre a utilização
dos recursos informacionais foram coletados através de um questionário que antecede o
projeto de instrução de competência em informação. A maioria dos participantes (58%)
tinha o hábito de ler ou liam às vezes (42%). Quanto ao tipo de material de leitura, eles
apontaram que costumavam ler gibis, livros, revistas, jornais e cartazes, nesta ordem de
preferência. A metade dos participantes afirmou que freqüentava bibliotecas,
principalmente a da escola, antes de participarem do projeto. O tipo de atividade que
costumavam realizar era: leitura, pesquisa escolar e empréstimos, nesta ordem.
Perguntamos que tipo de fonte de informação eles costumavam utilizar para realizar
suas pesquisas escolares. A grande maioria (58%) não respondeu esta questão.
Aqueles que responderam indicaram usar a internet e a biblioteca, nesta ordem.
Percebe-se principalmente por este último resultado que eles têm pouco contato com as
fontes de informação e, isto se deve ao desconhecimento dos recursos informacionais
existentes para auxiliá-los. Os participantes também relataram não fazer uso da
enciclopédia para a realização da pesquisa escolar, nem dos jornais, nem das revistas;
não costumavam buscar sinônimos das palavras nos dicionários para sanar dúvidas.
Provavelmente não sabiam como utilizar essas fontes para localizar a informação de que
necessitavam e não tinham interesse.

Análise das atividades realizadas nos módulos


No módulo I os participantes obtiveram a média de 81% de acertos, no módulo II a
média foi de 80% e no módulo III 83% de acertos. A média de assimilação das
habilidades informacionais se mantiveram estáveis durante os três módulos de
atividades desenvolvidas. Em relação à média individual de cada participante, houve
variação tanto em forma crescente quanto decrescente; cada um deles teve mais
facilidades e dificuldades devido às fontes de informação dos módulos.

Durante as atividades voltadas para o livro, desenvolvidas no módulo I, percebeu-se que


apenas um dos participantes teve dificuldade no manuseio e uso desta fonte. Ainda
assim, foi compreensível por ser o módulo introdutório de atividades. Neste período,
todos os participantes tiveram contato significativo com o ambiente da biblioteca,
conhecendo a biblioteca da escola, como ela está organizada e os materiais nela
disponíveis. Também foi explicado o seu funcionamento. O livro foi apresentado
enquanto um recurso informacional, suas partes e suas funções foram detalhadas.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


37 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

Ressaltamos que as atividades realizadas neste módulo tiveram caráter bem lúdico e
prático para que os participantes pudessem assimilar as habilidades informacionais.

O módulo II foi dedicado às atividades em torno das revistas e jornais e foi o módulo em
que a maioria teve maior dificuldade, apresentando um percentual menor de acertos nas
atividades. A principal delas era com relação à estrutura das revistas e ao sumário.
Quanto aos jornais, que não possuem sumário e têm apenas uma breve apresentação
das manchetes na página inicial e sua localização no interior dos cadernos, os
participantes tiveram mais facilidade para localizar informações e assimilar as suas
funções, se comparados com o desempenho na atividade com as revistas. O motivo
deve-se ao fato de terem trabalhado com material semelhante, isto é, as revistas,
anteriormente.

O último módulo III, que se refere aos dicionários e enciclopédias, os participantes


tiveram maior dificuldade em entender a função dos diversos tipos de dicionários –por
exemplo, o dicionário de literatura infantil – ainda mais porque variavam no modo como
eram organizados. Em relação aos dicionários mais tradicionais, como os de línguas, o
entendimento foi melhor. Quando trabalharam com a enciclopédia, obtiveram mais
facilidade e conseguiram assimilar as habilidades de identificação, organização e uso,
pois a atividade anterior com os dicionários reforçou a compreensão deste último, por
terem estrutura similar.

Considera-se, de um modo geral, que os participantes obtiveram um resultado de


aprendizagem positivo a respeito das fontes de informação trabalhadas em cada módulo,
uma vez que conseguiram identificar, caracterizar e diferenciar os livros, as publicações
seriadas e as obras de referência.

6 CONCLUSÕES
Na sociedade da informação, os indivíduos precisam ser competentes em informação e,
para isso, precisam de orientações para entender o universo informacional e avaliar
criticamente as informações. A introdução dessa pesquisa na escola contribuiu para o
início de uma mudança em relação ao modo de aprendizagem, possibilitando desse
modo a abertura de um espaço para a aplicação de projetos desse nível e a
conscientização dos professores de que os educandos estavam aprendendo através das
atividades para a melhoria na realização das atividades escolares.

Com o desenvolvimento do programa de instrução mostrou-se a importância, a estrutura


e a forma de organização da biblioteca, como, também, os materiais ali disponibilizados
e suas funções, contribuindo para uma mudança de paradigma dos participantes em
relação à biblioteca e às fontes de informação.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


M. L. Mata, H. C. Silva 38
Constata-se que os participantes estão habilitados para usar as fontes de informação
trabalhadas, como os livros, as revistas, os jornais, os dicionários e as enciclopédias.
Propiciou-se também a habilidade de trabalhar em conjunto com outras pessoas em um
ambiente de aprendizado, ouvindo e opinando.

Avaliamos, através desta, que é possível aplicar a proposta da pesquisadora norte-


americana na realidade brasileira com algumas adequações e com indivíduos que,
segundo relatos, possuíam dificuldade de aprendizagem.

Consideramos que as atividades possibilitaram aos participantes adquirir habilidades


informacionais e a iniciação no processo de competência informacional, que nada mais é
do que usar essas habilidades informacionais para o aprendizado independente e ao
longo da vida, procurando manter-se sempre atualizado e disposto a aprender. A
competência informacional ainda é um tema incipiente no Brasil e em diversos países,
mas cada vez mais os profissionais estão se atentando para este tema e para este
propósito que é habilitar o indivíduo a ser competente em informação.

As bibliotecas escolares e os bibliotecários precisam posicionar-se na sociedade da


informação, oferecendo as diversas fontes de informação para os educandos e
habilitando-os na sua utilização. Os membros da equipe da escola precisam estar
atentos aos processos de ensino-aprendizagem para contribuir com a formação de
cidadãos capazes de pensar de forma crítica para o convívio escolar e social. Para
descobrir oportunidades para a melhoria de vida pessoal e social, acarretando em
mudanças na comunidade em que vive. Consideramos que, além de discutir
conceitualmente a questão da competência informacional, já é tempo dos bibliotecários e
professores partirem para trabalhos de aplicação e avaliação, a fim de que esta proposta
seja de fato aperfeiçoada, pois a nosso ver ela tem muito a contribuir para autonomia
informacional dos usuários.

REFERÊNCIAS

DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Information Literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação,
Brasília, v. 32, n. 1, p. 23-35, jan./abr. 2003.

KUHLTHAU, Carol C. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o ensino
fundamental. Tradução e adaptação de Bernadete Santos Campello et al. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2004. 303 p.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital


39 Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação...

MACEDO, Neusa Dias de. (Org.). Biblioteca escolar brasileira em debate: da memória profissional a um
fórum virtual. São Paulo: Senac, 2005. p.167-403.
MACEDO, Neusa Dias de. Fórum de debates sobre a biblioteca escolar brasileira, com base no Manifesto da
UNESCO/IFLA. In: ______ (Org.). Biblioteca escolar brasileira em debate: da memória profissional a um
fórum virtual. São Paulo: Senac, 2005. p.167-403.

MATA. Marta Leandro da. A competência informacional no âmbito escolar: um projeto para o
desenvolvimento de habilidades informacionais no ensino fundamental. 2006. 127 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Biblioteconomia) – Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, Marília, 2006.

MATA, Marta Leandro da; SILVA, Helen de Castro. Avaliação do programa de competência informacional de
Carol Kuhlthau. 2006 (Relatório de pesquisa)

MARTUCCI, Elizabeth Márcia. Fórum de debates sobre a biblioteca escolar brasileira, com base no Manifesto
da UNESCO/IFLA. In: MACEDO, Neusa Dias de. (Org.). Biblioteca escolar brasileira em debate: da
memória profissional a um fórum virtual. São Paulo: Senac, 2005. p.167-403.

QUEIROZ, Solange Palhano de. Information Literacy: uma proposição expressiva para a biblioteca escolar. In:
SILVA, Rovilson José da; BORTOLIN, Sueli. (Org.). Fazeres cotidianos na biblioteca escolar. São Paulo:
Polis, 2006. p. 21-31.

SANTOS, Marlene Souza. Multimeios na biblioteca escolar. In: GARCIA, Edson Gabriel (Org.). Biblioteca
escolar: estrutura e funcionamento. São Paulo: Loyola, 1989. p. 97-108

SILVA, Rovílson José. Formar leitores na escola. In: SILVA, Rovílson José; BORTOLIN, Sueli (Org.). Fazeres
cotidianos na biblioteca escolar. Londrina: Polis, 2006. 118 p.

UNESCO. Manifesto da Biblioteca Escolar. UNESCO, 1999.

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital

View publication stats

Você também pode gostar