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MAX WEBER
1- Dados biográficos
2- A sociologia "compreensiva".
3- A teoria do "tipo-ideal".
4- A Ética protestante e o espírito do capitalismo (exemplo da aplicação do método).
1. Dados biográficos:
Max Weber (1864-1920). Sociólogo alemão. No entanto, Weber dificilmente se via a si
próprio apenas como sociólogo. A amplitude e a profundidade dos seus conhecimentos
históricos eram verdadeiramente fenomenais. No fim da sua vida, quando aceitou uma
cátedra de sociologia em Munique, comentou "Parece que agora, nos termos da minha
promoção, sou um sociólogo".,
Escreveu livros sobre as companhias do comércio da Idade Média e a história agrária de
Roma antes de escrever os primeiros artigos sociológicos, designadamente o ensaio A
objectividade nas ciências sociais, onde apresenta a sua teoria do tipo-ideal (1904) e o
ensaio em dois capitulos de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904 e
1905).
2. A sociologia "compreensiva"
Para Weber, a sociologia é uma ciência que procura compreender a acção social. A
compreensão da acção social implica a percepção do sentido que cada actor social atribui
à sua própria conduta. Weber quer atingir uma compreensão dos sentidos subjectivos. A
análise sociológica deve partir do sentido subjectivo que os actores conferem à sua
própria conduta (individualismo metodológico weberiano).
De acordo com Weber, a explicação de um fenómeno encontra-se essencialmente no
significado que os indivíduos dão aos seus actos. Daí que seja necessário ter em conta os
princípios e os valores que orientam os comportamentos. As condutas humanas são
intencionais e inspiradas por um conjunto de representações mentais, uma certa imagem
da vida, da sociedade ou uma certa imagem que se tem dos outros actores sociais. Weber
quer também compreender o contexto cultural no qual participam os actores.
Para a sociologia interpretar (dar conceptualmente conta da acção), compreender
(apreender o sentido) e explicar (estabelecer relações de causa e efeito) necessita de
conceitos, que devem ser elaborações teóricas sujeitas a verificações empíricas. As
ciências sociais exigem uma construção de conceitos que lhe sejam próprios. Propõe
assim a noção de tipo-ideal.
O cientista não consegue compreender a acção dos outros de um modo imediato, tem que
haver investigação e provas. A ciência de Weber define-se como um esforço destinado a
compreender e a explicar os valores aos quais os homens aderiram. Como os homens
puderam viver em sociedades diversas em função de crenças diferentes.
A compreensão da acção social exige uma abstracção a partir da complexidade infinita da
realidade.
A acção é toda a conduta humana sempre que o sujeito ou os sujeitos da acção lhe dêem
um sentido subjectivo. A acção é social quando o sentido pensado pelo seu sujeito ou
sujeitos está referido à conduta dos outros, orientando-se por esta no seu
desenvolvimento.
Há uma relação social quando existe uma reciprocidade por parte de dois ou mais
indivíduos, cada um dos quais relaciona a sua acção em relação aos actos previsíveis dos
outros. P. ex, na nossa sociedade estendemos a mão a uma pessoa na expectativa que ela
corresponda. O que não implica necessariamente que os significados inerentes à relação
social sejam iguais para ambos os participantes nele: p. ex., uma relação amorosa em que
um ama e o outro se deixa amar. No entanto, nessa relação, há significados que definem
aquilo que cada um espera do outro.
Nem todos os tipos de contacto entre indivíduos constituem uma relação social: se dois
homens desconhecidos chocarem na rua um com o outro, essa interacção não é uma
situação social. Seria uma acção social se começassem a discutir.
A sociologia deve basear-se em técnicas fixas de interpretação do significado, que
possam assim ser comprovadas de acordo com os cânones convencionais do método
científico. A análise científica da acção social terá de recorrer à elaboração de tipos-
ideais.
Tipos de acção
Acção racional com relação a um objectivo (ou racional instrumental). O actor concebe
claramente qual o seu objectivo, em função dos seus conhecimentos da situação e
combina os meios disponíveis para atingi-lo. P.ex. a acção do cientista, que quer
estabelecer relações de causalidade que sejam universalmente válidas).
Acção racional com relação a um valor o actor age racionalmente não para atingir um
resultado objectivo, mas porque aderiu a determinados valores (p.ex., o actor age para
permanecer fiel à sua ideia de honra)
Acção afectiva : ditada pelo estado de consciência do momento.
Acção tradicional: ditada pelos hábitos, pelos costumes e crenças. O actor não concebe
um objectivo, ou obedece a um valor ou é impelido por uma emoção, obedece a reflexos
criados por uma longa prática.
A validade universal da ciência exige que o cientista não projecte os seus próprios juízos
de valor na investigação. Mas as suas preferências orientam a curiosidade do cientista. A
validade universal das ciências históricas e sociológicas são respostas universalmente
válidas a questões orientadas pelos nossos interesses e valores.
3.Teoria dos tipos-ideais
O tipo-ideal é um quadro de pensamento construído pela acentuação de um ou mais
aspectos da realidade.
Selecção de determinadas dimensões da realidade. Não se pode encontrar empiricamente
na realidade esta construção mental. À pesquisa cabe a tarefa de determinar para cada
caso singular em que medida essa construção ideal se aproxima ou diverge da realidade.
O tipo-ideal não é ideal num sentido normativo, isto é, não implica que a sua realização
seja desejável. Podemos construir um tipo ideal de assassinato ou de prostituição.
Exemplo de tipo-ideal: a ética calvinista. Este conceito foi extraído de escritos de várias
figuras históricas, e os componentes das doutrinas calvinistas a que Weber deu relevo são
seleccionadas em função da sua importância na constituição do espírito capitalista.
Weber quis demonstrar que a conduta dos homens nas diversas sociedades só pode ser
compreendida dentro do quadro da concepção geral que esses homens têm da existência,
distinguindo-se de Marx que se propõe analisar as sociedades pela produção material dos
homens.
Os dogmas religiosos são partes integrantes dessa visão do mundo e influenciam a
conduta dos indivíduos, nomeadamente o seu comportamento económico. Weber quis
provar que as concepções religiosas determinam a conduta económica e, por isso, são
uma das causas das transformações económicas das sociedades.
Na perspectiva de Weber, esta visão religiosa impede qualquer tipo de misticismo, pois a
comunicação do homem com deus está interdita. É assim uma concepção anti-ritualista, e
por isso favorável ao desenvolvimento da ciência.
O crente deve trabalhar na obra de deus. Mas não sabe se vai salvar ou se vai ser
condenado. Weber sugere que por uma inclinação psicológica certas seitas calvinistas
vêem no êxito económico uma prova da escolha de deus. Logo, o indivíduo é conduzido
a dedicar-se ao trabalho para vencer a angústia provocada pela incerteza da salvação.
A ética protestante convida o crente a desconfiar dos bens materiais, a não gozar os bens
materiais. Ora, trabalhar tendo em vista o lucro e não gastá-lo, mas sim poupá-lo é uma
das condições imprescindíveis ao desenvolvimento do capitalismo. Na perspectiva de
Weber, a ética protestante incita a procurar o lucro não para gozar a vida mas para atingir
a satisfação de produzir cada vez mais.
O estudo de Weber permite compreender a influência das crenças e dos valores nas
condutas humanas.
Weber entende que cada uma desta dimensões de estratificação social apoia-se num tipo
concreto de poder. Assim, a formação da classe baseia-se no poder económico,
exercitado no mercado; os grupos de status assentam no poder social, surgindo o status de
um indivíduo em função da avaliação que os outros fazem dos seus atributos pessoais,
concedendo-lhe um certo grau (positivo ou negativo) de prestígio, ou do que Weber
chama "honra". Por fim, os partidos correspondem à distribuição do poder político e a
hierarquia política opõe dominantes e dominados.
Weber faz notar que é necessário distinguir conceptualmente estas três dimensões de
hierarquização social. Contudo, a nível empírico, estas três formas de poder e respectivas
hierarquias podem surgir relacionadas, de forma estreita e variada. É o caso do status, que
nas sociedades modernas surge muitas vezes associado à filiação política e apoiado e
derivado da condição económica.
As classes:
A distribuição desigual de poder económico é determinada pelas leis objectivas e naturais
da economia e que se manifestam no mercado. A situação de classe é o efeito da situação
do indivíduo no mercado. E essa posição vai condicionar a possibilidade de adquirir bens
ou de alcançar outros objectivos de natureza económica. A classe é assim o resultado da
manifestação do poder especificamente económico do indivíduo. Esse poder económico
está condicionado em grande medida pela posse de propriedade. Os que dispõem de
propriedade podem aproveitar melhor as ocasiões de mercado. A distribuição desigual de
poder económico corresponde, em última instância a uma desigual distribuição de
propriedade. O tipo de propriedade que os indivíduos dispõem afecta, igualmente, a sua
situação de classe. Para os que não possuem propriedade e apenas possuem o seu trabalho
ou os seus serviços para trocar no mercado, a sua situação de classe é determinada pelo
tipo de serviço que podem oferecer.
A hierarquia económica tem assim duas dimensões: o mercado dos bens e o mercado do
trabalho. E Weber desenvolve uma tipologia complexa das classes sociais.
As classes de propriedade (diferenças de património):
- Classes positivamente privilegiadas (os que vivem dos seus rendimentos).
- Classes negativamente privilegiadas (os que não têm rendimentos, escravos, pobres,
endividados)
- Entre ambas existem as classes médias, abrangendo camadas de todo o género, que
providas de património ou de aptidões adquiridas por instrução, tiram daí o seus sustento.
Os grupos de status
A distribuição do poder social entre os membros de uma colectividade produz uma
hierarquia de grupos com fronteiras imprecisas, "amorfas". Enquanto a "situação de
classe" é determinada por critérios puramente económicos, o status de um indivíduo é
condicionado por uma avaliação social, positiva ou negativa, a "honra". Esta avaliação
implica uma relação inter subjectiva: por um lado, as qualidades da pessoa avaliada, por
outro lado a subjectividade dos restantes membros da comunidade, em particular, os seus
valores, ou que eles honram e respeitam. O "estilo de vida" é o aspecto mais
característico do prestígio e engloba muitos elementos como a instrução e cultura, o tipo
de trabalho, os costumes, os gostos. O status pode ser adquirido em primeiro lugar, por
um modo de vida próprio, estando associado em particular à natureza da profissão; ou
status de nascimentos, ou carisma hereditário (condição de origem).
O contraste entre classe e grupos de status é também um contraste entre a produção e o
consumo. Enquanto a classe expressa relações envolvidas na produção, os grupos de
status expressam relações envolvidas no consumo, na forma específica de "estilos de
vida".
As classes e os grupos de status tendem a estar intimamente ligados através da
propriedade: a posse de propriedade é um determinante essencial da situação de classe,
como também pode fornecer a base para que se siga um determinado estilo de vida.
O êxito económico é um dos atributos mais importantes do prestígio, mas não é o único.
Por outro lado, o prestígio não tem o carácter automático e objectivo próprio das leis do
mercado.
Mas a simples posse de qualidades socialmente valorizadas não é suficiente para adquirir
prestígio. Para Weber, o status significa a "reivindicação eficaz da estima social" e o
indivíduo com prestígio é aquele que conseguiu obter o reconhecimento das suas
qualidades pessoais, é o que conseguiu obter a honra e a dignidade (no sentido de "boa
sociedade") através de um determinado modo de vida. A verdadeira base do status não é
o estilo de vida, mas o poder social, ou seja, a capacidade de se impor através de um
determinado estilo de vida.
Os grupos de status são grupos reais (ao contrário das classes) porque a acção dos
indivíduos que os compõem está subjectivamente orientada para a acção dos outros. Os
membros de um grupo de status são as pessoas que os outros membros do grupo
reconhecem como pertencendo a este.
O status dificulta a acção das leis de mercado, cujo efeito é recompensar
automaticamente as condutas racionais. Mesmo quando os grupos de status se constituem
com base no poder económico, só se podem manter impedindo o funcionamento normal
do mercado. Quando a lógica do status prevalece totalmente, a classe social transforma-se
em casta. O que é um caso-limite raro.
Segundo Weber, uma sociedade e uma época podem caracterizar-se pelo tipo de
estratificação social dominante. A superioridade da estratificação económica está
directamente relacionada com o grau de desenvolvimento da economia de mercado;
enquanto uma sociedade de status corresponde a sociedades feudais, religiosas e
patriarcais, em que a actividade económica não está submetida a princípios racionais.
Weber afirma que o estabelecimento de um novo modo de produção costuma modificar a
hierarquia dos grupos de status, provocando uma nova distribuição do poder económico.
Mas uma vez estabelecida a hierarquia de classes, tende a cristalizar-se numa hierarquia
de status.
Na sua perspectiva, a estratificação puramente económica, baseada nas qualidades
racionais dos indivíduos tende a impor-se com o desenvolvimento e consolidação da
economia capitalista. A distribuição de prestígio na sociedade moderna é cada vez mais
difícil de dissociar da posição de classe, e por outro lado, o poder económico constitui
cada vez mais, o factor decisivo de desigualdade.
Com o triunfo do capitalismo, a racionalidade será o princípio básico de constituição da
ordem social. O problema da reprodução de posição social não se deverá por, pois as leis
infalíveis do mercado asseguram uma distribuição desigual do poder, que corresponde
perfeitamente ao mérito individual, impedindo a cristalização de posições adquiridas por
recurso a elementos irracionais.
Os partidos
Estratificação baseada no poder propriamente político, e que está mais ou menos
associada ás duas outras formas de estratificação social. A desigual distribuição de poder
político forma "partidos". A noção de partido deve ser entendida num sentido geral, como
uma associação de indivíduos com vista a alcançar fins políticos. O campo de actuação
dos partidos é, por excelência, o Estado, mas Weber afirma que se pode falar de partidos
em sentido amplo, podendo-se falar de partidos sempre que há uma disputa pelo poder,
por exemplo, num clube, numa igreja, etc. O partido envolve uma socialização dos seus
membros, na medida em que exige uma certa concertação racional das acções de
diferentes indivíduos com vista à obtenção de poder. Para Weber, o exercício burocrático
do poder e a hierarquia correspondente constituem a forma ideal de desigualdade política.
AULAS DE 18-11-02
Sumário (manhã): As desigualdades sociais e a mobilidade social - definição de
conceitos.
As teorias da estratificação social na actualidade: o caso do estrutural-funcionalismo, Erik
Olin Wright e Pierre Bourdieu.
1 - Estrutural-funcionalismo
Parsons pensava que a América precisava de uma teoria (criticando assim o empirismo
americano). Propõe-se construir uma grande teoria, que fosse uma síntese de ideias de
autores como Durkheim e Max Weber. Além de se propor combater o empirismo, quer
também combater o marxismo. Está pois contra as teorias que põem a tónica no conflito.
Parsons tem em vista uma teoria que imponha o consenso e a ordem.
Parsons considera que numa sociedade muito dinâmica, com muita desigualdade e
conflitos, como é a sociedade americana de finais dos anos 30, onde impera o
individualismo e o êxito económico, se podem vir a criar graves dificuldades ao seu
funcionamento. Por isso, Parsons dá prioridade ao social, interessando-lhe o indivíduo
socializado. Por outro lado, apresenta uma alternativa ao marxismo, ao afirmar que o que
governa uma sociedade são os valores, as crenças, as normas, a cultura e não o
económico (Parsons gostava de pensar em si próprio como um determinista cultural).
Influência de Durkheim: Parsons retira do autor francês a importância da moral, da
interiorização, por parte de cada indivíduo, dos valores dominantes na sociedade. Não se
trata então de um constrangimento de ordem física.
De Weber retira a importância concedida aos valores.
- A desigualdade social é universal, pois não há sociedade que não esteja estratificada,
não há sociedades sem classes
- a desigualdade social é necessária e cumpre uma função: recompensar os que ocupam
posições mais importantes, reconhecendo-os como superiores na hierarquia social
- a desigualdade social assenta em dois princípios básicos: a importância funcional das
posições sociais e a escassez de mão-de-obra capaz de as ocupar.
- Adoptam uma perspectiva estrutural ao considerar que os eixos de determinação das
desigualdades sociais estão enraizados nas sociedades, são supra-individuais. Através dos
mecanismos de socialização e de interiorização, os indivíduos incorporam o sistema
normativo, as estruturas vitais para o funcionamento da sociedade (aspecto
exemplarmente desenvolvido por Parsons ).
- Adoptam uma postura funcionalista (Durkheim)pois colocam a ênfase nas interligações
orgânicas dos elementos do sistema (indivíduos, grupos, instituições), pressupondo que
estes ao cumprirem os respectivos papéis estão a cooperar para o funcionamento global
da sociedade. Daí que partam da noção de que a interiorização do sistema normativo seja
essencialmente consensual.
- A perspectiva estrutural funcionalista parte dos pressupostos essenciais do seguinte
paradigma: as desigualdades sociais encontram-se na sociedade e cumprem a função de
satisfazer os indivíduos que as compõem, para os motivar a cumprirem o seu dever e para
os situar.
- Importância funcional diferencial (procura) das posições sociais: diferentes profissões,
tarefas, actividades, representam uma importância variável para a vida em sociedade (as
tarefas de regulação política são importantes em todas as sociedades). A sociedade deve
dar recompensas suficientes para assegurar que as diferentes posições sejam preenchidas.
Se uma posição é com facilidade preenchida, não precisa de ser muito recompensada,
ainda que importante. Por outro lado, se além de importante é difícil de preencher, a
recompensa deve ser alta o suficiente para assegurar o seu preenchimento.
- Escassez diferencial de pessoal (oferta): Todas as posições exigem alguma forma de
qualificação ou capacidade para o seu desempenho. As qualificações de um indivíduo
manifestam-se de duas maneiras: aptidão natural e treino adequado. Algumas posições
exigem aptidões naturais para o seu desempenho, outras exigem largo tempo de formação
e treino. Por isso a sociedade tem de recompensar de um modo diferente as diferentes
posições sociais, para assegurar encontrar indivíduos para ocuparem todas as posições
sociais necessárias.
- A criação das desigualdades sociais assenta num mecanismo "inconsciente" da
sociedade: é o seu funcionamento espontâneo que leva à diferenciação entre os
indivíduos.
- A estratificação social é um conjunto de recompensas diferenciais. São as diferentes
recompensas (materiais e/ou simbólicas) que as sociedades atribuem aos indivíduos em
função da posição que ocupam que os vai situar na escala de estratificação.
- Não se pode deduzir a importância de uma posição social pelo salário que lhe está
inerente. O facto de determinada posição ser importante é que irá ser correspondida por
uma elevada remuneração.
- As formas de estratificação social variam de sociedade para sociedade devido à
"importância funcional" das posições em cada sociedade. Apesar da variabilidade,
algumas funções sociais ocupam lugares elevados na escala da estratificação social em
todas as civilizações: as actividades dos governos.
- Estes autores inspiraram-se em Max Weber. No entanto, enquanto Weber afirma que a
conjugação dos três tipos de estratificação social pode variar, os funcionalistas fazem
equivaler a estratificação social a posições de status, ou estratos. O status representa para
os funcionalistas uma síntese equivalente às "classes", para os marxistas: lugares
estruturais, nos quais os indivíduos se integram e que vão determinar em larga medida os
seus comportamentos e modos de vida. Na perspectiva dos funcionalistas há uma
aceitação mútua de posições, e a ambição dos menos privilegiados é subir na escala
social.
Não é o salário em si que são a fonte de status, mas sim o status de determinada posição,
atribuído pela sua importância, que determina o salário.
As posições que estão na esfera mais elevada da hierarquia social são a) as que têm mais
importância para a sociedade. A importância de uma posição depende do grau de
unicidade dessa posição, depende do facto de haver ou não uma outra posição social que
possa cumprir adequadamente a função a que esta corresponde. Depende também do grau
de dependência e de subordinação de outras posições em relação a ela b) as que exigem
mais treino ou talento.
Exemplo da profissão médica (é muito importante e exige longo treino).
Uma posição não traz poder e prestígio porque proporciona um elevado salário, mas
proporciona um elevado salário porque é funcionalmente importante e o pessoal
disponível por alguma razão é escasso.
Desemprego das profissões de nível superior, resulta de uma queda de prestígio das
mesmas, devido a um excesso de oferta. Pelo contrário, uma escassez de oferta tende a
aumentar as recompensas. Uma especialização muito grande do trabalho tende a criar
especialistas sem alto prestígio, se o treino for curto e a capacidade inata exigida
relativamente pequena.
Críticas ao estrutural-funcionalismo:
- Concepção de um indivíduo hiper-socializado
- Incapaz de explicar o conflito e a mudança
- E o problema da reprodução da condição de classe? Problema da transmissão da
condição de classe através da família, o que pode restringir o acesso a posições
privilegiadas por parte de indivíduos mais dotados.
- Faz supor que as desigualdades sociais equivalem as uma desigualdade de motivação.
Ou seja, faz acreditar que há uma igualdade de oportunidades para todos os indivíduos.
Pierre Bourdieu
Este sociólogo francês define as classes a partir do capital económico (propriedade e
rendimentos); do capital cultural (escolaridade e cultura); capital social (relações e
influências) e capital simbólico (prestígio, que resulta da conjugação dos outros tipos de
capital).
AULA DE 25-11-02
SUMÁRIO: Teorias da estratificação e das desigualdades sociais (conclusão).
1- Conceitos
Classe social: categoria social cujos membros, em virtude de serem portadores de tipos e
volumes de recursos semelhantes, seja de propriedade económica, de qualificações
escolares e profissionais, de poder ou de prestígio social, tendem a ter condições de
existência também semelhantes e a desenvolver afinidades nas suas práticas e
representações sociais, ou seja, naquilo que fazem e naquilo que pensam.
Mobilidade social: transição de indivíduos ou grupos de uma classe social para outra.
Existem dois tipos de mobilidade social: intergeracional (analisa-se mais do que uma
geração, por exemplo comparando-se pais e filhos) e intrageracional (analisa-se
indivíduos do início ao fim da sua carreira social). Em termos de sentido, a mobilidade
social pode ser ascendente, descendente e estacionária.
As desigualdades sociais (podem ter várias vertentes, que podem estar ou não
interrelacionadas), em função do sexo, idade, categoria socioprofissional, etnia, raça,
genética, tipo físico.
Classes:
Critérios subjectivos: valores, interesses, estilos de vida, linguagem, identidade (em larga
medida condicionados pelos critérios objectivos).
2 - Pierre Bourdieu
O habitus é assim
- O gosto é definido como "fórmula geral que está na base do estilo de vida (conjunto
unitário de preferências distintivas)", "disposição dedicada a estabelecer ou marcar as
diferenças por uma operação de distinção" (Bourdieu, 1979: 543).
- O "bom-gosto" é o gosto "legítimo", é uma expressão distintiva duma posição
privilegiada na estrutura social e que decorre essencialmente da competência cultural dos
agentes sociais.
Definição de hexis corporal: "Modo global de manter o corpo, de o apresentar aos outros,
onde se exprime entre outras coisas, uma relação particular - de concordância ou de
discordância - entre o corpo real e o corpo legítimo" (Bourdieu, 1979: 54).
3 - Tipologia de classes