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Integrais

20, 25/11/2019
Integração e derivação
Suponhamos que queremos calcular o espaço percorrido por um corpo,
conhecendo a sua velocidade em cada instante. Como a velocidade
instantânea é a derivada do espaço percorrido em função do tempo,
teremos de primitivar ou integrar a velocidade.
Consideremos o caso em que o corpo efectua um movimento com
aceleração constante. O espaço percorrido sA,B entre dois instantes tA e
tB é igual ao produto da velocidade média pelo intervalo de tempo
∆t = tB − tA
vA + vB
sA,B = × (tB − tA )
2
Verifica-se facilmente que esta expressão corresponde à área delimitada
pelo gráfico da função velocidade, o eixo das abcissas e as rectas verticais
de equação x = tA e x = tB .
Área sob o gráfico de uma função contı́nua positiva
Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua, tal que f (x) ≥ 0, x ∈ [a, b].
Designamos por área sob o gráfico de f no intervalo [a, b] e denotamos
A(f )[a,b] , a área da região do plano delimitada pelo gráfico de f , o eixo das
abcissas e as rectas x = a e x = b.

Para obter uma estimativa desta área, consideremos um conjunto de pontos


{x0 , x1 , . . . , xn−1 , xn }
com a = x0 < x1 . . . xn−1 < xn = b e as respectivas imagens
f (a), f (x1 ), . . . , f (xn−1 ), f (b).
A soma dos valores das áreas dos rectângulos de dimensões f (xi ) e xi − xi−1 é
uma aproximação da área sob o gráfico de f .

n
X
A(f )[a,b] ' f (xi )(xi − xi−1 ) .
i=1
Área sob o gráfico de uma função contı́nua positiva
Também é possı́vel aproximar a área sob o gráfico de f pela soma dos valores
das áreas de rectângulos de dimensões f (xi−1 ) e xi − xi−1 , ou seja,

n
X
A(f )[a,b] ' f (xi−1 )(xi − xi−1 )
i=1

Se fizermos a média das duas aproximações anteriores obtemos uma


aproximação por áreas de trapézios.
Regra dos trapézios. A área sob o gráfico de f pode ser aproximada pela soma
dos valores das áreas dos trapézios de bases f (xi ), f (xi−1 ) e altura xi − xi−1 .

n
X f (xi ) + f (xi−1 )
A(f )[a,b] ' (xi − xi−1 )
i=1
2
Integral definido de uma função contı́nua em [a, b]
Teorema. Seja f : [a, b] → R contı́nua e seja a = x0 < x1 . . . xn−1 < xn = b.
n
X n
X
lim f (xi )(xi − xi−1 ) = lim f (xi−1 )(xi − xi−1 )
n→∞ n→∞
i=1 i=1
n
X f (xi ) + f (xi−1 )
= lim (xi − xi−1 ) ∈ R.
n→∞
i=1
2
n
X
Prova-se ainda que lim f (xi )(xi − xi−1 ) não depende dos pontos
n→∞
i=1
x1 , . . . , xn−1 considerados.
Definição. Designamos integral de f no intervalo [a, b] o número real
Z b n
X
f (x) dx = lim f (xi )(xi − xi−1 ).
a n→∞
i=1

Quando f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], o integral de f em [a, b] corresponde ao valor


exacto da área sob o gráfico de f .
Teorema. Seja f : [a, b] → R contı́nua e tal que f (x) ≥ 0, x ∈ [a, b]. Tem-se
que Z b
Área(f )[a,b] = f (x) dx ∈ R+
0.
a
Propriedades do integral definido de uma função contı́nua
Seja f uma função contı́nua definida num intervalo fechado [a, b].
Z b
Já vimos que se f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] então f (x) dx ≥ 0.
a
Uma consequência directa da definição de integral é a seguinte:
Se f (x) ≤ 0, ∀x ∈ [a, b] então
Z b Z b
f (x) dx = − −f (x) dx = −Área(−f )[a,b] .
a a

No cálculo dos integrais utilizam-se as seguintes convenções:


I Z a
f (x) dx = 0
a

I
Z a Z b
f (x) dx = − f (x) dx
b a
Propriedades do integral definido
I Se f é contı́nua em [a, b] e a ≤ c ≤ b, então
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c

I Se f é contı́nua em [a, b] e k ∈ R então


Z b Z b
k f (x) dx = k f (x) dx
a a

I Se f e g são contı́nuas em [a, b] então


Z b Z b Z b
(f + g )(x) dx = f (x)dx + g (x) dx
a a a

I Se f e g são contı́nuas em [a, b] e f (x) ≤ g (x), ∀x ∈ [a, b]


então Z b Z b
f (x) dx ≤ g (x) dx
a a
Integral Indefinido
Seja f uma função contı́nua num intervalo I de R e seja x0 ∈ I .
Designa-se por integral indefinido de f com origem em x0 a função
Z x
Φ(x) = f (t) dt, x ∈ I .
x0

Teorema. Seja f Z uma função contı́nua num intervalo I de R e seja x0 ∈ I .


x
A função Φ(x) = f (t) dt é contı́nua em I .
x0

Exemplo. Seja f (x) = x, x ∈ R. Seja x0 = 1. Calculemos alguns valores de


Z x Z x
Φ(x) = f (t) dt = t dt.
1 1
Tem-se que
Z 3 Z 0 Z 1
3+1 1
Φ(1) = 0, Φ(3) = t dt = ×2 = 4, Φ(0) = t dt = − t dt = − .
1 2 1 0 2
Média de uma função contı́nua

Seja f uma função contı́nua definida num intervalo [a, b].


Definimos média da função f no intervalo [a, b] como o valor
Z b
f (x) dx
a
Média(f )[a,b] = .
b−a

Teorema da média. Se f é uma função contı́nua em [a, b], então


existe um ponto c ∈ [a, b] tal que
Z b
f (x) dx
a
Média(f )[a,b] = = f (c).
b−a
Demonstração do teorema da média
Seja f uma função contı́nua em [a, b]. Como f é contı́nua e está
definida num intervalo fechado, podemos afirmar que o
contradomı́nio de f é o intervalo [m, M], onde M é o máximo de f
e m é o mı́nimo de f . Pelas propriedades do integral, temos que
Z b
m(b − a) ≤ f (x) dx ≤ M(b − a).
a

Assim Z b
f (x) dx
a
m≤ ≤ M,
b−a
ou seja, a média de f no intervalo [a, b] pertence ao contradomı́nio
de f . Portanto existe c ∈ [a, b] tal que
Z b
f (x) dx
a
Média(f )[a,b] = = f (c).
b−a
Derivada do integral indefinido

Teorema. Seja f uma função contı́nua num intervalo I e x0 ∈ I .


Então o integral indefinido
Z x
Φ(x) = f (t) dt, ∀x ∈ I
x0

é uma função diferenciável em I e

Φ0 (x) = f (x), ∀x ∈ I .

Podemos assim afirmar que Φ é a primitiva de f que satisfaz a


condição Φ(x0 ) = 0.

Este teorema prova-se a partir da definição de derivada e do


teorema da média.
Demonstração
Seja a ∈ I . Por definição de derivada de uma função num ponto, tem-se que
Φ(x) − Φ(a)
Φ0 (a) = lim .
x→a x −a
Assim,
Z x Z a
f (t) dt −
f (t) dt
x x0
Φ0 (a) = lim 0
x→a x −a
Z x Z x0 Z x
f (t) dt + f (t) dt f (t) dt
x a
= lim 0 = lim a .
x→a x −a x→a x −a
Aplicando o teorema da média ao intervalo [a, x], tem-se que existe cx ∈ [a, x]
tal que Z x
f (t) dt
a
= f (cx ).
x −a
Passando ao limite, conclui-se
Z x
f (t) dt
Φ0 (a) = lim a
= lim f (cx ) = f (a).
x→a x −a x→a
Teorema Fundamental do Cálculo Integral

Teorema. Seja f uma função contı́nua em [a, b] e seja F uma primitiva de f .


Então Z b
f (x) dx = F (b) − F (a). (Fórmula de Barrow)
a
Z x
Demonstração. Sejam F uma primitiva de f , x0 ∈ [a, b] e Φ(x) = f (t) dt.
x0
Temos que
Z b Z x0 Z b Z a Z b
f (x) dx = f (x) dx+ f (x) dx = − f (x) dx+ f (x) dx = −Φ(a) + Φ(b)
a a x0 x0 x0

Como Φ é uma primitiva de f , existe c ∈ R tal que Φ(x) = F (x) + c. Assim,


temos que

−Φ(a) + Φ(b) = −(F (a) + c) + F (b) + c = F (b) − F (a).

 b
Notação. Denotamos F (b) − F (a) por F (x) a .
Exemplos
I Seja f (x) = x 2 , x ∈ [2, 5]. Tem-se que

5 5
x3
Z 
125 8 117
x 2 dx = = − = .
2 3 2 3 3 3

I Seja f (x) = sin x, x ∈ − π , π


 
2 2
Tem-se que
Z π/2 π  π
π/2
sin x dx = [− cos x]−π/2 = − cos + cos − = 0.
−π/2 2 2
Aplicação do integral definido ao cálculo da área da região
limitada por duas curvas
Sejam f e g funções contı́nuas tais que f (x) ≥ g (x), ∀x ∈ [a, b].

A área da região limitada pelos gráficos de f e de g é igual à


diferença entre a área da região sob o gráfico de f e a área da
região sob o gráfico de g .
4
Exemplo. Calcular a área entre as curvas de equação y = − e y = x 2 − 5.
x2

Estas curvas intersectam-se x = −2, x = −1, x = 1 e x = 2 e são simétricas em


relação ao eixo das ordenadas. Assim, a área total é
Z 2 2
x3

−4 2 4
A=2 2
− (x − 5) dx = 2 − + 5x
1 x x 3 1
3
  
4 2 1 4
=2 − + 10 − 4 − + 5 = .
2 3 3 3
Integração por partes

Sejam u = u(x) e v = v (x) funções com derivadas contı́nuas,


ambas definidas em [a, b]. Então
Z b Z b
0
u (x)v (x)dx = [u(x)v (x)]ba − u(x)v 0 (x)dx.
a a

Z 2
Exemplo. Calcular o integral (x + 1)e x dx.
1
Z 2 Z 2
x
(x+1)e dx = [(x + 1)ex ]21 − ex dx = 3e2 −2e−e2 +e = 2e2 −e
1 1
Integração por Substituição
Seja f uma função contı́nua definida em [a, b] e u = u(t) uma
função bijectiva com derivada contı́nua, cujo contradomı́nio
contém o intervalo [a, b]. Então
Z b Z u −1 (b)
f (x)dx = f (u(t))u 0 (t)dt.
a u −1 (a)

Exemplo. Utilizar a substituição x = t 6 para calcular


Z 2 √
x
√ 3
dx.
1 x +1
√ Z √
62 Z √
62 #√
62
t3
" 7
t5 t3
Z 2
x 5 6 4 2 1 t

3
dx = ×6t dt = 6 t −t +t −1+ dt = 6 − + − t + arctan(t)
1 x +1 1 t2 + 1 1 t2 + 1 7 5 3 1
√ √ √ 
6 7 6 5 6
2 2 23 √ √ 1 1 1
 
6 6
= 6 − + − 2 + arctan( 2) − − + − 1 + arctan(1) 
7 5 3 7 5 3
√ √ √ 
6 7 6 5 6 3
2 −1 1− 2 2 −1 √
6 √
6
= 6 + + − 2 + 1 + arctan( 2) − arctan(1) .
7 5 3

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