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CENTRO TEOLÓGICO E PSICANALÍTICO

DO E.S
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APOSTILA DE TEORIA PSICANALÍTICA
Publicado em 30 de setembro de 2013por CETAPES
O encontro terapêutico.
A empatia.
“Fiz um esforço incessante para não ridicularizar, não lamentar, não desprezar as ações
humanas, mas compreendê-las” (Baruch de Espinosa).
“O homem […] não pode responder totalmente e de modo ideal às exigências da
necessidade externa senão quando está em sintonia consigo” (Carl Gustav Jung).
“O principal objetivo da terapia psicológica não é transportar o paciente para um impossível
estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida
acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor” (Carl Gustav Jung).
“Não importa que o problema se ache há muito tempo enraizado; que as perspectivas não
ofereçam esperança; que a situação esteja embaralhada; que o erro tenha as dimensões que
tiver. O sentimento autêntico do amor dissolverá tudo. Quem souber amar o suficiente será o
mais feliz e o mais poderoso ser do mundo” (Emmet Fox, O Sermão da Montanha).
A “terapia propicia o espaço para que pensamentos e sentimentos esquecidos e
incontroláveis encontrem palavras e gestos e sejam discutidos de tal modo que sejam superados
e esquecidos de maneira saudável” (Kalu Singh, Culpa, p. 63).
“Lembro-me de ter conhecido o dr. Joseph Wortis, um renomado psiquiatra, quando ele
tinha 85 anos. Ele fora a Viena no início dos anos 30 para aprender psicanálise e ser analisado
por Freud. O dr. Wortis mais tarde fundou a Biological Psychiatry, que se tornou uma revista
científica pioneira. Ele me contou quando Freud o surpreendera em sua juventude ao insistir: ‘Não
aprenda apenas psicanálise como existe hoje. Já está ultrapassada. Sua geração chegará à
síntese entre psicologia e biologia. Você deve se dedicar a isso’. Enquanto o mundo todo
começava a descobrir suas teorias e sua ‘cura verbal’, Freud – sempre um pioneiro – já estava
pesquisando em outra esfera” (David Servan-Schreiber. Curar, p. 30).
O método psicanalítico de Freud
A psicoterapia é um tratamento dirigido à psique.
O método adotado é a comunicação.
O instrumento da comunicação (que é a única via praticável) é a palavra.
O marco da psicoterapia é a relação interpessoal psicoterapeuta-paciente. A finalidade da
psicoterapia é curar.

A Psicanálise é um método de tratamento com o objetivo de libertar as pessoas de dúvidas


desnecessárias, de sentimentos absurdos de culpa, de auto-condenação ruminante, de
condenações exageradas e de impulsos inadequados. Freud constatou que, no início da análise,
a pessoa apresenta a mesma fachada que ostenta para a sociedade. Gradativamente, a pessoa
deixa aflorar seus impulsos reprimidos.
A partir do emprego da sugestão na psicoterapia, três etapas se sucederam no tratamento
das neuroses. Na primeira etapa foi utilizada a sugestão. Na segunda etapa, Breuer utilizou o
hipnotismo. Com a sugestão hipnótica, o paciente expunha seus pensamentos e sentimentos. Na
terceira etapa, Freud abandonou o hipnotismo. Ele passou a estimular e pressionar o paciente
visando a recordação. É o método da coerção associativa, que serviu de passagem para a
Psicanálise.
Freud constatou que os acontecimentos não são lembrados porque eles são dolorosos e
desagradáveis. Um acontecimento tornou-se inconsciente porque ele foi forçado a isso. Uma
determinada vivência não foi apenas esquecida. Ela foi empurrada para fora da consciência e ali
é mantida à força. É a teoria do recalque. A experiência recalcada está carregada de emoção e
desejo. O conteúdo recalcado não está extinto. O conceito de recalque realça a atividade do
inconsciente. Os desejos continuam a existir abaixo do nível da consciência. Mesmo frustrados,
os desejos lutam com todo seu poder e com toda a sua habilidade para frustrar as proibições do
ego.
O Psicanalista deve descobrir as tendências neuróticas da pessoa. As consequências das
tendências neuróticas são reprimidas em grau variável. Trata-se das posturas e atitudes
decorrentes. Uma modéstia compulsiva pode ser consequência de uma busca por segurança.
Pode expressar a necessidade de um parceiro, que atenda expectativas excessivas. Pode
também ocultar uma intensa ansiedade.
O processo psicanalítico consiste na investigação e reorganização da personalidade. O
objetivo é trazer o conteúdo inconsciente para a consciência. O objetivo da análise é capacitar a
pessoas para resolver no futuro os seus problemas sem a ajuda de um terapeuta. O paciente
precisa se libertar de condenações exageradas. Os sentimentos são muito opressivos.
Quando a pessoa procura o Psicanalista, ela espera encontrar compreensão. O paciente
se defronta com três deveres:
1. expressar-se da maneira mais franca possível;
2. tornar-se consciente dos conflitos inconscientes e da influência que eles exercem em
sua vida;
3. ter vontade de modificar as atitudes que estão afetando seus relacionamentos.

A parte fundamental do processo psicanalítico é a Livre Associação de Ideias. São


estabelecidas relações entre tudo aquilo que é mostrado pelo paciente. As lembranças estão
organizadas numa rede associativa. O psicanalista deve perceber as entrelinhas daquilo que o
paciente relata. Ele deve quebrar os vínculos: é a quebra do acordo consensual.
O paciente não deve se preocupar com o que está dizendo. Deve falar como se pensasse
em voz alta. Alguns pacientes narram minuciosamente os acontecimentos. O excesso de
detalhes pode funcionar como um bloqueio, quando o paciente não quer falar do essencial. Nesse
caso, o psicanalista deve alertar sobre a improdutividade do conteúdo verbalizado. O paciente
também não deve fazer uma seleção, como se ele tivesse que definir o que é importante e o que
não é.
Com a Livre Associação de Ideias pode-se reconstruir a personalidade consciente.
Uma expressão franca é obtida mediante a livre associação. Com a livre associação vêm
à tona os impulsos, os sentimentos, as acusações, as lembranças, as fantasias, os julgamentos.
Freud descobriu a dimensão terapêutica da livre associação.
A pessoa deve se expressar sem reservas e na sequência em que o assunto aparece.
Deve ser verbalizado todo o sentimento que aflorar. Com muita franqueza e ausência de
julgamentos moralizantes pode ocorrer uma aparente falta de direção na exposição. Mas, o
importante é que haja franqueza e sinceridade para abrir-se com outro ser humano. Deve haver
também uma determinação para enfrentar e resolver os seus próprios problemas.
Com a ajuda do Psicanalista, a pessoa passa a compreender como sua mente funciona, e
consegue então estruturar a sua personalidade.
A pessoa passa então a perceber o que lhe ocorre quando se defronta com uma
determinada situação.
Na livre associação emergem sentimentos e/ou impulsos reprimidos. Assim como nos
sonhos, eles aparecem deformados ou surgem mediante expressões simbólicas. A raiva de uma
pessoa pode não aparecer como tal, mas em forma de condenação e preconceito.
A livre associação revela o modo de operar da mente.
Uma pessoa apreensiva procurará inconscientemente se esquivar de situações de risco.
Ela evitará qualquer passo cujos efeitos não possa prever.
Uma pessoa isolada procurará se proteger com um disfarce. Ela evitará intromissões e
ameaças ao seu isolamento.
Uma pessoa carente de autonomia moral e que não tem coragem de externar suas
opiniões, estará preocupada com a expectativa do analista a respeito dela.
Uma pessoa aprisionada pelos seus próprios conflitos acaba se tornando inerte. Falta-lhe
motivação. Ela só se empenha quando recebe incentivo. Sua capacidade de agir
espontaneamente está inibida. Ela até pode considerar sua inibição uma espécie de fracasso, ou
até sentir um certo pânico, mas sua iniciativa está tolhida.
A livre associação pode representar uma ameaça para a pessoa que não quer expor traços
de sua personalidade, os quais lhe causam vergonha.
Sempre que um fingimento for desmascarado, a pessoa estará exposta a uma humilhação.
O processo psicanalítico pode então causar aversão à pessoa. Essa aversão tende a ser
transferida para o analista.

A pessoa precisa sempre se lembrar de que o objetivo da análise é o seu crescimento e a


sua felicidade.
O segundo dever do paciente é querer saber o que ele realmente é “por dentro”.
A introspecção possibilita a identificação de algum fator reprimido. Uma pessoa
compulsivamente modesta e benevolente pode, em verdade, sentir ojeriza e desdém pelas outras
pessoas em geral.
Uma pessoa pode nutrir grandes esperanças a respeito de seu futuro e, ao mesmo tempo
ter um pressentimento de que vai sofrer um desastre em breve. Diante de um futuro esperançoso,
a sua preocupação com um desastre iminente pode significar um desejo oculto de morrer.
A introspecção pode ser extremamente dolorosa, mas também pode proporcionar alívio
imediato.
O conhecimento da verdade é sempre libertador.
Uma introspecção revela os verdadeiros sentimentos da pessoa.
Ao experimentar libertação, a pessoa sai de uma inibição paralisante e adquire energia e
dinamismo.
Nem sempre a descoberta é agradável.
Controlar os sentimentos pode gerar muita tensão. A energia empregada para a repressão
passa a estar disponível para desfrutar a vida.
A remoção de uma repressão abre caminho para uma vida mais dinâmica, saudável e feliz.
Quando a repressão é afastada, a pessoa percebe a hostilidade que até então a dominava.
Ela pode então modificar os fatores perturbadores. Uma modéstia compulsiva já não é mais
necessária para sustentar uma falsa segurança.
No processo de introspecção, a primeira reação pode ser de dor. A pessoa pode perceber
a introspecção apenas como uma ameaça e pode também desanimar e perder as esperanças.
Se a pessoa quiser se libertar, ela precisa modificar algo em suas bases.
Acontece que os fatores, que precisam ser modificados, ainda são importantes e vitais
para a pessoa. Mexer nesses fatores dá à pessoa a impressão de que lhe estão surrupiando o
solo de debaixo dos pés. A pessoa sente medo de modificar-se e a introspecção provoca pânico
ao invés de alívio.
Uma pessoa obcecada pelo poder pode abdicar de conforto, de momentos de prazer e de
amigos. Mas procurará preservar o poder de qualquer maneira. A pessoa não quer abrir mão de
sua obsessão. Nesse caso, qualquer modificação provoca medo e até desespero.
Sentindo-se ameaçada, a pessoa desenvolve uma raiva violenta contra o analista.
Uma reação negativa diante de uma introspecção é de duração relativamente curta.
Sobrevém a seguir uma impressão de alívio.
Uma introspecção sempre implica um desafio ao equilíbrio existente. Mesmo que se trate
de um equilíbrio precário, a pessoa procura preservar o que tem.
A pessoa impelida por necessidades compulsivas se comporta de um modo inadequado.
Ela se esforça para obter determinadas metas, mesmo em detrimento de seus desejos mais
legítimos. Seu agir é caracterizado pela inibição, e ela se apresenta vulnerável. Essa pessoa
gasta todas as suas energias para combater temores e hostilidades recalcadas.
“Quanto mais rígido for o sistema neurótico, tanto menor será a tolerância a qualquer
modificação, e quanto mais essa introspecção aproximar-se dos verdadeiros fundamentos da
pessoa, tanto maior será a ansiedade que ela provocará” (Karen Horney, A personalidade
neurótica de nosso tempo).
A resistência decorre da necessidade de preservar uma determinada situação
estabelecida.
O terceiro dever do paciente é modificar o seu interior. Pois são os fatores interiores que
interferem em seu desenvolvimento.
São estas as mudanças que se processam no âmago da personalidade:
– adquirir uma atitude mais realista em relação a si mesmo (deixando de oscilar
entre a auto-glorificação e a auto-degradação);
– conquistar uma mentalidade ativa, afirmativa e corajosa (em lugar de um ânimo
inerte e medroso);
– desenvolver a aptidão para planejar (em vez de deixar-se levar);
– encontrar o centro de gravidade em si mesmo (em vez de viver em função dos
outros – com esperanças e recriminações excessivas);
– aumentar sua cordialidade e compreensão para com as demais pessoas (em vez
de acalentar uma hostilidade defensiva generalizada).
Essas modificações serão acompanhadas por outras externas, como:
– conseguir ou recuperar a capacidade para falar em público;
– ser dinâmico e criativo;
– saber trabalhar em equipe;
– superar fobias;
– vencer tendências para ficar deprimido.
a pessoa consegue discernir uma hostilidade até então reprimida, essa hostilidade pode
até persistir por algum tempo, mas muda a percepção que se tem dela.
A pessoa que se defronta com uma fonte de ansiedade, consegue reduzir suas
necessidades compulsivas.
Quando a pessoa identifica um episódio de humilhação que foi reprimido, ela também
passa a ser mais cordial.
Quando a pessoa consegue olhar de frente o temor diante do fracasso e consegue vencêlo,
ela se torna mais ativa e assume riscos até então evitados.
Em muitos casos, a introspecção e a mudança parecem coincidir.
Mas também há casos em que a pessoa, a despeito de uma introspecção, se opõe a uma
transformação. A pessoa não quer abandonar suas pretensões compulsivas.
Também há casos em que a introspecção e a mudança podem ocorrer de um modo
distante uma da outra.
A pessoa pode apresentar impulsos contraditórios: pode oscilar entre dominar os outros e
ter de condescender com suas expectativas. Nesse caso, a pessoa não precisa decidir entre duas
tendências. Pois, essas duas tendências devem ser analisadas. E na medida em que a pessoa se
reencontra (consigo mesma e com os demais), as tendências se modificarão e até
desaparecerão.
Também pode vir à tona um conflito até então inconsciente entre interesses materiais e
ideais humanitários. Um rígido apego aos ideais pode ocultar um desejo muito forte por dinheiro e
prestígio. Pessoas bem sucedidas no mundo dos negócios podem ser alvos de comentários
carregados de cinismo. O conflito precisa ser entendido e a pessoa tem de optar por uma
posição. A partir da tomada de consciência deve acontecer uma mudança de atitudes.
Os três deveres do paciente estão interligados.
“Sua completa auto-expressão prepara o caminho para uma introspecção e esta produz ou
prepara as modificações: cada etapa influi nas demais” (Karen Horney, A personalidade neurótica
de nosso tempo).
A pessoa que se esquiva à introspecção acaba bloqueando a livre associação. E quem
oferece resistência a uma mudança, também se opõe à introspecção.
A meta a atingir é a mudança.
A introspecção é um caminho para modificar e controlar os sentimentos, anseios e
atitudes.
A pessoa que inicia a terapia esperando uma cura mágica, alimenta na verdade a
expectativa de que todos os seus distúrbios se desvanecerão sem a necessidade de ela se
modificar. Atribui poderes mágicos ao Psicanalista. Quando ela percebe que essa esperança não
é satisfeita, tende a retirar toda confiança depositada.
A pessoa deve investir suas energias para agir de um modo ativo e espontâneo. O
desenvolvimento pessoal é tarefa de cada um. O Psicanalista é somente alguém com
disponibilidade para ajudar.
No processo analítico, a pessoa se defronta com dificuldades e benefícios. É difícil
expressar-se com absoluta franqueza, mas essa sinceridade pode resultar em bênção.
A análise é um recurso para o desenvolvimento pessoal, mas o percurso é difícil. A pessoa
deve dispender um enorme esforço e se submeter a uma disciplina rigorosa. A análise é como a
vida: gratifica, mas também exige. A pessoa se torna mais forte na medida em que os obstáculos
são superados.
A missão do Psicanalista é ajudar o paciente a delinear sua identidade e a reorientar sua
vida.
Esse processo se desenvolve tanto quanto o paciente colaborar.
A atividade do Psicanalista abrange cinco áreas:
– observação,
– compreensão,
– interpretação,
– detectar e superar as resistências,
– solidariedade humana.

O Psicanalista observa estes aspectos na conduta do paciente:


– sociabilidade / frieza,
– cordialidade / timidez,
– espontaneidade / rigidez,
– condescendência / desdém,
– boa-fé / desconfiança,
– sensibilidade / agressividade.
Ao escutar o paciente, o Psicanalista obtém impressões gerais:
– o paciente fala de forma metódica e controlada ou de maneira nervosa e dispersa?
– Ele se atém a generalizações abstratas ou pormenores concretos.
– Ele conversa espontaneamente ou a iniciativa cabe ao Psicanalista?
Cada paciente reage de um modo diferente em relação à análise.
1. O paciente pode considerar a análise interessante, mas acha que não precisa dela;
2. outro a considera uma humilhação;
3. e um terceiro a vê como um privilégio especial e orgulha-se dela.
O interesse do Psicanalista deve abranger toda a personalidade do paciente. Ele não sabe
a priori qual detalhe pode ser mais relevante. Ele não deve escolher algum elemento
prematuramente.
O analista deve identificar e compreender as motivações inconscientes do paciente.
Um ou outro traço de caráter não é reconhecido de imediato.
O paciente deve ser entendido em sua totalidade, com seus erros e acertos. Ele apresenta
uma multidão de forças impulsoras numa única pessoa.
Reunindo pistas, o Psicanalista elabora um esboço provisório do paciente.
Na análise, uma parte do paciente coopera, outra parte espera que o analista faça todo o
trabalho sozinho, e ainda outra parte procura ocultar-se (mostrando-se hostil quando é
descoberta).
Nenhuma observação deve ser considerada sem importância. O analista deve considerar
todo detalhe como potencialmente significativo. Por que determinado sentimento apareceu
justamente nessa hora?
As experiências do paciente seguem muitas vezes um padrão estereotipado.
O analista também deve estar atento para as contradições que o paciente revela. Ele pode
apresentar reações exageradas e desproporcionais a uma provocação ou simples brincadeira. O
analista deve procurar o significado emocional que acompanha a provocação ou gracejo.
O analista também deve observar os sonhos e as fantasias do paciente.
O paciente também pode ter uma mudança de atitude, quando deixa de cooperar e adota
manobras defensivas. O analista deve descobrir os motivos que desencadeiam as resistências.
Se o paciente é crítico e exigente em relação à realidade que o cerca, então por que ele
evita qualquer crítica ao analista?
Se o paciente vivenciou um incidente que o deixou perturbado, por que não conta o
episódio ao analista?
Se um ressentimento contra o analista permanecer oculto e ignorado, a análise fica
inteiramente bloqueada. O paciente não pode se expressar livremente enquanto nutrir um
ressentimento contra a pessoa a quem está abrindo o seu íntimo.
Na análise, o paciente se defronta com os mesmos fatores emocionais existentes nos
relacionamentos humanos. Ele vai se relacionar com o analista assim como se relaciona com as
demais pessoas.
Empregando um raciocínio correto e uma boa dose de intuição, o analista consegue
elaborar uma hipótese experimental.
Ao descobrir uma provável conexão entre fatores inconscientes, o analista poderá
comunicar sua interpretação ao paciente. Mas, procederá assim quando perceber que o paciente
poderá suportar a interpretação e quando estiver em condições de elaborá-la adequadamente.
A Psicanálise é uma atividade de cooperação. Paciente e analista estão empenhados
juntos na elucidação das dificuldades (do primeiro). O paciente deve se expressar de um modo
espontâneo. O analista deve observar, tentar entender e transmitir a interpretação. O espírito de
cooperação é fundamental.
O que impede e bloqueia a recordação de um acontecimento?
É a resistência. Este conceito veio a ser a pedra angular da Psicanálise.
Freud também descobriu que o conflito não se situa só entre recordar e esquecer, mas
também entre forças instintivas e forças repressoras.
O objetivo da Psicanálise é tornar consciente o conteúdo inconsciente; é trazer o conteúdo
rejeitado de volta para a vida consciente.
A análise é um ataque dirigido diretamente contra a estrutura neurótica.
A análise coloca em movimento um jogo de forças no interior da pessoa. Dois grupos
formam um contraste no interior da pessoa. Um grupo quer preservar as ilusões e a segurança
proporcionadas pela estrutura neurótica. Outro grupo quer conquistar a liberdade resultante do
desmantelamento dessa estrutura.
Muitas vezes, a pessoa nem sabe que há resistências atuando em seu íntimo. Ela se sente
improdutiva, inquieta, cansada e desanimada. Em verdade, a resistência é um inimigo invisível,
que nem sequer existe.
O paciente aciona processos defensivos quando suas reivindicações secretas são
reveladas, suas ilusões contestadas, e sua segurança ameaçada. Quanto mais ele quiser
conservar seus desejos e suas ilusões, tanto mais sensível ele se torna.
Qual é a causa das resistências?
É o desejo da pessoa em manter o status quo.
A pessoa não está interessada em preservar a neurose. Ela quer conservar a promessa de
futura segurança e satisfação.
As primeiras resistências aparecem logo que o Psicanalista contesta a validade das
defesas.
As defesas secundárias dizem respeito ao próprio paciente: seus defeitos, sua
irracionalidade.
As resistências ao trabalho analítico podem ser provocadas por acontecimentos exteriores.
Durante a análise, as circunstâncias externas podem estimular as tendências neuróticas.
Nesse caso, as resistências crescem. Foram reforçadas as forças que se opõem a uma
transformação. Uma pessoa que foi injustiçada pode se recusar a buscar na análise a verdadeira
razão por se sentir tão injuriada. Todas as suas energias podem estar concentradas na ideia da
vingança. Também há motivos interiores para as resistências.
Na análise, as emoções do paciente estão muito concentradas na pessoa do analista.
As resistências podem ser agrupadas em três categorias:
1. uma luta declarada contra o problema provocador;
2. reações emocionais defensivas;
3. inibições defensivas ou manobras evasivas.
Uma pessoa pode sentir um desejo compulsivo de independência absoluta, e ao mesmo
tempo sente dificuldades nas relações interpessoais. Nesse caso, qualquer referência às suas
relações humanas pode ser vista como um ataque.
A resistência do paciente pode ser observada mediante este comportamento:
1. ele se recusa a discutir sua timidez, declarando que não liga para as pessoas;
2. desconfia que o analista quer obrigá-lo a adotar seus próprios padrões; ele se
concentra na pessoa do analista; suspeita de estar sendo iludido; desconfia de estar
sendo prejudicado pela análise, e desconfia da competência do analista;
3. supõe que o analista quer forçá-lo a ser sociável;
4. pode-se tornar indiferente ao trabalho analítico: chega atrasado e só fala trivialidades.
O paciente sente que a estrutura por ele construída está sendo ameaçada.
Em vez de resolver seus próprios problemas, o paciente tenta provar que o analista está
errado. Procura frustrar-lhe as iniciativas e puni-lo por ter se intrometido de modo equivocado.
O paciente passa a responsabilizar o analista por todas as dificuldades que surgirem. Com
tanta “injustiça”, ele não pode progredir.
Uma descoberta pode desencadear reações emocionais. A pessoa pode sentir vergonha e
culpa por aquilo que descobre em si própria.
As resistências podem bloquear o início da análise, podem prejudicar a livre associação e
podem impedir a compreensão das descobertas.
A pessoa deve desconfiar quando se sente muito aflita, descontente, fatigada, irritada,
indecisa, apreensiva e relutante. A pessoa também precisa observar se não está sempre
procurando uma desculpa para esclarecer uma situação. Também poderá estar sempre ocupada,
cansada e indisposta. A livre associação pode se tornar improdutiva quando a pessoa resolve
“imaginar” em vez de deixar as ideias fluir livremente. Os pensamentos também podem sair pela
tangente.
A resistência também pode obstruir a compreensão e fazer a pessoa procurar a solução na
direção errada. Um fato é analisado sem levar em conta o contexto.
Uma resistência também atua por meio de inibições ou evasivas. Nesse caso, uma
conclusão real pode ter seu valor diminuído. A pessoa pode se “esquecer” da importância da
descoberta, ou até mesmo procurar uma solução conciliatória qualquer.

Também é objetivo da Psicanálise preencher a lacuna criada pela rejeição. E, por fim,
curar a ferida que divide a personalidade contra si mesma.
Quando o paciente apresenta uma resistência, ele se recusa a cooperar. A resistência é
expressa mediante atrasos, desinteresse na evolução da terapia, abordagem superficial,
sentimento de incompreensão.
A maior parte da iniciativa cabe ao paciente. Quando surge uma resistência, o analista
precisa assumir a direção de um modo inequívoco.
O analista deve identificar a resistência e ajudar o paciente a identificá-la também. Em
seguida, analista e paciente devem descobrir o que está sendo mantido em oculto. É importante
descobrir o ponto de origem da resistência. Uma compreensão das causas de uma resistência
revela os fatores que o paciente quer manter encobertos.
Quando o paciente desenvolve uma resistência, é porque ele procura escapar com o
menor prejuízo possível. Ele recorre então a vários expedientes:
– ele já tem uma explicação de antemão;
– ele deprecia o significado da conclusão;
– ele procura controlar o assunto com sua força de vontade;
– ele pode alegar que a tendência descoberta não possui muito significado para o
momento presente.
É difícil para a pessoa admitir que investiu toda sua energia para lutar contra um fantasma.
A partir da introspecção, ela é confrontada com a necessidade de modificar-se radicalmente.
Nesse momento, o analista deve assumir a direção e mostrar ao paciente como ele está se
esquivando. O analista deve estimular o paciente a observar as consequências que aquela
tendência provoca em sua vida.
Uma resistência também ocorre quando o paciente não quer reconhecer seus impulsos
contraditórios. Ele espera a compaixão dos outros, mas seu orgulho o impede de aceitar qualquer
ajuda. O analista deve identificar essas manobras evasivas e dirigir a terapia para que o paciente
reconheça o conflito existente. Também pode acontecer que o analista tenha que mostrar a
disparidade entre a introspecção e o resultado insignificante, pois o paciente não está mudando.
O analista deve intervir quando o paciente continua hostil, egoísta, injusto e associal, sempre
argumentando que seu comportamento foi provocado pelos outros, considerando as suas
reações justificadas.
Quando as fraquezas do paciente são expostas, seu orgulho atacado e suas ilusões
abaladas, ele se sente invadido por temores e dúvidas inesperadas.
Karen Horney observa “que a maioria dos neuróticos tem um sentimento descomedido de
sua própria importância”.
A atitude de considerar-se superior deriva de uma imagem exagerada do eu.
Quando o paciente se defronta com uma ansiedade, o fato de a mesma ser levada a sério
pelo analista, reduz o terror diante do desconhecido. Com sua compreensão, o analista dá
mostras de que a ansiedade pode ser resolvida.
Quando o paciente está desanimado e propenso a desistir de lutar, o analista deve mostrar
solidariedade humana. Ele deve compreender a atitude do paciente como resultante de um
conflito.

Quando o paciente fundamenta seu orgulho em bases fictícias e estas ficam abaladas, ele
começa a duvidar de si mesmo.
É importante lembrar “que, em todas as neuroses, a auto-confiança sofre sérios danos,
sendo substituída pela ideia de uma superioridade fictícia” (Karen Horney). Mas, o paciente não
consegue estabelecer essa distinção. No seu entender, “o solapamento de suas ideias
exageradas representa a destruição de sua fé em si próprio” (Karen Horney, A personalidade
neurótica de nosso tempo).
O paciente percebe que ele não é tão bom (amável, justo e correto) quanto imaginava. E
não consegue aceitar-se sem essa pretensa glória.
É nesse momento que o paciente necessita de alguém que continue depositando fé nele.
Quando o paciente perdeu a fé em si próprio, o analista deve continuar investindo nele.
O analista deve manifestar uma ajuda humana idêntica à solidariedade que um amigo
dispensa a outro. Talvez seja essa a primeira experiência de compreensão humana que o
paciente vivencia. O paciente poderá se sentir então respeitado e amado como um ser humano
que luta para superar seus problemas.
A confiança que o analista deposita no paciente pode ajudá-lo a recuperar também a fé
nas outras pessoas. O paciente deixa de se ver como um problemático, pois agora se tornou
alguém digno de confiança.
O processo psicanalítico possibilita ao paciente o desenvolvimento de uma espantosa
capacidade de observar a si mesmo.
Dois fatores determinam o ritmo do processo psicanalítico:
– a capacidade de compreensão do analista;
– a receptividade do paciente para aceitar os insights.
Freud alertou os jovens analistas para não ficarem preocupados com sua capacidade para
interpretar as livres associações. A verdadeira dificuldade da análise está na habilidade para lidar
com as resistências do paciente.
Quando uma pessoa apresenta uma resistência, é como se uma parte dela quisesse
esconder algo vergonhoso, enquanto outra parte quisesse progredir.
O analista é um ser humano. Sua presença constitui uma oportunidade para o
desenvolvimento interpessoal do paciente.
O paciente pode até admitir suas dificuldades no relacionamento com as outras pessoas,
mas pode considerá-las como reações justificadas às ofensas que os outros lhe dirigiram.
O paciente também pode cair no extremo oposto, desculpando sempre os outros e só
culpando a si mesmo.
Quando maior a intolerância, mas rígida será a tendência neurótica.
Os traços de caráter do neurótico são perturbadores, e são sempre contrários a seu próprio
interesse. Seus traços de caráter tornam insatisfatórias as relações com as outras pessoas e o
deixam insatisfeito consigo mesmo.
Mas, em relação às outras pessoas, o neurótico quer se vingar ou sobrepujá-las. Com
essas atitudes, ele dificilmente reconhecerá a realidade dos relacionamentos.
Muitos neuróticos sentem um “amor” que, na realidade, é uma necessidade de ser
dependente.
No processo analítico manifestam-se os traços de caráter, podendo ser trabalhados e
reelaborados.
A resistência é a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo inconsciente.
O grande objetivo da resistência é manter a neurose, pois a revelação provoca um malestar.
O paciente opta pelo desprazer de manutenção do recalque.
Tipos de resistências:
– Resistência consciente. É a retenção intencional de informações por parte do paciente, que
sente vergonha em relação ao ocorrido, e tem receio de ser rejeitado pelo analista.
– Resistência inconsciente. O inconsciente adota atitudes defensivas sem que o paciente
perceba. Aparecem os Atos Falhos, a própria transferência, o paciente se torna prolixo, ou
exageradamente silencioso, ou criticando todos os comentários do analista, ou concordando
com tudo.
Como as resistências devem ser enfrentadas?
O primeiro requisito é reconhecer que existe uma resistência.
As pessoas não estão muito interessadas em perceber as suas resistências. Por isso, a
maioria delas pode passar despercebida.
Precisamos dar atenção aos pontos cegos e à tendência de subestimar os sentimentos. É
necessário perceber a profundidade de um ressentimento. E os pontos cegos se elucidarão no
devido tempo.
Se a análise emperra e a pessoa começa a andar em círculo, certamente está se
deparando com uma resistência. Quando as conclusões são exageradamente favoráveis ou
desfavoráveis – por repetidas vezes -, então alguma resistência está presente. Um desânimo é
muitas vezes uma reação contra a análise.
Quando há um bloqueio no processo analítico, então a resistência é o problema mais
urgente a ser atacado. É inútil tentar prosseguir atacando frontalmente uma resistência.
A pessoa deve “associar com a resistência”. Se a pessoa ficou desanimada com uma
descoberta, então ela ainda não está disposta a uma transformação.
Uma tendência neurótica faz com que a pessoa – que se sinta injustiçada por algum
indivíduo ou pela vida em geral – considerará legítima uma reação de mágoa ou ressentimento. É
necessário ter lucidez para distinguir entre uma ofensa real e imaginária. Sempre é mais fácil
“lutar por seu direito” do que examinar o ponto vulnerável em que se foi atingido.
Uma mulher pode estar insatisfeita com seu casamento (por motivos dos quais não se dá
conta) e pode se aproveitar de um erro do marido como pretexto para dar vazão a tudo que está
recalcado, desencadeando uma campanha retaliatória inconsciente. Ela não alcançará progresso
algum enquanto insistir em seu direito de estar ofendida e zangada.
É muito desagradável se deparar com obstáculos erigidos por nós mesmos. É óbvio que
nós queremos progredir e caminhar em direção a um objetivo, que é a nossa realização pessoal.
A pessoa não deve se afligir por causa de suas resistências. Ela não é culpada das forças
que se ocultam por detrás dessas resistências. Afinal, as resistências tentaram proteger as
tendências neuróticas. E estas proporcionaram à pessoa um meio de enfrentar a vida quando
todos os outros recursos falharam.
As resistências são apenas parte do problema. A pessoa deve respeitá-las como parte de
si mesma. Deve admiti-las como um recurso de sobrevivências.
Mas, o recurso que um dia foi a melhor “solução” encontrada, não precisa ser utilizado
daqui para diante. Na medida em que a pessoa adquire maior consciência de suas emoções, ela
descobre que determinadas reações foram específicas para uma determinada situação. Em vista
de novas situações, novas respostas precisam ser formuladas.
A transferência, o insight e a interpretação.
Transferência – o paciente identifica o terapeuta com uma pessoa que era significante no
passado (geralmente um dos pais). Antigos relacionamentos passam a influir em interações
atuais. O paciente pode relacionar-se com o terapeuta do mesmo modo como se relacionava com
um dos pais na infância. Muitas vezes isto acontece porque o paciente tem sentimentos
conflitantes não resolvidos com os pais.
A transferência é considerada um falso enlace. Mas ela não deve ser vista como uma
fraqueza de caráter, e sim como algo inevitável. O Par Analítico deve estabelecer uma Aliança
Terapêutica. E mesmo assim, a linha divisória entre a Aliança Terapêutica e a transferência é
muito tênue.
O insight acontece no momento em que, na livre associação, o paciente vê iluminar-se em
seu interior o fato ou trauma causador de sua ansiedade.
A interpretação é o processo em que o trauma causador é revivido, analisado, sendo então
elaborada a sua re-significação.
É mediante a transferência que o passado deve vir ao presente. Em lugar da repetição
interminável da sombra descortina-se um futuro novo.
Freud colocou os conceitos de transferência e contratransferência no centro do processo
psicanalítico.
A contratransferência.
São sentimentos, atitudes e fantasias que o psicanalista experimenta. Ela provém das
próprias necessidades e conflitos psíquicos do psicanalista. É o resultado de suas carências
pessoais.
A contratransferência é “uma resposta emocional do Psicanalista aos estímulos que
provêm do paciente, como resultado da influência do analisado sobre os sentimentos
inconscientes do profissional” (Etchegoyen).
A importância da auto estima.
A auto-estima é a saúde da mente.
A pessoa deve criar dentro de si a estabilidade, pois esta não é encontrada no mundo
exterior.

Quatro questões são fundamentais:


1. O que é auto-estima?
2. Qual é a importância da auto-estima?
3. Como uma pessoa pode aumentar o nível de sua auto-estima?
4. Como as outras pessoas participam na moldagem da auto-estima da pessoa?
Deparamo-nos com a auto-estima essencial e a auto-estima fundamental.
A auto-estima essencial começa a se desenvolver quando a pessoa ainda é bebê. A
criança deve se sentir amada e protegida. Ela vai descobrir o seu valor dentro do mundo a sua
volta.
A auto-estima fundamental é o desenvolvimento que acontece na medida em que a
pessoa se sente segura e capaz. A pessoa deve se sentir capaz de realizar seus desejos e suas
tarefas, vivenciando então um desenvolvimento de sua auto-estima.
O sentimento de ser pessoa de valor é essencial para a saúde psíquica e espiritual.
A auto-estima é formada por fatores internos e externos.
Os fatores internos são gerados pelo indivíduo e residem dentro dele. São ideias, crenças,
hábitos e comportamentos.
Os fatores externos são os fatores do contexto do indivíduo. São mensagens verbais ou
não verbais, experiências elaboradas e transmitidas pelos pais, pelos professores, por pessoas
significativas e pela cultura.
A pesquisa da auto-estima vem se evidenciando como o tema mais importante dentro da
Psicologia. Poucos temas têm se mostrado tão necessários quanto este, sobretudo na
adolescência, quando uma autonomia emergente entra em colisão com as pressões que
requerem uma adaptação. É o período em que o adolescente luta para conservar a capacidade
para ver o mundo através de seus próprios olhos. Muitos ideais são então elaborados.
A pesquisa em torno da auto-estima fornece importantes pistas para a compreensão da
motivação. Muitas pessoas trazem consigo uma sensação de inadequação, de culpa, de
vergonha. Consideram-se inferiores, pois ainda não alcançaram o suficiente. Isso denota na
pessoa uma clara ausência de auto-aceitação, de auto-confiança e de amor por si mesma.
Expressões de uma auto-estima inadequada são um sentimento de desvalorização,
passividade exagerada, sentimento de inutilidade.
Também podem ser apontadas as defesas contra a auto-estima inadequada: vangloriar-se
a respeito de suas realizações, exibir um desempenho sexual compulsivo, ou adotar um
comportamento social supercontrolador.
Os mecanismos de defesa do ego constituem-se na verdade mecanismos de defesa da
auto-estima. Essas defesas “identificadas por Freud podem ser entendidas como esforços para
proteger a auto-estima” (Branden, Auto-estima e os seus seis pilares, p. 13).
A auto-estima vem a ser uma intensa necessidade do ser humano. Ela é essencial para
uma adaptação saudável. “Se essa necessidade é frustrada, sofremos, e nosso desenvolvimento
fica comprometido” (Branden, p. 13).
Pode-se afirmar que todos os problemas psicológicos estão relacionados com o problema
de uma auto-estima deficiente. A ansiedade, a depressão, o baixo desempenho escolar ou
profissional, medo da intimidade, desconfiança da felicidade e do sucesso, abuso de álcool e
drogas, distúrbios sexuais, molestamento de crianças, violência contra a mulher, ausência crônica
de objetivos, suicídio e criminalidade são problemas vinculados a uma auto-estima prejudicada.
Carl Rogers focalizou a auto-aceitação. Trata-se de um único aspecto da auto-estima. A
auto-aceitação e a auto-estima estão intimamente relacionadas, mas possuem significado
diferente.
O sucesso ou o fracasso escolar passaram a ser examinados a partir da auto-estima do
educando.
Sistemas políticos totalitários, como o da ex-União Soviética, têm gerado cidadãos com
problemas de passividade e de inveja. As lideranças deparam-se agora com a urgência de uma
educação baseada na atenção da auto-estima.
Somente com uma auto-estima saudável o ser humano pode realizar o seu potencial. Viver
conscientemente é essencial para auto-estima saudável. Também a integridade pessoal protege
um auto-conceito positivo.
As outras pessoas podem ferir os sentimentos de valor de um indivíduo, mas ele também
pode se ferir a si mesmo.
O empenho por uma auto-estima saudável se depara com o perigo da simplificação:
esperar soluções rápidas e fáceis. Existe também o perigo do fatalismo ou determinismo: o
destino da pessoa está traçado a partir de uma auto-estima elaborada nos primeiros anos de
vida.
“Minha experiência é que a maioria das pessoas subestima seu poder de mudar e crescer”
(Branden, p. 16).
As pessoas precisam ter disposição para assumir a responsabilidade pela própria vida. As
pessoas motivadas a participar ativamente do processo de sua evolução deparam-se com um
chamado para a ação.
“A auto-estima, quando plenamente realizada, é a vivência de que somos adequados para
a vida e suas exigências” (Branden, p. 22).
Auto-estima equivale à confiança na capacidade de pensar e na habilidade para resolver
os desafios existenciais. A auto-estima possibilita à pessoa a confiança de que tem o direito de
vencer na vida. Também proporciona a convicção de que tem o direito de ser feliz. A pessoa sabe
que tem valor. Consciente de suas necessidades, a pessoa pode alcançar suas metas e ver os
frutos de seus esforços.
A essência da auto-estima é confiar nas próprias ideias e ter consciência de que merece
ser feliz. É um fato motivacional, que inspira o comportamento.
“Há um contínuo fluxo de efeitos recíprocos entre nossas ações no mundo e a nossa autoestima.
O nível de nossa auto-estima influencia nossos atos, e a maneira como agimos influencia
o nível de nossa auto-estima” (Branden, p. 22).
As pessoas enfrentam julgamentos na vida. E o julgamento mais importante é aquele que a
pessoa tem de si mesma.
A pessoa com auto-estima elevada, tende a persistir diante das dificuldades. Com
perseverança, a pessoa tem mais probabilidades de sucessos do que de fracassos. Sem
perseverança, o fracasso pode ocorrer com mais frequência do que o sucesso. Com persistência,
a pessoa reforça a visão que ela tem de si mesma.
A pessoa que se respeita e requer que as outras pessoas a respeitem, desenvolve um
ambiente que favorece uma reação adequada de seus semelhantes. A reação positiva das outras
pessoas reforça e confirma a auto-estima saudável. De um modo inconsciente a pessoa está
transmitindo a avaliação que ela faz de si mesma. E as outras pessoas irão tratá-la segundo essa
avaliação.
A auto-estima elevada faz a pessoa se sentir melhor e também viver melhor.
A auto-estima saudável está correlacionada com vários traços de personalidade. A
correlação acontece com racionalidade, realismo, intuição, criatividade, independência,
flexibilidade, habilidade para lidar com mudanças, disponibilidade para admitir (e corrigir) erros,
benevolência e cooperação.
“A auto-estima elevada busca o desafio e o estímulo de metas exigentes e valiosas”
(Branden, p. 24).
A pessoa com auto-estima elevada se comunica de modo aberto, honesto e adequado.
“O fato é que o semelhante atrai o semelhante e o saudável é atraído pelo saudável”
(Branden, p. 25).
“Indivíduos com elevada auto-estima tendem a ser atraídos por indivíduos com elevada
auto-estima” (Branden, p. 25).
“Indivíduos com auto-estima mediana são tipicamente atraídos por indivíduos com autoestima
mediana. A baixa auto-estima busca a baixa auto-estima nos outros – não de maneira
consciente, é claro, mas pela lógica de que isso nos faz sentir que encontramos nossa “alma
gêmea”. Os relacionamentos mais desastrosos são aqueles entre pessoas que não se valorizam;
a união de dois abismos não produz um cume” (Branden, p. 26).
A pessoa com auto-estima saudável não percebe as outras como uma ameaça, podendo
tratá-las com respeito, benevolência, boa vontade e senso de justiça. O auto-respeito torna-se a
base do respeito pela outra pessoa.
A pessoa com senso de autonomia e valor pessoal bem desenvolvido sabe e consegue se
expressar com bondade, generosidade, cooperação social e espírito de auxílio mútuo.
A pessoa com auto-estima elevada se encontra diante das melhores perspectivas de
felicidade pessoal.
A maior barreira para a felicidade afetiva é o medo de não merecer o amor. Neste caso, a
pessoa considera-se destinada ao sofrimento. A pessoa que se sente capaz de ser amada,
poderá também apreciar e amar as outras pessoas. Num relacionamento amoroso em que a
benevolência e a atenção à outra pessoa são naturais, a felicidade não provoca ansiedade.
“Confiar em minha competência e em meu valor, e na capacidade do outro para reconhecê-los e
apreciá-los, também dá origem a profecias que terminam por se realizar” (Branden, p. 27).
Pessoas que não desenvolveram o auto-respeito e o prazer pelo que são, veem as outras
pessoas como fontes de aprovação ou desaprovação. As outras pessoas não são vistas pelo que
são ou têm o direito de ser, mas pelo que podem fazer ou deixar de fazer pelo indivíduo em sua
pobreza emocional. Não serão procuradas pessoas admiráveis e com um empolgante projeto de
vida. Mas, serão procuradas pessoas que não o condenem.
A pessoa que não se sente capaz de ser amada, dificilmente acreditará que alguém a ame.
E se alguém insistir em amá-la, a pessoa “sabe” que não merece ser amada e inconscientemente
passa a sabotar esse amor.
A pessoa que “sabe” o que lhe cabe na vida, comporta-se para que a realidade se ajuste
ao se “conhecimento”.
Uma pessoa com baixa auto-estima pode até concluir que a outra pessoa, que a ama,
certamente não está à altura dela. Quando a relação acaba, a pessoa constata que nunca se
sentiu capaz de ser amada, o que agora foi comprovado.
Muitas pessoas precisam escolher entre estarem “certas” e aproveitarem a oportunidade
para ser feliz. Elas escolhem permanecer com sua “certeza”.
Pessoas que “sabem” que não estão destinadas a ser felizes, podem até experimentar um
momento de felicidade. Mas, a alegria acaba mobilizando a ansiedade. Para serem coerentes
com o que elas “sabem”, essas pessoas encontram uma maneira de reduzir a ansiedade:
reduzem a alegria. A pessoa que “sabe” que seu destino é ser infeliz, não permite que a realidade
venha se confundir com a felicidade. Em se tratando de um relacionamento amoroso, este nem
precisa ser destruído, mas é mantido de maneira que a pessoa não seja feliz.
A “felicidade ansiosa” pode “ativar vozes internas” que afirmam que a pessoa não merece
ser feliz, ou que a felicidade não vai durar. A pessoa deve se exercitar para conseguir passar um
dia sem sabotar sua felicidade. Ela deve aprender a se comprometer com a felicidade. “Essa
perseverança consolida a auto-estima” (Branden, p. 31). Essas “vozes destrutivas” devem ser
confrontadas, desafiadas e refutadas.
“A seguir, consideremos exemplos de comportamentos no ambiente de trabalho inspirados
por uma baixa auto-estima:
Um homem ganha uma promoção na empresa em que trabalha e é tomado pelo pânico
diante da possibilidade de não ser capaz de superar os novos desafios e as novas
responsabilidades: ‘Sou um impostor! Não faço parte deste lugar!’, diz ele a si mesmo Sentindose
de antemão perdido, não está motivado para dar o melhor de si. Inconscientemente, ele
começa um processo de auto-sabotagem: chega despreparado para as reuniões, é ríspido com
seus auxiliares num momento e em seguida é conciliador e solícito, é brincalhão nas horas
impróprias, ignorando os sinais de insatisfação de seu superior. Como se prevê, é despedido. ‘Eu
sabia que era bom demais para ser verdade’, diz a si mesmo” (Branden. P. 31).
A pessoa que continua no controle é poupada da ansiedade de esperar que os fatos
destrutivos lhe sobrevenham a partir do desconhecido.
A inveja destrutiva resulta de um auto-conceito pobre.
A necessidade de perceber as outras pessoas como inferiores é um sinal de auto-estima
baixa.
“Pessoas brilhantes com baixa auto-estima agem contra os próprios interesses todos os
dias” (Branden, p. 33).
“Quando somos movidos primordialmente pelo medo, mais cedo ou mais tarde acabamos
precipitando a própria calamidade que tanto tememos. Se tememos a condenação, comportamonos
de maneiras que, no final, irão trazer a desaprovação. Se tememos a raiva, acabamos por
deixar as pessoas furiosas” (Branden, p. 33-34).

As pessoas que duvidam de suas ideias desvalorizam o resultado delas. Pessoas que
temem a auto-afirmação intelectual acabam sufocando sua inteligência. Pessoas que têm pavor
de ser visíveis depois sofrem porque ninguém as vê.
Auto-estima baixa também resulta em falta de generosidade.
Profecias auto-realizadoras.
A auto-estima cria expectativas a respeito do que é possível para a pessoa. As
expectativas geram ações que se tornam realidade. E os acontecimentos confirmam as
expectativas.
“Essas expectativas existem na mente como visões sub ou semiconscientes de nosso
futuro” (Branden, p. 35).
As conquistas futuras baseiam-se, em boa parte, no que a pessoa pensa que é possível e
apropriado para ela.
O comportamento de uma pessoa só pode ser entendido quando se entende o autoconceito
que ela tem.
“As pessoas com auto-estima baixa sentem pavor e desorientação quando a vida vai bem
e entra em conflito com as opiniões mais profundas que têm de si mesmas e do que lhes é
apropriado” (Branden, p. 37-38).
Sofrem então de uma felicidade ansiosa. É a ansiedade diante do sucesso.
“É a baixa auto-estima que nos torna adversários diante de nosso próprio bem-estar”
(Branden, p. 38).
A auto-estima é uma necessidade básica. Ela é tão necessária quanto o cálcio; sua falta
não provoca diretamente a morte, mas prejudica o desenvolvimento da pessoa. Quando a autoestima
é inadequada, ocorre a má escolha de um companheiro, uma carreira profissional
frustrante, aspirações sabotadas, ideias que morrem antes de nascer, incapacidade para
desfrutar o sucesso, depressão, baixa imunidade, carência afetiva, ansiedade, alcoolismo e
dependência de drogas.
“Quando a auto-estima é baixa, diminui nossa resistência frente às adversidades da vida”
(Branden, p. 39).
Em vez de experimentar o prazer, concentramos a nossa energia no objetivo de evitar a
dor.
Uma auto-estima positiva se constitui no sistema imunológico da consciência. Ela provê
resistência, e capacidade de regeneração.
“As pessoas com auto-estima elevada certamente podem ser derrubadas por um excesso
de problemas, mas são rápidas em superar-se” (Branden, p. 40).
A auto-estima não torna a pessoa impermeável ao sofrimento, mas ela proporciona uma
resistente flexibilidade. Um homem inseguro tende a se sentir ainda mais inseguro diante de uma
mulher autoconfiante.
Pessoas com baixa auto-estima costumam ficar irritadas na presença de pessoas
entusiasmadas com a vida.
Quando as pessoas alcançam sucesso, elas correm o risco de se tornar um alvo de inveja
e sabotagem.
A auto-estima fraca sabota as conquistas e também a capacidade de sentir-se satisfeito.
“Quando temos uma auto-estima isenta de conflitos, somos movidos pelo prazer, não pelo
medo” (Branden, p. 42).
A pessoa que sempre precisa provar que ela é capaz, entrou numa batalha que já está
perdida desde o início.
A pessoa precisa se empenhar para alcançar um ego maduro e saudável.
A auto-estima é importante, mas seu valor não deve ser exagerado.
O indivíduo necessita de um senso agradável de valor próprio. Existem circunstâncias
exteriores e também fatores internos (inteligência, motivação e nível de energia). A auto-estima
interage com outras forças da personalidade e por isso ela não pode ser rastreada isoladamente.
As transições rápidas da sociedade contemporânea impõem novas exigências aos nossos
recursos psicológicos.
Uma empresa moderna necessita de funcionários com uma auto-estima saudável.
Constatamos que o tema da auto-imagem transcende o âmbito da psicologia para se tornar
também um assunto pertinente à economia.
Somos mais livres do que as gerações anteriores. Podemos escolher nosso próprio estilo
de vida. Mas, isto também significa que só podemos contar com os nossos próprios recursos.
Necessitamos de mais autonomia pessoa.
“Precisamos saber quem somos e nos centrarmos em nós mesmos” (Branden, p. 46).
Na medida em que aumentam as nossas escolhas e decisões, aumenta também a
necessidade de uma auto-estima saudável.
Encontramo-nos na “era da escolha consciente” (T. George Harris). E nós não fomos
preparados para um mundo com tantas escolhas. Nossos pais e nossos professores não nos
prepararam para tantos desafios.
“Auto-eficiência significa confiança no meu funcionamento mental, em minha capacidade
para pensar, compreender, aprender, escolher e tomar decisões; é a confiança em minha
capacidade para entender os fatos da realidade que pertencem à esfera dos meus interesses e
necessidades, auto-confiança e segurança pessoal.
Auto-respeito significa a certeza de que tenho valor como pessoa; é uma atitude de
afirmação de meu direito de viver e de ser feliz; é sentir-me confortável ao expressar de maneira
apropriada minhas idéias, vontades e necessidades; é a sensação de que o prazer e a satisfação
são meus direitos naturais” (Branden, p. 49).
A auto-eficiência é o senso básico de confiança diante dos desafios da vida.
O auto-respeito é o senso de merecer a felicidade.
Se uma pessoa não tem confiança em suas próprias ideias e se sente inadequada para
enfrentar os desafios da vida, então sua auto-estima é deficiente. Se a pessoa não se sente
merecedora de amor e de respeito da parte dos outros, se ela tem medo de expor suas ideias e
acha que não tem direito à felicidade, então ela também se depara com uma auto-estima
deficiente.
“Auto-eficiência e auto-respeito são os dois pilares da auto-estima saudável; se um deles
estiver ausente, a auto-estima está comprometida” (Branden, p. 50).
Auto-eficiência e auto-respeito são fundamentais e essenciais.
A pessoa que vivencia a própria eficiência desenvolve o senso de controle sobre a própria
existência. Sentir-se no centro da própria existência significa bem-estar psicológico.
O respeito por si mesmo possibilita a vivência do companheirismo. O indivíduo vivencia
uma comunhão benéfica e não neurótica com outras pessoas.
Quando os acontecimentos dependem de nossos próprios esforços, então torna-se
importante a confiança em nossa eficiência básica.
“Auto-eficiência não é a convicção de que nunca vamos cometer erros. Mas, sim, a
convicção de que somos capazes de pensar, julgar, conhecer – e corrigir nossos erros. É a
confiança em nosso processo e em nossa capacidade mentais” (Branden, p. 58).
Auto-eficiência é a confiança em nossa capacidade de pensar. É a confiança de que
temos condições para adquirir conhecimentos e atingir nossas metas.
Auto-eficiência é confiança de que nossos esforços sejam bem sucedidos.
“Dentro de cada pessoa haverá inevitáveis flutuações nos níveis de sua auto-estima, assim
como há flutuações em todos os estados psicológicos. Temos que pensar em termos da autoestima
média de um indivíduo” (Branden, p. 50).
“Vou resumir numa definição formal: auto-estima é a disposição para experimentar a si
mesmo como alguém competente para lidar com os desafios básicos da vida e ser merecedor da
felicidade” (Branden, p. 50).
A competência está presente no nosso relacionamento básico com a realidade. Ela faz
parte da dinâmica da natureza. Em todas as sociedades os membros enfrentam desafios para
satisfazer as próprias necessidades.
Nós só podemos atingir um alvo que podemos ver.
À medida em que o nosso conhecimento aumenta, nós conseguimos formular definições
mais precisas.
Uma pessoa com auto-estima elevada sente-se confiantemente apropriada à vida. A
pessoa percebe que é competente e digna.
A pessoa com auto-estima média tende a flutuar entre sentir-se apropriada e inapropriada,
entre certa e errada. Essas inconsistências são manifestadas no comportamento, que oscila entre
atitudes sensatas e tolas.
Para sobreviver e dominar o seu ambiente, a espécie humana depende do uso apropriado
de sua consciência. O bem-estar das pessoas depende de sua capacidade de pensar.
O uso correto da consciência não é automático. Não se trata de uma programação
fornecida pela natureza, mas de uma responsabilidade pessoal.
A essência do ser humano é sua capacidade de raciocinar. A vida humana depende da
capacidade de compreender os relacionamentos. A mente humana abrange o inconsciente, o
intuitivo, o simbólico, os processos verbais e a consciência imediata. É por intermédio da mente
que a pessoa percebe e apreende o mundo.
É necessário pensar para desfrutar uma vida bem-sucedida. Mas, o ser humano não está
programado para pensar automaticamente. Os órgãos e os sistemas do corpo humano funcionam
de forma automática. Mas a mente funciona com a intervenção da pessoa.
Diante de um fato novo, a consciência pode se retrair. O ser humano está diante da
responsabilidade de aumentar ou diminuir o alcance de sua consciência.
O ser humano é capaz de formular valores. Uma vez elaborados os valores, o ser humano
também pode ser voltar para o oposto.
As nossas escolhas são muito importantes para a vida e a auto-estima. Um exemplo é a
nossa relação com a realidade: podemos respeita-la ou evita-la.
A auto-estima está relacionada com a consciência e com a responsabilidade da escolha
moral.
“O nível de auto-estima não é estabelecido definitivamente na infância. Pode aumentar à
medida que amadurecemos, ou pode deteriorar” (Branden, p. 57).
Diante de uma decisão moral, um desafio, uma ação, a nossa auto-estima é afetada (para
o bem ou para o mal).
“Nossa necessidade de auto-estima é a necessidade de saber que estamos funcionando
de acordo com o que nossa vida e nosso bem-estar exigem” (Branden, p. 58).
1º pilar – Viver conscientemente.
Quanto mais consciência tivermos daquilo que pensamos e fazemos, melhor nossa vida
funcionará. Devemos nos tornar conscientes dos nossos erros e corrigi-los. Devemos defender
nossos pontos de vista, princípios e valores de forma consciente. Existe a tentação de fugir dos
fatos desagradáveis; precisamos estar conscientes para que a nossa vida não seja controlada
pelos mesmos. Devemos expandir nosso conhecimento; aprender deve ser um estilo de vida. A
auto-análise é uma necessidade para uma existência realizada.
2º pilar – Auto-aceitação.
Devemos nos aceitar nas fases boas e também nas ruins. Devemos aceitar a realidade dos
nossos pensamentos, sentimentos e emoções, mesmo quando os rejeitamos depois. Nossa vida
não precisa ser controlada por eles.
Devemos aceitar como realidade aquilo que fizemos, mesmo quando nos arrependemos.
Não devemos negar o nosso comportamento. Os nossos pensamentos e as nossas atitudes são
expressões de nós mesmos. Podemos não aprovar um pensamento, mas não devemos fingir que
não seja nosso. Aceitamos a realidade dos nossos problemas, mas eles não constituem a
essência do nosso ser. Nós somos mais do que o medo, a dor e uma desorientação
momentânea. “Se não executarmos as nossas atividades com um grau de consciência adequado,
se não vivermos conscientemente, a penalidade inevitável é um senso de auto-respeito e de autoeficiência
diminuído. Não podemos nos sentir competentes e valorosos enquanto nossa vida for
conduzida em meio a um nevoeiro mental. A mente é nosso instrumento básico de sobrevivência.
Se é traída, a auto-estima sofre. A traição na sua forma mais simples é evadir-se dos fatos
desconcertantes” (Branden, p. 97). Prosseguindo esse raciocínio, Branden observa: Auto-estima
é a reputação que adquirimos diante de nós mesmos (p. 98).
3º pilar: Auto-responsabilidade.
Cada um de nós é responsável por sua existência. Somos responsáveis por nossos
desejos, escolhas, atitudes e realizações. Somos responsáveis pelos nossos relacionamentos
com familiares, amigos e colegas. Somos responsáveis pelas nossas escolhas e pela maneira
como priorizamos o tempo. Podemos ser ajudados pelas pessoas, mas ninguém pode assumir a
responsabilidade fundamental pela nossa vida. Quem tem liberdade, também deve exercer a
responsabilidade. “O sentimento do próprio valor é a pedra fundamental da autodisciplina: quem
se considera pessoa de valor, comporta-se dignamente em todas as ocasiões. A autodisciplina é
a capacidade de se comportar dignamente” (Peck, p. 14).
4º pilar: Auto-afirmação.
Todas as pessoas têm o direito de expressar seus pensamentos, convicções e
sentimentos. Temos o direito de nos expressar de forma apropriada e no devido contexto. Temos
o direito de discordar – até mesmo da maioria – e defender nossas convicções. As demais
pessoas podem saber quem somos e o que pensamos.
5º pilar: Viver intencionalmente.
Somente eu posso escolher os meus objetivos. Somente eu posso decidir a respeito do
que me faz feliz. “Ninguém pode me obrigar a ser feliz à sua maneira”, declarou o filósofo Kant.
Devo desenvolver uma disciplina para alcançar os meus propósitos.
6º pilar: Integridade pessoal.
As minhas atitudes devem ser coerentes com o que eu falo. Devo cumprir minhas
promessas. Devo honrar meus compromissos.
Devo exercitar a compaixão e a solidariedade em relação aos demais seres humanos.
Devo elaborar para mim princípios de conduta.
7º pilar: Amor.
“A meu ver, todas as doenças estão, em última análise, relacionadas com uma falta de
afeição, ou então com um amor apenas condicional, já que a exaustão e a depressão do sistema
imunológico assim provocadas conduzem à vulnerabilidade física. Acho que a cura está sempre
relacionada à capacidade de dar e aceitar amor incondicional” (Siegel, Amor, Medicina e
Milagres).
“Estou convencido de que o único inferno que existe é a incapacidade de amar”
(Dostoievski).
Quando as pessoas se aceitam como seres amáveis, elas conseguem mobilizar uma força
interior.
“Estou convencido de que o amor incondicional representa o mais poderoso estimulante do
sistema imunológico. Se eu pedisse aos doentes que elevassem seus níveis de imunoglobulina
ou de células T, ninguém saberia o que fazer. Mas, se puder orientá-los para que amem a si
mesmos e aos outros de forma plena, aquelas alterações ocorrem de modo automático. A
verdade é que o amor cura” (B. Siegel).

“As pesquisas vão aperfeiçoando a medicina e acredito que um dia chegaremos a


compreender a ação fisiológica e psíquica do amor o suficiente para aproveitar melhor sua força”
(B. Siegel).
As companhias de seguros dos EUA constataram que os acidentes de automóveis
diminuem quando a esposa se despede do marido com um beijo. E o casal vive mais.
“Não há dificuldade que o amor não vença; doença que o amor não cure; porta que o amor
não abra; obstáculo que o amor não transponha; muralha que o amor não derrube; pecado que o
amor não redima” (B. Siegel).
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).
O psiquiatra Aaron T. Beck é o criador da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). Beck
teve também formação de psicanalista.
Do modo como nós conhecemos o mundo, nós também respondemos a ele. Precisamos
então observar a nossa cognição da realidade. Se o nosso conhecimento for negativo, nossos
pensamentos, sentimentos e atitudes tendem a ser negativos.
As percepções e avaliações negativas precisam ser reformuladas. Não se trata de cultivar
um pensamento positivo, mas de desenvolver uma relação mais adequada e verdadeira com a
realidade.
A pessoa deprimida distorce a sua percepção da realidade. Torna-se necessário confrontála
com a Terapia Cognitiva.
“Se nós vemos as coisas de forma negativa, muito provavelmente nos sentiremos de forma
negativa e nos comportaremos igualmente de forma negativa” (Aaron T. Beck).
A TCC constata que algumas pessoas são mais suscetíveis a adversidades do que outras.
A maioria das pessoas que vivenciam perdas não fica deprimida.
Deve haver um fundamento genético que explique a disposição de algumas pessoas para
enfrentar riscos, enquanto que outras se amedrontam.
A terapia cognitiva da depressão tem como ponto de partida a afirmação de Epíteto: “O
que perturba os homens não são as coisas que acontecem, mas sim a opinião que eles têm
delas”.
A TCC constata que um conjunto de ideias e atitudes negativas caracteriza a depressão.
Essas ideias e atitudes são o produto de um raciocínio falso e, por isso, são “cognitivas”. É
necessário mudar o raciocínio falso.
Aaron Beck constatou que diversos problemas emocionais estão ligados ao pensamento
negativo referente a três áreas: o mundo, nós mesmos e o nosso futuro.
É possível que experiências de inadequação na infância tenham originado esses padrões
de pensamento, estando agora arraigados na mente.
A força terapêutica da TCC consiste na formulação de pensamentos e comportamentos
positivos e adequados a serem repetidos com o potencial de mudar a cognição falha.
Aaron Beck afirma que o humor deprimido resulta do pensamento deprimido. A terapia
deve corrigir a lógica inerente aos pensamentos e ações falhas. E o humor melhorará.
Os padrões típicos de raciocínio negativo tornam-se “pensamentos automáticos”,
determinando o ponto de vista dos depressivos.
O trabalho da terapia consiste em ajudar o paciente a se tornar consciente da negatividade
de seus pensamentos.
A TCC classificou o raciocínio falho nas seguintes categorias:
Inferência arbitrária.
Um acontecimento é interpretado de modo negativo sem levar em conta outras
explicações. As inferências negativas resultam de uma auto-estima baixa. Forma-se um círculo
vicioso e, por sua vez, a auto-estima baixa também resulta das inferências arbitrárias.
Abstração seletiva.
Um acontecimento é retirado do se contexto. A pessoa contabiliza um prejuízo sem levar
em conta um grande número de benefícios. É uma concepção narcísica do mundo. Trata-se de
um raciocínio esquizoparanóide (um pensamento ruim não é atenuado por alternativas positivas).
Generalização.
Uma experiência negativa passa a ser paradigma para todas as demais. A mente sadia
estabelece um equilíbrio entre experiências negativas e positivas, concentrando-se na assimetria.
É a operação da mente consciente e lógica. A pessoa deprimida está dominada pela
simetrização. Sua generalização obscurece as diferenças.
Personificação.
As experiências adversas são interpretadas como uma falha pessoal. Fica evidente que o
depressivo é perseguido por muitos sentimentos de culpa. É um raciocínio da mentalidade
egocêntrica (característica da posição esquizoparanóide).
Minimização e maximização.
As vivências negativas são avaliadas com proposições exageradas. Os momentos felizes e
os sucessos são menosprezados.
Raciocínio dicotômico.
Um único erro é ampliado à dimensão de um fracasso pessoal. Observa-se aí o aspecto
perfeccionista da depressão. Sentimentos de impotência são confrontados com a necessidade
obsessiva de ter o controle de tudo. O raciocínio dicotômico representa uma falha na
assimitrização.
A TCC estabelece uma hierarquia para as estruturas mentais: expectativas,
pressuposições, regras e esquema mental.
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)
para a depressão.
O paciente deve elaborar um diário para registrar as variações de humor. A pessoa
deprimida aprende a desenvolver a objetividade diante do próprio humor.
Identificação de “pensamentos automáticos”. O ego se fortalece contra a raiva, a inveja, a
destrutividade e a impotência.
Uso de uma escala com porcentagens para “pensamentos automáticos” negativos. À
medida que a terapia avança, as porcentagens diminuem. Se no início da terapia, um
pensamento de fracasso ocupava 90% da atividade mental, no final da terapia, essa porcentagem
diminui consideravelmente.
Testes da realidade. O que significa ser feliz? O que é mais importante na vida?
Elaborar uma agenda de atividades. É importante superar a inércia, a angústia e a
sensação de vazio. A planilha pode ter divisões de suas horas, com tarefas simples.
Praticar a meditação – para desenvolver o domínio da atenção. O paciente deve aprender
a se distanciar de seus sentimentos. Em vez de ficar preso a círculos viciosos, o paciente deve
aprender a aproveitar os aspectos positivos da vida.
O psiquiatra Augusto Cury desenvolveu a técnica de duvidar, criticar e determinar.
A pessoa precisa duvidar de um pensamento negativo.
A pessoa também precisa criticar seu comportamento inadequado.
E a pessoa também precisa determinar que adotará um novo modo de se conduzir.
Adotando a técnica da dúvida, da crítica e da determinação, a pessoa produzirá novas
experiências. Estas são registradas nos arquivos em que estavam armazenadas as experiências
doentias.
“Eu testemunhei pessoas emergindo de situações aparentemente irrecuperáveis para a
psiquiatria e retornando à plenitude da vida por exercitar sistematicamente essas técnicas
[duvidar, criticar e determinar] e aprender a resgatar a liderança do ‘eu’” (Cury, Treinando a
emoção para ser feliz, p. 28).
Para resolvermos nossos conflitos, traumas e transtornos psíquicos, nós precisamos
reeditar o filme do inconsciente.
Precisamos registrar experiências novas sobre as negativas. Precisamos reeditar os
arquivos da memória.
Aplicando essa técnica (duvidar, criticar e determinar) durante três meses, a pessoa
reeditará o filme do inconsciente.
Cada pessoa pode reescrever o seu passado e transformar sua personalidade. “Nada é
irreversível na psique humana” (Cury).
Precisamos dar um choque de lucidez na nossa emoção.
As experiências negativas se deslocam da memória consciente para a memória
inconsciente. Não temos consciência desse deslocamento. E não recordamos a experiência
negativa. Mas, ela continua fazendo parte de nós.
Precisamos aprender a ser companheiros de nós mesmos. Precisamos aprender a falar de
nós mesmos e conosco mesmos.
Uma fobia se manifesta quando um medo súbito e dramático é transmitido para o córtex
cerebral, produzindo sintomas psicossomáticos (taquicardia, aumento da pressão sanguínea,
suor excessivo e aumento da frequência respiratória).
Se uma pessoa jovem tem insônia e o pensamento acelerado desencadeia imagens
mentais sem lógica, ela precisa duvidar de suas fantasias.
Quando uma pessoa tem um ataque de pânico, que a leva a pensar que vai desmaiar ou
morrer, ela deve criticar o seu pânico. Ela deve perguntar se esse pânico tem alguma lógica.
Também deve perguntar quando, como e porque ele começou. Por que ser escrava de um
pânico, se o organismo goza de boa saúde?
A pessoa deve determinar que deixará de ser escrava de seu medo. E deve registrar novas
experiências saudáveis, que suplantarão as doentias. O passado não é apagado; ele é reeditado.
Os pensamentos doentios precisam ser confrontados com a dúvida, a crítica e a
determinação.
A nossa crença nos controla. Se aquilo em que cremos nos perturba, então devemos
duvidar do conteúdo de nossa crença.
Se os nossos pensamentos negativos nos controlam, então devemos duvidar deles. A
dúvida é o princípio da Filosofia. Para administrar a emoção, o “eu” deve duvidar dos
pensamentos perturbadores. Deve duvidar do conteúdo doente de suas emoções. “Deve
questionar os motivos de sua reação, criticar sua ansiedade, exigir ser livre naquele momento.
Enfim, deve usar a ferramenta do silêncio, se interiorizar e resgatar a liderança do ‘eu’” (Cury, 12
Semanas para mudar uma vida).
Se temos uma idéia pessimista, uma preocupação excessiva e uma ansiedade
antecipatória, então devemos criticá-las. Devemos sair de uma atitude passiva e fatalista e
criticar nossos pensamentos negativos. A crítica é o princípio da Psicologia.
Diante de conflitos, devemos determinar não sermos escravos dos mesmos. “A emoção
aprecia uma ordem, mas domina pessoas passivas” (Cury). Devemos nos decidir pela dimensão
alegre e bonita da vida. A determinação é o princípio dos Recursos Humanos.
Precisamos aprender a duvidar, criticar e determinar nossos pensamentos. Não havendo
um gerenciamento dos pensamentos, a conseqüência será depressão, ansiedade e estresse.
Muitas vezes, reagimos automaticamente a um acontecimento semelhante a um evento do
passado. Nesse caso, não reagimos à realidade, mas a uma janela da memória. Reagimos com
mau humor, desagrado e irritabilidade às pequenas contrariedades. Até mesmo incidentes no
meio de uma multidão podem ser interpretados como afrontas pessoais. Reagimos com raiva e
despeito, ou seja, com infelicidade.
A felicidade é o resultado de uma atitude mental. Ela não pode depender da solução de
algum problema exterior. Nós não podemos ser felizes “por causa de…”. Nossa felicidade não
pode depender apenas de circunstâncias. A felicidade depende de nós mesmos.
“A felicidade não é prêmio da virtude, mas a própria virtude; e não gozamos dela por
refrearmos as paixões, mas, ao contrário, gozamos dela por podermos refrear as paixões”,
observou o filósofo Espinosa. E acrescentou que “o poder de refrear as paixões nasce da própria
felicidade”.
Transcrevo estas conclusões de Maxwell Maltz, de seu livro Liberte sua Personalidade.
“Especialistas no setor de fisiologia do cérebro, como o Dr. John C. Eccles e Sir Charles
Sherrington, dizem-nos que o córtex humano se compõe de aproximadamente dez bilhões de
neurônios, cada um com numerosos axones (apalpadores ou ‘fios de extensão’) que formam
sinapses (ligações elétricas) entre os neurônios. Quando pensamos, recordamos ou imaginamos,
eles descarregam uma corrente elétrica que pode ser medida. Quando aprendemos ou
experimentamos alguma coisa, um molde de neurônios formando uma “cadeia” se instala no
tecido cerebral.
Nesse molde os arranjos e as ligações elétricas entre os vários neurônios são mais ou
menos semelhantes ao molde magnético gravado em uma fita. O mesmo neurônio pode assim
ser parte de qualquer que seja o número de moldes distintos e separados, tornando-se quase que
ilimitada a capacidade que o cérebro possui de aprender e recordar. Esses moldes, ou
‘engramas’, são armazenados no tecido cerebral para uso futuro, e são reativados, ou
‘reproduzidos’, sempre que recordarmos uma experiência passada”.
“Em suma, a ciência confirma que há em nosso cérebro uma ‘tatuagem’, ou molde de
engramas, para cada ação bem-sucedida que tenhamos executado no passado. E se soubermos
fornecer a centelha para reviver esse molde de ação, isto é ‘reproduzi-lo’, ele se executará a si
mesmo, e tudo que temos a fazer é ‘deixar que a natureza siga seu caminho’.
Quando reativamos os moldes de ações bem-sucedidas no passado, reativamos
igualmente o ‘tom’ de sentimentos, ou o ‘sentimento de vitória’ que os acompanhou. Pela mesma
razão, se pudermos recapturar o ‘sentimento de vitória’, poderemos evocar também todas as
‘ações de vitória’, que o acompanham”.
“Os engramas do cérebro humano tendem a se alterar ligeiramente, cada vez que são
‘tocados’”.
“Temos motivos para acreditar que as experiências infantis adversas e infelizes, traumas,
etc., não são tão permanentes e fatais, como nos queriam fazer crer os psicólogos de
antigamente. Sabemos agora que não é apenas o passado que influencia o presente, mas que o
presente influencia indubitavelmente o passado. Em outras palavras, não estamos condenados
pelo passado”.
“Nossos pensamentos atuais, nossos hábitos mentais atuais influem nos velhos engramas
gravados”.
“Outra interessante descoberta é que um determinado engrama, quanto mais é ativo, ou
‘tocado’, mais potente se torna. Eccles e Sherrington afirmam que a permanência de engramas
decorre da eficácia sináptica (a eficiência e facilidade de ligação entre os neurônios individuais
que constituem a cadeia) e, também, que a eficiência sináptica aumenta com o uso e diminui com
o desuso. Temos aqui, mais uma vez, sólida base científica para esquecer e ignorar as
experiências infelizes do passado e concentrar-nos no que é feliz e agradável. Ao fazê-lo,
robustecemos os engramas que têm a ver com o êxito e a felicidade, e enfraquecemos aqueles
que estão associados ao malogro e à desdita”.
“Já não podemos mais, agora, obter o mórbido consolo de culpar nossos pais ou a
sociedade por nossas experiências passadas, nem as injúrias dos “outros”, por nossas aflições
atuais. […] O passado explica como chegamos onde estamos. Mas aonde iremos a partir daqui é
da nossa única e exclusiva responsabilidade” (Maxwell Maltz, Liberte sua personalidade).
“Os neurônios que compõem o cérebro e o sistema nervoso central ‘falam’ entre si através
de aberturas chamadas sinapses.
Essas aberturas separam filamentos estreitos como galhos, as dendrites, que crescem nas
pontas de cada célula nervosa. Todo mundo possui bilhões dessas células, divididas entre o
cérebro e o sistema nervoso central, e, como vimos, cada uma gera dúzias ou mesmo centenas
de dendrites (o total é estimado em 100 trilhões). Isso significa que, a qualquer momento, as
possíveis combinações de sinais saltando através das sinapses do cérebro excederão o número
de átomos do universo conhecido. Os sinais também se intercomunicam à velocidade do raio.
Nosso cérebro leva poucos milionésimos de segundo para ler esta frase, organizando um padrão
exato de milhões de sinais que logo em seguida se dissolvem e jamais voltam a se repetir
exatamente da mesma forma” (Deepak Chopra, A cura quântica, p. 62).
“Muitas pessoas ainda pensam que os nervos trabalham eletricamente, como um sistema
telegráfico, porque até quinze anos atrás [1974] era o que os compêndios médicos ensinavam.
No entanto, na década de 70, iniciou-se uma série de importantes descobertas, centralizada
numa nova classe de substâncias químicas instantâneas, chamadas neurotransmissores. Como o
próprio nome diz, essas substâncias transmitem impulsos nervosos; atuam em nosso corpo como
‘moléculas comunicadoras’ através das quais os neurônios podem falar com o resto do corpo”.
“Os neurotransmissores são os corredores que partem do cérebro e voltam a ele,
informando a todos os órgãos nossas emoções, desejos, lembranças, intuições e sonhos.
Nenhum desses eventos fica apenas no cérebro. Do mesmo modo, nenhum deles é estritamente
mental, já que podem ser codificados em mensagens químicas. Os neurotransmissores tocam a
vida de cada célula. Sempre que um pensamento se formar, essas substâncias químicas também
precisam agir, porque ele não pode existir sem elas. Pensar é praticar química cerebral,
promovendo uma cascata de respostas através do corpo” (Deepak Chopra, A cura quântica, p.
72).
“Pensar é formar dentro de nós padrões tão complexos, rápidos e de uma riqueza tão
variada quanto a própria realidade. O pensamento é o espelho do mundo, nada menos do que
isso. A ciência simplesmente não tem os instrumentos para observar tal fenômeno, que é, ao
mesmo tempo, vivo e infinito” (Deepak Chopra, A cura quântica, p. 63).
“Na verdade, nenhum acontecimento recente na biomedicina foi tão revolucionário quanto
essas descobertas. A chegada dos neurotransmissores em cena torna a interação da mente e da
matéria mais móvel e fluente do que nunca – muito mais próxima do modelo do rio”.
“Foram consideradas revolucionárias na época, porque se provava que o impulso enviado
por uma célula nervosa a outra não era elétrico, mas de natureza química. Imediatamente, a
noção aceita de pequenas faíscas saltando de neurônio a neurônio ficou obsoleta” (Deepak
Chopra, A cura quântica, p. 73).
“Mesmo não sendo possível descrever exatamente como os neurônios recebem suas
mensagens químicas, ou como as transportam pelos próprios axônios (ou troncos), sabe-se que o
processo deve ser muito flexível.
A célula nervosa pode mudar a mensagem no trajeto, transformando a substância química
que recebeu no ponto A em outra diferente no ponto B” (Deepak Chopra, p. 78).
“Portanto, podemos concluir com segurança que a mente não fica confinada ao cérebro,
como numa divisão precisa, que serve a nossa conveniência. A mente se projeta qualquer ponto
do universo interior” (Deepak Chopra, p. 85).
“Um corpo que pode ‘pensar’ é muito diferente daquele que a medicina considera
atualmente” (Deepak Chopra, p. 86).
“De fato, nenhuma droga se equipara a um pensamento. […] Por exemplo, pesquisadores
descobriram recentemente que um neurotransmissor chamado imipramina é anormalmente
produzido no cérebro de pessoas deprimidas. Enquanto localizavam a distribuição dos receptores
de imipramina, eles se surpreenderam ao encontrá-los não apenas nas células cerebrais como
nas da pele. Por que a pele criaria receptores para uma ‘molécula mental’? O que esses
receptores da pele teriam a ver com a depressão? Uma resposta plausível é que a pessoa fica
deprimida por inteiro – está com o cérebro triste, a pele triste, o fígado triste e assim por diante.
Do mesmo modo, os pesquisadores examinaram pacientes que se queixavam de aflição o tempo
todo e descobriram níveis anormalmente altos das substâncias químicas epinefrina e
norepinefrina em seus cérebros e nas glândulas supra-renais. Mas também foram encontradas
grandes concentrações nas plaquetas do sangue, o que demonstra que eles também tinham
células saguíneas aflitas’” (Deepak Chopra, pp. 101-02).
“É importante entendermos as causas do passado para reorganizarmos o presente, mas é
igualmente importante gerenciarmos os pensamentos e as emoções do presente para
acelerarmos o processo” (Cury, Treinando a emoção para ser feliz, p. 24).
“Somente as pessoas livres são gratas umas às outras e procuram ligar-se pelos fortes
laços da amizade”.
“Tudo o que é precioso é tão difícil quanto raro” (Espinosa).
Terapia emotivo-racional
O psicólogo Albert Ellis criou a Terapia Emotivo-Racional, enfatizando três aspectos da
vida:
– o que acontece;
– como assimilamos o que acontece;
– como reagimos ao que acontece.
É no segundo ponto que se concentra a maior parte das nossas dificuldades. É a nossa
percepção que precisa ser avaliada e transformada.
Terapia Multimodal
O médico Arnold Lazarus desenvolveu a Terapia Multimodal. Ele observou que um dos
fatores que tornam as pessoas deprimidas é o fato de não conseguirem se expressar. A pessoa
pensa, sente e age de forma não produtiva. Lazarus desenvolveu métodos para que a pessoa se
expresse de modo afirmativo perante a vida.
CETAPES – CENTRO TEOLÓGICO E PSICANALÍTICO
Rua Mahatma Gandi, 268 – Santa Inês – Vila Velha ES – E-mail: cetapes@hotmail.com e
cetapes@gmail.com – Tel: (27) 3340-6094/ 3534-0627/ 8118-0627 – Sites: cetapes.org e
http://www.cetapes.com.br 31
“Você costuma se ver na mesma situação desagradável, pensando o que fez de errado e
por que isso se repetiu? Nem sempre o problema é falta de sorte – pode ser falta de boas idéias”
(Arnold A. Lazarus).
Terapia Interpessoal
A Terapia Interpessoal foi criada por Gerald Klerman, psiquiatra da Universidade de
Harvard, e por Myrna Weissman, psicóloga da Universidade de Yale. O objetivo é ajudar as
pessoas a identificar e resolver dificuldades em seus relacionamentos.
A Terapia Interpessoal enfatiza a capacidade de comunicação.
Pessoas deprimidas apresentam problemas de relacionamento com seu parceiro, com o
chefe, com os colegas de trabalho e estudo, com os filhos. A Terapia Interpessoal tem como
objetivo transformar esse padrão comportamento nocivo. São desenvolvidos novos hábitos de
pensar, de sentir e de se comportar.
O que é Programação Neurolinguística (PNL)
A Origem da PNL
No início dos anos 70, o programador de informática Richard Bandler e o professor
de lingüística John Grinder utilizaram suas observações sobre a estrutura da linguagem e a
ciência da informação e da computação.
Os dois pesquisadores partiram de um pressuposto: se alguém é bem sucedido em
determinada área, então uma outra pessoa também poderá desenvolver essa aptidão. É
necessário entender a estrutura mental, que se encontra na base do empreendimento. É de
fundamental importância a descoberta do processamento cerebral, para que o mesmo seja
transmitido adiante.
Bandler e Grinder partiram destas questões básicas:
– Como funciona o cérebro humano?
– De que maneira o cérebro processa informações e armazena experiências?
– Qual é a estrutura interna subjacente a um empreendimento bem sucedido?
Eles estudaram o comportamento de pessoas eficientes e bem sucedidas. Essas
observações resultaram na criação de técnicas e estratégias que possibilitam a outras pessoas
alcançarem os mesmos objetivos exitosos.
A PNL foi definida por Richard Bandler deste modo: “O estudo da estrutura da experiência
subjetiva do ser humano e o que pode ser feito com ela.” A definição pressupõe que todo
comportamento tem uma estrutura. E essa estrutura pode ser descoberta, modelada e
reprogramada.
Em 1981, Luria considerou a Neurolinguística um ramo da Neuropsicologia.
Em 1987, Caplan definiu a Neurolinguística como sendo o estuda das relações entre
cérebro e linguagem.
Mais tarde, em 1990, Menn e Obler declararam que a Neurolinguística é o estudo sobre o
processamento da linguagem no cérebro. Nesse caso, o interesse se concentra em como a
linguagem é processada no cérebro.
Constatamos que a Neurolingüística investiga a cognição humana, concentrando-se
especificamente na linguagem e nos processos que a envolvem.
A PNL é um modelo de comunicação, de crescimento pessoal e desempenho do potencial
humano.
O termo neuro se refere à maneira como o cérebro trabalha e processa informações. É o
estudo do funcionamento do cérebro para elaborar pensamentos, sentimentos e comportamentos
– relacionados com os processos neurológicos da visão, audição, tato, olfato e paladar.
Percebemos a realidade por intermédio dos cinco sentidos.
O termo linguística se refere à maneira como a linguagem participa e interfere no
processamento do cérebro. Empregamos a linguagem para ordenar nossos pensamentos e
sentimentos, e para externar nosso comportamento. Desse modo nos relacionamos com nossos
semelhantes.
O termo programação se refere à existência de padrões e programas que se estruturam
ao longo da vida da pessoa. Nós estruturamos e programamos aquilo que percebemos. É a
maneira como organizamos nossas idéias e atitudes. É a forma como agimos – mediante a
linguagem e as atitudes – para produzir determinados resultados.
Nossos pensamentos e nossas lembranças seguem uma programação. Quando mudamos
essa estrutura, também as nossas atitudes mudam. Podemos realçar experiências agradáveis e
exitosas. E as lembranças desagradáveis cairão em desuso.
Os padrões de comportamento podem ser modificados. Portanto, a PNL é uma maneira de
modificar comportamentos. Ela possibilita que se comece a compreender a estrutura da
experiência interna. A experiência humana acontece por intermédio de visualização (imagens),
experiências auditivas e sensações. A PNL estuda o processamento neurológico das informações
e também o resultado dessa operação nas emoções e no comportamento da pessoa.
A PNL estuda a estrutura da experiência subjetiva. Por estrutura queremos dizer imagens,
sons ou diálogo interno e sensações com que a pessoa cria suas experiências internas e
influencia seu comportamento externo.
A PNL parte do princípio de que toda pessoa tem a possibilidade e os recursos para se
desenvolver. E a PNL mostra o caminho dessa evolução. O importante é aprender a ter controle
sobre sua vida, de modo que as experiências subjetivas sejam dirigidas para um resultado
benéfico.
Muitas pessoas investem muita energia e muito tempo em projetos e empreendimentos
que acabam dando errado. Uma parte do problema é uma orientação negativa. Se uma pessoa
está buscando o que não funciona, ela certamente encontrará. Muitos comportamentos se
encaminham para uma profecia auto-realizadora.
Mas também há pessoas que estão se dirigindo, na maioria das vezes, para o lugar certo,
na hora certa!
A PNL se propõe a capacitar as pessoas a assumirem o controle da sua própria evolução
cognitiva e tomar consciência de suas visualizações (imagens), intuições e sensações internas.
“Nós transmitimos informações para as pessoas sobre como seus cérebros funcionam, e elas
utilizam essas informações para mudar” (Richard Bandler).
O mais importante de tudo é a atitude. Sem uma atitude e um sistema de valores
adequado, a pessoa está apenas pronunciando palavras otimistas. Mas, quando os padrões
neurolinguísticos são identificados, eles podem ser modificados em relação a metas
estabelecidas. É possível então superar bloqueios emocionais, eliminar ansiedades e fobias,
passando a gerenciar as emoções e a desenvolver aptidões e ampliar capacidades.
A PNL estuda o funcionamento da mente humana, possibilitando a descoberta e a
elaboração de nossas programações mentais e os resultados decorrentes. A PNL descreve nossa
forma de aprender, comunicar-se consigo mesmo e com os outros, de adquirir novas habilidades
e obter bons resultados, os quais levam a pessoa a uma profunda reestruturação e ampliação de
sua percepção do mundo.
Nossa programação mental afeta nosso organismo: sistema muscular, respiração,
batimento cardíaco. O organismo afetado interfere na forma de pensar. Ao aprendermos a mudar
nossa programação mental, nós criamos uma nova disposição para enfrentar a vida.
Devemos comprender de que modo representamos a realidade em nossa mente. A partir
daí, devemos descobrir como alterar uma representação negativa, superando hábitos nocivos,
fobias e outros comportamentos indesejáveis.
Em seu livro O Poder do Agora, Eckhart Tolle registrou uma pergunta e a respectiva
resposta pertinente a esse tema : Por que tantas pessoas escolhem o sofrimento ? Tenho uma
amiga cujo companheiro abusa fisicamente dela e que já viveu esse tipo de problema em uma
relação anterior.
Por que ela escolhe esse tipo de homem e por que se recusa a sair dessa situação ?
«Sua amiga está paralisada em um relacionamento com um parceiro abusivo e não é a
primeira vez. Por quê ? Porque não escolheu. A mente, condicionada como é pelo passado,
sempre busca recriar o que conhece e com o que está familiarizada. Mesmo que seja doloroso,
ao menor é familiar. A mente sempre se apega ao que lhe é familiar. O desconhecido é perigoso
porque ela não tem controle sobre ele. É por isso que a mente não gosta do momento presente e
prefere ignorá-lo. A percepção do momento presente cria um espaço, não somente no fluxo da
mente, mas também no contínuo do passado e futuro. Nada realmente novo e criativo pode
acontecer nesse mundo a não ser através desse espaço, um espaço nítido com infinitas
possibilidades.
Portanto, sua amiga pode estar recriando um padrão aprendido no passado no qual a
intimidade e o abuso eram inseparavelmente relacionados. Por outro lado, ela pode estar
representando um padrão mental aprendido na infância, segundo o qual ela é alguém desprezível
e merece ser punida. É também possível que ela viva grande parte da vida através do sofrimento,
que está sempre em busca de mais sofrimento para se alimentar. O parceiro também tem seus
próprios padrões inconscientes, que completam os dela».
Auto-sugestão consciente
Precisamos nos tornar conscientes do enorme poder da imaginação. Ela sempre vence a
vontade.
A imaginação pode ser comparada a uma correnteza. Sem controle, ela arrasta e destrói.
Devidamente conduzida para uma usina, sua força será transformada em energia.
A imaginação também pode ser comparada a um cavalo selvagem. Sem cabresto, o cavalo
irá aonde quiser. Mas com rédea, o cavaleiro dirigirá o ímpeto do cavalo para chegar ao objetivo.
A imaginação pode ser dirigida assim como se canaliza uma correnteza ou se doma um
cavalo selvagem.
Precisamos ter um método. O meio é a auto-sugestão.
A sugestão só existe quando se transforma, no indivíduo, em auto-sugestão. Uma pessoa
pode ser sugestionada sem que ela o saiba. Se um médico disser a uma pessoa enferma que
nada mais pode fazer por ela, desencadeará uma auto-sugestão que poderá acarretar
consequências fatais.
O farmacêutico francês Émile Coué (1857-1926) aprimorou o método da auto-sugestão
para influir sobre o inconsciente. Coué foi o fundador da Escola de Nancy de Auto-Sugestão
Consciente, e era procurado por pessoas vindas de vários lugares da Europa e da América. Ao
entregar a medicação, Coué recomendava que seus pacientes repetissem vinte vezes pela
manhã e à noite esta frase:
CADA DIA – EM TODOS OS SENTIDOS –
ESTOU FICANDO SEMPRE MELHOR !
E os resultados eram surpreendentes!
A partir dessa prática, Émile Coué enunciou as quatro leis básicas:
1. A imaginação sempre vence a vontade.
2. A força da imaginação está na razão direta do quadrado da vontade.
3. Quando a imaginação se une à vontade, multiplicam-se.
4. A imaginação pode ser governada.
Coué define a auto-sugestão como sendo a “influência da imaginação sobre o ser moral e o
ser físico do homem”.
Muitas enfermidades são o resultado da imaginação da pessoa. A felicidade e a infelicidade
também resultam da imaginação. Duas pessoas experimentam as mesmas condições de vida;
uma é feliz e a outra, totalmente infeliz.
Adoecemos a partir de motivos inconscientes.
“Mas, se o nosso inconsciente é a fonte de muitos dos nossos males, também pode trazer a
cura das nossas doenças morais e físicas. Ele pode, não somente reparar o mal que nos fez,
como também curar as doenças reais, tão grande é a sua ação sobre o nosso organismo” (Coué).
Quando uma pessoa se depara com um determinado sintoma, ela deve se sentar de um
modo confortável em ambiente calmo, fechar os olhos e repetir mentalmente: “está passando,
está passando”. Em 20 a 25 segundos o sintoma desaparecerá.
O inconsciente dirige todas as nossas funções. Devemos dizer ao inconsciente que
determinado órgão deve funcionar bem. O inconsciente transmite a ordem ao órgão, e este
recupera sua função normal.
Coué ressalta que “a vontade não deve intervir na prática da auto-sugestão”.
É necessário educar a imaginação.
“Toda doença quase sem exceção, pode ceder à auto-sugestão, por mais ousada e
inverossímil que possa parecer a minha afirmação. Não digo, cede sempre, digo pode ceder, o
que é diferente.”
“Mas para fazer com que as pessoas pratiquem a auto-sugestão consciente, é preciso
ensinar-lhes como fazê-lo, do mesmo modo que se faz para lhes ensinar a ler ou escrever, ou
para que elas aprendam música etc.” (Coué).
“Todo pensamento que preocupa inteiramente o nosso espírito, torna-se verdadeiro para
nós e possui uma tendência para transformar-se em ato” (Coué).
Em seu livro O domínio de si mesmo pela auto-sugestão consciente. Émile Coué transmite
estas recomendações:
“Ademais, todas as noites, a partir do momento em que quiser dormir, até o momento em
que desejar levantar-se, na manhã seguinte, dormirá um sono profundo, calmo, tranquilo, durante
o qual não terá pesadelos, e, quando acordar, sentir-se-á com saúde, todo alegre e bem
disposto”.
“De outro lado, se lhe acontece, por vezes, estar triste, pensativo, ter aborrecimentos, ter
pensamentos tétricos, de agora em diante não acontecerá mais. Em vez de ficar triste,
melancólico, em vez de ter angústias, aborrecimentos, ideias tristes, vai ter alegria, muita alegria,
sem motivo algum, talvez, mas tê-la-á, como lhe poderia acontecer ter tristezas sem motivo. Direi
mais: mesmo que tenha motivos verdadeiros e reais para se aborrecer e ter tristezas, não se
aborrecerá, nem terá tristezas”.
“Se lhe acontece, às vezes, ter gestos de impaciência, ou de raiva estes gestos não os terá
mais. Ao contrário, há de ser sempre paciente, sempre senhor de si mesmo, e as coisas que o
aborreciam, provocavam, irritavam, doravante o deixarão absolutamente indiferente e calmo,
muito calmo”.
“Se algumas vezes é assaltado, perseguido, dominado por ideias más, que lhe são
prejudiciais, e por temores, receios, fobias, tentações, rancores, sei que tudo isso se afasta,
pouco a pouco, dos olhos da sua imaginação, e parece desfazer-se, perder-se numa nuvem
longínqua. Como um sonho que desaparece ao acordar, assim se irão todas as imagens vãs”.
“Digo-lhe mais que todos os seus órgãos funcionam bem; o coração bate normalmente e a
circulação do sangue se faz como deve ser; os pulmões funcionam bem; o estômago, os
intestinos; o fígado, a vesícula biliar, os rins, a bexiga, nada têm de anormal. Se, dentre eles,
algum presentemente funciona com anormalidade, esta anomalia desaparecerá aos poucos, cada
dia, de sorte que, brevemente, desaparecerá por completo, voltando esse órgão a funcionar
normalmente”.
“Além disso, se existe alguma lesão num deles, irá cicatrizando dia a dia, sarando com
rapidez.” (A propósito, devo dizer que não é preciso saber qual o órgão afetado, para curá-lo. Sob
a influência da auto-sugestão: ‘todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor’,
o inconsciente exerce a sua ação sobre esse órgão, que ele mesmo não sabe distinguir.)
Acrescento ainda isto, que é uma coisa extremamente importante: se até o presente se
sentiu com uma certa desconfiança em si, digo-lhe que esta desconfiança desaparece aos
poucos para ao contrário, se transformar em confiança em si mesmo, fundada nesta força de um
poder incalculável que existe em cada um de nós. Esta confiança é absolutamente indispensável
no ser humano. Sem a confiança em si mesmo, jamais se obtém coisa alguma, ao passo que
com ela, pode-se conseguir tudo. (No domínio da coisas razoáveis, bem entendido). Tenha, pois,
confiança em si mesmo, que se convencerá de que é capaz de fazer não somente bem, mas
ainda com perfeição todas as coisas que deseja fazer, sob a condição de que sejam razoáveis, e
também tudo aquilo que seja de seu dever.
“Portanto, quando desejar fazer alguma coisa razoável, quando tiver de fazer uma coisa que
é do seu dever fazer, pense bem que esta coisa é fácil de fazer.
As palavras difícil, impossível, não posso, está acima das minhas forças, não posso evitar,
devem ser canceladas do seu vocabulário. Elas não existem em nossa língua. Existem, sim, as
palavras: é fácil e eu posso. Considerando a coisa fácil de fazer, ela se torna fácil, ao passo que
para outros parece difícil. O senhor faz depressa e bem, sem se cansar, porque a faz sem
esforço. Se, porém, a considerasse difícil ou impossível de fazer, ela o seria, unicamente porque
assim a considerou”.
“A essas sugestões gerais, que talvez parecerão um tanto longas e mesmo infantis, para
alguns, mas que são necessárias, é preciso acrescentar aquelas aplicáveis ao paciente entregue
ao nosso cuidado”.
“Todas essas sugestões devem ser feitas num tom monótono e acalentador – acentuando,
entretanto, as palavras essenciais – de modo que, quando não faça a pessoa dormir, ao menos a
faça ficar entorpecida, de maneira que não pense em coisa alguma”.
(Extraído do capítulo 7, Modo de fazer a sugestão curativa.)
“Todas as manhãs, ao acordar, e todas as noites, logo ao deitar, fechar os olhos e, sem fixar
a atenção ao que se diz, proferir em voz bastante alta, a fim de ouvir as próprias palavras, esta
frase, repetindo-a vinte vezes, tendo para isso um cordão com vinte nós: ‘todos os dias, sob todos
os pontos de vista, vou cada vez melhor’. Como as palavras ‘sob todos os pontos de vista’
abrangem tudo, é inútil fazer auto-sugestão para determinados casos”.
“Esta auto-sugestão deve ser feita da maneira mais simples, mais infantil, mais maquinal
possível, portanto, sem o menor esforço. Numa palavra, a fórmula deve ser repetida no tom que
se rezam as ladainhas. Destarte, consegue-se introduzi-la mecanicamente no inconsciente, pelo
ouvido e, logo que nele penetra, ela age. A pessoa deve seguir este método durante toda a vida,
porquanto é não só curativo como também preventivo”. (Extraído do capítulo 8, Como se deve
praticas a auto-sugestão consciente).
José Silva, o criador do Método Silva para Controle Mental, escreve:
“Uma vez que minhas pesquisas demonstraram que o poder das palavras é grandemente
ampliado nos níveis meditativos, fiz algumas adaptações nesse método. Nos níveis Alpha e Theta
dizemos ‘A cada dia e de todas as formas, estou ficando melhor, melhor e melhor.’ Dizemos isto
apenas uma vez durante a meditação. Dizemos ainda – e isto também se deve à influência do Dr.
Coué – ‘Pensamentos negativos, sugestões negativas não têm qualquer influência sobre mim, em
nenhum nível mental’” (O Método Silva de Controle Mental).
“Ninguém desenvolve sua própria personalidade porque alguém lhe disse que seria útil ou
aconselhável fazê-lo. A natureza jamais se deixa vencer por conselhos bem intencionados.
Somente uma força como causa põe em movimento a natureza, até mesmo a humana. Sem
necessidade, nada se modifica, menos ainda em se tratando da personalidade humana. Somente
a necessidade muito grande é capaz de movê-la” (Carl Gustav Jung).
A TERAPIA DO PERDÃO
O PASSADO
O passado existe na memória. Podemos sentir as consequências do passado no momento
presente.
Mas, o passado só tem o poder que nós lhe conferimos. Nós não precisamos ficar presos
ao passado.
O peso excessivo do passado ocasiona a incapacidade de perdão. Nossa vida é marcada
então pela culpa, pelo ressentimento, pela injustiça, pela tristeza e pela amargura.
“Quando lembramos o passado, reativamos um traço da memória e fazemos isso agora”,
observa Ekhart Tolle, O Poder do Agora. E acrescenta que “o passado e o futuro não têm
realidade própria”.
Nós temos uma compulsão para viver mediante a memória (passado) ou por meio da
antecipação (futuro).
“Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma
promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões” (Tolle).
“O tempo acumulado na mente humana encerra uma grande quantidade de sofrimento cuja
origem está no passado” (Tolle).
Precisamos nos tornar conscientes de que o momento presente é tudo o que nós temos.
Devemos viver plenamente o momento atual.
“O momento presente tem a chave para a libertação” (Tolle).
Nós precisamos nos mover no espaço e no tempo, mas o passado não deve assumir o
controle de nossa vida.
Tolle observou que nós “vemos e julgamos o presente com os olhos do passado e
construímos uma imagem totalmente distorcida”.
Quando o indivíduo assim procede, então “não é o presente que ele vê, porque constrói
uma imagem completamente distorcida, a partir do passado” (Tolle).
“O passado toma uma grande parte da sua atenção? Você frequentemente fala e pensa
sobre ele, tanto de forma positiva quanto negativa? As grandes coisas que você conquistou, suas
experiências e aventuras, ou as coisas horrorosas que lhe aconteceram, ou talvez o que você fez
a alguém? Será que seus pensamentos estão gerando culpa, orgulho, ressentimento, raiva,
arrependimento ou autopiedade? Então, você está não só dando mais força ao falso eu interior,
como também ajudando a acelerar o processo do envelhecimento do seu corpo através da
criação de um acúmulo de passado na sua psique.
Constate isso observando à sua volta aquelas pessoas que têm uma forte tendência para
se apegar ao passado.”
“Morra para o passado a cada instante. Você não precisa dele. Refira-se a ele apenas
quando totalmente relevante para o presente. Sinta o poder do momento presente e a plenitude
do Ser. Sinta a sua presença” (E. Tolle).
“Portanto, lide com o passado no nível do presente. Quanto mais atenção você der ao
passado, mais energia estará dando a ele e mais probabilidades terá de construir um eu interior
baseado nele. Não confunda as coisas. A atenção é essencial, mas não em relação ao passado
como passado. Dê atenção ao presente. Dê atenção ao seu comportamento, às suas reações,
seu humor, seus pensamentos, suas emoções, medos e desejos, da forma como eles acontecem
no presente. Ali está o seu passado. Se você consegue estar presente o bastante para observar
todas essas coisas, não de modo crítico ou analítico, mas sem julgamentos, significa que você
está lidando com o passado e dissolvendo-o através do poder da sua presença. Não é
procurando no passado que você vai se encontrar. Você vai se encontrar estando no presente”
(E. Tolle).
O FUTURO
A pessoa que vive no passado e no futuro “reduz o presente a um meio para obter o fim
desejado, um fim que sempre consiste em um futuro projetado pela mente” (Tolle).
“Você está aqui e agora, ao passo que a sua mente está no futuro. Essa situação cria um
espaço de angústia” (Tolle).
Desenvolve-se assim o medo de que algo possa acontecer. Surge então a ansiedade
antecipatória.
“Podemos sempre lidar com uma situação no momento em que ela se apresenta, mas não
podemos lidar com algo que é apenas uma projeção mental. Não podemos lidar com o futuro”
(Tolle).
Nós queremos viver por intermédio da memória ou da antecipação. Desenvolvemos uma
preocupação com o passado e o futuro. Acreditamos que o passado nos dá uma identidade. E “o
futuro contém uma promessa de salvação e de realização” (Tolle).
O futuro é uma projeção da mente.
“Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer. Imaginá-lo
pior nos traz ansiedade. Ambos os caos são ilusões” (Tolle).
Muitas pessoas estão sempre tentando chegar em algum lugar além daquele em que se
encontram.
As ideologias e o fanatismo são exemplos “de como uma crença em um paraíso no futuro
cria um inferno no presente” (Tolle).
O excesso de expectativa no futuro está relacionado com o medo.
O PRESENTE:
“Pratique conscientemente o hábito de ‘não pensar com ansiedade no dia de amanhã’. O
melhor sistema para isso é voltar toda sua atenção para o momento presente. Seu mecanismo
criador não pode funcionar ou trabalhar amanhã; só pode funcionar no presente – hoje. Você
pode fazer planos para amanhã. Mas não procure viver no amanhã ou no passado.”
“Exercite-se conscientemente em olhar e ouvir. Torne-se alerta ao tato dos objetos. Há
quanto tempo você não sente realmente o pavimento sob seus pés, enquanto anda?”
A “tentativa de reagir apenas ao que está acontecendo agora, têm resultados quase
milagrosos em aliviar o nervosismo”.
“Grande parte do nosso nervosismo é devida ao fato de ‘tentarmos’, sem o saber, fazer
alguma coisa que não pode ser feita aqui e agora.”
“Muitas vezes, se não nos acautelarmos, continuamos a reagir automaticamente a algum
acontecimento passado. Não reagimos ao momento presente e à situação presente, mas a algum
acontecimento semelhante do passado. Numa palavra: não reagimos à realidade, mas a uma
ficção” (Maxwell Maltz, Liberte sua Personalidade).
“Para ter a certeza de que permanece no controle, a mente trabalha o tempo todo para
esconder o momento presente, com o passado e o futuro.”
“O tempo acumulado na mente humana encerra uma grande quantidade de sofrimento cuja
origem está no passado.”
“Como deixar de criar tempo? Tendo uma profunda consciência de que o momento
presente é tudo o que você tem. Faça do Agora o foco principal da sua vida. Se antes você se
fixava no tempo e fazia rápidas visitas no Agora, inverta essa lógica, fixando-se no Agora e
fazendo visitas rápidas ao passado e ao futuro quando precisar lidar com os aspectos práticos de
sua vida. Diga sempre ‘sim’ ao momento atual.”
“Aquilo que achamos ser precioso não é o tempo, mas um ponto que está fora dele: o
Agora. Isso é realmente precioso. Quanto mais nos concentramos no tempo, no passado e no
futuro, mais perdemos o Agora, a coisa mais importante que existe.”
“Por que o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente, porque é a única
coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a
nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em
que a nossa vida não fosse agora, nem haverá. Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que
pode nos conduzir para além das fronteiras limitadas da mente. É o nosso único ponto de acesso
para a área atemporal e amorfa do Ser” (E. Tolle).
“Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que
é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único
lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no
Agora” (E. Tolle).
“Saber que quem fomos ontem não nos define completamente hoje nos dá uma liberdade
magnífica. Não precisamos ficar acorrentados ao passado. Muitos de nós continuamos a carregar
o peso emocional do passado. As coisas não precisam ser assim. Podemos nos transformar e
recomeçar, podemos nos renovar a cada dia se conseguirmos nos concentrar no presente, se
formos capazes de ver a vida como ela realmente é agora. Quando não vivemos no momento,
ficamos incapazes de ver os outros e nós mesmos como realmente somos. E, se não estamos
vivendo no presente, não podemos encontrar a felicidade. Não devemos fechar a porta sobre o
passado, até porque ele pode nos ensinar lições preciosas, mas precisamos seguir em frente.
Viver o mais intensa e plenamente possível o agora é desapegar-se do passado” (Elisabeth
Kübler-Ross).
Em relação ao passado, nós nem sabemos se ele realmente aconteceu da mesma maneira
como nós o lembramos.
“Nunca é demais repetir: o nosso grande e difícil desafio é viver plenamente o momento
presente. Saber que este exato instante contém todas as possibilidades de felicidade e amor, e
não perdê-lo por estarmos presos ao passado ou antevendo o que o futuro nos reserva. Ao
colocar de lado o sentimento de expectativa, podemos viver no espaço sagrado do que está
acontecendo agora” (David Kessler).
O SOFRIMENTO
“É pela dor, muitas vezes, que crescemos. Por isso é tão triste ver alguém sofrer e não
evoluir” (Bernie Siegel, Amor, medicina e milagres, p. 249).
“Viver é sofrer, sobreviver é encontrar significado para o sofrimento” (Viktor Frankl, o
criador da Logoterapia). Também quando estamos diante de uma situação sem esperança,
quando nos deparamos com uma fatalidade, nós podemos encontrar sentido na vida.
O sofrimento pode nos levar a um desempenho. Quando não podemos mudar a situação,
então “somos desafiados a mudar a nós mesmos” (Frankl). Devemos mudar então a nossa
atitude diante de um destino inalterável. A vida tem um sentido incondicional. Como o sofrimento
faz parte da vida, ele também deve ter um sentido. A vida humana não necessita só de atos
criativos e de vivências prazerosas para atingir sua plenitude. Ela também pode ser alcançada no
sofrimento.
“Falta de êxito não significa falta de sentido” (Frankl).
A análise existencial quer habilitar a pessoa a suportar o sofrimento. O prazer, por si só,
não confere um sentido à vida humana. E a ausência de prazer também não subtrai um sentido à
vida. “Pois bem: se o prazer não é capaz de dar sentido à vida humana, também a ausência de
prazer não é capaz de lho tirar” (Frankl).
Frankl observa que “o princípio do prazer é mera construção, um artifício psicológico”.
Afinal, onde encontramos uma vida totalmente bem sucedida e repleta de sucessos? “Se o
prazer fosse o sentido da vida, a vida não teria propriamente sentido algum” (Frankl).
“Se uma coisa nos faz sofrer, é porque interiormente lhe voltamos as costas”. Muitas vezes
criamos uma distância entre o real e o ideal.
O sofrimento proporciona uma tensão fecunda na existência humana. Tanto o luto como o
arrependimento podem nos impelir para um sentido.
O luto por uma pessoa mantém sua lembrança presente. A pessoa está morta no tempo
empírico, mas fica resguardada subjetivamente, no tempo interior. O arrependimento pode fazer o
indivíduo se soerguer, para renascer moralmente. De alguma maneira, o luto e o arrependimento
nos ajudam a corrigir o passado. A tensão, que o sofrimento provoca, é fecunda, porque é
diferente da dos neuróticos (que buscam sensação) e da dos histéricos (que querem excitação).
“O homem que, para esquecer uma infelicidade, se diverte ou tenta anestesiar-se pela
narcotização, não resolve nenhum problema, não acaba com uma infelicidade; acaba, sim, e
simplesmente, com uma consequência da infelicidade: o mero estado afetivo do desprazer”, pois
“a repressão duma emoção de tristeza não anula o estado de coisas que se lamenta”.
Quando as pessoas buscam a excitação, precisam saber que “a narcotização apenas leva
à inconsciência da infelicidade”.
A vida sempre de novo se constitui numa ocasião para alguma realização ou atitude. E “há
situações em que o homem se pode realizar plenamente a si mesmo no puro sofrimento e só no
puro sofrimento”.
Há pessoas que, diante de uma doença incurável, conseguem ir conscientemente ao
encontro da morte, considerando sua situação de lucidez um presente do destino. A proximidade
da morte faz alguns até resgatar uma vida inteira, até então desperdiçada em frivolidades.
Toda situação pode ser revestida de nobreza; se não conseguirmos realizar, devemos ao
menos saber suportar.
Se o nosso suportar for autêntico, então encontraremos realização. Um sofrimento
absolutamente inevitável poderá ser experienciado como pleno de sentido, pois “a vida só adquire
forma e figura com as marteladas que o destino lhe dá quando o sofrimento a põe ao rubro”.
“Aquilo que aconteceu e não pôde ser evitado não deveria fazer sofrer” (Grande Alce,
chefe dos índios omaha).
“A pergunta deles (dos companheiros) era: ‘Será que vamos sair com vida do campo de
concentração? Caso contrário, todo esse sofrimento não tem sentido.’ A pergunta que
atormentava a mim era: ‘Será que tem sentido todo esse sofrimento, toda esse morte ao nosso
redor? Caso contrário, não faz sentido sobreviver; uma vida cujo sentido depende de semelhante
eventualidade – escapar ou não escapar – em última análise, nem valeria a pena ser vivida’”,
afirma Viktor Frankl.
Diante do sofrimento, não devemos ser nem masoquistas e nem escapistas. Os primeiros
desejam o sofrimento desnecessário, procurando assim se valorizar. E os escapistas investem
toda sua energia para evitar qualquer sofrimento – como se a vida consistisse em se evadir de
adversidades – presumindo assim levar uma existência exitosa.
O ser humano se defronta com uma tríade trágica: o sofrimento, a culpa e a morte.
Frankl salienta a necessidade de empreendermos uma virada copernicana: “é a própria
vida que faz perguntas ao homem. O que o homem tem que fazer não é interrogar, mas ser
interrogado pela vida e à vida responder: o homem tem que responder à vida, tornando-se
‘responsável’”. O ser humano deve elaborar constantemente respostas às perguntas que a vida
lhe dirige.
A MÁGOA
Duas ocorrências juntas desencadeiam uma mágoa:
1. Aconteceu algo indesejável, ou esperávamos algo que não se concretizou.
2. Passamos a pensar no que aconteceu, ou no que queríamos que acontecesse.
Precisamos aprender a lidar com as nossas decepções e também com as nossas
expectativas.
Precisamos sempre nos perguntar: este sofrimento merece tanta atenção? É sensato
deixar este sofrimento ocupar tanto espaço em nosso mente?
As pessoas costumam falar muito mais de suas mágoas do que dos momentos de êxito e
de felicidade. Pensam mais nas pessoas que as magoaram do que naquelas que as amam.
Quando damos muita atenção a um sofrimento, ele se torna mais intenso. A infelicidade
pode se tornar um hábito. Quando pensamos muito na infelicidade, ela passa a ter poder sobre
nós.
Quando algo doloroso nos acontece e nós não temos a suficiente habilidade para lidar com
a dor emocional, então forma-se uma mágoa.
Uma vez desencadeada a mágoa (mediante um fato indesejável ou não concretizado, e
por causa do espaço que recebeu em nossa mente), a mesma é sedimentada pela nossa atitude
de avaliar o ocorrido em termos estritamente pessoais. Muitos acontecimentos ocorrem porque
fazem parte da vida. O ocorrido não atingiu a mim exclusivamente. Um desentendimento no
trânsito não deve ser avaliado como exclusivamente pessoal. Naquele mesmo dia devem ter
ocorrido outros duzentos desentendimentos no trânsito da cidade. A vida não é perfeita. A
compreensão desse fato nos ajuda a aceitar a realidade e, portanto, sofrer menos.
Cada um de nós precisa “perceber que uma quantidade enorme de pessoas vive situações
parecidas” (Luskin, O poder do perdão, p. 64).
“O segundo modo para desvendar a dimensão impessoal do sofrimento é entender que a
maioria das afrontas é cometida sem a intenção de fazer alguém sofrer pessoalmente” (Luskin, p.
41).
Quando estamos magoados e sentimos raiva, acreditamos que esse sentimento foi criado
por outra pessoa. E passamos a culpar a outra pessoa pelo nosso sofrimento. Mas um exame
mais profundo nos mostrará que a principal causa do nosso sofrimento é uma predisposição para
a raiva já existente em nós.
Quando uma pessoa é agressiva conosco, então precisamos compreender que ela não
está bem. Quando uma pessoa tem atitudes de descontrole, então ela está sendo pressionada
por algum tipo de sofrimento. Se ela estivesse bem, não precisaria ter uma atitude agressiva.
Também a pessoa que agride precisa de ajuda. A segunda etapa do processo relativo à mágoa
tem início quando perguntamos a nós mesmos: “De quem é a culpa?”.
“Ficar ligado a pessoas que foram pouco amáveis, assumindo as coisas em termos muito
pessoais, é a primeira etapa num processo no qual reforçamos a mágoa que aparece quando não
conseguimos o que queríamos. A culpa é a segunda etapa. O perdão é a chave para destrancar a
porta e poder sair” (Luskin, p. 56).
A pessoa que culpa uma outra, responsabilizando-a pelo seu sofrimento, tende a ficar
paralisada em sua dor. Quando responsabilizamos alguém pelo nosso sofrimento, nós queremos
situar a cauda fora de nós. Com essa atitude, nós permanecemos paralisados nos passado. O
sofrimento persiste e aumenta. Culpar uma outra pessoa pelo nosso sofrimento é o maior erro
que podemos cometer.
Nós não conseguimos mudar o que aconteceu no passado. Devemos mudar a nossa
atitude em relação ao passado. Quando culpamos uma outra pessoa, nós conferimos a ela poder
sobre nossas emoções.
Na terceira etapa do processo de se sentir magoado, a pessoa desenvolve uma história
sobre a mágoa. Ela passa a recontar constantemente o episódio que a faz sofrer. Contar uma
história desagradável pode se tornar um hábito. Toda vez que nós narramos um episódio que
nos magoou, o nosso organismo reage liberando substâncias químicas associadas ao estresse.
O sistema nervoso autônomo controla os órgãos internos do nosso organismo. O coração, o
aparelho respiratório e o aparelho digestivo funcionam sem a nossa interferência consciente.
O sistema nervoso autônomo possui dois ramos:
– o sistema nervoso simpático impulsiona o organismo a se proteger diante de um perigo;
ele controla a reação lutar-ou-fugir;
– o sistema parassimpático atua quando o perigo passou; sua função é acalmar o
organismo controlando a ação.
Nosso sistema nervoso não consegue nos revelar se o perigo está acontecendo agora ou
há dez anos. A reação é a mesma. Também é importante considerar que a reação lutar-ou-fugir
altera a capacidade de raciocinar. Portanto, para a nossa saúde emocional e orgânica, narrar
equivale a vivenciar.
A CULPA
Existe um equilíbrio precário entre o indivíduo e a civilização. O objetivo da civilização é
proteger o indivíduo, mas este pode se voltar contra ela e destruí-la. A precariedade desse
equilíbrio é o reflexo do conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte.
A civilização quer manter a coesão da sociedade e restringe as pulsões sexuais e
agressivas dos indivíduos. Mas se estes se revoltarem, poderão destruí-la. O conflito entre
indivíduo e civilização tem sua contrapartida no conflito entre ego e superego. O conflito que se
observa na realidade exterior tem sua similaridade no conflito interior. O ego representa os
interesses do indivíduo e o superego resulta da internalização da autoridade externa e passa a
ser temido.
Esse conflito inconsciente desencadeia o sentimento de culpa, que está na origem do “malestar
na civilização”.
O conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte evidencia a precariedade da condição
humana. Freud redigiu O mal-estar na civilização atendendo a sugestão do escritor francês
Romain Rolland, que viu no “sentimento oceânico” a origem do sentimento religioso. O escritor
lamentou que esse conceito não tivesse sido considerado por Freud.
Freud respondeu que jamais experimentara esse “sentimento oceânico”, mas investigou
sua origem psicológica, relacionando-o com as primeiras experiências afetivas do bebê: “no início
da vida, o bebê ainda não diferencia seu ego do mundo exterior, e é o contato periódico com o
seio materno que lhe permite descobrir progressivamente que existe um ‘objeto’ situado ‘fora’ de
seu ego” (Quinodoz, Ler Freud, p. 258).
Forma-se, assim, a oposição entre o princípio do prazer e o princípio da realidade.
“É dessa maneira, portanto, que o ego se separa do mundo exterior. Ou, mais exatamente:
na origem o ego inclui tudo, mais tarde exclui o mundo exterior.
Consequentemente, nosso sentimento atual do ego nada mais é que o resíduo contraído,
por assim dizer, de um sentimento com uma extensão bem mais ampla, tão vasta que abarcava
tudo e que correspondia a uma união mais íntima do ego com seu meio” (O mal-estar na
civilização, p. 253).
A civilização impõe ao indivíduo a renúncia de suas pulsões sexuais e das pulsões
agressivas. Freud externou esta concepção antropológica: “o homem não é absolutamente esse
ser indulgente, com um coração ávido de amor, que se defende quando é atacado, como se diz”
(O mal-estar na civilização, p. 297). Todo homem tem uma tendência para agredir e também
explorar seu semelhante. Freud lembra este adágio: Homo homini lúpus (o homem é um lobo
para o homem).
“Essa tendência à agressão, que podemos descobrir em nós mesmos e que temos bons
motivos para supor que exista no outro, constitui o principal fator de perturbação em nossas
relações com nosso próximo; é ela que impõe à civilização tantos esforços” (O mal-estar na
civilização, p. 298).
A civilização deve limitar a agressividade e estabelecer princípios éticos. Por isso, a ética
“civilizada” restringe a vida sexual e prega o amor ao próximo. Mas as leis não conseguem uma
sociedade ideal.
“O comunismo não passa de uma ilusão, ao pretender, por exemplo, que o homem seja
unicamente bom” (Quinodoz, Ler Freud, p. 261).
Algumas mudanças podem ocorrer, mas “certas dificuldades existentes estão intimamente
ligadas à própria essência da civilização e não poderiam ceder a nenhuma tentativa de reforma”
(O mal-estar na civilização, p. 302).

A teoria das pulsões estabelece um conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte. Com
relação a essas hipóteses, Freud declarou que “com o tempo, elas se impuseram a mim com uma
tal força que não posso mais pensar de outra maneira” (O mal-estar na civilização, p. 305).
A agressividade é uma disposição instintiva primitiva e autônoma. Ela é um obstáculo para
a civilização. A agressividade é a representação da pulsão de morte. “Agora, o significado da
evolução da civilização deixa de ser obscura a meu ver: ela deve mostrar a luta entre Eros e a
morte, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como se desenvolve na espécie
humana. Essa luta é, no fim das contas, o conteúdo essencial da vida” (O mal-estar na
civilização, p. 308).
Portanto, é impossível que a civilização torne o homem feliz. E essa impossibilidade está
ligada à natureza humana. O meio mais eficaz para inibir esses impulsos é o superego, que é a
interiorização da civilização no indivíduo.
A tensão que se instaura entre ego e superego se traduz então em um ‘sentimento consciente de
culpa’ e se manifesta no comportamento por uma ‘necessidade de punição’.
O sentimento de culpa tem duas origens: angústia diante da autoridade externa e a angústia
diante do superego. A angústia diante do superego é experimentada sob a forma de um temor de
ser privado de amor por parte da pessoa que protege (Quinodoz, Ler Freud, p. 261).
A ambivalência é observada no conflito entre o indivíduo e a civilização e também na
tensão entre ego e superego. O sentimento de culpa é o principal problema para o
desenvolvimento da civilização. O pagamento do progresso é a perda da felicidade, reforçando o
sentimento de culpa. Esse sentimento de culpa permanece inconsciente, ou então “se manifesta
como um mal-estar, um descontentamento que se procura atribuir a outros motivos” (O mal-estar
na civilização, p. 232).
Existe um superego individual e um “superego da comunidade civilizada”, que é severo,
sendo as transgressões punidas com uma “angústia da consciência moral” (O mal-estar na
civilização, p. 329).
“Essas exigências costumam ser excessivas, em particular aquelas que provêm da ética
coletiva, e provocam um sentimento de revolta ou uma neurose no indivíduo, ou então o tornam
infeliz” (Quinodoz, Ler Freud, p. 262).
Teriam as civilizações se tornado neuróticas mediante seu processo coercitivo? Freud não
oferece uma solução terapêutica para o futuro, nem consolo.
“O progresso da civilização conseguirá, e em que medida, dominar as perturbações
causadas na vida coletiva pelas pulsões humanas de agressão e autodestruição? Desse ponto de
vista, a época atual talvez mereça uma atenção particular. Os homens de hoje levaram tão longe
o domínio das forças da natureza que ficou fácil, com sua ajuda, se exterminarem até o último.
Eles sabem muito bem disso, o que aliás explica uma boa parte de sua agitação presente, de sua
infelicidade e de sua angústia” (O mal-estar na civilização, p. 333).

A consciência de culpa se perpetuou durante milênios, porque existe uma “alma de grupo”
ou “psique de massa”, atuando além da “comunicação direta e da tradição”.
“Essa continuidade é assegurada em parte pela hereditariedade das disposições psíquicas
que, no entanto, precisam ser estimuladas por certos acontecimentos da vida individual para se
tornarem eficazes” (Totem e tabu, p. 379).
Freud estabeleceu uma distinção entre o neurótico e o homem primitivo. “No neurótico, a
ação é completamente inibida e totalmente substituída pela ideia. O primitivo, ao contrário, não
conhece entraves à ação; suas ideias transformam-se imediatamente em atos” (Totem e tabu, p.
382).
O Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) foi descrito por Freud e popularizado por Judith
Rapoporth com o livro O menino que não conseguia parar de se lavar. A escrupulosidade provoca
uma culpa intensa e invencível.
Uma pessoa pode se considerar infeliz, porque sente culpa de ser feliz em meio a pessoas
que são infelizes.
Uma pessoa pode contar seus problemas no confessionário e também pode cumprir pena
na penitenciária e, ainda assim, sentir um resquício de culpa inconsciente.
O PERDÃO
1. A mágoa.
Como surge uma mágoa.
Duas ocorrências juntas desencadeiam uma mágoa:
1. Criamos uma mágoa quando acontece algo que não queríamos que acontecesse, ou
quando esperávamos por algo que não se efetivou.
2. Passamos a pensar muito a respeito do ocorrido, ou no que queríamos que
acontecesse.
Não é possível realizar a satisfação de todos os nossos desejos. Nós sempre vamos nos
deparar com contrariedades e frustrações.
Para alcançarmos maturidade emocional, precisamos desenvolver uma boa tolerância à
frustração e às contrariedades.
Quando as vontades de uma criança não são atendidas, ela reage com violência. Na
medida em que a pessoa amadurece, ela descobre que as explosões de raiva não são a solução.
A frustração, o sofrimento e a dor fazem parte da vida. Não existe uma existência
desprovida de adversidades.
As frustrações e o sofrimento requerem da pessoa uma versatilidade perante a vida.
Para desfrutarmos um momento de prazer, é necessário que tenhamos vivenciado o seu
oposto, o desprazer. As vivências prazerosas não podem durar sempre, pois dependem de
estímulos, que são passageiros e efêmeros.
Todos nós desejamos ser felizes. Mas, quando experimentamos a felicidade, passamos a
sentir uma inquietação – como se estivéssemos na contramão da vida. Passamos a nos
preocupar com a inveja das outras pessoas.
Começamos então a sabotar a nossa felicidade. Desenvolvemos um medo da felicidade e
atrapalhamos um relacionamento amoroso. Quando a felicidade já não é mais completa, nosso
medo diminui. Resolvemos nossa situação de medo estragando nossa felicidade. Trata-se de
uma “solução” autodestrutiva.
Agimos assim, porque tememos a repetição da perda do paraíso. Nós estávamos tão bem
no útero materno e tivemos que sair de lá. A retirado do paraíso é o primeiro registro em nosso
cérebro. O nascimento foi dramático e doloroso.
Sempre que voltamos ao paraíso (vivenciando uma felicidade intensa), nós tememos uma
nova expulsão. O reflexo condicionado nos leva a sabotar a felicidade. A segunda grande perda
aconteceu por ocasião do desmame.
Enquanto éramos amamentados, nós não distinguíamos os limites entre nossa pessoa e o
resto do universo. A criança e o mundo formam uma unidade. Não há separações e ainda não se
estabeleceu uma identidade. Quando a criança move as pernas e os braços, é o mundo que se
move.
Com o transcorrer do tempo, a criança começa a perceber que os seus desejos não são
satisfeitos de imediato. Quando ela sente fome, a mamadeira ainda não está pronta. A criança
descobre que sua vontade própria não coincide com a da mãe. Ela desenvolve então uma
identidade própria.
“Aos seis meses, a criança adquire consciência de ser pessoa distinta dos pais. Ela passa
a ter, então, pavor de abandono” (Scott Peck, Formação da Personalidade, p. 62).
Depois da perda do paraíso e por ocasião do desmame, a criança percebe que o
abandono equivale à morte.
“As crianças, psicológica ou fisicamente abandonadas, perdem a segurança. Serão adultos
desamparados e inseguros. O mundo, para elas, será um lugar perigoso e ameaçador. […] Para
elas o futuro é duvidoso e irreal” (Peck, p. 15).
Ao completar um ano de vida, a criança adquire consciência de seu corpo. E passa a
conhecer os limites do ego. O psiquiatra Peck observa que “os limites estabelecidos são mais
psíquicos que físicos” (p. 63). Inconformada com seus limites, a criança adota atitudes de tirania e
tem acessos de fúria, o que levou os estudiosos a denominar o período de “o dois terrível”. Aos
três anos, a criança passa a aceitar a realidade de seus limites. Mesmo assim, procura se refugiar
num mundo de fantasia, onde existe a possibilidade de exercitar a onipotência. Explica-se o
sucesso – nessa fase – de heróis como o Super-homem e o Capitão Marvel.
Na adolescência, descobrem-se os limites do corpo. A sobrevivência acontece dentro da
sociedade.
“Mas a pessoa sente-se triste, dentro de seus limites.”
“Sob alguns aspectos, se bem que não em todos, o ato de se apaixonar é uma regressão.
A experiência da fusão com o ser amado traz consigo ecos dos tempos em que estávamos
unidos à mãe, na primeira infância. Com esta fusão, experimentamos igualmente um sentimento
de onipotência, do qual desistimos ao sair da infância. Unidos ao ser amado, sentimo-nos
capazes de vencer todos os obstáculos” (Peck, p. 64).
Precisamos aprender a lidar com as nossas decepções e também com as nossas
expectativas.
Precisamos sempre nos perguntar: este sofrimento merece tanta atenção? É sensato
deixar este sofrimento ocupar tanto espaço em nosso mente?
As pessoas costumam falar muito mais de suas mágoas do que dos momentos de êxito e
de felicidade. Pensam mais nas pessoas que as magoaram do que naquelas que as amam.
Quando damos muita atenção a um sofrimento, ele se torna mais intenso. A infelicidade
pode se tornar um hábito. Quando pensamos muito na infelicidade, ela passa a ter poder sobre
nós.
Quando algo doloroso nos acontece e nós não temos a suficiente habilidade para lidar com
a dor emocional, então forma-se uma mágoa.
As nove etapas para se exercitar no perdão.
1. Definir o que nos magoou.
2. Descobrir que a mágoa depende mais dos nossos sentimentos do que do ocorrido
propriamente.
3. Compreender que o perdão é para nós, para que cesse o sofrimento e alcancemos paz
de espírito.
4. O que estamos sentindo no presente é mais importante do que os detalhes do ocorrido
no passado. O perdão transforma o presente. Não podemos mudar o passado. Mas
podemos dar menos espaço para o sofrimento.
5. Devemos interromper o ciclo da mágoa, pois dor, raiva e frustração geram culpa e
doença. A conseqüência será mais dor, raiva, frustração e enfermidade.
6. Detectar as contrariedades e frustrações. Não querer a mudança de acontecimentos
sobre os quais não temos controle. Não adianta forçar. Essa atitude gera dor e
impotência.
7. Enfocar a intenção positiva. Ao invés de lamentar o passado, desenvolver um projeto
para o futuro.
8. Aprender novos hábitos. Promover mudanças na vida. A melhor vingança é uma vida
bem desfrutada. Nós somos os únicos que podemos proporcionar uma vida agradável e
prazerosa para nós mesmos.
9. Desenvolver novos relatos, enfatizando o treinamento para o perdão. Com a nova
história nós deixamos de ser vítimas e passamos a administrar nossas emoções.
9. Motivação para perdoar.
Não devemos confundir uma afronta imperdoável com a incapacidade para perdoar. Uma
pessoa pode se deparar com a falta de motivação para perdoar. E interpreta essa falta de
motivação a partir da intensidade da afronta. A gravidade da ofensa é vista como um bloqueio
para o perdão.
A pessoa deve descobrir que a falta de perdão prolonga um sofrimento, que nem sempre é
resolvido pelo tempo. Essa é uma boa razão para perdoar. Não é a falsidade do agressor que
impede o perdão. A motivação para perdoar deve prevalecer.
As afrontas não são o principal obstáculo para o perdão, mas a falta de conhecimento
sobre como proceder.
A falta de motivação transparece através da hesitação. Enquanto a pessoa não se decide
pelo perdão, ela confere ao passado um poder para arruinar o presente. E continua reagindo ao
sofrimento de modo inoperante.
A pessoa deveria ao menos parar de fazer o que não funciona. Parando com as
estratégias malsucedidas, novas ideias poderão aflorar à mente.
Havendo motivação e um treinamento adequado, a pessoa perdoa e pára de reagir de
modo inadequado ao sofrimento. A pessoa precisa pelo menos parar de fazer o que não funciona.
A frustração é a maior ameaça para a nossa motivação.
10. Perdão e saúde.
As pessoas que sabem perdoar desfrutam de uma saúde melhor.
A gratidão, a fé e a solicitude exercem um impacto benéfico sobre o sistema
cardiovascular.
Praticar o perdão é exercitar a espiritualidade. O sofrimento e a raiva são confrontados e a
pessoa se cura.
A pessoa que não consegue administrar o sofrimento e a raiva passa a culpar os outros.
Quando a pessoa sente menos raiva, ela passa a ver o mundo como um lugar mais
aprazível. Desenvolvendo sentimentos de felicidade, ela sentirá mais esperança e menos
depressão.
Na medida em que a pessoa aprende a perdoar, ela se torna menos ansiosa e mais
confiante perante a vida. Acontece uma melhora na saúde emocional e orgânica.
Está comprovado que o ressentimento altera a pressão sangüínea, o batimento cardíaco e
o funcionamento do aparelho digestivo.
Estudos também comprovam o efeito positivo do perdão sobre a saúde da pessoa que
perdoa. Em pouco tempo, o perdão reduz o estresse sobre o organismo.
Pessoas otimistas desfrutam de uma saúde melhor. Pessoas que desenvolveram a
dimensão da espiritualidade, enfrentam melhor as perdas existenciais.
A raiva é um fator de risco para a doença cardíaca. A raiva desencadeia substâncias
químicas associadas ao estresse. Ela altera também o funcionamento do coração e das artérias
coronárias e periféricas.
A incapacidade para perdoar prejudica mais do que a hostilidade declarada.
A prática do perdão também harmoniza a atividade cerebral. As pessoas que perdoam
tomam decisões mais lúcidas.
Precisamos nos curar de nossas mágoas para podermos sentir paz de espírito.
O perdão possibilita a ampliação dos momentos de serenidade.
Devemos praticar a respiração consciente. Precisamos aprender a modificar o modo de
sentir. “A respiração natural é uma dádiva de Deus, que insuflou vida aos nossos corpos”
(Alexander Lowen, A espiritualidade do corpo, p. 67).
Devemos mudar o modo de pensar e também o modo de agir.
A beleza e o amor devem receber tanta atenção quanto as mágoas e o sofrimento.
A ira, a mágoa e a frustração são emoções que dificultam a tomada de decisões acertadas.
O perdão nos possibilita experimentar mais paz e saúde. Além de curar as feridas do
passado, o perdão melhora a nossa saúde.

DA TRANSCENDÊNCIA
Espiritualidade e saúde
Durante os últimos trinta anos, gente de todos os países civilizados do mundo tem-me
consultado. Tratei de muitas centenas de pacientes. Entre todos os meus pacientes que se
achavam na segunda metade da vida – isto é, que tinham mais de trinta e cinco anos – não
houve um sequer cujo problema, em última análise, não fosse o de encontrar uma perspectiva
religiosa para encarar a vida. Pode-se dizer, com segurança, que cada um deles ficara doente
porque perdera aquilo que as religiões vivas de todas as épocas deram aos seus crentes, e que
nenhum deles conseguiu curar-se completamente, enquanto não readquiriu a sua perspectiva
religiosa.
Carl Gustav Jung, O homem moderno em busca da alma.
A espiritualidade resulta de um profundo amadurecimento. Não se trata de um recurso
mágico, mas de um crescimento.
O ser humano constata que o sentido da vida não é imanente a este mundo. A partir dessa
constatação, ele busca a transcendência.
Voltado para a transcendência, o ser humano ultrapassa os limites de seu poder. A pessoa
que vivencia uma comunhão com o Absoluto, não precisa mais se atemorizar diante da limitação
existencial. Em comunhão com o Absoluto, a vida é afirmada; a morte é vencida pela
ressurreição. A temporalidade se torna inexpressiva diante do Absoluto.
Émile Durkheim ressaltou a força que se manifesta na vida da pessoa com fé. “O crente
que está em comunhão com o seu Deus, não é apenas um homem que vê novas verdades que o
não crente ignora: ele é um homem mais forte. Ele sente dentro de si mais força, seja para
suportar os sofrimentos da existência, seja para conquistá-los” (As formas elementares da vida
religiosa).
A fé libera energias antes paralisadas pelo medo.
“A maioria de nós espera que Deus modifique os aspectos externos de nossa vida para
que não tenhamos de mudar por dentro. Muitas vezes achamos que ficar ressentidos e sofrer no
papel de vítima é mais fácil que amar, perdoar, aceitar e descobrir a paz interior. Esta poesia de
W. H. Auden é inspiradora:
O ENCONTRO TERAPÊUTICO
As três funções do aconselhamento são:
1. Ouvir objetivamente a pessoa, para que ela possa verbalizar o seu problema.
2. Ajudar a pessoa a descobrir a origem do problema – nas profundezas de seu psiquismo.
3. Possibilitar à pessoa uma nova compreensão de si mesma, capacitando-a a resolver o
problema por si mesma.
A diferença entre conselho e aconselhamento:
O conselho é neutro, objetivo e tende a ser superficial: “Aconselho que você evite transitar
por aquela rua”. O conselho é de mão única e não provoca uma mudança real na personalidade
da outra pessoa.
O aconselhamento é mais profundo e suas conclusões resultam de uma interação entre o
terapeuta e o aconselhando. “A efetuação de uma mudança na natureza do paciente só pode
emanar dele. Sempre reputei um método proveitoso sentar-me ostensivamente com as mãos no
colo, perfeitamente convencido de que o paciente, assim que tiver reconhecido o rumo de sua
vida, nada pode obter de mim que ele como pessoa sofrida não compreenda melhor, não
importando o que eu possa dizer sobre a questão” (Alfred Adler). A decisão deve partir do
aconselhando. “Em meu ponto de vista, o paciente deve fazer de si próprio aquilo que ele é, deve
desejar fazê-lo e realizá-lo por si próprio, sem obrigação ou justificativa, e sem a necessidade de
transferir sua responsabilidade” (Otto Rank).
Por que algumas sugestões são aceitas, e outras não?
“No indivíduo saudável o ego consciente faz uma seleção dessa variedade e escolhe a
direção que ele aprova, e refreia as outras tendências. Neurose quer dizer um enfraquecimento
do comando do ego, uma incapacidade de decidir em que direção o movimento deve ser feito e,
daí, uma mutilação de ação afetiva. Nesse caso, uma sugestão do meio ambiente pode ser o
toque necessário para libertar uma dessas tendências que já se tornou forte dentro do indivíduo”
(Rollo May, A arte do aconselhamento psicológico, pp. 126-27).
Alternativas construtivas:
1. A sugestão do terapeuta é aceita e o aconselhando toma uma decisão.
2. A partir da compreensão do problema ocorre uma transformação. Um comportamento
neurótico se caracteriza pelas formas de enganar-se a si próprio. Quando esse engano é
desmascarado, o ego terá de renunciar à auto-sabotagem e adotar um comportamento
construtivo. A verdade liberta.
3. Com a solução do problema surge um novo tipo de comportamento. E então a coragem
ocupa o lugar do desespero.
4. O sofrimento do paciente deve ser compreendido como um alerta. “Na verdade, muitos
indivíduos neuróticos preferem suportar a miséria de sua situação atual a arriscar a incerteza que
viria com a mudança. Por mais clara que seja a demonstração de que a neurose está baseada na
pura falsidade, o paciente nunca abrirá mão dela, até que seu sofrimento se torne insuportável”
(Rollo May, p. 131). “A técnica do tratamento deve estar em você mesmo” (Alfred Adler). O
indivíduo precisa se defrontar constantemente com a realidade. Nesse inter-relacionamento, a
realidade lança desafios, e o indivíduo precisa elaborar respostas. Se as respostas forem
adequadas e os conflitos emocionais puderem ser controlados, então o indivíduo apresenta um
comportamento saudável. No entanto, se essas respostas forem inadequadas e
desproporcionais, não havendo mais controle sobre os conflitos emocionais, então o
comportamento apresenta um quadro de neurose.
“Reajustamento das tensões da personalidade é sinônimo de criatividade” (Rollo May, p.
61). Muitos líderes eclesiásticos apresentam um comportamento como se eles não pudessem
cometer erros.
“Seja qual for a origem da inferioridade, a ambição exagerada que dela advém tomará uma
forma moral nesta pessoa religiosa. Apresentará um ‘impulso para estar por cima’ moralmente, e
sentirá uma culpa especial quando não estiver por cima” (Rollo May, p. 149). Os detalhes tornamse
importantes para pessoas que colocaram a supremacia do ego como a preocupação central de
sua existência.
“É fácil ver como certos indivíduos conseguem elevar-se acima dos outros através dessa
técnica de enfatizar detalhes religiosos e morais insignificantes” (Rollo May, p. 149). Uma
ambição neurótica aliada a um profundo sentimento de inferioridade impulsionam o
perfeccionismo e o zelo por detalhes no âmbito da moralidade.
“Isso ilustra como a ambição interfere nos problemas religiosos e como a vaidade faz de
seu possuidor um juiz da virtude e do vício, da pureza e da corrupção, do bem e do mal” (Alfred
Adler, A ciência da natureza humana).
O aconselhador religioso deve se libertar da tendência de julgar e condenar.
“Jung sustenta que a razão pela qual as pessoas hesitam em confessar-se ao ministro,
preferindo um psiquiatra, é seu medo de serem condenadas pelo ministro. E prossegue dizendo:
‘Ao emitir o julgamento, ele nunca está em contato com o outro… Somente obtemos o contato
com outra pessoa através de uma atitude de objetividade sem preconceitos’” (Rollo May, p. 150).
O terapeuta deve se orientar por princípios e valores, para que possa transmitir inteireza ao
aconselhando.
“A única saída para o aconselhador é estimar e apreciar as outras pessoas, sem condenálas.
É o caminho da compreensão e da ‘objetividade sem preconceitos’. É o caminho da empatia,
como vimos num capítulo anterior. A capacidade de ‘não julgar’ é o divisor de águas entre a
verdadeira religião e a religiosidade egocêntrica” (Rollo May, pp. 150-51).
O terapeuta deve amar as pessoas movido pela solidariedade e pela misericórdia. Afinal,
essa é a condição humana. “Se ainda acreditar que as ama ‘por amor a Deus’, que se pergunte
se esse ‘Deus’ não é uma máscara para a luta do seu ego” (Rollo May, p. 152).
As pessoas precisam ser amparadas em sua condição humana.
“Todo problema de personalidade é, em certo sentido, um problema moral, pois está ligado
à questão básica de toda ética: ‘Como devo viver?’. Podemos esperar que a personalidade
saudável se distinga por sua capacidade de lidar adequadamente com as relações morais da vida
e podemos ter como um princípio básico que um ajustamento moral e construtivo da vida é o
objetivo de um aconselhamento bem sucedido” (Rollo May, A arte do aconselhamento
psicológico, p. 153).
O ser humano está sempre se defrontando com tentações. Precisamos compreender essa
dinâmica existencial, pois “a maioria das tentações não deve ser superada por um ataque direto e
frontal. Isso apenas fortalece a tentação. E se for uma questão de desejo, como o do álcool e do
sexo, quanto mais enfatizado for, mais forte se torna esse desejo. Falando construtivamente, o
melhor modo de eliminar a força da tentação é remover a imagem do centro da atenção” (May, p.
154).
Diante de uma fraqueza humana, muitos aconselhadores recorrem à exortação.
“Por si mesma, tanto na pregação quanto no aconselhamento, a exortação traz pouco bem,
podendo inclusive fazer grande mal. Ela aumenta o sentimento de culpa do indivíduo, levando-o a
lutar ainda mais, porém de forma negativa” (May, p. 155).
Quando as pessoas são exortadas a lutar contra a tentação, elas travam uma batalha
árdua, mas destrutiva. “São como peixes presos numa rede. A luta destrutiva causa uma
desunidade maior na personalidade e é exatamente isso que tentamos evitar” (May, p. 155). A
pessoa se torna tensa e fica imobilizada.
A pessoa não deve ser exortada a travar uma luta apenas na superfície de seu psiquismo,
mas deve estar disposta a reorganizar toda a sua personalidade. Não se trata de colocar “um
remendo novo num tecido velho”, mas de encontrar nova direção para a vida.
“Por essas razões, é necessário enfatizar o princípio de que o problema do aconselhando
não deve ser abordado como uma questão de moralidade, mas sim de saúde mental” (May, p.
156). Somente então o problema poderá ser encarado objetivamente, sem constrangimentos.
Nós precisamos admitir a existência dos impulsos do id. Precisamos nos reconciliar com a
nossa “sombra”, como demonstrou Jung. Temos um número muito maior de impulsos irracionais
do que gostaríamos de admitir. Para a pessoa que não quer admitir sua animalidade, só lhe resta
o “desvio da neurose”.
Para enfrentar problemas da adolescência, muitas pessoas criam regras pormenorizadas.
Alfred Adler fez esta observação: “Temos a impressão de que se sentem tão inseguras que
precisam reduzir o conteúdo da vida e de suas vivências a umas poucas regras e fórmulas, para
não sentirem tanto medo delas. Se enfrentarem uma situação para a qual não têm uma regra ou
uma fórmula, a única coisa que podem fazer é fugir” (A ciência da natureza humana).
A exortação que visa apenas reprimir a tentação está na verdade propondo um atalho. “O
que precisamos é de uma cooperação entre os impulsos instintivos e os objetivos conscientes”,
observa May, p. 159, e prossegue: “Isso significa que o indivíduo deve, acima de tudo ser honesto
para com seus impulsos instintivos”, pois “o homem que combate com energia sua vida instintiva
pode conseguir evitar o mal temporariamente, mas, ao mesmo tempo, bloqueia suas
possibilidades de fazer o bem. […] O indivíduo que tenta eliminar seus impulsos instintivos rouba
à sua vida o conteúdo; seu rio está seco” (p. 160).
Devemos ter uma noção realista da existência humana.
“A vida não é uma questão de simples otimismo, pois o mal existe; nem de mero
pessimismo, pois o bem também existe. A possibilidade da nobreza frente ao mal é que dá à vida
seu significado trágico” (May, p. 161).
A pessoa, que adquiriu e desenvolveu uma auto-expressão saudável, apresenta estas
características.
Espontaneidade. É a característica mais evidente da auto-expressão. Ela é possível
quando o indivíduo integra os níveis mais profundos de sua personalidade. Desse modo, é obtida
uma unidade entre os impulsos inconscientes e os objetivos conscientes. Esse indivíduo
encontrou a conciliação com sua vida instintiva e, por isso, não precisa estar sempre alerta para
se reprimir. Sua vida é orientada pelo Self (si-mesmo). Ele se tornou um indivíduo saudável. A
pessoa que não se conciliou com sua vida instintiva, está sempre se controlando, pois um animal
feroz pode saltar das profundezas de seu inconsciente. Essa pessoa está em guerra contra si
mesma, pois precisa manter seus instintos encobertos. Essa guerra lhe rouba quase toda
energia.
Integridade. É a característica que deve brotar das profundezas da personalidade. É a
expressão verdadeira do si-mesmo. Nossa personalidade é saudável na medida em que falamos,
agimos e vivemos a partir das profundezas da totalidade do si-mesmo – sem dissimulação.
Originalidade. Cada indivíduo é diferente de todos os demais que já existiram, existem e
existirão no mundo. Cada um de nós deve conseguir sua própria identidade singular. Nossa vida
deve ser dirigida a partir de dentro. Em meio à transitoriedade de tudo o que existe, o indivíduo
original encontrou a sua missão na vida. “Sua vida aflora de dentro e isto é que dá força e
convicção à sua personalidade” (May, p. 165).
Liberdade. O objetivo da psicoterapia é a libertação da pessoa. É necessário se libertar
das repressões e inibições, das fixações da infância, da rigidez da educação e também da
carência de princípios e valores. Enquanto a pessoa não se libertar, sua consciência estará em
guerra contra os impulsos inconscientes. Muitas pessoas são dominadas e escravizadas por
medos desnecessários. Pessoas, que estão sempre carregando fardos impostos pelo passado,
desenvolvem apenas um terço de suas potencialidades. A terapia deve possibilitar a libertação
das potencialidades da pessoa.
Devemos aprender a viver com coragem. Devemos aprender a expressar nossa
indignação na hora certa e no lugar certo. O ódio não deve destruir o nosso equilíbrio. Devemos
desenvolver “a coragem da imperfeição” (Adler). A vida está repleta de possibilidades. Muitas
pessoas estão imobilizadas por medos desnecessários e inúteis. Cada ser humano é chamado a
desenvolver os dons que lhe foram confiados.
“’Empatia’ vem da tradução de uma palavra usada pelos psicólogos alemães, Einfühlung,
que significa literalmente ‘sentir dentro’. É derivada do grego pathos, que quer dizer um
sentimento forte e profundo, semelhante ao sofrimento e tendo como prefixo a preposição in. É
uma palavra obviamente paralela a ‘simpatia’.
Mas, enquanto ‘simpatia’ denota ‘sentir com’ e pode levar à sentimentalidade, ‘empatia’
significa um estado de identificação mais profundo de personalidade em que uma pessoa se
sente tão dentro da outra que chega a perder temporariamente a sua própria identidade. É neste
profundo e um tanto misterioso processo de empatia que ocorrem a compreensão, a influência e
outras relação significativas entre as pessoas” (Rollo May, A arte do aconselhamento psicológico,
p. 65).
“Empatia na dose certa é um traço essencial não apenas para os terapeutas, mas também
para os pacientes, e devemos ajudar os pacientes a desenvolverem empatia pelos outros. Tinha
sempre em mente que nossos pacientes geralmente nos procuram porque não têm sucesso em
desenvolver e manter relacionamentos interpessoais gratificantes. Muitos não conseguem
empatizar com os sentimentos e experiências dos outros. Acredito que o aqui-e-agora oferece
aos terapeutas uma maneira poderosa de ajudar os pacientes a desenvolverem empatia. A
estratégia é simples e direta: ajude os pacientes a sentirem empatia por você, e eles
automaticamente farão as extrapolações necessárias para outras figuras importantes em suas
vidas. É bem comum os terapeutas perguntarem aos pacientes como uma determinada sentença
ou ação deles poderia afetar os outros. Sugiro simplesmente que o terapeuta inclua a si próprio
nessa pergunta” (Irvin Yalom, Os desafios da terapia, p. 38).
“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Rm 12:15).
“De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado,
com ele todos se regozijam” (1 Co 12:26).
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