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Notícias do Maranhão

ORLANDO S. BARRETO
As tão úteis e bem-aproveitadas páginas da Revista Adventista não nos dão margem
para uma explanação minuciosa das possibilidades que êste vasto Estado oferece às lides
evangélicas. Procuraremos ser consisos, totalizando apenas alguns aspectos mais
interessantes da obra de Deus nestas plagas.
O Maranhão tem uma superfície de 327.113 Kms. quadrados, sendo, portanto, maior
do que Portugal, Espanha, Suécia, Noruega, Itália, Inglaterra, Turquia e outros países da
Europa e da América. Sua população é de aproximadamente 2.000.000 de habitantes,
distribuída através de 85 municípios. Não sei se com tristeza ou alegria deva dizer que sou
o único pastor e obreiro adventista em tôda essa vasta região "amadurecida para a ceifa."
A obra adventista penetrou nestes rincões por volta do ano 1937. Pequenos
grupos isolados, algumas famílias, colportores, raras visitas de missionários, mas a
semente foi germinando, os frutos aparecendo, e hoje, espalhados por todo o Estado,
temos 5 igrejas organizadas, 20 grupos, 7 escolas paroquiais, 2 escolas particulares,
com matricula de perto de 400 alunos, 5 templos construídos, com um total
aproximado de 800 membros batizados.
Sem forçar a expressão podemos dizer que o Maranhão está de portas abertas para o
Evangelho de Cristo. O maranhense, de modo geral, não tem preconceito religioso. Nossos
colportores encontram relativa facilidade para disseminar a página impressa, não só pela
ausência de preconceitos mencionada, mas por ser o maranhense amigo dos livros-povo de
gloriosas tradições culturais. Apercebendo-se da relativa facilidade com que o maranhense
aceita a mensagem do Evangelho, as igrejas protestantes estão trabalhando ativamente em
todo o Estado. Não raro encontram-se cidades e vilas cuja população, na sua quase
totalidade,se compõe de evangélicos. Os missionários e pastôres protestantes, equipados
com jipes, camionetas e alto-falantes, percorrem vilas e cidades, ganhando para suas
fileira,s famílias já interessadas na mensagem do advento, e que, por absoluta falta de
obreiros, não foram visitadas por um e dois anos.
Que fazer? Como atender a um tão vasto campo, onde os meios de transporte ainda
são muito primitivos? Em alguns casos temos que viajar três dias em avião, a pé e em
animais para alcançar uma família adventista ou um grupo de irmãos no interior. Todavia,
com ânimo sempre dobrado e fé no Senhor da seara, marchamos para a frente, almejando o
dia em que denodados obreiros, verdadeiros missionários cristãos, venham ajudar-nos.
Como Surgem os Grupos Adventistas no Maranhão
O irmão Tibúrcio Negreiros era membro da Igreja Batista. Um dia ouviu um de
nossos pregadores voluntários que dirigia reuniões em uma cidade do interior. O irmão
Tibúrcio ouviu algumas pregações, entre as -quais uma sôbre a lei de Deus. Èste ponto vital
da mensagem penetrou-lhe na mente com novo significado, enchendo-lhe o coração de
alegria pela descoberta feita. Nosso pregador leigo foi embora, deixando plantada no
coração de Tibúrcio a semente da Verdade.
Desejoso de servir a Deus, abandonou a igreja batista e, com sua boa espôsa, se
regozijam com a nova luz recebida. Não recebeu mais estudos, não conhecia outros pontos
da mensagem do, advento. Mesmo assim ficou fiel, estudando com a espôsa a Palavra de
Deus. Cheio de zêlo pela Lei de Deus, Tibúrcio lembra-se dos parentes e amigos que há dez
anos havia deixado no Piauí. Sentiu que devia levar-lhes o conhecimento da Verdade,
apontar-lhes a Lei de Deus. Era só o que sabia. homem simples, lavrador, de poucas letras,
vende o produto de sua lavoura, a casa despede-se dos amigos e, com a espôsa, empreende
a longa viagem, atravessando o Maranhão e o Piauí, para visitar os amigos o parentes junto
à serra da Ibiapaba, nas fronteiras do Ceará. Tibúrcio tinha um objetivo em sua viagem e
por isso mesmo a distância não o intimidava. Após vários dias de constante viajar, chega
finalmente. Alguns abraços, notícias, e logo Tibúrcio começa a transmitir-lhes a
Mensagem. Mas, que sabia êle da mensagem adventista? A Lei de Deus! E isso êle pregou.
Os Mandamentos, devemos guardar a Lei de Deus, dizia êle, e, abrindo a Bíblia, lia para os
presentes.
As semanas se passaram, transformando-se em meses, e um dia Tibúrcio anuncia aos
parentes que ia voltar para o Maranhão e os que quisessem segui-lo deveriam preparar-se
para a viagem. Muitos acudiram ao convite. Mais de 40 acompanharam-no em seu regresso,
e depois mais outros. Homens trabalhadores, dispostos para a luta, com facilidade se
firmaram na terra para onde se transportaram.
Um dia chega ao Escritório da Missão uma carta. Tibúrcio pedia que mandassem um
obreiro para instruir seu povo. O pedido foi prontamente atendido, seguindo-se da visita de
um pastor que da primeira vez batizou 37 almas. Outros batismos sucederam-se a êste,
outros parentes chegaram, e agora, decorridos apenas cinco anos, temos na "aldeia da
Ingá", como Tibúrcio a denominou, uma escola 'sabatina com mais de cem membros, uma
escola primária,, e quando estas linhas estão sendo rabiscadas, um templo está sendo
construído, para glória de Deus. Na Aldeia da Ingá residem' mais de 200 pessoas, todos
parentes do irmão Tibúrcio, e os que não são adventistas, vivem segundo as normas que
pregamos.
Faz pouco mais de seis anos, o irmão Honorino Tavares mudou-se para as matas do
Pindaré, região parcialmente habitada por índios. Ali chegando, com sua família, o irmão
Tavares escolheu o local onde se instalaria, em plena floresta. Era numa sexta-feira. No dia
seguinte, a primeira; escola sabatina foi realizada, na mata, por nosso irmão e seus
familiares. Não imaginavam que aquêle pequeno comêço se transformaria, em tão curto
espaço de tempo, em uma grande escola sabatina. Mas assim foi. Homem de larga
influência nos meios adventistas, pois fôra professor e obreiro por alguns anos, atraiu para
aquelas plagas muitos irmãos e com, êles "uma mistura de gente" que com o tempo se
transformaram em fiéis adventistas do sétimo dia. Hoje, nas matas do Pindaré, se ergue um
majestoso templo, que já se está tornando pequeno para abrigar os 220 membros da escola
sabatina, onde não havia um só crente há seis anos. Um fato interessante que se verifica em
São João dos Crentes-assim denominado pelos vizinhos - é não haver um só porco
naquelas cercanias. O Irmão Tavares conseguiu com a Câmara Municipal uma lei que
proíbe a criação de suínos em São João dos Crentes. Nossos irmãos são lavradores e
criadores e passam muito bem sem as dificuldades geralmente criadas pelos porcos. Na
última visita que fiz aos nossos irmãos naquela localizada, tive o privilégio de batizar 15
almas, e outras tantas prometeram preparar-se para serem batizadas na próxima visita.
No Maranhão, atualmente, necessitamos mais de ceifeiros para colher os frutos
amadurecidos, do que de semeadores. Se tivéssemos mais obreiros, em dois anos
duplicaríamos o número de membros da igreja adventista neste Estão. Em uma visita de
menos de duas semanas pelo interior, tive o prazer de batizar 41 almas. “Rogai ao Senhor
da Seara que mande ceifeiros para Sua seara. “Não queres tu, prezado jovem que me lês,
ser um ceifeiro nesta grande seara? O Maranhão, moderna Macedônia, clama a ti, jovem
teologando: Passa ao Maranão e ajuda-nos.”
BARRETO, Orlando S. Noticias do Maranhão. Revista Adventista. pp. 29 e 30. out.
1958.

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