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"O estresse é o inimigo do foco"

09/11/2015 - 18H03 - ATUALIZADA ÀS 18H09 - POR MARCELA BOURROUL

O psicólogo Daniel Goleman diz que precisamos administrar nossa atenção para
melhorar nosso desempenho profissional -- e também de empresas

Toda vez que vem ao Brasil, Daniel Goleman diz que o país parece estar
envolvido em algum tipo de crise. A cada desembarque, a palavra está na
pauta do dia. Brincadeiras à parte, ele usou essa impressão para chamar
atenção do público no HSM Expomanagement nesta segunda-feira (9/11)
sobre seu atual campo de estudo: foco. O autor do best-seller Inteligência
Emocional afirma que o estresse é o inimigo do foco. Por estresse, entenda-
se tensões no ambiente corporativo e uma quantidade enorme de informações
que nos bombardeiam diariamente. E vale dizer: estamos perdendo dinheiro
por falta de foco. “Precisamos seradministradores da nossa atenção, não
vítimas da nossa inatenção”, diz Goleman.
O autor explica que há dois tipos de distração. Quando você está tentando
trabalhar em um café e há vozes ao redor das quais você precisa se desligar,
eis o tipo fácil de distração. O tipo difícil é a distração emocional. Há uma parte
do cérebro responsável por identificar ameaças. Ela nos ajudou a sobreviver e
chegar até aqui, mas é um problema nas organizações. A questão é que essa
parte do cérebro responde tanto a ameaças físicas quanto abstratas.

Se seu colega recebe uma promoção ou se você é um chefe tentando


sobreviver a uma crise, essa parte emocional “sequestra” o cérebro e, portanto,
o foco. Isso acaba com a nossa habilidade de pensar com clareza, aprender e
se adaptar. Além disso, quando estamos nesse “modo ameaçado”, a tendência
é tomar decisões mais automáticas e agressivas. Goleman justifica a atitude de
Mike Tyson ao arrancar as orelhas durante a luta com Holyfield como uma
situação de "sequestro emocional"

A inteligência emocional, afirma o psicólogo, é o que costuma diferenciar os


líderes das empresas. Além de entender como uma decisão tomada hoje vai
afetar a empresa amanhã, ele precisa gerenciar os funcionários para colocar
uma estratégia em prática. “A maior tarefa do líder é dirigir a atenção para onde
ela precisa ir”, afirma. Para isso, o líder precisa trabalhar três tipos de foco: em
si mesmo, nas pessoas com quem trabalha e no sistema que determina se a
empresa terá sucesso.

Ferramentas
Para os líderes, eis a dica: a neurociência já mostrou que o cérebro é capaz de
sentir a atitude da outra pessoa. Esse canal é extremamente importante na
hora de criar um ambiente de alto desempenho.

O líder é aquela pessoa na qual todo mundo presta atenção. Um estudo da


Universidade de Yale mostrou que se o líder estava de mau humor, as pessoas
entravam na “vibe” e tinha um desempenho pior. Quando ele estava de bom
humor, a influência era positiva. “Essa é a conversa silenciosa, que faz muita
diferença no desempenho. Os líderes precisam prestar atenção ao seu estado
emocional”.

Outra dica: se alguém for conversar com você, esqueça o celular, o email que
está entrando na caixa ou a televisão. Preste atenção no seu interlocutor e
somente nele.

Para treinar a concentração, Goleman sugere o uso da técnica de mindfulness.


Ela consiste em sentar-se em uma posição confortável e prestar atenção na
respiração, enquanto você inspira e expira. Sempre que sua mente tenta
divagar, você deve trazer a atenção de volta para a respiração. Quanto mais
você treina, mais fácil fica. É como se fosse uma musculação do foco.

Os alvos que ninguém vê


Ao final da palestra, Goleman falou sobre os objetivos que ninguém é capaz de
enxergar. Ele cita a história de Kobun Chino, o guia espiritual de Steve Jobs,
um excelente arqueiro. Ao se apresentar para um grupo na Califórnia, ele faz a
flecha passar longe do alvo -- ultrapassando a cerca e despencando no
Oceano Pacífico. O público se espanta, mas ele grita como se tivesse atingido
o alvo. E atingiu, mas não o alvo que todos estavam olhando.

O psicólogo faz o paralelo dos ensinamentos de Chino com a liderança de


Jobs: ele foi capaz de criar um mercado para produtos que ninguém via, como
o iPad. E isso foi essencial para o futuro da Apple. O mesmo acontece agora
com o Google, que criou a empresa Alphabet e mostra claramente que o site
de buscas é um produto de sucesso, mas que não será o único motor de
crescimento da companhia.

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