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ISSN 2177-3548

Teoria das Molduras Relacionais e Desfusão Cognitiva: Discussões e


direções para a pesquisa experimental
Relational Frame Theory and Cognitive Defusion: Discussions and
directions for experimental research
Teoria de los Marcos Relacionales y Defusion Cognitiva: Discussiones y
direcciones para la investigación experimental
Matheus H. S. Mello1, Paola E. M. Almeida1

[1] Pontifícia Universidade Católica, São Paulo | Título abreviado: Estudo experimental da desfusão cognitiva | Endereço para correspondência: Matheus H. S.
Mello, Laboratório de Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, Rua Bartira, 387, CEP 05009-000 – São Paulo – SP | Email: matheushsmello@gmail.
com | doi: 10.18761/PAC.2021.v12.RFT.15

Resumo: A Teoria das Moldura Relacionais (RFT) é uma abordagem analítico-comporta-


mental para o estudo do comportamento verbal. A Terapia da Aceitação e Compromisso
(ACT) é uma abordagem terapêutica filosoficamente fundamentada no contextualismo fun-
cional, e conceitualmente influenciada pela RFT e por princípios comportamentais básicos.
Apesar de dizer-se baseada na RFT, muitos conceitos e termos da ACT carecem de definições
e validação experimental conceitualmente consistentes. A ACT e a RFT fazem parte de um
movimento ainda maior, denominado Ciências Comportamentais Contextuais (CBS), que
propõe um modelo reticulado para a produção de conhecimento, no qual pesquisa básica e
aplicada evoluem independentemente, mas em continua interação. O presente artigo discute
os métodos de pesquisa adotada para definir, investigar e aproximar uma das principais téc-
nicas terapêuticas da ACT, nomeada pelo termo médio desfusão cognitiva, dos processos com-
portamentais básicos. Os problemas práticos e experimentais decorrentes destas estratégias
de investigação são analisados criticamente. Por fim, propõe-se novas direções e estratégias
experimentais para a investigação e definição da desfusão cognitiva.
Palavras-chave: Teoria das Molduras Relacionais; Terapia da Aceitação e Compromisso;
Desfusão Cognitiva; Análise Experimental do Comportamento

Revista Perspectivas 2021 Early View RFT Special Volume pp.105-124 105 www.revistaperspectivas.org
Abstract: Relational Frames Theory (RFT) is a behavioral-analytic approach for the study of
verbal behavior. Acceptance and Commitment Therapy (ACT) is a therapeutic philosophi-
cally based on functional contextualism, and conceptually influenced by RFT and basic be-
havioral principles. Despite it said to be based on the RFT, many ACT concepts and terms
lack conceptually consistent definitions and experimental validation. ACT and RFT are part
of an even larger movement, named Contextual Behavioral Sciences (CBS), which proposes
a reticulated model to produce knowledge, in which basic and applied research evolve inde-
pendently, but in continuous interaction. This article discusses the research methods adopted
to define, investigate and approximate one of the main therapeutic techniques of ACT, named
by the middle-level term cognitive defusion, of the basic behavioral processes. The practical
and experimental problems arising from these strategies of investigation are analyzed criti-
cally. Finally, new directions and experimental strategies are proposed for the investigation
and definition of cognitive defusion.
Keywords: Relational Frame Theory; Acceptance and Commitment Therapy; Cognitive
Defusion; Experimental Analysis of Behavior

Resumen: La Teoría de los Marcos Relacionales (RFT) es un enfoque analítico-compor-


tamental al estudio del comportamiento verbal. La Terapia de Aceptación y Compromiso
(ACT) es un abordaje terapéutico basado filósoficamente en el contextualismo funcional y
conceptualmente influenciado en RFT y principios básicos de comportamiento. Aunque se
disse que se basa en la RFT, muchos conceptos y términos de la ACT carecen de definicio-
nes y validación experimental consistentes conceptualmente. La ACT y la RFT hacen parte
de un movimiento aún más grande, la llamada Ciencia Conductual Contextual (CBS), que
propone un modelo reticulado para la producción de conocimiento, en la cual investigación
básica y aplicada evolucionan de modo independiente, pero en una interacción continua. El
presente artículo discute los métodos de investigación adoptados para definir, investigar y
aproximar una de las principales técnicas terapéuticas del ACT denominada por el término
medio defusión cognitiva, a los procesos comportamentales básicos. Los problemas prácticos
y experimentales que surgen de estas estrategias de investigación son analizados críticamente.
Por último, se proponen nuevas direcciones y estrategias experimentales para la investigación
y definición de la defusión cognitiva.
Palabras clave: Teoría de los Marcos Relacionales; Terapia Aceptación y Compromiso;
Difusión Cognitiva; Analisis Experimental de la Conducta

O presente artigo foi realizado com total apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).

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A Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame que podem ser aplicadas a quaisquer conjuntos
Theory – RFT) é uma proposta comportamental de eventos, mesmo aqueles que não apresentam as
contemporânea para o estudo do comportamento propriedades físicas definidoras da relação (Hayes
verbal (Hayes, Barnes-Holmes & Roche, 2001). Para et al., 2001). No presente caso, os diferentes tama-
a RFT, os fenômenos comumente descritos como lin- nhos de objetos. É nesse sentido que o responder
guagem e cognição abrangem eventos comportamen- relacional se torna arbitrariamente aplicável (Hayes
tais que podem ser explicados a partir do conceito et al., 2001; Perez, Nico, Kovac, Fidalgo & Leonardi,
de Responder Relacional Arbitrariamente Aplicável 2013). Por exemplo, ao assistir um filme de heróis
(RRAA), um operante generalizado contextualmen- em que os personagens apresentam a mesma estatu-
te controlado. Em virtude da complexidade e den- ra, um pai diz ao filho que “o batman é maior do que
sidade desta proposta teórica, cuja compreensão é o super-homem”. Posteriormente, ao ser questiona-
imprescindível para as discussões levantadas no pre- do qual é o maior entre ambos os heróis, a criança
sente artigo, é importante deixar claro os princípios pode prontamente se orientar para batman. Aqui, a
fundamentais da RFT. dica maior que foi empregada arbitrariamente pelo
O termo responder relacional diz respeito a um pai com base em convenções sociais, visto que os
comportamento operante sob controle de relações personagens não apresentam características defini-
entre eventos ambientais. Para que este tipo de doras deste tipo de relação; para a criança, esta dica
controle se estabeleça, é necessário um Treino de contextual foi a variável ambiental responsável por
Múltiplos Exemplares, que envolve o reforçamento controlar o estabelecimento, no seu repertório, de
de respostas à propriedades relacionais específi- uma relação de comparação arbitrária entre ambos
cas, presentes na relação entre diferentes conjun- os personagens. Em outras palavras, o padrão de
tos de estímulos. Por exemplo, é possível reforçar responder relacional contextualmente controlado
a resposta de uma criança de apontar ao maior de de comparação foi arbitrariamente aplicado à um
diferentes pares de objetos sempre que um adulto conjunto de estímulos, independente das suas ca-
demanda que escolha o maior. Após um histórico racterísticas formais.
de reforçamento consistente desse tipo, a criança Segundo Hayes et al. (2001), a comunidade
pode apontar para o maior de um conjunto com- verbal sustenta contingências que consistentemen-
pletamente novo de objetos assim que solicitado, te evocam e fortalecem respostas relacionais arbi-
indicando que o seu responder ficou sob controle trárias tanto unidirecionais (e.g. palavra→objeto)
da relação “maior que” – uma propriedade que não quanto bidirecionais (e.g. objeto→palavra) aos mais
existe isoladamente, mas apenas enquanto parte de diversos eventos ambientais. Em virtude do treino
relações entre eventos. direto deste responder bidirecional à inúmeros es-
O comportamento exemplificado acima ainda tímulos, respostas relacionais bidirecionais podem
não é o foco da RFT, pois trata-se um responder re- ser derivadas, sem reforçamento explicito, a partir
lacional não-arbitrário, uma vez que os anteceden- do treino de respostas unidirecionais à novos con-
tes controladores consistem em relações formais juntos de estímulos. O produto desse histórico de
entre estímulo. Dada a exposição às contingências reforçamento não é apenas o fortalecimento de ins-
adequadas, respostas relacionais podem ficar sob tâncias específicas de respostas relacionais, mas sim
controle discriminativo de outras variáveis am- do operante generalizado de responder a relações
bientais presentes ao longo da história de reforça- arbitrárias entre eventos (RRAA) sem treino explí-
mento, cunhadas de dicas contextuais, de tal forma cito (Hayes et al., 2001; Perez et al., 2013).
que a sua ocorrência deixa de depender unicamente O RRAA é definido pelas propriedades con-
das propriedades formais de conjuntos de estímu- textualmente controladas de (i) implicação mútua
los. No exemplo anterior, maior que pode adquirir (se A está relacionado com B, implica-se que B
controle contextual sobre o responder à esse tipo está mutuamente relacionado com A), (ii) implica-
de relação de comparação. Uma vez estabelecido o ção combinatória (as relações mútuas A-B e B-C
controle contextual, as dicas contextuais podem ser podem ser combinadas, implicando uma terceira
utilizadas para se estabelecer relações arbitrárias, relação mútua A-C), e (iii) transformação de fun-

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ção (as funções comportamentais de estímulos são portamento de “emoldurar estímulos relacional-
modificadas de acordo com as relações das quais mente” (Hayes et al., 2001, p. 45, tradução nossa).
participam). No que diz respeito à sua regulação No mesmo sentido, estímulos verbais são entendi-
ambiental, o RRAA é sensível a duas formas de dos como estímulos cujas funções comportamen-
controle antecedente, descritas como contexto re- tais foram derivadas em virtude da sua participação
lacional e contexto funcional. Por contexto relacio- em molduras relacionais (Hayes et al., 2001).
nal entende-se as variáveis controladoras do tipo A RFT permite, assim, explicar de que manei-
de relação estabelecida entre eventos; por exemplo, ra eventos ambientais adquirem indiretamente
em “Sócrates é maior que Platão”, a palavra maior funções comportamentais, independente de ex-
que controla o estabelecimento de uma relação de posição direta às contingências operantes ou res-
comparação arbitrárias entre Sócrates e Platão. Por pondentes: enquanto contextos relacionais podem
outro lado, o contexto funcional se refere ao con- controlar o estabelecimento e derivação de novas
trole contextual sobre a transformação de função relações mútuas e combinatórias entre estímulos,
entre estímulos. Por exemplo, em “imagine a tem- contextos funcionais podem controlar a aquisição
peratura de sorvete”, a palavra sorvete está relacio- de diferentes funções por estes estímulos, em con-
nada ao alimento em si, mas não compartilha de formidade com a natureza das relações que partici-
todas as suas funções evocativas – e.g. a resposta de pam (Blackledge & Drake, 2013; Hayes et al, 2001;
morder ocorre frente ao alimento, mas não à pala- Hayes et al., 2012a). A RFT é, portanto, um ins-
vra. O enunciado imagine a temperatura seria um trumento teórico promissor para a investigação de
contexto responsável por selecionar a transforma- aspectos singulares do ser humano, principalmen-
ção das funções táteis do alimento para a palavra – te daqueles envolvidos no comportamento verbal,
sensação térmica, e não outras (Hayes et al., 2001; como a possibilidade de responder à estímulos
Hayes, Strosahl & Wilson, 2012a ). Nota-se assim sem nunca tê-los experienciados anteriormente, o
que a relação estabelecida entre estímulos depende fenômeno da insensibilidade às contingências de
do tipo de contexto relacional, enquanto as funções reforçamento e o treino necessário para que o ou-
transformadas a partir destas relações depende do vinte compreenda e responda ao comportamento
contexto funcional em vigor. do falante (Hayes et al., 2001).
O termo “Moldura Relacional” foi empregado Sob influência da RFT, a Terapia da Aceitação
para descrever padrões específicos deste operante e Compromisso (Acceptance and Commitment
generalizado pois, metaforicamente, assim como Therapy – ACT) concebe que o sofrimento psico-
uma moldura pode ser aplicada a diferentes pintu- lógico tem como uma das principais fontes o con-
ras, uma resposta relacional sob controle contextual trole do comportamento por funções de estímulos
pode ser aplicada a diferentes conjuntos de estímu- derivadas (Blackledge & Drake, 2013; Hayes et al.,
los. Molduras Relacionais, portanto, são as diferen- 2012a). Conforme a concepção de psicopatologia
tes classes de respostas relacionais arbitrárias, defi- da ACT, a função aversiva de muitos estímulos,
nidas pelas variáveis contextuais que as controlam. públicos e privados, pode ter sido adquirida não
Estas classes envolvem relações de coordenação só via experiência direta, mas também derivada
(e.g. igual a), oposição (e.g. contrário de), distinção de relações complexas e extensas, estabelecidas
(e.g. diferente de), comparação (e.g. maior que), hie- verbalmente com outros estímulos. As funções de
rárquicas (e.g. parte de), temporalidade (e.g. antes estímulo aversivas derivadas poderiam sobrepor
de), espacialidade (e.g. acima de), condicionalidade outras fontes de controle ambiental, fortalecendo
(e.g. Se...Então), e relações dêiticas (e.g. Aqui-Lá) repertórios de esquiva generalizadas – que, por sua
entre estímulos (Hayes et al., 2001). vez, implicaria no distanciamento de reforçadores
Em resumo, o RRAA é um operante generali- positivos importantes ao indivíduo, potencializan-
zado, enquanto molduras relacionais são os padrões do o sofrimento individual. Nesse sentido, o mo-
específicos deste operante. Acrescenta-se ainda que, delo de tratamento adotado pela ACT envolve, de
conforme a proposta da RFT, o conceito de compor- maneira geral, intervenções direcionadas à (i) redu-
tamento verbal passa a ser definido como o com- zir o controle problemático por funções derivadas

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sobre o comportamento, (ii) fortalecer o controle devido à distância da pesquisa básica e de técnicas
por regras que descrevem reforçadores relevantes de investigação precisas, está mais sujeito à adoção
ao cliente, e (iii) construir repertórios consistentes de explicações confusas e imprecisa, e cuja efeti-
com estas regras (Blackledge & Drake, 2013; Hayes vidade ainda merece ser testada (Barnes-Holmes,
et al., 2012a). Conforme o modelo atual da ACT, Hussey, McEnteggart, Barnes-Holmes & Foody,
suas intervenções são divididas em seis compo- 2016; Hayes et al., 2012b). Como uma alternativa
nentes: aceitação, desfusão cognitiva, contato com a ambas as estratégias, a CBS propõe a adoção do
o momento presente, self-como-contexto, valores, denominado modelo reticulado – o qual, por sua
e ações comprometidas (Blackledge e Drake, 2013; vez, encoraja tanto a continua produção no domí-
Hayes et al., 2012a). nio aplicado, independente da ausência de respaldo
conceitual e empírico para tecnologias desenvolvi-
das, quanto no domínio básico, independente de
RFT e Ciências Comportamentais utilidade aplicada imediata. Concomitantemente
Contextuais: Propostas e desafios ao desenvolvimento individual, encoraja-se esfor-
para o desenvolvimento da área ços na integração e aprimoramento mútuo entre
ambos os domínios (Barnes-Holmes et al., 2016;
Além das relações teóricas e práticas discutidas, a Levin et al., 2016).
RFT e a ACT integram um campo da ciência ain- Adicionalmente, a ciência proposta pela CBS
da maior, denominado Ciência Comportamental evolve a adoção dos chamados termos médios (e.g.
Contextual (Contextual Behavioral Science – CBS). fusão cognitiva, aceitação, self-conceitual): termos
A CBS define-se como uma estratégia para o desen- com (i) um menor grau de precisão, (ii) baseados
volvimento científico e prático das ciências com- em princípios básicos, que descrevem (iii) con-
portamentais, tendo como fundamento filosófico o juntos de relações funcionais, e que (iv) orientam
contextualismo funcional (Hayes, Barnes-Holmes, a aplicação de técnicas específicas (Hayes et al.,
& Wilson, 2012b; Levin, Twohig, & Smith, 2016 ). 2012b). Todos os componentes da ACT são des-
Apesar das influências iniciais do behaviorismo critos por conceitos desta natureza. A utilização de
radical, os proponentes da CBS argumentam que uma terminologia de nível médio, defendem Hayes
o movimento possui características próprias, como et al. (2012b), é uma prática considerada adequa-
a grande ênfase no estudo de processos verbais, da e encorajada pela CBS, pois, além de alinhada
pesquisa básica com participante humanos e visão à proposta de uma estratégia reticulada, o menor
contextualista do comportamento. Essas carac- grau de precisão conceitual dos termos médios se-
terísticas, argumentam seus proponentes, seriam ria compensado pelo valor pragmático em orientar
diferentes às da Análise do Comportamento – o a prática de terapeutas pouco familiarizados com
suficiente para justificar uma cisão e a constituição princípios comportamentais básicos. Os termos
de uma ciência independente (Hayes et al., 2012b). médios, portanto, permitiriam que terapeutas apli-
Tal separação envolveria ainda a adoção de uma quem técnicas e produzam mudança de compor-
forma de interação diferente entre os domínios de tamento, mesmo que não compreendam concei-
pesquisa básica e aplicada descritos como estraté- tos básicos da ciência que respalda as técnicas que
gias top-down e bottom-up. As estratégias bottom- aplicam (Barnes-Holmes et al., 2016; Hayes et al.,
-up permitem o desenvolvimento de conceitos 2012b; Levin et al., 2016).
mais precisos e com maior grau de rigor conceitual Uma vez que a estratégia reticulada encoraja a
construído a partir de dados resultantes da pesqui- interação constante entre os diferentes domínios, a
sa básica; por outro lado, a sua evolução é lenta e utilização de termos médios pela ACT – dimensão
muitas vezes distante de fenômenos clinicamente aplicada – traria a necessidade investigações expe-
relevantes. Já a estratégia top-down envolve uma rimentais e conceituais direcionadas à refinar a pre-
maior ênfase em fenômenos complexos, permitin- cisão destes termos – dimensão básica. Da mesma
do o desenvolvimento de tecnologias e conceitos forma, desenvolvimentos empíricos da RFT contri-
para lidar com as demandas clínicas; entretanto, buiriam com a criação de novas técnicas clínicas

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e derivação de novos conjuntos de termos médios oriente adequadamente o comportamento do cien-


(Barnes-Holmes et al., 2016; Hayes et al., 2012b; tista, é necessário que a comunidade verbal defina
Levin et al., 2016). precisamente à quais fenômenos do mundo este
Apesar do modelo reticulado incentivar uma conceito se refere – e tal precisão descritiva pode
interação constante entre os diferentes níveis de ser obtida através do rigoroso escrutínio experi-
análise, a produção científica aos moldes da CBS mental. Afinal, um dos compromissos primordiais
tem progredido de maneira desigual entre as di- da pesquisa básica diz respeito à manipulação de
mensões básica, conceitual e prática da produção variáveis para a verificação de relações funcionais
de conhecimento. Alguns autores chamam atenção entre eventos; e, a partir da observação cuidadosa e
ao fato de que a crescente produção de dados de sistemática dessas relações, é possível atribuir pre-
eficácia e disseminação dos procedimentos da ACT cisamente termos descritivos para as suas dimen-
não foi acompanhada por um progresso semelhante sões e propriedades.
no campo da pesquisa empírica, principalmente no Nessa direção teórica, o distanciamento – de-
que diz respeito à investigação dos processos bási- corrente da estratégia reticulada – entre a utiliza-
cos envolvidos em comportamentos e intervenções ção de um termo médio e a investigação empírica
clinicamente relevantes, de tal maneira que muitos necessária para esclarecer à quais processos com-
dos aspectos abrangidos pelos termos médios ainda portamentais o termo se refere implica em impreci-
exigem o escrutínio experimental e rigor conceitual sões conceituais. Precisamente, o problema não é o
ideal (Blackledge & Drake, 2013; Dymond, Roche termo médio, mas sim a falta de clareza em relação
& Bennet, 2013; Levin & Villatte, 2016). Parte deste aos procedimentos, processos, resultados ou rela-
cenário pode ser atribuído ao fato de que ACT não ções funcionais aos quais o termo se refere (Assaz,
se constitui como uma derivação direta da RFT: Roche, Kanter & Oshiro, 2018; Barnes-Holmes et
o desenvolvimento de ambos é melhor entendi- al., 2016). Uma vez que o conceito se torna impre-
do como um processo de coevolução e influência ciso, o seu valor pragmático é reduzido: tanto para
mútua. Isto é, ao mesmo tempo que ocorriam os o pesquisador básico, que encontrará dificuldades
refinamentos conceituais e validação experimental em delinear experimentos com base no conceito,
dos princípios básicos da RFT, os conceitos da ACT quanto para o praticante, que encontrará dificulda-
eram ampliados e explicados teoricamente de acor- des em identificar e manipular as variáveis descritas
do com a RFT – uma teoria ainda em construção. pelo termo no setting clínico. Visto isso, é de grande
Com efeito, este processo pode ser entendido como relevância teórica e prática que pesquisadores em-
uma forma de reticulação entre prática aplicada e preendam esforços direcionadas em esclarecer quais
pesquisas teórico-experimentais; como resulta- são as relações funcionais e procedimentos descri-
do, os numerosos e frequentes termos médios que tos pelos termos médios. Tais esforços permitiriam
compõe o vocabulário da ACT ainda se encontram modificar, manter ou eliminar completamente tais
distantes do completo respaldo teórico na RFT. termos a depender da sua funcionalidade.
Ainda além, Barnes-Holmes et al. (2016) consi- Historicamente, a desfusão cognitiva é um dos
deram problemática a assumida funcionalidade dos componentes centrais da ACT e, enquanto termo
termos médios, visto que “os próprios termos não médio, está sujeita às problemáticas discutidas
parecem aderir ao critério de verdade filosófica de acima (Blackledge & Drake, 2013; Zettle, 2011).
precisão e influência que orienta o contextualismo Através de uma discussão metodológica, o presente
funcional.” (p. 366, tradução nossa). artigo tem como objetivo abordar (i) de que manei-
Com efeito, a funcionalidade de um termo ra pesquisadores têm buscado definir, investigar e
está diretamente ligada à sua precisão e à forma aproximar o termo médio desfusão cognitiva e os
de investigação a partir da qual é extraído. O va- processos comportamentais básicos relacionados a
lor pragmático de um conceito, postulou Skinner este conceito, (ii) os problemas práticos e experi-
(1945/1972), reside na medida em que a sua uti- mentais decorrentes destas formas de investigação,
lização permite ao cientista proceder efetivamente e, por fim, (iii) propor rumos mais adequados para
sobre o fenômeno de interesse. Para que o conceito o estudo deste conceito.

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Desfusão Cognitiva: Intepretação e ciar as variáveis responsáveis pela mudança com-


experimentação portamental (dimensão analítica) e relacioná-las
aos conceitos da área de maneira conceitualmente
Desde a origem da ACT às investigações recentes, consistente (dimensão conceitual). O desafio em
pesquisadores têm se engajado em tentativas de es- responder ao “por quê” da possível efetividade de
clarecer quais são os processos comportamentais tratamentos clínicos (Barnes-Holmes et al., 2016)
básicos envolvidos nos procedimentos e fenômenos permanece uma questão contemporânea pois, apa-
descritos por termos médios. Em relação à desfu- rentemente, não foi satisfatoriamente respondida.
são cognitiva, tal aproximação permitiria elucidar O afastamento dos princípios filosófi-
confusões conceituais, a identificar quais são, exa- cos, conceituais e metodológicos da Análise do
tamente, os processos responsáveis pela mudança Comportamento, parecem ser elementos que con-
comportamental promovida por estas estratégias, tribuíram para que a ACT ainda enfrente dilemas
bem como evitar a atribuição de diversos procedi- persistentes: seus vários procedimentos e técnicas,
mentos e processos a um mesmo termo (Assaz et supostamente eficazes na produção de mudanças
al., 2018; Barnes-Holmes et al., 2016; Levin et al., clínicas, ainda que interpretados por princípios
2016). comportamentais e influenciados pela RFT, teriam
Com efeito, identificar os processos compor- mecanismos através dos quais operam ainda obs-
tamentais responsáveis pela efetividade das es- curos (Almeida, Guedes & Santos, 2020; Barnes-
tratégias referidas pelos termos médios têm sido Holmes et al., 2016).
considerada uma tendência atual pelos próprios A questão contemporânea de identificar os
proponentes da CBS: processos comportamentais básicos, envolvidos
nos procedimentos da ACT, principalmente aque-
“A questão contemporânea para a psicologia clí- les descritos pela RFT, portanto, alinham-se à pre-
nica não é mais apena se se um tratamento é efe- ocupação behaviorista radical em esclarecer con-
tivo, mas sim o que o torna efetivo. Responder ceitualmente os processos básicos envolvidos em
o “por quê” se mostrou muito mais desafiador intervenções efetivas, e submetê-los à investigação
do que responder “o quê”, geralmente abordado experimental. Para os propósitos do presente arti-
pelas pesquisas de resultado” (Barnes-Holmes go, duas das principais tentativas de investigação
et al. 2016, p. 367, tradução nossa) dos princípios básicos envolvidos na desfusão cog-
nitiva serão discutidas: (i) a análise interpretativa e
A buscar por estas respostas parece ser uma (ii) a análise experimental.
preocupação de longa data da tradição comporta-
mental, presente desde os esforços iniciais em se
utilizar de teorias da aprendizagem para a constru- Investigação Interpretativa
ção de práticas terapêuticas. Por exemplo, Kazdin
(1978) ao discutir questões, recentes à época, a res- Historicamente, a desfusão cognitiva originou-
peito da técnica de dessensibilização sistemática, -se quando a técnica cognitiva do distanciamento
um dos componentes centrais da então incipiente cognitivo foi apropriada por terapeutas compor-
Terapia Comportamental, comenta: “Devido à efi- tamentais, e então reinterpretada conforme os
cácia da dessensibilização ter sido bem estabeleci- princípios analítico-comportamentais sob o títu-
do, uma questão maior não é o poder da técnica, lo de distanciamento compreensivo (Blackledge &
mas os mecanismos através dos quais ela opera.” Drake, 2013; Zettle, 2011). Conforme Blackledge
(p. 214, tradução nossa). Sob controle das mesmas e Drake (2013), esta interpretação inicial propu-
preocupações, Baer, Wolf e Risley (1968), ao de- nha que determinadas contingências fortaleciam a
linear as setes dimensões de um estudo aplicado, formulação e seguimento rígido de regras, e para
postulam a necessidade de descrever precisamente enfraquecer o controle verbal, a estratégia do dis-
os procedimentos (dimensão tecnológica), eviden- tanciamento compreensivo consistia em estabelecer
contingências que aumentavam a probabilidade de

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ocorrência de comportamentos inconsistentes com ções que controlam o responder relacional em


regras. Posteriormente, com a produção de estudos geral[...] em momento em que condições como
de eficácia (Zettle & Hayes, 1986), bem como de estas são deslocadas, acredita-se que ocorra a
pesquisas básicas da RFT, a técnica foi novamente interrupção das transformações de funções ver-
reinterpretada nos termos do responder relacional bais estabelecidas por meio da fusão. (pp. 49-50,
arbitrariamente aplicável. tradução nossa).
Considerando que o RRAA está sujeito ao
controle por contextos funcionais, de acordo com Similarmente, Blackledge (2007) afirma que
Blackledge (2003), as inúmeras variáveis contro- fusão cognitiva se refere aos contextos nos quais
ladoras da transformação de função entre eventos transformações verbais de funções de estímulos es-
relacionados passam a constituir o denominado tão prontamente ocorrendo, enquanto desfusão cog-
contexto de literalidade. Nas palavras do autor, “O nitiva se refere aos contextos nos quais estas trans-
contexto de literalidade se refere ao suporte contí- formações verbais são, ao menos temporariamente,
nuo, no formato do reforçamento diferencial for- interrompidas.” (p.557, tradução nossa). Dito de
necido pela comunidade sócio verbal, para a trans- outra forma, a desfusão seria uma forma de “violar
formação de funções de estímulos que ocorrem os parâmetros de uso da linguagem” (Blackledge,
durante o responder relacional derivado arbitra- 2007, p. 562, tradução nossa), de maneira que as
riamente aplicável.” (p. 431, tradução nossa). Nesse palavras percam seu controle sobre o comporta-
sentido, o contexto de literalidade, responsável pelo mento subsequente. Uma vez que a transformação
controle da transformação de função, envolveria as de função é interrompida, a desfusão cognitiva
mais diversas contingências sociais sob as quais o permitiria que funções diretas de estímulos exer-
responder à funções derivadas é consistentemente çam controle sobre o responder. Salienta-se que a
reforçado. Entre as variáveis que compõe este con- proposta de Blackledge (2007) é uma entre muitas
texto, Blackledge (2007) aponta características lin- interpretações baseadas nos conceitos básicos da
guísticas como estruturas gramaticais e sintáticas, RFT a respeito da desfusão cognitiva. Tal será a de-
o uso de determinadas palavras para especificar e finição sustentada ao longo do artigo.
relacionar estímulos, e a velocidade e estilo de fala Aqui, é importante deixar clara a distinção en-
típico de uma cultura. tre procedimento, processo e resultado. O termo
Em virtude da pervasividade deste contexto, procedimento refere-se à manipulações ambien-
a transformação de função de estímulos ocorre tais – em termos experimentais, à mudanças na
continuamente e em alta frequência, de tal forma variável independente; o processo, diz respeito à
que comportamentos podem passar a ocorrer sob mudanças no responder produzidas pelo procedi-
rígido controle de funções verbalmente adquiridas mento; por fim, resultado diz respeito à estabiliza-
pelos mais diversos eventos ambientais. Na termi- ção do responder decorrente do processo (Assaz et
nologia da ACT, este controle rígido do comporta- al., 2018; Barnes-Holmes et al., 2016). Nesse sen-
mento por funções derivadas é denominado fusão tido, conforme ambas definições, compreende-se
cognitiva (Blackledge, 2007; Blackledge & Barnes- que, tecnicamente, a desfusão cognitiva envolveria
Holmes, 2009; Hayes et al., 2012a). o (i) procedimento de manipulação (deslocamen-
Partindo de tais premissas, muitas reconceitu- to, interrupção ou enfraquecimento) de condições
alizações da desfusão cognitiva foram propostas contextuais responsáveis pela transformação de
em conformidade com o referencial da RFT. Entre função de estímulos, de tal maneira que seguir-se-
as tantas definições, destaca-se a de Blackledge e -ia (ii) o processo de interrupção ou atenuação da
Barnes-Holmes (2009), segundo a qual a desfusão transformação de função entre estímulos relacio-
cognitiva é entendida como nados, gerando, como (iii) resultado a diminuição
de comportamentos controlados por funções deri-
um processo no qual as transformações de es- vadas. Portanto, o termo médio “desfusão cogniti-
tímulos verbais bem estabelecidos são inter- va” estaria se referindo à relações funcionais entre
rompidas através do deslocamento de condi- organismo e ambiente teorizadas pela RFT.

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Esta interpretação sustenta-se em estudos ex- mentos e observador, envolveriam o procedimento


perimentais que demonstraram o controle con- de alteração dos contextos nos quais o responder à
textual sobre a transformação de função de estí- relações ocorrem. Curiosamente, apenas o último
mulos (Barnes, Browne, Smeets, & Roche, 1995; conjunto de técnicas corresponderia ao procedi-
Roche, Barnes-Holmes, Smeets, Barnes-Holmes, mento que define a desfusão cognitiva conforme
& McGeady, 2000; Perez, Fidalgo, Kovac, & Nico, teorização de Blackledge e Barnes-Holmes (2009)
2015). Todos os estudos mostraram claramente que em termos da RFT.
funções de estímulos específicas – e.g. reforçadores, Considerando tal percurso, pode-se afirmar
eliciativas, evocativas – podem ser transformadas que a relação entre o termo médio desfusão cogniti-
de acordo com a manipulação de variáveis con- va, e os processos comportamentais descritos pela
textuais específicas. Os dados atualmente disponí- RFT foi, tanto em sua origem quanto em sua con-
veis validam a possibilidade de alterar a transfor- cepção atual, estabelecida via análise interpretativa.
mação de função através de variáveis contextuais Para a análise do comportamento, a interpretação é
(Dougher, Perkins, Greenway, Koons & Chiasson, uma forma legítima de produção de conhecimento,
2002; Gomes et al., 2019), mas não especificamente uma vez que envolve à utilização de conceitos ex-
a interrupção deste processo via manipulação das traídos da pesquisa empírica para a explicação de
mesmas condições contextuais (de Rose, 1993). Há, fenômenos cuja complexidade impede a investiga-
portanto, um descompasso entre a interpretação do ção experimental (Donahoe, 1993). Ainda assim,
termo médio desfusão e os dados experimentais sob uma interpretação para a desfusão cognitiva nos
os quais a interpretação foi construída. termos da RFT não é suficiente para preencher a
Adicionalmente, ainda que as definições discu- lacuna existente entre termos médios, os procedi-
tidas acima proponham a interrupção ou atenuação mentos por eles nomeados e a pesquisa básica: defi-
de transformação de função como o processo en- nições de conceitos construídas dessa forma devem
volvido na desfusão cognitiva, é relevante apontar ser consideradas com cautela em razão do risco de
que ainda não há clareza a respeito dos processos constituírem extrapolações dos dados experimen-
comportamentais através dos quais as várias estra- tais – tal parece ser o caso da definição dada por
tégias clínicas de desfusão atuam. Em uma análise Blackledge e Barnes-Holmes (2009) e os estudos
conceitual de técnicas de desfusão cognitiva, Assaz sobre os quais se baseia.
et al. (2018) concluíram que a redução de respos- As conclusões de Assaz et al. (2018) deixam cla-
tas sob controle de funções derivadas, enquanto ro o nível de imprecisão conceitual e discrepância
resultado comportamental, poderia ser produzi- entre teoria e prática resultantes da estratégia re-
do mediante diferentes procedimentos, e que cada ticulada de produção de conhecimento defendida
qual opera através de diferentes processos compor- por Hayes et al. (2012b). Conforme a proposta da
tamentais. Conforme a intepretação dos autores, CBS, investigação aplicada, conceitual e experimen-
exercícios de repetição ou manipulação de palavras tal, bem como a reticulação entre estes domínios,
envolveria o procedimento de exposição, produzin- são igualmente relevantes, e não se deve pressupor
do mudanças comportamentais através dos proces- a primazia de um sobre o outro. Alinhado a esta
sos de extinção respondente ou contra condiciona- proposta, as contribuições de Assaz et al. (2018) fa-
mento; intervenções que visam romper a relação vorecem o diálogo entre dimensão aplicada e con-
de causalidade entre pensamentos (eventos ver- ceitual; entretanto, a reticulação destes domínios
bais) e ações, expondo o cliente a eventos privados com a investigação experimental ainda carece de
e evocando respostas alternativas, corresponderia esforços adicionais.
a um procedimento de reforçamento de respostas Ainda no que tange à interpretação, Barnes-
alternativas (DRA) e ao processo de reforçamen- Holmes et al. (2016) denunciam que é cada vez
to diferencial; por fim, exercícios que envolvem maior a prática de utilizar princípios bem estabele-
(i) recontextualizar pensamentos enquanto meras cidos da RFT para “traduzir” termos médios, práti-
narrativas e metáforas, e (ii) estabelecer relações de ca esta considerada insuficiente para uma adequada
perspectiva espacialmente distantes entre pensa- análise do responder relacional. Apesar destas in-

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terpretações aparentarem coerência com a termi- capaz de relacionar as variáveis independentes ma-
nologia básica, argumentam os autores, não con- nipuladas aos conceitos básicos (Guilhardi, 2002;
duzem, necessariamente, à análises experimentais Michael, 1980). Problemas práticos decorrentes
do responder relacional. Por exemplo, até o presen- de imprecisões conceituais já foram denunciadas
te momento, não existe nenhuma pesquisa básica por autores contemporâneos. Barnes-Holmes et
análoga que reproduza e permita observar direta- al. (2016) apontam para uma frequente confusão
mente o responder relacional descrito na definição por parte de praticantes de ACT em relação à di-
de desfusão cognitiva discutida acima. Conforme ferenciação da desfusão enquanto procedimento,
será discutido à diante, existem pesquisas dedi- processo e resultado. Um exemplo de circularida-
cadas à verificação experimental de estratégias de de decorrente dessa confusão seria o caso em que
desfusão sem, entretanto, possibilitar a reprodução um clínico identifica que o cliente se encontra “fu-
de relações sistemáticas entre responder relacional sionado” com pensamentos negativos, e, portanto,
e manipulações contextuais alinhadas a conceitu- utiliza técnicas de desfusão (procedimentos) para
alização da estratégia. As definições de Blackledge ativar o processo de desfusão e então produzir
e Barnes-Holmes (2009), embora coerente com um repertório desfusionado (resultado). Uma vez
os princípios da RFT, parece não ter despertado a que um mesmo termo é utilizado para se referir
curiosidade de pesquisadores básicos em delinear a diferentes fenômenos, a descrição do que é ma-
experimentos capazes de validar empiricamente o nipulado e o que é modificado perde a coerência
conceito. É nesse sentido que Barnes-Holmes et al. conceitual e assume a circularidade. Definir pre-
(2016) defendem o posicionamento de que a evolu- cisamente, em conformidade com o jargão teórico
ção de uma ciência não pode se basear unicamente e experimental adotado, à quais processos, proce-
em interpretações dos fenômenos clínicos descritos dimento ou resultados um termo médio se refere
por termos médios através de outros termos funcio- é de relevância prática – e a pesquisa básica é um
nalmente precisos: “Interpretações da RFT que per- caminho para cumprir esta tarefa.
manecem nada além de interpretações, têm pouco Levin e Villatte (2016) apontam para duas di-
mais a oferecer do que confiar exclusivamente em reções tomadas pelos estudos de laboratório, con-
termos médios RFT.” (p. 377, tradução nossa). Em forme orientados pela proposta da CBS, voltados
resumo, ainda que a interpretação possibilite uma à aproximação entre termos médios e processos
definição do conceito utilizado pelo cientista de comportamentais básicos.
maneira coerente com os princípios básicos, a dis- Em primeiro lugar, encontram-se as pesquisas
tância entre dados experimentais e os termos mé- dedicadas à verificar, em contexto experimental, se
dios permanece. estratégias de intervenção que compõe o modelo da
ACT apresentam efeitos consistentes com o modelo
teórico subjacente. Estudos dessa natureza podem
Investigação Experimental ser entendidos como uma aproximação entre as di-
mensões aplicada e experimental de produção de
Voltar a atenção à pesquisa básica afim de esclare- conhecimento. De maneira geral, o delineamen-
cer empírica e conceitualmente a qual fenômeno to destas pesquisas envolve seleção e aplicação de
os termos médios se referem não se limita a uma componentes terapêuticos isolados ou em combi-
preocupação puramente teórica. Confusão na teo- nações específicas, e a verificação dos seus efeitos
ria, afirma Skinner (1953/2003), implica em con- sobre (i) comportamentos clinicamente relevantes,
fusão na prática, e as confusões conceituais por quando mais próximas do continuum aplicado, ou
parte dos praticantes prejudicam ainda mais o de- sobre (ii) análogos clínicos ou medidas de proces-
senvolvimento de novas aplicações tecnológicas. sos, quando mais próximas do continuum básico
Por exemplo, o praticante pode utilizar-se de um – estes, têm sido denominados, na literatura, de
procedimento efetivo em produzir mudança com- análogos experimentais.
portamental; entretanto, a generalidade dos resul- A literatura conta com uma grande variedade
tados é comprometida quando o terapeuta não é de produções de pesquisas análogas, vinculadas

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à investigação da conexão entre RFT e estratégias de de pensamentos) do procedimento; através de


da ACT, como a desfusão cognitiva (Donati et al., tratamentos estatísticos, considera-se que as mu-
2019; Ferroni-Bast, Fitzpatrick, Stewart & Goyos, danças em uma medida de processo são as respon-
2019; Gil-Luciano, Ruiz, Valdivia-Salas & Suárez- sáveis pelas mudanças nas medidas de resultado. A
Falcón, 2017; Kishita, Muto, Ohtsuki & Barnes- utilização dessas formas de mensuração também é
Holmes, 2014; López-López & Luciano, 2007; insuficiente, uma vez que medidas psicométricas de
Luciano et al., 2014; Masuda, Hayes, Sackett & processos não descrevem precisamente processos
Twohig, 2004), aceitação (Keogh, Bond, Haner & funcionais, não permitem uma observação direta
Tilson, 2005; Mcmullen, Barnes-Holmes, Barnes- do responder relacional, e as conclusões perma-
Holmes, Stewart & Cochrane, 2007) e promoção necem correlacionais e interpretativas (Dymond
de self contextual (Foody, Barnes-Holmes, Barnes- et al, 2013; Barnes-Holmes et al., 2016; Levin &
Holmes, Rai & Luciano, 2013; Foody, Barnes- Villatte, 2016); nas palavras de Barnes-Holmes
Holmes, Barnes-Holmes, Rai & Luciano, 2015). et al. (2016), estes inventários não são capazes de
Apesar da variedade de estudos, para os propósitos mensurar mudanças no responder relacional, mas
do presente trabalho, será dada uma ênfase à inves- sim “o comportamento de preencher questionários
tigação da desfusão cognitiva. ou completar um diário (p. 370, tradução nossa)”.
Como apontou Assaz (2019), estes estudos Novamente, estas preocupações já eram apontadas
análogos apresentam um elevado grau de validade por Baer, Wolf e Risley (1968), quando, entre os
interna em virtude do controle sobre as variáveis critérios para uma pesquisa aplicada, enfatiza-se a
independentes, uma vez que permitem que o ex- necessidade de mensuração precisa da variável de-
perimentador identifique precisamente se o com- pendente (dimensão comportamental).
ponente apresentado aos participantes é ou não É importante salientar que um maior grau de
responsável pela ocorrência das variações nas vari- controle experimental é atingido nas pesquisas que
áveis dependentes. Ainda que sejam baseadas e até verificam o efeito de estratégias de desfusão tendo
disporem de interpretações coerentes com a RFT, medidas de comportamentos diretamente observá-
os delineamentos experimentais empregados neste veis pelo pesquisador nos valores da VD, como por
tipo de pesquisa, apesar do rigor experimental, não exemplo, o comportamento de continuar em con-
permitem uma análise dos processos básicos envol- tato com estimulação aversivas ou desempenhar
vidos no fenômeno observado, uma vez que não tarefas nestas condições (Gil-Luciano et al., 2017;
permitem isolar precisamente as variáveis manipu- Keogh et al., 2005; López-López & Luciano, 2017;
ladas durante os estudos. Sua contribuição, portan- McMullen et al., 2007), desempenho em tarefas que
to, está mais vinculada à produção de dados acer- mensuram atenção e coordenação motora (López-
ca da efetividade de técnicas compreendidas pelos López & Luciano, 2017), latência de respostas rela-
termos médios do que com uma conceitualização cionais mensurada através do IRAP (Kishita et al.
consistente e demonstração dos processos básicos 2014; Ferroni-Bast et al., 2019) e o responder de es-
dos fenômenos referidos por estes termos. Aqui, a quiva derivada a um estimulo participante de uma
seleção de variáveis dependentes e independentes classe de equivalência (Donati et al., 2019; Luciano
são os pontos críticos que inviabilizam o controle et al., 2014). O estudo que parece ter obtido maior
do fenômeno em um nível básico. controle experimental em relação ao estabeleci-
Em relação às variáveis dependentes, alguns mento e emergência do responder relacional clini-
estudos buscam avaliar o efeito das estratégias de camente relevante foi o análogo de desfusão cogni-
desfusão em escores obtidos em inventários de au- tiva de Donati et al. (2019). Os autores verificam o
torrelatos, os quais supostamente medem proces- efeito de um procedimento análogo desfusão e rees-
sos comportamentais. Da mesma forma, pesquisas truturação cognitiva sobre uma resposta de esquiva
mediacionais utilizam tanto questionários que su- sob controle derivado experimentalmente estabe-
postamente avaliam o processo de desfusão quanto lecida. De maneira geral, foi construída uma classe
medidas que supostamente avaliam os resultados de equivalência de três membros (A1-B1-C1); em
comportamentais (e.g. inventários de credibilida- seguida, através de condicionamento respondente e

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operante, foi estabelecida função aversiva e evoca- todos os casos, trata-se de variáveis independentes
tiva para uma resposta de esquiva ao estímulo B1, cujo grau de complexidade vai além daquele que se
seguido por um teste de transferência de função busca na pesquisa básica.
para C1. Aqui, as respostas de esquiva derivada ao A ausência de controle histórico e experimental
estímulo C1 foram consideradas análogas à esquiva sobre a variável independente não permite identi-
experiencial de um evento verbal, devido à fusão ficar precisamente quais funções comportamentais
cognitiva. Na fase experimental, um dos grupos de a variável assume, qual dos seus aspectos foram
participantes recebeu um protocolo adaptado do responsáveis pelas mudanças comportamentais
exercício de desfusão de repetição de palavras. Os que se seguem, e quais são os processos básicos em
participantes foram instruídos a repetir a palavra curso desencadeados pelo procedimento. Com isso,
“milk” e, em seguida, fazer o mesmo exercício com o uso dessas estratégias clínicas enquanto variável
C1 (no caso, uma palavra sem sentido) por sete independente em estudos análogos pode implicar
minutos e meio. Por fim, verificou-se os efeitos do não só em falhas na identificação dos processos
procedimento sobre a ocorrência esquiva derivada comportamentais, como também em imprecisões
em uma segunda exposição ao estímulo C1. O es- quanto à quais processos se devem os resultados
tudo de Donati et al. (2019) destaca-se pelas esco- comportamentais obtidos.
lhas metodológicas: pode-se dizer que os procedi- Uma outra direção tomada pelas pesquisas de
mentos empregados consistiram em um esforço em laboratório são investigações experimentais dire-
“construir” totalmente a variável dependente. cionadas à aproximação entre fenômenos clínicos
Ainda assim, a utilização de medidas ou mes- e princípios comportamentais básicos (Levin &
mo padrões de comportamentos construídos em Villatte, 2016). Estudos deste tipo partem do pressu-
laboratório não é suficiente para permitir, aos aná- posto de que o fenômeno básico experimentalmen-
logos experimentais, a verificação de processos te estudado está vinculado à fenômenos complexos
comportamentais básicos quando as variáveis in- observados em situações práticas. Em relação às
dependentes não apresentam o mesmo cuidado de escolhas metodológicas, há um grande cuidado em
controle experimental em relação à sua construção. garantir o completo controle experimental tanto
Por exemplo, Gil-Luciano et al. (2017) buscaram sobre as variáveis manipuladas, quanto pela men-
verificar o efeito de um protocolo de desfusão com suração precisa do comportamento de interesse,
molduras dêiticas ou hierárquicas sobre a tolerân- condições estas que não podem ser atingidas pe-
cia na pressão ao gelo e tempo de exposição a um las pesquisas translacionais, de processo-resultado
filme aversivo. O protocolo apresentado ao grupo e estudos de componente (Levin & Villatte, 2016).
experimental envolveu uma interação de aproxi- De acordo com Dymond et al. (2013), tais estudos
madamente 20 a 30 minutos, no qual o experi- envolvem procedimentos para o treino e derivação
mentador passou instruções ao participante, como de redes relacionais, bem como para a transforma-
imaginar-se maior que a dor, encontrar um lugar ção de funções de estímulos a fim a estabelecer ou
para dor, etc. Aqui, o controle experimental foi modificar um responder análogo ao tratamento de
prejudicado pois as funções comportamentais em comportamentos clinicamente relevantes. Como
vigor em cada parcela das frases apresentadas não aponta Dymond et al. (2013), ainda há uma quan-
foram construídas em laboratório; os experimen- tia limitada de pesquisas dessa natureza, cujo foco
tadores inferiram, a partir do uso cotidiano, que os principal consiste em análogos de medo e esquiva.
termos utilizados (imagine-se maior que) funcio- Um exemplo é o trabalho de Roche, Kanter,
nariam como dicas contextuais para o responder Brown, Simon e Fogarty (2008), na qual os autores
dêitico e hierárquico. As mesmas questões também buscaram comparar o efeito do procedimento de
estão presentes no estudo de Donati et al. (2019): extinção de esquiva de funções adquiridas direta-
apesar do elevado grau de controle experimental mente ou por derivação. Para estabelecer o com-
sobre a variável dependente, os autores utilizaram, portamento de esquiva análogo, inicialmente, os
como variável independente, um procedimento participantes passaram por um treino no qual foi
desfusão derivado de um protocolo clínico. Em estabelecida uma rede relacional entre cinco estí-

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mulos (B1 igual C1; B2 igual C2; B1 oposto C2 e B1 Direções para a Pesquisa
oposto C1). Em seguida, foi estabelecida a função Experimental
evocativa de esquiva para B1, e verificou-se a de-
rivação da função para o estímulo C1. Os partici- Se, conforme postula Hayes et al. (2012b), uma
pantes foram divididos em dois grupos: o primeiro, completa abordagem científica exige “um esforço
passou por um procedimento de extinção diante constante para que os termos médios sejam gradu-
B1 (extinção direta); o segundo grupo foi exposto almente ancorados em abordagens mais técnicas”
à extinção diante C1 (extinção derivada). Em se- (p.7), então uma direção promissora para investi-
guida, os participantes foram expostos novamente gações futuras é o retorno à pesquisa básica, à for-
aos estímulos B1 e C1. Como resultado, a condição ma de produção de conhecimento originalmente
extinção derivada produziu menor porcentagem de proposto pela Análise do Comportamento. Com
esquivas para B1 e C1 do que a condição direta. efeito, existe um grande volume de pesquisas ex-
O que se destaca no estudo de Roche et al. (2008) perimentais rigorosas demonstrando os princí-
diz respeito à seleção e controle experimental sobre pios mais básicos da RFT – implicação mútua e
as variáveis manipuladas. Os pesquisadores garanti- combinatória, transformação de funções –; o que
ram a reprodução análoga em laboratório tanto de é criticado é a ausência de estudos de laboratório
uma intervenção – exposição – quanto de um com- que demonstrem relações confiáveis entre variáveis
portamento clinicamente relevante – esquiva a fun- independente e dependentes na investigação dos
ções aversivas diretas ou derivadas, característica do processos envolvidos em intervenções teoricamen-
quadro de ansiedade. Ademais, apesar da pesquisa te baseadas na RFT.
não se propor de antemão ao estudo da desfusão, a Dymond et al. (2013) defendem um “padrão
partir dos dados obtidos, levantou-se a hipótese de ouro” para a pesquisa experimental acerca do res-
que os exercícios de desfusão cognitiva constituídos ponder relacional envolvido em intervenções clí-
por repetição de palavras (e.g. “milk, milk, milk”) nicas ou psicopatologias: a condução de estudos
envolveriam os processos investigados neste estudo. cuidadosamente planejados, de tal forma que o
Isto é, repetição de palavras – pensamentos desa- delineamento experimental permita o “completo
gradáveis – corresponderia a um procedimento de controle experimental sobre o próprio processo
extinção das funções aversivas derivadas adquiridos relacional, durante a emergência e tratamento aná-
por este estímulo; com isso, a extinção é transferi- logo de comportamentos clinicamente relevantes”
da para demais estímulos relacionados à palavra, as (p. 201, tradução nossa). Os autores propõem que
quais deixam de exercer o controle derivado. pesquisas deste tipo utilize procedimentos para o
Apesar de desempenhar um papel relevante treino e derivação de redes relacionais e transfor-
tanto na prática terapêutica quanto na própria his- mações de função, tanto para o estabelecimento
tória da ACT, a desfusão cognitiva tem ganhado, quanto diminuição de comportamentos análogos
no campo da pesquisa de laboratório, muito mais aos processos psicopatológicos.
atenção em pesquisas de eficácia de componentes No que tange às direções para a pesquisa expe-
do que em tentativas de esclarecimento dos pro- rimental, o que o presente artigo propõe é voltar
cessos comportamentais básicos envolvidos nesta o foco a investigações experimentais dos eventos
intervenção. O excesso de estudos do primeiro tipo referidos pelos termos médios e demais definições
e a ausência do segundo implicam na sustentação interpretativas por meio de análogos de fenômenos
de uma técnica “efetiva”, mas cujos mecanismos e intervenções clínicas, delineados de tal forma que
responsáveis pela efetividade permanecem desco- seja garantido o completo e rigoroso controle expe-
nhecidos. Ainda que disponha de interpretações da rimental sobre as variáveis dependentes e indepen-
RFT para a desfusão cognitiva, a literatura ainda dentes. Como já foi discutido acima, a literatura já
carece de estudos empíricos planejados com deli- conta com um extenso engajamento na condução
neamentos que permitam esclarecer, em termos de de análogos experimentais dedicados à investigação
princípios básicos, as relações funcionais relaciona- de procedimentos clínicos sobre análogos de com-
das ao termo.

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portamentos problemáticos, entretanto, os delinea- necessariamente fornecer uma evidência direta do


mentos frequentemente empregados implicam, em processo funcional de desfusão. Com a condução
virtude da natureza das variáveis independentes es- do experimento, o (iv) quarto erro consiste em con-
tudadas, nas limitações já apontadas no que tange à siderar que a observação de uma relação entre o
contribuição com o esclarecimento de procedimen- procedimento e o resultado obtido corresponde ao
tos e processos comportamentais básicos. processo de desfusão, e não algum outro processo
Quando o objetivo do estudo é o esclarecimen- comportamental. Por fim, o (v) quinto erro consis-
to de processos básicos subjacentes à fenômenos te em considerar que a produção de resultados se-
complexos, o total controle sobre as variáveis é im- melhantes por procedimentos diferentes corrobora
prescindível. Nesse sentido, o cuidado que aqui se a hipótese de que existe um processo de desfusão
propõe diz respeito a construir em contexto de la- (Barnes-Holmes et al., 2016).
boratório tanto as variáveis independentes quanto Adicionalmente, considerando que a investi-
dependentes análogas às intervenções e comporta- gação experimental deve se voltar à identificação
mentos clinicamente relevantes. de processos comportamentais básicos (Andery,
Estudos dessa natureza permitiriam (i) testar 2010; Johnston & Pennypacker, 2009; Matos, 1990;
empiricamente a precisão de interpretações de Sampaio et al., 2008; Sidman, 1960; Velasco, Garcia-
intervenções, (ii) construir e isolar, em contexto Mijares, & Tomanari, 2010), é importante salientar
experimental, as variáveis independentes mani- que não se deve voltar à busca de um “processo de
puladas na desfusão cognitiva (bem como outros desfusão”, mas sim a descrições de relações funcio-
componentes da ACT), a (iii) observar o respon- nais entre as variáveis dependentes e independentes
der relacional “in vivo” envolvido, e a (iv) verificar observadas quando se reproduz experimentalmen-
se os seus efeitos sobre o comportamento corres- te o fenômeno de interesse. Se, conforme Skinner
pondem àqueles teoricamente previstos. Salienta- (1966), “o processo comportamental estudado em
se que a presente proposta se trata de retornar às uma análise experimental usualmente consiste em
direções metodológicas originais da Análise do mudanças na probabilidade (ou taxa de resposta)
Comportamento para a investigação de processos como uma função de variáveis manipuladas” (p.
comportamentais básicos e derivação de tecno- 216, tradução nossa), então no estudo das caracte-
logias, quais sejam, pesquisa básica guiada pela rísticas do responder relacional envolvido na desfu-
descrição, mensuração e controle rigoroso das va- são cognitiva, o processo comportamental a ser in-
riáveis independentes e dependentes (Johnston & vestigado consiste em mudanças na probabilidade
Pennypacker, 2009; Sidman, 1960). de respostas sob controle derivado e alterações em
Antes de propor os cuidados ao qual o expe- demais propriedades do RRAA experimentalmente
rimentador deve se atentar, vale a pena ressaltar as estudadas, como latência (Barnes-Holmes, Barnes-
críticas tecidas a detalhes dos delineamentos geral- Holmes, Luciano, & McEnteggart, 2017) e grau de
mente utilizados em estudos de análogos, os quais transformação de função (de Almeida, Bortoloti,
devem ser evitados. Ferreira, Schelini , & de Rose, 2014; Santos, Perez,
Barnes-Holmes et al. (2016) aponta um conjun- de Almeida & de Rose, 2017), como uma função da
to de erros cometidos por pesquisadores na cons- manipulação de um contexto funcional.
trução de delineamentos para análogos experimen- Outro detalhe relevante diz respeito ao deli-
tais de desfusão cognitiva. O primeiro erro consiste neamento experimental e estratégia de análise de
em (i) selecionar como variável independente uma dados. Conforme Johnston & Pennypacker (2009),
estratégia terapêutica completa, convencionalmen- é sempre a pergunta experimental que deve orien-
te considerada um procedimento de desfusão dire- tar a escolha do cientista acerca da natureza do
cionado a um processo de desfusão. Como conse- delineamento e análise de dados empregado. Em
quência do primeiro erro, o (ii) segundo erro diz relação às pesquisas análogas conduzidas aos mol-
respeito à assumir que existe um processo funcio- des da CBS, a grande maioria recorre ao delinea-
nal de desfusão. O (iii) terceiro erro está em con- mento de grupo e ao uso de estatística inferencial.
siderar que a aplicação daquele procedimento irá Uma vez que alinhadas à preocupação em garantir

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o controle experimental, estas escolhas metodoló- mentar à análise individual e gráfica; como afirma
gicas são justificadas e contribuem com o objetivo Andery (2010), “o problema existe quando e se a
do estudo. Por exemplo, em análogos de desfusão quantificação tornar o grande objetivo da pesqui-
com delineamentos entre sujeitos, testes estatísticos sa (p. 332)”. O objetivo da pesquisa experimental
são imprescindíveis para que se verifique se, após as sempre é a descrição de relações funcionais entre
manipulações, os valores assumidos pelas variáveis variáveis independente e dependentes, e os dados
dependentes foram estatisticamente diferentes en- obtidos através da análise estatística são comple-
tre os grupos controle e experimental. mentares, e não substitutos aos dados gráficos.
Por outro lado, é importante apontar algumas No que diz respeito à seleção e descrição das
das limitações destas metodologias quando o inte- variáveis dependentes e independentes, a pesqui-
resse do pesquisador está na observação de parti- sa de Roche et al. (2008) citada acima é um bom
cularidades de processos comportamentais básicos. exemplo do controle rigoroso proposto para o es-
Nestes casos, defende-se uma preferência pelo deli- tudo do responder relacional. Até a presente data,
neamento de sujeito único. Relações comportamen- nenhum análogo direcionado à investigação dos
tais são fenômenos que ocorrem em organismos processos básicos envolvidos na desfusão cognitiva,
individuais, e nenhum organismo responde exa- conhecido pelos autores, seguiu o mesmo nível de
tamente da mesma forma às condições a que está controle experimental em relação às variáveis in-
exposto (Andery, 2010; Johnston & Pennypacker, dependente e dependente atingido por Roche et al.
2009). A observação dessas relações, portanto, (2008) no estudo dos processos básicos envolvidos
pode ser facilitada através do delineamento de su- na exposição.
jeito único, uma vez que permite produzir dados A pesquisa de desfusão que mais se aproximou
acerca de variações do responder de um mesmo do padrão ouro proposta por Dymond et al. (2013)
indivíduo conforme exposto à diferentes valores da foi, como já discutido, o experimento de Donati
variável independente. (2019). A variável dependente, assim como na pes-
Em relação ao tratamento dos dados, a estatís- quisa de Roche et al. (2008), foi uma resposta de
tica inferencial pode informar ao experimentador esquiva sob controle de funções derivadas adquiri-
se a variável independente afeta a variável depen- das por um estímulo por participar de uma classe
dente, ou em que medida ambas estão relacionadas; de equivalência. Entretanto, os autores falharam
entretanto, o interesse da pesquisa experimental vai em construir experimentalmente uma variável in-
além: diz respeito a observar as mudanças no fluxo dependente análoga, recorrendo à um protocolo
comportamental e a avaliar mudanças e estabili- clínico (exercício de repetição de palavras).
dades ao longo do tempo (Andery, 2010; Hopkins, Um análogo experimental padrão ouro exi-
Cole, & Mason, 1998). As variáveis manipuladas giria construir em laboratório tantos as variáveis
sempre afetam o comportamento de indivíduos, dependentes quanto independentes análogas ao
e limitar os dados ao tratamento estatístico não fenômeno de interesse, e investigar suas relações
permite que o experimentador identifique de que funcionais em delineamentos de sujeito único. Um
maneira o responder foi modificado ao longo de di- estudo coerente com a presente proposta envolveria
ferentes condições. Em contrapartida, o tratamento não só a reprodução de um análogo do comporta-
gráfico de dados obtidos via delineamento de su- mento de esquiva derivada, mas também, ao invés
jeito único, no qual o mesmo organismo é exposto da aplicação de uma estratégia clínica, um análogo
à condição controle e experimental, permite que o experimental das variáveis manipuladas nos pro-
experimentador observe cuidadosamente as alte- cedimentos de desfusão. Se, conforme a definição
rações na regularidade e nas dimensões compor- de Blackledge e Barnes-Holmes (2009), a desfusão
tamentais que seguem às manipulações (Andery, se refere ao procedimento de manipulação de uma
2010; Johnston & Pennypacker, 2009; Sampaio et condição contextual controladora da transforma-
al., 2008; Velasco et al., 2010). Não se propõe, con- ção de função, é esta variável que deve ser constru-
tudo, um abandono completo da estatística, mas ída em um estudo análogo. O experimento como
sim a sua utilização enquanto recurso comple- um todo consistiria em inserir e retirar esta condi-

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ção contextual, e verificar as mudanças – processos poladas de pesquisas básicas, e pouca efetividade
e resultados – que se seguem em uma resposta de em orientar pesquisas experimentais básicas (Assaz
esquiva derivada. Atualmente, os presentes autores et al., 2018; Barnes-Holmes et al., 2016; Dymond et
têm conduzido estudos nesta direção. al., 2013).
Partindo de tais argumentos, propõe-se que
uma direção, no campo da pesquisa básica, para
Considerações finais que termos médios atinjam maior grau de precisão
é a investigação experimental dos princípios com-
O modelo reticulado de investigação científica pro- portamentais envolvidos em questões aplicadas
posto pela CBS diverge da forma de produção de – procedimentos e fenômenos clínicos –, através
conhecimento originalmente adotado pela Análise da condução de pesquisas alinhadas aos cuidados
do Comportamento. O objetivo principal do pre- metodológicos originais à Análise Experimental
sente artigo consistiu em discutir as fragilidades do Comportamento: delineamentos de sujeito úni-
decorrentes da forma como o modelo reticulado co, ênfase no controle rigoroso e na mensuração a
foi colocado em prática no que tange à investigação partir da observação direta das variáveis indepen-
dos princípios comportamentais básicos estudados dentes e dependentes, descrições conceitualmente
pela RFT, no desenvolvimento tecnológico da ACT, consistentes das relações funcionais sistemáticas
e das interações teórico-experimentais entre ambos observadas, e preferência pela análise gráfica ao in-
os domínios. É importante enfatizar que estas fra- vés do tratamento estatístico de dados (Johnston &
gilidades não são características intrínsecas à pro- Pennypacker, 2009; Sidman, 1960) . Nas pesquisas
posta conceitual de um modelo reticulado, mas sim de processos básicos da RFT, tal preocupação nun-
derivações da forma como foi colocado em prática: ca esteve ausente; o que se enfatiza aqui é a impor-
em tese, o modelo propõe uma interação constante tância de estendê-la também ao estudo dos proces-
entre as dimensões teórica, básica e aplicada – mas sos básicos subjacentes a intervenções e fenômenos
esta interação não tem sido efetivamente praticada. clínicos.
As principais fragilidades destacadas foram o Os impactos das propostas e esforços da CBS
distanciamento entre os procedimentos da ACT e a na psicologia é inegável. Entretanto, ao decla-
base teórico-experimental da RFT, e a consequente rar a sua independência, a CBS também deixou
falta de precisão dos termos médios. No que diz res- para trás aspectos característicos da Análise do
peito à desfusão cognitiva, a falta de precisão é um Comportamento, pois este seria o custo para o de-
resultado do emprego da estratégia reticulada desde senvolvimento de uma “ciência comportamental
o princípio da sua formulação. Cronologicamente, mais adequada aos desafios da condição humana.”
em sua origem, tratava-se de um procedimento su- (Hayes et al., 2012b, p.15, tradução nossa). Além
postamente efetivo – o distanciamento cognitivo –, de contribuir com a disseminação e adoção de tec-
mas alheio aos pressupostos behavioristas radicais, nologias comportamentais por novos praticantes, é
uma vez que originado enquanto parte de uma te- importante lembrar que esta cisão também contri-
rapia cognitiva; o procedimento foi então ampliado buiu com a perda da precisão e rigor conceitual na
e reinterpretado de acordo com princípios analíti- produção de conhecimentos, teóricos e experimen-
co-comportamentais skinnerianos; posteriormen- tais, acerca de fenômenos comportamentais.
te à produção de evidências empíricas da RFT, a É importante deixar claro que a posição assu-
desfusão foi novamente reinterpretada nos termos mida no presente artigo não é a de que a pesquisa
do responder relacional arbitrariamente aplicável. de processos básico, independentemente de qual-
Como resultado, as problemáticas decorrentes das quer diálogo com as demais áreas, seja suficiente
imprecisões da desfusão cognitiva envolvem a refe- para resolução de demandas práticas – mas é consi-
rência à procedimentos diversos, confusão a respei- derada imprescindível. O ponto central foi enfatizar
to dos mecanismos através dos quais atua, circulari- cuidados metodológicos e direções para o estudo
dade ao ser utilizada para se referir à procedimento, experimental de fenômenos e intervenções clínicas,
processo e resultado, definições imprecisas e extra- a fim de aumentar a precisão de termos médios e a

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confiabilidade das relações funcionais supostamen- and REC model to a multi-dimensional multi-
te referidas por esses termos. Nesse sentido, suge- -level framework for analyzing the dynamics
re-se que um rumo mais promissor para garantir of arbitrarily applicable relational responding.
a reticulação almejada pela CBS envolve esforços Journal of Contextual Behavioral Science, 6(4),
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Informações do Artigo

Histórico do artigo:
Submetido em: 26/11/2020
Primeira decisão editorial: 13/04/2021
Aceito em: 02/08/2021
Editor: William F. Perez

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