Você está na página 1de 57

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL
2
SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..................................................................................................................................3
1.1. Objeto do direito processual penal.............................................................................................................3
1.2. Polícia: art. 144 da CF e Lei nº 12.830/13 (entrou em vigor em 20/06/2013)..............................................3
2. CONCEITO/FINALIDADE (AURY LOPES JR.)........................................................................................................4
3. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL.....................................................................................................4
3.1. Inquisitivo..................................................................................................................................................4
3.2. Escrito........................................................................................................................................................7
3.3. Discricionariedade......................................................................................................................................7
3.4. Sigiloso.......................................................................................................................................................8
3.5. Unidirecionalidade.....................................................................................................................................9
3.6. Temporário................................................................................................................................................9
3.7. Indisponível..............................................................................................................................................10
3.8. Oficioso....................................................................................................................................................10
3.9. Oficial.......................................................................................................................................................10
3.10. Dispensável............................................................................................................................................10
4. VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL...............................................................................................13
5. VÍCIOS NA INVESTIGAÇÃO...............................................................................................................................15
6. INCOMUNICABILIDADE...................................................................................................................................16
7. ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA OU “COMPETÊNCIA” POLICIAL.................................................................................16
8. PRAZO.............................................................................................................................................................21
9. INDICIAMENTO...............................................................................................................................................22
10. PROCEDIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL....................................................................................................26

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


3

ATUALIZADO EM 30/12/20181

INQUÉRITO POLICIAL

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1. Objeto do direito processual penal


É a persecução penal - que é a persecução do crime -, dividido em: inquérito policial e processo.

1.2. Polícia: art. 144 da CF e Lei nº 12.830/13 (entrou em vigor em 20/06/2013).


a) polícia administrativa ou ostensiva, que tem o papel preventivo. Figuram como polícia administrativa: polícia
rodoviária, ferroviária, marítima, militar.
b) polícia judiciária ou civil seja ela na esfera estadual ou federal. Polícia civil é o gênero, cujas espécies são as
polícias federais e estaduais. O papel da polícia judiciária é repressivo.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias
militares e corpos de bombeiros militares.

Obs: Estrutura. Com o advento da CF 88, a polícia judiciária passou a ser gerida por Delegados de carreira, leia-se
concursados e, necessariamente, bacharéis em direito, sendo que o tratamento protocolar é o mesmo
dispensado aos juízes, promotores, defensores e advogados - art. 3º da Lei 12.830/13: O cargo de delegado de
polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que
recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.

Obs: Papel funcional. Qual o papel funcional da polícia judiciária? Cabe à polícia civil auxiliar o poder Judiciário e
confeccionar o inquérito policial ou outros procedimentos investigativos (art. 2º, §1º, da lei 12.830/13).§ 1o  Ao
delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de
inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias,
da materialidade e da autoria das infrações penais.

1
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
4
2. CONCEITO/FINALIDADE

- É o procedimento administrativo preliminar;


- de caráter informativo;
- presidido pela autoridade policial (delegado: art. 144 CF c/c art. 3º da Lei 12830/13);
- que tem por objetivo apurar a autoria, a materialidade, as circunstâncias do fato e eventuais fontes de prova
(art 2º, §1º, da Lei 12.830/13);
- e que tem por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação.

Conclusão: percebe-se que o inquérito servirá para CONVENCER o titular da ação, quanto ao início ou não do
processo.

Obs.: Finalidade acidental. O inquérito serve ainda para fornecer lastro indiciário, isto é, a justa causa que viabiliza
a decretação de medidas cautelares no transcorrer da persecução penal.

Obs.: ATENÇÃO! Natureza jurídica. É a essência do instituto. A posição topográfica daquele instituto, o
enquadramento no ordenamento. É a classificação. No caso do inquérito ele se enquadra no conceito de mero
procedimento administrativo informativo. As regras do ato administrativo lhes são aplicadas.

3. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3.1. Inquisitivo
Forma de gestão/administração do inquérito. Causa: concentração de poder em autoridade única. E a
consequência? Inaplicabilidade do contraditório e da ampla defesa.

Obs1. Processualização do procedimento: existe uma corrente no Brasil, minoritária (Miguel Calmon), que define
que o princípio do devido processo legal e sua carga axiológica sejam adotados nos procedimentos
administrativos, o que permite a tolerância do contraditório e da ampla defesa na dosagem adequada para a
preservação dos direitos e garantias fundamentais. No mesmo sentido, Fredie Didier Jr. ao tratar do Inquérito
Civil Público e Aury Lopes Jr. ao tratar do Inquérito Policial. Obs. Investigação Criminal Defensiva

*#NOVIDADELEGISLATIVA #DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO 2:

Lei 13.432/2017, detetive particular e investigação criminal defensiva.

2
http://www.dizerodireito.com.br/2017/04/lei-134322017-detetive-particular-e.html.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
5
A investigação de crimes no Brasil é uma atividade exclusiva dos órgãos públicos (polícia, Ministério Público,
Tribunais de Contas etc.)?
NÃO. Não existe uma determinação de que somente o Poder Público possa apurar crimes. A imprensa, os órgãos
sindicais, a OAB, as organizações não governamentais e até mesmo a defesa do investigado também podem
investigar infrações penais.
Qualquer pessoa (física ou jurídica) pode investigar delitos, até mesmo porque a segurança pública é
“responsabilidade de todos” (art. 144, caput, da CF/88).
Obviamente que a investigação realizada por particulares não goza dos atributos inerentes aos atos estatais,
como a imperatividade, nem da mesma força probante, devendo ser analisada com extremo critério, não sendo
suficiente, por si só, para a edição de um decreto condenatório (art. 155 do CPP). Contudo, isso não permite
concluir que tais elementos colhidos em uma investigação particular sejam ilícitos ou ilegítimos, salvo se violarem
a lei ou a Constituição.

Investigação criminal defensiva


Com base no que foi explicado acima, a doutrina defende que é plenamente possível que ocorra a chamada
"investigação criminal defensiva".
A investigação criminal defensiva pode ser conceituada como a possibilidade de o investigado, acusado ou mesmo
condenado realizar diligências a fim de conseguir elementos informativos ("provas") de que não houve  crime ou
de que ele não foi o seu autor.

Renato Brasileiro aponta alguns objetivos da investigação criminal defensiva:


"a) comprovação do álibi ou de ouras razões demonstrativas da inocência do imputado;
b) desresponsabilização do imputado em virtude da ação de terceiros;
c) exploração de fatos que revelam a ocorrência de causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade;
d) eliminação de possíveis erros de raciocínio a quem possam induzir determinados fatos;
e) revelação da vulnerabilidade técnica ou material de determinadas diligências realizadas na investigação
pública;
f) exame do local e a reconstituição do crime para demonstrar a impropriedade das teses acusatórias;
g) identificação e localização de possíveis peritos e testemunhas."
(Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 188).

Apesar de ser mais comum durante a fase do inquérito policial, nada impede que a investigação criminal
defensiva ocorra também na fase judicial e mesmo após a sentença penal condenatória considerando a
possibilidade de revisão criminal.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


6
Obviamente, a investigação criminal defensiva deverá respeitar a lei e a Constituição, não podendo ser adotadas
diligências que violem a ordem jurídica ou direitos fundamentais. Ex: não é possível a realização de uma
interceptação telefônica.

O projeto do novo Código de Processo Penal (Projeto de Lei nº 156/2009) prevê, expressamente, o instituto da
“investigação criminal defensiva”.

Lei nº 13.432/2017
A Lei nº 13.432/2017 dispõe sobre o exercício da profissão de detetive particular.
Considera-se detetive particular "o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade
civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com
conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de
assuntos de interesse privado do contratante." (art. 2º).

O detetive particular pode colaborar formalmente com a investigação conduzida pelo Delegado no inquérito
policial?
SIM. Essa possibilidade foi expressamente prevista no art. 5º da Lei nº 13.432/2017:
Art. 5º - O detetive particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde que expressamente
autorizado pelo contratante.

Vale ressaltar, no entanto, que esta participação somente ocorrerá se a autoridade policial expressamente
concordar:
Art. 5º (...)
Parágrafo único. O aceite da colaboração ficará a critério do delegado de polícia, que poderá admiti-la ou rejeitá-
la a qualquer tempo.

Assim, como o responsável pelo inquérito policial é o Delegado de Polícia (art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.830/2013),
ele tem o poder de rejeitar a participação formal do detetive particular no inquérito.

O detetive particular pode acompanhar o Delegado ou investigadores nas diligências realizadas? Ex: participar
de uma busca e apreensão?
NÃO. A Lei nº 13.432/2017 afirma que, mesmo quando for admitida a colaboração do detetive particular na
investigação policial, ainda assim ele não poderá participar das diligências policiais:
Art. 10.  É vedado ao detetive particular:
(...)
IV - participar diretamente de diligências policiais;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


7
Uma última pergunta mais polêmica: vimos acima que, pelo texto da Lei, "o detetive particular pode colaborar
com investigação policial em curso, desde que expressamente autorizado pelo contratante." (art. 5º). Se o
Delegado não autorizar a colaboração do detetive, mesmo assim este poderá realizar, fora do inquérito policial,
diligências investigativas a pedido da defesa?
Penso que sim. O art. 5º da Lei nº 13.432/2017 refere-se à autorização do Delegado de Polícia para que o detetive
particular colabore formalmente com o inquérito policial. No entanto, ainda que o Delegado rejeite esta
participação por entendê-la desnecessária ou impertinente, ele não pode impedir que o investigado realize
investigação criminal defensiva utilizando-se dos serviços de um detetive particular.
A investigação criminal defensiva, desde que respeitado o ordenamento jurídico, é possível independentemente
de autorização do Delegado, do Ministério Público, do Poder Judiciário ou de quem quer seja. Isso porque essa
atividade é uma consequência da ampla defesa e do contraditório, garantias constitucionais asseguradas a todo e
qualquer investigado. Em outras palavras, pelo fato de o investigado poder se defender amplamente, ele tem o
direito de buscar "provas" de sua inocência.
Para fins de concurso público, contudo, importante conhecer e assinalar, na prova, a redação literal do art. 5º da
Lei nº 13.432/2017.

Obs2. Atuação do advogado: exercício exógeno é aquele realizado fora dos autos da investigação. Exs: impetração
de habeas corpus, requerimentos ao MP. Exercício endógeno é aquele efetivado nos autos ou nos atos da
investigação. Ex.: oitiva do suspeito acompanhado por advogado.

3.2. Escrito
Por mais rasteiro que possa parecer, prepondera a forma documental. Art 9º CPP: Todas as peças do inquérito
policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Obs.: Inovação. Pode o delegado, havendo estrutura, utilizar as novas ferramentas tecnológicas para documentar
o inquérito, como captação de som e imagem e até mesmo a estenotipia, que nada mais é do que uma técnica de
redução de palavras por símbolos. (Lei 11.719/08).

3.3. Discricionariedade
Ela se caracteriza por uma margem de conveniência e oportunidade na condução da investigação, de forma que o
delegado organiza o inquérito dentro da sua estratégia investigativa.

Obs.: Os artigos 6º e 7º do CPP apresentam um rol de diligências para melhor aparelhar a investigação. Esse é o
mínimo contingencial das diligências. ATENÇÃO! O artigo 2º da lei 12.830, de forma não exaustiva, também nos
apresenta um rol de diligências que poderão ser adotadas.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


8
Obs.2: os requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito poderão ser indeferidos se o delegado
reputá-los impertinentes (art. 14 CPP: O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer
qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade), ressalve-se, contudo, o exame de corpo de
delito quando o crime apresentar vestígios (art. 158 CPP: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. ). Em que pese à
omissão da lei, por analogia para combater o indeferimento caberá recurso administrativo endereçado ao chefe
de polícia. Nada impede que o MP seja acionado para requisitar a diligência. Art. 184. Ou até mesmo o juiz, como
já decidiu o STJ.

*#NOVIDADELEGISLATIVA: foi publicada a Lei 13.721/2018, que altera o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal), para estabelecer que será dada prioridade à realização do exame de corpo de
delito quando se tratar de crime que envolva violência doméstica e familiar contra mulher ou violência contra
criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Art. 1º  Esta Lei altera o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal),  para
estabelecer que será dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva violência doméstica e familiar contra mulher ou violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa
com deficiência.

Art. 2º O art. 158 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
com a seguinte redação:

“Art. 158.  ..................................................................

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.”

Obs.3: as requisições emanadas do MP ou do Juiz serão obrigatoriamente cumpridas, por imposição normativa,
salvo se forem manifestamente ilegais (*art. 13, II do CPP). Há uma corrente minoritária que afirma que, por
filtragem constitucional, ele não estaria obrigado.

Obs.4: o IP não possui rito específico.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


9
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: O delegado de polícia pode formalizar acordos de colaboração premiada,
na fase de inquérito policial, respeitadas as prerrogativas do Ministério Público, o qual deverá se manifestar, sem
caráter vinculante, previamente à decisão judicial. Os §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013, que preveem
essa possibilidade, são constitucionais e não ofendem a titularidade da ação penal pública conferida ao Ministério
Público pela Constituição (art. 129, I). STF. Plenário. ADI 5508/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 20/6/2018
(Info 907).

3.4. Sigiloso
O inquérito não se submete à publicidade ordinária, cabendo ao delegado velar pelo sigilo da investigação, em
prol da eficiência. Art. 20 CPP - A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.

Obs.: Classificação do sigilo (Luigi Ferrajoli):

a) sigilo externo é o aplicado aos terceiros desinteressados, como a imprensa, preservando-se a imagem do
sujeito, em razão do seu estado de inocência. Publicidade restrita ou interna.

*#OUSESABER #OLHAOGANCHO: A veiculação de matéria jornalística informando a investigação de


determinada pessoa gera direito à indenização? Segundo o STJ, em regra, o jornal não tem o dever de indenizar
a pessoa noticiada como investigada, ainda que ela venha a ser absolvida no processo criminal. Nos termos do
REsp 1297567-RJ, para que haja a responsabilização da imprensa pelos fatos por ela noticiados é necessário que
exista prova de que o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a falsidade da informação divulgada. A
mera divulgação de informação não se mostra apta a ensejar o abuso do direito de informação.

b) sigilo interno é o aplicado aos interessados. O sigilo interno é frágil, pois não atinge o acesso aos autos.
Conclusão: o MP, o “juiz” (sistema acusatório. Cuidado em chamar de interessado), e até mesmo o advogado e o
defensor, poderão acessar os autos da investigação, tendo contato com as diligências já realizadas e
documentadas. Esse é o chamado direito retrospectivo, direito de ter acesso ao que já foi produzido e está
documentado. ATENÇÃO! O direito do advogado está substanciado no*art. 7º, XIV, do Estatuto da OAB -
examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; e na súmula vinculante 14 do STF. É
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa. 3

3
*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
10

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
Não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu denunciado com base em um acordo de
colaboração premiada o acesso a outros termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais ele
está sendo acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe
previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013. STF. 2ª Turma. Rcl 22009 AgR/PR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info 814).

Obs.: havendo denegação de acesso aos autos do Inquérito, caberá Mandado de Segurança, Reclamação
Constitucional – o cabimento de Reclamação não impede o ajuizamento do MS (art. 103-A, §3º, da CF) e, segundo
o STJ, até mesmo Habeas Corpus, já que existe risco indireto à liberdade. Esse HC é denominado de HC profilático.
ATENÇÃO! Se o objeto da investigação tiver pena de multa como a única cominada (art. 51 do CP) ou for pessoa
jurídica, por exemplo, não caberá HC. Súmula 693 do STF.  Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a
pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

Obs.: Foco na vítima. (Movimento de tutela e resgate do ofendido- Ada Pellegrini). Pode o Juiz, de ofício ou por
provocação, decretar segredo de Justiça da persecução de forma que informações não mais poderão ser
partilhadas com a imprensa, preservando-se a vítima. Art. 201, §6º, do CPP O juiz tomará as providências
necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive,
determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a
seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.

3.5. Unidirecionalidade
Segundo Paulo Rangel, não deve o delegado emitir opinião quanto à culpa ou não do suspeito ao relatar o
inquérito, já que o juízo crítico opinativo é do titular da ação. O inquérito é direcionado ao titular da ação e não
possui caráter sancionatório, o que ratifica a inquisitoriedade. “O inquérito é descritivo, e não valorativo.”

3.6. Temporário
Existem prazos no CPP e na legislação extravagante, sendo a regra geral consolidada no art. 10 do CPP - O
inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no
prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. O delegado pode pedir ao juiz a extensão
desse prazo quando o caso for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto. Aplica-se ao inquérito a duração
razoável do “processo” (Aury Lopes Jr.)

3.7. Indisponível

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


11
Em nenhuma circunstância o delegado poderá arquivar o inquérito, já que toda investigação iniciada deve ser
concluída e encaminhada à autoridade competente (art. 17 do CPP). Ou seja, ainda que o fato não exista, for
atípico, ou o crime estiver prescrito não há disponibilidade sobre o inquérito.

3.8. Oficioso
Obrigatoriedade de instauração do inquérito quando a autoridade policial toma conhecimento de crime de ação
penal pública incondicionada. A discricionariedade está relacionada apenas à forma de gerenciamento das
investigações.

3.9. Oficial
Incumbe ao Delegado a presidência do inquérito. O procedimento fica a cargo de órgão oficial do Estado.

3.10. Dispensável
Para que o processo comece não é necessária a prévia elaboração de inquérito policial e o titular da ação poderá
prospectar lastro indiciário de outras fontes autônomas.

Obs.: Inquéritos não policiais. São aqueles presididos por autoridades distintas da polícia judiciária. Hipóteses:

a) Inquérito Parlamentar: presidido pelos membros da CPI. Votado o relatório pela casa parlamentar, havendo
indícios da ocorrência de crime, haverá a remessa ao MP que deverá analisar o inquérito parlamentar em caráter
de urgência. (lei 10.001/00)

b) Inquérito Militar: tem por objeto as infrações militares e será conduzido por um oficial da respectiva
instituição militar.

c) Inquérito judicial da lei de falências: ele tinha por objetivo a apuração das infrações falimentares e
comportava, por disposição normativa, contraditório e ampla defesa. O instituto se encontra revogado, pois a
nova Lei de Falência não disciplina a matéria. ATENÇÃO! Havendo desejo político, o legislador poderá autorizar a
aplicação de contraditório e ampla defesa em procedimento investigativo.

d) Inquérito em face de membro do MP: Havendo indícios de envolvimento de membro do MP em infração


penal, o Procurador Geral deve ser provocado, já que o delegado não tem atribuição para indiciar os membros do
MP. Lei Orgânica Nacional do MP. LONMP.

Obs.: Inquéritos não policiais. Havendo indícios de que um magistrado contribuiu para o delito, os autos da
investigação ou a notícia do fato serão remetidos ao tribunal a que o magistrado está vinculado (art. 33, parágrafo
único, da Lei Complementar 35/79). As autoridades que usufruem de foro por prerrogativa funcional podem ser
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
12
indiciadas pelo delegado? Não! O indiciamento pressupõe autorização do tribunal – RELATOR – a que a
autoridade está vinculada. Havendo prévia autorização, quem deverá realizar a investigação? Segundo o STF, no
inquérito 2411 o indiciamento da autoridade pressupõe autorização do tribunal em que ela usufrui da
prerrogativa funcional. Uma vez promovida a autorização de indiciamento, subsistem três posições quanto à
condução da investigação:

 A condução caberia ao próprio delegado de polícia: o delegado só provocaria o tribunal nas hipóteses
submetidas à cláusula de reserva jurisdicional;

 A condução caberia ao próprio tribunal onde a autoridade usufrui o foro por prerrogativa de função
(gestão intelectual do procedimento): a investigação seria conferida a um desembargador ou ministro e a polícia
judiciária seria provocada para implementar eventuais diligências. Há precedentes jurisprudenciais. Essa posição
poderia violar o sistema acusatório;

 Para Paulo Rangel, em homenagem ao sistema acusatório, deve o tribunal encaminhar a condução da
investigação para cúpula do Ministério Público Estadual ou Federal, conforme o caso.

Poderes do Relator na investigação instaurada contra magistrado

Havendo indícios da prática de crime por parte de Magistrado, desloca-se a competência para o Tribunal
competente para julgar a causa, prosseguindo-se na investigação. Trata-se, pois, pois, de regra de competência.
No tribunal, o inquérito é distribuído ao relator, a quem cabe determinar as diligências que entender cabíveis
para a apuração, inclusive medidas cautelares, como interceptação telefônica. Vale ressaltar que o Relator poderá
delegar à Polícia a realização veados de investigação. O próprio relator é quem iniciará o inquérito judicial
destinado a apurar os fatos contra o Magistrado, não sendo necessário que haja prévia autorização do órgão
especial do tribunal para isso. (STJ. 6ª Turma. HC 208.657 – MG. Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 22/04/2014).

(...) o inquérito instaurado para apurar eventual prática de delito por magistrado fica sujeito à presidência do
relator, mostrando-se desnecessário que o Tribunal competente para processar o feito autorize. Nos inquéritos
instaurados com o fim de apurar a prática de delitos por autoridades com foro privilegiado perante os TJ's, TRF's,
STJ e STF, o Desembargador relator é o Ministro relator, respectivamente, acumulam as funções tanto de
presidente do inquérito, quanto de relator do processo que será iniciado com eventual recebimento de denúncia
oferecida pelo Ministério Público. Nesse papel de presidente do inquérito, o Relator poderá delegar funções aos
Delegados de Polícia que atuem nos autos do inquérito, outorgando-lhes atribuição de agir como seu longa

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


13
manus. Assim, é permitido que um relator delegue a realização de atos instrutórios do inquérito à Polícia Federal,
que os executa por expressa autorização legal e regimental.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem duas exceções previstas
em lei de autoridades que não podem ser indiciadas: a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b)
Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 40, parágrafo único, da Lei nº
8.625/93). Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de autoridades com foro por
prerrogativa de função. No entanto, para isso, é indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização
do Tribunal competente para julgar esta autoridade. Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar
crime praticado por Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem elementos suficientes
para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a autoridade policial deverá requerer ao Ministro
Relator do inquérito no STJ autorização para realizar o indiciamento do referido Governador. Chamo atenção para
o fato de que não é o Ministro Relator quem irá fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O
Ministro Relator irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento. STF. Decisão monocrática. HC
133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 (Info 825).

Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela sociedade empresária fiscalizada, após regular intimação e
independentemente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados para subsidiar a instauração de inquérito
policial para apurar suposta prática de crime contra a ordem tributária. STJ. 5ª Turma. RHC 66.520-RJ, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 2/2/2016 (Info 577).

*#DEOLHONAJURIS #STF: Restrição ao foro por prerrogativa de função As normas da Constituição de 1988 que
estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente,
aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se
justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de
parlamentar federal.

Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar
relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a seguinte
tese: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


14
Marco para o fim do foro: término da instrução

Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações
finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público
vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF. Plenário. AP 937
QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).

Obs.: Inquérito Ministerial – PIC (Procedimento Investigativo Criminal).

 Segundo o STF, o STJ e a doutrina amplamente majoritária, o Ministério Público poderá conduzir
investigação criminal que conviverá harmonicamente com o inquérito policial, sem que exista usurpação de
função. Promotor que investiga não é suspeito ou impedido de atuar na fase processual (Súmula 234 STJ - A
participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou
suspeição para o oferecimento da denúncia.). O embasamento normativo desse entendimento: a Ministra Ellen
Gracie utilizou a teoria dos poderes implícitos, pois a Constituição Federal atribui ao Ministério Público
expressamente o poder-dever de processar (art. 129, I, da CF), e quem pode o mais, implicitamente poderá o
menos, que é investigar. Isto é, o Ministério Público pode se aparelhar de todos os meios para exercer o
macropoder (HC 91.661). ATENÇÃO! A teoria dos poderes implícitos tem origem na Corte Americana no caso do
Mc Culloch x Maryland de 1819.

 Posição contrária - Luiz Flávio Borges D’urso: O Ministério não pode presidir investigação criminal no
Brasil, porquanto ofenderia o sistema acusatório (acúmulo ou aglutinação de funções não tolerada); não há lei
federal disciplinando a matéria e o membro do Ministério Público estaria comprometido subjetivamente para
atuar no processo, não sendo razoável a sua atuação. Essa posição é minoritária.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para promover, por


autoridade própria, investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns
parâmetros que podem ser a seguir listados:
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja, determinadas diligências
somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação
telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


15
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa”);
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente controle do Poder Judiciário.
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério Público dispõe de competência para promover,
por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas,
sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas
profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os
incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de
Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da
Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa Instituição.”
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785).

*O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado
ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado. A controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de
investigação do Ministério Público foi pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG (Info 785). STF. 1ª
Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

4. VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Tecnicamente, o inquérito policial não produz provas, e sim elementos indiciários ou de informação.

Enquadramento classificatório: Por Fauzi Hassan e Rômulo Moreira

Elementos indiciários ou de informação Elementos de prova


Em regra, são produzidos na fase processual e,
São produzidos na fase do inquérito;
excepcionalmente, de maneira extraprocessual;
São produzidos de maneira dialética, com respeito ao
São produzidos de maneira inquisitiva; contraditório e a ampla defesa, real (imediato) ou
diferido;
O juiz é provocado nas hipóteses de cláusula de As provas serão produzidas na presença do
reserva jurisdicional e funciona como órgão de magistrado(princípio da imediatidade ou judicialização
controle do procedimento, preservando as regras do da prova) e, além disso, o CPP adotou expressamente o
jogo; princípio da identidade física do juiz (art. 399, §2º, do
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
16
CPP), de forma que o juiz que preside a instrução
deverá, em regra, proferir a sentença; ATENÇÃO!
Presença do julgador direta (presença física do juiz na
audiência) ou remota (quando se utiliza a
videoconferência, Lei nº 11.900/09);
Finalidade (teleologia): fomentar a formação da
Finalidade (teologia): objetiva contribuir no
opinião delitiva do titular da ação penal e contribuir
convencimento do juiz para prolação do provimento
na adoção de medidas cautelares no transcorrer da
jurisdicional adequado;
persecução;

Segundo Fernando Tourinho Filho, o inquérito tem valor probatório relativo, pois serve de base para oferta da
inicial acusatória, mas não se presta sozinho a sustentar uma condenação, já que seus elementos foram colhidos
de maneira inquisitiva. Essa é a ideologia extraída do art. 155, CPP - O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. 

Elementos migratórios: são extraídos do inquérito e levados ao processo, podendo ser validamente valorado em
eventual sentença condenatória.

Quais são os elementos migratórios?

 Provas irrepetíveis: são aquelas provas de iminente perecimento que não tem como ser refeitas na fase
processual (a evidência do fato desaparece depois), Exemplo: constatação de embriaguez ao volante; ATENÇÃO!
O delegado, em regra, autorizará a confecção da prova irrepetível.

 Provas cautelares: a cautelaridade é justificada pela necessidade e urgência e, normalmente, contam com
a intervenção judicial. Exemplo: interceptação telefônica. Detalhe: quem conduz toda a prova é a polícia e de
forma inquisitiva.

As provas cautelares e irrepetíveis são colhidas de maneira inquisitiva e, quando levadas ao processo, se
submetem ao contraditório e a ampla defesa de forma diferida ou postergada.

 Incidente de produção antecipada de prova: instaurado perante o magistrado e respeitado o


contraditório e a ampla defesa. Dessa forma, o fruto do incidente poderá ser usado validamente na fase
processual. Conta com a intervenção das futuras partes do processo. Art. 225, CPP - Se qualquer testemunha
houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
17
já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o
depoimento.

5. VÍCIOS NA INVESTIGAÇÃO

São irregularidades existentes na ação penal ocasionados no inquérito pelo desrespeito da legislação processual
ou principiologia penal. Existe nulidade na fase do inquérito policial? A doutrina se divide quanto à existência ou
não de nulidades na fase do inquérito policial, subsistindo as seguintes posições:

 Para Ada Pellegrini Grinover, o sistema de nulidade é idealizado para a fase processual (é uma sanção), e
no inquérito teríamos meras irregularidades ou vícios.

 Para Paulo Rangel, o sistema de nulidade é também aplicável ao inquérito, já que os requisitos do ato
jurídico perfeito são também aplicáveis na fase investigativa (é comum o uso da expressão “nulidades” nas
decisões do STF e do STJ – consolidação jurisprudencial).

Consequências: o entendimento prevalente é de que os vícios do inquérito policial ficam adstritos ao


procedimento e não tem o condão de contaminar o futuro processo, já que é procedimento meramente
dispensável (jurisprudência utilitarista do STF e STJ). Os vícios do inquérito são endoprocedimentais. Para Amilton
Bueno de Carvalho (Desembargador do RS), os vícios do inquérito atingem e contaminam o processo, pois o juiz,
ao ter contato com a investigação viciada, está impedido de proferir sentença (posição minoritária). Há, porém,
uma posição intermediária encampada por Gustavo Henrique Badaró, os vícios do inquérito comprometem o
processo quando atingem os elementos migratórios, já que a inicial acusatória assim lastreada está desprovida de
justa causa (base única de sustentação da denúncia) e a sentença que eventualmente valora elemento migratório
está contaminada por nulidade absoluta.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o


inquérito é mera peça informativa, de que se serve o Ministério Público para o início da ação penal. Assim, é
inviável a anulação do processo penal por alegada irregularidade no inquérito, pois, segundo jurisprudência
firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas a defeitos de ordem jurídica pelos quais são
afetados os atos praticados ao longo da ação penal condenatória. STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

6. INCOMUNICABILIDADE

Era a possibilidade do preso, durante o inquérito, não ter contato com terceiros, por decisão judicial motivada,
pelo prazo máximo de três dias e sem prejuízo do acesso do advogado.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
18

- Filtro Constitucional: Como o art. 136, §3º, IV, da CF - § 3º - Na vigência do estado de defesa: IV - é vedada a
incomunicabilidade do preso- não tolera incomunicabilidade, nem mesmo no Estado de Defesa, resta concluir que
o art. 21, CPP, não foi recepcionado (a exegese constitucional leva à conclusão de que a incomunicabilidade foi
revogada tacitamente). Contudo, há posição minoritária capitaneada por Vicente Greco que sustenta que o art.
21, CPP continuaria em vigor. Assim, para o doutrinador, a incomunicabilidade ainda persiste, já que a
Constituição no art. 136 está restrita à lógica do Estado de Defesa.

- Legislação Especial: A lei nº 10.792/2003 inseriu o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) nos arts. 52 e ss, LEP e,
mesmo nele, NÃO há previsão de incomunicabilidade, subsistindo apenas a necessidade do agendamento de
visitas.

7. ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA OU “COMPETÊNCIA” POLICIAL

É a quantidade de poder prefixada em lei e que vai delimitar a margem de atividade de determinada autoridade.

Critérios definidores da atribuição:

 Territorial: a circunscrição em que o crime se consumou figura como linha mestra na definição da
atribuição. Observação: nas comarcas com mais de uma circunscrição estão dispensadas as precatórias entre
delegados. Apenas nas circunscrições localizadas em outras comarcas é preciso usar precatórias;

 Material: permite especializar a atuação da polícia para determinado conjunto de infrações penais.
Teremos delegados especializados no combate a um determinado tipo de delito. Exemplo: Delegacia de
Homicídios.

Obs.: Pelo critério material teremos a bifurcação da polícia judiciária em estadual e federal, já que materialmente
esta última, de regra, investiga os crimes federais. Disciplinando o art. 144, da CF, a Lei nº 10.446/2002, autoriza
que a Polícia Federal investigue, excepcionalmente, crimes estaduais que exigem retaliação uniforme por sua
repercussão no plano interestadual ou internacional. Nesse caso, porém, a intervenção da policia federal não
afasta a atuação da polícia dos Estados, determinando a remessa do procedimento para o Ministério Público
Estadual e não federal;

#ALTERAÇÃOLEGISLATIVA #PF #MPF #TRF #DPU


ATRIBUIÇÕES DA POLÍCIA FEDERAL

A Polícia Federal investiga apenas crimes de competência da Justiça Federal?


CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
19
NÃO. Em regra, a Polícia Federal é responsável pela investigação dos crimes que são de competência da Justiça
Federal. Isso porque uma das principais funções da PF é exercer, com exclusividade, as funções de polícia
judiciária da União.

No entanto, a Polícia Federal investiga também outros delitos que não são de competência da Justiça Federal.

As atribuições da Polícia Federal estão previstas inicialmente no art. 144 da CF/88:

Art. 144 (...)


§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem
prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

INCISO I DO § 1º DO ART. 144 DA CF/88

Se você observar a redação do inciso I do § 1º do art. 144, acima transcrita, verá que ela é bem ampla,
especialmente na sua parte final. Veja novamente:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

Crimes que tenham repercussão interestadual ou internacional


Desse modo, a Polícia Federal tem atribuição para investigar crimes que tenham repercussão interestadual ou
internacional e exijam repressão uniforme.

Que crimes são esses?


A CF/88 afirma que a relação desses crimes deverá ser prevista em lei.

Que lei é esta?


A Lei n. 10.446/2002, cuja ementa é a seguinte:
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
20
Dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme,
para os fins do disposto no inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição.

LEI 10.446/2002

A Lei n. 10.446/2002, em seu art. 1º, traz uma lista de crimes que foram escolhidos pelo legislador e que podem
ser investigados pela Polícia Federal.

No caso dos delitos previstos neste artigo 1º, não importa se eles serão ou não julgados pela Justiça Federal. A
atribuição para investigá-los será da Polícia Federal.

Assim, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, a Polícia Federal
poderá investigar as seguintes infrações penais:

I – sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP) e extorsão mediante sequestro (art. 159), se o crime foi praticado
por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137/90);
III – crimes em que haja violação a direitos humanos que o Brasil se comprometeu a reprimir em tratados
internacionais; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou
internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação;
V – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e
venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou
alterado (art. 273 do CP);
*VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou caixas eletrônicos,
quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de um Estado da Federação.
**VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam conteúdo
misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.

Obs.: a Polícia Federal irá investigá-los sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Militares e Civis dos Estados,
ou seja, tais órgãos de segurança pública também poderão contribuir com as investigações.

Fora essa lista, a Polícia Federal poderá investigar outros crimes?


SIM. A lista do art. 1º da Lei n. 10.446/2002 é exemplificativa.
Assim, o Departamento de Polícia Federal poderá investigar outras infrações penais que não estejam nesta lista,
desde que:
• Tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça;
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
21
• A infração tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme.

Essa autorização mais genérica está prevista no parágrafo único do art. 1º da Lei n. 10.446/2002.

O que fez a Lei n. 13.124/2015?


Acrescentou mais um inciso ao art. 1º da Lei n. 10.446/2002 prevendo um novo rol de crimes que poderão ser
investigados pela Polícia Federal. Confira:

Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou
internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça,
sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal,
em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes
infrações penais: (...) VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou
caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de um Estado da
Federação.

Desse modo, a partir de agora existe previsão expressa de que a Polícia Federal poderá investigar:
• Furto, roubo ou dano
• contra instituições financeiras (incluindo agências ou caixas eletrônicos)
• quando houver indícios de que se trata de uma associação criminosa que atua em mais de um Estado da
Federação.

Obs.: tais crimes acima listados continuam sendo, em regra, de competência da Justiça Estadual. Apenas a
INVESTIGAÇÃO de tais delitos é que passou para a esfera federal. Assim, a Polícia Federal realiza o inquérito
policial e depois o remete para o juiz de Direito e o Promotor de Justiça que irão dar início e prosseguimento no
processo penal.

**#NOVIDADELEGISLATIVA #DIZERODIREITO:
O que fez a Lei nº 13.642/2018?
Acrescentou mais um inciso ao art. 1º da Lei nº 10.446/2002 prevendo novas hipóteses de crimes que poderão
ser investigados pela Polícia Federal. Confira:
Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou
internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça,
sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal,
em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes
infrações penais:
(...)
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
22
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam conteúdo
misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.

Desse modo, a partir de agora existe previsão expressa de que a Polícia Federal poderá investigar os crimes
praticados pela internet que envolvam a divulgação de mensagens, imagens, sons, vídeos ou quaisquer outros
conteúdos misóginos.

Conteúdo misógino é aquele que propaga o ódio ou a aversão às mulheres.

Obs.: esses crimes do art. 1º, VII acima referidos continuam sendo, em regra, de competência da Justiça
ESTADUAL. Apenas a INVESTIGAÇÃO de tais delitos é que passou para a esfera federal. Assim, a Polícia Federal
realiza o inquérito policial e depois o remete para o Promotor de Justiça e Juiz de Direito que irão dar início e
prosseguimento no processo penal.

*#OUSESABER: É verdade que, em razão de o Banco do Brasil ser uma sociedade de economia mista, a Justiça
Federal, como regra, não tem competência para julgar os crimes ocorridos contra a Instituição financeira (art.
109, IV, da CF). Por consequência, a Polícia Federal não investiga, também como regra, tais crimes. Porém, a Lei
10.446/02 autoriza a investigação pela PF de crimes que não são tipicamente da competência da Justiça Federal
(vale a pena a leitura do texto legal), inclusive "furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo
agências bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de
um Estado da Federação", situação na qual se pode incluir o Banco do Brasil. Assim, cuidado com alguma questão
que afirme que em nenhum caso poderá a PF investigar crimes contra sociedade de economia mista.

 Pessoal: defendido por Luiz Flávio Gomes, define que a figura da vítima poderá ser usada como
exponencial para delimitação da atribuição da polícia. Contudo, esse critério é ocioso, pois integra o critério
material. Exemplo: Delegacia da Mulher.

- E se o cumprimento de quaisquer desses critérios for desrespeitado? Não é relevante, pois os vícios do
inquérito, em regra, não contaminam o processo.

Obs.: – Avocatória: O chefe de polícia poderá avocar o inquérito e redistribuir a outro delegado por despacho
fundamentado desde que exista interesse público ou quando as regras procedimentais na condução da
investigação sejam violadas (§4º e §5º, do art. 2º, da Lei nº 12.830/2013).

8. PRAZO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


23
a) Delegado Estadual: Se o suspeito estiver preso, o inquérito deve ser concluído em 10 dias
(improrrogáveis); Se o suspeito estiver solto, o inquérito deve ser concluído em 30 dias (prorrogáveis por
deliberação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que ele autorizar, desde que exista provocação. A doutrina
prevalente recomenda que o Ministério Público seja ouvido, mas o CPP não faz essa previsão);

b) Delegado Federal: Se o suspeito estiver preso, o inquérito deve ser concluído em 15 dias (prorrogáveis,
uma vez, por 15 dias). Se o suspeito estiver solto, o inquérito deve ser concluído em 30 dias (prorrogáveis por
deliberação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que ele autorizar, desde que exista provocação. A doutrina
prevalente recomenda que o Ministério Público seja ouvido, mas o CPP não faz essa previsão);

c) Inquérito Policial no âmbito dos crimes contra economia popular: o prazo é de 10 dias, pouco importa se
o indiciado está preso ou solto. Como não há previsão legal, presume-se que o prazo é improrrogável.

d) Inquérito no tráfico de drogas e condutas comparadas: prazo de 30 dias, se o indiciado estiver preso
(prorrogáveis, uma vez por mais 30 dias – duplicáveis). Se o indiciado estiver solto, o prazo é de 90 dias
(prorrogáveis, uma vez por mais 90 dias – duplicáveis).

#ATENÇÃO – no âmbito da lei de tóxicos a deliberação do juiz pressupõe, por imposição normativa, a prévia oitiva
do MP. O CPP, no entanto, não traz essa previsão, mas a doutrina recomenda que se faça em homenagem ao
sistema acusatório.

e) Inquérito Policial Militar: se preso, 20 dias (improrrogáveis). Se solto, 40 dias (prorrogáveis, por mais 20
dias). Art. 20, caput e §1º CPPM.

#FOCONATABELA:
PRAZOS para conclusão do INQUÉRITO POLICIAL (em dias)
PRESO SOLTO
Regra Geral
10 30
(art. 10 do CPP)
Inquérito Policial
15 + 15 30
FEDERAL
Inquérito Policial
20 40 + 20
MILITAR
Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90
Crimes contra a
10 10
Economia Popular

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


24

Todavia, o TSE prevê o prazo de 10 dias (e não 15) para acusado preso e de 30 dias para acusado solto, sem
previsão de prorrogação (o que, na prática, é inviável e inoperante, configurando prazo impróprio). Entendemos
que essa previsão não se encontra nos termos da Lei n. 5.010/60 e causa embaraços, pois se trata de crime de
competência da Justiça Eleitoral (que é federal), e não crime de competência da Justiça Estadual (cuja aplicação
do CPP levaria ao prazo de 10 dias em indiciado preso) Entretanto, a Resolução n. 23.396/2013 do TSE, que dispõe
sobre a apuração de crimes eleitorais, em seu art. 9º, confirmou esse entendimento, ou seja, prazo para término
do inquérito policial Eleitoral de 10 dias.

Obs.: Forma de contagem do prazo:


(1) Doutrina majoritária: o prazo é de natureza processual, sendo regido pelas regras do art. 798 do CPP, o
que nos permite excluir o primeiro dia e incluir o de vencimento. (Mirabete e Denilson Feitosa Pacheco).
(2) Aury Lopes, Nucci: se o sujeito está preso, o prazo deve ser contado de acordo com o artigo 10 do Código
Penal, incluindo-se o primeiro dia e sendo descartado o do vencimento. DPU

Obs.: Compensação de prazos: possível. Entende-se atualmente que se o delegado exceder o prazo para
conclusão do inquérito com o suspeito preso, nada impede que o promotor, ao denunciar, promova o equilíbrio,
antecipando o oferecimento da denúncia e evitando assim eventual alegação de ilegalidade prisional por excesso
de prazo. Delegado 12 dias + promotor 3 dias = 15 dias. Obedeceu ao prazo legal de 10 +5. Pode haver, por
exemplo, excesso de prazo na instrução, compensado por um processo mais célere. Nestor Távora é totalmente
contra. Compensação de prazo é forma de burlar a lei.

Obs.: Preso: excesso abusivo – relaxamento. Excesso brando – nada, pois pode haver a compensação.

Obs.: Prisão temporária: uma vez decretada a prisão temporária, o seu prazo passa a reger o tempo de conclusão
do inquérito. Ex: crime hediondo – 30 + 30. O prazo para conclusão do inquérito passa a ser esse.

Obs: a regra do art. 798, §3º - O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o
dia útil imediato - não é aplicada para concluir inquérito, pois as polícias funcionam de domingo a domingo.

9. INDICIAMENTO

O CPP não define o indiciamento, mas a recente lei 12.830/13 regula a matéria.

- Conceito: O Aury Lopes Jr. tem a melhor obra sobre a matéria. Ele diz que indiciar significa direcionar o
inquérito, as investigações, à determinada pessoa. Agora não é mais possível que ela seja a responsável, mas sim

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


25
provável. Segundo o autor, indiciar nada mais é do que atribuir a alguém a prática de um fato delituoso, saindo-se
de um juízo de possibilidade para um juízo de probabilidade, mais robusto. É (a probabilidade) o que o Jacinto
Coutinho chama de verossimilhança.

- LEGITIMIDADE PARA O INDICIAMENTO: Caberá ao Delegado, privativamente, promover o indiciamento durante


o inquérito policial, não se submetendo a requisições emanadas de juiz ou do MP, nesse sentido. (art. 2o,
parágrafo 6o, da Lei 12.830/13).

INDICIAMENTO É ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DA AUTORIDADE POLICIAL, NÃO PODENDO SER DETERMINADO POR
MAGISTRADO

O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o indiciamento constitui
atribuição exclusiva da autoridade policial. É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta
determinada pessoa como autora do ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória, por
meio da qual o delegado de polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se
admite que seja requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do
inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida violação
ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido é a inteligência do art. 2º,
§ 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da polícia
judiciária. STJ. 5ª Turma, RHC 47.984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

- Pressupostos:
(1) adequada fundamentação: essa fundamentação é exigida no §6º do art. 2º da Lei 12.830/13 - O indiciamento,
privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que
deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. - e na instrução normativa nº11/2011 da Polícia
Federal.

(2) apontar os indícios da autoria, materialidade e as circunstâncias do delito.


- Momento do indiciamento: Em que pese à omissão da lei, a doutrina recomenda que o indiciamento se realize
assim que possível, o que normalmente ocorre após a oitiva do sujeito, para que ele tenha desde logo
conhecimento. Segundo Eugênio Pacceli, na prática o indiciamento vem ocorrendo no final do inquérito, quando
da apresentação do relatório.

Obs.: havendo prisão cautelar na fase investigativa, presume-se que o indivíduo esteja indiciado.

Obs.: MP/SP: durante o processo, justifica-se o indiciamento daquele que já é réu? Assim como o inquérito
policial, o indiciamento é dispensável. Havendo a deflagração do processo, não há razão para que se realize o
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
26
indiciamento retroativo do fato objeto da denúncia, afinal, assim como o inquérito, o indiciamento é dispensável.
Todavia, se durante o processo é descoberto um novo fato criminoso, nada impede a instauração incidental de
inquérito, com o respectivo indiciamento.

*#OUSESABER: O indiciamento consiste na atribuição da autoria ou participação de um delito a uma pessoa


específica. Com ele, as investigações serão direcionadas a pessoas determinadas. Vale lembrar que, segundo o
art. 2º, parágrafo 6º, da Lei 12.830/13, o indiciamento é ato PRIVATIVO do Delegado de Polícia, de modo que o
Ministério Público e o juiz não poderão requisitá-lo. Como se percebe, o indiciamento é típico das investigações,
não tendo qualquer utilidade após o início da ação penal. Por isso, o STJ tem entendido que, se ocorrer durante
a ação penal, configura constrangimento ilegal (HC 182.455/SP). Assim, após o início da ação penal, o
indiciamento é vedado.

Obs.: “menor”. O CPP considerava os suspeitos entre 18 e 21 anos como relativamente capazes, exigindo-se a
nomeação de curador. Atualmente, resta concluir que o art. 15 do CPP está tacitamente revogado pelo artigo 5º
do CC/2002, afinal ou os maiores de 18 anos são absolutamente capazes. O CPP foi moldado na égide do CC 16,
que considerava as pessoas entre 18 e 21 anos como menores. E essas pessoas quando indiciadas deveriam ter
um curador. ATENÇÃO! A figura do curador acabou? NÃO! Continua existindo para os doentes mentais, se num
processo incidental de insanidade mental se chegar a essa conclusão, e para os índios não adaptados ao convívio
social. O representante legal do enfermo ou retardado mental é o curador civil (representante legal), mas se ele
não tiver ou os interesses forem conflitantes, o juiz criminal lhe nomeará um. Permanecem as normas de direito
material que lhes são favoráveis. Art. 115 CP - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o
criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta)
anos

*Súmula 605-STJ: A SUPERVENIÊNCIA DA MAIORIDADE penal NÃO INTERFERE na apuração de ato infracional
nem na aplicabilidade de MEDIDA SOCIOEDUCATIVA em curso, inclusive na liberdade assistida, ENQUANTO NÃO
atingida a idade de 21 ANOS.

Obs.: Desindiciamento.

(1) Conceito: é a retirada do status de indiciado atribuído ao agente, o que não caracteriza desistência do
inquérito.
(2) Modalidades: I. Voluntário – é aquele realizado por iniciativa do próprio delegado. II. Coacto – é aquele
designado pela procedência do HC impetrado (ou MS caso não haja pena privativa de liberdade) para trancar o
inquérito, em virtude de patente ilegalidade. Hipóteses de trancamento.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


27
Obs.: sujeitos do indiciamento: a regra geral é de qualquer pessoa pode ser indiciada. Exceções:
(1) Membros do MP: não podem ser indiciados pelo Delegado. Art. 41, II, da Lei 8625/93 (lei orgânica do MP).
Os autos devem ser enviados ao Procurador Geral.
(2) Membros da Magistratura: os juízes não poderão ser indiciados pela polícia judiciária. Art. 33, parágrafo
único, da LC 35/79 - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do
magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial
competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
(3) Autoridades com foro por prerrogativa de função não poderão ser investigadas ou indiciadas pela polícia
judiciária, sem prévia análise do Tribunal onde usufrui da prerrogativa funcional. Decisão do STF - Inquérito 2411.
Para instaurar inquérito precisa de autorização do Min Relator.

*ATENÇÃO: Essa decisão do STJ não foi divulgada em informativo. O acórdão se refere a desnecessidade de
autorização judicial para a instauração de inquérito policial de autoridades com foro por prerrogativa de função.
Não se pode afirmar que houve mudança de entendimento. Basta saber a posição mais atualizada da Quinta
Turma do STJ, especialmente em provas discursivas e orais:

PENALE PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. 1. VIOLAÇÃO AO ART. 5º, II, DO CPP.
PROCEDIMENTOINVESTIGATÓRIO CRIMINAL. PODERESDE INVESTIGAÇÃO DO MP. RE 593.727/MG. 2.
INVESTIGADO COM FORO POR PRERROGATIVADE FUNÇÃO. PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO JUDICIÁRIO. AUSÊNCIA
DENORMA CONSTITUCIONAL OU INFRACONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. 3. CONTROLEPRÉVIO DAS
INVESTIGAÇÕES. VIOLAÇÃO AO SISTEMA ACUSATÓRIO. PRECEDENTEDO STF. 4. PREVISÃO DE CONTROLE
JUDICIAL DE PRAZOS. ART. 10,§ 3º, DO CPP. JUÍZOCOMPETENTE PARA O PROCESSO. 5. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n. 593.727/MG,
assentou que "os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição
Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de
investigação do Ministério Público". Dessarte, não há dúvidas sobre a constitucionalidade do procedimento
investigatório criminal, que tem previsão no art. 8º da Lei Complementar n. 75/1993 e no art. 26 da Lei n.
8.625/1993, sendo disciplinado pela Resolução n. 13/2006 do Conselho Nacional do Ministério Público. 2. No que
concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de função, tem-se que, embora possuam
a prerrogativa de serem processados perante o Tribunal, a lei não excepciona a forma como se procederá à
investigação, devendo ser aplicada, assim, a regra geral trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal,
a qual não requer prévia autorização do Judiciário. "A prerrogativa de foro do autor do fato delituoso é critério
atinente, de modo exclusivo, à determinação da competência jurisdicional originária do tribunal respectivo,
quando do oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita
à prévia autorização judicial". (Pet 3825 QO, Relator p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Pleno, julgado em
10/10/2007). Precedentes do STF e do STJ. 3. A ausência de norma condicionando a instauração de inquérito
policial à prévia autorização do Judiciário revela a observância ao sistema acusatório, adotado pelo Brasil, o qual
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
28
prima pela distribuição das funções de acusar, defender e julgar a órgãos distintos. Conforme orientação do
Supremo Tribunal Federal no julgamento de MC na ADI n. 5.104/DF, condicionar a instauração de inquérito
policial a uma autorização do Poder Judiciário, "institui modalidade de controle judicial prévio sobre a
condução das investigações, em aparente violação ao núcleo essencial do princípio acusatório". 4. Não há razão
jurídica para condicionara investigação de autoridade com foro por prerrogativa de função a prévia autorização
judicial. Note-se que a remessa dos autos ao órgão competente para o julgamento do processo não tem relação
com a necessidade de prévia autorização para investigar, mas antes diz respeito ao controle judicial exercido
nos termos do art. 10, § 3º, do Código de Processo Penal. De fato, o Código de Ritos prevê prazos para que a
investigação se encerre, sendo possível sua prorrogação pelo Magistrado. Contudo, não se pode confundir
referida formalidade com a autorização para se investigar, ainda que se cuide de pessoa com foro por
prerrogativa de função. Com efeito, na hipótese, a única particularidade se deve ao fato de que o controle dos
prazos do inquérito será exercido pelo foro por prerrogativa de função e não pelo Magistrado a quo. 5. Recurso
especial provido, para reconhecer violação ao art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, haja vista a
desnecessidade de prévia autorização do Judiciário para investigar autoridade com foro por prerrogativa de
função. (REsp 1563962/RN, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
08/11/2016, DJe 16/11/2016)

Obs.: classificação do indiciamento


(1) Direto: quando o suspeito está presente (regra)
(2) Indireto: quando o suspeito está ausente, foragido.

Obs.: consolidando o entendimento doutrinário prevalente, o §6º, do art. 2º, da Lei 12.830/13, assevera que o
ato de indiciar é privativo do delegado, não se submetendo a requisições do MP ou do Juiz ou CPI.

Obs.: Funcionário público. Por previsão do inciso VI, do art. 319 do CPP São medidas cautelares diversas da prisão:
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais., o afastamento do servidor pressupõe
deliberação do juiz, sendo necessário pertinência temática. Leia-se vínculo funcional na atividade delituosa. (art.
17-D da Lei 9613/98 – Lavagem – com redação da Lei 12.683/2012). – Em caso de indiciamento de servidor
público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz
competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. Alguns doutrinadores – Badaró, Brasileiro –
entendem que é inconstitucional por viola a presunção de inocência e o princípio da jurisdicionalidade, por uma
autoridade policial tomar a decisão.

10. PROCEDIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

- Início:
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
29
(1) Portaria: é a peça escrita que demarca o início da investigação policial. A Portaria contém o fato a ser
investigado, os eventuais envolvidos, possíveis testemunhas, diligências imediatamente cumpridas e o desfecho
onde o delegado determina que o escrivão a reduza a termo, instaurando-se assim o inquérito

Obs: A portaria pode ser substituída por outras peças. Eventualmente o auto de prisão em flagrante ou até
mesmo a requisição emanada do juiz ou do MP funcionam como portaria, dispensando que o Delegado baixe uma
nova.

#ATENÇÃO! Eventualmente, na esfera militar, o auto de flagrante pode se constituir no próprio inquérito, desde
que não sejam necessárias outras diligências para evidenciar a autoria e a materialidade. Art. 27 do CPPM.
Brasileiro entende ser possível aplicar essa previsão subsidiariamente ao direito processual penal comum.

(2) Notícia crime: é a comunicação da ocorrência do delito à autoridade que possui atribuição para agir. Não falar
em queixa.

2.1. Legitimidade passiva da notícia crime. Quem são os destinatários da notícia crime? Observa-se a tríade da
persecução penal: o Delegado, o MP e o Juiz.

 MP: O promotor pode requisitar ao Delegado a instauração do inquérito ou, desde que já haja lastro
probatório, oferecer a denúncia. Em que prazo? 15 dias para oferecer a denúncia, contados da provocação do
MP. Se ele não o fizer caberá ação peal subsidiária da pública. Se o promotor chega à conclusão, a partir da
noticia crime, que não há crime a apurar, requer ao juiz que a arquive.

#ATENÇÃO! Há arquivamento de qualquer peça de informação, não só de inquérito.

 Juiz: pode requisitar a instauração do inquérito policial. Para Paulo Rangel e Renato Brasileiro, em
homenagem ao sistema acusatório, é mais adequado que o juiz remeta a notícia ao MP, para que o Promotor
delibere quanto a que deve ser feito.

2.2. Legitimidade ativa da notícia crime.

Classificação da notícia crime

 Notícia crime direta ou de cognição imediata: é aquela atribuída às forças policiais ou papel
desempenhado pela imprensa.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


30
 Notícia crime indireta ou notícia crime de cognição mediata: é aquela prestada por pessoa estranha à
polícia, mas devidamente identificada. O seu conteúdo é a exposição do fato criminoso e suas circunstâncias; a
indicação do suposto autor do crime, com os sinais existentes para detectá-lo; e o apontamento das testemunhas.

A legitimidade ativa seria:


- Vítima ou representante legal (vítima menor de 18 anos), através de requerimento.

#ATENÇÃO! : havendo denegação de instauração do inquérito, caberá recurso administrativo ou recurso


inominado ou recurso interna corporis. Na prática, se o crime é de ação pública, o ofendido poderá provocar
diretamente o MP para que requisite a instauração do inquérito. Não cabe MS.

#ATENÇÃO! : nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a instauração do inquérito pressupõe
manifestação de vontade do legítimo interessado. Delatio criminis postularória

- MP ou Juiz, através de requisição. E o delegado, segundo entendimento doutrinário prevalente (Levy Magno),
estará obrigado a instaurar o inquérito, mesmo não havendo vínculo hierárquico, em razão do princípio da
obrigatoriedade. Art. 5º, II, do CPP. De maneira minoritária, entende-se que o delegado não está obrigado a
cumprir a requisição, já que não existe vínculo hierárquico. Art. 144, CF. (CESPE- Delegado/BA 2013).

- Qualquer do povo: é denominado de delação. Só é possível nos crimes de ação pública incondicionada. Art. 5º,
§3º, CPP. Tem o dever de informar a existência de crime: (1) aquele que estiver no exercício de função pública e
(2) no exercício da medicina ou outra profissão sanitária, salvo nos casos em que exponha o seu paciente a
processo criminal.

(3) autoridades públicas, sob pena de responder por prevaricação. Para Brasileiro a delatio pode ser tanto noticia
criminis direta como indireta.

#ATENÇÃO! : Notícia crime apócrifa ou inqualificada é a conhecida denúncia anônima. Scarance Fernandes diz
que, diante dessa notícia, deve o delegado aferir plausibilidade e verossimilhança por meio da Verificação de
Existência Prévia (VEP), para só então instaurar o inquérito. Não é outro o entendimento do STF, que entende que
a notícia crime apócrifa, por si só, não autoriza a instauração de inquérito policial, afastando a notícia anônima
como elemento único para deflagrar a investigação. STF HC 95244 4.5

#OLHAOGANCHO: “Denúncia anônima” e quebra de sigilo Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, não há
ilegalidade em iniciar investigações preliminares com base em "denúncia anônima" a fim de se verificar a
4
#FICADEOLHO: CAIU NA 2ª FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.
5
#FICADEOLHO: CAIU NA 2ª FASE DA DPE/AC (2017) #CESPE.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
31
plausibilidade das alegações contidas no documento apócrifo. A Polícia, com base em diligências preliminares
para atestar a veracidade dessas “denúncias” e também lastreada em informações recebidas pelo Ministério da
Justiça e pela CGU, requereu ao juízo a decretação da interceptação telefônica do investigado. O STF entendeu
que a decisão do magistrado foi correta considerando que a decretação da interceptação telefônica não foi feita
com base unicamente na "denúncia anônima" e sim após a realização de diligências investigativas e também com
base nas informações recebidas dos órgãos públicos de fiscalização. Renovação das interceptações A Lei nº
9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova." (art. 5º). A interceptação telefônica não
pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal ao número de
vezes para tal renovação, se comprovada a sua necessidade. STF. 2ª Turma. RHC 132115/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli,
julgado em 6/2/2018 (Info 890).

Obs.: notícia crime com força coercitiva. É aquela da prisão em flagrante, podendo ser direta ou indireta, nesta
última quando o flagrante for determinado por qualquer do povo. Art. 301 CPP.

Obs.: delatio criminis com força postulatória: é a representação típica dos crimes de ação penal pública
condicionada. São expressões sinônimas.

- Evolução da investigação
O inquérito ganha densidade com o cumprimento de diligências que podem ou devem ser cumpridas pela
autoridade policial para melhor aparelhar o inquérito. Cumpre ao Delegado na evolução do inquérito realizar as
diligências que entender pertinentes, tendo por parâmetro discricionário os artigos 6º e 7º do CPP. Os citados
artigos não exauriram a matéria, pois funcionam como mínimo contingencial, afinal são meramente
exemplificativos.

 Art. 6o  Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada
dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) (Vide Lei nº 5.970, de 1973)
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;  (Redação dada
pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro,
devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


32
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua
folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição
econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos
que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
X – colherinformaçõessobre a existência de filhos, respectivasidades e se possuemalgumadeficiência e o nome e o
contato de eventual responsávelpeloscuidados dos filhos, indicadopelapessoapresa.           (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)

 Art. 7o  Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade
policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.

*#NOVIDADELEGISLATIVA: Lei 13.344/2016: Em 06 de outubro de 2016, foi editada a Lei 13.344/2016, que
dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção
às vítimas; altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro), o Decreto-Lei n o 3.689, de 3
de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e o Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal); e revoga art. 231 e art. 231-A do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).

As principais mudanças no CPP (âmbito do Inquérito Policial) foram:

“Art. 13-A.  Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de
quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima
ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: 
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.” 
“Art. 13-B.  Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do
Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos
adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito
em curso. 
§ 1o  Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e
intensidade de radiofrequência. 
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
33
o
§ 2   Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização
judicial, conforme disposto em lei; 
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias,
renovável por uma única vez, por igual período; 
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial. 
§ 3o  Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta
e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. 
§ 4o  Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às
empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os
meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.”

Obs.: não há a restituição de coisas quando: Art. 118.  Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas
apreendidas não poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.  Art. 119.  As coisas a que se
referem os arts. 74 e 100 (instrumentos e produtos do crime) do Código Penal não poderão ser restituídas,
mesmo depois de transitar em julgado a sentença final, salvo se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-
fé.Art. 120.  A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo
nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante.

Obs.: apreensão de coisas através de busca pessoal:  Art. 244 A busca pessoal independerá de mandado, no caso
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou
papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

 Principais diligências

a) Identificação criminal: ela se caracteriza pela colheita de elementos que nos permitem diferenciar o indivíduo
das demais pessoas, como fotografia, impressão digital- datiloscópica- e colheita material biológico para
realização de DNA. (Art. 5º-A da lei nº 12.654/12 (que alterou a lei nº 12037/09): Os dados relacionados à coleta
do perfil genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade
oficial de perícia criminal.  § 1o  As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não
poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero,
consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados
genéticos.  § 2o  Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso, respondendo
civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos
nesta Lei ou em decisão judicial.  § 3o  As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


34
ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado.”) Em outros países se faz a
leitura da íris, que não é permitida no Brasil.

Tratamento normativo da matéria:


 Antes da CF/88 a matéria era regida pela súmula 568 do STF (A identificação criminal não constitui
constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente. (Superada pelo Art. 5º, LVIII,
CF - RHC 66881-RTJ 127/588) e a identificação criminal era praxe, mesmo para os identificados civilmente, não
havendo constrangimento ilegal. A regra era, portanto, a realização de identificação criminal.
 Com a CF/88 a matéria foi tratada no art. 5º, LVIII- o civilmente identificado não será submetido à
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei, de modo que aquele que é identificado civilmente não
terá que se submeter à identificação criminal. Atualmente a súmula 568 do STF não tem aplicação e do dispositivo
constitucional teremos duas regras de hermenêutica: quem não está identificado civilmente se enquadra na
hipótese de identificação criminal; quem está identificado civilmente, excepcionalmente será identificado
criminalmente, nas hipóteses legalmente disciplinadas.

Obs.: Legislação sobre o tema:


 Art. 109 ECA – para casos de confrontação. Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
submetido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de
confrontação, havendo dúvida fundada.
 Art. 5º da Lei 9.034/95 – compulsoriedade da identificação criminal dos envolvidos em organizações
criminosas.  Art. 5º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações
criminosas será realizada independentemente da identificação civil.
 Art. 3º da Lei 10.054/2000. ATENÇÃO: segundo o STJ (ROC 12.695), a lei 10.054 teria revogado o art. 5º
da lei de crime organizado, tratando especificamente da identificação criminal. Trouxe um rol de crimes que
autorizariam a identificação criminal e não trato do crime de organização criminosa.
 Atualmente a matéria está disciplinada na lei 12.037/09 que expressamente revogou a lei 10.054/00, e no
seu art. 3º apresenta as atuais hipóteses de identificação criminal, concentrando o tratamento legal sobre o tema.
Pode ser cópia autenticada.

Art. 3º  Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária
competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da
defesa; NOVO! Aqui cabe identificação por material genético.
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
35
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado
impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único.  As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra
forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado.

Obs.: destaca-se como inovação o inciso IV, autorizando a identificação criminal por despacho do juiz, se for
essencial à investigação. Caberá MS para a acusação e HC para a defesa.
Obs.: Brasileiro – cabe condução coercitiva.
Obs.: perfil genético – a coleta de amostras de sangue, urina no local do crime não viola o princípio da
nemotenetur se detegere.

b) Reconstituição do crime/reprodução simulada do fato: é a diligência para esclarecer o modus operandi do


crime e as circunstâncias do fato delituoso. Obs.: Restrições. Não haverá reprodução simulada que ofenda a
moralidade (ex. de reproduzir o coito no estupro) ou a ordem pública, a exegese de ordem pública, segundo o STJ,
é a de paz social (ex. reproduzir incêndio). Como entendimento pacificado, o agente não é obrigado a participar,
já que não poderá ser compelido a se autoincriminar (Pacto De São José Da Costa Rica) – STF já se manifestou no
sentido de que configura constrangimento ilegal prisão preventiva de indiciados diante da recusa em comparecer.
A polêmica se estabelece quanto à necessidade de comparecer, existindo duas posições: (1) Prevalece o
entendimento que o agente deve comparecer ao local, sob pena de condução coercitiva. (2) Para Aury Lopes Jr.,
o próprio comparecimento não é exigível, em razão do respeito ao princípio da ampla defesa. (Nestor e
Brasileiro).

Obs.: não se faz necessária a intimação do investigado ou de seu advogado para participar da reconstituição, por
ser procedimento inquisitorial. Fica a cargo da autoridade policial.
#ATENÇÃO: se esta for realizada na fase judicial do processo, após o oferecimento da denúncia, deverá contar
com o contraditório Neste caso (fase judicial), a notificação do réu e a intimação do defensor seriam obrigatórias.

- Encerramento
a) Relatório. O relatório não é uma peça opinativa, e sim essencialmente descritiva, que aponta as diligências
realizadas e eventualmente justifica as que não foram feitas, por algum motivo relevante, ratificando a
unidirecionalidade do inquérito (Art. 1º, §1º, CPP: A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado
e enviará autos ao juiz competente). Não confundir descritividade com neutralidade, pois esta última se
caracteriza pela absoluta ausência de axiologia, valor, o que não ocorre no relatório, tanto que Delegado pode
apontar artigos de lei pelos quais indiciou o sujeito, o que não vincula o MP.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


36
Obs.: Lei de tóxicos – para Luiz Flávio Gomes, o relatório da lei de tóxicos tem certo caráter opinativo, já que o
Delegado deve indicar porque enquadrou o agente como traficante e não como mero usuário. Art. 52, I, da Lei
11343/06 - Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os
autos do inquérito ao juízo: I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o
local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente;

b) Remessa dos autos do inquérito. Os autos são remetidos ao Juiz. Nada impede que a remessa do inquérito
seja feita diretamente ao MP, através das Centrais de Inquérito (órgão do MP), criadas em alguns estados da
federação, homenageando-se assim o sistema acusatório e retirando do Juiz esse papel de interlocutor.

*#ATENÇÃO:
STF STJ
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a
tramitação direta do inquérito policial entre a polícia e Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que,
o Ministério Público. É CONSTITUCIONAL lei estadual fundada na Res. CJF n. 63/2009, estabelece a
que preveja a possibilidade de o MP requisitar tramitação direta de inquérito policial entre a Polícia
informações quando o inquérito policial não for Federal e o Ministério Público Federal. STJ. 5ª Turma.
encerrado em 30 dias, tratando-se de indiciado solto. RMS 46.165-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
STF. Plenário. ADI 2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. 19/11/2015 (Info 574).
Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014 (Info 741).

#ATENÇÃO! Na esfera federal, o inquérito é encaminhado pelo Delegado Federal à Vara Federal Criminal, que
alimenta o sistema, seguindo para o MPF sem a necessidade de qualquer despacho do Juiz, ressalvadas as
hipóteses em que a intervenção judicial se faz necessária. Ex. quando o Delegado faz a representação por alguma
medida cautelar. Resolução 63, artigos 1º, 2º e 5º do Conselho da JF. Brasileiro: sistema acusatório, celeridade,
imparcialidade – direto pro MP. Não foi recepcionado pela CF.

Art. 1º Os autos de inquérito policial somente serão admitidos para registro, inserção no sistema processual
informatizado e distribuição às Varas Federais com competência criminal quando houver: a) comunicação de
prisão em flagrante efetuada ou qualquer outra forma de constrangimento aos direitos fundamentais previstos
na Constituição da República; b) representação ou requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público
Federal para a decretação de prisões de natureza cautelar; c) requerimento da autoridade policial ou do
Ministério Público Federal de medidas constritivas ou de natureza acautelatória; d) oferta de denúncia pelo
Ministério Público Federal ou apresentação de queixa crime pelo ofendido ou seu representante legal; e) pedido

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


37
de arquivamento deduzido pelo Ministério Público Federal; f) requerimento de extinção da punibilidade com
fulcro em qualquer das hipóteses previstas no art. 107 do Código Penal ou na legislação penal extravagante.
Art. 2º Os autos de inquérito policial, concluídos ou com requerimento de prorrogação de prazo para o seu
encerramento, quando da primeira remessa ao Ministério Público Federal, serão previamente levados ao Poder
Judiciário tão-somente para o seu registro, (sem distribuição às varas federais) que será efetuado respeitando-se
a numeração de origem atribuída na Polícia Federal.
Art. 5º Os advogados e os estagiários de Direito regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil terão
direito de examinar os autos do inquérito, devendo, no caso de extração de cópias, apresentar o seu
requerimento por escrito à autoridade competente.

Obs.: deve o Delegado oficiar o órgão de identificação e estatística, não só para que se promova o
acompanhamento dos índices de criminalidade, como também para alimentar o boletim individual, que nada mais
é do que o registro de acesso restrito que aglutina o histórico de investigações do agente. O NUCCI chega a dizer
que não existe mais o boletim individual, pois hoje se concentra tudo num sistema único de certidão.
Dependendo do estado ainda tem.

c) Cabe a juiz abrir vista ao MP.

 Se o crime é de ação privada, o Promotor vai se manifestar pela permanência do inquérito na vara
criminal. A expectativa é que o advogado da vítima fotocopie o processo e, se a vítima desejar, ajuíza a ação.
Nada impede que o advogado da vítima já tenha obtido traslado do inquérito com o próprio delegado, art. 19 do
CPP - Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente,
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
pedir, mediante traslado.

 Se o crime é de iniciativa pública:

(1) Há indícios de autoria e indícios de materialidade: oferta da denúncia para iniciar o processo.

(2) Não existem até o momento indícios da autoria ou da materialidade: há esperança de que eles sejam
imediatamente colhidos. Deve, então, requisitar novas diligências que sejam imprescindíveis ao início do processo
art. 16 CPP - O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para
novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


38
Obs.: esta requisição pode ser feita diretamente ao Delegado, passando pelo Juiz nas estritas hipóteses de
cláusula de reserva jurisdicional. Segundo Tourinho Filho, o Juiz não pode indeferir a remessa ao Delegado e se
ele o fizer estará tumultuando a evolução do procedimento, o que enseja correição parcial.
Obs.: Situação prisional. A requisição diligencial é incompatível com eventual subsistência de prisão cautelar, que
deve ser relaxada.

(3) Não há viabilidade para o início do processo: requisição do arquivamento ao Juiz 6. A) Se o juiz concordar
ele homologa. O arquivamento é ato complexo, resultante de um somatório de vontade (juiz não pode de ofício).
Percebe-se que o arquivamento é feito por ato do juiz, pressupondo requerimento do MP, o que o caracteriza
como ato complexo. B) Se o Juiz discordar do MP, ele deve invocar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao
Procurador Geral. Não pode simplesmente determinar a realização de diligências, cabendo correição parcial. 
Art. 28.  Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia,
designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só
então estará o juiz obrigado a atender. Aqui o juiz desempenha uma função anômala, atuando como fiscal do
princípio da obrigatoriedade do exercício da ação pública, que deve ser observado pelo MP, quando presentes os
requisitos legais de autoria e materialidade. A aplicação do art. 28 do CPP caracteriza o princípio da devolução,
afinal a controvérsia é devolvida para solução dentro do próprio MP (também é utilizado quando o Promotor
deixa de oferecer transação penal, suspensão condicional do processo ou não promove o aditamento da
mutatiolibelli).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que,
mesmo após terem sido feitas diligências de investigação e terem sido descumpridos os prazos para a instrução
do inquérito, não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou materialidade (art. 231, § 4º, “e”, do RISTF). A
pendência de investigação, por prazo irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o direito à
razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88) e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88).
Caso concreto: tramitava, no STF, um inquérito para apurar suposto delito praticado por Deputado Federal. O
Ministro Relator já havia autorizado a realização de diversas diligências investigatórias, além de ter aceitado a
prorrogação do prazo de conclusão das investigações. Apesar disso, não foram reunidos indícios mínimos de
6
A respeito do arquivamento do Inquérito Policial, a prova do TRF4/2016 considerou corretas as seguintes assertivas: I. Se o
pedido de arquivamento do inquérito formulado pelo Ministério Público se funda na extinção da punibilidade, o juiz há de
proferir decisão a respeito, para declará-la ou para denegá-la, caso em que o julgado vinculará a acusação: há, então,
julgamento definitivo. II. Se o pedido de arquivamento traduz, na verdade, recusa de promover a ação penal, por entender
que o fato, embora apurado, não constitui crime, o juiz há de decidir a respeito e, se acolher o fundamento do pedido, a
decisão terá a mesma eficácia de coisa julgada darejeição da denúncia por motivo idêntico, impedindo denúncia
posterior com base na imputação que se reputou não criminosa. III. Se o arquivamentoé requerido por falta de base
empírica para o oferecimento da denúncia, de cuja suficiência é o Ministério Público árbitro exclusivo, o juiz, conforme o
art. 28 do Código de Processo Penal, pode submeter o caso ao chefe da instituição, o procurador-geral, que, no entanto, se
insistir nele, fará o arquivamento irrecusável. IV. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.”.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
39
autoria e materialidade. Com o fim do foro por prerrogativa de função para este Deputado, a PGR requereu a
remessa dos autos à 1ª instância. O STF, contudo, negou o pedido e arquivou o inquérito, de ofício, alegando que
já foram tentadas diversas diligências investigatórias e, mesmo assim, sem êxito. Logo, a declinação de
competência para a 1ª instância a fim de que lá sejam continuadas as investigações seria uma medida fadada ao
insucesso e representaria apenas protelar o inevitável. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 21/8/2018 (Info 912). No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. INQ 4.442, Rel. Min. Roberto
Barroso, Dje 12/06/2018.

*#DEOLHONAJUSTIÇAMILITAR #DPU: É ilegal Portaria expedida por Juiz-Auditor Militar na qual ele afirma que os
pedidos de arquivamento de procedimento investigatório criminal instaurados pela Procuradoria de Justiça
Militar não devem ser recebidos ou distribuídos pela Justiça Militar. A referida Portaria é ilegal porque existe um
procedimento previsto expressamente no art. 397 do CPPM para os casos de pedido de arquivamento do
inquérito policial ou procedimento investigatório criminal. Diante de um pedido de arquivamento, compete ao
Juiz-Auditor a adoção de duas possíveis condutas: a) anuir (concordar) com o arquivamento proposto; ou b)
discordando da fundamentação apresentada, remeter o processo ao Procurador-Geral. A recusa em dar
andamento ao pleito de trancamento configura inaceitável abandono do controle jurisdicional a ser exercido no
tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal. TRATA-SE DE UMA FUNÇÃO ATÍPICA DO JUIZ DE “FISCAL
DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL”! STF. 1ª Turma. RMS 28428/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
8/9/2015 (Info 798).

 Oferecer a denúncia

 Designar outro membro do MP para oferecer a denúncia. De acordo com a posição majoritária
encampada por Tourinho Filho, o membro designado está obrigado a denunciar, pois atua por delegação, como
longa manus do Procurador Geral. No transcorrer do processo, no entanto, ele poderia pedir a absolvição
(Polastri Lima). Para Rômulo Moreira – examinador MP/BA (minoritária), o membro designado pode se negar a
denunciar, em respeito à independência funcional.

 Requisitar diligências

 Insistir no arquivamento. Aqui o juiz estaria obrigado a arquivar.

(4) O promotor chega à conclusão que não possui atribuição para agir: declina do feito, requerendo a
remessa à outra esfera jurisdicional. Esse requerimento será apresentado ao juiz, que terá duas alternativas: a)
juiz concorda – vai deferir a remessa.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
40

Obs.: se o juiz para onde os autos foram remetidos não concordar com a remissão, deverá suscitar um conflito
negativo de competência, que se for estabelecido ente um juiz estadual e um federal será resolvido pelo STJ; b)
juiz não concorda – por analogia, deverá invocar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador Geral em
fenômeno jurídico apelidado pelo STF de arquivamento indireto.

Obs.: Esfera federal: a JF, a Justiça comum do DF e Justiça Militar da União: na esfera federal, teremos a Câmara
de Coordenação e Revisão do MPF, art. 62, IV da Lei Complementar 75/93, e, neste caso, a Câmara poderá atuar
de maneira opinativa ou imprimir a solução final nas diretrizes do art. 28 do CPP, conforme a delegação do PGR.
Só tem a palavra final se assim for delegado pelo PGR. Do contrário, é meramente opinativo.

Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:


I - promover a integração e a coordenação dos órgãos institucionais que atuem em ofícios ligados ao setor de sua
competência, observado o princípio da independência funcional;
II - manter intercâmbio com órgãos ou entidades que atuem em áreas afins;
III - encaminhar informações técnico-jurídicas aos órgãos institucionais que atuem em seu setor;
IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou peças de informação,
exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral;
V - resolver sobre a distribuição especial de feitos que, por sua contínua reiteração, devam receber tratamento
uniforme;
VI - resolver sobre a distribuição especial de inquéritos, feitos e procedimentos, quando a matéria, por sua
natureza ou relevância, assim o exigir;
VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal.

Obs.: Esfera eleitoral. Prevalece o entendimento de que o §1º do art. 357 do Código Eleitoral está revogado pela
Lei Complementar 75/93, de forma que os autos também devem ser remetidos para a Câmara de Coordenação e
Revisão.

Obs.: Súmula 524 STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. X art. 18 do CPP - Depois de ordenado o
arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial
poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Segundo entendimento sumulado pelo STF,
o arquivamento não é apto a gerar a coisa julgada material, tanto é verdade eu se surgirem novas provas
enquanto o crime não estiver prescrito, o Promotor poderá oferecer denúncia. CONCLUSÕES: (1) o arquivamento
é decisão administrativa judicial. (2) o arquivamento segue a cláusula rebus sic stantibus (como as coisas estão).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


41
*#DEOLHONAJURIS #STF #DIZERODIREITO: Em 2016, foi instaurado inquérito no STF para apurar crimes de
corrupção passiva (art. 317 do CP) e de lavagem de dinheiro (art. 1º, V, da Lei nº 9.613/98) que teriam sido
praticados por Aécio Neves. O Delegado de Polícia Federal concluiu as investigações, opinando, no relatório
policial, pelo arquivamento do inquérito sob a alegação de que não foram reunidos indícios contra o investigado.
A Procuradoria-Geral da República afirmou que, após a manifestação do Delegado, surgiram novos indícios e que,
portanto, as investigações deveriam continuar. Afirmou, contudo, que o STF deveria remeter os autos à 1ª
instância para que as investigações continuassem lá, tendo em vista que os delitos praticados por Aécio Neves
teriam sido praticados fora do cargo de parlamentar federal, não havendo competência do STF. O STF determinou
o retorno dos autos à PGR para que ela conclua as diligências ainda pendentes de execução, no prazo de 60 dias,
e que depois apresente manifestação conclusiva nos autos, apontando concretamente os novos elementos de
prova a serem considerados. De posse de manifestação mais objetiva da PGR, com provas suficientes para
eventual continuidade das investigações, o STF poderá avaliar se é mesmo o caso de arquivamento ou se a
investigação deve prosseguir e em que condições. STF. 2ª Turma. Inq 4244/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o
ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2018 (Info 924).

- Novas provas

1. Conceito

As novas provas surgiriam de que maneira? O Promotor conta com a ajuda da polícia que está autorizada a
realizar diligências para colher novas provas. Se o Promotor estiver convencido que se trata de prova nova, ele
oferecerá denúncia. Segundo Paulo Rangel, o desarquivamento compete ao Ministério Público por ato simples
(ato unilateral), concentrado no titular da ação, quando tem notícia do surgimento de provas novas. A partir daí a
polícia pode realizar diligências na esperança de prospectar eventual prova nova que viabilize a futura deflagração
do processo. A figura do Ministério Público que vai deliberar sobre o desarquivamento está previsto na lei de
organização do Ministério Público. Em alguns Estados, a competência é do membro que originariamente atuava
no inquérito policial, em outros Estados é o Procurador Geral de Justiça.

2. Classificação

 Prova substancialmente nova: é a prova inédita que até então não se tinha conhecimento.
 Prova formalmente nova: é aquela já conhecida, mas que ganhou uma nova versão dentro de um
contexto lógico (exemplo: alteração do teor do depoimento da testemunha).
Conclusão: As duas modalidades probatórias poderão eventualmente lastrear a denúncia para a deflagração do
processo após o arquivamento do inquérito.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


42
3. Natureza Jurídica:

O surgimento de prova nova consubstancia uma condição de procedibilidade para deflagração do processo.

- Fundamentos para o arquivamento e coisa julgada7:

 Por ausência de condição da ação ou de pressuposto processual : esse arquivamento não faz coisa
julgada material, e sim mera coisa julgada formal (exemplo: um crime de ação penal condicionada que não conta
com a representação da vítima);

 Por ausência de lastro probatório mínimo (justa causa) : esse arquivamento não faz coisa julgada
material, pois se surgirem novas provas, poderá ser oferecida denúncia. Nesse caso, tem-se apenas coisa julgada
formal;

 Atipicidade do fato: a atipicidade pode ser formal ou material. Quando a conduta não corresponde a um
tipo penal. Para o STF, a homologação do juiz para o arquivamento é apta a gerar coisa julgada material, não
sendo possível denunciar mesmo diante do surgimento de novas provas (o investigado tem status de absolvido -
O STF chama de sentença fora do processo). Da mesma forma acontece para o caso de atipicidade material
pautada no princípio da insignificância. Em resumo, segundo o STF, se o Promotor pede o arquivamento em razão
da certeza da atipicidade formal, eventual homologação faz coisa julgada material, de forma que não cabe
denúncia nem mesmo pelo surgimento de novas provas. O mesmo se diga se o arquivamento é pautado no
princípio da insignificância, o que revela uma atipicidade material da conduta (STF HC 84156);

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
INQUÉRITO POLICIAL - ARQUIVAMENTO ORDENADO POR MAGISTRADO COMPETENTE, A PEDIDO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, POR AUSÊNCIA DE TIPICIDADE PENAL DO FATO SOB APURAÇÃO - REABERTURA DA INVESTIGAÇÃO
POLICIAL - IMPOSSIBILIDADE EM TAL HIPÓTESE - EFICÁCIA PRECLUSIVA DA DECISÃO JUDICIAL QUE DETERMINA O
ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL, POR ATIPICIDADE DO FATO - PEDIDO DE "HABEAS CORPUS"
DEFERIDO. - Não se revela cabível a reabertura das investigações penais, quando o arquivamento do respectivo
inquérito policial tenha sido determinado por magistrado competente, a pedido do Ministério Público, em virtude
da atipicidade penal do fato sob apuração, hipótese em que a decisão judicial - porque definitiva - revestir-se-á de
eficácia preclusiva e obstativa de ulterior instauração da "persecutio criminis", mesmo que a peça acusatória
busque apoiar-se em novos elementos probatórios. Inaplicabilidade, em tal situação, do art. 18 do CPP e da

7
Enquadramento jurídico – a coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão dentro do procedimento em que foi proferida (não tem
repercussão extraprocedimental). Já na coisa julgada material, a imutabilidade da decisão projeta-se para fora do processo e o seu objeto
não poderá ser rediscutido em um novo procedimento. Para ocorrência da coisa julgada material, pressupomos a existência de coisa
julgada formal.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


43
Súmula 524/STF. Doutrina. Precedentes. (STF - HC: 84156 MT , Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de
Julgamento: 26/10/2004, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 11-02-2005 PP-00017 EMENT VOL-02179-02 PP-
00172 RTJ VOL-00193-02 PP-00648 REVJMG v. 56, n. 172, 2005, p. 437-450)

 Excludente de culpabilidade: se o motivo determinante do arquivamento dos autos do inquérito policial


tiver sido a presença de causa exculpante (v.g., coação moral irresistível), tal decisão fará coisa julgada formal e
material, já que houve pronunciamento de mérito sobre a conduta do agente;

 Causa extintiva da punibilidade (art. 107 do CP) : o arquivamento faz coisa julgada material, ressalvando-
se apenas, segundo o STF, o pedido embasado em certidão de óbito falsa, considerando que a decisão com esse
lastro é inexistente (STF HC 84525).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO
FALSA. DECRETO QUE DETERMINA O DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO
SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. I. - A decisão que, com base
em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada
em sentido estrito. II. - Nos colegiados, os votos que acompanham o posicionamento do relator, sem tecer novas
considerações, entendem-se terem adotado a mesma fundamentação. III. - Acórdão devidamente fundamentado.
IV. - H.C. indeferido. (STF - HC: 84525 MG , Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 15/11/2004, Segunda
Turma, Data de Publicação: DJ 03-12-2004 PP-00050 EMENT VOL-02175-02 PP-00285 LEXSTF v. 27, n. 315, 2005,
p. 405-409)

 Excludente de ilicitude: divergência. É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de


denúncia se o inquérito policial havia sido arquivado com base em excludente de ilicitude?
 STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência de causa excludente da
ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do caso penal. O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula
524 do STF realmente permitem o desarquivamento do inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa
possibilidade só existe na hipótese em que o arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de
suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e certeza de materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp
791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014 (Info 554).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Se o inquérito policial foi arquivado por ter sido reconhecido que o investigado
agiu em legítima defesa, essa decisão de arquivamento faz coisa julgada material. Assim, não é possível a
rediscussão do caso penal (desarquivamento), mesmo que, em tese, surjam novas provas. A permissão legal
contida no art. 18 do CPP, e pertinente Súmula 524/STF, de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


44
provas novas, somente tem incidência quando o fundamento daquele arquivamento foi a insuficiência
probatória. A decisão que faz juízo de mérito do caso penal, reconhecendo atípica, extinção da punibilidade
(por morte do agente, prescrição etc.) ou excludentes da ilicitude, exige certeza jurídica que, por tal, possui
efeitos de coisa julgada material. Assim, promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento
de legítima defesa, a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal,
descabendo perquirir a existência de novas provas. STJ. 6ª Turma. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 25/11/2014 (Info 554).

 STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento de excludente de
ilicitude não faz coisa julgada material. (Info 796).

*RESUMO DIZER O DIREITO ATUALIZADO:


MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL DESARQUIVAR?
SIM
1) Insuficiência de provas
(Súmula 524/STF)
2) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal SIM
3) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou
SIM
prova da materialidade)
4) Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO
STJ: NÃO (REsp 791471/RJ)
5) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude
STF: SIM (HC 125101/SP)
NÃO
6) Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade
(posição da doutrina)
NÃO
(STJ HC 307.562/RS)
7) Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade
(STF Pet 3943)
Exceção: certidão de óbito falsa

OBS.: Para a doutrina majoritária, a coisa julgada material não se altera mesmo que o arquivamento se efetive
por decisão de juiz absolutamente incompetente.

*#TEXTOCOMPLEMENTAR #MUDANÇADEENTENDIMENTODOSTF 8:

HÁ ALGUMA POSSIBILIDADE DE A DECISÃO DE ARQUIVAMENTO PRODUZIR COISA JULGADA MATERIAL?

8
Mais informações em: https://blog.ebeji.com.br/arquivamento-de-inquerito-policial-com-fundamento-na-excludente-de-
ilicitude-ha-formacao-de-coisa-julgada-material-ou-nao-2/
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
45
Tradicionalmente, a maior parte da doutrina processual penal (não é unanimidade) afirma que há casos em que
devemos reconhecer que a decisão homologatória do arquivamento do inquérito policial tona-se imutável e
impede, definitivamente, tanto o desarquivamento do inquérito, quanto à propositura de ação penal.
Existe, em casos tais, a coisa julgada material, ou seja, um grau de imutabilidade da decisão de arquivamento que
impede nova persecução penal pelo mesmo fato. Isso se verifica, conforme ensina o professor da USP Gustavo
Henrique Badaró, nas hipóteses em que o arquivamento se opera não em razão de uma mera constatação de
insuficiência de elementos de informação sobre a existência material do fato ou de sua autoria, já que nesses
casos há apenas a coisa julgada formal (rebus sic stantibus). A coisa julgada material seria formada quando, a
partir de reconstrução fática segura, houver o reconhecimento de (i) atipicidade dos fatos investigados, (ii)
extinção da punibilidade ou ainda (iii) EXCLUDENTE DA ILICITUDE.
Nesses casos apontados como exceção, há indubitavelmente uma manifestação do juízo acerca de matéria
meritória, razão pela qual se estaria diante de juízo de convencimento quanto à inexistência de conduta
criminosa, ao contrário de um mero juízo de insuficiência probatória. Apesar de ser essa a minha opinião,
compartilhada (repita-se) por grande parte da doutrina especializada, em relação especificamente à formação da
coisa julgada material quando o arquivamento do inquérito policial se pautar em CAUSA EXCLUDENTE DA
ILICITUDE, há intensa e severa divergência jurisprudencial.
No Superior Tribunal de Justiça, essa matéria é mais tranquila e, acompanhando a doutrina, a Corte recentemente
ratificou o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de
legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude), a coisa julgada material impede rediscussão do
caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas” (vide REsp
791.471/RJ) .

Já na Suprema Corte (STF), o tema sempre foi objeto de intensa controvérsia. Em nossas aulas de processo penal
na EBEJI mencionávamos um julgado (até então) ISOLADO da 1ª Turma, no HC 95.211/ES, em que se concluiu que
“decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada por
juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a
ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o desarquivamento do inquérito,
como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal”.

Como salientado, inicialmente tal posicionamento parecia aplicado apenas em relação a um caso concreto,
isolado! Todavia, no ano de 2015, houve um “novo capítulo” dessa polêmica, publicada no Informativo 796,
indicando que o “arquivamento de inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude da prática de conduta
acobertada pela excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), NÃO
OBSTA SEU DESARQUIVAMENTO NO SURGIMENTO DE NOVAS PROVAS (Súmula nº 5241/STF)”. (HC 125101,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
25/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 10-09-2015 PUBLIC 11-09-2015).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


46
Assim, em relação à formação da coisa julgada material quando o fundamento do arquivamento de IP for uma
causa excludente da ilicitude, passamos a ter entendimentos tanto da 1ª Turma, como também da 2ª Turma, a
partir de 2015.

Poderíamos dizer que a posição do Supremo ESTAVA consolidada? Não! Isso porque a formação da Corte sofreu
uma série de modificações e não tínhamos uma posição do Plenário! Restava pendente no Pleno o julgamento da
tese no HC 87.395/PR, cujo andamento FICOU SUSPENSO ATÉ O FINAL DO MÊS DE MARÇO DE 2017! Havia 3 votos
favoráveis à tese de que a partir do momento em que uma excludente de ilicitude é invocada para justificar o
arquivamento, há produção da coisa julgada formal e também material!!!

Bacana, mas e o que prevaleceu?

O entendimento do STF, AGORA PACIFICADO, após os votos favoráveis dos Ministros Lewandowiski, Rosa
Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Carmen Lúcia e Barroso foi no sentido de apontar que a
jurisprudência do STF é no sentido de que O ARQUIVAMENTO PRODUZ COISA JULGADA MATERIAL NO CASO DE
PRESCRIÇÃO OU ATIPICIDADE DA CONDUTA, MAS NÃO EM CASOS DE EXCLUDENTE DA ILICITUDE!
Conforme noticiado no Informativo dessa semana do STF (858), a conclusão do Plenário foi no sentido de que “o
arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas fraudadas não faz
coisa julgada material. (...) Asseverou que o arquivamento do inquérito não faz coisa julgada, desde que não
tenha sido por atipicidade do fato ou por prescrição”.

Conclusão 1: O STJ entende, de maneira tranquila, que há nessas situações a formação da coisa julgada formal e
também material, razão pela qual a rediscussão dos mesmos fatos é impossível. Da mesma forma, assim se
posiciona a doutrina especializada majoritariamente.

Conclusão 2: O STF, através do recentíssimo posicionamento de seu órgão Plenário, entende em sentido diverso
ao STJ, apontando que, ao contrário da atipicidade e extinção da punibilidade, o arquivamento com base em
excludente de ilicitude somente faria coisa julgada formal e, com o surgimento de novas provas, seria possível o
desarquivamento das investigações.

Conclusão 3: Teremos que aguardar como se comportará a jurisprudência do STJ, pois é possível que venha a
aderir ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez (por ora) não é vinculante!

*O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas fraudadas não
faz coisa julgada material. STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/3/2017
(Info 858). Obs1: o STF entende que o inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude pode ser reaberto
mesmo que não tenha sido baseado em provas fraudadas. Se for com provas fraudadas, como no caso acima,
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
47
com maior razão pode ser feito o desarquivamento. Obs2: ao contrário do STF, o STJ entende que o arquivamento
do inquérito policial baseado em excludente de ilicitude produz coisa julgada material e, portanto, não pode ser
reaberto. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/02/2015.

- Arquivamento originário: é aquele que vai ser proposto pelo próprio Procurador Geral do Ministério Público nas
hipóteses de sua atribuição originária. Nesse caso, para o TJ não há possibilidade de aplicação do artigo 28, do
CPP, restando para o caso a seguinte solução procedimental. Segundo Rômulo Moreira, deve o Procurador Geral
realizar o arquivamento na própria Procuradoria Geral (interna corporis). Alguns entendem que não há
necessidade de pedir o arquivamento para o Tribunal, salvo nas hipóteses em que se admite coisa julgada
material, quando então o arquivamento deve ser submetido à análise do Tribunal Renato B. (STF Inq. 1443 e
2431). Diante do arquivamento do Procurado Geral, o legítimo interessado que se sentir prejudicado, pode
provocar o Colégio de Procuradores no âmbito estadual para que ele analise a pertinência do arquivamento
proposto (Art. 12, XI, da Lei nº 8.625/93).
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe:
XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento
de inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua
atribuição originária;

*Imagine que um Subprocurador-Geral da República, após autorização do STJ, instaurou procedimento de


investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao final das diligências, o membro do
MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do
procedimento. O STJ poderá discordar do pedido? NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação que tramitem originariamente perante o
STJ, este, mesmo que não concorde com as razões invocadas pelo MP, deverá determinar o arquivamento
solicitado. Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se o STJ discordar, ele não poderá
remeter os autos para análise do Procurador-Geral da República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP? NÃO.
Não existe esta possibilidade de remessa para o PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP neste caso. Isso porque os
membros do MPF que funcionam no STJ atuam por delegação do Procurador-Geral da República. Assim, em
decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação penal se manifesta pelo arquivamento de
inquérito policial ou de peças de informação, não há alternativa, senão acolher o pedido e determinar o
arquivamento. Em suma, não há que se falar em aplicação do art. 28 do CPP nos procedimentos de competência
originária do STJ. O MPF pediu o arquivamento, este terá que ser homologado pela Corte. STJ. Corte Especial. Inq
967-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/3/2015 (Info 558).

- Arquivamento implícito: Surgiu na discussão doutrinária dentro do MP/RJ (Hélio Bastos Tornaghi e Afrânio Silva
Jardim). Ele se caracteriza pela omissão do Promotor em se manifestar expressamente sobre todos os crimes

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


48
(arquivamento implícito objetivo) ou sobre todos os infratores (arquivamento implícito subjetivo) trazidos pelo
inquérito policial. Propõe as regras do arquivamento expresso para reger as omissões do Ministério Público. O STF
e o STJ não adotam o instituto, é uma projeção doutrinária apenas, não acolhida pela jurisprudência por ausência
de disciplina legal, recomendando, quando muito, que o juiz, ao perceber a omissão, devolva os autos ao
Promotor para que ele se manifeste expressamente, sob pena de aplicação do art. 28, do CPP (STF HC 95141).

*Existe alguma providência processual que a vítima possa adotar para evitar o arquivamento do IP? Ela pode, por
exemplo, impetrar um mandado de segurança com o objetivo de impedir que isso ocorra? NÃO. A vítima de
crime de ação penal pública não tem direito líquido e certo de impedir o arquivamento do inquérito ou das
peças de informação. Considerando que o processo penal rege-se pelo princípio da obrigatoriedade, a
propositura da ação penal pública constitui um dever, e não uma faculdade, não sendo reservado ao Parquet um
juízo discricionário sobre a conveniência e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro lado, não verificando o
Ministério Público que haja justa causa para a propositura da ação penal, ele deverá requerer o arquivamento do
IP. Esse pedido de arquivamento passará pelo controle do Poder Judiciário, que poderá discordar, remetendo o
caso para o PGJ (no caso do MPE) ou para a CCR (se for MPF). Existe, desse modo, um sistema de controle de
legalidade muito técnico e rigoroso em relação ao arquivamento de inquérito policial, inerente ao próprio sistema
acusatório. Nesse sistema, contudo, a vítima não tem o poder de, por si só, impedir o arquivamento. Cumpre
salientar, por oportuno, que, se a vítima ou qualquer outra pessoa trouxer novas informações que justifiquem a
reabertura do inquérito, pode a autoridade policial proceder a novas investigações, nos termos do citado art. 18
do CPP. STJ. Corte Especial. MS 21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015 (Info 565).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. COMETIMENTO DE DOIS CRIMES DE ROUBO
SEQUENCIAIS. CONEXÃO RECONHECIDA RELATIVAMENTE AOS RESPECTIVOS INQUÉRITOS POLICIAIS PELO MP.
DENÚNCIA OFERECIDA APENAS QUANTO A UM DELES. ALEGAÇÃO DE ARQUIVAMENTE IMPLÍCITO QUANTO AO
OUTRO. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE. INEXISTÊNCIA. AÇÃO PENAL PÚBLICA. PRINCÍPIO DA
INDISPONIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. I - Praticados dois roubos em sequência e oferecida a denúncia
apenas quanto a um deles, nada impede que o MP ajuíze nova ação penal quanto delito remanescente. II -
Incidência do postulado da indisponibilidade da ação penal pública que decorre do elevado valor dos bens
jurídicos que ela tutela. III - Inexiste dispositivo legal que preveja o arquivamento implícito do inquérito
policial, devendo ser o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do Código Processual
Penal. IV - Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade à ação penal pública. Precedentes. V - Recurso
desprovido. (STF - RHC: 95141 RJ, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, Data de Publicação:
DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT VOL-02379-05 PP-00915)

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


49
- Controle externo da atividade policial: a Constituição Federal propõe ao MP o controle externo da atividade
policial, mas sem subsunção hierárquica. É um reflexo direto do sistema de freios e contrapesos, de fiscalização
múltipla entre os órgãos. O controle consiste no conjunto de normas que regulam a fiscalização da atuação da
polícia pelo Ministério Público, almejando as seguintes finalidades: preservação dos direitos fundamentais dos
presos em custódia policial, fiscalização do cumprimento das deliberações judiciais, fiscalização da própria
atuação investigativa na apuração de fatos criminosos (art. 129, VII, da CF; Resolução nº 20 do CNMP - está sendo
impugnada na ADI 4220 pela OAB; art. 9º e 10 da Lei Complementar nº 75/93).

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;

Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio de medidas
judiciais e extrajudiciais podendo:
I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou para
prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito
ocorrido no exercício da atividade policial;
V - promover a ação penal por abuso de poder.
Art. 10. A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito Federal e Territórios, deverá
ser comunicada imediatamente ao Ministério Público competente, com indicação do lugar onde se encontra o
preso e cópia dos documentos comprobatórios da legalidade da prisão.

Formas de controle:
DIFUSO CONCENTRADO
É aquele exercido pelos membros do Ministério
É aquele exercido por Promotores com atuação
Público com atuação específica para o controle
criminal;
externo;
Controle das ocorrências policiais, verificação do Propositura de ações de improbidade
respeito aos prazos do inquérito, verificação da administrativa, propositura de ação civil pública
qualidade da investigação, verificação de bens na proteção de interesses difusos,
apreendidos, propositura de medidas cautelares procedimentos investigatórios criminais (PIC –
(contemplando a suspensão das funções com finalidade de investigar membros da
públicas da autoridade policial). polícia), requisições ou recomendações, termo
de ajustamento de conduta, visita as unidades
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
50
prisionais, comunicação do flagrante.

*#INFORMATIVO #IMPORTANTE #MP #STJ: O controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério
Público Federal não lhe garante o acesso irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela
Diretoria de Inteligência do Departamento de Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-
penal. O controle externo da atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à atividade de polícia
judiciária, conforme a dicção do art. 9º da LC n. 75/93, cabendo-lhe, por essa razão, o acesso aos relatórios de
inteligência policial de natureza persecutório-penal, ou seja, relacionados com a atividade de investigação
criminal. O poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não lhe confere o acesso irrestrito a "todos os
relatórios de inteligência" produzidos pelo Departamento de Polícia Federal, incluindo aqueles não destinados a
aparelhar procedimentos investigatórios criminais formalizados. STJ. 1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info 587).

Termo circunstanciado de ocorrência: Caracteriza-se pelo primo na celeridade dos atos e pela investigação
simplificada na apuração das infrações de menor potencial ofensivo, quais sejam: os crimes com pena de até dois
anos e as contravenções penais (art. 69, da Lei nº 9.099/95). Vedações: O TCO não será aplicado na esfera militar
e nas hipóteses de violência doméstica.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o
encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos
exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso
de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou
local de convivência com a vítima.

Legitimidade: Se o TCO faz as vestes do inquérito policial, é instintivo dizer que caberia ao próprio Delegado a
confecção do TCO. Contudo, por resolução do TJSP e TJAL e, por reconhecimento de Tourinho Filho, o TCO poderá
ser confeccionado pela autoridade policial militar e pela própria secretaria do Juizado Especial Criminal. Doutrina
majoritária entende que só o Delegado.

As alterações provocadas pela Lei 13.245/2016 no inquérito policial:

A lei nº 13.245/2016: da relativização do sigilo e do caráter inquisitivo nas investigações criminais.

1. Da sigilosidade relativa do inquérito policial

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


51

O inquérito policial e as investigações criminais são sigilosas, qualidade necessária quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
Como já se afirmou, o sigilo no inquérito policial, necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade, tem ação benéfica, profilática e preventiva, tudo em benefício do Estado e do cidadão.[1]
Preconiza o artigo 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal, in verbis:
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes, salvo no caso de
existir condenação anterior.
O sigilo é relativo porque não se aplica:
a) ao juiz;
b) o sigilo também não se estende ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos investigatórios (art. 15, III,
da LOMP – Lei Orgânica do MP).
Insta acentuar que não será qualquer juiz ou promotor que terá acesso aos autos, e sim o juiz e o promotor de
justiça natural, é dizer, aquele que futuramente terá competência e atribuição para o processamento da ação
penal.
c) Ao advogado constituído – Estatuto da Advocacia, lei n. 8.906/1994, art. 7o, XIV, (alterado pela lei 13.245/2016)
in verbis:
São direitos do advogado:
“Examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital”.
Embora o artigo supracitado permita ao advogado “mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento”, é evidente que a norma não pode ser generalizada para todo e
qualquer advogado, portanto, leia-se o “advogado do investigado” pode mesmo, sem procuração, analisar os
autos do inquérito policial.

1.2. O direito de acesso amplo aos elementos de prova como súmula vinculante

Diz o texto da 14a Súmula Vinculante:


É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


52
Após a alteração promovida pela lei nº 13.245/2016, a interpretação do enunciado deve ser ampliada para
abranger “qualquer procedimento investigatório realizado por qualquer instituição”, inclusive o inquérito civil
conduzido pelo Ministério Público.
O STF já tinha decidido que o Ministério Público tem poder investigatório e deve respeitar as prerrogativas dos
advogados previstas no art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX. (Conferir: (STF. Plenário. RE
593727/MG, red. P/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015. Repercussão geral. Info 785),
portanto, a Súmula tem a seguinte leitura “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por qualquer órgão
(polícia, Ministério Público, CPIs, investigações realizadas pelo COAFI e CVM, entre outros), digam respeito ao
exercício do direito de defesa”.
No caso da Defensoria Pública, prerrogativa semelhante ao inciso XIV do art. 7º encontra-se prevista na LC 80/94:
Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
(...)
VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a
obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

1.3. As consequências da negativa do fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que


houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo

A negativa do fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já
incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do
responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do
direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente.
Em caso de negativa de acesso aos autos da investigação criminal, 5 (cinco) situações hipotéticas se abrem a favor
do interessado:
Requerimento do advogado ao juiz competente para que os autos sejam disponibilizados;
Mandado de Segurança: em face do direito líquido e certo à publicidade dos atos (publicidade no tocante às
provas já documentadas);
Reclamação ao STF: já que temos uma súmula de caráter vinculante (acima exposta e transcrita);
Habeas Corpus: em benefício do indiciado preso alegando ilegalidade na produção dos elementos informativos.
É possível apresentação de notitia criminis para apurar o crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 3º, j,
da Lei nº 4.898/65:
Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Segundo o § 12 do art. 7º da Lei nº 13.245/2016:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


53
“A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento
de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização
criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de
prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao
juiz competente”.

1.4. Quando o sigilo pode ser decretado

O sigilo da investigação criminal pode ser decretado com o fito de delimitar o acesso do advogado aos elementos
de prova relacionados às diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, em três casos:
Pela autoridade presidente da investigação quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia
ou da finalidade das diligências, como é o caso da busca e apreensão e interceptações telefônicas.
Pela autoridade presidente da investigação quando necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.(Vide artigo 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal).
Pela autoridade judiciária com escopo de proteger a vítima, é o que dispõe o novo § 6o do art. 201, in verbis:
O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Nas investigações em que for decretado o sigilo, deve o defensor apresentar procuração para, quando for
possível, ter acesso aos autos, vide art. 7o, § 10, da lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil, alterado pela Lei 13.245/2016), in verbis:
“Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o
inciso XIV”.

1.5. Inquisitividade versus ampla defesa e contraditório

O inquérito policial é expediente administrativo e inquisitorial, nele não existe defesa, pois não há lide, não há
partes, portanto, os princípios do contraditório e da ampla defesa são observados exclusivamente na persecução
penal judicial.
Destaco a lição sempre atual de José Frederico Marques:
“Logo também é desaconselhável uma investigação contraditória processada no inquérito... Sob pena de
fracassarem as investigações policiais, sempre que surja um caso de difícil elucidação”. (Elementos, vol. I, 1997, p.
183)
A lei 13.245/2016 não estabeleceu que o inquérito policial deve ser regido pelo princípio do contraditório e ampla
defesa, mas apenas garantiu assistência de advogados para os investigados.
A Constituição Federal é imperativa ao preconizar que os princípios supracitados somente serão aplicados nos
processos judiciais, administrativos e são direcionados aos acusados em geral, tecnicamente, as investigações
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
54
criminais não são processos judiciais e, por não existir contraditório, não existe também acusados na persecução
penal extrajudicial.
Posição dominante do STF:
“Inexistência do contraditório no inquérito policial – A inaplicabilidade da garantia do contraditório ao
procedimento de investigação policial tem sido reconhecida tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência dos
Tribunais, [2] cujo magistério tem acentuado que a garantia da ampla defesa traduz elemento essencial e
exclusivo da persecução penal em juízo”.[3]
Posição dominante do STJ:
“O atentado ao princípio constitucional da plenitude de defesa inexiste na fase investigatória, somente di zendo
respeito à fase judicial. (STJ – RHC 1.223/SP; Sexta Turma; p. 13.498)”.
Afrânio Silva Jardim[4], combatendo os argumentos da doutrina que defende na lei 13.245/2016 inseriu o
contraditório no inquérito policial, afirma:
“Discordo deste entendimento e julgo que ele decorre justamente da falta de visão sistemática de como opera o
nosso processo penal, consoante advertimos no início desta breve reflexão. Inicialmente, como já deixei escrito
em texto anterior, entendo que a nova regra não tenha trazido o contraditório para o inquérito policial, o que o
transformaria em uma primeira fase do processo: juizado de instrução sem juiz! O que a nova lei assegura é a
assistência jurídica do advogado ao seu cliente, quando convocado a participar de algum ato no procedimento
investigatório, com sua presença e aconselhamento, tendo tomado conhecimento do que já foi realizado. Por
outro lado, se há nulidade em algum ato probatório em qualquer procedimento investigatório inquisitivo o que
cabe fazer é reconhecer a sua “eficácia” natural, vale dizer, retirar-lhe o seu valor probatório. Acho até que a
documentação deste ato probatório deveria ser desentranhada do procedimento investigatório, preclusa a
decisão que reconheceu tal nulidade”.
Portanto, podemos afirmar que mesmo com as alterações promovidas pela lei 13.245/2016 as investigações
criminais continuam inquisitivas, pois embora seja possível o indiciado ser assistido por advogados, todas
atividades desenvolvidas na persecução penal extrajudicial, continuam concentradas nas mãos de uma de uma
única autoridade.
Neste sentido o novo inciso XXI do art. 7º, da lei n. 8.906/1994, art. 7o, XIV, (alterado pela lei 13.245/2016) não
tornou obrigatória a presença do advogado durante a investigação criminal, o inciso supracitado estabeleceu uma
nova garantia para os defensores, qual seja, a presença no interrogatório do investigado, se assim o defensor ou o
próprio investigado desejarem.
Neste caso, será necessário para evitar nulidades, que a autoridade que preside a investigação, sempre pergunte
se o interrogado pretende prestar depoimento na presença de um defensor, devendo ser registrado no ato do
interrogatório, além do direito de silêncio, que foi facultado ao investigado ser entrevistado de forma reservada
com seu defensor e, se for o caso, que o mesmo o acompanhe durante o interrogatório.
Impende ainda registrar, que a opção do investigado em prestar seu depoimento na ausência de um defensor,
não pode causar nulidade, aplicando-se o princípio da tipicidade das formas. O código de processo penal prevê
quais os atos que devem ser praticados e como devem ser praticados, devendo esse modelo ser respeitado, mas
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
55
não é razoável declarar uma nulidade que, mesmo preterindo a forma legal, não haja resultado prejuízo para uma
das partes, ademais, uma vez dispensada a presença do defensor, não poderá o indiciado alegar a sua própria
torpeza.

1.6. O direito do defensor requerer diligências

A Lei nº 13.245/2016 previa na alínea b do inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB que seria direito do advogado,
no interesse do seu cliente, "requisitar diligências". Tal alínea foi vetada, pois segundo a justificativa:
“Da forma como redigido, o dispositivo poderia levar à interpretação equivocada de que a requisição a que faz
referência seria mandatória, resultando em embaraços no âmbito de investigações e consequentes prejuízos à
administração da justiça. Interpretação semelhante já foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal - STF, em sede
de Ação Direita de Inconstitucionalidade de dispositivos da própria Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 - Estatuto
da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (ADI 1127/DF). Além disso, resta, de qualquer forma,
assegurado o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder, nos termos da alínea ‘a’, do inciso XXXIV, do art. 5º, da Constituição.”
O artigo 14 do Código de Processo Penal faculta aos interessados fazer requerimentos no curso de uma
investigação criminal. Sendo assim, muito embora o deferimento ou não das providências requeridas fique a
critério da autoridade que preside a investigação, isto “não haverá de constituir empeço a que se garantam
direitos sensíveis do ofendido, do indiciado etc.” (STJ, HC 69.405/SP, 6. A Turma, DJ 25.02.2008), alcançando-se,
então, por meio do Poder Judiciário, a determinação para que o delegado de polícia ou membro do Ministério
Público realize a medida pretendida em face de sua pertinência com a situação investigada. Além disso, é
oportuno referir que, mesmo em termos de legislação processual, a faculdade indeferitória da autoridade não é
absoluta, pois não atinge o requerimento de perícia destinada a comprovar a materialidade do vestígio deixado
pela infração penal, conforme se extrai do art. 184 do CPP.

1.7. O momento para apresentação de razões

O novo inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB prevê que no curso da investigação é possível o defensor
apresentar razões e até quesitos.
As razões é uma peça que tem como principal escopo a apresentação facultativa de um álibi por parte do
investigado. A lei não especifica em qual momento é possível a apresentação das razões, penso que a
apresentação da mesma só será possível após o indiciamento formal do indiciado.
O Código de Processo Penal não define em qual momento o investigado passará para condição de indiciado.
Pensamos que a melhor solução é a prevista no futuro Código de Processo Penal, vide art. 31, § 1o, in verbis:
Art. 2. Reunidos elementos suficientes que apontem para a autoria da infração penal, a autoridade policial
cientificará o investigado, atribuindo-lhe, fundamentadamente, a condição jurídica de “indiciado”, respeitadas
todas as garantias constitucionais e legais.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
56
§ 1o. A condição de indiciado poderá ser atribuída já no auto de prisão em flagrante ou até o relatório final da
autoridade policial.

1.8. A nulidade dos elementos informativos

O inciso XXI do artigo 7º do Estatuto da OAB, preconiza que é direito do advogado


“assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente...”
A princípio, o inquérito policial apenas fornece elementos informativos, que se prestam para a formação da
opinio delicti do órgão acusador. (STJ - HABEAS CORPUS HC 242686 SP 2012/0100690-5 (STJ).
Em uma investigação criminal, com exceção das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, só serão são
colhidos os elementos informativos, que não são tecnicamente provas, pois não são colhidos em instrução
presidida por um magistrado e sob a égide dos princípios do contraditório e da ampla defesa, assim qualquer
irregularidade da colheita de elementos informativos, não podem causar nulidade, pois como já decidiu
reiteradamente o STJ e o STF “A prova para ser considerada idônea, de modo a conduzir a uma sentença
condenatória não pode encontrar-se fundada exclusivamente nos elementos informativos do inquérito policial;
antes, deverá ser produzida ou confirmada em juízo, sob pena de sua desconsideração, sobretudo quando estas
se baseiam em provas orais, não ratificadas na instrução criminal, por terem sido desmentidas. Precedentes do
STF e STJ". Ordem concedida para que outra sentença seja proferida”. (STJ - HABEAS CORPUS HC 16079 RJ
2001/0022499-7 (STJ)).
A solução para produção de elementos informativos de forma irregular será a sua desconsideração ou a
determinação da repetição da produção dos elementos investigatórios de forma regular, nunca a decretação da
nulidade e nem a contaminação da ação penal subsequente.
Segundo Afrânio Jardim[5]
“A nulidade de algum ato do procedimento investigatório prévio jamais pode levar à nulidade do processo penal.
Pode sim, se for a única prova a legitimar o exercício da ação penal, levar à extinção desta relação processual sem
resolução do mérito, por falta de suporte probatório mínimo que legitime a acusação penal (condição da ação
que chamávamos de “justa causa”)”.
Podemos concluir que a desobediência às formalidades legais na produção dos elementos informativos pode
acarretar a ineficácia do ato em si (prisão em flagrante, por exemplo), mas entendo que, em regra, os vícios no
inquérito não se projetam para ação penal que origina, exceto se tais vícios ocorrerem:
1. Nas provas que não podem ser mais repetidas. Exemplo: exame pericial.
2. Nas provas cautelares. Exemplo: busca e apreensão e interceptação telefônicas.
3. Nas provas antecipadas. Exemplo: provas ad perpetuam rei memoriam previstas no artigo225 do CPP: “Se
qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


57
tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento”.
José Frederico Marques lecionava que:
“A nulidade, porém, só atingirá os efeitos coercitivos da medida cautelar, e nunca o valor informativo dos
elementos colhidos no auto de flagrante. O Juiz pode “relaxar” a prisão do indiciado, em virtude da nulidade do
respectivo auto de flagrante delito; todavia o Ministério Público, com base nesse flagrante, que foi anulado para
efeito de restaurar a liberdade do indiciado, também poderá oferecer denúncia contra este. (Elementos, vol. I,
1997, p. 154)”.
O STF e o STJ ainda não enfrentaram o tema em consonância com a alteração promovida pela lei 13.245/2016,
mas sempre defenderam que:
(STF) “É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, sendo o inquérito policial peça de natureza
informativa, os vícios nele porventura encontrados não repercutem na ação penal (assim, nos HC no 62.745 e no
69.895, bem como no RHC no 66.428)”.[6]
(STJ) “Eventual nulidade ocorrida no inquérito policial não tem o condão de nulificar o processo, vez que aquele é
peça meramente informativa, estabelecida sem o crivo do contraditório.” [7]

11. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Constituição Federal Art. 144
Código de Processo Penal Art. 4º ao 23
Lei 12.830/2013 Integralmente
Lei 13.432/2017 Integralmente
Lei 10.446/2002 Integralmente
Lei 13.245/2016 Integralmente

12. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Anotações de aula

Jurisprudência do site Dizer o Direito.

Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO

Você também pode gostar