Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 4
ROTEIRO DE AULA
✓ A Constituição de 1824 possuía uma ideologia contraditória, pois era liberal em relação aos
direitos individuais, e conservadora em relação aos direitos políticos.
✓ No tocante ao poder reformador, havia uma limitação temporal de quatro anos . Nesse
período, não poderia ser feita nenhuma alteração na CF.
✓ A Constituição de 1824 consagrou uma forma unitária de Estado. Foi a única constituição
brasileira em que esta forma de Estado foi consagrada.
✓ Tratava-se ainda de um Estado confessional, ou seja, o Estado brasileiro nesse período tinha
uma religião oficial (Católica Apostólica Romana):
✓ A Constituição de 1824 não adotou a tripartição de poderes proposta por Montesquieu, mas
uma divisão quadripartite do poder (Benjamin Constant).
✓ O controle de constitucionalidade não era exercido pelo Poder Judiciário: não havia controle
jurisdicional de constitucionalidade. O controle era feito pelo poder legislativo, dentro da ideia
de supremacia do parlamento, típica do Direito Francês.
CREUB/1891, art. 1º: “A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime
representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se,
por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil”.
V- Com o advento da República, o Estado brasileiro se tornou laico, não confessional, ou seja,
havia uma separação rígida entre o Estado e a Igreja.
✓ Não se adotava nenhuma religião como oficial.
* a característica do Estado lácio é a de ser neutro em relação às manifestações religiosas. Ele
não proíbe qualquer manifestação, mas também não beneficia qualquer delas. Ele apenas
permite que as manifestações ocorram.
CREUB/1891, art. 72: “(...). 3º Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer
pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as
disposições do direito comum.
§ 4º A Republica só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita.
§ 5º Os cemitérios terão caracter secular e serão administrados pela autoridade municipal,
ficando livre a todos os cultos religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus
crentes, desde que não offendam a moral publica e as leis.
§ 6º Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos publicos.
§ 7º Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção official, nem terá relações de dependencia ou
alliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A representação diplomatica do Brasil
junto á Santa Sé não implica violação deste principio. (...)”.
* Caráter secular dos cemitérios: significa um caráter não confessional. Os cemitérios não
pertencem mais à Igreja.
VI- Com relação à repartição de poderes, houve a substituição do modelo quadripartite pelo
modelo tripartite (Montesquieu):
CREUB/1881, art. 15: “São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, harmônicos e independentes entre si”.
*Todos os títulos foram extintos, não sendo mais permitido que pessoas estivessem acima de
outras em razão do nascimento.
d) Naturalização tácita
No tocante aos direitos de nacionalidade, assim como aconteceu na Constituição de 1824, a
Constituição de 1891 adotou a naturalização expressa e a naturalização tácita.
✓ Observação: apenas essas duas constituições adotaram a naturalização tácita com o fim de
aumentar a população brasileira.
II – Ao contrário das outras constituições brasileiras, a Constituição de 1934 foi elaborada por
uma Constituinte exclusiva: os membros foram eleitos apenas para este fim e não legislaram
enquanto a constituição estava sendo elaborada.
III - Ideologia: democracia social (Weimar). A CF de 1934 rompeu com a tradição liberal e
instituição a democracia social, inspirada na CF Alemã de 1919.
Importante:
A Constituição de 1824 foi inspirada na Constituição Francesa de 1819. A Constituição
Republicana de 1891 foi inspirada na Constituição Estadunidense de 1787. A Constituição de
1934 foi inspirada na Constituição Alemã de Weimar de 1919.
Inovações:
• Suspensão pelo Senado:
CREUB/1934, art. 91: “Compete ao Senado Federal (...): IV - suspender a execução, no todo ou
em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido declarados
inconstitucionais pelo Poder Judiciário”.
- Note-se que poderia ser suspensa qualquer lei declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário,
e não apenas pelo STF, como é hoje.
VIII- Embora a Constituição de 1934 tenha trazido importantes inovações, ela dizia algo no
papel, mas na realidade, aquilo não acontecia. A realidade política e social da época era muito
diferente do que estava escrito no papel. Ela era uma constituição semântica, e não normativa,
capaz de modificar a realidade existente.
✓ Essa constituição durou tão pouco porque havia um descompasso entre o texto constitucional
e a realidade do país.
✓ Estes foram os argumentos utilizados por Getúlio Vargas para a instituição do Estado Novo e
a outorga da nova CF de 1937.
III – Plebiscito: a CF 1937 trazia em seu texto a previsão de um plebiscito, para que ela fosse
confirmada através de uma consulta popular. Mas isso nunca ocorreu, razão pela qual parte da
doutrina chegou a sustentar que essa CF não teve valor jurídico.
CEUB/1937, art. 187: “Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será submetida ao
plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República”.
O Estado consagrado pela CF 1937 era autoritário (diferente do totalitário, que tem a pretensão
de conformar integralmente a vida das pessoas, como nazismo e stalinismo). A ditadura de
Vargas consagrou um Estado autoritário, um regime em que o Presidente da República possuía
mais poderes que o Legislativo e o Judiciário. Havia um desequilíbrio de forças.
* A CF de 1937 era muito corporativista, a ponto de alguns direitos sociais serem garantidos
somente a pertencentes a determinadas corporações.
Na prática, há quem sustente que o Estado brasileiro não era sequer um Estado federativo, mas
unitário, pois o poder central dominava os Estados-membros (ausência de autonomia) -
exemplo: Getúlio Vargas nomeou interventores em todos os Estados da Federação, exceto
Minas Gerais.
V – Poder:
• O Presidente da República estava acima dos demais Poderes tanto na constituição como na
prática:
CEUB/1937, art. 73: “O Presidente da República, autoridade suprema do Estado, dirige a
política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional e
superintende a Administração do País”.
• O Poder Legislativo era exercido pelo Parlamento Nacional:
CEUB/1937, art. 38: “O Poder Legislativo é exercido pelo Parlamento Nacional com a
colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República (...);
§ 1º - O Parlamento nacional compõe-se de duas Câmaras: a Câmara dos Deputados e o
Conselho Federal”.
CEUB/1937, art. 50: “O Conselho Federal compõe-se de representantes dos Estados e dez
membros nomeados pelo Presidente da República”.
• “Estado de emergência”: durante a vigência da CF 1937, até o ano de 1945, ou seja, um ano
antes da CF de 1946, vigorou o Estado de emergência, que suspendeu diversos direitos e
garantias constitucionais e tornava imune ao Poder Judiciário os atos praticados pelo Governo:
CEUB/1937, art. 170: “Durante o estado de emergência ou o estado de guerra, dos atos
praticados em virtude deles não poderão conhecer os Juízes e Tribunais”.
- Essa previsão é muito semelhante à “cláusula not whith stand”. Trata-se da “cláusula do não
obstante” advinda do direito canadense, a que prevê que as Províncias e o Parlamento
canadenses podem deixar de cumprir determinados direitos e liberdades individuais previstos na
constituição, assim como podem afastar também decisões judiciais que declarem a
inconstitucionalidade de lei baseada nesses direitos.
Essa cláusula permite que o Parlamento continue aplicando leis que foram declaradas
inconstitucionais pelo Poder Judiciário.
Observação: Pela primeira vez os partidos políticos foram mencionados no texto constitucional,
no sentido de poderem ser constituídos.
• AI-7/69, art. 7º: “Ficam suspensas quaisquer eleições parciais para cargos executivos ou
legislativos da União, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios”.
✓ A Constituição de 1967 trouxe um acréscimo de novos direitos fundamentais, mas estes não
tinham qualquer efetividade.
II – Poder:
• Poder Executivo: ampliou poderes.
• Poder Legislativo: reduziu imunidade dos parlamentares e intraduziu a infidelidade
partidária.
• O Ministério Público foi consagrado dentro do Capítulo do Poder Executivo.
II – Poder:
• Poder Executivo: ampliou poderes.
• Poder Legislativo: reduziu imunidade dos parlamentares e consagrou a infidelidade partidária.
• O Ministério Público foi consagrado dentro do Capítulo do Poder Executivo.
III – Direitos fundamentais:
a) condicionou o ingresso em juízo ao prévio esgotamento da via administrativa. Esse ato é um
retrocesso em relação ao princípio da inafastabilidade de controle jurisdicional.
b) restringiu a liberdade de expressão;
c) incorporou a pena de morte para outros casos, além da guerra externa;
d) ampliou o prazo do estado de sítio.
Observação: os próprios militares fizeram o processo de transição gradual entre a ditadura e a
democracia. Esse processo teve o ponto culminante com a EC 26, de 27/11/1985, a qual
convocou a Assembleia Nacional Constituinte.
“Art. 1º: Os Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-ão,
unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro
de 1987, na sede do Congresso Nacional.
Art. 2º. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte
e dirigirá a sessão de eleição do seu Presidente.
Art. 3º A Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de
discussão e votação, pela maioria absoluta dos Membros da Assembléia Nacional Constituinte.”
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
1. Contribuições da dogmática alemã
Os métodos de interpretação da doutrina alemã foram elencados por Böckenförde e trazidos
para a doutrina brasileira pela obra do português Gomes Canotilho.
➢ Métodos de interpretação a serem trabalhados:
A CF traz dificuldades para o intérprete da constituição, o que exige que ela seja interpretada
através de métodos especiais:
IV - Crítica: os elementos tradicionais criados por Savigny, embora úteis para a interpretação
da constituição, são insuficientes para dar conta da complexidade constitucional.
*na tópica, vence o argumento mais convincente, ainda que não seja ele o verdadeiro. Vence o
argumento que conseguir convencer o maior número de pessoas.
III- É um método concretista, ou seja, é aquele que parte da premissa de que a interpretação da
constituição só pode ser feita se for para aplicar a constituição a um caso concreto.
✓ Deve sempre haver um problema concreto para que haja a aplicação desse método.
*esse método tem como ponto de partida tanto o conhecimento prévio do problema, quanto da
CF. Por exemplo, um leigo não conseguirá interpretar a CF à luz desse método, porque ele pode
até ter conhecimento do problema a ser resolvido, mas ele não terá conhecimento da CF.
VI- Utilidades:
• Complementação de lacunas.
✓ Quando há uma ausência de norma específica a respeito de determinado problema, este
método se torna interessante, pois ele parte do problema para buscar a norma que servirá de
base para a fundamentação da questão. Normalmente os métodos fazem a interpretação a partir
da norma. Assim, havendo omissão quanto a determinado assunto, este método poderá ser
utilizado, pois faz o caminho inverso.
VII - Críticas:
• Investigação superficial da jurisprudência, que não é levada em consideração da forma que
deveria ser. O precedente judicial não tem força impositiva, como deveria ter, sendo apenas
mais um “topos”, mais uma forma de raciocínio e argumentação. A lei também é tratada assim.
• A utilização desse método pode conduzir a um casuísmo ilimitado, no sentido de que cada
caso concreto será resolvido de uma determinada forma (resultados diferentes para casos
semelhantes).
Ex.: o Ministro Marco Aurélio afirmou que ao julgar um caso, primeiro forma sua convicção de
justiça e, posteriormente, procura no ordenamento jurídico a fundamentação para aquele
entendimento, que ele julga mais correto, e mais justo. Isso é partir do problema para,
posteriormente, buscar a norma que fundamenta o posicionamento. Se ele não encontrar uma
norma consistente, ele pode rever o posicionamento inicial.
• Caminho inverso dos métodos tradicionais: ele parte do problema para a norma, ao invés de
buscar a norma adequada para a solução do problema. Assim, primeiro há uma discussão em
torno do problema (busca da melhor solução) e, após obtê-la, busca-se no ordenamento jurídico
uma norma para fundamentar a decisão.
Observação: embora este procedimento seja muito criticado pela doutrina, na prática, é o que
grande parte dos juízes fazem em muitas matérias.
Observação:
Texto é a forma de exteriorização do dispositivo. Norma é o produto da interpretação do texto.
O método é denominado de “normativo-estruturante” exatamente por estabelecer uma estrutura
para a concretização da norma. Essa estrutura é composta por vários elementos que devem ser
utilizados para a concretização da norma:
• Metodológicos: elementos clássicos de interpretação (gramatical, sistemático, histórico e
lógico) e os princípios próprios de interpretação da constituição.
• Dogmáticos: compostos pela doutrina e pela jurisprudência.
• Teóricos: são os elementos de Teoria da Constituição.
• Política constitucional: são elementos de natureza política, mas que também devem ser
levados em consideração quando da concretização de uma norma – exemplo: a reserva do
possível.
✓ A reserva do possível é elemento de concretização da norma. Exemplo: em um determinado
caso, o TJ do Rio Grande do Sul entendeu que o fornecimento de aparelho ortodôntico não era
prioridade em relação às demais demandas por saúde, já que se tratava apenas de questão
estética. Isso porque o Estado não consegue atender indiscriminadamente a todas as demandas
da sociedade, pois há uma limitação orçamentária.
V – Críticas:
Crítica de Paulo Bonavides: o método normativo-estruturante, depois de se abrir para a
realidade, acaba tendo sua última postulação assentada em uma estrutura jurídica limitativa
(restringe a interpretação do intérprete).
✓ Os elementos que estão mais próximos da norma (metodológicos e dogmáticos) teriam uma
prevalência sobre os demais elementos (teóricos e política constitucional).