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INTENSIVO I

Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 4
ROTEIRO DE AULA

4. Histórico das constituições brasileiras (continuação)

4.2. Constituição Política do Império do Brasil (1824)


✓ Foi a constituição mais duradoura da história do Brasil (67 anos) e possuiu uma única
emenda.

✓ A Constituição de 1824 possuía uma ideologia contraditória, pois era liberal em relação aos
direitos individuais, e conservadora em relação aos direitos políticos.

✓ No tocante à estabilidade, a Constituição de 1824 foi a única semirrígida ou semiflexível.

✓ A Constituição de 1824 era prolixa (179 artigos).

✓ No tocante ao poder reformador, havia uma limitação temporal de quatro anos . Nesse
período, não poderia ser feita nenhuma alteração na CF.

✓ A Constituição de 1824 consagrou uma forma unitária de Estado. Foi a única constituição
brasileira em que esta forma de Estado foi consagrada.

✓ Tratava-se ainda de um Estado confessional, ou seja, o Estado brasileiro nesse período tinha
uma religião oficial (Católica Apostólica Romana):

✓ A Constituição de 1824 não adotou a tripartição de poderes proposta por Montesquieu, mas
uma divisão quadripartite do poder (Benjamin Constant).

✓ O controle de constitucionalidade não era exercido pelo Poder Judiciário: não havia controle
jurisdicional de constitucionalidade. O controle era feito pelo poder legislativo, dentro da ideia
de supremacia do parlamento, típica do Direito Francês.

Alguns fatores contribuíram para o desgaste da monarquia:


I) envelhecimento de D. Pedro II – Com o avançar da idade, D. Pedro foi se afastando do
cenário político e, com isso, foram surgindo novas forças políticas que deram início ao ideal
republicano;
II) Fortalecimento da Aspiração federalista, inspirada no ideal norte-americano;
III) Crise nas relações do Imperador com o clero, com as forças armadas e com determinados
segmentos da sociedade.
Todos esses fatores fizeram com que houvesse a derrocada da Constituição de 1824, que foi
promovida pelos militares sobre o comando do Marechal Deodoro da Fonseca.
Em 15 de novembro de 1889, houve a Proclamação da República e, com ela, houve a edição do
Decreto nº 1 que revogou a Constituição de 1824. Somente em 1891 surgiu a primeira
constituição republicana brasileira.

4.3. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891)


Características:
I- Quanto à estabilidade: rígida;
II- Quanto à extensão: prolixa;
III- Ideologia: liberalismo republicano e moderado (inspirado na Constituição estadunidense de
1787);
IV- Estado: federalismo dualista: a União e os Estados-membros tinham uma divisão estanque e
equilibrada de competências e de Poder – não havia uma prevalência (e centralização do poder)
da União sobre os Estados.
Havia municípios autônomos, mas estes não eram considerados entes federativos.
✓ Os municípios somente passaram a ser entes federativos com a CF/1988.

CREUB/1891, art. 1º: “A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime
representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se,
por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil”.
V- Com o advento da República, o Estado brasileiro se tornou laico, não confessional, ou seja,
havia uma separação rígida entre o Estado e a Igreja.
✓ Não se adotava nenhuma religião como oficial.
* a característica do Estado lácio é a de ser neutro em relação às manifestações religiosas. Ele
não proíbe qualquer manifestação, mas também não beneficia qualquer delas. Ele apenas
permite que as manifestações ocorram.

CREUB/1891, art. 72: “(...). 3º Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer
pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as
disposições do direito comum.
§ 4º A Republica só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita.
§ 5º Os cemitérios terão caracter secular e serão administrados pela autoridade municipal,
ficando livre a todos os cultos religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus
crentes, desde que não offendam a moral publica e as leis.
§ 6º Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos publicos.
§ 7º Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção official, nem terá relações de dependencia ou
alliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A representação diplomatica do Brasil
junto á Santa Sé não implica violação deste principio. (...)”.

* Caráter secular dos cemitérios: significa um caráter não confessional. Os cemitérios não
pertencem mais à Igreja.

VI- Com relação à repartição de poderes, houve a substituição do modelo quadripartite pelo
modelo tripartite (Montesquieu):
CREUB/1881, art. 15: “São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, harmônicos e independentes entre si”.

VII – Com a Constituição de 1891, surge, no Brasil, o controle difuso de constitucionalidade.

✓ Trata-se do controle feito por qualquer órgão do Poder Judiciário.

✓ O controle difuso de constitucionalidade era o único modelo de controle de


constitucionalidade existente na época, não existindo nem na Europa.
✓ O modelo de controle concentrado de constitucionalidade somente foi criado por Kelsen em
1919.
✓ O Brasil não importou o “stare decisis”, que é típico do common law. O stare decisis
preceitua que se deve dar o devido peso aos precedentes.
✓ A partir do stare decisis, surge o binding effect, que é o efeito vinculante. Lá, memso sendo
um controle difuso, as decisões dos Tribunais Superiores são vinculantes para os Tribunais
Inferiores, que não podem ignorar precedentes dos Tribunais Superiores
✓ O Brasil não adota o binding effect. Ele adotou apenas o sistema de controle difuso. Isso
trouxe um problema, porque por mais que o STF julgasse uma lei inconstitucional, ela
continuava a ser aplicada pelos juízes de primeiro grau, nos processos não afetados pela
decisão, até que o processo chegasse ao STF. A CF seguinte criará um mecanismo para resolver
esse problema.

VIII – Direitos fundamentais: (art. 72)


a) Foram abolidas as penas de galés, de banimento judicial e de morte (salvo guerra).
As penas de galés eram as penas de trabalho forçado.
b) A Constituição de 1891 reconheceu o princípio da igualdade:
CREUB/1891, art. 72, § 2º: “Todos são iguaes perante a lei. A Republica não admitte
privilegios de nascimento, desconhece fóros de nobreza, e extingue as ordens honoríficas
existentes e todas as suas prerogativas e regalias, bem como os titulos nobiliarchicos e de
conselho”.

*Todos os títulos foram extintos, não sendo mais permitido que pessoas estivessem acima de
outras em razão do nascimento.

c) Surgiu a chamada “Doutrina brasileira do Habeas Corpus”:


CREUB/1891, art. 72, § 22: “Dar-se-ha o habeas-corpus sempre que alguém soffrer ou se achar
em imminente perigo de soffrer violencia por meio de prisão ou constrangimento illegal em sua
liberdade de locomoção”.
Observação: atualmente, o “habeas corpus” só pode ser utilizado para proteger a liberdade de
locomoção. Na época, como não havia outros remédios constitucionais, criou-se a doutrina
brasileira do “habeas corpus”, ou seja, ele passou a ser utilizado como instrumento para
qualquer tipo de ilegalidade ou abuso de poder. Não havia habeas data, mandado de segurança.

d) Naturalização tácita
No tocante aos direitos de nacionalidade, assim como aconteceu na Constituição de 1824, a
Constituição de 1891 adotou a naturalização expressa e a naturalização tácita.
✓ Observação: apenas essas duas constituições adotaram a naturalização tácita com o fim de
aumentar a população brasileira.

CREUB/1891, art. 69: “São cidadãos brasileiros:


(...)
4º) os estrangeiros, que achando-se no Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem,
dentro em seis meses depois de entrar em vigor a Constituição, o ânimo de conservar a
nacionalidade de origem; (...)”.

e) No tocante aos direitos políticos, a Constituição Republicana extinguiu o sufrágio


censitário, ou seja, houve a extinção do sufrágio baseado na condição econômica.
A Constituição Republicana não proibia que as mulheres participassem das eleições, mas isso
era algo que nem se cogitava na época.

4.4. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934)


I – A Constituição de 1934 vigorou por apenas três anos, mas trouxe importantes inovações
para o constitucionalismo brasileiro.
Importantes inovações:
✓ Competência do Senado para suspender a execução de lei declarada inconstitucional
pelo Poder Judiciário. Esta competência foi criada para superar o stare decisis, ou seja, pela
ausência de vinculação dos precedentes;
✓ Introdução da cláusula de reserva de plenário no âmbito dos Tribunais, que diz que no
âmbito dos Tribunais, a declaração de inconstitucionalidade somente pode ser proferida
pelo pleno ou órgão especial, nunca por órgãos fracionários (turmas e câmeras).
✓ Criação da representação interventiva, que hoje é conhecida por ADI interventiva. A
representação interventiva somente poderia ser processada e julgada pelo STF.

Observação: Se a competência é de apenas um órgão do Poder Judiciário, trata-se de espécie de


controle concentrado. No controle difuso, qualquer órgão do Poder Judiciário pode exercer o
controle.
Isso é importante porque, muitas vezes, os concursos públicos trazem a informação de que o
controle concentrado foi introduzido pela EC 16/1965. Entretanto, essa emenda trouxe a criação
do controle abstrato e não do controle concentrado, que já havia sido criado pela Constituição
de 1934.

II – Ao contrário das outras constituições brasileiras, a Constituição de 1934 foi elaborada por
uma Constituinte exclusiva: os membros foram eleitos apenas para este fim e não legislaram
enquanto a constituição estava sendo elaborada.

III - Ideologia: democracia social (Weimar). A CF de 1934 rompeu com a tradição liberal e
instituição a democracia social, inspirada na CF Alemã de 1919.

Importante:
A Constituição de 1824 foi inspirada na Constituição Francesa de 1819. A Constituição
Republicana de 1891 foi inspirada na Constituição Estadunidense de 1787. A Constituição de
1934 foi inspirada na Constituição Alemã de Weimar de 1919.

IV – Estado – adotou-se um federalismo cooperativo (inspirado na Constituição de Weimar e


adotado atualmente pela Constituição de 1988), e não dualista, como na CF anterior.
O federalismo de cooperação é um modelo em que a União e os Estados têm suas competências
privativas, mas existe um grupo de competências comuns ou concorrentes, mas que são
tuteladas pela União, que vai estabelece normas gerais sobre as matérias e os estados exercem a
competência suplementar.
V – Poder:
• Sistema presidencialista: ampliou as competências do Poder Executivo e suprimiu a figura do
Vice-Presidente da República.
• Unicameralismo: aboliu-se o papel do Senado em termos de Casa Legislativa. Em outras
palavras, ele deixou de exercer o poder legislativo, que passou a ser exercido somente pela
Câmera dos Deputados:
CREUB/1934, art. 22: “O Poder Legislativo é exercido pela Câmara dos Deputados com a
colaboração do Senado Federal”.
CREUB/1934, art. 23: “A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos
mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de representantes eleitos
pelas organizações profissionais na forma que a lei indicar”.

VI – Controle de constitucionalidade - a constituição empregou o nome Corte Suprema, ao


invés de Supremo Tribunal Federal.

Inovações:
• Suspensão pelo Senado:
CREUB/1934, art. 91: “Compete ao Senado Federal (...): IV - suspender a execução, no todo ou
em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido declarados
inconstitucionais pelo Poder Judiciário”.
- Note-se que poderia ser suspensa qualquer lei declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário,
e não apenas pelo STF, como é hoje.

• Cláusula da reserva de plenário:


CREUB/1934, art. 179: “Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes,
poderão os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público”.
• Representação interventiva:
CREUB/1934, art. 12, § 2º: “Ocorrendo o primeiro caso do nº V, a intervenção só se efetuará
depois que a Corte Suprema, mediante provocação do Procurador-Geral da República, tomar
conhecimento da lei que a tenha decretado e lhe declarar a constitucionalidade”.
Relembrando: o controle concentrado foi introduzido pela Constituição de 1934, por meio da
criação da representação interventiva. O que surgiu com a EC n. 16/65 foi o controle abstrato.
Note-se que o artigo 179 fala depois que a Corte Suprema, o que indica estar concentrado em
um único órgão.

VII – Direitos fundamentais:


• Introduziu o mandado de segurança e a ação popular. Isso porque, a doutrina brasileira do HC
foi abandonada com a EC 3/1926 e, com isso, não havia qualquer instrumento na CF que
assegurasse determinadas liberdades contra ilegalidades e abusos de poder, fora das hipóteses de
violação de liberdade de locomoção.
• consagrou o escrutínio secreto e conferiu-se direitos políticos para as mulheres.
Observação: Em 1932 já havia sido feita uma reforma eleitoral e, a partir disso, as mulheres
começaram a votar. A CF de 34 somente consagrou esse direito.
CREUB/1934, art. 108 – “São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18
anos, que se alistarem na forma da lei”.

VIII- Embora a Constituição de 1934 tenha trazido importantes inovações, ela dizia algo no
papel, mas na realidade, aquilo não acontecia. A realidade política e social da época era muito
diferente do que estava escrito no papel. Ela era uma constituição semântica, e não normativa,
capaz de modificar a realidade existente.
✓ Essa constituição durou tão pouco porque havia um descompasso entre o texto constitucional
e a realidade do país.

IX – Justificativas para o golpe (Estado Novo):


a) crise institucional;
b) alegação de infiltração comunista no Brasil;
c) suposta iminência de uma guerra civil.

✓ Estes foram os argumentos utilizados por Getúlio Vargas para a instituição do Estado Novo e
a outorga da nova CF de 1937.

4.5. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937)


I – Ideologia: anticomunista e contrária à democracia liberal. O texto de 1937 ficou conhecido
como “Constituição polaca” por ser inspirado na constituição polonesa promulgada em 1935.

II - A Constituição de 1937 possuía um caráter semântico, ou seja, havia incongruência entre os


seus dispositivos e a realidade subjacente.
Embora a Constituição de 1937 consagrasse uma série de direitos fundamentais e fundamentos
democráticos, eles não eram respeitados.
A CF de 1937 preserva, no papel, os fundamentos da democracia, assim como os direitos e
garantias individuais. Entretanto, eles não possuíam qualquer efetividade. Era um texto
mentiroso.

III – Plebiscito: a CF 1937 trazia em seu texto a previsão de um plebiscito, para que ela fosse
confirmada através de uma consulta popular. Mas isso nunca ocorreu, razão pela qual parte da
doutrina chegou a sustentar que essa CF não teve valor jurídico.
CEUB/1937, art. 187: “Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será submetida ao
plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República”.

IV – Estado: autoritário e corporativista.

O Estado consagrado pela CF 1937 era autoritário (diferente do totalitário, que tem a pretensão
de conformar integralmente a vida das pessoas, como nazismo e stalinismo). A ditadura de
Vargas consagrou um Estado autoritário, um regime em que o Presidente da República possuía
mais poderes que o Legislativo e o Judiciário. Havia um desequilíbrio de forças.
* A CF de 1937 era muito corporativista, a ponto de alguns direitos sociais serem garantidos
somente a pertencentes a determinadas corporações.
Na prática, há quem sustente que o Estado brasileiro não era sequer um Estado federativo, mas
unitário, pois o poder central dominava os Estados-membros (ausência de autonomia) -
exemplo: Getúlio Vargas nomeou interventores em todos os Estados da Federação, exceto
Minas Gerais.

V – Poder:
• O Presidente da República estava acima dos demais Poderes tanto na constituição como na
prática:
CEUB/1937, art. 73: “O Presidente da República, autoridade suprema do Estado, dirige a
política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional e
superintende a Administração do País”.
• O Poder Legislativo era exercido pelo Parlamento Nacional:
CEUB/1937, art. 38: “O Poder Legislativo é exercido pelo Parlamento Nacional com a
colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República (...);
§ 1º - O Parlamento nacional compõe-se de duas Câmaras: a Câmara dos Deputados e o
Conselho Federal”.

✓ Observação: não havia Senado.

CEUB/1937, art. 50: “O Conselho Federal compõe-se de representantes dos Estados e dez
membros nomeados pelo Presidente da República”.

• “Estado de emergência”: durante a vigência da CF 1937, até o ano de 1945, ou seja, um ano
antes da CF de 1946, vigorou o Estado de emergência, que suspendeu diversos direitos e
garantias constitucionais e tornava imune ao Poder Judiciário os atos praticados pelo Governo:
CEUB/1937, art. 170: “Durante o estado de emergência ou o estado de guerra, dos atos
praticados em virtude deles não poderão conhecer os Juízes e Tribunais”.

* Os atos do presidente da República estavam excluídos da apreciação do Poder Judiciário.

VI– Controle de constitucionalidade:


CEUB/1937, art. 96, parágrafo único: “No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de
uma lei que, a juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à
promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da República
submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois terços de votos
em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal”.

* havia uma cláusula que permitia que o parlamento derrubasse a declaração de


inconstitucionalidade do Poder Judiciário.

- Essa previsão é muito semelhante à “cláusula not whith stand”. Trata-se da “cláusula do não
obstante” advinda do direito canadense, a que prevê que as Províncias e o Parlamento
canadenses podem deixar de cumprir determinados direitos e liberdades individuais previstos na
constituição, assim como podem afastar também decisões judiciais que declarem a
inconstitucionalidade de lei baseada nesses direitos.
Essa cláusula permite que o Parlamento continue aplicando leis que foram declaradas
inconstitucionais pelo Poder Judiciário.

VII – Direitos fundamentais:


• Não contemplou direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada, mandado de segurança
nem ação popular. Também impôs censura prévia aos meios de comunicação.
• Os direitos sociais não eram consagrados para todos, mas apenas para determinadas categorias
sociais e econômicas. A constituição proibiu a greve e o “lock-out” (paralisação feita pelos
empregadores).
• A constituição proibiu a existência de partidos políticos.

4.6. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1946)


I – A Constituição de 1946 teve como base a Constituição de 1934.
A Assembleia Nacional Constituinte de 1946 foi contemporânea a uma onda de
constitucionalismo global que ocorreu após o fim da 2ª Guerra Mundial.
Nesse período, houve o surgimento de várias constituições democráticas na Europa
(Italiana/1947, Alemã/1949, Francesa/1946).
II – Ideologia: buscava conciliar o liberalismo político, a democracia e o Estado social, ou seja,
um estado mais intervencionista. Ela se afastou do autoritarismo da carta de 1937.
III – Estado: foi mantido o Estado federal.
Observação: os municípios só passaram a ser considerados entes federativos com a Constituição
de 1988. No entanto, com a Constituição de 1946, já se atribuía uma ampla autonomia aos
municípios.
IV – Poder: surgimento de modelo rígido de separação de poderes.
Como a Constituição de 1946 foi uma reação à constituição anterior, na qual havia um
desequilíbrio entre os poderes, implementou-se uma rígida divisão de funções em contraposição
à autoridade suprema do Poder Executivo na carta anterior. Inclusive, não se permitia qualquer
tipo de delegação ou exercício de funções atípicas, como por exemplo, atuação do presidente
para criar normas, decretos, medidas provisórias.
✓ Observações: a rígida separação entre os poderes que ocorreu na constituição de 1946 foi
uma das razões pelas quais a constituição não funcionou. Isso porque o processo legislativo era
extremamente lento e não conseguia atender a determinadas demandas que exigiam rapidez.
Então, a rigidez extrema também não é interessante, porque é saudável que os poderes exerçam
funções atípicas.

Este foi um dos fatores que causou a derrocada da constituição de 1946.


✓ O Poder Executivo foi enfraquecido e a constituição adotou o bicameralismo no âmbito
legislativo.

V- Sistema de Governo: adotou-se o sistema presidencialista.


No entanto, o sistema parlamentarista foi implantado pela EC n. 4/61 e durou 14 meses.
Posteriormente, a EC n. 6/63 – após um plebiscito – reestabeleceu o sistema presidencialista.
Esse foi o único período em que tivemos o parlamentarismo no Brasil.

VI– Controle de constitucionalidade: foi introduzido o controle abstrato (EC n. 16/65), ou


seja, o controle em tese.
✓ Trata-se do controle feito com o objetivo precípuo de assegurar a supremacia da constituição
(e não de assegurar os direitos subjetivos).
* No controle concreto ou incidental é feito a partir do caso concreto com a finalidade precípua
de assegurar direitos subjetivos; a supremacia da constituição é um objetivo secundário. O
pedido nessa ação não á e declaração de inconstitucionalidade, mas que o direito seja
preservado e, incidentalmente, o juiz declara a inconstitucionalidade.
* Já no controle abstrato, a finalidade principal é a declaração de inconstitucionalidade da lei,
para a garantia da supremacia da Constituição.
✓ A primeira ação de controle abstrato foi criada pela EC n. 16/65 (representação de
inconstitucionalidade). Com a CF/1988, ela passou a ser chamada de ação direta de
inconstitucionalidade.

CEUB/1946, art. 101: Ao Supremo Tribunal Federal compete:


I – processar e julgar originariamente:
(...)
k - a representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou
estadual,
encaminhada pelo Procurador-Geral da República”.

VII – Direitos fundamentais (CEUB/1946, art. 141)


* Ocorreram poucas alterações em relação à CF de 1934.
No âmbito dos direitos fundamentais, foram consagrados:
• Liberdades públicas tradicionais (liberdade de religião, de reunião, de expressão, profissional
etc.).
• Ações constitucionais (restabelecimento do HC, MS e AP).
• Direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada.
• Inafastabilidade da prestação jurisdicional (inovação da Constituição de 1946).
• Vedação a penas de morte (salvo guerra externa), banimento, confisco e caráter perpétuo.
• Obrigatoriedade do voto (para todos os alfabetizados) - (inovação da Constituição de 1946).

Observação: Pela primeira vez os partidos políticos foram mencionados no texto constitucional,
no sentido de poderem ser constituídos.

4.6. Constituição do Brasil (1967)


I – A Constituição de 1967 foi outorgada, ou seja, foi imposta.
Em 31 de março de 1964, houve o golpe militar. Após o golpe foram feitos vários Atos
Institucionais e, posteriormente, surgiu a Constituição de 1967.
✓ O texto da Constituição de 1967 refletiu os valores de um grupo militar ideologicamente
moderado e que queria a reconstitucionalização do país, embora esta fosse limitada por
características autoritárias. Todavia, o objetivo da Constituição de 1967 acabou sendo colocado
de lado pelo AI 5 de 1968.
II – Embora formalmente discutida e votada pelo Parlamento, a Constituição de 1967 não podia
ser alterada por ele. Os textos apresentados ao parlamento não podiam ser alterados, mas apenas
aprovados ou rejeitados. Se fossem rejeitados, o parlamento era extinto. Assim, o parlamento
apenas aprovou uma CF que lhe foi imposta, já preparada pelos militares. Portanto, não é
considerada uma constituição democrática, mas outorgada.
III – A Constituição de 1967 adotou uma ideologia social-liberal e ditatorial.
✓ Uma das características dessa constituição foi a concentração de poder. Isso tanto
verticalmente, em relação aos entes federativos, havendo concentração de poder na União, em
relação aos estados membros, quando horizontalmente, entre legislativo, executivo e judiciário.
Havia hipertrofia do Poder Executivo, embora houvesse preocupação da CF em preservar sua
“fachada” liberal.

IV – No tocante ao modelo de Estado, adotou-se o federalismo de integração.


O federalismo de integração se contrapõe ao federalismo dual, no qual União e Estados-
membros têm uma relação de coordenação (relação horizontal). No federalismo de integração,
há uma centralização do poder da União. Os Estados Membros são subordinados à União.
✓ Observação - Federalismo cooperativo: há a consagração de competências da União e dos
Estados, mas algumas competências comuns ou concorrentes ficam sob a tutela da União.

V – Em relação aos direitos fundamentais, havia uma carência de efetividade.


Havia previsão no texto constitucional, mas, na prática, os direitos não eram aplicados.
- embora os direitos estivesse no papel, na prática, eles não eram respeitados.

VI – Poder: Novamente houve um fortalecimento do Poder Executivo, que passou a poder


editar decretos com força de lei (art. 58). Além disso, houve a previsão de eleições indiretas (art.
77).
CB/1967, art. 58: “O Presidente da República, em casos de urgência ou de interesse público
relevante, e desde que não resulte aumento de despesa, poderá expedir decretos com força de lei
sobre as seguintes matérias:
I - segurança nacional;
II - finanças públicas.
Parágrafo único: Publicado, o texto, que terá vigência imediata, o Congresso Nacional o
aprovará ou rejeitará, dentro de sessenta dias, não podendo emendá-lo; se, nesse prazo, não
houver deliberação o texto será tido como aprovado”.
CB/1967, art. 77: “O Colégio Eleitoral reunir-se-á na sede. do Congresso Nacional, a 15 de
janeiro do ano em que se findar o mandato presidencial.
§ 1º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por Partido Político, obtiver
maioria absoluta de votos do Colégio Eleitoral.
§ 2º - Se não for obtida maioria absoluta na primeira votação, repetir-se-ão os escrutínios, e a
eleição dar-se-á, no terceiro, por maioria simples.
§ 3º - O mandato do Presidente da República é de quatro anos”
Poder Judiciários: não houve grandes mudanças na CF. Mas a CF 1967 excluiu da apreciação
do Poder Judiciários os atos praticados pela Revolução (golpe).
CB/1967, art. 173: “Ficam aprovados e excluídos de apreciação judicial os atos praticados pelo
Comando Supremo da Revolução de 31 de março de 1964, assim como: (...)”

• AI-7/69, art. 7º: “Ficam suspensas quaisquer eleições parciais para cargos executivos ou
legislativos da União, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios”.
✓ A Constituição de 1967 trouxe um acréscimo de novos direitos fundamentais, mas estes não
tinham qualquer efetividade.

4.7. Constituição da República Federativa do Brasil (1969)


I – Com a EC n. 1/69 houve, segundo a maioria dos doutrinadores, o advento de uma nova
constituição.
Embora formalmente consagrada como “emenda”, é considerada uma nova constituição por ter
rompido com a ordem constitucional anterior.
✓ Ela foi outorgada por uma junta militar que comandava o Brasil na época.

➢ Fundamentos da Constituição de 1969: AI-5 e AI-6.


- foi outorgada por uma junta militar, em forma de emenda, e alterou o nome do Estado
Brasileiro para República Federativa do Brasil.

II – Poder:
• Poder Executivo: ampliou poderes.
• Poder Legislativo: reduziu imunidade dos parlamentares e intraduziu a infidelidade
partidária.
• O Ministério Público foi consagrado dentro do Capítulo do Poder Executivo.

III – Direitos fundamentais:


a) condicionou o ingresso em juízo ao prévio esgotamento da via administrativa. Esse ato é um
retrocesso em relação ao princípio da inafastabilidade de controle jurisdicional.
b) restringiu a liberdade de expressão;
c) incorporou a pena de morte para outros casos, além da guerra externa;
d) ampliou o prazo do estado de sítio, com várias suspensões de direitos fundamentais.

Observação: os próprios militares fizeram o processo de transição gradual entre a ditadura e a


democracia. Esse processo teve o ponto culminante com a EC 26, de 27/11/1985, que convocou
a Assembleia Nacional Constituinte, para criar um novo texto constitucional, que expressasse a
nova realidade social, dentro do processo de redemocratização.

“Art. 1º: Os Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-ão,


unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro
de 1987, na sede do Congresso Nacional.
Art. 2º. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte
e dirigirá a sessão de eleição do seu Presidente.
Art. 3º A Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de
discussão e votação, pela maioria absoluta dos Membros da Assembléia Nacional Constituinte”.
1.1. Métodos de interpretação (Böckenförde)

II – Poder:
• Poder Executivo: ampliou poderes.
• Poder Legislativo: reduziu imunidade dos parlamentares e consagrou a infidelidade partidária.
• O Ministério Público foi consagrado dentro do Capítulo do Poder Executivo.
III – Direitos fundamentais:
a) condicionou o ingresso em juízo ao prévio esgotamento da via administrativa. Esse ato é um
retrocesso em relação ao princípio da inafastabilidade de controle jurisdicional.
b) restringiu a liberdade de expressão;
c) incorporou a pena de morte para outros casos, além da guerra externa;
d) ampliou o prazo do estado de sítio.
Observação: os próprios militares fizeram o processo de transição gradual entre a ditadura e a
democracia. Esse processo teve o ponto culminante com a EC 26, de 27/11/1985, a qual
convocou a Assembleia Nacional Constituinte.
“Art. 1º: Os Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-ão,
unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro
de 1987, na sede do Congresso Nacional.
Art. 2º. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte
e dirigirá a sessão de eleição do seu Presidente.
Art. 3º A Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de
discussão e votação, pela maioria absoluta dos Membros da Assembléia Nacional Constituinte.”

HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
1. Contribuições da dogmática alemã
Os métodos de interpretação da doutrina alemã foram elencados por Böckenförde e trazidos
para a doutrina brasileira pela obra do português Gomes Canotilho.
➢ Métodos de interpretação a serem trabalhados:

1.1.1. Jurídico (Ernst Forsthof)


1.1.2. Científico-espiritual (Rudolf Smend)
1.1.3. Tópico-problemático (Theodor Viehweg)
1.1.4. Hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse)
1.1.5. Normativo-estruturante (Friedrich Müller)
1.1.6. Concretista da constituição aberta (Peter Häberle).

Questão: por que se desenvolveram métodos específicos para a interpretação da constituição?


Por que a CF não pode ser interpretada por elementos básicos desenvolvidos por Savigny, como
gramatical, histórico, lógico e sistemático?

A CF traz dificuldades para o intérprete da constituição, o que exige que ela seja interpretada
através de métodos especiais:

I – Tipologia das normas constitucionais: como toda lei, a CF é composta de normas e


princípios. Entretanto, a CF é composta por inúmeros princípios, e por regras com alto teor de
generalidade e abstração, e isso traz grande dificuldade de interpretação, já que podem ser
interpretados de formas diferentes pelos operadores.
Segundo Alexy, os princípios são mandamentos de otimização que devem ser cumpridos na
maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas existentes.
Determiná-las (possibilidades fáticas e jurídicas) é algo extremamente complexo.
✓ Em suma, em razão da tipologia das normas constitucionais, muitas vezes exteriorizadas por
meio de princípios, a interpretação e a aplicação da constituição são tarefas extremamente
complexas.

II – Diversidade de objeto e eficácia das normas constitucionais:


Quanto ao objeto, a CF, diferentemente de outros ramos do direito, não trata apenas de um
tema, mas de variados objetos. Exemplos: Direito Civil, Penal, Ambiental, Administrativo. Na
verdade, os ramos do direito possuem na CF seus princípios gerais.
Quanto à eficácia, há também grande variedade – exemplos: normas de eficácia plena, normas
de eficácia contida, normas de eficácia limitada, normas de eficácia exaurida.
III – Superioridade hierárquica da constituição: as leis estão abaixo da constituição e retiram
dela o seu fundamento de validade. Assim, as leis devem ser interpretadas à luz da constituição
(interpretação conforme a constituição ou filtragem constitucional).
No caso da constituição, não há uma norma hierarquicamente superior a ela para orientar a
interpretação de seus dispositivos. Trata-se de uma peculiaridade em relação às leis, e isso
dificulta a interpretação constitucional.
IV – Origem compromissória das constituições: a constituição, a rigor, não é fruto de um
grande pacto, mas resulta, no caso de constituições democráticas feitas em sociedades
pluralistas, de vários pequenos pactos ou acordos ocorridos dentro da Constituinte. Desta forma,
em uma constituinte plural e democrática, há vários grupos diferentes, cada um deles tentando
implementar seus ideais, e, para isso, é preciso que haja acordos, e cada grupo precisa ceder em
alguns pontos. Com isso, surgem normas conflitantes entre si, que precisam ser interpretadas de
forma harmônica pelo intérprete.
A origem compromissória gera uma tensão muito grande entre as normas constitucionais.
Inclusive, existe um princípio específico no caso dessas tensões (princípio da unidade).
V – Carga moral e política (ideologia) dos dispositivos constitucionais: a alta carga moral e
política de algumas normas da constituição faz com que a ideologia do intérprete ou suas
preferências políticas acabem influenciando a interpretação daquele dispositivo, ainda que de
maneira inconsciente.
Exemplo: a Constituição de 1988 diz que a vida é inviolável, mas não afirma que o aborto é
proibido, que a vida do feto/embrião é inviolável, não diz a partir de que momento a vida é
inviolável etc. Isso dá margem a diversas interpretações. Ex2: a CF traz a inviolabilidade das
correspondências. Então, porque as cartas dos presos são inspecionadas? Porque há outros
interesses que justificam a interceptação de uma concorrência.
Assim, a interpretação fica muito difícil. E a ideologia do intérprete também influencia a
intepretação da norma. Um liberal terá uma tendência a interpretar as normas de forma mais
ampla. Um socialista, de forma mais coletiva.
✓ Observação: uma das pesquisas mais abrangentes feita na Suprema Corte norte-americana
analisou, por 50 anos, as decisões não unânimes referentes às liberdades civis. A partir disso,
foram traçados os espectros dos justices (mais liberal, menos liberal etc.) e, diante disso,
começaram a prever as decisões futuras. O índice de acerto ficou em torno de 70% a 80%, ou
seja, na grande maioria dos casos, a ideologia do juiz determinou a decisão proferida.

1.1.1. Método jurídico (hermenêutico-clássico)


I - Segundo Ernst Forsthoff, embora a constituição possua peculiaridades, tais características
não exigem métodos específicos de interpretação. Ele afirma que a CF é uma lei como as
demais e, assim, ainda que possua elementos específicos e peculiares, não se justifica que sua
interpretação seja feita de forma diversa das leis.
✓ O autor utiliza a tese da identidade (constituição = lei).

II - De acordo com a tese da identidade (constituição = lei), a constituição é um conjunto de


normas como as demais leis. Sendo assim, não há razão para fazer uso de métodos diferentes
para interpretá-la. As peculiaridades não justificam a criação de um método específico.
Portanto, a constituição deve ser interpretada, assim como as demais leis, pelos elementos
tradicionais desenvolvidos por Savigny.
➢ Elementos tradicionais (Savigny):
• Gramatical.
• Sistemático.
• Histórico.
• Lógico.
III – Segundo o autor, a força normativa estaria assegurada em função da importância do
próprio texto constitucional: o texto constitucional seria o início e limite da interpretação.
a) ponto de partida da interpretação; e
b) limite da atividade interpretativa.
✓ Em suma: o método hermenêutico-clássico é aquele que utiliza os elementos clássicos
desenvolvidos por Savigny.

IV - Crítica: os elementos tradicionais criados por Savigny, embora úteis para a interpretação
da constituição, são insuficientes para dar conta da complexidade constitucional.

1.1.2. Método científico-espiritual


I – A tradução “científico-espiritual” é incorreta, porque esse nome não traduz a intenção do
método. O método também é conhecido como “sociológico”, “integrativo” ou “valorativo”.
II - Elemento valorativo: preconiza que os valores subjacentes à constituição, conforme Rudolf
Smend, devem ter um papel primordial na interpretação da constituição.
✓ O sistema de valores subjacentes à constituição (os valores que inspiraram a criação da
constitucional) deve servir para a interpretação de suas normas.
Observação: na Constituição de 1988, os valores supremos estão consagrados no Preâmbulo.
Por isso, nesse método, o preâmbulo tem papel extremamente relevante, porque ele ajuda a
identificar os valores adjacentes à constituição, os valores que inspiraram a elaboração do texto
constitucional.

III - Elemento integrativo: a constituição é o principal elemento no processo de integração da


comunidade. Sendo assim, o intérprete deve sempre buscar a interpretação que confira unidade
à compreensão do texto da constituição, favorecendo a integração política e social.
✓ O princípio do efeito integrador está diretamente ligado ao princípio da unidade da
constituição, ou seja, as normas não existem isoladamente e fazem parte de um sistema. Assim
sendo, as normas precisam ser analisadas em sentido que favoreça a integração política e social.
III - Elemento sociológico: impõe que o intérprete leve em consideração os fatores
extraconstitucionais – Exemplo: realidade subjacente à constituição (realidade social).
Esse método é crítico em relação ao conteúdo constitucional, porque ele analisa esse conteúdo à
luz da realidade em que ele está inserido.
IV - Críticas:
• Falta de clareza em relação ao porque esses elementos devem ser utilizados, e qual o
fundamento para a utilização dos elementos.
• esse método pode gerar Indeterminação e mutabilidade dos resultados, ou seja, pode haver
diferentes interpretações a partir da realidade social vivida e isso gera insegurança jurídica, e o
enfraquecimento da força normativa da CF.

1.1.3. Método tópico-problemático


I – Foi desenvolvido por Theodor Viehweg: tratou-se de uma reação ao positivismo jurídico e
foi desenvolvido inicialmente para o Direito Civil. O autor foi o responsável pela retomada da
tópica no campo jurídico.
✓ Tópica é uma técnica do pensamento problemático. Para que o método possa ser utilizado, é
preciso que haja um problema concreto. Ele não precisa ser real. Pode ser um problema
concreto exposto em uma prova, por exemplo. Não é possível, por exemplo, afirmar que tal
dispositivo, com base no método tópico-problemático, deve ser interpretado de tal forma. É
preciso um problema concreto, para, a partir disso, buscar a interpretação.

II - “Topos”: é uma forma de raciocínio ou de argumentação; os “topoi” (plural de “topos”) são


extraídos dos princípios gerais do direito, da jurisprudência dominante, da doutrina e do senso
comum.
Exemplo de “topos”: “normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente”.

*na tópica, vence o argumento mais convincente, ainda que não seja ele o verdadeiro. Vence o
argumento que conseguir convencer o maior número de pessoas.

III- É um método concretista, ou seja, é aquele que parte da premissa de que a interpretação da
constituição só pode ser feita se for para aplicar a constituição a um caso concreto.
✓ Deve sempre haver um problema concreto para que haja a aplicação desse método.
*esse método tem como ponto de partida tanto o conhecimento prévio do problema, quanto da
CF. Por exemplo, um leigo não conseguirá interpretar a CF à luz desse método, porque ele pode
até ter conhecimento do problema a ser resolvido, mas ele não terá conhecimento da CF.

IV – Problema: são levados em consideração argumentos favoráveis e contrários a


determinadas soluções. O método tópico-problemático considera que, em uma discussão, o que
prevalecerá não é necessariamente o argumento verdadeiro, mas sim o mais convincente, ou
seja, aquele capaz de obter o maior número de adeptos.
V - Ponto de partida: compreensão prévia tanto do problema quanto da constituição.
Ponto de apoio: o consenso ou o senso comum.

VI- Utilidades:
• Complementação de lacunas.
✓ Quando há uma ausência de norma específica a respeito de determinado problema, este
método se torna interessante, pois ele parte do problema para buscar a norma que servirá de
base para a fundamentação da questão. Normalmente os métodos fazem a interpretação a partir
da norma. Assim, havendo omissão quanto a determinado assunto, este método poderá ser
utilizado, pois faz o caminho inverso.

• Comprovação de resultados obtidos por outros métodos.


✓ Como este método faz o caminho inverso dos demais métodos, ele pode servir de
comprovação de resultados obtidos por outros métodos.

VII - Críticas:
• Investigação superficial da jurisprudência, que não é levada em consideração da forma que
deveria ser. O precedente judicial não tem força impositiva, como deveria ter, sendo apenas
mais um “topos”, mais uma forma de raciocínio e argumentação. A lei também é tratada assim.
• A utilização desse método pode conduzir a um casuísmo ilimitado, no sentido de que cada
caso concreto será resolvido de uma determinada forma (resultados diferentes para casos
semelhantes).
Ex.: o Ministro Marco Aurélio afirmou que ao julgar um caso, primeiro forma sua convicção de
justiça e, posteriormente, procura no ordenamento jurídico a fundamentação para aquele
entendimento, que ele julga mais correto, e mais justo. Isso é partir do problema para,
posteriormente, buscar a norma que fundamenta o posicionamento. Se ele não encontrar uma
norma consistente, ele pode rever o posicionamento inicial.
• Caminho inverso dos métodos tradicionais: ele parte do problema para a norma, ao invés de
buscar a norma adequada para a solução do problema. Assim, primeiro há uma discussão em
torno do problema (busca da melhor solução) e, após obtê-la, busca-se no ordenamento jurídico
uma norma para fundamentar a decisão.
Observação: embora este procedimento seja muito criticado pela doutrina, na prática, é o que
grande parte dos juízes fazem em muitas matérias.

1.1.4. Método hermenêutico-concretizador


I – É um método desenvolvido Konrad Hesse.
O autor desenvolveu um catálogo de princípios, inspirado nas obras de Viehweg e Luhmann.
II – Segundo o autor, a interpretação e a aplicação da norma consistem em um processo
unitário. Por isso, deve-se falar em concretização e não apenas em interpretação: para
concretizar a norma, é necessário interpretá-la.
*trata-se de um método concretizador, não sendo possível apenas interpretar em abstrato, mas
concretizar a norma, interpretando o dispositivo abstrato para resolver um caso concreto.
✓ De acordo com esta visão, a interpretação e a aplicação são interdependentes, constituindo
processo unitário. A interpretação depende da aplicação da norma, e vice-versa. Assim, de
acordo com essa visão, só se interpreta um dispositivo se for para aplicá-lo ao caso concreto. E,
ao mesmo tempo, só se aplica uma norma a um caso concreto após interpretá-lo.

III - Elementos básicos para esse método:


• Norma a ser aplicada - a norma é imprescindível. * Para esse método, é necessário que haja
uma norma para interpretação do problema.
• Compreensão prévia do intérprete (do problema e da teoria da constituição). Nesse método,
é necessário que o intérprete tenha conhecimentos prévios, ou seja, não é qualquer pessoa que
consegue ser intérprete da constituição.
• Problema a ser resolvido: para obter a concretização, é necessário um problema a ser
resolvido (interpretação e aplicação consistem em um processo unitário).
IV – Esse método corrige a principal crítica feita ao método tópico-problemático (partir do
problema para buscar a norma). No método hermenêutico-concretizador, há uma primazia da
norma sobre o problema.

1.1.5. Método normativo-estruturante


I – Seu principal expoente é Friedrich Müller.
II –Friedrich Müller parte da ideia de concretização: a interpretação é apenas um dos elementos
do processo de concretização da norma. A concretização da norma é o processo que transforma
o dispositivo contido na CF em um comando para ser aplicado a um caso concreto. Além da
interpretação, outros elementos são utilizados para concretizar a norma e chegar à solução do
problema. A interpretação é apenas uma das etapas dessa concretização. A mais importante,
mas apenas uma das etapas. Por isso o autor afirma ser o correto falar em concretização da
norma, em vez de aplicação.
III – O autor faz uma distinção entre o programa normativo e o domínio normativo:
• O programa normativo é o texto da norma.
• O domínio normativo é a realidade social subjacente àquela norma, que o dispositivo tenta
conformar.

Na visão do autor, a norma jurídica é o resultado do programa normativo e do domínio


normativo. Em outras palavras, a norma surge a partir do momento em que há uma interpretação
do texto à luz da realidade social (concretização).

Observação:
Texto é a forma de exteriorização do dispositivo. Norma é o produto da interpretação do texto.
O método é denominado de “normativo-estruturante” exatamente por estabelecer uma estrutura
para a concretização da norma. Essa estrutura é composta por vários elementos que devem ser
utilizados para a concretização da norma:
• Metodológicos: elementos clássicos de interpretação (gramatical, sistemático, histórico e
lógico) e os princípios próprios de interpretação da constituição.
• Dogmáticos: compostos pela doutrina e pela jurisprudência.
• Teóricos: são os elementos de Teoria da Constituição.
• Política constitucional: são elementos de natureza política, mas que também devem ser
levados em consideração quando da concretização de uma norma – exemplo: a reserva do
possível.
✓ A reserva do possível é elemento de concretização da norma. Exemplo: em um determinado
caso, o TJ do Rio Grande do Sul entendeu que o fornecimento de aparelho ortodôntico não era
prioridade em relação às demais demandas por saúde, já que se tratava apenas de questão
estética. Isso porque o Estado não consegue atender indiscriminadamente a todas as demandas
da sociedade, pois há uma limitação orçamentária.

V – Críticas:
Crítica de Paulo Bonavides: o método normativo-estruturante, depois de se abrir para a
realidade, acaba tendo sua última postulação assentada em uma estrutura jurídica limitativa
(restringe a interpretação do intérprete).
✓ Os elementos que estão mais próximos da norma (metodológicos e dogmáticos) teriam uma
prevalência sobre os demais elementos (teóricos e política constitucional).

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