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Geometria Diferencial de Curvas e Superfı́cies

IMPA, Verão 2022 - Prof. Lucas Ambrozio

Material complementar - Aquecimento

Coletamos abaixo alguns exercı́cios simples, que são úteis para relembrar vários fatos
básicos de Álgebra Linear, Análise e Topologia do Rn que utilizaremos frequentemente du-
rante o curso, e também para fixar certas notações e a linguagem que utilizaremos. Uma
leitura dos enunciados dará aos leitores uma indicação se é necessário ou não consolidar o
seu conhecimento prévio a fim de acompanhar o curso.

O livro Differential Geometry of Curves and Surfaces do Manfredo é bastante completo,


e explicações detalhadas sobre muitos fatos básicos podem ser consultadas ali mesmo. Por
exemplo, vejam as seções 1.4 e os apêndices aos capı́tulos 2, 3 e 5. Em caso de necessidade,
pode-se consultar, por exemplo, os livros Curso de Análise Volume 2 e Álgebra Linear do
Elon, onde os pré-requisitos do curso são tratados aprofundadamente.

Atenção: não se trata de resolver todos os exercı́cios abaixo antes de assitir à primeira
aula! Trata-se de ler e usar esta lista conforme a necessidade.

Se a notação ficar complicada, trabalhem primeiro em dimensões baixas, n = 1, 2 ou 3.

Exercı́cio 1. Enuncie os axiomas de um espaço vetorial (real). Enuncie a definição de uma


norma. Enuncie a definição de produto interno, e de norma induzida. Mostre que, se a
norma | · | advém de um produto interno h·, ·i, então vale a identidade do paralelogramo
|x + y|2 + |x − y|2 = 2|x|2 + 2|y|2 .
Exercı́cio 2. Considere um espaço vetorial real V munido de produto interno h·, ·i. Defina o
que é uma base ortonormal {v1 , . . . , vn } de V . Expressando um vetor arbitrário v ∈ V nesta
base,
X n
v= ai vi = a1 v1 + . . . + an vn ,
i=1
use o produto interno para calcular cada coeficiente ai , e calcule |v|2 em termos destes ai ’s.
Exercı́cio 3. Sob as mesmas hipóteses do exercı́cio anterior, seja v 6= 0 em V . Usando
o produto interno, escreva a fórmula para a projeção ortogonal de um ponto p ∈ V no
subespaço gerado por v, e a fórmula para a projeção ortogonal de um ponto p ∈ V no
complemento ortogonal ao subespaço gerado por v.
Exercı́cio 4. A dilatação de Rn centrada no ponto q por um fator λ > 0 é a aplicação
p ∈ Rn 7→ λ(p − q) ∈ Rn .
Após aplicar uma dilatação por um fator λ, o que ocorre com o comprimento de segmentos?
E com a área de quadrados? E com o volume dos objetos k-dimensionais generalizando os
anteriores, 3 ≤ k ≤ n? E o que ocorre com o ângulo formados por três pontos distintos p, q
e r em Rn ? E o que ocorre com cı́rculos e esferas?
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Exercı́cio 5. Considere a aplicação linear J : (x, y) ∈ R2 7→ (−y, x) ∈ R2 . Descreva geome-


tricamente o que ela faz. Mostre que
i) J 2 = −1; e
ii) hJx, Jxi = hx, yi para todo x, y ∈ R2 .
Existe um endomorfismo linear de R3 que satisfaz i) e ii)? E em R4 ?
Exercı́cio 6. Sejam α, β : I → Rn funções suaves (= de classe C ∞ ).
i) Mostre que a aplicação t ∈ I 7→ hα(t), β(t)i ∈ R é suave, e calcule a sua derivada.
ii) Mostre que a aplicação t ∈ I 7→ |α(t)| ∈ R é contı́nua em I e suave exceto nos pontos
t ∈ I onde α(t) = 0. Calcule sua derivada (nos pontos onde ela existe).
iii) Suponha que a imagem de α não contém a origem, e que α(t0 ), t0 ∈ I, é o ponto de
α(I) que está mais próximo da origem. Mostre que α0 (t0 ) é ortogonal a α(t0 ).
Exercı́cio 7. Seja L : Rm → R uma aplicação linear. Mostre que existe um único vetor
v0 ∈ Rm tal que
L(w) = hv0 , wi para todo w ∈ Rm .
(Observação: trata-se apenas de ser cuidadoso com o significado de ambos os lados da igual-
dade! Qual é a matrix associada à uma aplicação linear L : Rm → R, e como ela age em
vetores-coluna?)
Exercı́cio 8. Seja V um espaço vetorial real, de dimensão finita, munido de produto interno.
A adjunta de uma transformação linear A : V → V é a transformação linear A∗ : V → V
que associa a cada x ∈ V o único ponto A∗ x ∈ V tal que
hA∗ x, yi = hx, Ayi para todo y ∈ V.
Explique porque A∗ esta bem-definida. Mostre que a transformação J do exercı́cio 5 satisfaz
J ∗ = J −1 = −J.
Exercı́cio 9. Uma transformação auto-adjunta (ou simétrica) de um espaço vetorial real V
de dimensão finita munido de produto interno é uma aplicação linear A : V → V tal que
A = A∗ .
i) O Teorema Espectral para operadores auto-adjuntos afirma que para toda trans-
formação auto-adjunta A existe uma base ortonormal {v1 , . . . , vn } que a diagonaliza,
isto é, existem λi ∈ R tais que Avi = λi vi para todo i = 1, . . . , n. Relacione este
enunciado com o enunciado sobre matrizes simétricas normalmente vistos em cursos
de Álgebra Linear.
ii) Considerando A : Rn → Rn linear auto-adjunta, mostre que a função
Q : (x, y) ∈ Rn × Rn 7→ hAx, yi ∈ R
é bilinear e simétrica. Calcule os pontos crı́ticos e os valores crı́ticos da função
Q(x, x)
x ∈ Rn \ {0} 7→ ∈ R.
hx, xi
Exercı́cio 10. Seja X um subconjunto de Rn . Defina o que significa dizer que X é um sub-
conjunto aberto/fechado/compacto/conexo/conexo por caminhos/limitado. Dê exemplos de
subconjuntos X que satisfazem estas propriedades, e que não satisfazem estas propriedades.
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Exercı́cio 11. Mostre que existe uma coleção enumerável de abertos de Rn com a seguinte
propriedade: todo aberto de Rn é uma união de abertos desta coleção.
Exercı́cio 12. Seja f : K ⊂ Rm → Rn uma aplicação contı́nua e injetiva definida em um
compacto. Mostre que a inversa f −1 : f (K) → K está bem definida e é também contı́nua.
Exercı́cio 13. Seja F : U ⊂ Rm → Rn uma função suave definida no aberto U . Explique o que
é a derivada de F no ponto p ∈ U , vista como uma transformação linear DF (p) : Rm → Rn .
Escreva a regra da cadeia para a composição G ◦ F de funções suaves F : U ⊂ Rm → Rn e
G : V ⊂ Rn → Rp com F (U ) ⊂ V .
Exercı́cio 14. (Um exercı́cio em Álgebra Linear e Diferenciação).
i) Uma aplicação linear L : R → Rn é identicamente nula ou injetiva.
ii) Seja F : I ⊂ R → Rn uma função suave definida no intervalo aberto I, t um ponto
de I, e DF (t) : R → Rn a derivada F no ponto t (vista como aplicação linear). Se
F (t) = (F 1 (t), . . . , F n (t)), t ∈ R, é a expressão de F em coordenadas, mostre que
DF (t) · 1 = ((F 1 )0 (t), . . . , (F n )0 (t)).
(Observação: trata-se apenas de ser cuidadoso com o significado de ambos os lados
da igualdade! Observe que 1 é um vetor que gera R, visto como espaço vetorial real
de dimensão um).
iii) Uma aplicação linear L : Rm → R é identicamente zero ou sobrejetiva.
iv) Seja F : U ⊂ Rm → R uma aplicação suave definida em um aberto U , p =
(x1 , . . . , xm ) um ponto de U , e DF (p) : Rm → R a derivada de F no ponto p.
Mostre que o único vetor associado à aplicação linear DF (p) como no exercı́cio 7 é
precisamente o vetor
 
∂F ∂F
grad F (p) := (p), . . . , m (p) ∈ Rm ,
∂x1 ∂x
mais conhecido como o vetor gradiente of F no ponto p ∈ U .
Exercı́cio 15. (Funções C ∞ de suporte compacto).
i) Considere a função η : R → R que se anula em pontos t ≤ 0 e que é dada por
η(t) = e−1/t se t > 0. Mostre que esta função é de classe C ∞ . Ela é analı́tica?
ii) Seja φ : Rn → R a função que se anula fora da bola unitária centrada na origem e
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é dada por φ(p) = e−1/(1−|p| ) se |p| < 1. Mostre que φ é uma função de classe C ∞ ,
não-negativa, e que o seu suporte (= fecho do conjunto onde ela é diferente de zero)
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é um conjunto compacto não-vazio. (Dica: observe que e−1/(1−t ) = e−1/(1+t) e1/(1−t) )
para pontos t ∈ (−1, 1), e lembre-se que é possı́vel usar a regra da cadeia).

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