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Thaís Fernanda

de Almeida
Contadora – Consultora
Tributária especialista em
Gestão Tributária- FESP/PR

CRC/PR nº 075.272/O-4
nº CRECI/PR F36241
CNAI nº 32958

Contribuição de
Melhoria
SUMÁRIO 1 - DO SISTEMA TRIBUTÁRIO
1.1- PRINCIPAIS NORMAS e na valorização imobiliária.
Em 25 de outubro de 1966, com a pu-
APLICÁVEIS
blicação do Código Tributário Nacional
No século XX, a contribuição de me- pela Lei n. 5.172, que tratou do tema nos
1. ESTUDO DA CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA lhoria, em suas variações, foi intensa- arts. 81 e 82, reafirmaram-se os limites
mente utilizada, em quase todos os mencionados no texto constitucional de
1.1 PRINCIPAIS NORMAS APLICÁVEIS países, sob a crença de ser um tributo 1946. Após quatro meses, em 24 de fe-
verdadeiramente justo, que vinha a ca- vereiro de 1967, publicou-se o Decreto-
lhar na necessidade de urbanização (ou -lei n. 195, que tratou de regulamentar
1.2 ASPECTOS GERAIS reconstrução) das cidades, principal- os dois artigos.
mente após as duas grandes guerras. A Carta Magna de 1967, entrando em
1.3 COMPETÊNCIA No Brasil do século XX, a contribuição vigor em 15 de março, manteve a contri-
de melhoria surge, pela primeira vez, na buição de melhoria como espécie tribu-
Constituição de 1934, no respectivo art. tária (art. 18), disciplinando-a no art. 19,
1.4 FATO GERADOR 124. III e §3°.
Nada obstante, diz-se que a primeira Em 1969, sobreveio a Emenda Cons-
1.5 SUJEITO ATIVO E PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA utilização do tributo nos moldes atuais titucional n. 1, proveniente do Regime
teria ocorrido no Brasil no século XIX, Militar, que manteve a natureza tributá-
em 1812, na Bahia, em pleno domínio ria do gravame no art. 18, II.
1.6 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA português, com a exigência de “fintas” Em 1983, com a Emenda Constitucio-
na edificação de obras públicas. nal n. 23 (Emenda Passos Porto), repro-
1.7 ASPECTO ESPACIAL Na Constituição Federal de 1937, o duziu-se o mencionado art. 18, II, mas
gravame desaparece dando a impres- agora sem menção ao “limite individual”
são de que tinha transformado-se em e ao termo “valorização” – este, aliás,
1.8 ASPECTO TEMPORAL taxa. Contudo, o STF reconhece ainda sendo substituído por “imóveis benefi-
durante a vigência da CF do ano su- ciados”.
1.9 ASPECTO QUANTITATIVO pramencionado, reconhece no ano de Por fim, a Constituição Federal de
1943, no bojo do Recurso Extraordinário 1988 tratou do tema, no art. 145, III,
n. 5.500/RS, de relatoria do então minis- conquanto o tenha feito de modo dema-
1.10 MODALIDADE DE LANÇAMENTO tro Philadelpho Azevedo, a constitucio- siado sucinto, não se fazendo menção a
nalidade do tributo, como genuína con- quaisquer limites, nem mesmo ao custo
1.11 METODOLOGIA DE INSTITUIÇÃO E COBRANÇA tribuição de melhoria. ou à valorização.
Adiante, na Carta Constitucional de
1946 (art. 30, I, parágrafo único), a exa- 1.2- ASPECTOS
1.2-PREVISÃO GERAIS
CONSTITUCIONAL
1.12 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA ção volta a ter estatura constitucional,
surgindo, pela primeira vez, a menção Contribuição de Melhoria é o tributo
aos limites individual e global de cobran- cobrado pelo Estado em decorrência
ça. de obra pública que proporciona valo-
A Emenda n. 18/65 manteve a menção rização do imóvel do indivíduo tributa-
aos limites total e individual, mas disci- do. Historicamente, tributos com tais
plinou que o tributo estaria destinado a características têm sido cobrados em
ressarcir os cofres públicos dos custos diversos países, com características va-
da obra realizada. Nessa medida, a re- riáveis. Por exemplo, em alguns países
fereida Emenda inaugurou um caráter pode ser essencial que o benefício seja
híbrido à contribuição de melhoria, na comprovado para que a contribuição
medida em que esta passou a lastrear- possa ser cobrada; em outros, esse tri-
-se, simultaneamente, no custo da obra buto possui característica de rateio de

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custo da executada. valorização imobiliária, que tem como li- 1.4 FATO GERADOR geral ou de suprimento de gás, funi-
1.2-PREVISÃO CONSTITUCIONAL
Em relação aos seus aspectos gerais, mite total a despesa realizada e como culares, ascensores e instalações de
cumpre destacar: limite individual o acréscimo de valor O fato gerador da contribuição de me- comodidade pública;
Natureza do tributo: Contribuição de que da obra resultar para cada imóvel lhoria é a valorização imobiliária de bem V - proteção contra secas, inunda-
melhoria, categoria especial de tributo, beneficiado (artigo 19). imóvel decorrente da realização de obra ções, erosão, ressacas, e de sanea-
cujo pressuposto é a realização de obra O CTN ao complementar a Constitui- pública. mento de drenagem em geral, diques,
pública, e não serviço público, e decorre ção, determina no artigo 81 que contri- São, portanto, elementos do fato ge- cais, desobstrução de barras, portos
da valorização imobiliária decorrente da buição de melhoria, cobrada pela União, rador: e canais, retificação e regularização
mesma. Estados, Distrito Federal e aos Muni- Há duas correntes doutrinárias sobre de cursos d’água e irrigação;
Ônus tributário: Imposto direto, de cípios, no âmbito de suas respectivas o fato gerador e fato imponível desse tri- VI - construção de estradas de ferro
modo que repercute diretamente no atribuições, é instituída para fazer face buto. Em uma, é exigida a valorização e construção, pavimentação e melho-
patrimônio do sujeito passivo direto, ou ao custo de obras públicas que decor- imobiliária ou melhoria. Em outra, basta ramento de estradas de rodagem;
seja, o próprio contribuinte, não sendo ra valorização imobiliária, que tem como o benefício decorrente da obra pública. VII - construção de aeródromos e
passível de repasse a terceiros.
limite total a despesa realizada e como Porém ambas devem ser amparadas aeroportos e seus acessos;
Quanto ao objeto: Imposto real, de
limite individual o acréscimo de valor da em lei, conforme art. 82 do Código Tri- VIII - aterros e realizações de embe-
modo que repercutem sobre coisas, in-
obra resultar para o beneficiado. Houve, butário Nacional (Lei Nº 5.172, de 25 de lezamento em geral, inclusive desa-
dependentemente da condição pessoal
portanto, reprodução da determinação Outubro de 1966). propriações em desenvolvimento de
do contribuinte.
Finalidade: Fiscal, visando arrecadar da Emenda Constitucional nº 18. Necessidade de que referida valo- plano de aspecto paisagístico.
recursos para fazer frente ao gasto que O Decreto-Lei nº 195, de 24 de Feve- rização ocorra sobre bens imóveis: O Há divergência na doutrina quanto à
o Poder Público teve com a realização reiro de 1967, dispõe sobre a cobrança Decreto-Lei n. 195, de 1967, que regu- natureza da lista: se taxativa ou mera-
de obra pública. É eminentemente retri- de contribuição de melhoria. Trata-se de la parcialmente o tributo, estatui no res- mente exemplificativa. A posição mais
butivo. norma geral que teve por fundamento o pectivo art. 2º, que o fato gerador será correta é de que referido artigo confere
Método de cálculo: proporcional à va- § 2º do artigo 9º do Ato Institucional nº 4, a valorização do imóvel de propriedade apenas exemplos de obras que podem
lorização do imóvel do contribuinte, res- de 7 de dezembro de 1966. privada em virtude de obras públicas. ensejar esse tributo.
peitados limites individuais e globais. A Constituição de 1967 determinou a Cabe ressaltar que o comando legal traz Um bom conceito de “obra pública”
competência da União, dos Estados, do lista de obras públicas que ensejam a pode ser extraído da doutrina de Celso
1.3 COMPETÊNCIA
1.2-PREVISÃO CONSTITUCIONAL Distrito Federal e dos Municípios para cobrança: Antonio Bandeira de Mello, que a define
A Constituição de 1937 não tratou arrecadar a contribuição de melhoria Art 2º Será devida a Contribuição como “construção, edificação, repara-
da contribuição de melhoria, como a lei dos proprietários de imóveis valorizados de Melhoria, no caso de valorização ção, ampliação ou manutenção de um
anterior. O Decreto nº 2.416, de 17 de por obras públicas que os beneficiaram de imóveis de propriedade privada, bem imóvel, pertencente ou incorporado
Junho de 1940, adotou a divisão tribu- (artigo 19, III). A lei fixaria os critérios, os em virtude de qualquer das seguintes ao patrimônio público”.
tária em apenas taxas e impostos, pois limites e a forma de cobrança da contri- obras públicas: Ressalte-se, que a obra deve ser pú-
a Constituição não versava sobre con- buição de melhoria a ser exigida sobre I - abertura, alargamento, pavimen- blica e realizada sobre imóveis públicos.
tribuição de melhoria. Dispunha o inciso cada imóvel. O total de sua arrecadação tação, iluminação, arborização, esgo- Cabe frisar, que o fato gerador da
I do artigo 30 da Constituição de 1946 não poderia exceder o custo da obra pú- tos pluviais e outros melhoramentos contribuição de melhoria é instantâneo,
que era de competência da União, dos blica que lhe der causa (§ 3º). de praças e vias públicas; ocorrendo uma única vez.
Estados, do Distrito Federal e dos Muni- A emenda Constitucional de 1/1969 II - construção e ampliação de par- Portanto, o pagamento é único, de-
cípios cobrar a contribuição de melhoria, determinou que a contribuição de me- ques, campos de desportos, pontes, vendo ser realizado após o término da
quando se verificava valorização do imó- lhoria era de competência comum da túneis e viadutos; obra, uma vez identificada a valorização
vel, em consequência de obras públicas. União, dos Estados, do Distrito Federal III - construção ou ampliação de imobiliária experimentada pelo imóvel.
A Emenda Constitucional nº e dos Municípios, sendo arrecadada dos sistemas de trânsito rápido inclusive A conclusão da obra, em sua totalida-
18/1965 estabeleceu que competia a proprietários de imóveis valorizados por tôdas as obras e edificações neces- de ou pelo menos em parte suficiente
União, aos Estados, Distrito Federal e obras públicas, e que tenha como limite sárias ao funcionamento do sistema; a que se verifique valorização dos imó-
aos Municípios, nos âmbitos de suas total a despesa realizada e como limite IV - serviços e obras de abasteci- veis, também é condição à cobrança.
respectivas atribuições, cobrar contri- individual o acréscimo de valor de obra mento de água potável, esgotos, ins-
buição de melhoria para fazer frente ao resultar para cada imóvel beneficiado talações de redes elétricas, telefôni- 1.5 SUJEITO ATIVO E PASSIVO
custo de obras públicas de que decorra (artigo 18, II). cas, transportes e comunicações em DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

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SUJEITO ATIVO cos, como especifica o Código Tributário cas. a contribuição de melhoria, até porque,
Nacional em seu art. 121: A leitura do art. 3º da Constituição Bra- nessa hipótese, não haverá valorização,
O sujeito ativo é o credor da obri- Art. 121. Sujeito passivo da obrigação sileira, bem como a interpretação siste- face à existência incompleta da obra.
gação tributária, sendo sujeito ativo da principal é a pessoa obrigada ao paga- mática do texto constitucional que tem b) a valorização, pois apenas a obra
Contribuição de Melhoria o ente político mento de tributo ou penalidade pecuni- como princípio norteador a dignidade não é suficiente, já que existem obras
que realizar a obra pública que cause ária. humana, conduz à conclusão de que a públicas que ao invés de valorizar, aca-
valorização imobiliária. Parágrafo único. O sujeito passivo da ausência de capacidade contributiva da bam por acarretar a desvalorização do
Importante ressaltar, que o Brasil obrigação principal diz-se: população carente para custear a obra imóvel.
adotou a forma funcional de divisão do I - contribuinte, quando tenha relação pública não pode constituir óbice à reali- c) que a valorização ocorra sobre
poder “separação de poderes” e que a pessoal e direta com a situação que zação dessas obras. bens imóveis.
Constituição Brasileira atribuiu compe- constitua o respectivo fato gerador; Ademais, a solidariedade, que é prin-
tência tributária somente aos entes po- II - responsável, quando, sem revestir cípio da tributação, também rechaça
líticos: União, Estados, Distrito Federal qualquer omissão, por parte do Estado, O núcleo da hipótese de incidência é a
a condição de contribuinte, sua obriga-
e Municípios na realização de obra pública por ausên- valorização imobiliária, desta forma, é
ção decorra de disposição expressa de
Estabelece o art. 145 da Constitui- cia de capacidade contributiva da popu- ilegal a conduta de determinados entes
lei.
ção Federal: lação carente. federados ao lançar a contribuição de me-
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Assim, o Poder Público deve realizar a lhoria apenas com base no custo da obra.
Porém, a competência para instituição
Federal e os Municípios poderão instituir obra e, constatada a valorização imobi-
da Contribuição de Melhoria é comum da
os seguintes tributos: liária relativa à população com ausência
União, dos Estados, dos Municípios e do
(...) de capacidade contributiva deve isentá- 1.7HIPÓTESE
1.6 ASPECTO DE
ESPACIAL
INCIDÊNCIA-
III – contribuição de melhoria, decor- Distrito Federal, nos termos do art. 145,
-las, nos termos do art. 177, I do Código O aspecto espacial, de qualquer regra
rente de obras públicas.” III da Constituição Brasileira de 1988. O
ente competente será o que realizar a matriz de incidência tributária, diz respei-
1.6HIPÓTESE
1.6 HIPÓTESEDE
DEINCIDÊNCIA-
INCIDÊNCIA
Dispõe, ainda o Código Tributário obra pública que gere valorização imobi- to ao “local em que o fato deve ocorrer,
Nacional: liária, como disciplinam o art. 81 do CTN A hipótese de incidência, ou como a fim de que irradie os efeitos que lhe
Art. 81. A contribuição de melhoria e 3º do Decreto-Lei nº 195/67. preferem alguns, o fato gerador da con- são característicos”. No caso específico
cobrada pela União, pelos Estados, pelo A função da Contribuição de Melhoria tribuição de melhoria, é a construção de das contribuições de melhoria, temos
Distrito Federal ou pelos Municípios, no é fiscal e redistributiva, vez que faz re- seu aspecto espacial positivado tanto
obra pública que acarrete valorização
âmbito de suas respectivas atribuições, tornar à coletividade a vantagem auferi- no Código Tributário Nacional quanto no
imobiliária ao patrimônio do particular.
é instituída para fazer face ao custo de Decreto-lei nº 195/67.
da por alguns e visa ressarcir os custos Sob este aspecto,
obras públicas de que decorra valoriza- O Código Tributário Nacional apre-
estatais dispendidos para custear obras Art. 81. A contribuição de melhoria
ção imobiliária, tendo como limite total a senta:
públicas. cobrada pela União, pelos Estados, pelo
despesa realizada e como limite indivi- Art. 82. (...) § 1º A contribuição relati-
Em relação à Contribuição de Melho- Distrito Federal ou pelos Municípios, no
dual o acréscimo de valor que da obra va a cada imóvel será determinada pelo
ria não há imunidades tributárias, todos âmbito de suas respectivas atribuições,
resultar para cada imóvel beneficiado. rateio da parcela do custo da obra a que
estão sujeitos ao seu pagamento. é instituída para fazer face ao custo de
se refere a alínea c, do inciso I, pelos
Contudo, a propriedade pública, mes- obras públicas de que decorra valoriza- imóveis situados na zona beneficiada
Nota-se que a competência para ins- mo que alcançada pela valorização de- ção imobiliária, tendo como limite total a
tituição de referido tributo comum, ou em função dos respectivos fatores indi-
corrente de obra pública, não sujeita o despesa realizada e como limite indivi- viduais de valorização.
seja, é deferida a todos os entes da dual o acréscimo de valor que da obra
Poder Público à Contribuição de Melho-
Federação, incluídos os municípios, ca- resultar para cada imóvel beneficiado.
ria, conforme se depreende do art. 2º DL 195/67: Art. 3º A Contribuição de
bendo a cada qual instituir o tributo por
caput do Decreto-Lei nº 195/67. Melhoria a ser exigida pela União, Es-
lei específica a cada obra que realizar,
Questão relevante é a relativa à po- Desta forma, existem três elementos tado, Distrito Federal e Municípios para
desde que a mesma seja apta a gerar
pulação carente que, por um lado não inseridos ao fato gerador: fazer face ao custo das obras públicas,
valorização aos imóveis particulares do
possui capacidade contributiva para ar- a) a realização de obra pública, sen- será cobrada pela Unidade Administra-
SUJEITO PASSIVO car com a Contribuição de Melhoria que do que a cobrança tributária só é possí- tiva que as realizar, adotando-se como
O sujeito passivo de um tributo é a venha valorizar seus imóveis, mas por vel após a concretização da obra, sen- critério o benefício resultante da obra,
pessoa obrigada ao recolhimento do va- outro lado é essa população que, em do vedado ao Estado realizar uma obra calculado através de índices cadastrais
lor relativo ao mesmo aos cofres públi- regra, mais necessita de obras públi- pública pela metade e exigir de pronto das respectivas zonas de influência, a

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serem fixados em regulamentação des- o lançamento do tributo (a cobrança da adicionada ao bem. do STF e do STJ a análise sobre essa
te Decreto-lei.(...) § 3º A Contribuição de exação) só poderá ocorrer após, suces- Obtém-se pela seguinte Fórmula: questão.
Melhoria será cobrada dos proprietário sivamente: BASE DE CÁLCULO = Valor do imó- O fato é que o CTN determina que o
de imóveis do domínio privado, situados 1) a edição da lei (princípio da irretro- vel (após a obra) – Valor do imóvel rateio das despesas far-se-á pelos fato-
nas áreas direta e indiretamente benefi- atividade); (antes da obra) res individuais de valorização e que o
ciadas pela obra. 2) a conclusão da obra; No que tange à definição do quan- valor da Contribuição de Melhoria deve
Diante do exposto, podemos afirmar 3) a valorização imobiliária tum, há ampla divergência doutrinária, ser apurado, considerando-se o limite
que a obrigação tributária surgirá ape- No mesmo sentido, o Superior Tribu- que reside em dois entendimentos: a) individual, ou seja, o valor da valoriza-
nas para proprietários de bens situa- nal de Justiça vem entendendo que “o de que a Contribuição de Melhoria deve ção de cada imóvel e o limite global, ou
dos na chamada “zona de influência” da fato gerador de contribuição de melho- ser calcula- seja, o custo da obra. Repise-se que
obra causadora da mais valia imobiliária. ria se perfaz somente após a conclusão da a partir esses limites foram recepcionados pela
Aqui, não devemos levar em considera- da obra que lhe deu origem e quando da aplica- constituição, pois que são inerentes ao
ção apenas o território da entidade tribu- for possível aferir a valorização do bem ção de uma tributo.
tante, mas também – e principalmente imóvel beneficiado pelo empreendimen- alíquota e, Assim, pelos limites individuais, se
– a área beneficiada pela obra pública. to estatal”. b) no sen- a obra realizada valorizar 15 imóveis
Importante salientar que um ente não Além de estarem submetidas ao prin- tido de que e cada um tiver uma valorização de
poderá cobrar contribuições de melho- cípio da irretroatividade (publicação de a Contribui- R$100,00, o limite para cobrança será
ria em virtude da valorização de imóveis lei anteriormente à cobrança do tribu- ção de Melhoria é um tributo quantita- de R$100,00 para cada um, ou seja, o
situados fora de seus limites territoriais. to), as contribuições de melhorias sub- tivo e não possui base de cálculo nem valor máximo total a se cobrar será de
Exemplificando, um município não po- metem-se aos outros princípios cons- alíquota. R$1.500,00, mesmo que a obra tenha
derá exigir o pagamento do tributo de titucionais tributários de não surpresa; Não haverá propriamente alíquota por custado valor superior, como por exem-
proprietários de imóveis situados em são eles: a) princípio da anterioridade tratar-se de tributo de aspecto quanti- plo, R$5.000,00.
município contíguo, ainda que tenham (CF/88, art. 150, III, b) e; b) princípio tativo simplificado, mas sim aplicação Se, por outro lado, a valorização
se beneficiado em virtude de obra rea- da anterioridade nonagesimal (CF/88, de cálculos de rateio do custo da obra de cada um dos 15 imóveis for de
lizada pelo primeiro. Nos termos do Có- art. 150, III, c). Importante salientar, por pelos imóveis situados na zona benefi- R$10.000,00 e a obra tiver custado
digo Tributário Nacional a legislação dos fim, que a cobrança da contribuição de ciada, em função dos respectivos fato- R$5.000,00 o valor a se pagar de Con-
Estados, do Distrito Federal e dos Muni- melhoria não pode ocorrer de maneira res individuais de valorização (os quais tribuição de Melhoria não será o limite
cípios só vigora, no País, fora dos res- periódica. Temos aqui caso clássico de podem ser denominados bases de cál- da valorização e sim uma proporcionali-
pectivos territórios, nos limites em que fato gerador instantâneo, sendo o tribu- culo). dade entre o custo da obra e o benefício.
lhe reconheçam extraterritorialidade os to exigido uma única vez, após a con- Com efeito, CARRAZA (2011, p. 595- A cobrança da Contribuição de Melho-
convênios de que participem, ou do que clusão de cada obra e a verificação da 596) e o COELHO (1999, p. 368) enten- ria é um ato complexo, composto por di-
disponham esta ou outras leis de nor- valorização imobiliária. Nada obsta, no dem que para a apuração do quantum versos atos administrativos que devem
mas gerais expedidas pela União (CTN, entanto, que o Poder Público faculte ao devido a título de Contribuição de Me- preceder o lançamento sob pena de nu-
art. 102). Logo, a menos que alguma lei contribuinte o pagamento parcelado da lhoria deve-se aplicar sobre a base de lidade desse e de inexigibilidade do tri-
complementar em matéria tributária ou exação. cálculo a respectiva alíquota. Essa alí- buto, sendo esses atos previstos no art.
mesmo um convênio interestadual ou quota é um percentual do quantum de 82 do CTN que assim dispõe:
intermunicipal disponham sobre o tema, 1.9HIPÓTESE
1.6 ASPECTO DE
QUANTITATIVO
INCIDÊNCIA- valorização do imóvel (5%, 10%, 20% Art. 82. A lei relativa à contribuição de
fica vedada a cobrança fora dos limites etc.), conforme estipulado na lei institui- melhoria observará os seguintes requisi-
do território do ente instituidor da exa- A Base de cálculo da Contribuição dora, podendo o quantum da contribui- tos mínimos:
ção. de Melhoria é o quantum da valoriza- ção se equivaler ao quantum da valori- I - publicação prévia dos seguintes
ção causada por obra pública, verifica- zação. elementos:
1.8HIPÓTESE
1.6 ASPECTO TEMPORAL
DE INCIDÊNCIA- do esse quantum entre a diferença do Ocorre que, nos termos do Código a) memorial descritivo do projeto;
imóvel antes e depois da obra pública, Tributário Nacional, arts. 81 e 82 e do b) orçamento do custo da obra;
O aspecto temporal da regra matriz como bem delineou a jurisprudência do DecretoLei nº 195/67, não está claro se c) determinação da parcela do custo
de incidência das contribuições de me- Supremo Tribunal Federal e do Superior a apuração do valor devido a título de da obra a ser financiada pela contribui-
lhoria é o momento, fixado na lei insti- Tribunal de Justiça. Contribuição de Melhoria será por meio ção;
tuidora da referida exação, a partir do É o valor do benefício experimentado da aplicação do binômio base de cálculo d) delimitação da zona beneficiada;
qual se torna possível a exigência do tri- pelo imóvel em decorrência da obra pú- e alíquota ou por outro modo. e) determinação do fator de absorção
buto. Conforme exposto anteriormente, blica. É o plus valorativo, ou a mais-valia Não foi localizado na jurisprudência do benefício da valorização para toda a

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zona ou para cada uma das áreas dife- Antes de sua realização, porém, há que respeitar a anterioridade tributária trazi-
renciadas, nela contidas; ser observada uma sistemática intrinca- 2º Etapa: Identificar todos os da pelas alíneas do inciso III do artigo
II - fixação de prazo não inferior a 30 da de instituição e cobrança, delineada proprietários beneficiados pela 150 da CF, de modo que a lei que institui
(trinta) dias, para impugnação pelos in- com pormenores abaixo. obra; a cobrança: I) não valerá em relação
teressados, de qualquer dos elementos Cumpre anotar que o lançamento indi- 3º Etapa: calcula-se o valor do a fatos geradores ocorridos antes
referidos no inciso anterior; cado no art. 9º do Decreto-lei n. 195 só imóvel antes da obra; do início de sua vigência (princípio
III - regulamentação do processo ad- é possível depois de executada a obra, 4º Etapa: verificado o valor do da irretroatividade), II) não autoriza
ministrativo de instrução e julgamento embora seja admitida sua realização imóvel após a obra; cobranças no mesmo exercício fi-
da impugnação a que se refere o inciso com a conclusão parcial desta para justi- 5º Etapa: calcula-se a diferença nanceiro em que haja sido publicada
anterior, sem prejuízo da sua apreciação ficar a cobrança da contribuição relativa- entre o valor do imóvel antes e (princípio da anterioridade geral) e
judicial. mente aos imóveis em relação aos quais depois da obra; III) nem antes de decorridos noventa
§ 1º A contribuição relativa a cada a obra possa ser considerada concluída. 6º Etapa: rateio do custo total da dias da data em que haja sido publi-
imóvel será determinada pelo rateio da obra de acordo com a testada de cada (princípio da anterioridade es-
parcela do custo da obra a que se refe- FASES DA CONTRIBUIÇÃO cada imóvel beneficiado pecífica ou noventena).
re a alínea c, do inciso I, pelos imóveis DE MELHORIA 7º Etapa: verificado para cada Partindo desses pressupostos, suge-
situados na zona beneficiada em função proprietário qual o menor valor entre re-se o seguinte procedimento para ins-
dos respectivos fatores individuais de A contribuição deve ser prevista em o rateio e a valorização. O menor tituição e cobrança da contribuição:
valorização. lei específica, ou seja, deve haver valor entre esses dois, corresponde I) O município deve inicialmente apro-
§ 2º Por ocasião do respectivo lança- 1ª FASE uma normativa geral que regule os ao valor a ser cobrado de cada var lei específica da contribuição de me-
mento, cada contribuinte deverá ser no- parâmetros da contribuição. proprietário. lhoria que pretende cobrar, da qual de-
tificado do montante da contribuição, da verá constar, no mínimo:
forma e dos prazos de seu pagamento e O Poder Público deve promover a 1.11 METODOLOGIA DE a) memorial descritivo do projeto;
dos elementos que integram o respecti- publicação de memorial descritivo INSTITUIÇÃO E COBRANÇA b) orçamento do custo da obra;
vo cálculo. 2ª FASE do projeto, com o orçamento do c) determinação da parcela do custo
Somente após as providências des- Visando a adequação na instituição
custo da obra e todos os detalhes e da obra a ser financiada pela contribui-
critas nos incisos do art. 82 do CTN é de contribuições de melhoria, traça-se a
informações acerca de sua realização. ção;
que o órgão competente poderá efetuar sistemática adequada.
d) delimitação da zona que se presu-
o lançamento, que é feito de ofício, nos Positivado o tributo e detalhada a Primeiramente, por se tratar de tribu-
me beneficiada e dos imóveis nela situ-
termos do §2 do art. 82 do CTN e do art. obra, deve-se promover, por edital, to, a instituição de contribuição de me-
ados;
9º do Decreto-Lei n° 195/67. 3ª FASE o lançamento da contribuição para lhoria específica deve obediência às e) determinação do fator de absorção
Limites de cobrança: global (ou to- limitações ao direito de tributar, consig- do benefício da valorização para toda a
o projeto específico.
tal) e individual: Fala-se em dois limi- nadas no artigo 150 da CF, em especial zona ou para cada uma das áreas dife-
tes para cobrança de contribuição de aos princípios da legalidade, da anterio- renciadas, nela contidas;
Após a publicação os proprietários ridade e da irretroatividade.
melhoria. São eles: f) fixação de prazo não inferior a 30
terão o prazo de, no mínimo, trinta dias Princípio da legalidade: mostra-se (trinta) dias para impugnação pelos in-
I - Teto global: O limite de arrecada-
para impugnar qualquer dos elementos necessária a observância do princípio teressados de qualquer dos elementos
ção de todas as contribuições de melho-
da obra que reflitam sobre a contribui- da reserva legal disposto expressamen- anteriormente apontados g) regulamen-
ria decorrentes de uma mesma obra é
ção de melhoria. Somente após a aná- te no artigo 150, I, da CF, de modo que tação do processo administrativo de ins-
o custo total dispendido com a mesma.
lise das impugnações o Poder Público sua instituição deve encontrar respaldo trução e julgamento de eventual impug-
II - Teto individual: O limite da contri-
poderá cobrá-la. direto em lei específica do ente do tribu- nação;
buição de melhoria cobrada sobre cada
contribuinte em decorrência de uma tante. Sendo assim, faz-se obrigatória a g) previsão de que será publicado edi-
PASSO A PASSO PARA ELABORAÇÃO existência de lei prévia e específica ao tal inicial divulgando os critérios da pre-
mesma obra é o valor total da valoriza-
DO EDITAL DE LANÇAMENTO DA CM início de cada construção de obra que sente lei, do qual constarão os valores
ção experimentado em seu imóvel.
(3º fase): se pretenda financiar por meio da contri- iniciais atribuídos aos imóveis da zona
1.10 MODALIDADE DE buição, sem o que qualquer tentativa de de cobrança;
LANÇAMENTO 1º Etapa: Montar uma comissão cobrança poderá ser contestada. h) previsão de que será publicado edi-
de avaliação imobiliária, que Princípios da irretroatividade, an- tal ao final da obra constando demons-
O lançamento da contribuição de me- acompanharão as etapas 3 e 4; terioridade geral e noventena: salien- trativo de custos e valores de valoriza-
lhoria é feito na modalidade “de ofício”.
ta-se ainda que referida norma deverá ção individual de cada imóvel.

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11
II) Publicada a lei, deve o município
providenciar a publicação do primeiro
1.12
1.6 JURISPRUDÊNCIA
HIPÓTESE
O TEMA
SOBRE
DE INCIDÊNCIA- 2 - REFERÊNCIAS
edital contendo todos os critérios da lei a
fim de que os contribuintes tomem ciên- Para melhor ilustrar o nosso conteúdo, https://www.editorajuspodivm.com.br/cdn/arquivos/01620805e65caaef-
cia dos dados do projeto e dos valores separamos duas jurisprudências, com 21f823d6ac3f0eb6.pdf
atribuídos a seus imóveis, conferindo-se o objetivo de demonstrar exemplos da
prazo de no mínimo 30 dias após a pu- contribuição de melhoria. Confira: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=4ab209885a134d73
blicação para impugnação. No que toca
à determinação do valor inicial de cada TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. https://jus.com.br/artigos/7138/contribuicao-de-melhoria
imóvel, entendo cabível a realização de EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-
avaliação de cada propriedade por meio -EXECUTIVIDADE. REJEIÇÃO. INSURGÊN-
de comissão técnica constituída para CIA DO EXECUTADO. ACOLHIMENTO. CON- https://enajer.jusbrasil.com.br/artigos/250712018/contribuicao-de-melho-
esse fim; TRIBUIÇÃO DE MELHORIA. LANÇAMENTO. rias
VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO ART. 150, I,
III) concluído o processo de definição DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 82 DO
dos valores iniciais de cada obra, dá-se CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. AUSÊN-
início à construção; CIA DE LEI INSTITUIDORA ESPECÍFICA AN-
IV) ao final da obra, deve-se realizar TERIOR À OBRA REALIZADA. COBRANÇA
nova avaliação imobiliária nos imóveis DO TRIBUTO COM BASE EM ATO ADMINIS-
beneficiados a fim de definir a valoriza- TRATIVO DO CHEFE DO PODER EXECUTI-
VO MUNICIPAL. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA
ção decorrente, publicando em seguida
LEGALIDADE TRIBUTÁRIA ESTRITA. NULI-
edital com o demonstrativo de custos e DADE. PRECEDENTES DE JURISPRUDÊN-
as valorizações de cada imóvel, fixando- CIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. RECURSO
-se prazo a partir do qual será iniciada a CONHECIDO E PROVIDO.
cobrança; (TJPR - 3ª C.Cível - 0044116-12.2019.8.16.0000
V) transcorrido o prazo supra delinea- - Maringá - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTI-
TUTO EM SEGUNDO GRAU IRAJA PIGATTO
do, poderá o Município lançar de ofício
RIBEIRO - J. 19.03.2020)
as contribuições a cada sujeito passivo,
emitindo os respectivos carnês ao seu
endereço, no qual deverá ser apontado APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. EX-
TINÇÃO DO FEITO ANTE A ILEGALIDADE DA
o valor da valorização individual do imó-
COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO DE MELHO-
vel e a respectiva parcela a pagar, pra- RIA E A QUITAÇÃO DO IPTU. IRRESIGNA-
zo para pagamento, suas prestações e ÇÃO QUANTO A NULIDADE DOS CRÉDITOS
vencimentos, prazo para a impugnação REFERENTES À CONTRIBUIÇÃO DE ME-
e local do pagamento. LHORIA. INEXISTÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA
Por fim, deve-se observar que na con- PARA INSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. IMPOSSI-
BILIDADE. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ES-
tribuição de melhoria o valor do tributo
TRITA (ART. 150, I, DA CF). PRECEDENTES.
não pode exceder o valor total da obra, e COBRANÇA QUE DEPENDE DE LEI ANTE-
que cada contribuinte não poderá pagar RIOR E ESPECÍFICA, E DE VALORIZAÇÃO
mais do que o valor referente ao aumen- IMOBILIÁRIA. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 81 E
to de preço de seu imóvel ocasionado 82 DO CTN. ILEGALIDADE DO LANÇAMEN-
pela conclusão da obra pública. TO TRIBUTÁRIO.SENTENÇA MANTIDA.
Por essa razão, a cobrança relati- HONORÁRIOS RECURSAIS. MAJORAÇÃO.
ART. 85, § 11, DO CÓDIGO DE PROCES-
va à integralidade da obra somente se SO CIVIL. ACRÉSCIMO AO MONTANTE JÁ
justificará após a conclusão da mesma, FIXADO NA SENTENÇA.NEGADO PRO-
ressalvada a possibilidade de cobrança VIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO.
relativa a parcelas da obra já concluídas (TJPR - 2ª C.Cível - 0004590-
e que tenham efetivamente gerado algu- 53.2014.8.16.0084 - Goioerê - Rel.: DESEM-
ma valorização, desde que respeitadas BARGADOR STEWALT CAMARGO FILHO
todas as formalidades aqui abordadas. - J. 15.03.2021)

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