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DOSSIÊ

A GEOGRAFIA DO MUNDO DO TRABALHO


NA VIRAGEM DO SÉCULO XXI*

ANTONIO THOMAZ JR.**

Resumo: Entender*a complexa trama de relações que gravita sobre o trabalho, as mediações que
dão sentido e conteúdo às contradições que redefinem constante e intensamente os horizontes
geográficos da realização do universo fenomênico em questão, é o que nos ocupa neste texto.
Intentamos reconhecer as cisões e as fragmentações presentes na esfera do trabalho, diante das
(re)configurações geográficas que ao territorializarem-se nos revelam as fases e as magnitudes da
desterritorialização e da reterritorialização que, por sua vez, podem combinar realidades distintas do
ser que trabalha, porém encimadas no metabolismo social do capital. Assim referenciados,
debatemos neste texto as implicações desse processo na reconstituição das capilaridades internas ao
universo do trabalho, considerando, pois, as clivagens que revelam as compreensões enraizadas na
subjetividade do trabalho e como isso rebate nas instâncias de organização dos trabalhadores,
consideradas na sua pluralidade (operários, camponês, trabalhadores informais...).

Palavras chave: trabalho, formas geográficas, território, metabolismo do capital, dinâmica social

* Esse texto reúne reflexões parciais do Projeto de Pesquisa “Território Minado: Metabolismo Societário do Capital
e os Desafios para a Organização do Trabalho”, financiado pelo CNPq, na alínea PQ/2B, e foi apresentado no IV
Congresso Latinoamericano de Sociologia do Trabalho, realizado de 09 a 12/09 de 2003, em Havana (Cuba) e
publicado originalmente no CD-Rom do Evento (ISBN 959-270-032-X), sendo que contamos com o apoio
financeiro da CAPES, da Fundunesp e do Programa de Pós-Graduação em Geografia/FCT/UNESP/Presidente
Prudente.
** Professor de Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente, membro dos Programas de Pós-Graduação em
Geografia da FCT/UNESP e do CEUD/ UFMS/Dourados; Coordenador do Grupo de Pesquisa “Centro de
Estudos de Geografia do Trabalho” (CEGeT) < www.prudente.unesp.br/ceget >; Coordenador do Centro de Memória,
Documentação e Hemeroteca Sindical “Florestan Fernandes” (CEMOSi); E-mail: thomazjr@stetnet.com.br

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sabemos, reside sobre essa questão um debate

O
Mundo do trabalho é palco de com diversas interpretações, mas seguindo as
profundas mudanças na preocupações deste ensaio, entendemos que
viragem do século XXI. Desde diante dos desafios que se apresentavam para a
o Manifesto do Partido valorização do capital e as garantias para sua
Comunista, Marx e Engels explicitando talvez marcha “evangelizadora”, o contínuo inchaço
uma das suas principais teses, a contradição dos mercados financeiros parece ter sido a
entre o desenvolvimento das forças saída para essa situação de crise1. É por dentro
produtivas, seu caráter tendencionalmente desses pressupostos e do cenário de crise
social e sua apropriação privada, nos prolongada que o capital engendrou um
apontaram um longo caminho a ser percorrido conjunto de modificações estruturais e que
em nossas investigações. Em outros dinamizaram/estimularam o complexo de
momentos essa tese foi reafirmada, na verdade reestruturação produtiva do capital, sendo que
complementada, ao caracterizar a dinâmica do seus impactos nos dias de hoje atingem
desenvolvimento (econômico e político) do frontalmente o processo de trabalho e a
capital com vista a limitar o desenvolvimento organização do trabalho, de forma diferenciada
social do trabalho, mais propriamente a tanto em profundidade quanto em magnitude,
tendência à diminuição do trabalho imediato países, regiões, atividades econômicas, setores
(sobretudo com o aumento da composição e empresas, etc.
orgânica do capital) em contraposição à Assim, a ampliação/diminuição dos
impossibilidade de fazê-lo para todas as esferas embates entre os atores sociais e as lutas a eles
da atividade laborativa (produção social), imanentes, sobretudo no âmbito do
diante da necessidade de sua exploração. movimento operário e camponês2), nos
De todo modo, a década de 1990
consolidou uma conjuntura de transformações 1 Corsi, 2003, apresenta um detalhado rol de
territoriais, espaciais e sociais decisivas no argumentos a respeito dos elementos que definiram as
âmbito da luta de classes. decisões do capital e dos investidores para
“equacionar” o ritmo, a velocidade e a intensidade dos
Por certo, se recuarmos à década de 1970, investimentos e para repor os patamares desejados da
poderíamos melhor precisar a crise estrutural valorização de capital.
2 Em Thomaz Jr., A. (2002) e em Thomaz Jr., (2003a),
do capitalismo que marcou no cenário
pudemos desenvolver mais amplamente a tese de que a
internacional uma fase de relativa estagnação
classe trabalhadora hoje, diante dos desdobramentos do
econômica, abarcando, inicialmente, o núcleo complexo da reestruturação produtiva requer que
do sistema capitalista (Japão, EEUU, Europa consideremos como setores integrantes: a) o conjunto
Ocidental) e mais os tigres asiáticos e a China, dos trabalhadores que vivem da venda da sua força de
todavia caracterizada por baixas taxas de trabalho; b) aqueles que se garantem com relativa
crescimento, quedas nos investimentos e autonomia em relação à inserção no circuito mercantil,
como os camelôs; c) os trabalhadores não proprietários
estagnação de amplas porções da periferia do dos meios de produção e inclusos na informalidade,
planeta, especialmente, por conta da crise das como as diferentes modalidades do trabalho domiciliar
dívidas externas, o que foi decisivo para a não urbano e familiar na agricultura, e que são inteiramente
integração, nesse primeiro momento, dessa subordinados ao mando do capital; d) da mesma forma,
porção do planeta ao chamado processo de os camponeses com pouca terra e que se organizam em
bases familiares; e) o conjunto dos trabalhadores que
globalização.
lutam por terra, inclusive os camponeses desterreados
Como aponta Chesnais (1996), mesmo e; f) todos os demais trabalhadores que vivem
com a recuperação das taxas de lucros das precariamente junto às suas famílias, sob diferentes
modalidades de subproletarização (temporário, part
grandes corporações na década de 1980, não se time, etc.), da produção e venda de artesanatos,
tem a retomada dos investimentos. Como pescadores, etc. Há, pois, um significado político e

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impõem a necessidade de apreendermos os


sentidos e os nexos que esse processo
influencia na contemporâneidade do
tempo/espaço do século XXI, o mundo do
trabalho, o conteúdo do (novo) sujeito social do
trabalho3. Especialmente quando nos
colocamos diante do atual eixo do confronto
que se estabelece no Brasil, para o mundo do
trabalho, no âmbito da luta de classes, tendo à
frente os movimentos sociais envolvidos
diretamente na luta pela terra e pela Reforma
Agrária, mais propriamente o MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra.
Essa formulação merecerá nossa atenção
para futuros aprofundamentos com o devido
amparo teórico e empírico, para que possamos
compreender a malha social complexa que
reflete a característica principal da organização
espacial do nosso tempo4, ou seja, o conteúdo
contraditório da luta de classes, os elementos
estruturantes da relação capital-trabalho, os
traços inelimináveis da expropriação contínua
do mundo do trabalho e a polissemia
resultante que impacta direta e profundamente
o universo simbólico e a subjetividade do
trabalho em geral e o movimento operário em
Edvaldo Carlos de Lima
particular, que em Território Minado...5, nos
propusemos investigar. Propomo-nos compreender de forma
articulada os rearranjos territoriais que
histórico em nossa avaliação que em nada atropela
respondem às diversas tramas sociais que,
teoricamente a formulação marxiana, clássica, ao simultaneamente, expressam a dinâmica do
contrário complementa e adiciona alguns elementos modo de produção capitalista e a
que esperamos ser, agregadores de novos sentidos com materialização da reestruturação produtiva do
vistas a recolocar em debate a identidade de classe, capital nos lugares e os impactos produzidos
extrapolando os limites da classe-que-vive-da-venda- para o trabalho6, numa conjuntura paralisante
do-trabalho, a unificação orgânica do trabalho, para
além da fragmentação cidade-campo, e portanto,
sugerir a imprescindibilidade do debate de um tema tão Pesquisa “Centro de Estudos de Geografia do
distante dos eventos na área das ciências humanas e Trabalho” (CEGeT), sob nossa coordenação.
sociais, particularmente da Geografia. 6 Em Desenho Societal dos SemTerra no Brasil, (2001),
3 Esse assunto está sendo objeto de reflexões no texto pudemos desenvolver mais profundamente os laços de
“Heranças e Mudanças Territoriais no Mundo do relações que foram perdidos diante da elienação e do
Trabalho“ que estamos redigindo no momento. estranhamento e que tem impossibilitado os
4 Cf. Thomaz Jr., 2002. trabalhadores do campo e da cidade enxergarem a
5 Território Minado: Metabolismo Societário do Capital complexa trama de relações que redimensiona a relação
e os Desafios para a Organização do Trabalho”, cidade-campo para o trabalho diante da (re)fundição
Projeto de Pesquisa financiado pelo CNPq, em nível de promovida pelo capital e que, em decorrência tem
PQ/2B, e que referencia o conjunto das investigações estimulado o alargamento das fileiras dos sem terra,
que estão sendo realizadas no âmbito do Grupo de com a presença crescente de trabalhadores

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para a classe trabalhadora, mas que nos dá as social da vida. O hiato existente entre esses
pistas para procedermos investigações voltadas dois mundos (da produção e da reprodução),
à compreensão da dinâmica territorial das celebra o impedimento intransponível sob o
novas formas de trabalho em um contexto de regime do capital, que fragmenta a totalidade
exploração ampliada, requisito da valorização ontológica do ser social e que, de fato, marca a
do capital. Nesse sentido, ao nos propormos subjetividade do trabalho.
refletir a Geografia do mundo do trabalho Na verdade, nossa empreitada é tentar
nesta viragem do século XXI, pretendemos, conciliar ciência com crítica social, objetivando
pois, elaborar a “leitura” da dinâmica territorial a crítica contundente ao capital, ao seu
do metabolismo social do capital, a essência do metabolismo societário, ao destrutivismo
movimento das relações imanente que ameaça
espaciais hegemônicas nossa empreitada é tentar constantemente a vida
que, por sua vez, tem na no planeta e que rege a
luta de classes, diante do conciliar ciência com crítica desigualdade social e a
efetivo desenvolvimento
social das forças social, objetivando a crítica barbárie, aspectos
fundantes do nosso
produtivas, a dimensão do
controle desse processo -
contundente ao capital, ao envolvimento na luta
diuturna anti-capital.
sob o comando do capital seu metabolismo societário,
– e sobretudo a contenção No entanto, se por
da tendência (de ao destrutivismo imanente um lado é necessário
realizar uma “leitura”
substituição de trabalho
vivo por trabalho morto),
que ameaça constantemente a que advogue e viabilize
que marca a história do vida no planeta e que rege a a imbricação
esferas da reprodução
das
capitalismo no século XX
e chancela os desafios desigualdade social e a com a produção, para
para o proscênio. que se possa ressaltar a
barbárie apreensão do
metabolismo social do capital, por outro lado, é
Desafios para o trabalho na viragem do necessário iluminarmos a esfera da reprodução
século XXI das relações sociais de produção, como aponta
Urge, pois, de nossa parte, coererentes Lefébvre (1973). Isto é, não se trata apenas da
com o enfoque e direcionamento das nossas re-produção dos meios de produção, mas da
críticas, construtivas, por certo, ao movimento re-produção das relações sociais de produção,
operário, avançarmos nossas análises também que para Lefébvre é a “capacidade do
para o âmbito da reprodução social e, capitalismo para se manter, passados os seus
portanto, acrescentarmos mais elementos para momentos críticos” (p.79). Disso concluímos
compreendermos a rica e complexa trama que se faz necessário mais atenção, pois a re-
social que expressa não somente as formas produção das relações sociais de produção
fetichizadas no plano da política de ação “arrasta consigo contradições e não só as
sindical (produção social) e do local de repete, as re-duplica, mas também as desloca,
trabalho, mas também e articuladamente, a as modifica, as amplifica” (p. 6).
dimensão fetichizada do cotidiano do trabalho Em síntese, a totalidade do ser social deixa
no âmbito da casa, da morada, da reprodução de ser percebida e a prova disso se dá a partir
do momento em que as lutas sociais passam a
desempregados e que já se embrenharam por diversas ser gestadas pela fragmentação social e técnica
atividades e colocações no ambiente urbano à ocupação do trabalho que as separam infecundamente
de terras.

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em lutas restritas à esfera da produção graciosamente, as condições para a apreensão dos


(sindicatos, por exemplo) e lutas aprisionadas à limites impostos pelo fracionamento da classe-
esfera da reprodução (associação de que-vive-da-venda-da-força-de-trabalho7
moradores, movimentos de bairro, etc.). diante das especificidades da proletarização do
Vale destacar nesse ínterim, o conteúdo trabalho, tampouco dos camponeses e
social e territorial da luta dos Sem Terra, trabalhadores autônomos. E ainda, mais
quando defendem, ao mesmo tempo, o recentemente, os desdobramentos da
conceito de terra de trabalho e terra de reestruturação produtiva do capital e os
morada. Apesar dos fetiches em relação ao sintomas da subproletarização impõem novos
desejo da terra prometida, que contém forte significados e sentidos para o trabalho e
conteúdo de divindade, de místico, o sentido ampliam os horizontes do perfil da classe
primeiro da luta pela terra e a viabilidade da trabalhadora, repercutindo diretamente no
Reforma ingresso às fileiras dos trabalhadores Sem
Terra8, de numeroso contingente de
Agrária,
reúnem esses
Esse desenho trabalhadores desempregados, tanto dos
elementos que societal da classe campos quanto das cidades que viveram
situações específicas de subproletarização;
substanciam
um certo sentido trabalhadora é sendo que, para vários desses, em outro
tempo, não muito distante, também estiveram
ontológico
trabalho,
do
ou
nossa principal ligados diretamente à terra, ainda que mais
propriamente seus antepassados (pais e avós).
seja, produção e fonte de inspiração
reprodução são Essa plasticidade característica ao mundo
dimensionados para apreendermos do trabalho no Brasil, nos põem atentos às
em plano único investigações e à práxis da pesquisa em
da articulação
os sentidos do Geografia. Esse desenho societal da classe
da ação política trabalho trabalhadora é nossa principal fonte de
e da inspiração para apreendermos os sentidos do
compreensão da totalidade social do ser que trabalho, os significados disso ao universo
trabalha. simbólico e à subjetividade operária ou de
No entanto, isso não significa que os classe para o trabalho, e mais propriamente, às
trabalhadores Sem Terra tenham consciência complexas tramas territoriais que têm em seu
dos limites que estão colocados para os interior o atual estágio do conflito capital x
trabalhadores de modo geral, diante das trabalho e os nexos diretamente ligados ao
clivagens imanentes ao metabolismo do conteúdo da luta de classes.
capital, tais como a divisão social do trabalho e Nesses tempos, como observa Alves
as ramificações disso enquanto atributos do (2003: 07):
fracionamento técnico das “É a captura da subjetividade que assume,
especializações/profissões do trabalho e base mais do que nunca, um papel crucial nas
fundante das corporações sindicais. Então, se
para os proletários, vivenciando essas 7 Cf. Alves, 2003. O autor apresenta essa formulação
condições fetichisadas da existência do para contribuir com as explicações originariamente
trabalho não está ao alcance das mãos a formuladas por Antunes (1999), quando apresenta o
apreensão da situação específica vivenciada conceito de classe-que-vive-do-trabalho, para definir o
pelos trabalhadores que estão envolvidos na estágio atual de inserção do trabalho na complicada e
intrincada lavra sob o capital.
luta pela terra e pela Reforma Agrária, para 8 Esse assunto foi objeto das nossas reflexões, em
estes, ao mesmo modo, mas com Thomaz Jr., (2001), “Desenho Societal dos Sem Terra
peculiaridades, também não são dadas, no Brasil”.

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formas de reprodução estranhadas e produtivos; formas de contratação;


fetichizadas do sistema sócio-metabólico do manipulação constante do mercado de
capital.” trabalho; substituição crescente de trabalho
Então, diante da multiplicidade de formas vivo por trabalho morto e o conseqüente
de expressão do trabalho que se materializa império do desemprego; novas formas de
concomitantemente sob os diferentes arranjos controle do processo de trabalho e do tecido
do metabolismo societário, temos os formatos social pelo capital; formulação de políticas
que a sociedade expressa territorial e públicas compensatórias; militarização e
espacialmente. Os conseqüentes significados judiciarização da questão agrária10; contra-
que desses cenários extraímos, quando os reforma agrária; reformas nos códigos de leis,
recortamos para estudar (analisar etc. Esses são os efeitos correspondentes ao
geograficamente), expressam consoante à conjunto de ações que expressam o controle
especificidade dos lugares, a magnitude e o social do capital, que conduziu a profundas
conteúdo da trama de relações combinadas e mudanças no universo simbólico e na
contraditórias que nada mais são do que o subjetividade do trabalho. Assim sendo, tanto
movimento plural de edificação do mundo do em nível da relação metabólica homem-meio,
trabalho e o seu devir ontológico. quanto da dimensão da regulação sociedade-
espaço, nas suas diferentes manifestações
Se entendemos, então, que cada forma de (assalariado, autônomo, informal, domiciliar,
trabalho “requer” uma arrumação espacial terceirizado, etc.), nos impõe, necessariamente,
específica há, por sua vez, uma nítida a discussão das localizações, que não se limita,
vinculação entre as reformulações que pois, ao imediato, ao visível. Assim, as
ocorrem no âmbito do trabalho, passando categorias de base da Geografia (paisagem,
pelas formas proletarizadas (assalariamento território e espaço) farão as mediações
clássico), às formas mais expressivas da necessárias, atendendo os desafios postos pelo
subproletarização, tais como o trabalho parcial, sujeito, no esforço contínuo de teorização para
temporário, domiciliar, informal, etc. a concreção de uma Geografia do Trabalho11.
Apreender esse processo por meio da “leitura”
geográfica é, antes
de tudo, aprender a os desdobramentos territoriais e o Trabalho e
identificar formas, controle social
estabelecer conteúdo da polissemização do do capital
parâmetros
localizá-las
de trabalho se expressam em diferentes Certamente
as elevadas
territorialmente e aspectos e sentidos, porém imbricados somas de
desvendar o
significado dessa geograficamente investimentos de
capital e de
ordenação9.
financiamento do setor público (subsidiado ou
Cabe ressaltar que as pesquisas estão nos não e na forma de políticas públicas),
permitindo compreender que os objetivando a transformação tecnológica,
desdobramentos territoriais e o conteúdo da produtiva, interferiram sobremaneira na
polissemização do trabalho se expressam em composição social da classe trabalhadora, em
diferentes aspectos e sentidos, porém todos os ambientes em que a lavra humana se
imbricados geograficamente. Isto é: processos faz presente, seja nos campos, seja nas cidades,
alargando pois, o universo de exploração do
9 Em “Por Uma Geografia do Trabalho, (2002b),

tivemos a oportunidade de definir os marcos da nossa 10 Cf. Fernandes e Ramalho, 2001.


compreensão sobre Geografia do trabalho. 11 Cf. Thomaz Jr., 2002b.

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trabalho, sobretudo, nesse momento, a partir dos sindicatos e dos partidos operários
da apropriação efetiva de sua dimensão (quando existem) para dentro das empresas.
intelectual12. Assim, depreendemos que o Nesse sentido, é oportuno ponderarmos
processo de valorização e de acumulação do que a reestruturação produtiva entendida,
capital ampliou como nunca antes as esferas de então, como um projeto não acabado do
atuação do capital e do Estado, para o efetivo capitalismo tardio, já que não constitui uma
exercício do controle social, como forma de nova hegemonia do capital na produção, é
viabilizar o projeto de sociedade centrado na também um poderoso
valorização de capital, mas com instrumento de
as atenções voltadas para a desorganização e fragilização
fragilização da classe das formas de resistência da
trabalhadora. A diminuição de classe trabalhadora. Alves
postos de trabalho, o (2000) contribui sobremaneira
desemprego e as novas formas de para compreendermos que,
estabelecimento do controle com o toyotismo, o processo
sobre o trabalho, mediante os de redefinições das formas
recursos da parceria e da produtivas, com mais ou
ideologização do operário menos profundidade e
multifuncional e participativo, amplitude impõe a
colocam em cena novos constituição de um novo
elementos para a historicidade do trabalhador, ou de uma nova
movimento operário. subjetividade operária que dê a
A concepção de parceria esse projeto um dinamismo
difundida e radicada nos mais lucrativo e os pré-requistos
amplos níveis da atividade para o efetivo exercício do
laborativa nesta viragem de controle social.
século XXI, está fundada na idéia A título de exemplo,
de que as relações de trabalho, Edvaldo Carlos de Lima
poderíamos recorrer às
hoje, são mais abertas e aos trabalhadores se reflexões apresentadas por Jinkings (2000),
abre um vasto campo para participação e quando aponta os efeitos da subcontratação no
colaboração nas tomadas de decisões, no setor bancário. Tanto por meio da
entanto sob o crivo do aprofundamento da terceirização, quanto pela execução do
exploração do trabalho, especialmente pelo trabalho por tarefas ou a tempo parcial, esse
acúmulo de funções herdadas dos ex- expediente atendeu e atende exemplarmente
trabalhadores, outrora na ativa. aos objetivos da valorização do capital, pois a
O complexo de reestruturação produtiva um só tempo possibilita os ganhos de
tem na idéia de parceria entre capital e trabalho lucratividade e impacta intensamente a
o atributo fundamental para a resolução dos resistência (mecanismos de defesa) da classe
conflitos sociais do trabalho no chão de fábrica. trabalhadora, fragilizando-a, além de
Assim, o capital para adquirir e manter novos fragmentá-la, impondo formas de reprodução
procedimentos de dominação do trabalho, estranhadas e fetichizadas do sistema
pressupõe a derrota política e ideológica do metabólico do capital, minando assim, a
trabalho, e para tanto, se lança a transferir as organização sindical e esvaziando o sentimento
resoluções dos conflitos existentes no âmbito de pertencimento de classe ou esse significado
à subjetividade de classe, do trabalho.
12A esse respeito ver: Negri e Lazzarato (2001); Dias
(1997); Thomaz Jr., 2002b.

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Então, muito se materializa capital que se impõe de forma contundente a


territorialmente em nome da restauração de partir dos anos 1980, encolhe. Ou seja, os
formas e procedimentos de dominação, que trabalhadores industriais diminuem em
contêm novos processos de trabalho, de quantidade, mas cresce a franja da sociedade
redefinição dos requisitos de qualificação e composta de trabalhadores assalariados em
(re)qualificação do trabalhador, de bases precárias ou mesmo não assalariados,
(re)definição de políticas públicas, de reformas mas ligados ao circuito laboraivo. O capital
nos códigos de leis, por exemplo da CLT e das tem ampliado mundialmente as esferas do
cláusulas trabalhistas e da proteção social da trabalho assalariado e subproletarizado, e da
Constituição, bem como dos demais assuntos exploração do trabalho, sob as diversas
da agenda social, como as reformas tributária e modalidades de precarização, tais como: o
previdenciária e os programas sociais do subemprego, a terceirização, o trabalho
governo13. temporário, o trabalho domiciliar, etc.
No entanto, é imprescindível Poderíamos, então, assumir que o ponto
asseverarmos que as novas formas de alto da
exploração da força de trabalho, que o ponto alto da discussão a
submeteram o universo do trabalho em todas respeito da
as suas dimensões, reafirmaram a manutenção discussão a centralidade do
do edifício social sob o referencial da trabalho vivo
centralidade do trabalho. Ou seja, o trabalho
respeito da hoje é que o
continua sendo a fonte de valor da sociedade centralidade do regime de
capitalista. Mesmo que para alguns o trabalho acumulação
como fonte de valor careça de demonstração trabalho vivo hoje pós-fordista
empírica e veracidade14, aliás formulação que determina e
nas duas últimas décadas compôs o universo é que o regime de induz a uma
do debate político e acadêmico, pensamos ser
temerário afirmar que o trabalho abstrato
acumulação pós- difusão social
do trabalho,
(assalariado) está em fase de extinção e que o fordista sendo que,
capital possa se reproduzir sem ele, deixando longe de
de visualizar a totalidade concreta do sistema determina e desaparecer, o
mundial do capital. induz a uma trabalho se
espacializa mais
O trabalho aprisionado ao circuito
mercantil ou que produz riqueza para o capital, difusão social do amplamente,
redesenhando
pode assumir uma multiplicidade de formas
materiais. Assim o trabalho abstrato, diante do
trabalho os territórios ou
complexo da reestruturação produtiva do requalificando a
todo tempo as dimensões locacionais das
esferas de domínio e do poder de classe do
13Cf. Thomaz Jr., 2003d. capital sobre o trabalho. Como aponta Cocco
14 O marco desse assunto recai sobre meados da década (2000: 16), “... o trabalho não pára de se
de 1980, e teve como principais defensores Habermas difundir no espaço”.
(1997), defendendo o fim das teorias dialéticas; Offe
(1994), com as formulações sobre o fim da luta de Essas mudanças no processo produtivo
classes; Gorz (1986), com o adeus ao trabalho; Kurz que repercutem no engendramento da
(1992), com o fim do trabalho, apesar de marcar elevação da composição orgânica do capital e
posição no interior do marxismo. A esse respeito ver:
Antunes, 1999, pois além de comentador desses
nas inovações tecnológicas, induzem uma
autores, mantém rica interlocução com o debate a profunda mudança no perfil da classe operária,
respeito da centralidade do trabalho. onde se têm o fortalecimento e a ampliação de

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novas formas e controle do processo de recorrentes da divisão social, técnica e


trabalho e da classe trabalhadora, todas territorial do trabalho. Não havendo, pois,
voltadas para a valorização do capital. Diante nenhuma travagem a priorística no que se refere
disso não podemos concordar com a tese do às formas derivadas desses arranjos, enquanto
fim do trabalho ou da perda de sua trabalho circunscrito ao campo e à cidade;
centralidade, tampouco com o fim da produtivo-improdutivo, material-imaterial, etc.
revolução do trabalho. Pois, enquanto É igualmente relevante observarmos que
perdurar a sociedade capitalista, seria em resposta às teses que propugnam a não
praticamente impossível imaginar a eliminação centralidade do trabalho, desenvolveu-se uma
da classe trabalhadora enquanto vigorarem os plêiade de argumentos, nada conclusivos, em
elementos constitutivos da estrutura societária respeito à atualidade das teses de Marx,
do capital. Deparamo-nos, então, com antigos especialmente às relativas ao trabalho imaterial.
desafios das sociedades capitalistas a partir do Ao que nos parece, uma nova escalada de
momento que indagamos sobre as formas de desafios se apresenta em torno do processo
exploração da força de trabalho pelo capital, imanente do capital de substituir trabalho vivo
hoje. por trabalho morto. Por certo, nesse
Em outros termos, é momento, a predominância
como se disséssemos que uma nova escalada de requerida à imaterialidade do
o novo quadro de trabalho deve pressupor algo
confronto entre capital e desafios se apresenta em que explique a tendência de
trabalho, diante
empreendimento
do
da
torno do processo redução da presença do
trabalho imediato como
reestruturação produtiva e imanente do capital de fonte de valorização, sendo
do neoliberalismo que ao mesmo tempo não
trouxesse à tona novas substituir trabalho vivo pode eliminá-la por
contradições e novos por trabalho morto completo, tendo em vista
antagonismos que que a extração de mais-valia
sintetizassem novas formas requer a apropriação de
de controle e dominação social do capital trabalho vivo.
sobre o trabalho, apontando novos desafios Mesmo ultrapassando os limites
para a organização do movimento operário. As assumidos para este ensaio, é oportuno
formas específicas que a sociedade se organiza ponderar que a apropriação do intelecto do
nos lugares, portanto, o conteúdo de cada trabalhador, ou a intelectualização da força de
expressão social que mescla elementos e trabalho, como possível expressão de um novo
fatores do mundo do trabalho é o que nos vão referencial que passaria a reger a valorização
permitir compreender o universo das do capital15, deve merecer o cuidado de
contradições intrínsecas à sociabilidade investigações acuradas. Seria o mesmo que
contemporânea.
Diante disso é central e relevante para as 15 Queremos entender que as contribuições de
nossas reflexões estarmos atentos para as novas Lazzarato, Negri, Vincent, autores filiados à
clivagens e cisões do trabalho, para que compreensão de uma possível regência do trabalho
possamos entender os rebatimentos para o imaterial, devem ser observadas com mais atenção, até
mundo do trabalho e os desenhos territoriais para nos certificarmos da sustentação teórica e empírica
resultantes que revelam novos arranjos sociais e da nova orientação que o trabalho como relação social
central assume, tendo em vista a supressão do trabalho
novas formas organizativas dos trabalhadores e, imediato e o conseqüente crescimento e expansão do
conseqüentemente, as dificuldades de o trabalho imaterial, como ponto cardeal para a
trabalho transpor os limites das fragmentações valorização do capital.

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dizermos que somente considerando as atuais interpretações que os próprios trabalhadores


contradições sociais e o cenário de confronto fazem de si mesmos, os sentidos e os reflexos
entre capital e trabalho que compõem o novo para a consciência de classe para si, a
quadro social, que a manutenção de sua desimportância de tudo isso para os partidos
centralidade seria deslocada para as relações políticos e o foco privilegiado de ações por
sociais que dão sustentação à dominação parte do Estado e das classes hegemônicas, é o
ordenada pelos interesses do capital e não a que nos estimula a navegar em águas tão
partir de uma suposta ética do trabalho16. profundas e turbulentas. Ainda que esse
É de se esperar que os desdobramentos assunto nos ocupe nas nossas investigações17,
para o plano da subjetividade do trabalho nos para este ensaio
nos propomos
reservem muitas surpresas e incógnitas. Os fundamos nossas sugerir apenas
rearranjos em processo na estrutura espacial da
produção e as suas representações territoriais preocupações na algumas
reflexões por
enquanto domínio locacional do fenômeno do
trabalho ou da classe trabalhadora não se peleja em torno entendermos
que as
apresentam explícitos ou evidentes no nível da
paisagem. Há a necessária mediação dos
das dessintonia mediações
mecanismos de apreensão do real concreto, existentes no teóricas
requerem
pois a riqueza do conteúdo contraditório das
múltiplas determinações do concreto, já em mundo do outros recortes.
pensamento, anuncia muitas expectativas e,
por certo, incompreensões da diversidade de
trabalho, ou mais Defender
pressupostos
elementos e dos arranjos sociais e territoriais. precisamente, na teórico-
metodológicos
É com base nisso que fundamos nossas
preocupações na peleja em torno das
subjetividade e referenciais
dessintonias existentes no mundo do trabalho, operária epistemológicos
ou mais precisamente, na subjetividade e ontológicos,
operária, seja nos campos, seja nas cidades, para podermos
povoada pelas clivagens das agremiações e suas nos posicionar com segurança na temática do
identidades corporativas. trabalho, nos exige defender também que no
âmbito da escala geográfica (enquanto produto
das relações sociais) podemos dimensionar a
Inserção dos atores sociais no universo da amplitude fenomênica e as contradições que,
classe trabalhadora enquanto concreto em pensamento,
conseguimos visualizar, já na forma da
Combatida e negada por alguns e ao expressão territorial do domínio locacional.
mesmo tempo incompreensível e confundida
por outros, a subjetividade operária é tema de Assim, o território se entendido no
fundamental importância para refletirmos em âmbito do espaço, e esse enquanto categoria
profundidade os desafios do trabalho no abarcante e instância na qual vai se mover o
século XXI. Qualquer tentativa de abordar ato analítico do território, nos possibilitará
esse assunto nos exigirá cuidados e compreender a alienação territorial e as
atrevimentos, num só ato analítico, sabendo-
se, pois, que não se resume tão-somente ao
âmbito acadêmico/científico. Os
desdobramentos políticos e todo o leque de 17 Referimo-nos às investigações em curso no âmbito

do Grupo de Pesquisa “Centro de Estudos de


16 Cf. Amorim, 2003. Geografia do Trabalho” (CEGeT).

Pegada  vol. 4  n. 2 14 Novenbro 2003


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clivagens presentes no universo do trabalho18. vazio ou a despolitização dessa questão, pois


Isto é, o engessamento da compreensão do quase sempre comparece desvinculada do
universo sindical a partir do referencial encaminhamento de lutas e ações políticas
corporativo, além de dificultar a “leitura” do referenciadas na noção de pertencimento de
trabalho para além dos rígidos limites das classe. A fragmentação territorial dos
categorias profissionais, também ofusca a sindicatos expressa, pois, antes de qualquer
identificação do enraizamento territorial que especulação pontual e isolada, a razão da
cada entidade sindical (corporação) existência alienada do trabalho diante das
circunscreve sua área de atuação política, ou a fronteiras delimitadas muito mais pelo Estado
abrangência da extensão de base. Se não do que pelo eixo central do conflito capital x
bastasse ser apenas parte de um diagnóstico ou trabalho, em todas as dimensões territoriais do
característica do mundo do trabalho, a tudo tecido social, seja no campo, seja na cidade.
isso se somam os artifícios e os mecanismos de Portanto, o movimento sindical e operário
controle social sob o exercício do Estado e do ao defender melhores salários, redução da
capital e que afetam direta e indiretamente - jornada, participação nos lucros e nos
com mais ou menos intensidade, a depender resultados, etc., e os movimentos sociais
da conjuntura e dos lugares -, a subjetividade populares, particularmente as frações
operária19. envolvidas com as temáticas da luta pela terra e
Muito caminhar no sentido pela reforma agrária, da moradia, da saúde, da
se comenta
a respeito
da superação do educação, do gênero, da questão racial,
associações de moradores, etc., não associam
da imediatismo, da essas esferas (específicas) com o referencial da
unicidade luta mais geral dos trabalhadores sob o
sindical, da atomização e da capitalismo, ou seja, a luta anti-capital. Cada
polêmica
que recobre
institucionalidade reivindicação tem sua esfera de identificação
fragmentada, territorial, corporativa e
as diversas socialmente, etc. Dessa forma, o trabalhador
20

interpretações e de uma série de outras não associa o sindicato com a luta por uma
travagens que ainda permanecem nos códigos escola de qualidade no seu bairro, tampouco
de leis no Brasil (CLT e na própria questiona as relações de trabalho na associação
Constituição), mas pouco se debate sobre a de bairro, isto é, o viver e o trabalhar estão
nocividade da identidade do trabalhador se separados nas práticas de luta e de vida.
restringir tão-somente a essa ou àquela Daí, a necessidade de se pensar a
corporação sindical. É imprescindível também imbricação dessas lutas para um caminhar no
que incluamos à determinação territorial, sentido da superação do imediatismo, da
previamente definida, via de regra, não pela atomização e da institucionalidade, e um
dimensão e intensidade dos conflitos capital x permitir-se ao menos à “consciência da
trabalho, mas especialmente pela ânsia de ausência de uma luta paradigmática”21, isto é,
poder entre as entidades sindicais (estimuladas uma luta contra-hegemônica, anti-capitalista e
ou não pelo capital), em nome da ampliação da para tanto unificada organicamente, ou seja,
extensão de base e da arrecadação da capaz de ultrapassar as fronteiras da divisão
contribuição sindical, etc. É verdade também o técnica e territorial do trabalho, além dos
18 Em Thomaz Jr., 1998, e 2002a., pudemos

desenvolver reflexões que norteiam a formulação da 20 Essa questão pudemos desenvolver em Thomaz

tese de que capital e trabalho lêem e intervêm de forma Júnior, 2000.


diferenciada no território. 21 Idéia desenvolvida por Boaventura de S. Santos e que
19 Idem. será tratada com maiores detalhes posteriormente.

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limites do urbano e do rural. Assim, o feudalismo no Brasil não autorizaria a


processo social que engendra as contradições existência do camponês nesta porção do
sociais não pode ser apreendido somente planeta e portanto, se torna desnecessário
através do mercado, como espaço de “leitura” discutir a Reforma Agrária, mantém a sete
da história. Eliminar da memória dos chaves e empobrecidas as formulações de
dominados o sentido de dupla mão sociedade Marx, e dos marxistas – que se envolveram
civil–Estado–sociedade civil, com o propósito para entender e combater a economia política
de naturalizar a história dos dominados22 é, de –, tendo em vista que o caráter residual e
fato, poderoso instrumento para o exercício do atrasado dos excluídos do campo tem que ser
controle social por parte do capital. focado por meio de políticas públicas
Seja nos campos, seja específicas para viabilizar a
nas cidades, eis o eixo incluir os camponeses inserção mercadológica dos
central da intensificação da pequenos produtores familiares
crescente heterogeinização,
no universo ao circuito mercantil, etc23.
fragmentação, constitutivo da classe Nesse flanco teórico, mas
hierarquização e supostamente em campos
complexificação do trabalho trabalhadora diferentes do universo
e as repercussões para a ideológico, encontram-se de
classe trabalhadora, especialmente quando o um lado, setores da esquerda brasileira,
referencial teórico não está ancorado na especialmente filiadas ao ideário do Partido
“leitura” do trabalho como elemento fundante Comunista e do marxismo-leninismo de cariz
para se compreender o universo plural do stalinista, e de outro lado, defensores da
trabalho em categorias profissionais e estrutura latifundiária, ou os senhores da terra
corporações sindicais, que só fazem engessar, (senhores da guerra) – parodiando Regina
por exemplo, a questão cidade x campo como Bruno24 - representantes do que há de mais
expressão de dois mundos diametralmente atrasado e perdulário na sociedade brasileira,
clivados e incomunicáveis, empobrecendo o especialmente articulados no âmbito da UDR,
debate político sobre a reforma agrária e a como também, mas em menor escala, os
unificação orgânica no âmbito da classe componentes do agribusinnes e outras instâncias
trabalhadora. da agropecuária
Simpatias e antipatias para ambas as
Arriscando algumas considerações finais trincheiras - apesar de haver muitas ramificações
em todas as direções por meio da formatação
A reformulação teórica que apresentamos, de posições intermediárias e combinadas -, o
ao incluir os camponeses no universo fato é que do ponto de vista da práxis e da
constitutivo da classe trabalhadora, nos realidade da classe trabalhadora, tanto faz se a
possibilita polemizar a respeito das defesa, tendencialmente mais ideologizada (no
contradições e fragmentações no âmbito da campo da esquerda), ou mais empírica e
classe, possibilitando assim a compreensão dos também ideologizada, mas que se ampara na
significados e dos sentidos que a luta defesa de posturas conservadoras e de direita,
emancipatória, vinculada às ações dos da neutralização/excomungação dos conflitos no
trabalhadores envolvidos na luta pela terra
estão propagando.
23Prado Jr., 1974.
Assim, a falsa polêmica em torno da 24“Senhores da Guerra – A nova face política das elites
assertiva de que o fato de não ter havido agroindustriais no Brasil”, é o título do excelente livro
de Regina Bruno. Rio de Janeiro: forense Universitária,
22 Cf. Moreira, 1985. 1997.

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campo, o que importa é que não reconhecer a existentes com as múltiplas determinações do
existência do camponês signfica ignorar a processo metabólico do capital que reúne sob
potencialidade e a sociabilidade de um ator seu comando todas as esferas da convivência
social historicamente afeito à resistência no em sociedade: social, política, econômica,
tocante à submissão ao capital e à manutenção cultural, etc. É assim, então, que imaginamos
de sua identidade, apesar da trajetória marcada haver uma íntima relação entre as redefinições
por intensa mutilação cultural e dominação que estão em marcha no âmbito do
política e econômica25. movimento metabólico do capital e suas
Por certo, o cenário do Brasil de hoje, diversas e heterogêneas manifestações, nos
herdado de um projeto que modulou valores e campos e nas cidades. Se no campo ou na
atributos que, em profundidade, impactaram o cidade, o trabalho encontra-se sob o foco
universo do trabalho, não deixou por menos constante e certeiro do capital, isto é,
ao fazer valer seus referenciais no governo fragilizado, subsumido, subordinado e
atual, diante da composição da aliança política dominado, sendo que a questão da
que se apresenta com um semblante verde- emancipação social emerge e cobra de todos
água26, algo característico da ex-esquerda que posicionamentos claros e comprometidos.
compõe o governo Lula, especialmente os Vencer os limites da ortodoxia que
quadros do PT. É mais certa ainda, a aprisiona o enfoque aos referenciais de uma
manutenção dos referenciais das políticas época em que a teoria refletia a complexidade
públicas que substituem a política de Reforma do movimento do real de então, outros
Agrária enquanto conquista da classe arranjos societários e a própria dinâmica da
trabalhadora, pelo desenvolvimento rural27. Ou sociedade requerem nossas atenções para o
quando muito, setores influentes do atual movimento contraditório e ininterrupto do
governo entendem que, no limite, a Reforma real, constantemente modificado, ou seja,
Agrária, não pode ser essencialmente agrícola, síntese de múltiplas determinações, logo
pois a possibilidade de unidade da diversidade.
se viabilizar, mediante Daí ser necessário
políticas públicas, empreendermos
atividades turísticas e coerentemente os
de prestação de vínculos da práxis social
serviços no campo, é como forma de
o caminho mais curto obtermos, por meio do
para resolver a questão concreto em
agrária no Brasil. pensamento as pistas
É essencial, para compreendermos as
portanto, que fissuras e as
tenhamos clareza das complexidades que
principais povoam a classe
capilaridades e trabalhadora em todas as
Edvaldo Carlos de Lima
vértices comunicantes que expressam a atual dimensões de sua
conjuntura, para que possamos compreender, existência, tanto objetiva quanto
a partir das mediações, as ligações dialéticas subjetivamente. Se proletários (urbanos e
rurais); se camelôs; se trabalhadores inscritos
na informalidade (urbana e rural); se
25 Cf. Oliveira, 1991; Fernandes (2000); Carvalho Filho camponeses com pouca terra e que se
(2001). organizam em bases familiares; se
26 Cf. Thomaz Jr., 2003.
27 Idem.
trabalhadores que lutam por terra, e todas as

Pegada  vol. 4  n. 2 17 Novenbro 2003


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demais combinações que se expressam sob CARVALHO, H. M. de. A interação social e as


diferentes modalidades de subproletarização, possibilidades de coesão e de identidade sociais no
está em foco apreendermos o conteúdo da cotidiano da vida social dos trabalhadores rurais nas
classe trabalhadora, o que nos autoriza, em via áreas oficiais de reforma agrária no Brasil. Curitiba,
de mão dupla, entender os sentidos do 1999. Disponible en: <www.dataterra.org.br/
trabalho. Somente assim conseguiremos Documentos/horacio2>. Acesso: 25 maio
contribuir com o debate crítico sobre a 2001.
condução da luta operária no Brasil CARVALHO FILHO, J. J. de. Política agrária
Portanto, cabe a nós ampliarmos nosso do governo FHC: desenvolvimento rural e a
campo de visão, sem magias ou paixões Nova Reforma Agrária. In LEITE, Sérgio (org.).
desenraizadas, para focarmos a complexa Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto
composição do mundo do trabalho, a fim de Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 2001, p
que nossas críticas tenham endereço certo e 193-223.
conhecido e que sejam capazes de influenciar CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São
positivamente a condução das lutas de Paulo: Xamã, 1996.
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N.17, janeiro-junho de 2003. THOMAZ JÚNIOR, A. e FRANCO


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– MST: uma contribuição para a geografia do THOMAZ JÚNIOR, A. e SOUZA, S. M. R.
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Prudente, n.2, 2000. do território da luta pela terra no Pontal do
Paranapanema. Revista Universidade e Sociedade,
THOMAZ JÚNIOR, A. e FRANCO GARCÍA, Ano XIII, N.30, junho de 2003. Brasília:
M. Trabalhadoras Rurais e Luta Pela Terra: ANDES, 2003.
Interlocução entre Gênero, Trabalho e Território.
Revista Terra Livre, Ano 18, N.19, jul./dez., 2002. WATERMAN, P. New developments in trade
ISSN 0102-8030. p. 257-272. union internacionalism. Antipode, V.33, N.3,
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THOMAZ JÚNIOR, A. e CARVALHAL, M.
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redefinições do mundo do trabalho e na and the New Labour Internacionalism. .
reconfiguração territorial. Revista Paranaense de Antipode, V.33, N.3, Leeds, 2001. p. 305-311.
Geografia. Número Especial. Curitiba: AGB, 2003. ISSN 0066-4812.

The Geography of the Labour World in the beginning of XXI century

Abstract: The aim of this paper is to understand the complexity of relations into the World of Labour;
the mediations that give it sense and the contradictions that re-define constantly the geographical
horizons of the phenomenal universe in question. We try to recognize the fragmentations of the sphere
of the labour, in front of the geographical configurations, which reveal the phases and magnitude of the
desterritorialization and reterritorialization. With this referential, we debate the implications of the
process in the constitution of the internal capillarity to the universe of the labour. So, we consider the
particularities that reveal the comprehensions taken root in the subjectivity of the labour and as it
refutes in the instances of organization of the workers, considered in their plurality (workers, peasants,
informal workers …).

Key-words: Labour, Geographical Forms, Territory, Capital Metabolism, Social Dynamic

Pegada  vol. 4  n. 2 20 Novenbro 2003


DOSSIÊ

La Geografía del Mundo del Trabajo a Inicios del Siglo XXI


Resumen: Entender la compleja trama de relaciones que gravita entorno al trabajo, las mediaciones
que dan sentido y contenido a las contradicciones que redefinen constante e intensamente los
horizontes geográficos de la realización del universo fenoménico en cuestión, es el objetivo de este
texto. Intentamos reconocer las cisiones y las fragmentaciones presentes en la esfera del trabajo, frente
a las (re)configuraciones geográficas que a territorializarse nos revelan las fases y las magnitudes de la
desterritorialización y de la reterritorialización que, por su vez, pueden combinar realidades distintas del
ser que trabaja, aunque encajadas en el metabolismo social del capital. A partir de estas referencias,
debatimos en este texto las implicaciones de este proceso en la reconstitución de las capilaridades
internas al universo del trabajo, considerando, por tanto, las rupturas que revelan las comprensiones
enraizadas en la subjetividad del trabajo y cómo esto rebate en las instancias de organización de los
trabajadores, consideradas en su pluralidad (operarios, campesino, trabajadores informales...).

Palabras clave: trabajo, formas geográficas, territorio, metabolismo del capital, dinámica social

Pegada  vol. 4  n. 2 21 Novenbro 2003


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OUTRAS
PEGADAS

Apresentação
Qualificação do Trabalho: Adestramento ou Liberdade?
Antonio Thomaz Júnior
Cooperativização e (re)organização político-territorial na seara de atuação do MST.
Alexandre D. Ribas
Assentamentos Rurais e Rearranjo das Atividades Terciárias em Teodoro Sampaio. O
Trabalho em Questão.
Renata Cristiane Valenciano
Redefinições de funções e atividade do trabalho envolvido na pequena propriedade rural
no estado de São Paulo: O caso em questão do município de Presidente Prudente.
Sandro Mauro Guirro
A luta pela moradia em Presidente Prudente para além de quatro paredes: Uma
contribição para a reflexão geográfica dos movimentos sociais urbanos.
Fernanda Keiko Ikuta
Perspectivas sobre o setor sucoalcooleiro frente a redução da queimada de cana-de-
açúca,a intensificação do corte mecanizado e a certificação socioambiental.
Ana Maria Soares de Oliveira
O Trabalho e a relação homem-natureza. Uma trama social em questão.
Fábio Henrique de Campos
Des(re)territorialização, transculturação e escravidão na aldeia global, globalizando a
miséria e a violência.
Júlio César Ribeiro
A questão de gênero sob a perspectiva sindical.
Terezinha Brumatti Carvalhal
O fato e a notícia. A mídia impressa e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Sônia Maria Ribeiro de Souza
Trabalho, sindicatos e gestão territorial da sociedade.
Marcelo Dornelis Carvalhal

Pegada  vol. 4  n. 2 22 Novenbro 2003

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