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LITERATURA – PARCIAL – 2 ANO REG – FABIO COELHO

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas

Ai, palavras, ai, palavras,


que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!

Sois de vento, ides no vento,


e quedais, com sorte nova! (...)

Ai, palavras, ai, palavras,


que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
– sois madeira que se corta,
– sois vinte degraus de escada,
– sois um pedaço de corda...
– sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...

Ai, palavras, ai, palavras,


que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
– sois um homem que se enforca!

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência.

1. A “estranha potência” que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação
entre
a) fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.
b) forma abstrata no espaço e presença concreta na história.
c) leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.
d) sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.
e) lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.

Resposta: B

2. Assinale a alternativa correta sobre Cecília Meireles e o Modernismo brasileiro.

No desequilíbrio dos mares, cegaram como os das estátuas,


as proas giram sozinhas… a tudo quanto existe alheias.
Numa das naves que afundaram
Minhas mãos pararam sobre o ar
é que certamente tu vinhas. e endureceram junto ao vento,
Eu te esperei todos os séculos e perderam a cor que tinham
sem desespero e sem desgosto, e a lembrança do movimento.
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
Quando as ondas te carregaram e só talvez ele ainda viva
meu olhos, entre águas e areias, dentro destas águas sem fim.
Cecília Meireles, “Canção”

a) No início da sua carreira, Cecília Meireles se filiou ao grupo Festa, vertente mais
espiritualista do modernismo.
b) Sua obra faz parte da fase mais iconoclasta do nosso modernismo, a do romance
nordestino de 1930.
c) “Canção” é um ótimo exemplo da preocupação modernista em aproximar a linguagem
poética da oralidade popular.
d) A representação do mar em “Canção” revela o traço nacionalista do modernismo: exaltar
a geografia brasileira.
e) Assim como o cubismo foi uma influência para o nosso modernismo, podemos encontrar
esta mesma influência em “Canção”.

GABARITO: A

3. Interprete a poesia abaixo:

Cântico VI

Tu tens um medo de
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

MEIRELES, C. Antologia poética, Rio de Janeiro: Record. 1963 (fragmento).

A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o homem em seu aspecto existencial.
Em Cântico VI, o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente à condição
humana,

a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar.


b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo.
c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas.
d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente.
e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas.

GABARITO: A
4. Leia:

Ai, palavras, ai, palavras


Que estranha potência a vossa!

Todo o sentido da vida


Principia a vossa porta:
O mel do amor cristaliza
Seu perfume em vossa rosa;
Sois o sonho e sois a audácia,
Calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,


ai! Com letras se elabora...
e dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).

O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Independência, de Cecília Meireles.


Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma
reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:

a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das
palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado aos
significado das palavras.
c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do
homem pela vida.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus
valores e suas crenças.
e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas
intenções e gestos.

GABARITO: B

5. Leia os versos de Cecília Meireles, extraídos do poema Epigrama n.º 8.

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.


Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.

O eu lírico reconhece que a pessoa em quem depôs sua vida representava

a) uma relação incerta, por isso os desenganos vividos seriam inevitáveis.


b) um sentimento intenso, por isso tinha certeza de que não sofreria.
c) um caso de amor passageiro, por isso se sentia enganado.
d) uma angústia inevitável, por isso seria melhor aquele amor.
e) uma opção equivocada, por isso sempre teve medo de amar.

GABARITO: A
Igual-Desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
1
e todos, todos
2
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.


Todas as fomes são iguais.
3
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.

Ninguém é igual a ninguém.


4
Todo ser humano é um estranho
5
ímpar.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.

– best-sellers – livros mais vendidos


– gazéis, virelais, sextinas, rondós – tipos de poema

6. Todo ser humano é um estranho


ímpar. (ref. 4 e 5)

No contexto, a associação dos adjetivos estranho e ímpar sugere que cada ser humano não
se conhece completamente.
Isto acontece porque cada indivíduo pode ser caracterizado como:
a) solitário
b) singular
c) intolerante
d) indiferente
e) extrovertido

GABARITO: B

7. Leia:

Cantiga de enganar

(...) O mundo não tem sentido.


O mundo e suas canções Talvez nem seja talvez.
de timbre mais comovido O mundo não vale a pena,
estão calados, e a fala mas a pena não existe.
que de uma para outra sala Meu bem, façamos de conta.
ouvimos em certo instante De sofrer e de olvidar,
é silêncio que faz eco de lembrar e de fruir,
e que volta a ser silêncio de escolher nossas lembranças
no negrume circundante. e revertê‐las, acaso
Silêncio: que quer dizer? se lembrem demais em nós.
Que diz a boca do mundo? Façamos, meu bem, de conta
Meu bem, o mundo é fechado, – mas a conta não existe –
se não for antes vazio. que é tudo como se fosse,
O mundo é talvez: e é só. ou que, se fora, não era.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado
das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.”
(“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada

a) pela música, que ressoa em canções líricas.


b) pela cor, brilhante na claridade solar.
c) pela afirmação de valores sólidos.
d) pela memória, que corre fluida no tempo.
e) pelo despropósito de um faz‐de‐conta.

GABARITO: E

8. Entre as características da obra de Carlos Drummond de Andrade, a que está presente


nesse poema é a

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.


Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.


Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
ANDRADE, Carlos Drummond. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. p. 110-111.

a) valorização do cotidiano e das raízes culturais brasileiras


b) nostalgia da vida provinciana relacionada à terra natal
c) denúncia constante da monotonia observada no dia a dia
d) esperança na sobrevivência do sentimento amoroso
e) manifestação de cansaço diante dos problemas da vida
GABARITO: E

9. Observe as seguintes estrofes do poema “Coração numeroso”, de Carlos Drummond de


Andrade:

Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas


autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.


A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.
Nos versos citados, a relação entre o eu lírico e o seu entorno é estreita – o que é confirma-
do pelas expressões sublinhadas. A partir de tais observações, pode-se afirmar que a apro-
ximação estabelecida entre o sujeito e a cidade conota

a) a comoção do sujeito poético, cuja sensibilidade é despertada pela vitalidade que


movimenta a urbe.
b) a desumanização do sujeito poético, cujo cotidiano frenético repete o ritmo do espaço
urbano.
c) a soberba do eu lírico, que se supõe tão grandioso e fascinante quanto a cidade.
d) a degradação do sujeito lírico que, assim como a cidade, está “doente” por não receber a
atenção das pessoas.
e) a apatia do eu lírico que, assim como a cidade, segue o seu rumo, imune ao caos urbano.

GABARITO: A

10. Leia o poema Legado, de Carlos Drummond de Andrade, abaixo.

Que lembrança darei ao país que me deu


tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?


Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,


uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso


na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
Assinale a alternativa correta sobre o poema.

a) No primeiro quarteto, o poeta alimenta fortes dúvidas sobre a permanência de sua incerta
fama e/ou glória.
b) No segundo quarteto, a pergunta do primeiro verso é apresentada ao público e ao mundo,
que esqueceram a obra do poeta.
c) No segundo quarteto, a declaração de que o mundo não pode enganar o poeta revela o
quanto os leitores estão atentos.
d) No primeiro terceto, a ausência de canto radioso e da voz revelam que a inspiração
poética esgotou-se faz tempo.
e) No encerramento, o passo caprichoso do poeta pode revelar, apesar dos transtornos e da
pedra, uma paisagem que se esfuma.

GABARITO: A

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