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Conflito entre Rússia e Ucrânia embaralha esquerda e

direita e dá 'nó ideológico' em bolsonaristas


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Guerra

25/02/2022 • 14:39

Guilherme Caetano

SÃO PAULO — Após o bombardeio russo sobre o território ucraniano na madrugada da


quinta-feira, diversos atores políticos no Brasil e no exterior começaram a se manifestar
— e tomar lado — sobre a guerra. Mas em meio à hesitação do presidente Jair Bolsonaro
em se posicionar, diferentemente de seus pares, bolsonaristas e grupos de direita radical
demonstram confusão sobre de qual lado ficar.

Nos grupos de Telegram e nos perfis bolsonaristas nas redes sociais, onde geralmente
dominam os discursos prontos a favor ou contra alguma ideia, usuários vacilam em
assumir quem é o certo da história. "Entre Biden e Putin, eu fico com Trump e
Bolsonaro", resumiu a militante bolsonarista com 186 mil seguidores no Twitter. No
aplicativo de troca de mensagens, após uma quinta-feira sem predominância de
narrativas, começam a circulam mensagens a favor de cada um dos lados. Há usuários
chamando os Estados Unidos de "principal instigador do conflito", enquanto outros
defendem a expulsão de membros a favor de Putin desses grupos.

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Leia: Bolsonaristas usam mais uma invasão de igreja de militante do PT para atacar o
partido

Paulo Eneas, editor de um dos principais sites pró-Bolsonaro, chamou Putin de "ditador",
posição que tem sido assumida pelos olavistas. O bolsonarista Paulo Figueiredo,
comentarista da Jovem Pan, associou Biden a uma "criança" e criticou o Partido
Democrata, alinhado aos fãs do ex-presidente Donald Trump no Brasil. A família
Bolsonaro tem evitado tocar no assunto. Eduardo Bolsonaro se limitou a compartilhar em
suas redes uma nota oficial do governo federal que "apela à suspensão imediata das
hostilidades" sem condenar o bombardeio.

Parte da dubiedade se associa ao fato de a própria Ucrânia ter se tornado referência para
alguns grupos de extrema-direita no Brasil. Em 2020, no auge dos acampamentos e atos
pró-Bolsonaro em Brasília e outras capitais pelo país, a bandeira ucraniana era
frequentemente vista entre os manifestantes.

Figuras como a militante Sara Winter, que foi presa por organizar protestos
antidemocráticos, diziam querer "ucranizar o Brasil", já que o país europeu era tomado
como exemplo por bolsonaristas pela forma como a extrema-direita conseguiu se
organizar e agir politicamente. O termo se popularizou entre apoiadores de Bolsonaro. O
deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), base do governo na Câmara, publicou em seu
Twitter em abril de 2020: "Está na hora de ucranizar o Brasil! Quem sabe o que foi feito
por lá, entenderá".

Leia: Governo e bolsonaristas recorrem a temas que agitam as redes em meio à


dificuldade do presidente de emplacar agenda positiva

Um grupo chamado "Ucraniza Brasil" ficou acampado por alguns dias no vão do Masp,
em São Paulo, em 2021, antes de ser retirado pela polícia. A partir de então, passou a se
organizar num grupo homônimo de 5 mil pessoas no Telegram, onde simpatizantes
compartilham discursos extremistas e teorias conspiracionistas.

Nos últimos dias, esses usuários passaram a acompanhar os relatos do brasileiro Alex
Silva, que participou dos atos antidemocráticos de 2020 ostentando uma bandeira da
Ucrânia e chegou a ser visto como uma liderança no processo de "ucranizar" o Brasil.
Silva tem enviado vídeos e informações diariamente da Ucrânia, onde ele diz trabalhar em
uma academia de tiro e táticas militares.

Além das principais democracias ocidentais, estão ao lado da Ucrânia nesta guerra
também partidos de extrema-direita europeus. É o caso de Jaroslaw Kaczynski, líder do
partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), e Viktor Órban, primeiro-ministro da
Hungria e líder do Fidesz. Mas, por outro lado, para embaralhar ainda mais o assunto, há
também figuras odiadas pelos bolsonaristas como os presidentes Joe Biden (Estados
Unidos) e Emmanuel Macron (França) — o que torna o apoio desses grupos à situação
ucraniana menos categórico.

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Em apoio a Vladimir Putin — ou pelo menos um esquivamento em condenar o
bombardeio sem ressalvas — há outros nomes da extrema-direita, como Steve Bannon,
ex-estrategista da campanha de Trump, e o próprio ex-presidente americano. Bolsonaro
se encontrou com Putin em Moscou dias atrás, ocasião em que demonstrou
"solidariedade" à Rússia. Após o bombardeio, o presidente preferiu se esquivar do assunto
em discursos e conversas com apoiadores.

Mas desse lado também está parte da esquerda. O perfil do PT no Senado, por exemplo,
fez uma publicação controversa no Twitter na quinta-feira: disse condenar "a política de
longo prazo dos EUA de agressão à Rússia e de contínua expansão da OTAN em direção às
fronteiras russas". Pouco após ser publicado, o tuíte foi deletado da rede social, e uma
nova nota condenando os ataques foi publicada.

Manuela D'Avila (PCdoB), candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad na


eleição de 2018, após pedir paz ao conflito, chamou as preocupações da Rússia de
"legítimas" e criticou "o cerco da OTAN às fronteiras russas". Já o PCO (Partido da Causa

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Operária), legenda de extrema-esquerda, declarou "apoio total à ação da Rússia na
Ucrânia".

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