Você está na página 1de 15

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

TECNOLOGIA EM SERVIÇOS JURÍDICOS CARTORÁRIOS E


NOTARIAIS

NEUDIRAN GONÇALVES NUNES SANTOS

O INDÍGENA ENQUANTO TITULAR DE DIREITOS E


DEVERES

IBIMIRIM - PE
2020
NEUDIRAN GONÇALVES NUNES SANTOS

O INDÍGENA ENQUANTO TITULAR DE DIREITOS E DEVERES

Trabalho de Licenciatura em Tecnologia em Serviços


Jurídicos Catorários e Notatriais apresentado à
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção de média bimestral nas
disciplinas de Direito Civil: Pessoas e Bens;
Responsabilidade Social e Ambiental; Direito Penal –
Parte Geral; Homem, Cultura e Sociedade e Teoria Geral
do Direito Constitucional.

Professores: Cláudio César Machado Moreno, Maurílio


Bergamo, Luana da Costa Leão, Maria Eliza Pacheco e
Patrícia Graziela Gonçalves.

IBIMIRIM - PE
2020
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................04
2 DESENVOLVIMENTO......................................................................................06
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................13
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................15
4

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que muito tem se comentado e lamentado sobre os índios


estarem perdendo a sua cultura. Um índio vestido com calça jeans e calçado,
falando a língua portuguesa, usando vídeos e gravadores ou vivendo numa favela
em São Paulo surge aos olhos do povo como menos índio. Eles teriam que
acompanhar suas tradições, dizem. E todos deveriam deixá-los em paz, devolvendo-
os ao isolamento, a fim de que possam trilhar seus caminhos.
O conceito cultural tem um longo histórico e origina-se antes do esforço
antropológico de analisar e entender povos com costumes e formas de vida
diferentes. Os conceitos de cultura e de civilização surgiram na Europa e
inicialmente ganharam significados variados entre as diversas populações, nacionais
e nascentes. Porém, esses termos parecem ter uma conotação da unidade ocidental
e as suas diferenças internas, pois se civilização é um produto final de uma
demanda que culmina no Ocidente, cultura nomeia as especificidades das
populações ocidentais: às maneiras francesas, inglesas e alemãs.
Desta forma, o movimento indígena forma-se como uma instituição de
transformação social, participativa, multicultural e democrática com capacidade de
produzir alterações na própria consciência dos povos indígenas, como recuperar a
autoestima e compreender seus progressos e limites, resultando nos espaços
autônomos dependentes da capacidade de gestão do movimento indígena, bem
como das políticas e das tendências ideológicas. Assim, a necessidade de exercício
autônomo real estabelece que o próprio movimento seja uma área de autogoverno
dos índios como um canal para que participe das tomadas de decisão em qualquer
nível governamental do Estado.
Essa é uma questão extremamente contemporânea, visto que todos os
países da América Latina, praticamente reconhecem os direitos aos índios que
vivem em seu território. A Constituição brasileira dedica um capítulo inteiro a esse
reconhecimento dos índios. Todavia, apesar destes progressos, ainda existe a
necessidade de ferramentas legais que consentem a realização dos direitos. O
Brasil dispõe de um Estatuto do Índio, a Lei nº 6001/73, que já não é suficiente como
ferramenta adequada para assegurar e efetivar os dispositivos da Constituição.
Entretanto, desde a Revolução Industrial, a humanidade é responsável
pelos vários problemas sociais e ambientais do planeta Terra e vítima dos mesmos.
5

O principal ator social que causa essas enfermidades que estabelecem doenças
incapacitantes, danos sociais e econômicos irreversíveis e estragos socioambientais
mortais. O empresariado moldado na expectativa capitalista suicida de
desenvolvimento social.
Todavia, constata-se que foi feito muito pouco para se conhecer a história
dos índios. A produção de saberes neste campo não combina com a relevância
temática. Os estudos são de uma pobreza franciscana. O produto disso é a
modificação da imagem indígena na televisão, na escola e nos jornais, enfim no
meio social brasileiro.
É preciso enfatizar que os povos indígenas desempenham suas
autonomias à medida que as comunidades e seus administradores solucionam as
próprias circunstâncias de conflito, conforme as regras compartilhadas pelos seus
membros, seja através de cerimoniais de conciliação, de sentenças condenatórias
ou de declarações de guerra. Os líderes tradicionais seguem com os
comprometimentos de orientar seus povos. Quando há dificuldades entre eles,
buscam seus sistemas decisórios, procurando intermediários, sistemas orais de
diálogo, assembleias em comunidades, conselhos de idosos ou tribunais
característicos formados para cada circunstância.
Esse trabalho tem como objetivos compreender e aplicar conceitos
pertinentes às disciplinas de Direito Civil: Pessoas e Bens; Responsabilidade Social
e Ambiental; Direito Penal – Parte Geral; Homem, Cultura e Sociedade; Teoria Geral
do Direito Constitucional, com o objetivo de relacioná-los entre si para a resolução
de demandas diversas.
6

2 DESENVOLVIMENTO

Pouco se tem tratado da questão da capacidade civil dos índios durante o


estudo temático da capacidade civil no curso de direito. O pouco tratado é baseado
na doutrina civilista que se restringe a afirmação de que o índio está contido ao
regime tutelar e que não teria capacidade, já que assim quer a legislação especial,
no estatuto do índio de 1973. A doutrina faz somente um pequeno relato acerca da
situação jurídica dos índios quando tratam da lista das incapacidades do código civil
de 2002.
Adentrando no tema, conforme a lei 6001/73, referido estatuto do índio, o
indígena encontra-se submetido ao regime tutelar, que incumbe à União, que a
“exercerá através do competente órgão federal de assistência aos silvícolas”. Essa
lei da mesma forma considera “nulo os atos praticados entre o índio não integrado e
qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido
assistência do órgão tutelar competente”, motivo pelo qual os índios teriam sua
capacidade civil reduzida. Cabe ressaltar inicialmente que esta lei foi criada de
acordo com a política integracionista/assimilacionista da época, a qual tem o
propósito de integrar harmoniosamente os índios a comunhão nacional, o que como
veremos adiante representa um processo de total desrespeito a diversidade étnico-
cultural dos indígenas (JUSBRASIL.COM, 2015).
A ideia do índio incapaz ocupa nesta formação de ideologia um lugar
importante, naturalizando uma posição inferior, pelo que é reafirmado da
incompatibilidade de tal presença com o mundo atual e contemporâneo e pela
aparente demonstração superior e benignidade na realização de uma atividade
paternal, que é a tutela.
O Código Civil de 2002, em seu Art. 1º, aclama que: “toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil”. Importante observar a modificação textual deste
Código que anulou o anterior, de 1916, substituindo a palavra “homem” por
“pessoa”, visto o dever constitucional de tratamento igualitário aos gêneros.
Também, abordou o Novo Código Civil, Art. 4º, parágrafo único, de eliminar o
vocábulo “silvícola” (aquele que vive na selva) por “índio”
Mas, foi-se a época em que a humanidade dos índios era interrogada.
Atualmente, sua inteligência e autonomia são corroboradas por meio da ciência,
valor social universal, não oponente sua cultura tradicional ser equidistante da
7

cultura não indígena influente.


Se a ideia da tutela como imposição de alguma restrição ao livre arbítrio do
índio e limitação de seus direitos já tinha sido afastada, mesmo que continuasse a
ser aplicada na prática, com a Constituição Federal de 1988 não pode haver
nenhuma dúvida: ela garante expressamente ao índio a possibilidade de se
organizar como comunidade ou através de organizações próprias, reconhecidas pelo
direito, e de recorrer diretamente ao Poder Judiciário na defesa de seus direitos e
interesses. Ora, a autonomia é então plena, tendo o índio os mesmos direitos e
obrigações dos demais e sendo reconhecido como um cidadão brasileiro
(VILHARES, 2012, pág. 76 Apud OLIVEIRA, 2014, P. 09).
No entanto, a tutela presumida no Estatuto não envolve todos os índios, mas
sim os que não são integrados à comunhão nacional. Desse modo, apenas aos
índios considerados como isolados ou em vias integradoras é sobreposta a tutela
que não é somente individual, mas grupal, pois é aplicada às comunidades
tradicionais, afastando-a do instituto da tutela civil do direito de família.
Os índios são plenamente capazes. Pois, no ordenamento jurídico, a norma é
a capacidade. A incapacidade é a restrição e só é aplicável nas hipóteses
expressamente previstas em lei. Não existe qualquer previsão de incapacidade para
os índios. Então, eles são totalmente capazes para o exercício dos atos da vida civil.
O índio adaptado à civilização deve emancipar-se para que possa realizar os
atos da vida civil e deixará de ser considerado incapaz, quando preencher os
requisitos estabelecidos no artigo 9° do Estatuto do Índio:
- Idade mínima de 21 anos
- Conhecimento da língua portuguesa
- Habilitação para o exercício de atividade útil à comunidade nacional
- Seja liberado por ato judicial, diretamente, ou por ato da FUNAI homologado por
órgão judicial.
Vale ressaltar que a preservação dos recursos naturais tornou-se uma
preocupação mundial e nenhum país deve fugir dessa responsabilidade. É antiga a
necessidade de proteger o meio ambiente, surgindo quando o ser humano começou
a dar valor à natureza, de modo mais ameno e, hoje, de modo mais acentuado.
Primordialmente, dava-se a importância à natureza porque é uma criação grandiosa.
Após o homem reconhecer a interação dos elementos bióticos e abióticos que
podem interagir no ecossistema é que, de modo efetivo, sua responsabilidade
8

cresceu.
Dessa forma, pelo que é depreendida da Constituição, a proteção ambiental e
ao meio com equilíbrio são vistos como direitos essenciais, sendo que a realização
deles é uma diretriz, uma marcação, uma deliberação, uma responsabilidade do
Poder Público que deve introduzi-las notoriamente por meio da adoção de Políticas
Públicas Estatais. Segundo Oviedo (2018, p. 01):

As terras indígenas cobrem uma porção significativa da Amazônia brasileira


e são fundamentais para a reprodução física e sociocultural dos povos
indígenas. Os benefícios e serviços prestados por estas áreas ao clima e
desenvolvimento sustentável do bioma, contudo, ainda são pouco
reconhecidos. Para piorar, terminamos 2017 com a notícia triste de que o
desmatamento aumentou em algumas dessas terras.

O efeito que inibe o desmatamento direcionado à presença e ao


reconhecimento de terras indígenas pode ser apresentado através da queda nas
taxas do desmoronamento florestal entre os anos 2004 e 2008. Nesta fase, 10
milhões de hectares da Amazônia brasileira foram delimitados como Terras
Indígenas, bem como outros 20 milhões tornaram-se resguardados na esfera do
Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia. Tal
ação, apenas entusiasmou a queda de 37% da taxa de desmatamento notada
naqueles anos.
É importante frisar que, com o PAS, o governo federal e os governos
estaduais da Amazônia assumiram acordo efetivo com 24 milhões de habitantes da
região, viabilizando a introdução de uma metodologia de longo prazo que pudesse
conciliar a ascensão do desenvolvimento da economia com a utilização sustentável
dos recursos da natureza, viabilizando, também, a inclusão social e a distribuição de
renda, derivando a melhoria da qualidade dos referidos habitantes.
Deve-se destacar que, antes da Constituição de 1988, a imputabilidade penal
dos índios era norteada pela menor ou maior integração à cultura predominante.
Confiava-se que os indígenas viviam uma fase transitória e que eles deixariam de
ser índios, mais cedo ou mais tarde. Assim sendo, o Código Civil de 1916, ao
abordar a capacidade civil dos índios os considerava relativamente incapazes,
influenciando o tratamento referido à imputabilidade penal, regulada no Estatuto do
Índio, de 1973, que avaliou os índios isolados como inimputáveis e que os
9

associados à sociedade nacional necessitariam ser abordados como qualquer


cidadão não indígena.
Porém, em 1988, a Constituição assegurou para os índios o direito de
conservar o direito de ser diferente e a sua organização social, dando espaço para
outro tratamento acerca da capacidade civil e da responsabilidade criminal dos
indígenas. Nesse sentido, o novo Código Civil, acatado em 2002, removeu os
indígenas das pessoas vistas relativamente incapazes e determinou que a
capacidade dos índios seria regulada em lei característica.
Deste modo, leva-se em conta, nos dias de hoje, que punir um índio que
pratica uma ação, em circunstância da qual desconhece tratar-se de conduta
tipificada como crime pela cultura dominante, seria como castigá-lo por possuir uma
cultura diferenciada. Para Silva (2020):

Os números de crescimento do agronegócio são muito animadores em uma


perspectiva meramente econômica. Contudo, em uma perspectiva
ambiental, esse avanço gera preocupação em virtude dos
diversos impactos ambientais causados pela superexploração do meio
ambiente. Na busca pelo desenvolvimento e lucro imediato, muitas
empresas desrespeitam as legislações ambientais e exploram o meio
ambiente sem se importar com as consequências dessa exploração,
causando diversos problemas ambientais no espaço agrário.

Neste contexto, é possível dizer que a Constituição de 1988 pode ser


entendida como um marco na conquista e segurança de direitos pelos índios no
Brasil. Ao passo que o Estatuto do Índio (Lei 6.001), proclamado em 1973,
antecipava de modo prioritário que as populações precisariam ser integradas aos
demais da sociedade, a Constituição passou a assegurar o respeito e a proteção à
cultura populacional originária.
Isso implica afirmar que, na Constituição de 1988, os direitos indígenas estão
expressos em capítulo característico (Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo VIII, Dos
Índios) com princípios que garantem o respeito às tradições, às crenças, às línguas,
à organização social e aos costumes. Pois, a população indígena atualmente no
país tem o direito de procurar maior relação, assim como de se conservar ilesa em
sua cultura, aldeada, se assim compreender que é a melhor maneira de prevenção.
Segundo Oliveira (2017, p. 02):

Também há garantias aos povos indígenas em outros dispositivos ao longo


da Constituição. No Artigo 232, é garantida aos povos indígenas a
10

capacidade processual, ao trazer expresso que “os índios, suas


comunidades e organizações, são partes legítimas para ingressar em juízo,
em defesa dos seus direitos e interesses”.

Isso significa que, apesar de o texto magno ter formado um novo cenário
acerca dos direitos dos povos de origem brasileira, a materialização desse
rompimento ainda está em curso.
Os indígenas são cidadãos plenos e têm direito aos benefícios sociais e
previdenciários do Estado brasileiro. Como resultado da Constituição de 1988, e o
reconhecimento dos novos direitos indígenas, houve um avanço no reconhecimento
dos direitos previdenciários. Segundo o advogado Gustavo Proença, “os índios têm
direito a todos os benefícios sociais que qualquer trabalhador tem, a partir da sua
economia familiar” (OLIVEIRA, 2017, p. 03).
Entretanto, a cultura material dos índios apregoa para os outros campos
sociais a sua visão de universo e desempenha um papel utilitário no dia a dia da
comunidade tribal. Porém, esta visão tem sido influenciada pelas mais diversificadas
formas de pressão as quais estão submetidos os índios brasileiros, em que as terras
são almejadas pelos regionais, devido às riquezas da flora, fauna e do subsolo.
No entanto, o artigo 108 do Código Civil conclui a regra geral do modo
instrumentário fundamental para a legitimidade dos negócios de imóveis, ao dizer
que "Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia
de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País".
Essa regra tem grande importância no setor negocial jurídico imobiliário,
determinando indivisa prudência dos profissionais do direito, especialmente dos que
trabalham nas atividades notariais e registrais, pois limita modo indispensável para a
produção dos resultados desejados sempre que o negócio for referente aos direitos
reais sobre imóveis, em que a norma é a escritura pública, tirando-se os casos
presumidos em lei especial, e os casos em que o valor do imóvel não ir além de 30
vezes o maior salário mínimo vigorante no País.
O tabelião de notas possui uma atividade exclusiva e única que é
especialmente regulada pelo artigo 7º da Lei 8.935, de 18 de novembro de 1994,
conhecida como a Lei dos Notários e Registradores e dispõe das seguintes
atribuições:
11

“Art. 7º Aos tabeliães de notas compete com exclusividade:


I – lavrar escrituras e procurações públicas;
II – lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados;
III – lavrar atas notariais;
IV – reconhecer firmas;
V – autenticar cópias.
Parágrafo único. “É facultado aos tabeliães de notas realizarem todas as
gestões e diligências necessárias ou convenientes ao preparo dos atos
notariais, requerendo o que couber, sem ônus maiores que os emolumentos
devidos pelo ato.”

Portanto, dentre as diversas atividades elencadas no texto da lei encontra-se


o benefício privativo de lavrar escrituras públicas no inciso I, que compõe uma das
fundamentais atividades desempenhadas pelo Tabelionato de Notas. A escritura
corporifica a ferramenta utilizada para a formalização da vontade das partes na
transferência e no recebimento da propriedade imóvel, tornando essa ação oficial e
pública, provocando publicidade e garantia ao que as partes aspirem dar
configuração jurídica.
Sabe-se que a demarcação de uma terra indígena tem por finalidade
assegurar o direito do índio à terra. Pois, ela deve determinar a real extensão da
posse indígena, assegurando a proteção dos alcances demarcados e evitando a
ocupação por terceiros.
Mas, desde a aceitação do Estatuto do Índio, em 1973, tal reconhecimento
formal obedeceu a um processo administrativo, presumido no artigo 19 (Lei
6001/73). Esse procedimento estipula as fases do longo processo de demarcação e
é regulamentado por decreto do Chefe do Poder Executivo e, no passar dos anos,
sofreu seguidas transformações. A última alteração relevante aconteceu com o
decreto 1.775, de janeiro de 1996.
Bem próximo à minha cidade existe uma reserva indígena conhecida como
Kambiwá e suas terras não foram propriamente demarcadas. Não houve maiores
problemas, mas se por acaso tivesse acontecido algo em decorrência de
demarcação, eu teria feito o seguinte: para solucionar os possíveis conflitos entre
índios e produtores rurais, envolvendo a demarcação de terras indígenas, solicitaria
dos índios a documentação das terras a serem demarcadas para averiguação de
legitimidade das mesmas perante a lei e formalização jurídica das partes, interviria
nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal a
autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados,
12

conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo e


autenticaria os fatos.
Todos os conflitos possuem raízes no desrespeito histórico à cultura e à terra
dos povos indígenas. Desrespeito este que não foi característico apenas da
conquista da América ou da colonização portuguesa. Nós, brasileiros, o praticamos
até hoje. O povo Cinta Larga, por exemplo, foi contactado apenas no início da
década de 1970, mas já teve sua população dizimada: de cerca de 5000 índios,
restam 1400 nos dias de hoje (CÂMARA LEGISLATIVA, 2003).

Imagem: Povos Indígenas no Brasil


Fonte: https://img.socioambiental.org
13

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que os problemas ligados aos sistemas de gestão da


sustentabilidade mediante hospedagem são difíceis, demandando, deste modo,
recursos difíceis. A análise da sustentabilidade estabelece uma visão sistêmica,
dependente do saber de diferentes campos, visto que a complicação do estudo vive
nas relações estabelecidas entre os princípios do turismo sustentável, as técnicas
e/ou tecnologias existentes e disseminadas nos meios de hospedagem e o refletir e
agir dos hóspedes, gestores, colaboradores e fornecedores.
Sabe-se que o sistema de gestão da sustentabilidade se refere ao
sistema da gestão para governar e ter controle a um meio de hospedagem, no que
concerne à utilização dos recursos naturais, de forma ambientalmente responsável,
socialmente justa e economicamente viável, de maneira que o atendimento das
necessidades contemporâneas não seja comprometido à probabilidade da utilização
pelas futuras gerações. Assim, nesse sentido, é irrefutável a relevância do
planejamento estratégico das empresas considerarem a introdução do sistema de
gestão da sustentabilidade independentemente de uma afirmação.
No entanto, a possibilidade de reconstruir processos autônomos de
vida em seus territórios é um novo sustento para o presente e o futuro dos indígenas
do Brasil. Um dos subsídios fundamentais para efetivar esse desejo é o começo de
diversos projetos grupais de autogestão territorial em andamento, que precisarão dar
impulso e subsídio ao processo de reconstrução da autonomia almejada. A
autonomia continua acontecendo entre diversos indígenas do país, mesmo depois
da instalação do Estado brasileiro. Vários deles determinam e organizam as aldeias
nos seus territórios conforme seus sistemas sociais, econômicos, jurídicos e
religiosos.
Todavia, a Constituição de 1988 e o reconhecimento dos direitos
que ela unificou ocasionaram a consciência da indianidade a diversos povos e a
probabilidade de reivindicação de seus territórios tradicionais, dada a liberdade para
que contestassem os casos de espoliação aos quais foram submetidos no passado.
Mediante o histórico de coação e criminalização, é de aguardar que os índios
tenham excluído sua identidade.
14

Assim sendo, a Constituição Federal estabelece que a União não


pode diminuir nem mesmo dividir o território de ocupação tradicional em lugar de
questões econômicas ou políticas, já que isso implicará em falta de respeito ao texto
constitucional. Resumindo, as terras reconhecidas como ocupadas pelos indígenas
precisam ser limitadas na sua probidade e prosseguimento, pois os critérios que
pautam tais decisões são fundamentados nos saberes históricos e cosmológicos. A
transformação do espaço em território é um fenômeno de representação através do
qual os grupos humanos estabelecem sua ligação com a materialidade, num ponto
onde a natureza e a cultura são fundidas, em que um abstrai do outro, aquilo que
não pode ser abandonado.
Dessa forma, os conceitos de posse e propriedade, no que se
refere aos povos indígenas, são diferentes da concepção tradicional do direito à
propriedade privada, pois possuem uma extensão coletiva. Pois, a Corte
Interamericana fez referência sobre o que entre os indígenas há uma tradição
comunitária acerca de uma forma comum da propriedade coletiva da terra, no que
diz respeito ao que o pertencimento da mesma não se centraliza em apenas um
indivíduo, porém no grupo e na sua comunidade.
Enfim, o direito à propriedade das terras e dos territórios não pode
ser desvinculado da questão do acesso aos recursos naturais que foram utilizados
pelas comunidades indígenas. Tais recursos são elementos fundamentais e integrais
de suas terras e territórios, já que são necessários para sobreviver, desenvolver e
continuar seu estilo de vida. Nessa avaliação, os recursos naturais relacionados às
suas culturas são de característica comunitária dos povos indígenas e precisam ter
proteção.
15

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm

BRASIL. Lei nº. 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do


Índio. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm

BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa Ude. Teoria Geral do Direito Constitucional,


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016.

CIZOTO, S. A.; DIÉGUES, C. R. M. A.; PINTO, R. O. Homem, cultura e sociedade.


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016.

CARVALHO, Fernanda Lara de; BARBETA, Edvania FátimaFontes Godoy. Teoria


Jurídica Do Direito Penal, Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016.

DELBONO, B. de F. Responsabilidade Social e Ambiental, Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S.A., 2016.

Relatório das Visitas a Terras Indígenas e Audiências Públicas Realizadas nos


Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima,
Pernambuco, Bahia e Santa Catarina. Texto extraído do site
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/cdhm/documentos/relatorios/indigenas.html em 20/04/2020 às 15h e
05min.

OLIVEIRA, Cristiane de (2017). Povos Indígenas: conheça os direitos previstos na


Constituição. Texto extraído do site https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-
humanos/noticia/2017 em 20/04/2020 às 13h e 18min.

SILVA, Thamires Olimpia. "Impactos ambientais causados pelo agronegócio no


Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/impactos-
ambientais-causados-pelo-agronegocio-no-brasil.htm. Acesso em 21 de abril de
2020.

Você também pode gostar