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O Direito como Fundamento do Poder Político e Religioso no

Medievo
 Características Gerais do Direito Medieval:
o Pluralismo Jurídico: iura própria e ius commune
 Particular: riquíssima manifestação (e consolidação)
consuetudinária;
 Localismo Jurídico: direito local;
 Direitos de sujeitos específicos: direito feudal e
comercial.
 Manifestações sem pretensões totalitárias: pressupõem o
direito comum;
o Só podem ser concebidas no âmbito do direito
comum.
o Seu âmbito é e pretende ser deliminado no plano
objetivo e territorial: ele pressupõe a existência de
outro ordenamento que, no nível da regulação
jurídica, pensa em tudo e tem soluções para tudo e
para todos, que é o direito comum.
 Universal: ciência, esquemas gerais de organização; arquitetura
indiferente a projeções territoriais limitadas ou a limitados
âmbitos étnicos, de linhagem ou profissionais.
 Direito Comum: interpretativo
o Dois aspectos:
 Dimensão substancialmente científica;
 A partir de um texto dotado de autoridade.
 Corpus Iuris Civilis e Corpus Iuris
Caonici.
 A ciência jurídica não pode ser
concebida sem o texto interpretado,
mas o texto não pode ser
considerado algo além de uma
insubstituível referência formal;
 Tem pouco caráter exegético:
complementação, correção,
modificação do texto.
 Direito fundado na razoabilidade: é o direito – com
soluções para cada caso e linguagem técnica e esquemas
organizativos capazes de formalizar os fatos mais
particulares e recentes.
 Muitas vezes, o direito comum se contraía dando lugar
para o direito mais concreto e especial.
o Não há se falar em hierarquia entre iura própria e ius commune –
hierarquia é muito fixa;
 Hierarquia pressupõe um Estado.
 Idade Média: “Direito sem Estado” – direito que vive a
atua para além dos poderes políticos e da coação destes.
o Relativa indiferença do poder político ao direito.
 O que nós temos são múltiplos ordenamentos
concorrentes que não requerem legitimação externo, mas
que substancialmente se autolegitimam enquanto
expressões espontâneas das mais variadas dimensões do
social;
 A relação entre ambos é absolutamente maleável:
 A aplicação ao caso concreto muitas vezes se definia pela
simples adequação de determinada norma a ele,
independentemente de sua hierarquia e consequente
preferência ou subordinação em relação à outra.
 Incompletude dos sistemas  harmonização:
o Princípio da Especialidade.
 Com o passar do tempo, há uma subordinação do ius commune
aos iura própria.
 Surgirá o direito dos estados como o novo ius commune:
haverá, ainda, subsistemas inferiores, particulares e
regionais.
o Em um momento, a autoridade do ius commune
vinha do direito romano, do império e do direito
canônico. Com o fortalecimento dos principados,
abre-se espaço para a afirmação do Direito dos
Estados.
 O direito comum fundia em si a dimensão
romana e canônica.
 O direito comum será parte integrante do
sistema de fontes do direito dos estados.
 O ius proprium florentino, para preencher as lacunas, fazia um
apelo expresso a outro ordenamento jurídico – produzido pela
comunidade dos juristas, um direito científico com projeção
universal.
 Na realidade, estes eram aplicados e o ius commune era recurso
ao qual se lançava mão em caso de lacunas. A aplicação como
direito subsidiário, por sua vez, não fazia do ius commune um
simples direito secundário. Sua autoridade invocava uma
“vigência potencialmente geral”, no dizer de Hespanha, o que lhe
permitia uma artificiosa infiltração em questões que a princípio
deveriam ser solucionadas pelo direito local e lhe concedia ainda
força suficiente para impor restrições a este direito: “Mesmo estes
[direitos locais], não deixavam de sofrer as consequências da sua
contradição com o direito comum. Não deviam ser aplicados a
casos neles não previstos (por analogia); não podiam constituir
fundamento para regras jurídicas gerais (…); deviam ser
interpretados de forma estrita.
 A aplicação ao caso concreto muitas vezes se definia pela simples
adequação de determinada norma a ele, independentemente da
sua hierarquia e consequente preferência ou subordinação em
relação à outra. É de se considerar a incompletude dos sistemas, o
que conduziu a uma engenhosa harmonização entre eles diante da
crescente demanda social por regulamentação e solução de
conflitos. O princípio da especialidade, segundo o qual a regra
geral é preterida por outra especial, definiu as relações e
prioridades de aplicação dos direitos e excluiu as contradições
que pudessem ser estabelecidas por regras de diferentes ordens
normativas. A mesma situação se colocou no convívio entre os
direitos dos reinos e sistemas menores, locais, que deles se
distinguiam. Neste caso, o direito do reino assumia um papel de
direito comum frente à diversidade do regionalismo.
o Idade Média como civilização intimamente jurídica;
o Direito e “Estado”:
 O Direito está muito pouco nas mãos do Príncipe;
 O Príncipe moderno é antes de tudo legislador, o príncipe
medieval é antes de tudo juiz  iurisdictio
 O direito existe antes do poder e prescinde deste: encontra-se nas
raízes mais íntimas da sociedade.
o Ordem:
 O direito é primariamente concebido como uma ordem
 Um tipo de substrato profundo que fertiliza e nutre a
superfície;
 A ordem é complexa, mas reconduzida harmonicamente à
unidade.
 Nossa sociedade (jurídica) é simples, a medieval
complexa – mesmo que ordenada.
o Autonomia:
 O direito nasce nos fatos da vida cotidiana e muitos destes fatos –
sobretudo graças a sua duração no tempo – adquirem por si
próprio carga normativa, sem que seja necessária a intervenção de
um poder público para dar autoridade e garantir a obediência.
 O direito expressa a globalidade, a complexidade da sociedade e
seu particularismo – valorização das microentidades.
 A ordem jurídica medieval é um mundo de autonomias, fundado
e construído nessa noção fundamental e característica, em relação
à qual é fácil e simples supor, num mesmo lugar e dentro de uma
entidade política, a concorrência de uma pluralidade de
ordenamentos, cada qual com seu âmbito específico; pressupõe a
convivência e o respeito por outros, não tem pretensões de
expansionismos abrangentes.
o Grossi  o Direito e a Igreja na Alta Idade Média:
 “Opção pelo Direito”:
 Reconhece no Direito um valioso elemento consolidador
do próprio poder – conciliador social e instrumento de
poder.
o A opção pelo Direito é uma opção pelo temporal e
pelo social.
 A Igreja recebeu de Roma, como legado, o sentimento
da importância do Direito.
 A lei canônica não pode ser igual para todos se todos não são
efetivamente iguais:
 Anti-Formalismo: a lei não é garantia formal, mas auxílio
substancial.
o A lei é instrumento.
o Teoria da Dispensa: o superior pode não aplicar a
norma no caso concreto se considerar que a
aplicação trará mais prejuízo que proveito.
 Controvérsias em que o Direito toma frente:
o Querela das Investiduras e Doação de Constantino;
o Todos os lados vão usar alicerce jurídico para fundamentar seu poder:
 Monarcas  desvencilhar das fundamentações religiosas do
poder;
 Igreja  preponderância da ordem religiosa sobre a secular.
 Grossi: Produzir um valioso instrumento de controle da
vida social.
 Graciano  fornece uma armadura jurídica para dominar
o século – uma arma à política teocrática do Pontificado
romano.
o Pós graciano: Decretais – atividade normativa dos
pontífices.
 Demonstra a inexistência de divisão de
poderes na Igreja.
o Controvérsia Franciscana.
 Santo Agostinho:
o Justificação da preponderância do poder religioso sobre o terreno:
 Cidade de Deus;
 Contingência da Cidade dos Homens
 Lei Eterna;
 Ordem.
 A única cidade que dá substrato para a real e absoluta justiça é
aquela governada por Cristo.
 Santo Tomás:
o Novo olhar para o terreno:
 Bem comum;
 Comunidade Política.
o “O poder secular está subordinado ao espiritual do mesmo modo que o
corpo à alma”.
 À Igreja é garantia supremacia perante o Estado e é garantido o
governo de todos os cristãos por meio do governo dos príncipes.
 Assim, o Estado cuida da finalidade que lhe é atinente e tem certa
autonomia em relação ela, ao passo que a Igreja cuida de um fim
maior, a finalidade última do homem, apropriada a toda a
cristandade - e não a Estados específicos - e hierarquicamente
superior a qualquer outro objetivo. Nesta seara, o Estado
encontra-se subordinado à Igreja, em outras palavras, esta tem
supremacia no tocante a todas as questões concernentes à
finalidade maior do homem.
o Egídio Romano.
 Marsílio de Pádua, João de Paris e Guilherme de Ockham: ataques à
subordinação do poder temporal ao espiritual
o Crítica à Teoria dos Dois Gládios;
o Novas Problemas Jurídicos
 Marsílio: questão da jurisdição dos bens da Igreja;
 João: quem é legítimo para julgar o papa ou o rei.
 Dante: dois fins.

Philipe

 Nova Concepção de Direito que surge na Reforma Gregoriana:


o É a palavra do soberano, não a ordem cósmica que determina o bem e o
mal. É o arbítrio do soberano que fornece diretrizes para a conduta.
o É o poder soberano, que sobrepõe a norma posta às normas
espontâneas, o elemento que, da monarquia papal de Gregório VII às
cidades-Estado italianas, trabalhará pela dissolução da antiga ordem da
Cristandade.
o É a Igreja que, pela primeira vez, apresenta um poder que, a um só
tempo, legitima e é legitimado pelo Direito historicamente posto. A
autoridade do papa já não mais se assenta em uma ordem natural e
divina, mas em sua capacidade legiferante.
o O Estado como obra de arte foi precedido pela Igreja como obra de arte,
produto da engenhosidade política e administrativa dos reformadores.
o Temos, assim, que o “Ressurgimento do Direito Romano” iniciou-se por
obra e graça de pesquisadores reformistas, que procuravam, nas
bibliotecas de Roma, documentos que assegurassem, de um ponto de
vista doutrinal e jurisdicional, o supremo poder pontifício: primado do
Papa sobre os demais bispos e sobre o Corpo Místico de Cristo.
 a fim de obter autoridade jurídica para endossar a
supremacia papal sobre o clero, assim como independência, e
possível supremacia, do clero em relação a todo o ramo
secular da sociedade. O papado encorajou os estudiosos a
desenvolverem uma ciência jurídica que fornecesse uma base
de trabalho para lidar com essas políticas maiores.
o A Escola de Bolonha não surgiu da iniciativa de burgueses ou nobres,
mas da Igreja: foi a duquesa Matilde da Toscana, apoiadora de Gregório
VII, que convidou seu vassalo Irineu para ensinar, em seu território, o
Direito Romano. O que se objetivava era o desenvolvimento de
instrumentos que conferissem legitimidade e eficácia ao novo modelo de
exercício de poder aberto pela Reforma Gregoriana. O Código
Justinianeu serviu como ferramenta para que a Igreja propulsionasse a
codificação de seu próprio corpo normativo. Poderíamos, mesmo, dizer
que a retomada da filosofia grega (e, antes de mais, de Aristóteles)
desenvolvida no período teve como finalidade, originalmente, elaborar
técnicas exegéticas que possibilitassem a leitura e a interpretação de
referido corpo normativo.
 A Igreja desejava manter a sua independência perante o poder estatal. Isto
decorre de inúmeras questões históricas e da própria doutrina cristã. Foi
necessário, portanto, uma reforma da Igreja – Reforma Gregoriana – que levou a
uma centralização do Poder (figura papal) e insistência na independência do
poder temporal e supremacia.
o Eram necessários instrumentos para legitimar e conferir eficácia a
esse novo modelo oriundo da Reforma Gregoriana.
 Legitimar por meio de documentos que assegurassem o
supremo poder pontifício – com base em autoridade doutrinal
e jurídica;
 Dar eficácia: era necessário colocar em prática o que a
Reforma Gregoriana iniciou – inclusive por meio de
codificações e técnicas exegéticas.
o Direito Posto:
 A Igreja passa, também, a se legitimar por meio do Direito Posto
 Há um foco na norma posta e não mais na ordem
justa: o Papa começa a adquirir a função legiferante que
iremos atribuir ao soberano.
o O arbítrio do papa fornece normas para a conduta.
o Com efeito, a Igreja da reforma gregoriana é a
primeira instituição da história que se quis e se
compreendeu ela mesma como um Estado: “O
verdadeiro Estado no sentido moderno da Idade
Média, se estas palavras não constituem um
paradoxo, é a Igreja”.
 A ideia central parece ser: o Direito foi instrumento para legitimar e dar
eficácia ao novo papel da Igreja – independente e suprema/soberana – na
Baixa Idade Média. Muitos dos instrumentos usados pela Igreja – direito
romano, conceitos e técnicas hermenêuticas por exemplo – serão utilizados
pelos Estados Nacionais nascentes: especialmente a mudança de paradigma
que coloca o soberano como alguém com capacidade legiferante – não
apenas alguém que reconhece a ordem justa.

Alta Idade Média


 Visão Bíblica:
o Aquele que governa não pode dispor da liberdade dos governados, pois
estes assim o são por intervenção de Javé;
 Sanção por desrespeito à liberdade estabelecida vem diretamente
de Javé.
o Limitações impostas ao rei para evitar que ele se desvie de Javé –
limitações de fundamento religioso.
o O rei é um irmão entre irmãos, um servo de Javé.
o Levítico: igualdade de aplicação da lei – estrangeiro e israelita.
 As Primeiras Formulações Cristãs:
o Gilson: há uma filosofia cristã propriamente dita – o que pode ser
identificado como autêntico no cristianismo é o uso que se faz da razão.
o Início: primazia da fé sobre a razão;
 Críticas ao conhecimento humano separado da fé;
 Conhecimento da natureza só se justifica à medida que auxilia na
compreensão de Deus.
o Diferença Essencial entre a Cultura Grega e o Pensamento Cristão:
 Gregos: intelectualismo;
 Cristianismo: constante e crescente valorização da vontade como
elemento que diferencia o homem e o aproxima de Deus – essa
capacidade de fazer livremente a vontade de Deus coloca o
homem acima de todas as coisas.
 Culmina em Agostinho.
o Pouca preocupação de ordem política: foco é aceitar a fé cristã na cultura
romana e tratar das relações entre razão e fé.
 O cristianismo primitivo tem uma tendência a se afastar das
coisas do Estado.
 São Jerônimo: supremacia das questões espirituais sobre
as temporais;
 Vida monástica.
o Clemente: filosofia como instrumento para a salvação;
o Orígenes: superioridade da demonstração divina em relação à grega;
 Não há senhor na face da Terra a não ser por vontade de Deus;
 Os homens devem se submeter ao poder constituído: opor-se a
autoridades constituídas é voltar-se contra a autoridade de Deus.
 Bipolaridade de poderes na Terra.
o João Crisóstomo: o poder político é necessário para corrigir o mal
introduzido com o pecado original – imprescindível para a manutenção
da paz.
 Subordinado à autoridade da Igreja: papel superior, pois esta
cuida do espírito.
o Cristianismo como Religião Oficial:
 O esforço pela manutenção do império faz da religião um
importante fator;
 A concentração do poder religioso nas mãos do poder político
induz à ligação entre as eventuais revoltas ou rupturas com a
doutrina oficial, consideradas heresias, e as ofensas ao Império
propriamente.
 A religião vinculara-se diretamente ao Poder do Imperador.
 Concílios.
 Conflito: Império (Constantinopla) e Roma – supremacia da
Igreja Romana.
o Santo Agostinho: primeiro que aborda de modo mais inciso a questão do
poder e da organização da sociedade.
 Novo fim: superior, religioso e ultramundano.
 A única cidade que dá substrato para a real e absoluta justiça é
aquela governada por Cristo.
 Governo, submissão e coerção são necessários ao homem a partir
do pecado original. Estes são instrumentos criados para
restabelecer a ordem: não são necessárias por natureza, ao
contrário, tornam-se necessárias como meio para garantia da paz
outrora existentes.
 Villey e o Direito como necessário apenas porque não
somos perfeitos. Necessidade de leis temporais porque
não vivemos cumprindo a lei eterna.
 A paz terrena é necessária a todos, mesmo àqueles que não tem
seu fim último.
 O governo do homem sobre os outros não é só um regere, mas
um corrigere – governo vista à correção, recolocar o homem na
retidão, na ordem, perdida com o pecado.
 A ordem estabelecida pelo Estado deve se construir com vista à
Cidade de Deus e se ordenar sob a hierarquia legal aceita por
Agostinho.
 O poder é válido, ainda que injusto: as instituições, mesmo
tirânicas, têm seu poder derivado de Deus e subsistem pela
permissão divina. Elas têm um papel para desempenhar.
 Conciliação: poder religioso e imperadores cristãos.
 Agostinho não explora de modo detalhado a relação entre a Igreja
e o poder temporal.
 Ele se afasta da aversão do poder temporal – crítica de
seus antepassados e contemporâneos – e o vê como
instrumento hábil para manter a coesão da Igreja, isto é,
combater heréticos e cismáticos.
o Imago Dei: igualdade de todos  Igualdade de Todos perante a Lei.
 O Período Carolíngio:
o Gregório Magno:
 Afirmação do papado em liberdade de governo e jurisdição:
 Questionar a ordem dependente de Constantinopla e
questionar o poder imperial.
 Mescla de Poderes Eclesiásticos e Temporais.
 Preocupação de fundo moral com o exercício das funções
superiores com a necessidade de realização de justiça não só na
condução das almas, mas também no tocante aos corpos: Poder
como serviço.
 O ideal romano de justiça se associa à ideia de caritas
trazendo à Igreja uma nova perspectiva que a coloca no
ponto central de todo o contexto sociopolítico, o que lhe
permitirá sobrepujar a autoridade do poder temporal.
o A caridade, como forma de reconhecimento do
valor igual do outro, se liga à justiça, ao direito
como meio para sancionar o seu reconhecimento e
garantir a sua efetivação.
 Seu pensamento adianta a inexorável
relação que se construirá, posteriormente,
entre a dignidade humana e o direito como
única forma de realização da justiça.
 Ideal de conversão e submissão dos governantes ao Reino
de Deus.
o A conversão vem acompanhada de uma inevitável
sujeição à lei revelada: Dependência do Poder
Laico em relação ao Eclesiástico.
 Igualdade como pressuposto para tratamento justo e onde
não há dignidade não há justiça:
o Respeito à igualdade se estende à conduta dos
superiores e o pode se aplicar ao poder temporal.
o Isidoro de Sevilha: estreitar laços entre a Igreja e poder político –
adequando a estrutura daquele às concepções eclesiásticas;
 Poder como Serviço.
o Beda, o Venerável:
 A ideia de serviço está estritamente vinculada à figura do rei que
é estimulado a atender a sua função: cabe ao rei conduzir
aqueles a que a ele estão confiados ao cumprimento da lei
divina.
o Carolíngios:
 A criação do Reino dos Francos gera um esvaziamento da ideia
romana de Estado, mas, sob a tutela da igreja, sustenta a noção de
dever coletiva como fundamento da realeza.
 A concepção cristã de poder como serviço é fundamental
para esse novo modo de entender o poder: aquele que
governa se põe como alguém que tem um dever perante
os demais, que serve aos outros.
o O soberano é o designado por Deus para conduzir
todo o povo é salvação: é este o poder-dever
atribuído a Carlos Magno pelo ato de sua
coroação, isto é, é coroado por Deus para garantir
a paz, proteger a Igreja e conduzir todos os
cristãos à salvação.
 Luís, o piedoso: o alto clero procura estabelecer o movimento
contrário – interferir e participar diretamente em questões do
Estado.
 Doutrina Gelasiana: afirmar a supremacia do espiritual sobre o
temporal.
o Reforma Gregoriana: garantir efetivamente a supremacia da Igreja no
sentido mais amplo;
 Papado como eixo conjunto da eclesiologia: cabeça e coração.
 Querela das Investiduras:
 Gregório VII: proibição da investidura leiga;
 Interesse do Imperador: escolher bispos era questão
estratégia para a conservação do seu poder.
o Muitas terras dos bispos.
 O Papa pode tudo dentro da Igreja e nada dentro dela pode ter
validade sem seu consentimento: poder que não conhece limites
ou repreensões  Supremacia da Igreja;
 “Os impactos da reforma gregoriana no direito canônico são
visíveis e importantíssimos. A Igreja estabelecerá um direito
próprio e original, em contraste com a indistinção do período
carolíngio, quando Igreja e Império tinham um direito
público que era ‘direito da Igreja na vida do Império e direito
do Império na vida da Igreja. O direito canônico centraliza ao
redor da Sé Romana a fonte principal do direito, centro
irradiador de todo o poder da Igreja”.
 Elementos para a Dignidade Humana:
o Igualdade:
 Filiação comum a todos os homens: nova compreensão do
homem;
 A ideia antiga de igualdade se refaz sob a perspectiva religiosa.
o Universalidade:
 Permeia todo pensamento cristão.
o “O pensamento medieval, especialmente na alta Idade Média, está longe
de alcançar a autonomia necessária para firmar o conceito de dignidade
humana. Todos os temas de cunho político, filosófico e jurídico são
tratados em uma perspectiva estreitamente ligada à religião”.
o A presença divina, que tanto enfatiza o homem, “não lhe permite um
valor absoluto, pressuposto para a dignidade humana, dado que esta
mesma presença da figura divina traga todo o valor humano para si,
enquanto dom de Deus perfeito e piedoso a uma criatura imperfeita.”

Baixa Idade Média


 Relevância dos Debates sobre o Poder:
o Os debates sobre o poder são de suma importância para a análise que
aqui se desenvolve. Por eles as mentes medievais se voltam para
questões da vida mundana, para os problemas cotidianos, o que
permitirá uma valorização destas questões, outrora secundárias, e,
consequentemente, uma tomada de consciência do valor da obra humana
e do próprio homem.
o As discussões sobre o tema se fizeram necessidade histórica, dado que
as pretensões do poder político medieval e da Igreja se conflitavam e não
poderiam, pela sua própria natureza, comportar um consenso que pusesse
termo à questão.
o Trata-se de um longo e natural processo que ganha forma especialmente
a partir do século XI, momento em que o homem medieval começa a
descobrir-se como indivíduo, em que as questões mundanas começam a
ganhar importante espaço na mente medieval e exigem dele respostas. Os
olhos que sempre estiveram voltados para o céu, e só para ele, descobrem
assim outra direção, o que permite a valorização das questões temporais,
da vida mundana, do homem pelo que é e na realidade em que é. Isto é
decisivo e primordial para a valorização do homem, que não seria
concretizada pela segunda metade da Idade Média se não houvesse todo
o arcabouço preparado anteriormente, ainda que numa total vinculação
da compreensão do homem como ser para Deus.
o O frequente tratamento da justiça neste período é fenômeno
extremamente caro a este trabalho, porque permite perceber como
os olhos humanos se voltam para outros objetos que não Deus.
 Todas as inferências sobre o tema, em um primeiro momento,
estão absolutamente vinculadas à idéia de justiça divina e, com
raras exceções, não são reflexões profundas, posto que a justiça
divina não se dá na sua inteireza à compreensão humana.
 Num segundo momento, já ultrapassada a primeira metade da
Idade Média, num movimento previamente referido de retorno
das especulações para a vida terrena, para o homem, à questão da
justiça se abre um amplo espectro, posto que cabe ao homem
realizá-la no plano temporal, por seus próprios meios.
Evidentemente, o tema é sempre apreciado com referência à idéia
de justiça divina, justiça perfeita que dá os parâmetros da justiça
humana, mas, ainda assim, duas preciosas temáticas se destacam:
primeiro, a preocupação, embora sempre existente agora
reforçada e trabalhada à exaustão, com a realização da justiça
humana como elemento primordial para a vida no plano terreno,
fundamental para a realização do fim do homem na Terra e,
ainda, para a sua preparação para seu fim último; segundo,
porque põe ao homem o desafio de encontrar meios para a
realização dessa justiça, deposita nele confiança, atribui-lhe a
capacidade para tal.
 O tratamento da justiça aqui dá novo fôlego a um movimento que
tem início ainda na Antiguidade e que receberá, a partir de agora,
uma sempre crescente aceleração rumo às concepções da
Modernidade. A idéia de justiça está estritamente atrelada à de
dignidade humana, que não pode ser reconhecida e efetivada sem
a realização daquela. Ao dar ênfase ao tema da justiça, o
Medievo volta-se para o homem e para o seu tratamento
perante os demais e perante o poder político, nascedouro de
direitos e do conseguinte reconhecimento e garantia de valores a
ele atribuídos, gradualmente alimentando a idéia de que o homem
só é homem, ser humano, quando tratado como pessoa, titular de
direitos.
o Os embates políticos que se estabelecem entre a Igreja e o poder
temporal abrem espaço para o desenvolvimento da razão para além
dos limites da fé, na medida em que o poder da Igreja e, acima de tudo,
a sua fundamentação são objeto de discussão.
 Dão margem à delimitação jurídica destes poderes, ao
desenvolvimento do direito como um todo, o que se reflete no
tratamento dispensado à massa submetida a estes poderes.
o A evolução do pensamento que conduz à afirmação e ao questionamento
do poder da Igreja tem seus reflexos imediatos no poder temporal, que
igualmente se vê forçado a buscar fundamentos para sua existência e
que, inevitavelmente, depara-se com o homem como elemento
fundamental para sua consolidação.
o Também por vias indiretas a discussão impulsiona a mente medieval
rumo à crescente valorização do homem, ao exigir deste a reflexão
sobre os embates entre os poderes espiritual e temporal, cuja
solução, por mais que se pretenda buscá-la na Escritura Sagrada,
estava longe de ser definida por elas.
 São Bernardo:
o Toma os dois gládios como símbolo dos dois poderes, o espiritual e o
material, ambos nas mãos da Igreja, embora esta não exerça o segundo
diretamente, contanto com os governantes para tanto. Deste modo, o
poder material é exercido pelo Imperador, ministro da Igreja.
 Egídio Romano, Tiago de Vitelbo e Bonifácio VIII darão
interpretação alternativa a São Bernardo: a supremacia
reivindicada sobre o corpo eclesiástico foi lida como supremacia
reivindicada sobre toda cristandade.
 João de Salisbury: como São Bernardo, é antes de Aristóteles chegar;
o Nos moldes cristãos, o príncipe deve servir ao povo.
o O bem-estar e a salvação pública se coadunam à justiça.
 O governante deve, então, se subordinar à lei , entendida aqui não
como lei humana, mas como lei natural, expressão da lei divina
alcançada pela compreensão humana. O príncipe age com vista à
realização da justiça e não deve nunca crer que seu direito, isto é,
o direito por ele criado, seja superior ou mais justo que a lei
natural. A justiça de Deus é preferível à justiça dos homens.
o Dois gládios: O poder temporal do príncipe deriva de Deus; ele é seu
servidor e de seu povo e submete-se à única detentora do poder
espiritual, a Igreja.
 Século XII: subjetivismo;
o Abelardo;
o Pedro Lombardo.
o O homem submetido e subjugado pela sua própria condição condenável é
substituído por uma visão mais positiva e otimista que se reflete
diretamente na relação com Deus.
 Século XIII: resgate do direito romano empreendido pelos juristas de Bologna
contribui para a consolidação do princípio da propriedade privada, fundamental
para a afirmação da individualidade e, acima de tudo, para que o homem tenha
resguardados alguns direitos seus como forma de proteger a sua existência
moral, etapa de um processo que resultará na sua afirmação como pessoa titular
de direitos.
o Por outro lado, a Igreja também enfrentará dificuldades e passará por
modificações. Começam a despontar movimentos favoráveis ao ideal de
pobreza e de humildade evangélicos, na contramão da organização
religiosa de então.
o Esforço de Fortalecimento do Poder Religioso: O esforço pela submissão
do poder laico resulta em uma autoridade e um sistema jurídico
eclesiásticos que não podem mais ser ignorados pelos príncipes, o que
não significa que sejam plenamente respeitados.
 São Luís: preparou-se para governar como ministro de Deus.
 Aceitou o modelo de papado como um poder régio que se
sobrepõe ao poder do rei.
o Inocêncio III: Inocêncio III dedica-se sobremaneira à ampliação do corpo
legislativo canônico, cujas normas abrangem os mais variados temas e
visam, sobretudo, à regulamentação da sociedade tanto no âmbito
público como no privado. Evidentemente, a atividade legislativa
servia como instrumento para o atendimento de pretensões políticas
da Igreja.
 A grande produção legislativa incentiva a reestruturação do
direito canônico.
 Não só contribuíram para definir a relação entre o papado
e o império, mas ofereceram aos príncipes os
instrumentos teóricos e legais para reforçar a autoridade
do Estado.
 Santo Tomás de Aquino:
o A organização político-social é natural ao homem;
 A sociedade deve contar com um poder que possa organizá-la e
garantir um convívio pacífico.
 O homem depende da organização político-social para atingir seu
fim – há um objetivo para esta que se impõe como bem comum.
 Todos homens tem como fim a perfeição: a realização de
suas potencialidades plenamente.
 A autoridade política tem como objeto o bem de todos os
cidadãos.
 Não é consequência do pecado original  contra Agostinho
 O Estado se estrutura numa hierarquia de fins com vista
ao bem comum: reconhecimento de uma finalidade
peculiar do Estado.
o A justiça está em plena consonância com o bem comum.
 A igualdade com vista ao outro é transposição da caritas cristã ao
plano do direito e da justiça humana.
o Lei: realiza a justiça na sociedade, concilia os interesses privados para o
bem comum.
 Dimensão Objetiva: o sujeito emanador não é tão relevante
quanto o conteúdo objetivo;
 É próprio da lei induzir os súditos à própria virtude.
 A lei humana não deve ter um conteúdo definido estritamente
pelo poder que a cria e a impões – é fundamental a adequação da
lei humana à vontade divina (lei eterna, lei natural).
 A lei positiva pode ser justa se conforme a razão divina:
mais justo o governo quanto mais racional ele for.
 A lei humana e a lei natureza servem a fins terrenos, mas o
Estado não é capaz de, sozinho, conduzir o homem para seu fim
último, o que justifica a necessidade da lei divina.
 A obediência às leis humanas tem um fator limitador, a justiça da
lei e a resistência às leis injustas: a defesa do bem comum é ato
legítimo.
 Admite-se a resistência contra o tirano.
o O Estado e A Igreja: “o poder secular está subordinado ao espiritual do
mesmo modo que o corpo à alma”.
 À Igreja é garantia supremacia perante o Estado e é garantido o
governo de todos os cristãos por meio do governo dos príncipes.
 Assim, o Estado cuida da finalidade que lhe é atinente e tem certa
autonomia em relação ela, ao passo que a Igreja cuida de um fim
maior, a finalidade última do homem, apropriada a toda a
cristandade - e não a Estados específicos - e hierarquicamente
superior a qualquer outro objetivo. Nesta seara, o Estado
encontra-se subordinado à Igreja, em outras palavras, esta tem
supremacia no tocante a todas as questões concernentes à
finalidade maior do homem.
 Duns Escoto: Escoto reconhece apenas a existência de um direito natural, a
prescrição basilar de amar a Deus, de onde podem ser extraídas inúmeras outras
normas que se ligam diretamente a ela, consideradas direito natural em sentido
lato. Todas as demais normas surgem posteriormente em função da sua criação
pela sociedade ou pelo poder. São todas, portanto, frutos da cultura,
contingentes.
 A supremacia do papado e suas prerrogativas perante o poder temporal são
incontestemente defendidas, do mesmo modo que se verifica em outros filósofos
cristãos da época, como Santo Tomás e São Boaventura. O desenvolvimento e o
bem-estar do povo cristão são os objetivos primordiais que justificam as
interferências necessárias da Igreja.
 Dante Alighieri:
o Sua obra política volta-se especialmente ao papado e sua atuação frente
ao poder político, dedicando-lhe críticas cada vez mais severas, o que
coloca Dante como peça chave no caminho de desligamento do poder
político em relação à Igreja, em outras palavras, faz de Dante momento
fundamental na trilha que conduzirá ao Estado laico.
o Monarquia Universal:
 Citando expressamente Aristóteles, lembra então que, se muitas
coisas estão voltadas para um único fim, é conveniente que uma
delas governe o todo.
 Império que governe o gênero humano como um todo.
o Dualidade dos Fins e Independência dos Poderes: afastamento da Igreja
como poder espiritual que se sobrepõe ao poder político temporal
 O poder temporal deriva diretamente de Deus, sem
intermediários, confirmando a tendência do período, como
anteriormente explicitado, de crítica e questionamento do papel
da Igreja acarretado pela degeneração da instituição cuja política
empreendida não se coadunava com a sua finalidade primordial.
 A subtração do poder temporal em relação ao poder da Igreja se
dá devido à negação dantesca de existência de hierarquia entre os
poderes, ambos têm sua legitimidade em Deus. Da dualidade
humana e, consequentemente da dualidade de fins, chega-se à
conclusão da independência dos poderes, posto que cada um
deve se dedicar ao fim que lhe é pertinente.
 Isso significa reconhecer que as obras do ser humano
poderiam ser legítimas por si mesmas.
o Governo ideal é o governo que realiza a justiça, a liberdade, que se guia
pela razão, não pelos apetites.
 O âmbito político abre espaço para uma valorização do homem que extravasa a
esfera religiosa-moral pela própria subtração do poder temporal do poder da
Igreja. Tal valorização atinge, assim, o âmbito do direito e nele encontrará uma
acolhida cada vez maior até a consolidação da idéia de direitos inerentes ao ser
humano que resguardam o seu valor inexprimível quantitativamente.
 Reação: Egídio Romano e Bonifácio VIII
o Supremacia do papado e da dependência do poder temporal em relação a
ele.
o A fundamentação da supremacia do poder da Igreja encontra guarida na
cosmovisão metafísica neoplatônica, segundo a qual há uma hierarquia
na ordem universal dos seres. Quanto mais baixo o posto na hierarquia,
mais materialidade. O Uno é o supremo grau de espiritualidade ao qual
todo o restante se submete, convertendo a multiplicidade em unicidade e
a materialidade em espiritualidade.
 Dionísio: É lei da divindade reduzir as coisas ínfimas às
supremas passando pelas intermediárias.
o Estes argumentos estão articulados na Bula Unam Sanctam, de Bonifácio
VIII, por meio de um silogismo no qual a premissa maior é a tese de São
Paulo sobre a origem do poder, a menor, de Dionísio e a conclusão, a
tese dos dois gládios.
o O poder espiritual pode julgar o poder temporal.
o Embora o gládio material fique sob a responsabilidade do poder
temporal, o sumo pontífice continua sendo o seu único e real detentor.
Assim, embora não faça uso direto, ele estará sempre a sua disposição.
o Há um esforço sem medida para a defesa da superioridade do poder da
Igreja, um desafio que cresce na mesma proporção da relevância e da
transformação do poder temporal, cuja trilha inevitavelmente
resultaria na sua autonomia, o que para a Igreja tinha efeito de
superioridade.
 Guilherme de Ockham:
o Oposição ao poder ilimitado do papa;
o O direito dos homens institui o imperador e ele deve prevalecer sempre
desde que condizente com o direito natural e o direito divino.
o Subordina o papa ao imperador.
 A submissão é facilmente constatada e reconhecida pelo próprio
papado que admite expressamente a obrigação de pagar tributos
sobre seus bens materiais ao imperador no Livro Extra das
Decretais. Guilherme de Ockham destaca que neste Livro, o
imperador recebe o tratamento de senhor. A despeito disso,
insiste na diferença entre a natureza dos dois poderes e na
separação entre eles.
o De fato, a assunção do homem individual como única realidade concreta,
a conseguinte valorização da experiência na produção do conhecimento,
assim como a separação entre a razão e a fé o levam, inevitavelmente, a
uma separação entre o poder temporal e o espiritual e, acima de
tudo, a uma valorização do homem enquanto indivíduo dentro desta
perspectiva.
 João Quidort: dá continuidade às críticas à intervenção da Igreja em questões
temporais, sobretudo políticas.
o Estado Nacional:
o Na verdade, João Quidort pertence a uma corrente que ganhará cada vez
mais força e que se consolida na própria figura do Estado nacional.
Assim, tanto à Igreja quanto o Imperador têm seus poderes,
pretensamente universais, negados em tal qualidade, de onde decorre
uma defesa dos poderes nacionais. A exclusão da participação ativa da
Igreja somada ao papel periférico reservado ao império deixa livre o
caminho à organização dos Estados.
o Igreja e Estado:
 Sendo a instituição do reino algo natural ao ser humano, ele se
institui independente da intervenção da Igreja, devido à vontade
dos indivíduos e tem sua legitimidade derivada da própria
natureza humana. Conclui-se que o poder temporal não tem sua
origem, tampouco sua legitimidade, fundadas no poder
espiritual, colocando-se de modo indubitavelmente autônomo.
O reino tem seus próprios fins que motivam sua criação e
qualquer organização político-social pode alcançar estes fins.
 À Igreja é reservado um lugar junto ao corpo social, pois o
homem tem um fim transcendente.
 Cabe, portanto, à Igreja, na qualidade de representante no
plano temporal, conduzir o homem ao seu fim e, a
exemplo do próprio Cristo, em sua passagem pela
Terra, não deve se ocupar de questões relativas ao
poder temporal, à exceção de sua própria administração
e da função jurisdicional frente a clérigos transgressores
dos cânones.
 Fundamentação do reino na natureza humana: põe no homem, e
somente nele, sem qualquer menção à sua condição de criatura
imperfeita e absolutamente dependente de Deus, o fundamento do
poder temporal.
 Bonifácio VII v. Felipe, o Belo:
o França de São Luís compreendia o papado como um poder religioso real,
superior à realeza mundana, construída pelos homens puramente. No
período carolíngio, a relação construída entre o poder político e o
espiritual servira tanto à Igreja quanto ao rei. Daí em diante, o que se viu
foi um constante esforço pela consolidação da supremacia da Igreja, da
plenitude de poder perante a esfera temporal. No século XIII,
especialmente com Filipe IV, o Belo, a realeza não quer mais se
submeter ao poder eclesiástico. Em sentido contrário às pretensões de
Bonifácio VIII, expressas no pensamento de Egídio Romano, Filipe IV
procurava reivindicar a anterioridade do reino da França em
relação ao ordenamento eclesiástico como meio de não se submeter à
Igreja e ainda dispor do direito de fiscalizar e interferir nas igrejas
locais
o

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