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RUÍDO URBANO E ARQUITETURA

EM CLIMA TROPICAL-ÚMIDO

Maria Lygia Alves de Niemeyer

Dissertação apresentada ao Corpo Docente da Coordenação do Programa Pós-Graduação em


Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
como parte dos requisitos necessários para obtenção de grau de Mestre em Ciências de
Arquitetura, área de concentração Conforto Ambiental.

Aprovada por:

_______________________________________________
Prof. Jules Ghislain Slama, D. Sc. - Orientador da Tese

_______________________________________________
Prof. Liana de Ranieri Pereira, D. Sc.

_______________________________________________
Prof. Cláudia Barroso-Krause, D. Sc.

_______________________________________________
Prof. Mauro César de Oliveira Santos, D. Sc.

222

Rio de Janeiro, RJ - Brasil


Março de 1998
ii

NIEMEYER, MARIA LYGIA ALVES DE

Ruído Urbano e Arquitetura em Clima Tropical


Úmido, Rio de Janeiro, FAU / UFRJ, 1998

x, 154 f.
Dissertação: Mestre em Ciências da Arquitetura
(Conforto Ambiental)
1. Acústica Ambiental
2. Acústica Arquitetônica
3. Ruído Urbano
I. Universidade Federal do Rio de Janeiro -
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
II. Título (série)
iii

AGRADECIMENTOS

Aos membros da banca, particularmente ao professor Jules


Slama, pela atenção e amizade com que me orientou pelos
caminhos da acústica.

A minha irmã Maria Lúcia, pela carinhosa revisão bibliográfica.

A minha mãe Rosa, por sua infinita paciência com minha


impaciência.

A todos os colegas do Programa de Pós-Graduação e do


Departamento de Tecnologia da Construção que, direta ou
indiretamente me apoiaram e incentivaram na execução deste
trabalho.

E, em especial, ao meu filho Gustavo.


iv

Resumo da Dissertação apresentada ao Corpo Docente da Coordenação do


Programa Pós-Graduação em Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos
necessários para obtenção de grau de Mestre em Ciências de Arquitetura (M. Sc.)

RUÍDO URBANO E ARQUITETURA EM CLIMA TROPICAL-ÚMIDO

Maria Lygia Alves de Niemeyer


Abril de 1998

Orientador: Jules Ghislain Slama


Programa: Conforto Ambiental - Acústica

O objetivo deste trabalho é estudar o comportamento do ruído nas cidades,


verificando como se processam os fenômenos relativos à propagação sonora
diante das formas urbanas.

É realizada a revisão bibliográfica dos elementos do ruído urbano e dos


conceitos de permeabilidade e espessura. As estratégias de conforto acústico são
interpretadas e adaptadas para uso em edificações situadas em clima quente-
úmido.

São propostas recomendações no sentido de melhorar a qualidade global


do ambiente construído, nas escalas arquitetônica e urbanística, através da
compatibilização de bons índices de conforto higro-térmico e acústico.
v

Summary of Thesis presented to the Post-Graduate Studies in Architecture


Program’s Teaching Staff, of the School of Architecture and Urbanism of the
Universidade Federal do Rio de Janeiro as part of the requirements needed to
obtain the Master’s degree in Architectural Sciences (M. Sc.)

URBAN NOISE AND ARCHITECTURE IN HOT-HUMID CLIMATE

Maria Lygia Alves de Niemeyer


April 1998

Advisor: Jules Ghislain Slama


Program: Environmental Comfort - Acoustics

The purpose of this work is to study the behavior of noise in cities, checking
how the phenomenons related to the sound propagation are processed in face of
the urban forms.

The bibliographic review of the urban noise elements and the concepts of
the permeability and thickness is done. The acoustical comfort strategies are
interpreteted and adapted for the use in buildings located in hot-humid climate.

Recommendations aiming at improving the global built environment quality,


in architectural and urbanistic scales, through the compatibility of good levels of
higro-thermic and acoustic comfort.
vi

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1

I . UM POUCO DA HISTÓRIA DAS CIDADES 6


I.1. Origem e Evolução 7
I.2. Ruído e Urbanização 16

II . CONFORTO TÉRMICO EM CLIMA TROPICAL-ÚMIDO 20


II.1. Conforto Higro-Térmico 20
II.2. Clima e Microclima 20
II.3. Interpretação dos Dados Climáticos 21
II.3.1. Diagramas Bioclimáticos 21
II.3.2. Diagramas Solares 23
II.3.3. Tabelas de Mahoney 24
II.4.O Clima Tropical Úmido 25
II.4.1. Diretrizes para Projeto 25
II.4.1.1. Ventilação 26
II.4.1.1. Radiação Solar 26
II.4.1.1.Materiais Indicados 27
II.4.2. Conforto Térmico x Conforto Acústico 27

III . O SOM - CONCEITOS BÁSICOS 28


III. 1. Definição 30
III.2. A onda Sonora 30
III.3. Análise espectral 33
III.4. Ruído 34
III.4.1. Tipos de Ruído 34
III.5. Grandezas Sonoras 34
III.5.1. Pressão Sonora 35
III.5.2. Intensidade Sonora 35
III.5.3. Potência Sonora 36
III.6. Níveis Sonoros 36
III.6.1. Bel e decibel 36
III.6.2.Nível de Intensidade Sonora 37
III.6.3.Nível de Pressão Sonora 37
III.6.2.Nível de Potência Sonora 38
vii

III.7. Fonte 39
III.8. Atenuação sonora 39
III.9. Combinação de Níveis Sonoros 41
III.10. Mudança de Meio de Propagação 42
III.10.1. Reflexão 43
III.10.2. Absorção 43
III.10.3. Transmissão 44
III.10.4. Difração 44
III.11. Campo Acústico 45
III.11.1. Campo Direto 45
III.11.2. Campo Reverberante 46

IV . O RUÍDO E O HOMEM 49
IV.1. O ouvido humano 50
IV.2. Limiares auditivos 51
IV.3. Sonoridade 52
IV.4. A curva de ponderação (A) 54
IV.5. A percepção sonora 55
IV.5.1.Ruído x Silêncio 55
IV.5.2. Mascaramento 58
IV.6. Efeitos do ruído no homem 59
IV.6.1. Efeitos Sobre o Sistema Auditivo 60
IV.6.2. Efeitos Não Auditivos 61
IV.6.3. Ultrasons e Infrasons 63

V. QUALIDADE ACÚSTICA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO 64


V.1. Acústica de Salas 65
V.2. Ecos 66
V.3. Tempo de Reverberação 66
V.4. Interferência na Comunicação 68
V.4.1. Teste de Articulação 69
V.4.2. Nível de Interferência na Comunicação 70
V.4.3. Intimidade x Privacidade 71
V.5. Materiais Absorventes 72
V.6. Materiais Isolantes 74
viii

VI . ELEMENTOS DO RUÍDO URBANO 76


VI.1. Emissão 77
VI.1.1. As Fontes de Ruído Urbano 77
VI.1.2. Ruído do Tráfego 78
VI.1.2.1. Espectro do Ruído de Tráfego 80
VI.2. Propagação 81
VI.2.1. Efeito da Distância 81
VI.2.2. Efeito do Tipo de Solo 83
VI.2.3. Efeito da Vegetação 84
VI.2.4. Reflexão 85
VI.2.5. Transmissão 86
VI.2.6. Difração 87
VI.2.6.1. Cálculo de Barreiras 87
VI.2.7. Propagação em Canais 91
VI.3. Espaços Sonoros Urbanos 92
VI.3.1. Tecido Urbano 93
VI.3.2. Espaço Acústico Aberto x Espaço Acústico Fechado 94
VI.3.3. A via 97
VI.3.4. A rua 100
VI.3.4.1. Previsão dos Níveis Sonoros 101
VI.3.5. A quadra 103
VI.3.6. O envelope da Quadra 105
VI.3.7. Permeabilidade 106
VI.3.7.1. Permeabilidade do tecido Urbano 106
VI.3.7.2. Permeabilidade do Edifício 109
VI.3.8. Espessura 110
VI.3.8.1. Espessura da Fachada 111
VI.3.8.2. Espessura do envelope da Quadra 112
VI.4. Estudo sobre Maquetes

VII . CONTROLE DE RUÍDO URBANO 113


VII.1. Medição do ruído 114
VII.2. Análise dos Resultados 115
VII.2.1. Índices Estatísticos 115
VII.2.2. Nível Sonoro Equivalente (Leq) 116
VII.3. Critérios de Ruído 118
VII.4. Meio Ambiente e Poluição Sonora 122
VII.4.1. Avaliação do Ruído - NBR-10151 122
VII.4.2. Alternativas para Controle de Ruído 124
VII.4.3. Critério da Emergência do Ruído 127
ix

VIII. RECOMENDAÇÕES PARA CONFORTO ACÚSTICO 130


VIII.1. Emissão
VIII.2. Meio de Propagação
VIII.2.1. Distância Fonte / Receptor
VIII.2.2. Implantação
VIII.2.3.Barreiras
VIII.2.3.1. Barreiras Simples e Duplas
VIII.2.3.2. Edifício Barreira
VIII.2.3.3. Movimentos de Terra
VIII.2.3.4. No Edifício
VIII.2.4. Escalonamento
VIII.2.4.1. Entorno da Via
VIII.2.4.2. No Edifício
VIII.2.5. Hierarquização de Uso
VIII.2.5.1. Entorno da via
VIII.2.5.2. Entorno do Edifício
VIII.2.5.3. Interior do Edifício
VIII.2.6. Fachadas
VIII.2.6.1. Isolamento da Fachada
VIII.2.6.2. Espessura da Fachada

CONCLUSÕES

BIBLIOGRAFIA
x

“É necessário, para reconhecer a presença do


fenômeno acústico no domínio das formas, ser, não o
especialista, mas o artista, o ser sensível às coisas do
universo. É o ouvido que “vê” as proporções. Existe
música na proporção visual”
Le Corbusier
INTRODUÇÃO
2

INTRODUÇÃO

As metrópoles modernas alcançaram, notadamente nos países


desenvolvidos, o mais alto padrão de vida já atingido em toda a história da
humanidade. Oferecem, para milhares de pessoas, oportunidades que podem
parecer bastante atraentes, principalmente quanto à educação e ao lazer. Por
outro lado, apresentam problemas extremamente graves Os maiores são, sem
dúvida, os de ordem social e econômica, porém, a questão do meio ambiente
criado é grave e não pode ser negligenciada na tarefa da construção urbana.

Uma cidade que cresce sem planejamento adequado do uso do solo, sem
parâmetros de verticalização e ocupação, principalmente em países que dispõe
de poucos recursos, compromete a qualidade de vida de seus habitantes:
“O descontrole processual em que se dá o uso do solo produz
dificuldades técnicas de implantação de infra-estrutura, altos custos de
urbanização e desconforto ambiental de várias ordens (térmico,
acústico, visual, de circulação). E a contaminação ambiental resultante
implica num lugar desagradável para viver e trabalhar.” [LOMBARDO
(85:18)]
“Em países dependentes, como é o caso do Brasil, em que a maior
parte da população urbana é carente de recursos básicos, tais como
habitação, serviços (água, energia e esgoto) e transporte, a
intervenção a nível tecnológico na correção do espaço urbano torna-se
economicamente inviável. Daí a necessidade de estudos que dêem
subsídios para um controle de ocupação do espaço urbano, fixando
parâmetros físicos para um ambiente mais compatível com a qualidade
de vida humana” [LOMBARDO (85:21)]

A forma física da cidade provoca um impacto sensorial que afeta os seus


habitantes, submetidos a uma enorme carga de tensão perceptiva:
“... sofremos o ruído onipresente (tanto simbólico como acústico) e uma
atmosfera desconfortável, que inclui o ar poluído. A cidade é por
demais quente, por demais ruidosa, por demais contundente; o ar é
desagradável. Muito freqüentemente, as sensações que
experimentamos vão além dos limites de conforto e mesmo de
tolerância”. [DAVIS (72:208)]

As sensações são a resposta humana aos estímulos nervosos provocados


pelas características físicas de um determinado ambiente, um processo que pode
3

ser descrito, nunca mensurado de forma concreta. Da interpretação destas


sensações resulta a percepção, que é um processo infinitamente mais complexo,
influenciado pela memória, desejos e necessidades individuais. Um mesmo
ambiente, em um mesmo momento, pode ser percebido de forma diversa por
duas pessoas.

Um ambiente oferece bom nível de conforto ao usuário quando as


sensações por ele produzidas podem ser consideradas agradáveis em todos os
níveis sensoriais: térmico, acústico, lumínico, olfativo. Entretanto, projetar um
ambiente que apresente um bom índice global de conforto não é tarefa simples.
Cada área de conforto apresenta especificidades que implicam em soluções
arquitetônicas próprias e, não raro, conflitantes.

Em clima tropical-úmido, o estudo de alternativas para compatibilização


entre os confortos térmico e acústico é particularmente relevante. Quase todo o
conhecimento relativo ao controle de ruído urbano é originário de países de clima
temperado ou frio. Ainda não existe um estudo sistemático do controle de ruído
urbano em clima quente quer no âmbito da legislação quer no das soluções
arquitetônicas.

Dadas as características sócio-econômicas da maioria dos países tropicais,


a utilização de técnicas passivas de condicionamento térmico é recomendada
pela possibilidade que oferecem de produzir edificações de baixo consumo
energético. Entretanto, a recomendação da utilização de ventilação natural como
parâmetro básico para obtenção de conforto térmico resulta em construções
extremamente permeáveis ao ruído.

Este trabalho pretende estudar soluções para melhorar a qualidade


acústica do ambiente construído, em cidades de clima tropical úmido, como é o
caso do Rio de Janeiro, propondo alternativas tanto no âmbito do desenho urbano
como no projeto do edifício

No Capítulo I é apresentado um histórico sucinto da evolução das cidades,


ao longo do tempo, buscando determinar em que momentos, e por que motivos,
este processo interferiu na qualidade acústica do ambiente urbano.

O segundo capítulo resume os parâmetros básicos necessários para que o


edifício apresente bom desempenho térmico em clima tropical úmido, enfatizando
aqueles que, mais diretamente, entram em conflito com as soluções clássicas de
conforto acústico.

A revisão de alguns dos fundamentos básicos da Acústica Aplicada é o


tema do Capítulo III. Como existe farta bibliografia a respeito desta matéria são
4

abordados, exclusivamente, os conceitos necessários à compreensão do


problema.

A percepção sonora, os efeitos sobre a saúde física e mental e o


desconforto causado pelo ruído (e pelo silêncio), enfim, a relação entre o Homem
e o mundo sonoro é abordada no Capítulo IV.

O quinto capítulo trata da qualidade acústica do ambiente construído:


parâmetros de avaliação e critérios para especificação de materiais.

A descrição dos elementos típicos do ruído urbano: as fontes, as


características do meio de propagação e a definição de alguns conceitos que,
corretamente explorados, podem contribuir para melhorar a ambiência sonora das
cidades são o tema do Capítulo VI.

No Capítulo VII são apresentados os índices mais freqüentemente


empregados para a análise dos níveis de pressão sonora em ambiente urbano, a
legislação federal vigente e algumas estratégias alternativas para aplicação dos
critérios de ruído das normas brasileiras.

O cruzamento dos aspectos abordados nos capítulos anteriores é realizado


no oitavo capítulo, que apresenta diretrizes para gerenciamento do ruído em
ambiente urbano considerando a existência de dois níveis de intervenção: o
desenho urbano e o edifício.

E, finalmente, são apresentadas algumas conclusões e recomendações


baseadas no que foi estudado ao longo do trabalho.
5

Capítulo I

UM POUCO DA HISTÓRIA DAS CIDADES


6

I. UM POUCO DA HISTÓRIA DAS CIDADES

I.1. Origem e Evolução

A cidade é um fato histórico, geográfico, mas, acima de tudo, social. A


História da Civilização coincide com aparecimento da cidade - do latim civitate -
há cerca de 6000 anos.

A pré-história conheceu as proto-cidades, aldeias rurais que mudavam de


lugar com o esgotamento do solo. Ao fim do período neolítico, o homem começou
a irrigar, arar, observar a melhor época para o plantio, enfim, descobriu os
processos agrícolas racionais. Passou a ter, pela primeira vez, excedentes
agrícolas e pôde se tornar um pouco mais sedentário.

A criação de gado e o plantio da terra não podem ser desenvolvidos em


uma mesma área. Com a separação física destas duas atividades, o agricultor e o
pastor protagonizaram a primeira divisão social do trabalho. Contudo, surgiu a
necessidade de postos onde produtos agrícolas e animais pudessem ser
permutados e de escribas para registrar as trocas. Em torno desses postos de
troca, pouco a pouco, foram se instalando sacerdotes, soldados, artesãos.
Ferrarri1 citando Artur Korn, destaca o papel político da cidade nesta nova ordem
social, e a progressiva desintegração da sociedade tribal pela divisão do trabalho.

O rio é o elemento unificador dos primitivos Estados. A fertilidade do solo,


facilidade de irrigação e de transporte propiciaram o aparecimento de. diversas
cidades na Mesopotâmia, Vale do Nilo, Bacia do Hindus e Palestina. Vários
autores apontam Ombos (4000 AC)., no Egito, como a mais antiga cidade do
mundo.

O traçado das cidades de Harapá e Moenjo-Daro, no Paquistão, obedecia


a um sistema ortogonal, ou tabuleiro de xadrez, característica singular para a
época, tendo sido encontrados vestígios de sistema de esgoto dinâmico nas ruas.
As casas eram voltadas para o centro da quadra, as paredes externas isolando o
ambiente interno do externo, o que, além da evidente função de defesa, podia
também representar uma possível solução de conforto térmico.

1
FERRARI, Celso. Curso de Planejamento Municipal Integrado. São Paulo: Livraria Pioneira Ed,1973. p. 211
7

Por ter uma economia baseada na agricultura, o ciclo urbano da China


começou tardiamente. A cidade de Ki, hoje Pequim, em 1100 AC, recebeu em
1409 um tratamento urbanístico, com avenidas, parques e jardins, que até hoje
pode ser considerado grandioso.

Figura I.1 - Mileto (FERRARI, p.217)

Em torno de 2000 AC, na ilha de Creta, no mar Egeu, cidades como


Cnossos, Faistos e Mália, possuíam ruas em curva de nível, estreitas e
pavimentadas com rede de água e esgoto . Em 1450 AC, com a invasão de Creta
pelos aqueus, Micenas, capital da federação das cidades-estado da península,
assumiu posição de destaque. As cidades micênicas, que deram origem às
primitivas cidades gregas, eram labirintos de becos, cercados por muralhas de
pedra ciclópica. Não existia sistema de drenagem e a rua, com abaulamento
invertido, servia como canal de esgoto. Com exceção dos templos e muralhas, os
edifícios eram simples e perecíveis.

Um dos primeiros urbanistas de que se tem notícia, Hipódamos de Mileto


(século V AC), foi reconhecido como o pai do sistema xadrez, estabelecido para
diversas cidades gregas, até o descobrimento de Harapá e Moenjo-Daro.
8

Hipódamos dimensionava e orientava as ruas segundo a intensidade de


seus usos. São atribuídas a ele e seus discípulos, as cidades de Pireu, Túrio,
Rodas, Mileto, Nicéia e Alexandria, todas obedecendo à distribuição ortogonal da
malha viária. Mileto, reconstruída em 494 AC, segundo plano de seu filho, possuía
área de 90 ha, dos quais 52 ha eram ocupados por parques e jardins.

Hipódamos procurava atingir a especialização de função das zonas


urbanas e buscava efeitos estéticos. Colocava a ágora (espaço cívico) no centro
geométrico da cidade, próxima dos edifícios públicos. A cidade grega era
orgânica, cada espaço se destinando a cumprir uma função específica. Por sua
forma e características, a cidade moderna tem suas raízes na Grécia.

No século X AC os etruscos, vindos da Ásia Menor, fundam seu império na


península itálica. A partir de meados do século VIII AC, os gregos passam,
também, a fundar colônias na referida península.

Figura I.2 - Roma (FERRARI, p. 220)

Presume-se que Roma tenha sido fundada no ano de 754 AC, por
descendentes dos antigos troianos. Em seu apogeu (século V A.C.), a cidade
atingiu uma população de 3000 habitantes2, número significativo mesmo para os
padrões atuais. Possuía 19 aquedutos que, juntos, forneciam 1.000.000 m3/dia à
cidade, sistema de esgotos dinâmico, ruas pavimentadas, 80 palácios e 46602
apartamentos. O alto padrão tecnológico permitiu a construção de prédios de até
8 pavimentos. Roma é um sugestivo exemplo da influência da técnica sobre o
desenvolvimento urbano.

22
DAVIS, Kingsley et al. Cidades - A Urbanização da Humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972. p.
47.
9

As colônias fundadas pelos romanos, todas construídas segundo o sistema


ortogonal, eram cercadas de muralhas que defendiam sua população sedentária
dos ataques externos.

A escravidão que, pouco a pouco, tornou-se a única forma de trabalho


produtivo no Império Romano, relegou o trabalho à condição de atividade inferior.
Como conseqüência, o desenvolvimento tecnológico foi paralisado, a
produtividade decaiu e o Império ficou enfraquecido.

Figura I.3 - Colônias romanas de Tingad e Silchester (Fonte FERRRARI , p. 220)

A queda do Império Romano do Ocidente, em 476, marcou o início da


Idade Média. A Europa mergulhou em um estado de guerra permanente.

Entre os séculos V e IX ocorreu um processo de “desurbanização”. O fato


serem as cidades alvo fácil para pilhagens dos povos bárbaros, provocou um
êxodo em direção aos campos. Surgiu, na Europa, o feudalismo. Viena, na
Áustria, chegou a desaparecer dos mapas europeus por dois séculos. A
população de Roma, no período de Carlos Magno chegou a ter apenas 20.000
habitantes. As estradas foram abandonadas.

As cidades, com exceção das portuárias, foram, pouco a pouco,


desaparecendo, restando pequenos burgos, de traçado irregular. As ruas eram
estreitas, embora pavimentadas, e com sistema de esgotos estático. As casas se
fechavam para a rua, como defesa contra o mau cheiro.

O centro da vida comunitária era a igreja e o regime teocrático - a Igreja


domina os homens e as terras. Alguns mosteiros fundados por religiosos deram
origem, mais tarde, a cidades.
10

Os séculos IX, X e XI assistiram a uma sucessão de invasões de bárbaros


sobre a Europa. A chegada dos árabes ao Mediterrâneo interrompeu,
temporariamente, o comércio marítimo. A população se defendia dos invasores
abrigando-se em burgos ou castelos fortificados, na Inglaterra, e em baluartes, na
França. O burgo atraía também artesãos e comerciantes.
O capital comercial se expandiu pelas rotas marítimas do Mediterrâneo,
originando uma burguesia rica, que começava a se equiparar aos aristocráticos
senhores feudais. O crédito e o capital usurário fazem a fortuna de famílias como
os Fugger, os Peruzi e os Médici. O poder dos bispos sobre as cidades ainda era
total. Os primeiros movimentos reivindicando o retorno ao poder temporal
municipal, apareceram entre os séculos XI e XII.
Certas mercadorias eram obrigadas a pagar altas tarifas de pedágio para
atravessar as propriedades dos senhores feudais e chegar a seu destino. Com o
objetivo de enfraquecer estes senhores, e eliminar a cobrança de pedágio, as
grandes famílias de mercadores financiaram a implantação de monarquias. O fim
da Idade Média assistiu à consolidação das tiranias.
Aquele foi um período de acelerada urbanização. Durante o século XII,
cidades como Paris, Veneza e Florença praticamente dobraram sua população. A
cidade do final da Idade Média era burguesa e seu perfil dominado pelo castelo e
pela catedral. Qualitativamente, era superiore à cidade da antigüidade: possuia
hospital, estalagem e asilos para velhos e pobres. Não existia, no entanto, jardim
público. O jardim era particular e funcionava também como pomar. Nele eram
cultivadas flores, hortaliças e árvores frutíferas.
A origem dos tempos modernos, sob o aspecto cultural, se dá com a
Renascença, movimento que, entre os séculos XVI e XVII, com o retorno à
Antiguidade Clássica, provocou uma revolução cultural, social e religiosa.
A queda de Constantinopla (1453) provocou o deslocamento, para o
Atlântico, do comércio até então realizado através do Mediterrâneo. É o início do
ciclo das grandes navegações. O mercantilismo, apoiado pela expansão dos
capitais comercial e usurário, se fortaleceu, e preparou o caminho para o futuro
capitalismo.
Neste período histórico as cidades continuaram a aumentar sua
importância. As muralhas defensivas tornaram-se obsoletas diante dos canhões.
11

As cidades desceram das colinas para as planícies. A praça, de onde os


canhões defendiam as portas da cidade, era o centro de onde partiam as ruas,
quase sempre de traçado regular. Arquitetura, Arte Urbana e Planejamento
Urbano se confundem. A igreja ou catedral ganharam posição de destaque no
centro de grandes jardins. Fontes, estátuas e obeliscos decoraram as praças.
Em fins do século XVI a cidade era, principalmente, um espaço político,
centro de decisões, de grande importância estratégica. As leis da perspectiva
eram usadas no traçado urbano. As construções, de caráter monumental, eram
valorizadas por ruas largas que para elas confluiam. Grandes praças, de função
meramente decorativa, foram projetadas. Datam deste período as praças de São
Pedro (Roma), São Marco (Veneza) e De Vosges e das Vitórias (Paris).

Figura I.4- Calrsruhe (1715) - (FERRARI, p. 228)

Até então os jardins eram resultado da apropriação de espaços verdes


naturais, cercados e tratados, ou de áreas verdes domésticas cultivadas. Durante
a Renascença, passaram a obedecer a traçados geométricos e foram
escalonados em diversos planos. Eram jardins monumentais, projetados para
serem vistos e pouco usufruídos.

O traçado das cidades barrocas era bastante semelhante ao das cidades


clássicas. A diferença residiu na arquitetura urbana, mais rica e movimentada que
a do período anterior. Persistiu o monumentalismo clássico nas praças e jardins e
12

os traçado rádio-concêntricos. Em Paris, são barrocas as praças de Versalhes,


Vendôme e Concórdia e as ruas de La Paix, de Rivoli e des Pyramides. Inspirado
na rua de Rivoli, John Nash projetou, para Londres, a Regent Street. Os projetos
de Haussmann, em Paris, retomaram a linguagem clássica.
Sob a influência de autores como Rousseau e Milton, que preconizaram um
retorno à natureza, o artificialismo geométrico foi atenuado. No século XVI, o
jardim clássico deu lugar a parques, com árvores e córregos, reunidos de forma
intencionalmente desalinhada. Bons exemplos deste período são: Kensington,
Green Park e Hyde Park, em Londres
Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, diversas invenções e
descobertas, nos campos das engenharias mecânica e elétrica, abriram caminho
para o aparecimento do industrialismo e do capitalismo.
O surgimento da fiação e tecelagem mecânicas, e o consequente
aparecimento das fábricas, deixaram sem trabalho um grande contingente de
artesãos que, até então, exerciam seu ofício em casa. A combinação de três
elementos: abundância de mão de obra, grande capital comercial e usurário
acumulado e o mercado consumidor, representado pelas colônias, permitiu que
alguns países europeus, principalmente França e Inglaterra, dessem origem ao
sistema capitalista, baseado na livres forças do mercado.

Figura I.5 - Esquema Teórico da Cidade Linear (FERRARI, p.235)

As indústrias instalaram-se nas cidades devido à proximidade da mão de


obra e do mercado consumidor. Pela primeira vez, em toda a História, as cidades
se tornaram o centro de produção. A divisão do espaço urbano se deu segundo
zonas caracterizadas pelas atividades funcionais preponderantes: comércio,
indústria e residências de baixo, médio e alto padrão, que refletiram a divisão de
13

classes sociais. O crescimento da população urbana foi explosivo, nunca as


cidades cresceram tanto quanto no regime capitalista. O saneamento básico
passou a ser uma grande preocupação: cidades inteiras foram atingidas por
epidemias.

Figura I.6 - A Cidade Industrial de Garnier (FERRARI, p. 240)

Os problemas urbanos começaram a preocupar os governantes, surgem as


primeiras leis urbanísticas. Em 1835, na Grécia, foram fixadas normas para
projeto e implantação de cidades e vilas. Na Itália, em 1865, foi elaborada
legislação urbanística que dispunha sobre saneamento, comunicação e estética.
Em 1874, uma lei sueca passou a exigir que toda a cidade com mais de dez mil
habitantes possuísse um plano de expansão. O exemplo foi seguido pela Prússia,
Holanda, Inglaterra e França.

Figura I.7 - Cidade Jardim (FERRARI, p.238)


14

As designações “urbanização” e “urbanismo” foram formuladas pela


primeira vez por Ildefonso Cerdá, em sua obra “Teoria Geral da Urbanização”, de
1867.
O urbanismo moderno começou com as teorias de Arturo Soria y Mata,
com a cidade linear (1882); Camillo Sitte, e suas preocupações com a estética
urbana (1889); Ebezener Howard, criador da cidade jardim (1898); Tony Garnier,
com a cidade industrial (1901) e Patrick Guedes e suas originais concepções
teóricas (1915).
Passado este período inicial, surgiu Le Corbusier e o chamado urbanismo
racionalista, segundo o qual grandes densidades demográficas são, sob o
aspecto econômico, perfeitamente aceitáveis. Foi apologista do arranha-céu, a
máquina de morar.

Figura I.8 - A Cidade Contemporânea de Le corbusier (FERRARI, p. 242)

O urbanismo orgânico, representado pelos arquitetos Frank Lloyd Wright e


Alvar Aalto se contrapunha às teorias de Le Corbusier. Esta teoria pretende que a
cidade tenha a estrutura de um organismo vivo: multicelular, polinucleada. Os
núcleos urbanos são organizados de modo que as funções sejam geradoras da
forma urbana.
Da síntese entre o urbanismo racional e o orgânico se originou o urbanismo
contemporâneo, representado, predominantemente, pelos ingleses. As “New
Towns” foram construídas a partir do “New Town Act”, editado pelo governo inglês
em 1946, visando a descentralização industrial e urbana de Londres.

II.2. Ruído e Urbanização

Os problemas gerados pelo ruído tornam-se mais e mais pesados à


medida que aumentam o tamanho das cidades, o volume do tráfego, a densidade
15

da malha urbana. A Organização Mundial de Saúde considera que, nos dias de


hoje, a poluição sonora é menos grave, apenas, que as poluições do ar e da
água.
Os habitantes dos grandes centros urbanos tem, permanentemente, seu
espaço social e privativo invadido pelo ruído, como um “nevoeiro sonoro”, que
mascara os sons cotidianos, dificulta a comunicação oral e destrói a identidade
sonora dos ambientes.
Os aglomerados urbanos são associados ao progresso - e ao ruído - desde
o início da história, tendo sido, muitas vezes, considerados responsáveis por
desequilíbrio ambiental:
‘’Em 1600 A.C. Tebas, no Egito, possuía 250.000 habitantes e seus
habitantes queixavam-se já da insuportável poluição atmosférica e do
tráfego na cidade”3.
A praça do mercado, a ágora grega e as feiras da Idade Média, tinham a
ambiência ruidosa como uma de suas principais características. Eram,
entretanto, espaços dotados de identidade sonora própria, compatível com as
atividades que neles se desenvolviam.
As primeiras cidades surgiram há cerca de 5.500 anos, a urbanização em
grande escala, no entanto, iniciou-se há pouco mais de um século:
“O processo de urbanização alcançou proporções significativas de
expressão espacial a partir de meados do século XIX. Com a expansão
das cidades modifica-se substancialmente a paisagem natural.”4
A difusão do uso do tear mecânico (inventado em 1770) promove a rápida
substituição dos antigos e artesanais de tecelagem pelos processos industriais..
Os novos métodos de produção já representam, por eles mesmos, um acréscimo
substancial na energia sonora emitida pelas atividades produtivas.
Por outro lado, o processo de industrialização e o capitalismo favorecem a
explosão demográfica urbana. As indústrias se localizam nas cidades em função
da proximidade da mão-de-obra e do mercado consumidor. A descoberta do
cimento e a invenção do conversor de Bessemer, para a fabricação do aço,
significam um notável avanço tecnológico, que resulta em novos métodos

3
FERRARI, Op. Cit. p. 213
4
LOMBARDO, Op. cit. p. 23
16

construtivos. A adoção de partidos arquitetônicos verticais e o adensamento da


malha urbana parecem, nesse momento, as únicas soluções possíveis para
acomodar as grandes massas de trabalhadores que se dirigem às cidades em
busca de emprego. Esta nova configuração urbana muda dramaticamente o
cenário da propagação do ruído, principalmente por alterar a relação entre a
largura das ruas e a altura dos edifícios.
O desenvolvimento da máquina a vapor, a construção das primeiras
ferrovias, a primeira extração de petróleo e a invenção do motor à gasolina
modificam, em quantidade e qualidade, o ruído emitido pelos meios de transporte.
Por outro lado o aumento das distâncias, provocado pela expansão geográfica
das cidades, vai tornando, a cada dia, menos viáveis os deslocamentos a pé.

Durante o século XX, principalmente a partir do segundo pós-guerra, ocorre


uma aceleração, ainda maior, dos processos de industrialização e urbanização. O
automóvel torna-se popular. Hoje, cerca de 80% da energia acústica total das
grandes cidades provém da circulação de veículos automotores, e os automóveis,
embora individualmente menos ruidosos que os veículos de grande porte, são,
em conjunto, a maior fonte de ruído urbano.

Mudadas as fontes e as características do meio de propagação, os


habitantes dos grandes centros urbanos, terceiro elemento do trinômio emissão /
propagação / recepção do som foram, conseqüentemente, afetados.
17

Capítulo II

CONFORTO TÉRMICO EM CLIMA TROPICAL-


TROPICAL-
ÚMIDO
18

II . CONFORTO TÉRMICO EM CLIMA TROPICAL-ÚMIDO

II.1. Conforto Higro-


Higro-Térmico

Um ambiente oferece boas condições de conforto higro-térmico quando


seus usuários, submetidos às solicitações de temperatura e umidade locais, não
necessitam recorrer a nenhum mecanismo fisiológico de auto-regulação. A
expressão conforto térmico pode ser usada, como simplificação da linguagem, em
lugar da expressão conforto higro-térmico, mais correta.
Considerando a presença do homem sobre a quase totalidade da
superfície do planeta, cabe ao edifício oferecer abrigo contra os rigores climáticos.
“O processo de construção de uma habitação climaticamente
equilibrada pode ser dividido em quatro etapas, das quais a última é a
arquitetura. A arquitetura deve ser precedida do estudo das variáveis
do clima, biologia e tecnologia”5.

II.2. Clima e Microclima


O clima pode ser definido como: “a integração dos estados físicos do
ambiente atmosférico, característico de certa localidade geográfica, em um
intervalo de tempo dado”6.
Embora ressalvando a interdependência entre elementos e fatores
climáticos, para efeito de estudo, Romero7 adota a seguinte classificação:
• fatores climáticos globais são aqueles que determinam o clima em seus
aspectos macro: radiação solar, latitude, longitude, altitude, ventos e massas
d’água;
• fatores climáticos locais são os responsáveis pelo microclima, aquele que se
verifica em um ponto restrito (cidade, bairro, rua): topografia, vegetação e
superfície do solo, natural ou construído;
• elementos climáticos definem e fornecem os elementos do clima: temperatura e
umidade do ar, precipitações e movimentos do ar.
Uma mesma região climática pode abrigar uma grande variedade de
microclimas. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, a orla marítima, a
5
OLGYAY, Victor, Design with Climate - Bioclimatic Approach to Architetural Reginalism. New Jersey: Princeton
University Press. 1963.p. 11
6
KOENINGSBERGER, O. et al. Viviendas y Edificios en Zonas Cálidas e Tropicales. Madrid: Paraninfo, 1977. p. 20
7
ROMERO, Marta Adriana Bustos., Princípios Bioclimáticos do Desenho Urbano. São Paulo: Projeto Editores
Associados. 1988. p. 19
19

topografia, a cobertura vegetal da Mata Atlântica, as massas d’água


representadas pelas lagoas e os diferentes padrões de ocupação urbana
determinam variações microclimáticas sensíveis.

II.3. Interpretação dos Dados Climáticos


O desempenho térmico de uma edificação está subordinado ao controle
dos efeitos dos elementos climáticos. Deve-se proceder ao levantamento prévio
de dados referentes à temperatura, umidade relativa, radiação solar, direção e
intensidade dos ventos e índices pluviométricos.
Para que sejam de fato úteis à concepção de um projeto, estes dados
devem ser relacionados e interpretados. Com este objetivo, foram desenvolvidas
diversas ferramentas como os diagramas bioclimáticos, as cartas solares, as
tabelas de Mahoney e, mais recentemente, alguns softwares de simulação
climática.

II.3.1. Diagramas Bioclimáticos


Foram os irmãos Olgyay os primeiros a desenvolver um diagrama
bioclimático. Certas combinações de temperatura e umidade determinam uma
zona de conforto. Fora desta zona, o diagrama indica que medidas devem ser
tomadas para amenizar a situação. O trabalho de Vitor Olgyay tem como objetivo
principal avaliar as sensações humanas diante dos fatores climáticos.

Figura II.1 - Diagrama Bioclimático de Olgyay (OLGYAY, p. 23)


20

O diagrama bioclimático desenvolvido, mais tarde, por Givoni, indica, sobre


uma carta psicométrica, os dispositivos arquitetônicos e/ou as técnicas mais
indicadas para cada tipo de clima. Nele está definido um polígono de conforto (1),
onde a velocidade do ar é inferior a 0,1m/s, bem como zonas onde o bem estar
térmico pode ser obtido a partir do uso de determinadas estratégias:

Figura II.2 - Diagrama bioclimático de Givoni (SAMPAIO, p. 181)

• (2) ventilação;
• (3) inércia térmica;
• (4) inércia térmica e ventilação noturna;
• (5) refrigeração por evaporação;
• (6) desumidificação;
• (7) ar condicionado;
• (8) aquecimento;
• (9) aquecimento por meios passivos.

II.3.2. Diagramas Solares

Os diagramas, ou gráficos solares são muito úteis na escolha da melhor


orientação para a construção. A superposição do diagrama à planta do edifício
permite a avaliação tempo de insolação sobre as fachadas e as sombras
21

projetadas, para todas as épocas do ano. Auxiliam ainda o dimensionamento das


projeções dos elementos de proteção contra a radiação solar .
O diagrama de projeção cilíndrica é o de mais fácil construção, bastando
que se conheça a latitude do local estudado e o ângulo de inclinação da terra
(23º). Na figura II.3, o diagrama solar (de projeção cilíndrica) da cidade do Rio de
Janeiro (latitude 22º54’).

Figura II.3 - Diagrama Solar do RJ -Latitude 22º54’ (SAMPAIO, p. 178)

II.3.3.Tabelas de Mahoney

As tabelas de Mahoney foram desenvolvidas pela Associação de Estudos


Tropicais da Associação de Arquitetura do Reino Unido, e, a partir da combinação
dos dados climáticos, oferecem uma série de recomendações para a etapa inicial
de um projeto. A tabela (1). deve ser preenchida com dados referentes a
temperatura e a tabela (2) com dados de umidade relativa, chuva e ventos. A
tabela (3), a partir da combinação dos dados de temperatura e umidade, indica os
limites de conforto diurno e noturno, fornecendo padrões de stress térmico. Na
tabela (4) estes padrões são associados a grupos de sintomas, os indicadores.
Finalmente, a relação entre os indicadores do ano inteiro com os índices
pluviométricos e a umidade relativa definem recomendações relativas à
implantação, afastamento entre construções, posição, dimensionamento e
proteção térmica das aberturas, e materiais.
22

Por trabalhar com médias e limites muito amplos nos grupos de umidade e
temperatura, podem ocorrer, eventualmente, distorções nos resultados. As
recomendações fornecidas pelas tabelas são bem genéricas, cabendo ao
arquiteto adaptar os resultados às situações particulares.

II.4. O Clima Tropical-


Tropical-úmido
De modo geral, o clima tropical -úmido pode ser caracterizado como:
• baixa amplitude térmica diária, dias quentes e úmidos, temperatura noturna um
pouco mais amena e umidade elevada;
• duas estações: verão e inverno, com pequena variação de temperatura entre
elas, período de chuvas indefinido com maiores precipitações no verão;
• radiação difusa muito intensa, a quantidade de vapor dágua na atmosfera
impede a radiação direta intensa;
• alto teor de umidade relativa do ar;
• localização geográfica: entre os trópicos de Câncer (23027’N) e de Capricórnio
(23027’S);
• ventos fracos, direção dominante: sudeste;

II.4.1. Diretrizes para Projeto


Como a variação de temperatura entre inverno e verão é pequena, sendo o
calor o maior problema a ser enfrentado, as diretrizes arquitetônicas válidas para
o verão também podem ser adotadas nos meses de inverno. O controle da
radiação solar e o aproveitamento dos ventos são as principais medidas que
devem ser adotadas para incremento do conforto témico nas edificações.

II.4.1.1. Ventilação
Uma ventilação adequada pode proporcionar boas condições de conforto
térmico sem necessidade de sistemas mecânicos de condicionamento de ar. A
ventilação tem três objetivos principais:
• renovar o ar no interior dos compartimentos;
• promover a perda de calor, por evaporação, e diminuir o desconforto provocado
pelo excesso de umidade;
• esfriar o envoltório do edifício.
23

No interior dos compartimentos a circulação do ar depende das dimensões


e do posicionamento das aberturas, além do tipo de esquadria utilzado.
Entretanto, ainda que os vãos de ventilação estejam corretamente projetados, a
eficiência da ventilação pode ser comprometida por condições externas à
edificação. O movimento do ar, no meio exterior, depende da configuração do
tecido urbano (volume e distribuição espacial dos edifícios).

II.4.1. 2. Radiação Solar

O controle da radiação solar é fundamental para evitar o aquecimento


excessivo das edificações.

Sempre que possível, deve ser adotada planta linear, com as maiores
fachadas voltadas para as direções norte e sul, a fim de reduzir a área de
exposição à radiação solar.

Devem ser utilizados elementos de proteção construídos (beirais,


marquises, varandas e brises) ou naturais (vegetação). Evitar o uso
indiscriminado de vidros ou outrios fechamentos transparentes.

As superfícies externas devem ser claras, para refletir a radiação incidente.

II.4.1.3. Materiais Indicados

As paredes devem ter espessura em torno de 15 cm, e ser construídas


com materiais de baixa inércia. Devido à pequena amplitude térmica diária o uso
da inércia não produz resultados significativos e pode, até mesmo, prejudicar o
desempenho térmico do edifício.

Nas coberturas, deve ser dada preferência a materiais de alta resistência


térmica como as telhas cerâmicas, por exemplo. Materiais como fibro cimento
devem, de preferência, ser associados a isolantes térmicos.
24

II.4.2. Conforto Térmico x Conforto Acústico

As recomendações no sentido de garantir um fluxo suficiente de ar e da


adoção dos materiais de vedação de baixa inécia térmica tornam as construções
extremamente permeáveis ao ruído, quer pela impossibilidade de evitar que os
ruídos aéreos sejam “carregados” pelo vento quer pela pouca resistência à
transmissão que as paredes oferecem.

Uma vez que o edifício não pode oferecer boas condições de isolamento
contra os ruídos externos e conforto térmico por meios passivos,
simultâneamente, outras alternativas devem ser exploradas como, por exemplo, a
espessura da fachada e a utilização do efeito barreira.

A implantação do edifício deve, também, considerar, além da direção dos


ventos e da trajetória solar, a posição do prédio em relação as vias de tráfego.

Os conceitos acima mencionados serão abordados, mais detalhadamente,


nos capítulos VI e VIII.
25

Capítulo III

O SOM - CONCEITOS BÁSICOS


26

III. O SOM - CONCEITOS BÁSICOS

III.1. Definição

O som pode ser definido como “toda e qualquer vibração ou onda


mecânica em um meio elástico dentro da faixa de audio freqüência”. Este é o
conceito psico-físico do som: para a Física existe som sempre que um corpo vibra
e esta vibração é transmitida ao meio que o rodeia, independente do fato de esta
perturbação poder ou não ser percebida pelo aparelho auditivo humano.

Ao vibrar, o corpo produz uma perturbação nas moléculas do meio que o


envolve, de tal forma que estas se deslocam criando, alternadamente, zonas de
compressão (alta pressão) e rarefação (baixa pressão). Esse movimento é
transmitido às moléculas vizinhas produzindo ondas sonoras, alterando a pressão
atmosférica, quando o meio de propagação é o ar. Entretanto, as moléculas do
meio não se deslocam, apenas oscilam em torno de sua posição de equilíbrio. O
som pode ser classificado como aéreo, quando propagado pelo ar, ou de impacto,
se o meio de propagação é sólido.

III.2. A onda Sonora Senoidal:

Figura III.1 - A Onda Sonora Senoidal


27

Uma onda sonora senoidal se desloca segundo um movimento harmônico


simples, ou seja: as variações de pressão no tempo podem ser representadas por
uma curva regular, periódica e senoidal, é chamada de onda senoidal ou tom
puro. Um bom exemplo de tom puro é o som emitido por um diapasão.
Na prática dificilmente encontramos tons puros, entretando os sons
complexos, quando periódicos, podem ser decompostos em uma série de ondas
senoidais. São chamados de periódicos os sons que se repetem de forma
idêntica, a intervalos de tempo regulares.
Um som pode ser caracterizado por alguns parâmetros:
• Período (T): tempo necessário para que uma onda sonora execute um ciclo
completo. A unidade mais freqüentemente usada é o segundo (s).
• Freqüência (f): número de vezes que um ciclo se repete, em um determinado
período de tempo. Pode ser medida em ciclos por segundo (cps) ou em
Hertz (Hz). Quanto maior o número de ciclos, mais alta é a freqüência. As
altas freqüências são características dos sons agudos (1400 a 16000Hz) e
as baixas dos sons graves (20 a 360Hz). Matemáticamente pode ser
descrita como o inverso do período.

f=
• Amplitude (A); o deslocamento máximo atingida por uma molécula, em
relação à sua posição de equilíbrio. Pode ser medida em frações de metro.
• Comprimento de onda (λ): é a distância percorrida pela onda senoidal, em
um ciclo completo. É função da velocidade do som em um meio e da
freqüência. Também pode ser medido em frações de metro.

λ=
• Velocidade do som (c): Pode ser expressa em metros por segundo (m/s) e
varia em função da temperatura, da densidade e da homogeneidade do meio
de propagação. Quanto mais denso o meio, mais rápido é o deslocamento
das ondas sonoras.
Ao ar livre, a alteração da velocidade do som na atmosfera, causada pelas
variações de temperatura, pode provocar a refração das ondas sonoras, ou seja,
as ondas sofrem um ligeiro desvio, em relação à sua trajetória original.
28

A velocidade do som em função da temperatura do ar pode ser calculada


pela seguinte expressão:

c = 332
onde:
c = velocidade do som
t = temperatura do ar em 0C
Tabela III.1
material velocidade do som
(m/s)
ar (200C) 340
água 1460
madeira 1000 a 2000
concreto 3500
tijolo 2500
aço 5000 a 6000
vidro 5000 a 6000
chumbo 1320
cortiça 450 a 500
borracha 40 a 150

III.3. Análise espectral

O som pode também ser descrito, graficamente, através de um par de


coordenadas que mostram sua amplitude em função da frequência: o espectro
sonoro.

Figura III.2 - Descrição Gráfica de Diferentes Ondas Sonoras


29

Assim como a luz pode ser decomposta em diversas cores, a


decomposição espectral (Análise de Fourier) permite a identificação da
quantidade de energia que um som possui nas diferentes freqüências. Como o
ouvido humano não é sensível a pequenas variações de frequência, o espectro
sonoro foi dividido em faixas de oitavas.
Uma oitava é definida por um intervalo em que as frequências máxima e
mínima se encontram na razão de (2:1). As faixas de oitava normalizadas, que
abrangem a faixa audível (ver item IV.2) são as seguintes:
Tabela III.2

31,5 Hz 63 Hz 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz 8000 Hz 16000 Hz

Cada faixa ou banda de oitava é denominada por sua freqüência central


que é a média geométrica entre os extremos.
Para casos que demandam uma análise espectral mais precisa existem
faixas menores, das quais a mais freqüentemente utilizada é a de terço de oitava.

III.4. Ruído
De modo geral, atribui-se a denominação de ruído a todo sinal acústico
indesejado, esta porém é uma definição subjetiva. Do ponto de vista físico, ruído é
a: “mistura de tons cujas freqüências diferem entre si por valor inferior à
discriminação (em freqüência) do ouvido”. O ruído pode ser caracterizado por sua
composição espectral, ou seja, o nível de pressão sonora por banda de oitava (ou
terço de oitava).

III.4.1. Tipos de Ruído


Dependendo do modo como é produzido o ruído pode ser denominado:
ruído aéreo quando é produzido e transmitido através do ar ou ruído de impacto
quando é resulta do impacto sobre um corpo sólido e transmitido através do ar.
Dois tipos de ruído, por sua composição espactral característica são
usados como referência:
• Ruído Rosa: som cuja densidade espectral é inversamente proporcional à
frequência. A energia sonora é a mesma, para todas as faixas de
frequência. É utilizado na determinação do Tempo de Reverberação (ver
item V.3).
30

• Ruído Branco: Todas as frequências tem o mesmo nível de pressão


sonora. A energia sonora contida em uma banda de oitava é sempre 3 dB
maior que a energia contida na banda imediatamente inferior.

III.5. Grandezas
Grandezas Sonoras
A caracterização do som pode ser feita por três grandezas físicas: pressão,
intensidade e potência.

III.5.1. Pressão Sonora


Pressão Sonora(p) ou pressão acústica instantânea é a diferença entre a
pressão (P) existente em um determinado instante e a pressão atmosférica
normal, ou pressão estática (po), sua unidade é o o Newton por metro quadrado
(N/m2) ou o Pascal (Pa):
p = P-po

A Pressão Acústica Eficaz corresponde à média quadrática temporal das


pressões acústicas instantâneas, em um determinado ponto de um meio elástico,
calculada sobre um intervalo de tempo conveniente.
A sonoridade, ou a “força”, com que determinado som é percebido está
associada à pressão eficaz. Os aparelhos de medição (sonômetros) trabalham
com a variação da pressão eficaz, ou com o nível de pressão eficaz, em decibéis.
Considerando que o som emitido por uma fonte pontual, omnidirecional, em
campo livre, se propaga segundo ondas esféricas, podemos escrever que:

pef2 =
onde:
pef é a pressão acústica eficaz
W é a potência da fonte
é a densidade do meio (ar)
c é a velocidade do som no meio (ar)
r é a distância entre a fonte e o receptor
31

III.5.2. Intensidade Sonora


Em um ponto e direção determinados, a quantidade de energia
transportada por uma onda sonora, por unidade de superfície normal à direção da
onda, é denominada Intensidade Acústica (I), sua unidade é o W/m2. a
intensidade de uma ondaque não encontre obstáculos à sua propagação pode ser
calculda por:

I=
onde:
p é a pressão sonora, em Pascal
é a densidade do meio (ar)
c é a velocidade do som no meio (ar), em m/s

III.5.3. Potência Sonora


Potência Acústica, ou sonora, (W) é a energia liberada por uma fonte, por
unidade de tempo, sua unidade é o Watt (W).

III.6. Níveis Sonoros

III.6.1. Bel e decibel


É uma unidade adimensional utilizada para exprimir a relação entre dois
valores pressão sonora. O número de Bels é igual ao logaritmo decimal da
relação, o decibel (d(B)) é a décima parte do Bel (B).
Como a faixa de sensibilidade do ouvido humano à energia sonora é
excessivamente extensa (varia de 2 x 10-5 Pa a 20 Pa, para a pressão acústica) e,
também, porque segundo a lei de Weber e Fechner, a sensação sonora é
proporcional ao logaritmo da intensidade da fonte, adotou-se a escala logarítimica
como referência para os níveis de pressão, intensidade e potência sonoras.
Os valores desta escala vão de 0 a 120 d(B), correspondendo aos limiares
de audibilidade e dor, respectivamente.
32

III.6.2. Nível de Intensidade Sonora

O Nível de Intensidade Sonora (NIS), em decibéis, é calculado pela


expressão:

NIS =

onde:
I é a intensidade do som (W/m2)
Io é a intensidade de referência (10-12 W/m2), correspondendo ao limiar de
audibilidade

III.6.3. Nível de Potência Sonora

De forma análoga , o Nível de Potência Sonora (NWS) é igual a:

NWS = 10 log

onde:
W é a potência da fonte (W)
Wo é a potência de referência (10-12 W)

III.6.
III.6.4
6.4. Nível de Pressão Sonora

O Nível de Pressão Sonora (NPS), em decibéis, será dado por:

NPS = 20 log

onde:
P é a pressão sonora, em Pascal;
Po é a pressão sonora de referência (2 x 10-5 Pa), que corresponde ao
limiar de audibilidade

A tabela III.1, relaciona a pressão e o nível de pressão sonora de certos


tipos de ruído a à impressão subjetiva que causam no ser humano.
33

Tabela III.3 (ROSA - 93, p. 12)


IMPRESSÃO PRESSÃO ACÚSTICA POSSIBILIDADE DE
NATUREZA DO RUÍDO
SUBJETIVA Pascal dB(A) CONVERSAÇÃO

problemas de
turbo-reator 130
ouvido, surdez
impossível
20 120
indústrias
barulhos
extremamente 110
insuportáveis 2
ruidosas e britadeiras
100
gritando
90
rua de grande ambiência ruidosa
0,2
circulação incômoda 80 difícil
refeitório ruidoso
escritório de 70
ambiência suportável
datilografia 0,02 falando alto
mas barulhenta
apartamento com TV 60

rua tranquila/
apartamento 50
barulhos corriqueiros falando normalmente
barulhento
40
apartamento calmo calma 0,002
30

estúdio de rádio 0,0002 20

jardim tranquilo 10 voz baixa


silêncio inabitual
laboratório de acústica/ 0,00002
0
limite de audibilidade

III.7. Fonte

É o elemento responsável pela emissão do som: pode ser desejável,


indiferente ou incômoda. Pode ainda ser classificada como fixa ou móvel,
direcional ou omnidirecional, pontual, linear ou maior.
Em ambiente urbano as fontes fixas são as atividades cujo funcionamento
produza ruído tais como indústrias, construção civil e outras (bailes funk, boates,
igrejas, ...). As fontes móveis são os veículos (automóveis, caminhões, aviões,...).
Quanto à diretividade, pode ser uma fonte sonora omnidirecional quando o
som emitido é distribuido uniformemente em todas as direções, ou uma fonte
sonora direcional, quando o som emitido é mais intenso em determinada direção.
Em situações reais, as fontes direcionais são mais freqüentemente encontradas.
34

Quando a fonte possui dimensões insignificantes em relação à sua


distância ao receptor, é classificada como fonte pontual. Será chamada de fonte
linear se uma de suas dimensões for significativa em relação à distância
fonte/receptor e de fonte maior se ambas o forem. É importante notar que esta
classificação é flexível, variando com a escala do problema em questão: assim,
uma fonte maior, dentro de determinado contexto, pode ser considerada fonte
pontual se estudada em um contexto mais amplo.
Uma via de circulação de veículos pode ser modelada como fonte linear.
Mais adiante, deter-nos-emos nos fenômenos relativos à propagação do som
emitido por este tipo de fonte.

III.8. Atenuação sonora

O nível de potência sonora está relacionado a fonte, enquanto que o nível


de intensidade sonora caracteriza o som percebido pelo aparelho auditivo. A
relação entre a intensidade do som emitido e do som percebido depende da
distância fonte/receptor: quanto mais distante a fonte, menor o nível de
intensidade sonora percebido. A atenuação sonora, medida em Neper, é igual ao
logaritmo neperiano da relação entre a intensidade sonora da fonte e a
intensidade sonora no local de recepção:

N =logn
onde: Ir = intensidade sonora no local de recepção
If = intensidade sonora na fonte
A atenuação sonora depende, ainda, do tipo propagação:
• Propagação Esférica: é a que ocorre para fontes pontuais. O nível de
intensidade sonoro decai na proporção do quadrado do raio das
distâncias, o que implica em uma redução sonora de 6 dB, a cada vez
que a distância é dobrada (6 dB/dd). O nível sonoro percebido pode ser
calculado pela expressão:
NIS = NWS - 11 dB - 20 log r
onde: NIS é nível de intensidade sonoro no local de recepção
NWS é a potência sonora da fonte
r é a distância fonte/receptor
35

• Propagação cilíndrica: fontes lineares emitem a energia sonora segundo


superfícies semi-cilíndricas. O ruído decai na razão direta da distância
fonte/receptor, resultando em uma redução sonora de 3 dB a cada vez
que esta distância é dobrada (3 dB/dd). Podemos escrever que:

NIS = NWS - 8 dB - 10 log r

onde: NIS é nível de intensidade sonoro no local de recepção


NWS é a potência sonora da fonte
r é a distância fonte/receptor

III.9. Combinação de níveis sonoros

Por se tratar de funções logarítmicas, os níveis de intensidade sonora não


podem ser somados algébricamente. O cálculo do nível sonoro resultante da
duplicação da intensidade sonora de uma fonte, por exemplo de uma rodovia,
pode ser calculado pela expressão abaixo:

À duplicação da intensidade sonora corresponde um acréscimo de apenas


3 dB no nível sonoro inicial. Pela regra da “adição de decibéis”:

x dB x dB = (x + 3)dB

Considerando-se duas fontes de ruído coerentes (que apresentam a


mesma freqüência) funcionando simultaneamente, o nível sonoro resultante será
igual ao maior acrescido do valor fornecido pela tabela abaixo:

Tabela III.4 - Combinação de Níveis Sonoros

∆ NPS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Acréscimo 3 3 2 2 2 1 1 1 1 1 0
36

Verifica-se que, se duas fontes emitem ruído simultaneamente e o nível


sonoro de uma é superior ao da outro em, no mínimo, 10 dBA, o nível sonoro total
será igual ao maior dos dois. O ruído mais fraco é mascarado pelo mais forte. Os
efeitos do mascaramento sobre o homem serão abordados mais adiante ( ver
item IV.5.2)

III.10. Mudança de Meio de Propagação


Como dissemos anteriormente, as características do meio têm influência
sobre a propagação as ondas sonoras. Ao encontrar um obstáculo, a energia
sonora incidente se comportará da seguinte forma:
• uma parcela da energia incidente é refletida, voltando ao meio de
incidência;
• outra é absorvida pelo obstáculo, sendo parcialmente dissipada e
parcialmente devolvida ao meio incidente;
• e o restante da sonora energia é transmitida ao meio de propagação
posterior ao obstáculo.

Figura III. 3 - Mudança de Meio de Propagação (DE MARCO, p. 26)

A proporção com que a energia sonora se reparte entre estes fenômenos é


função dos coeficientes de reflexão (ρ), absorção (α), dissipação (δ) e
transmissão (τ), do material que constitui o obstáculo.
37

Podemos escrever que:


ρ+α=1
ρ+δ+τ=1
A energia acústica pode ainda ser difratada, quando “contorna” o
obstáculo, ou passa através de frestas e orifícios.

III.10.1. Reflexão
Segundo a ótica geométrica, o ângulo de reflexão da luz sobre uma
superfície é igual ao ângulo de incidência. O comportamento da onda sonora, ao
encontrar uma superfície plana e rígida é análogo, o que permite o
desenvolvimento de estudos geométricos simplificados, visando estabelecer a
direção das ondas sonoras refletidas.
Este princípio, entretanto, só é válido para sons de pequeno comprimento
de onda, quando a menor dimensão da superfície refletora for igual a, no mínimo,
quatro vezes o comprimento da onda sonora incidente. Logo, para sons graves, a
“acústica geométrica” só pode ser usada após verificada a relação entre
comprimento de onda e dimensões do obstáculo.

Figura III.4 - Reflexão sobre uma Superfície Plana


38

III.10.2.
III.10.2. Absorção

Os materiais porosos e fibrosos permitem que a onda sonora penetre e se


propague no seu interior. Após sucessivas reflexões sobre as paredes destes
poros, a energia sonora é dissipada sob forma de calor.

O poder de absorção de um material é indicado pelo seu coeficiente de


absorção sonora (α), que é a relação entre a quantidade de energia sonora
absorvida e a incidente, para um determinado material. A medida da absorção
sonora é o sabine (homenagem a Wallace Sabine, um dos precursores da
Acústica). Os valores de (α) variam de 0 (material totalmente reflexivo) a 1
(material totalmente absorvente). Variam também para cada faixa de freqüência.

α=1-

Os tipos de materiais absorventes e suas características específicas serão


abordados mais adiante (item V.5).

III.10.3. Transmissão

Ocorre quando uma onda sonora atinge um obstáculo e este vibra,


transformando-se em uma nova fonte. No entanto, o som percebido após o
obstáculo sofre uma certa atenuação (item V.6) e tem seu espectro modificado. A
capacidade de se opor à transmissão do som depende do coeficiente de
transmissão do material (τ).

τ=

III.10.4. Difração

É o fenômeno que ocorre quando o som encontra frestas ou obstáculos


menores que seu comprimento de onda: as ondas sonoras têm sua direção e
magnitude modificadas. Vários elementos arquitetônicos tais como: janelas,
pilares e vigas podem provocar a difração.
39

Figura III. 5 - Difração por frestas e Bordas (CORDEIRO, p. 44)

A difração é o princípio pelo qual se explica o funcionamento das “barreiras


acústicas”. Por ser um elemento extremamente importante para o controle de
ruído em ambiente urbano abordaremos (no item VI.2.5.1) sua aplicação e
dimensionamento.

III.10.5. Difusão
Ocorre quando, devido às irregularidades da superfície refletora, as ondas
sonoras se espalham em todas as direções, promovendo uma distribuição mais
uniforme da pressão sonora. Um elemento arquitetônico (balcões, pilares, vigas)
será mais eficiente na difusão de uma onda sonora se a sua largura for igual ao
comprimento da onda (λ) e a profundidade das irregularidades de sua superfície
corresponderem à sétima parte desse comprimento.

III.11. Campo Acústico


Campo acústico pode ser definido como a região do espaço onde ocorrem
as vibrações. O estudo do ruído em ambiente urbano deve considerar dois tipos
de campo acústico de propriedades bem diferentes:

III.11.1. Campo Direto


Campo acústico direto, ou campo livre, ocorre quando entre a fonte sonora
e o receptor não existe nenhum tipo de obstáculo que modifique o trajeto das
ondas sonoras. O nível sonoro percebido pelo ouvinte depende essencialmente
da distância entre fonte e receptor.
40

Na prática, mesmo os espaços abertos são limitados pelo plano refletor


representado pelo solo. Logo, devemos considerar também o efeito do tipo de
solo (coeficiente de absorção) sobre o som.

Figura III.6 - Atenuação Sonora em Campo Direto

Em ambiente urbano, podem ser associadas a um campo sonoro direto


todas as situações de propagação que comportam poucas reflexões. São
considerados como campo direto os locais onde a distância entre a pista de
rolamento e o alinhamento dos edifícios é maior que a altura dos prédios.

III.11.2. Campo Reverberante


O campo acústico refletido é também chamado de campo reverberante. Em
um campo reverberante a onda sonora encontra obstáculos, é refletida e
permanece por algum tempo no ar. Um bom exemplo de campo sonoro refletido é
o de um compartimento de uma habitação. Neste caso, o nível sonoro não
depende apenas da distância em relação à fonte, varia também em função das
características geométricas do local e dos coeficientes de absorção dos materiais
de revestimento das superfícies internas e do mobiliário.

Figura III.7 - Atenuação Sonora em Campo Reverberante


41

Em um determinado ponto, chamado de distância crítica (Dc) o nível do


campo reverberante é igual ao do campo direto. Próximo à fonte temos uma
situação de campo direto, a partir da distância crítica ocorre o campo
reverberante. A distância crítica é função da diretividade da fonte e do coeficiente
de absorção das superfícies internas. Os materiais de revestimento atuam
exclusivamente sobre as ondas refletidas, ou seja, sobre as ondas sonoras do
campo reverberante.

Figura III.8 - Distância Crítica

Uma rua em “U”, ou uma praça ou pátio de pequenas dimensões são


exemplos de configurações urbanas que podem ser classificadas como campo
sonoro parcialmente reverberante. Podem ser modeladas como “salas sem teto”,
as ondas sonoras sofrem múltiplas reflexões até que encontram um ângulo de
escape.
42

Capítulo IV

O RUÍDO E O HOMEM
43

IV. O RUÍDO E O HOMEM

IV.1.
IV.1. O ouvido humano

As pressões sonoras são transformadas em sensações pelo aparelho


auditivo. O aparelho auditivo divide-se em três partes principais:

* Ouvido externo: Pavilhão auditivo (orelha), conduto auditivo externo e tímpano.


O tímpano é uma membrana que vibra sob o efeito das variações de pressão
sonora ;

* Ouvido médio: o conjunto formado por três pequenos ossos (martelo,


estribo e bigorna). funciona como amplificador A trompa de eustáquio (canal
que liga o ouvido à garganta) permite o equilíbrio entre as pressões aéreas dos
dois lados do tímpano;

* Ouvido interno: Caracol (as vibrações são transmitidas a um fluido e daí


aos nervos da audição que levam os estímulos até o cérebro onde são
interpretados.

Figura IV.1 - Esquema do Ouvido (DE MARCO, p.20)


44

IV.2. Limiares auditivos

Nem toda as freqüências, no entanto, são captadas pelo ouvido humano. A


faixa audível varia de indivíduo para indivíduo e tende a diminuir, com o
envelhecimento ou com a exposição a níveis excessivos de pressão sonora.
Nestes casos, perde-se principalmente a capacidade de ouvir os sons de alta
freqüência(agudos). De modo geral, uma pessoa jovem e saudável percebe os
sons situados entre 20 e 20 x 103 Hz (ou 16 a 16 x 103 Hz, segundo alguns
autores), sendo particularmente sensível às freqüências situadas entre 1 e
4 x 103 Hz.

São chamadas de infrasons as freqüências situadas abaixo da faixa


audível, e de ultrasons as superiores a ela.

Os limiares de audibilidade, o menor som capaz de sensibilizar o ouvido


humano, e de dor, limite a partir do qual o som é insuportável, variam em função
da freqüênciae podem ser expressos em pressão ou intensidade.

Limiar de audibilidade = 0 dB
po = 2 x 10-5 N/m2
Io = 10-12 W/m2
Limiar de dor ~130 dB
p = 63 N/m2
I = 10 w/m2

Figura IV.2 - Limiares Auditivos

IV.3. Sonoridade

O ouvido tem sensibilidade diferenciada para cada faixa de freqüência:


sons de mesma intensidade, mas de freqüências diferentes, provocam sensações
sonoras diferentes. Os sons médios e agudos são mais facilmente percebidos
pelo ouvido que os sons graves.
45

Figura IV.3 - Curvas Isofônicas de Fletcher e Munson

Os estudos desenvolvidos por Fletcher e Munson verificaram que existe um


lugar geométrico onde, para freqüências e intensidades diferentes, o ouvido tem a
mesma sensação sonora: as curvas isofônicas, que estabelecem a medida
subjetiva da sonoridade.

Tomando como referência a intensidade e pressão mínimas, para uma


freqüência de 1000 Hz, capazes de sensibilizar o ouvido humano, traçaram a
curva correspondente ao limiar de audibilidade (0 dB). O procedimento foi
repetido até a curva correspondente ao limiar de dor (120 dB).

Esta nova escala tem como unidade o fone (F) e cada curva é sempre
denominada pelo seu nível de pressão, ou intensidade, na freqüênciade 1000 Hz.

As curvas isofônicas, no entanto, só permitem a avaliação dos tons puros.


A sensação sonora provocada por um som complexo, de diversas freqüências, é
fornecida por outra unidade: o sone (S).

A relação entre sones e fones pode ser calculada pela seguinte expressão:
F − 40
10
S= 2

onde:
F = fone
S = sone
46

Por convenção, um sone corresponde a 40 fones, visto que um ambiente


onde o nível de ruído corresponda à curva de 40 fones apresenta boas condições
de conforto acústico.

A sensação sonora total, para as diversas freqüências, é dada por:

S total = Smax + 0,3 (∑ S − S )


max

Figura IV.4 - Relação entre Fones e Sones (NEPOMUCENO, p. 70)

IV.4. A curva de ponderação (A):

Como já foi dito, a sensibilidade humana não é a mesma em todas as


freqüências da faixa audível. A pressão e a intensidade sonoras medidas por
aparelhos não espelham fielmente a resposta do ouvido ao ruído. Considerando
essa sensibilidade, após numerosos testes e pesquisas, foram adotados uma
série de circuitos eletrônicos de ponderação: (A), (B), (C) e (D).
47

Figura IV.5 - Curvas de Ponderação (NEPOMUCENO, p.169)


O dB(A), nível sonoro expresso em dB e ponderado segundo o filtro (A),
permite caracterizar um som ou ruído considerando as reações do ouvido
humano. A conversão de dB para dB(A) se processa pela adição ou subtração de
determinados valores, por banda de oitava, aos resultados obtidos pelas
medições, de acordo com a tabela IV.1:

Tabela IV.1 - Conversão de dB para dB(A)

63 Hz 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz 8000 Hz


-25 -15 -8 -3 0 +1 +1 -1

Para os ruídos rodoviários, admite-se que as freqüências de emissão mais


importantes estão situadas nas faixas de oitava compreendidas entre 125 e
4000Hz. É neste domínio que as freqüências são analizadas, e posteriormente
ponderadas, com os ruídos medidos em situação real.

IV.5. A percepção Sonora

Os sinais captados pelo ouvido são transmitidas ao cérebro através de


milhares de feixes neuronais. O processamento das informações sonoras é
realizado em vários níveis, permitindo a localização da fonte (percepção binaural)
e sua identificação.
48

Nos animais, a percepção binaural é responsável pela detecção do perigo.


Para o homem, de certo modo, também o é. A audição é o sentido que monitora,
permanentemente, o ambiente, informando sobre o que ocorre fora do campo
visual. Enquanto a visão é direcionada: o ângulo de visão abrange cerca de 180º,
e a visão periférica é pouco definida, o homem está “mergulhado“ num campo
sonoro.
A análise harmônica, realizada pelo ouvido, é de tal forma rápida e precisa,
que permite a identificação de uma pessoa (e sua disposição física e mental)
através da comparação dos sinais sonoros emitidos por sua voz a dados
armazenados na memória.

IV.5.1. Ruído x Silêncio


Vivemos em uma paisagem sonora. Um som pode, muitas vezes, ser a
única informação possível a respeito de um incidente fora do alcance de nossos
olhos. “Porém, enquanto os olhos podem fechar-se quando há demasiada luz ou
quando o panorama não nos interessa, os ouvidos estão sempre abertos, tanto
aos ruídos que molestam quanto aos sons agradáveis”.
Certos ruídos são desejados porque contem informações importantes para
a vida cotidiana. Muitas vezes, o grito é o único recurso disponível para alertar
sobre uma situação de perigo. O ruído pode tranqüilizar (os passos de alguém
esperado, o barulho das crianças brincando) ou pode distrair (a música, o som do
vento nas folhas).
O ruído incomoda quando impede a recepção de uma informação desejada
ou quando impede a comunicação. A dificuldade de ouvir claramente um som
significante, ocasionada pela presença de um ruído de fundo muito elevado, ou de
localizar a fonte de ruído em um ambiente excessivamente reverberante são
fatores de desconforto.
Pode ser, também fator de incômodo a impossibilidade de ver a fonte de
ruído, ou, ao contrário, de ouvir algo que não podemos ver. As percepções sonora
e visual são complementares. A ausência de uma das duas pode ser angustiante.
Mas o silêncio também pode ser desagradável. “A literatura muitas vezes o
descreve como: solene, opressor, sepulcral, pesado, desesperador, absoluto,
alarmante”. Quando o ruído de fundo é muito fraco, a presença de um ruído
inesperado pode assustar. É comum o uso, em locais excessivamente
49

silenciosos, de uma fonte de ruído adicional que aumente ligeiramente o ruído de


fundo, como rádio ou televisão, por exemplo.
Automóveis, buzinas, vizinhos que batem portas e ouvem música muito
alto, o barulho da fábrica: sons que são associados à vida nas grandes cidades.
Dentre todos, o ruído do tráfego é o que mais incomoda. Atualmente cerca de
80% da energia acústica total dos centros urbanos se deve à circulação de
veículos automotores.
A noção de ruído “admissível” varia de indivíduo para indivíduo em função
dos hábitos e das circunstâncias. Os grupos populacionais mais sensíveis são os
doentes, as crianças e os idosos. Os momentos de maior desconforto são o início
da noite, enquanto se houve rádio e televisão, e durante o início do sono. O
tráfego de veículos pesados é particularmente incômodo durante a madrugada.
Os caminhões e motocicletas são consideradas as fontes mais desagradáveis.
O desconforto pode também ser falsamente associado ao ruído: uma
rodovia que corta a ligação entre quarteirões vizinhos, dificultando o acesso aos
amigos e ao comércio, ou que é causa freqüente de acidentes para os moradores
de suas margens provoca reclamações quanto ao “ruído”. Um paisagismo
agradável, o uso de vegetação, pode provocar a sensação de melhoria da
ambiência acústica, mesmo sem interferir nos níveis sonoros.
Qualidade de vida, do ponto de vista acústico, não é, em princípio, o
“silêncio”, mas sim a possibilidade de identificar os ruídos significantes e
desejados. A busca do “silêncio” no campo é na realidade a tentativa de ouvir os
sons que o ruído da cidade mascara. É a busca de um local onde mesmo os
ruídos mais fracos podem se fazer notar, e contar sua história.

IV.5.2. Mascaramento
O efeito de máscara pode ser descrito como a elevação subjetiva do limiar
de audibilidade, ou seja: na presença de um ruído de fundo muito elevado, o som
de interesse precisa de maior energia sonora para ser percebido.
Como já foi visto anteriormente, quando duas fontes funcionam
simultâneamente, o ruído percebido corresponde ao de maior intensidade
acrescido de um determinado valor (item III.9). Caso a diferença entre os níveis
sonoros seja superior a 10 dB(A), o ruído resultante será igual ao maior dos dois,
o de menor intensidade terá uma contribuição desprezível para a sonoridade final.
50

Em uma primeira aproximação, pode-se dizer que um ruído foi mascarado


pelo outro sempre que seu nível sonoro for inferior, em mais de 10 dB(A), ao ruído
parasita. Este valor varia, entretanto, em função da freqüência. O que significa
que um som complexo pode ser total ou parcialmente mascarado (apenas
algumas faixas de freqüência).
A tabela IV.2 indica, por banda de oitava, a diferença mínima entre os
níveis sonoros para que um ruído seja mascarado pelo outro:
Tabela IV.2 (CETUR-81, p.47)
Faixa de Oitava (Hz) 125 250 500 1000 2000 4000
∆ dB(A) 2 6 9 12 13 13

Um ruído de fundo superior a 80 dB(A) praticamente inviabiliza a


comunicação oral. Este é freqüentemente o caso do ruído de tráfego, nas grandes
cidades. Por outro lado, um ruído de fundo não muito alto, sem conteúdo
informativo, pode ser usado como recurso para mascarar ruídos indesejáveis, ou
para amenizar certas emergências sonoras.

IV.6. Efeitos do Ruído no Homem


A exposição ao ruído pode ocasionar uma série de patologias no
organismo humano. Além dos evidentes efeitos sobre o aparelho auditivo, é
também capaz de provocar inúmeras outras disfunções fisiológicas. Considerando
que, segundo a OMS “a saúde não é somente ausência de doenças mas um
estado completo de bem-estar físico, mental e social” todos os efeitos do ruído
sobre o homem devem ser objeto de atenção. Em ordem crescente o ruído pode
ocasionar:
⋅ falta de eficiência;
⋅ falta de concentração;
⋅ tensões, mudança de comportamento;
⋅ fadiga mental;
⋅ perda temporária da audição;
⋅ perda permanente da audição (também pode ser causada pelo
envelhecimento).
51

IV.6.1. Efeitos sobre o Sistema Auditivo

Denomina-se surdez ao deslocamento do limiar de audibilidade. A perda da


capacidade auditiva ocorre com o envelhecimento ou com a exposição a níveis de
intensidade sonora muito elevados, por longos períodos de tempo. Depende de
fatores relacionados ao agente como: a intensidade do ruído, o tipo (contínuo,
intermitente ou de impacto) e a qualidade (composição espectral). Depende
também de características de cada um: certos indivíduos tem maior probabilidade
de vir sofrer perdas auditivas que outros.
Concertos de rock, discotecas, a prática de certos esportes motores, head-
fone e explosivos são exemplos de agentes que podem vir a provocar perdas
auditivas temporárias.

Tabela IV.3 - Níveis de Tolerância para Ruídos (NR 15 / MT)


Nível de Ruído Máxima Exposição Nível de Ruído Máxima Exposição
dB(A) Diária Permissível dB(A) Diária Permissível
85 8 horas 96 1 horas e 45 minutos
86 7 horas 98 1 horas e 15 minutos
87 6 horas 100 1 horas
88 5 horas 102 45 minutos
89 4 horas e 30 minutos 104 35 minutos
90 4 horas 105 30 minutos
91 3 horas e 30 minutos 106 25 minutos
92 3 horas 108 20 minutos
93 2 horas e 40 minutos 110 15 minutos
94 2 horas e 15 minutos 112 10 minutos
95 2 horas 114 8 minutos
115 7 minutos

No entanto, uma das causas mais freqüentes de lesão no aparelho auditivo


é a chamada “surdez profissional”, aquela provocada pela exposição de
trabalhadores a níveis excessivos de intensidade sonora. No Brasil, a norma NR-
15, do Ministério do Trabalho, determina o valor máximo de 85 dB(A) para um
período de 8 horas. Para níveis sonoros superiores, o tempo de exposição deverá
ser progressivamente reduzido. Nos Estados Unidos a OSHA, Ocuppational
Safety & Health Administration, estabelete limites de 90 dB(A), Porém esta
legislação deve ser revista em virtude das inúmeras críticas que tem recebido.
52

Os limites de tolerância para ruídos contínuos e intermitentes,


estabelecidos pela legislação brasileira (NR-15 - Ministério do Trabalho), estão na
tabela IV.3.
O tempo de exposição ao ruído deve ser considerado. Exposições
esporádicas ao ruído dificilmente levam à surdez profissinal. Esta é causada pela
exposição diária a níveis sonoros acima de 80 dB(A), por vários anos. Ruídos
abaixo de 77 dB(A) praticamente não ocasionam perdas. No entanto, níveis
sonoros superiores a 130-140 dB, mesmo que por períodos curtos de tempo,
podem provocar o rompimento do tímpano.
O ruído do tráfego pode, grosseiramente ser enquadrado numa faixa de 60
a 85 dB(A). Nas grandes cidades os trabalhadores gastam um tempo significativo
no trajeto casa/trabalho e, não raro, moram próximos a vias de tráfego pesado. Se
este trabalhador exerce uma atividade produtora de ruído, mesmo que durante o
expediente de trabalho os limites de tolerância sejam respeitados, as
possibilidades de dado auditivo ficam bastante aumentadas.

IV.6.2. Efeitos Não Auditivos


A exposição a níveis sonoros elevados pode ser responsável por uma série
de disfunções, temporárias ou permanentes, no organismo humano.
A perturbação no sono pode ser considerada um dos mais evidentes
efeitos do ruído no homem. O tráfego de veículos e, menos freqüentemente, a
presença de atividades de lazer na vizinhança, podem ser responsáveis por essas
perturbações. As alterações sobre o sono podem se manifestar por:

⋅ períodos de sono mais curtos;


⋅ despertar freqüente;
⋅ dificuldades para adormecer;
⋅ reações vegetativas.

As reações vegetativas podem ocorrer até mesmo para ruído de pouca


intensidade, abaixo de 50 dB(A). As crianças são mais sujeitas às reações
vegetativas que os adultos e idosos. O sono das pessoas idosas é menos
perturbado pela presença de ruído que o dos adultos e crianças. Com a idade, a
duração dos períodos de sono dimuinui, ao mesmo tempo que aumentam o
número de despertares espontâneos e a fragilidade global do sono.
53

Níveis de ruído de crista superiores em 15 dB(A) ao ruído de fundo podem


provocar a perturbação do sono. O nível sonoro equivalente (Leq), para uma boa
qualidade de sono, não deve ultrapassar o nível de 35 dB(A) e os níveis de ruído
de crista devem ser inferiores a 50 dB(A).
O ruído atua sobre o sistema nervoso central, provocando a perda de
qualidade no desempenho de certas tarefas, o que se traduz no aumento do
número de erros e acidentes.
O efeito sobre a performance no trabalho depende de algumas variáveis
tais como as condições acústicas locais, tipo de atividade desempenhada e
características psicológicas do indivíduo, sexo e momento do dia. De modo geral,
o nível de conforto acústido para as mulheres é cerca de 10 dB(A) inferior ao dos
homens.
Ruídos intermitentes ou de impacto quando repetidos são mais prejudiciais
que os contínuos. Entretanto, em ambiente industrial, o ruído pode ser útil,
alertando para situações de perigo ou para defeitos nos equipamentos.
Pode, ainda causar alterações diversas tais como: redução das secreções
gástrica e salivar, ocasionando dificuldades digestivas; aumento da tensão
muscular, o que pode resultar em fadiga física; estreitamento dos vasos
sangüíneos (vasoconstrição); aceleração dos batimentos cardíacos e elevação da
pressão arterial. Irritabilidade, inadaptação e conflitos sociais também podem ser
relacionados à exposição ao ruído. Estão particularmente sujeitos a estes efeitos
os trabalhadores em atividades ruidosas e os habitantes de regiões próximas a
aeroportos e vias de tráfego pesado.
54

Capítulo V

QUALIDADE ACÚSTICA NO
AMBIENTE CONSTRUÍDO
55

V. QUALIDADE ACÚSTICA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO

V.1. Acústica de Salas

O primeiro passo para solucionar os problemas decorrentes do ruído é a


localização da fonte e do receptor: No exemplo abaixo temos duas salas
contíguas: na sala (1) um homem assiste TV, na sala (2) outro lê um livro.

(1) (2)

Figura V.1

Para que o som da televisão não incomode o ocupante da sala (2) é


necessário que a parede entre as salas seja capaz de impedir a passagem do
som: temos, neste caso, um problema de isolamento acústico. A eficiência do
fechamento vai depender do índice de redução sonora do material (item.V.6).
Na sala (1), no entanto, onde desejamos que o som da televisão seja
ouvido de forma clara, a qualidade do som percebido depende do coeficiente de
absorção dos materiais que revestem as superfícies internas, da forma e das
dimensões da sala: esta situação demanda condicionamento acústico (item V.5).
De forma análoga, em ambiente urbano, o efeito de barreira só deve ser
utilizado quando a fonte e o receptor estão em espaços diferentes. Quando
ambos estão no mesmo local a barreira não é eficiente, a qualidade do som será
função dos materiais e das características geométricas das formas urbanas que
envolvem a fonte.
O tratamento acústico de uma sala objetiva oferecer a melhor qualidade de
som possível aos ouvintes: a palavra, a música devem ser perfeitamente
percebidas. Para que isso ocorra é necessário que a sala não apresente
56

acidentes acústicos, como ecos, e a clareza e o tempo de reverberação sejam


apropriados ao som que se deseja.

V.2. Ecos

Para que dois sons sejam percebidos separadamente pelo ouvido humano
é necessário que a defasagem de tempo entre ambos seja superior a 1/15
segundos, o que corresponde a um percurso de aproximadamente 22 metros
Quando uma onda sonora atinge um obstáculo, três hipóteses podem ocorrer:
• Se o som direto e o refletido alcançarem o receptor em um espaço de
tempo inferior a este limite, o som refletido se soma ao direto,
aumentando a sensação sonora;
• Se o espaço de tempo for superior ao limite de 1/15 de segundo o som
direto e o refletivo são percebidos distintamente;
• Se, embora alcançando o receptor em tempo inferior ao limite mínimo, o
som refletido superar em mais de 10 dB o som direto, será percebido
separadamente.
Nas duas ultimas hipóteses, ocorre o fenômeno do eco. O eco é um fator
que interfere significativamente na comunicação oral e pode ser evitado com o
uso de materiais absorventes e colocação de anteparos intermediários quando as
distâncias entre a fonte e as superfícies refletoras forem superiores a 11 metros.

V.3. Tempo de Reverberação

É, por definição, o tempo necessário, para que o nível de pressão sonora


diminua de 60 dB, depois que a fonte cessar.

No final do século XIX, Wallace Sabine definiu a seguinte fórmula para


cálculo do tempo de reverberação:

Tr = 0,161

onde:
Tr é o tempo de reverberação, em segundos
V é o volume da sala, em m3
57

A é a área de absorção da sala, em sabine métrico ( x S)


2
S é a área interna da sala, em m

é o coeficiente médio de absorção

Posteriormente, duas outras fórmulas foram desenvolvidas:

• Fórmula de Norris-Eyring:

Tr =

onde:
Tr é o tempo de reverberação, em segundos
V é o volume da sala, em m3
S é a área interna da sala, em m2

é o coeficiente médio de absorção da sala

• Fórmula de Millington-Sette:

Tr =

onde:
Tr é o tempo de reverberação, em segundos
V é o volume da sala, em m3
Si é a área dos diferentes revestimentos internos, em m2
αi é o coeficiente de absorção de cada revestimento

Alguns autores recomendam a adoção da fórmula de Sabine quando as

superfícies internas possuem baixo coeficiente de absorção ( < 0,3), enquanto


que a de Noris-Eyring é adotada para salas com superfícies pouco reflexivas (

> 0,3).

A fórmula de Millington-Sette deve ser utilizada quando as superfícies


internas apresentarem grande variação nos coeficientes de absorção. No entanto,
neste caso, também pode se adotada a equação de Sabine escrita da seguinte
forma:

Tr =
58

O tempo de reverberação ideal depende do volume da sala e do tipo de


atividade nela desenvolvida. No Brasil, a Norma NB-101, da ABNT, determina os
valores do tempo de reverberação ideal para a faixa de freqüencia de 500 Hz.

A obtenção de uma sala com bom índice de qualidade acústica consiste


em encontrar o tempo de reverberação ideal, para evitar ecos e ter boa percepção
dos sons significantes em todos os pontos. Para isso pode-se posicionar as
superfícies refletoras, reduzindo a defasagem entre as ondas diretas e as ondas
refletidas e, ao contrário, aumentar a absorção de outras, evitando a mistura dos
sons úteis. É igualmente necessário obter a maior diferença possível entre o som
útil e o ruído de fundo, aumentando o primeiro (refletindo) e diminuindo o segundo
(absorvendo). O jogo do condicionamento acústico de uma sala se limita a dispor
os materias refletores e absorventes nas superfícies de forma criteriosa.

V.4. Interferência na Comunicação


É importante distinguir audibilidade, que é uma característica puramente
acústica, de inteligibilidade, que é a capacidade de identificar claramente um som
e decodificar a mensagem nele contida. A interferência de ruídos estranhos pode
ocasionar perda da inteligibilidade do som de interesse.

V.6.1. Teste de Articulação

Figura V.2 - Ábaco para Cálculo de Índice de Articulação (EGAN, p.110)


59

A avaliação da inteligibilidade da fala se dá através da aplicação de um


processo experimental chamado Teste de Articulação: um orador pronuncia, de
forma clara, uma seqüência de frases, palavras e sílabas que são anotadas por
um grupo de pessoas e o número de acertos é computado. A sequência varia de
acordo com a língua e as pessoas envolvidas no teste não podem ter problemas
auditivos.
O Índice de Articulação (AI), ou Articulation Index, é obtido entrando-se
com a porcentagem de acertos no ábaco abaixo, onde duas curvas, uma para
palavras e outra para frases completas, qualifica a ambiência acústica da sala em
questão:

V.6.2. Nível de Interferência


Interferência da Comunicação

Embora apresente resultados confiáveis, o teste de articulação, sua


aplicação e interpretação são complicados. A interferência do ruído de fundo
sobre a comunicação oral também pode ser avaliada, de forma mais simples,
através do Nível de Interferência na Comunição (NIC) ou, Speech Interference
Level (SIL), que é a média aritmética dos níveis de pressão sonora em quatro
bandas de oitavas: 500, 1000, 2000 e 4000 Hz.

Tabela V.1 - Valores de NIC (DE MARCO)


distância Nível de Conversação
(m) normal elevado voz muito alta extr. elevada
0,15 71 77 83 89
0,30 65 71 77 83
0,60 59 65 71 77
0,90 55 61 67 73
1,20 53 59 65 71
1,50 51 57 63 69
1,80 49 55 61 67
3,60 43 49 55 61
7,20 37 43 49 55
60

Apesar do espectro da fala ser mais amplo (variando de 125 a 8000 hz), é
nas quatro faixas de freqüência acima citadas que o ouvido é mais sensível.
Podemos, portanto, escrever

NIC = (N 500 + N1000 + N 2000 + N 4000)

A tabela abaixo estabelece a relação, em um recinto fechado, entre o NIC e


a possibilidade de estabelecer comunicação verbal, para diversas distâncias:

Para ambientes externos foi definido, empiricamente, o gráfico da figura


V.3 que estabelece distâncias máximas para que possa ser estabelecida
comunicação verbal.

Figura V.3 - Interferência na Comunicação no Exterior (SOUZA, p. 198)*


61

V.3.3. Inteligibilidade x Privacidade

O Índice de Inteligibilidade (I), compara o ruído “útil”, aquele que se deseja


perceber (normalmente o som da palavra) com o ruído de fundo.

Analogamente, existem situações em que não se deseja ouvir certos


ruídos: neste caso, pode-se comparar um ruído indesejável ao ruído de fundo.

O ruído de fundo é caracterizado pelo NIC, Nível de interferência na


Comunicação, e o ruído “útil” pela média aritmética dos níveis sonoros em quatro
faixas de oitavas (500, 1000, 2000 e 4000 Hz):

Nutil = (N 500 + N1000 + N 2000 + N 4000)

A equação que estabelece o índice (I), definida de forma empírica, através


da observação de um grande número de pessoas é a seguinte:

I=

onde:
I é o índice de inteligibilidade
Nutil é o nível do ruído que desejamos ouvir (ou mascarar)
NIC é o nível do ruído de fundo

Se o valor de (I) é superior a 0,4, existem boas condições de


inteligibilidade, o que ocorre se:

• o nível do ruído “útil” é suficientemente elevado para não ser mascarado


pelo ruído de fundo;

• o nível de ruído de fundo é baixo, permitindo que o ruído “útil” seja


perfeitamente percebido pelo receptor.

Se, ao contrário, não se deseja ouvir certos ruídos, é necessário que o


índice de inteligibilidade (I) seja o mais baixo possível. Admite-se que quando (I) é
inferior a 0,05:

• o ruído indesejado é suficientemente fraco para ser mascarado pelo ruído


de fundo;
62

• o ruído de fundo possui intensidade suficiente para que a intimidade seja


respeitada.

Em ambiente urbano, como em qualquer outro lugar habitado, é necessário


encontrar a justa medida entre a inteligibilidade necessária e a privacidade
freqüentemente indispensável.

V. 5. Materiais Absorventes

A capacidade de absorção de um material é indicada pelo seu coeficiente


de absorção sonora (α), que é a diferença entre a quantidade de energia sonora
incidente e a refletida, por um determinado material. A medida da absorção
sonora é o sabine (homenagem a Wallace Sabine), e varia de 0 (material
totalmente reflexivo) a 1 (material totalmente absorvente). O gráfico da figura V.4
classifica os materiais: em reflexivos, semi-absorventes e absorventes, de acordo
com seu coeficiente (α) por faixa de freqüência.

Figura V.4

A hipótese de um material ser totalmente reflexivo, ou absorvente, é


teórica. Na verdade quando uma onda sonora encontra uma superfície, sempre
parte da energia, maior ou menor, será absorvida. Como os materiais apresentam
diferentes coeficientes (α) para cada banda de oitava, o ruído refletido, além de
atenuado, também terá sua composição espectral modificada.

Os materiais absorventes podem ser classificados em:

Materiais fibrosos ou porosos: apresentam poros que se intercomunicam e pelos


quais penetram as ondas sonoras. O ar contido nos poros, sob o efeito das
63

variações de pressão acústica, é posto em movimento. A pressão do ar sobre as


paredes sólidas dos poros transforma parte da energia sonora em energia
térmica. Os materias porosos ou fibrosos (lãs de vidro, lãs de rocha,...), de modo
geral, absorvem melhor as altas que as baixas frequências. A tabela V.2
apresenta os valores de (α), para alguns materiais.

Tabela V.2 (CETUR - 81, p.61)

Material Coeficiente de Absorção (a)

125 250 500 1000 2000 4000


2
Lã de rocha (densidade: 100 kg/m , 0,27 0,62 0,88 0,93 0,81 0,76
espessura: 50 mm)
2
Massa plástica (densidade: 8 kg/m e 0,14 0,19 0,31 0,62 0,81 0,72
espessura: 20mm)
2
Fibra de madeira (densidade: 230 kg/m e 0,15 0,44 0,45 0,44 0,53 0,59
espessura: 20mm)
Gesso perfurado (diâmetro de perfuração: 0,10 0,19 0,42 0,74 0,57 0,34
6mm, espessura: 12mm) sobre là mineral
(espessura: 18mm)
Chapa metálica (20 % perfurada) sobre lã 0,61 0,75 0,73 0,70 0,76 0,67
mineral (espessura: 10 mm)
Madeira envernizada 0,05 0,04 0,03 0,03 0,03 0,03
Reboco 0,01 0,03 0,03 0,04 0,05 0,05
Mármore 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01
Gesso 0,04 0,03 0,03 0,04 0,05 0,08
Tijolo aparente 0,02 0,02 0,03 0,04 0,05 0,07
Compensado de 5 mm à 20 mm da parede 0,07 0,12 0,28 0,11 0,08 0,08
Compensado de 5 mm à 50 mm da parede 0,47 0,34 0,30 0,11 0,08 0,08
Lã de rochal aglomerada (espessura : 40 0,30 0,70 0,88 0,85 0,65 0,60
mm)
Lãde rocha aglomerada (espessura : 40 mm) 0,74 0,54 0,36 0,32 0,30 0,17
revestida de papel kraft
Lã de vidro (espessura : 25 mm) 0,15 0,58 0,60 0,64 0,62 0,62
Lã de vidro (espessura : 25 mm) sobre treliça 0,45 0,45 0,45 0,50 0,52 0,52
metálica flutuante
Lã de vidro (espessura : 25 mm) revestida de 0,39 0,45 0,56 0,59 0,61 0,55
tela
Argila expandida 0,40 0,90 0,90 0,80 0,75 0,85
Placas de pedra (10 cm) 0,09 0,13 0,13 0,16 0,27 0,49
Laje de concreto 0,06 0,06 0,06 0,09 0,16 0,25
Parede de tijolos estriados 0,05 0,27 0,23 0,13 0,21 0,46
Concreto aparente 0,02 0,02 0,02 0,04 0,05 0,05
Blocos de concreto rugoso 0,36 0,44 0,31 0,29 0,39 0,25
Blocos de concreto pintado 0,10 0,05 0,06 0,07 0,09 0,08
64

• Painéis flexíveis e ressonadores: Quando uma onda sonora atinge um


painel, afastado da parede por uma camada de ar, a vibração provocada pela
pressão exercida sobre o painel transforma parte da energia sonora em energia
térmica. Os painéis leves e flexíveis podem absorver uma quantidade
expressiva de energia, principalmente nas baixas freqüências. Quando o painel
estiver colado sobre a parede, a eficiência será maior nas altas e médias
freqüências.

Em ambiente urbano, os materiais mais constantemente utilizados possuem baixo


coeficiente de absorção sonora, refletindo a maior parte da energia incidente. Isto
pode ser explicado pela porosidade característica dos materiais absorventes, o
que ocasiona baixa resistência às intempéries, limitando as possibilidades de
aplicação no meio externo.

V.6. Materiais
Materiais Isolantes

O Índice de Redução Sonora (R) define a capacidade que uma parede, ou


de um elemento de vedação, possui de se opor à transmissão do ruído. Pode ser
expresso pela fórmula:

R = 10 log

onde:
Wi é a potência acústica incidente
Wt é a potência acústica transmitida pela parede.

• Paredes simples: A transmissão do som através de uma parede plana, não


porosa, homogênea e flexivel, é função da sua massa superficial, ou massa por
unidade de área. Esta propriedade é denominada “Lei da Massa”. Existem
várias versões dessa lei, dependendo do tipo de incidência sonora (normal,
aleatória ou de "campo") e se a relação foi obtida empírica ou teoricamente
para uma determinada faixa de freqüência .

Podemos admitir, simplificadamente, que a cada vez que a massa da


parede é dobrada, o isolamento é aumentado em cerca de 4dB. O isolamento
sonoro também é maior nas altas freqüências, aumentando de 4 dB a cada vez
65

que a freqüência é dobrada. A figura V.5 traduz a relação entre a redução sonora
e a massa superficial da parede, por faixa de freqüência.

A lei da massa funciona razoavelmente bem entre a menor freqüência natural de


ressonância do painel e a freqüência na qual ocorre o fenômeno da coincidência,
quando o comprimento de onda da flexão do painel iguala-se ao comprimento de
onda do som incidente. A menor freqüência de ressonância do painel depende de
sua rigidez, e é função das propriedades mecânicas do material e do modo de
fixação de suas extremidades (tipo de engaste utilizado). Dessa forma, um painel
de concreto ancorado firmemente a vigas e pilares, apresenta uma freqüência de
ressonância fundamental maior do que um painel idêntico, que esteja
simplesmente apoiado sobre a estrutura.

Figura V.5 - Gráfico da “Lei da Massa” (CORDEIRO, p. 69)

• Paredes compostas: Os materiais porosos, de uma maneira geral, não


obedecem rigorosamente à lei da massa, mas tendem a exibir uma atenuação
sonora diretamente proporcional à espessura do material. Assim, uma manta
de lã mineral de 2cm de espessura que apresente uma redução sonora (R) de
2 dB para uma certa banda de freqüência, apresentaria, para uma espessura
de 20 cm, um índice (R) igual a 20 dB. Quando utilizados entre painéis rígidos
(de boas características mecânicas), os materiais porosos atuam como “mola”,
66

minimizando a transmissão das ondas sonoras. Este conjunto é bastante


eficiente como isolante acústico, dispensando a utilização de painéis muito
espessos ou pesados. O índice (R) vai depender da massa, das condições de
conexão e da distâncias entre os elementos que constituem a parede. Para
estas paredes a massa total idêntica a de uma parede simples pode
representar uma redução (R) muito maior, sobretudo nas altas freqüências.

A tabela V.3 apresenta o índice de redução sonora (R) para o espectro


normalizado de ruído de trânsito (ver item VI.1.2.1).

Tabela V.3 (CETUR - 81, p.68)

Material Espessura Massa Índice (R)


cm Superficial dB(A)
kg/m2
Madeira 1,2 8 18
2,5 16 24
3,8 24 27
5,0 33 28

Compensado 1,9 12 20
2,5 16 24
3,2 21 26
Bloco de concreto 10,5 114 35
15,2 171 39
Tijolo 10,0 211 42

Placa de Concreto 10,0 244 45

Plástico sobre treliça 1,2 22 27


metálica
Vidro 0,3 8 27

Plexiglas 0,06 7 27
1,5 18 32
Chapa (*) 0,06 4,5 20
0,08 23
0,1 7 25
0,13 19 27
Alumínio 0,32 9 24

Chumbo 0,16 18 32
67

Capítulo VI

ELEMENTOS DO RUÍDO URBANO


68

VI. ELEMENTOS DO RUÍDO URBANO

VI.1. Emissão

VI.1.1. As Fontes de Ruído Urbano

O ruído, como qualquer sinal sonoro, pode ser perfeitamente caracterizado


por sua composição espectral no tempo, o que exige técnicas de tratamento de
sinal sofisticadas e equipamentos de medição pesados e de difícil transporte.
Uma caracterização mais simples de ser realizada, e também satisfatória,
pode ser feita a partir do estudo da média da energia sonora sobre um certo
intervalo de tempo. A análise dos ruídos urbanos, sob esta ótica, permite
identificar quatro tipos de sinais, a partir da sua marca temporal, baseado nos
indicadores de emergência de nível sonoro equivalente (Leq curto):
• ruído impulsivos: tem forte emergência durante alguns milésimos de
segundo. São habitualmente usados como advertência, por exemplo, um
alarme ou uma buzina;
• ruído de passagem: emergência sonora de alguns segundos, por
exemplo, o ruído produzido pela passagem de um veículo;
• ruído estacionário: apresentam pouca ou nenhuma variação do nível
sonoro, durante todo o período do evento, por exemplo, um compressor;
• ruído intermitente: do tipo “baforada”, por exemplo vozes, a saída de uma
boate.
Ressalvando-se algumas situações específicas, em que a comunidade é
incomodada pelo ruído produzido por uma determinada atividade (indústrias,
discotecas, igrejas ou canteiros de obra), as maiores queixas com relação à
poluição sonora estão concentradas no barulho do tráfego. Hoje, nas grandes
cidades, cerca de 80% da energia acústica total provém da circulação de veículos
automotores.

VI.1.2. O Ruído do Tráfego

O nivel e a composição espectral do ruído percebido pelo motorista e


passageiros é bastante diverso daquele que se ouve no exterior do veículo. As
69

características abaixo descritas são referentes ao ruído percebido pelos pedestres


e habitantes dos edifícios ao longo das vias de circulação.
Em princípio, um veículo, isoladamente, pode ser considerado uma fonte
pontual, omnidirecional. No entanto, à medida que se desloca, vai ocupando,
sussessivamente, todas as posições de seu percurso. Quando se considera a
média dos níveis sonoros instantâneos, em um período de tempo superior à
duração da passagem do veículo, é como se não existisse uma fonte pontual,
mas sim uma linha de fontes.
Uma via de circulação de veículos pode ser modelada como uma fonte
sonora linear de grande comprimento. A potência sonora por ela emitida vai
depender de uma série de fatores:
• número total de veículos;
• relação entre veículos leves e pesados;
• velocidade dos veículos;
• tipo de escoamento;
• inclinação da via;
• tipo de pavimentação.
Como já foi dito acima a potência sonora emitida é função da densidade do
tráfego: portanto, quanto maior o número de veículos mais elevado será o nível
sonoro. Podemos adotar a seguinte equação:
Leq total = NPS1 + 10 log n
onde:
Leqtotal é o nível sonoro equivalente da via em questão
NPS1 é o nível de potência sonora de cada veículo, individualmente
n é o número de veículos por hora
O cálculo acima deve ser realizado para cada categoria de veículo. De
modo geral, existem duas categorias:
• veículos leves: peso bruto total (PBT) inferior a 3,5 toneladas, como
automóveis particulares, por exemplo;
• veículos pesados: ônibus e caminhões com PBT maior que 3,5 toneladas.

Os veículos pesados emitem significativamente mais energia sonora que


os leves. A tabela VI.1 fornece valores aproximados de potência acústica para
cada categoria, de acordo com as condições de tráfego.
70

Tabela VI.1

Condições de Tráfego Potência em dB

Leves Pesados

50 km/h, rua, fluxo livre,em desaceleração 98 a 100 110

50 km/h, aceleração 104 115

Via Rápida Urbana 103 115

Auto-estrada 105 112

Pode, também, ser adotado o Fator de Equivalência Acústica (E) entre


veículos leves e pesados. Este fator depende das condições de escoamento e da
inclinação da via de tráfego, conforme tabela VI.2:

Tabela VI.2 - Valores do Fator de Equivalência Acústica (E)

Tipo de via Inclinação (%)

<2 2a3 3a4 4a6 >6

Auto-
Auto-estrada 4 5 5 6 6

Via rápida urbana 7 9 10 11 12

Via urbana 10 13 16 18 20

Até algum tempo atrás tentou-se estabelecer uma relação entre o tipo de
pavimentação e o ruído emitido pelo tráfego. Entretanto, embora diversos estudos
e medições tenham sido realizados os resultados encontrados foram dispersos e,
até mesmo, contraditórios.
Atualmente admite-se que todos os tipos de pavimentação apresentam
resultados semelhantes, com as seguintes exceções:
• revestimentos de alta aderência (anti-derrapantes) que provocam um
acréscimo da ordem de 3 dB(A);
• paralelepípedos que provocam um acréscimo de cerca de 5 dB(A).

VI.2.1. Espectro do Ruído do Tráfego

O espectro do som depende de características da fonte e do meio de propagação.


Os veículos automotores têm sua energia sonora concentrada nas baixas
71

freqüências, em torno 63 a 125 Hz para os automóveis e 250 Hz para as


motocicletas, conseqüentemente, no espectro do ruído do tráfego os tons graves
também são predominantes.

Em alguns países, o espectro de ruído automotivo foi normalizado. Na


França, o “Guide du Bruit des Transports Terrestres”, fascículo nº 4, define o
seguinte perfil para o espectro do veículo de tráfego:

Tabela 3 - Esprectro do Ruido do Trafego

125 Hz 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz Total

dB 71 70 66 65 63 57

dB(A) 55 62 63 65 64 58 70 dB(A)

VI. 2. Propagação

Diversos são os fatores que influenciam a propagação sonora através da


atmosfera: temperatura, umidade relativa do ar, presença de partículas em
suspensão (poluição) e, ainda, direção e intensidade dos ventos. Esta influência,
no entanto, só pode ser considerada significativa no caso de grandes distâncias.
Para a escala dos espaços tratados neste trabalho sua importância relativa é
pequena e, portanto, tais efeitos podem ser ignorados, para efeito de cálculo.

VI.2.1. Efeito da distância:

Figura VI.1 - Fonte Pontual e Fonte Linear (CETUR - 78, p. 15)


72

Como foi visto no item III.8, no caso de uma fonte pontual, o nível sonoro
sofre uma redução de 6 dB(A) para cada vez que a distância entre a fonte e o
receptor é dobrada. Para uma fonte linear, a redução é da ordem de 3 dB(A)/dd.
Indústrias e outras atividades produtoras de ruído podem ser, a grandes
distâncias, consideradas fontes pontuais fixas. Uma estrada, ou qualquer outra via
de circulação de veículos, deve ser tratada como uma fonte linear de grandes
dimensões.
Um redução de 10 dB(A) equivale, para o ouvido humano, à metade da
sensação sonora. Logo, podemos concluir uma primeira medida pode ser a de,
quando possível, aumentar a distância entre a fonte de ruído e o receptor. Níveis
sonoros muito elevados podem exigir medidas mais drásticas, como a
implantação de barreiras acústicas, como será visto mais adiante (item VI.2.5).
Xiaotu propõe a adoção das seguintes equações para determinar a
distância mínima preventiva para fontes de ruído:
• indústrias (1):

Ld = Lo - 18 log
• via de tráfego (2):

Ld = Lo - 13 log
onde: Ld é o nível sonoro recomendado pelas normas, em dB(A)
Lo é o nível sonoro à distância D0, em dB(A)
D0 é igual a 50 e 10m para as equações (1) e (2), respectivamente
d é a distância preventiva entre a fonte e o receptor, em metros
Este é, no entanto, um cálculo simplificado. Outros elementos tais como: o
vento, a temperatura, a topografia modificam essas leis. No caso de grandes
distâncias, devemos também considerar a absorção do ar, que provoca um
enfraquecimento de cerca de 7 a 8 dB(A) por quilômetro.

VI.2.2. Efeito do tipo de solo

Na prática, são classificadas como de campo acústico direto todas as


configurações urbanas em que a propagação do som envolve poucas reflexões.
No entanto, sempre existe, pelo menos, um plano refletor, representado pelo solo.
73

A quantidade de energia sonora contida na onda refletida depende das


características do tipo de piso: um solo “duro”será mais reflexivo, um solo “macio”
mais absorvente. O revestimento do solo pode também reforçar o efeito que
eventuais obstáculos (barreiras) naturais possam vir ter sobre a propagação
sonora. A tabela VI.4 classifica em 5 categorias os tipos de solo mais
freqüentemente encontrados:
Tabela VI.4 - Tipos de Solo

Categoria Coeficiente de absorção (a) Tipo de material


espelho dágua
laje de concreto
Totalmente reflexivo
1 chapa metálica
α=0 madeira envernizada
mármore, granito
madeira não polida e com juntas largas
reboco
placas de pedra regulares
Semi-reflexivo
2 blocos de concreto rugoso
α = 0,2 solos revestidos de material betuminoso
como asfalto
resinas
Semi-absorvente
3 madeira não polida sem juntas
α = 0,5
Absorvente solo natural muito irregular com vegetação
4 α = 0,7 densa
Totalmente absorvente
5 hipótese teórica
α=1

VI.2.3. Efeitos da vegetação

A vegetação não possui, por si mesma, um efeito de barreira significativo:


ensaios realizados com o uso de barreiras vegetais apresentam resultados
decepcionantes, do ponto de vista estritamente acústico. A redução sonora
propiciada por uma faixa de cem metros de vegetação densa é de apenas
10dB(A), ou seja, da ordem de 1 dB(A) para cada 10 metros de vegetação, o que
pode ser considerado insignificante.

O plantio de árvores sobre taludes de terra, nas bordas das vias de tráfego, se
revela bem mais eficiente, mas são os taludes e não a vegetação que se opõem à
propagação do ruído. Entretanto, como a utilização de barreiras artificiais provoca,
muitas vezes, rejeição por parte das populações vizinhas devido ao aspecto de
degradação visual que acarretam, alguns autores recomendam o uso combinado
das duas soluções.
74

A presença de vegetação pode, no entanto, ter um efeito significativo na


ambiência sonora de um espaço urbano pelos efeitos da absorção e do
mascaramento. Quando agrupadas e em grande quantidade, possuem a
propriedade de absorver as ondas sonoras, principalmente as de alta freqüência
(acima de 2000 Hz). Desempenham a mesma função de um revestimento
absorvente aplicado sobre o solo ou as fachadas: deformam o espectro do ruído,
atenuando os sons agudos e criando uma ambiência mais “surda”. Sob o efeito do
vento, podem se tornar uma fonte secundária de ruído em local urbano. Esse
ruído, quase sempre considerado agradável, pode mascarar os sons indesejáveis
e participar da ambiência acústica de um local.

Figura VI.2 - Efeitos da Vegetação

VI.2.4. Reflexão
Como foi visto anteriormente (item.III.10.1), assim como a luz, ao ser
refletida por um espelho, quando uma onda sonora encontra um obstáculo em
seu caminho de propagação ela é refletida segundo um ângulo de reflexão igual
ao de incidência.
O som emitido por uma fonte linear também pode ser, total ou
parcialmente, refletido por um obstáculo de largura limitada. A figura acima mostra
que o receptor (R) está recebendo o ruído emitido pela fonte (F) situada à
distância (d), acrescido do ruído da fonte virtual (F’), simétrica à (F) , em relação
ao plano refletor (P). O ângulo (β), a distância (d ) e o comprimento (L) dependem
da posição do receptor em relação aos limites do plano refletor.
Este é, esquematicamente, o comportamento do ruído emitido por uma via
de circulação de veículos, ao encontrar uma fachada. A quantidade da energia
acústica refletida varia em função da natureza mais ou menos absorvente do
plano refletor: quanto maior for o coficiente de absorção do material, menor será a
energia refletida. (item V.5)
75

Figura VI.3 - Reflexão de Fonte Linear

VI.2. 5.Transmissão

O som pode atravessar uma parede, ainda que esta não apresente
nenhuma abertura. O que ocorre é que, ao ser atingida por uma onda sonora, a
parede vibra e passa a funcionar como uma nova fonte, transmitindo o ruído.

Como já foi visto (item.V.6) a transmissão do som, no caso de paredes


simples, obedece à Lei da Massa, quanto mais pesada a parede, maior sua
capacidade de se opor à transmissão do ruído. Para obter um bom isolamento
sonoro é conveniente considerar o índice de redução sonoro oferecido pelos
materiais que constituem cada um dos elementos da fachada (alvenarias, painéis,
esquadrias, tomadas de ar).

As esquadrias são, freqüentemente, o ponto fraco de uma fachada, com


relação ao isolamento acústico. Isto se deve não só ao fato de serem estes
elementos normalmente fabricados em materiais leves, quase sempre possuirem
elementos vazados (venezianas, grelhas), como também pela dificuldade em
“selar” as frestas entre os caixilhos e as partes móveis.
76

A perda de transmissão sonora através de janelas e portas obedece à lei


da massa, ou seja, quanto mais pesadas, maior será a redução sonora. Da
mesma forma, esquadrias fabricadas de acordo com o princípio de painel duplo,
como janelas com dois vidros paralelos e desconectados entre si, apresentam
uma capacidade de isolamento maior que um painel simples com o dobro ou até o
triplo da densidade superficial. A tabela VI.5 apresenta os índices de redução
sonora para diversos tipos de esquadria.

Tabela VI.5

Janela aberta 7 dB(A)


Janela comum fechada 22 dB(A)
Janela comum fechada e calafetada ou janela com 27 dB(A)
vidro espesso e caixilho de boa qualidade
Janela com vidro duplo 27 a 35 dB(A)
Janela dupla, com ou sem ventilação incorporada 33 a 45 dB(A)

O isolamento fornecido por uma parede heterogênea é função do índice de


redução sonora de cada elemento, da superfície de cada um deles e das
condições de vedação entre eles.

VI.2.6. Difração
Chama-se difração ao processo físico que permite que o receptor possa
ser submetido ao ruído emitido por uma fonte sonora, mesmo quando um
anteparo impede a propagação direta. Dois são os efeitos principais ocasionados
pela existencia de um obstáculo entre a fonte e o receptor:
• parte de som é refletido e tem sua trajetória modificada;
• parte do som é difratado, modificando o campo sonoro na região do
receptor.

A difração acústica é diferente da difração ótica, onde a região de sombra é


bem definida. O “sombreamento”, na difração acústica, é progressivo, explicado
pelo fato de que o comprimento das ondas sonoras é significativamente maior que
o das ondas luminosas.
77

Figura VI.4 - Zona de Sombra

VI.2.6.1. Cálculo de Barreiras

Como já foi visto anteriormente o nível sonoro emitido por uma fonte
sonora linear decai de 3 dB a cada vez que a distância fonte/receptor é dobrada.
Para níveis sonoros muito elevados, ou quando não existe a possibilidade de
afastar o alinhamento dos prédios da via de tráfego pode ser necessária a
implantação de uma barreira acústica.

A barreira infinita é adotada como padrão para o cálculo da atenuação


sonoro. A atenuação varia com a altura da barreira e a sua posição em relação à
fonte (a via) e o receptor. A atenuação provocada pela barreira é função do
número de Fresnel (N):

N = 2δ/λ

onde:
δ = (A+B) - (a+b)
λ é o comprimento de onda

Figura VI.5 - Barreira Acústica


78

A atenuação depende do comprimento de onda, portanto, deve ser


calculada para todas as faixas de freqüência do ruído em questão.

Figura VI.6

O gráfico da figura VI.6 indica a redução sonora em função do número de


Fresnel. Quando a linha imaginária que liga a fonte ao receptor passa pela
extremidade da barreira N=0, para todas as freqüências. Se a reta intercepta a
barreira N>0. Quando a reta não encontra a barreira N<0.

O cálculo exato da atenuação provocada por uma barreira é relativamente


complexo. No entanto, algumas fórmulas simplificadas foram propostas. Uma
barreira simples pode ser calculada por:

∆t = 13 + 10 log (N)

onde:
∆t é a atenuação sonora
N é o número de Fresnel (N>1)
A fórmula acima é válida para o cálculo da difração provocada por uma
barreira ideal,infinita, porém, seu uso pode ser estendido a situações envolvendo
barreiras muito longas. Pode, ainda, ser aplicada a outras configurações como
barreiras espessas e fonte e receptor localizados em planos diferentes.

Na prática, quase sempre se encontram barreiras finitas, como a


representada no esquema abaixo. Neste caso, também deve ser considerada a
difração provocada pelas bordas laterais.
79

Figura VI.7 - Barreira Finita

A redução sonora efetiva pode ser calculada pela fórmula:

At = 10 log(10 -D1/10 + 10-D2/10 + 10-D3/10 + 10-D3/10 -D1/10+10-D1/10- D2/10


onde:
∆t é a atenuação da barreira
D1 é a distância entre a fonte e a borda superior
D2 e D3 são as distâncias entre a fonte e as bordas laterais
O resultado da equação acima apresentará uma redução sonora inferior
àquela apresentada por um barreira infinita (ou muito longa) de mesma altura, por
também considerar a difração provocada pelas bordas laterias.
Uma barreira contra ruídos de trânsito deve ter um apresentar um
isolamento de 22 dB(A), correspondente a uma massa superficial de 15 a
20kg/m2. Uma barreira real dificilmente apresenta eficiência superior a 12 dB.
Os fórmulas acima apresentadas são baseadas no desempenho de
barreiras “duras” (não absorventes). De acordo com a lei da conservação da
energia o som que não consegue chegar à zona de sombra é refletido. A
colocação de material absorvente na face da barreira voltada para os veículos
não interfere na difração mas atenua o som refletido, em função do coeficiente de
absorção (α) do material utilizado.
Eventualmente é necessária a adoção de “barreiras paralelas”, situadas de
ambos os lados da pista de rolamento. O cálculo de barreiras paralelas é um
pouco mais complexo porque devem ser consideradas as múltiplas fontes virtuais
resultantes das reflexões sobre as próprias barreiras.
80

No caso de barreiras paralelas algumas configurações alternativas são possíveis,


considerando-se as seguintes variáveis:
• H a altura das barreiras
• L a distância entre barreiras
• ∆ts a atenuação provocada por uma barreira simples

Figura VI.8 - Barreiras Duplas


Slama e Teixeira adotam os seguintes critérios para a escolha da solução
adequada:
• se H/L < 0,05 não há necessidade de nenhuma precaução extra;
• se 0,05< H/L < 0,1 é aconselhável o uso de barreiras inclinadas;
• se H/L > 0,1 e ∆ts < 12 é aconselhável o uso de barreiras inclinadas;
• se H/L > 0,1 e ∆ts >12 devem ser usados materiais absorventes do lado
voltado para o trânsito.

VI.2.7. Propagação em Canais

O exemplo mais simples de propagação sonora em campo reverberante é


o do ruído propagado ao longo de uma rua. Em campo livre existe um caminho
direto entre a fonte e o receptor. Porém, numa rua que tem ambos os lados
fechados por barreiras contínuas de edifícios, existem inúmeros outros caminhos,
resultado das reflexões sobre as fachadas, resultando num nível sonoro total
maior do que o que seria verificado para a mesma fonte, em campo livre, ou se
existisse uma distância considerável entre o alinhamento das fachadas.
81

Lyon relata resultados experimentais sobre modelos reduzidos em que foi


verificada uma atenuação da ordem de 7 a 8 dB/dd, verificou ainda uma
atenuação suplementar quando a fonte e o receptor estão em ruas
perpendiculares.
Três modelos, representando situações comuns em uma cidade foram
objeto de simulação computacional:
• uma rua simples;
• uma rua com interseção em “T”;
• uma rua com interseção em “X”.
Todas as ruas tinham comprimento, largura e altura igual a 100, 20 e 30
metros, respectivamente, e a potência das fontes, situadas no início da ruas, foi
considerada igual a 89 dB.
O objetivo do estudo foi o de verificar a atenuação em função da distância
e da altura. As ruas foram simuladas como salas, com piso de asfalto e paredes
de concreto liso e contorno anecóico para as outras paredes, rua longa e teto
(espaço livre). O cruzamento sempre ocorria no eixo das ruas.
Os resultados da simulação demostraram que o reflexão pelo piso é pouco
significativa, na parte inferior das fachadas o som é muito atenuado. A atenuação
próxima a fonte é de cerca de 6,5 dB/dd. Na parte superior das fachadas o nível
sonoro é mais uniforme. Na passagem pelos cruzamentos foram verificadas
atenuações extra de cerca de 8 dB.

V.3. Espaços
Espaços Sonoros Urbanos

O ruído emitido pelos veículos automotores encontra uma série de


obstáculos, representados pelas formas urbanas, que alteram o caminho das
ondas sonoras, acarretando modificações significativas (nível e composição
espectral) no ruído percebido.
Dentre os elementos morfológicos do espaço urbano, alguns, por sua
influência nos mecanismos de propagação sonora, são mais significativos. Estes
espaços, que chamaremos de espaços sonoros urbanos, possuem características
específicas, desvinculadas dos aspectos visuais, que demandam definição
particular.
82

V.3.1. Tecido Urbano

Esta expressão utiliza o entrelaçamento dos fios de um tecido como


metáfora para relacionar os espaços construídos e não-construídos de um meio
urbano.

O conjunto dos elementos físicos que contribuem para a forma do tecido


urbano são: o sítio, a malha urbana, a divisão fundiária, a proporção entre cheios
e vazios, a dimensão, a forma e o estilo dos edifícios e, finalmente, o modo como
esses elementos se interrelacionam.

A concepção de tecido urbano é tridimensional: está associada não apenas


à tipologia dos edifícios (escala, volumetria, estilo) mas, sobretudo, à morfologia
urbana (estruturas espaciais). Depende ainda da história do local em questão: a
malha viária e o parcelamento da terra são, freqüentemente, herdeiros das
estruturas rurais anteriores e de um desenho urbano definido pelas primeiras
construções. Mas o elemento mais variável, determinado, por um lado, pela
evolução dos materiais e técnicas construtivas e, por outro, pela legislação de uso
e ocupação do solo, é a altura dos edifícios. A noção de tecido urbano é, a um só
tempo, estática (uma “fotografia” de um espaço urbano, em um determinado
momento) e dinâmica (podendo sempre se modificar, ao longo do tempo).
Neste trabalho, a análise do tecido considera o modo como a percepção
sonora é afetada pelas características físicas do espaço urbano. A densidade,
volumetria e distribuição espacial dos edifícios influem diretamente na propagação
do som emitido pelas fontes sonoras urbanas, particularmente no ruído dos
veículos automotivos.

V.3.2. Espaço Acústico Aberto x Espaço Acustico Fechado

O espaço acústico aberto é caracterizado pelo estabelecimento de um


campo sonoro direto: a atenuação do som emitido por uma fonte está relacionada
à distância entre fonte e receptor. A onda sonora se dispersa na atmosfera, sem
voltar. Nos espaços acusticamente abertos, o nível sonoro aumenta quando a
fonte se aproxima e decresce quando esta se afasta, permitindo ao receptor
conhecer a posição da fonte, mesmo fora de seu campo visual, em função do
nível de ruído percebido.
83

Figura VI. 9 - Espaço Acústico Aberto


Pode também ser classificado como espaço acusticamente aberto aquele
onde ocorre uma reflexão simples: o som emitido pela fonte encontra, durante o
caminho de propagação, um obstáculo que o “devolve”, uma única vez.
Espaço acústico fechado é aquele no qual se estabelece um campo sonoro
difuso. Em um local fechado, a onda sonora é refletida inúmeras vezes: o nível
sonoro decai lentamente. A atenuação se processa pela perda de energia sonora
a cada reflexão, ou ainda, quando a onda sonora encontra um ângulo de escape
após um certo trajeto.

Figura VI. 10 - Espaço Acústico Fechado

Ao contrário do que ocorre no espaço aberto, o nível sonoro não depende


somente da distância entre a fonte e o receptor: a pressão sonora é,
aproximadamente, a mesma em todos os pontos do espaço. Pode, também, se
modificar em função de outras variáveis, como a potência da fonte e a
característica mais ou menos absorvente das superfícies refletoras, mas não
existe mais a informação sonora tão clara como no espaço aberto.
84

Para uma mesma fonte, à mesma distância, o nível sonoro em um espaço


fechado é superior ao do espaço aberto, por ser o somatório do nível sonoro
produzido pelas ondas diretas com o nível devido às múltiplas reflexões.
Alguns espaços acusticamente fechados podem ser particularmente
desagradáveis exatamente pela dificuldade de localização da fonte. Devemos
sempre ter em mente que uma das muitas funções do sentido da audição é
exatamente a de informar sobre o que acontece no entorno, mas que está fora do
nosso campo visual. Os espaços fechados podem, ainda, ao elevar o nível do
ruído de fundo, prejudicar a inteligibilidade das sons desejados.
É fundamental precisar que tipo de campo sonoro caracteriza o modo de
propagação de um ruído, em um determinado espaço:
• campo refletido ou parcialmente refletido - espaço acústico fechado;
• campo direto - espaço acústico aberto.
A caracterização acústica dos espaços sonoros deve ser desvinculada dos
aspectos visuais: certos espaços fechados visualmente podem deixar passar o
ruído, e vice-versa. Os conceitos de “aberto” e “fechado” poderão ser melhor
compreendidos a partir da noção de permeabilidade que será desenvolvida mais
adiante. Do ponto de vista estritamente acústico, pode-se admitir que:
O tecido urbano fechado é constituído por:
• pátios cercados por edifícios ou muros de grande altura que representem
um obstáculo, ou um conjunto de obstáculos, pouco permeável ao ruído;
• ruas em “U”, margeadas por edifícios colados nas divisas, dos dois lados
da via de circulação de veículos (item.VI.3.4).
O tecido urbano aberto é constituído por:
• edifícios afastados das divisas, criando espaços intermediários muito
permeáveis ao ruído;
• edifícios situados apenas de um lado da via de circulação;
• quando os edifícios são de pouca altura, ou o espaço entre as fachadas é
significativo (item .VI.3.4).

V.3.3. A Via
Do ponto de vista estritamente acústico, é necessário distinguir a rua da
via. Chamaremos de via o espaço reservado ao deslocamento motorizado, a pista
de circulação de veículos. A via é a fonte sonora.
85

Figura VI.11 - A Via

É evidente que uma via de circulação margeada de edifícios vai responder


a critérios diferentes de uma auto estrada implantada em um tecido urbano pouco
denso.
As vias de tráfego variam muito entre si, em função de algumas
características particulares tais como: largura, tipo de tráfego, relação entre
veículos leves e pesados.
Na França, o CETUR (Centre d’Etudes des Transports Urbaines), adota a
seguinte classificação:
• vias de trânsito;
• vias arteriais;
• vias de circulação;
• vias de distribuição.
O nível sonoro do ruído emitido varia bastante de um tipo para outro. A
tabela VI. 5 relaciona o tipo de via com a média de tráfego e as características
geométricas de cada uma delas.
Para cada tipo de via descritos, foram efetuadas cálculos de previsão dos
níveis sonoros. Na tabela VI.6 estão os níveis sonoros de cada tipo de via (em
Leq) em função do volume e da categoria de veículos que por ela circulam.
O planejamento de um espaço urbano não pode ignorar as vias de
circulação próximas, sem graves conseqüências sobre o funcionamento das
atividades que nele serão desenvolvidas. O edifício à margem de uma auto-
estrada, com tráfego de veículos pesados, deve ser diferente de outro, próximo de
uma via de distribuição. Do mesmo modo que a implantação de uma via, ou o
aumento do volume e da natureza de tráfego que por ela flui, não pode ignorar as
características do tecido urbano que a envolve.
86

Tabela VI.5 (CETUR -81, p.50)

Tipo de Via Natureza do tráfego Traçado geométrico


• pouco ou nenhum acesso de
pedestres;
• quase sempre existe um canteiro
• velocidade elevada (> 60 km/h); central intransponível;
• circulação relativamente regular e • curvas com grandes raios e pequena
estável (escoamento fluido); declividade ( 7%);

Via de • grande fluxo de veículos durante o dia • pistas de 3,5 m de largura;


e saturação nas horas de rush; • margens cercadas (taludes ou muros)
Trânsito • alta porcentagem de veículos e os alinhamentos dos prédios muito
pesados, durante 24 horas; afastados de suas bordas;

• tráfego noturno pesado. • cruzamentos ou passagens de nível


no caso de autoestradas ou de vias
rápidas, poucos cruzamentos com
sinais luminosos nas grandes vias
urbanas.
• acesso a pedestres possível em todos
os pontos;
• velocidade média de 60 km/h, e • ausência de canteiro central
possibilidade de maior velocidade no intransponível;
período noturno;
• várias pistas de rolamento ( de 3 a 3,5
• circulação regularmente fluida, mas m de largura) e curvas de grandes
possibilidade zonas de turbulência raios;
(acelerações e desacelerações) a
Via Arterial 200m dos cruzamentos; • cruzamentos no mesmo nível, com
ilhas e sinais luminosos, para acesso
• grande fluxo de veículos durante o a outras vias principais; acessos
dia; limitados (sinais, balizas ou paradas)
• saturação freqüente nas horas do para vias secundárias;
rush. • possibilidade de alinhamento das
construções na proximidade imediata
das vias.
• velocidade limitada (60 km/h); • acesso a pedestres em todos os
• circulação pulsante, com acelerações, pontos e possibilidade de
desacelerações e frenagens); estacionamento;

• pequeno fluxo de veículos; • curvas fechadas, impedindo


Via de velocidades elevadas;
• baixa porcentagem de veículos
Circulação pesados; • número de pistas limitados ( 2 ou 3);
• muitos cruzamentos;
• circulação combinada: pedestres e
veículos. • construções contínuas dos dois lados.
• baixa velocidade; • acesso a pedestres;
• pequeno fluxo de veículos; • características geométricas muito
• circulação combinada: pedestres e reduzidas , impossibilitando as
veículos. grandes velocidades;
Via de
• porcentagem muito baixa de veículos • grande número de cruzamentos;
Distribuição pesados; • número de pistas restrito (1 ou 2);
• circulação com muitas acelerações e • construçãoes contínuas de ambos os
frenagens. lados da via.
87

Tabela VI.6 (CETUR -81, p.51)

Porcentagem Tipo de Via

Volume de de veículos Distribuição Circulação Arterial Trânsito

Tráfego pesados distância distância distância Nivel


(veículos/hora)
(veículos/hora) (%) entre entre entre calculado a
fachadas = fachadas = fachadas = 30 m da
12 m 15 m 30 a 40 m borda

( 2 vias) ( 2 a 3 vias) ( 4 a 5 vias) Tipo 1 Tipo 2

6 0 51 _ _ _ _

60 5 63 61 _ _ _

100 5 67 65 62 _ _

500 10 75 73 70 65 67

600 10 76 74 71 66 68

900 10 78 76 73 68 70

1200 15 _ 77 74 70 72

1500 15 _ 78 75 71 73

2000 15 _ _ 76 72 74

4000 15 _ _ 79 75 77

6000 15 _ _ 81 77 79

10000 10 _ _ _ 78 80

15000 10 _ _ _ 80 82

Tipo 1 - Via tipo boulevard / Tipo 2 - Via Rápida Urbana

V.3.4. A Rua

O conceito de rua como espaço sonoro, abrange a via de circulação e o


seu entorno, as calçadas até o alinhamento das fachadas: um campo acústico
homogêneo envolve a fonte sonora. A fonte e o receptor estão no mesmo local. O
ruído percebido depende das características das superfícies refletoras: a
pavimentação da via e das calçadas, o revestimento e a o relevo das fachadas.
88

Figura VI.12 - A Rua

A rua deve ser compreendida, também, como o espaço que intermedia a


relação de um elemento urbano - a via, com outro - o edifício. A fachada
representa um obstáculo à propagação do som. Ao transpor este obstáculo o
ruído sofre sensíveis transformações quantitativas (nível sonoro) e qualitativas
(composição espectral). O ruído percebido na rua é diferente daquele percebido
no interior das edificações.
Duas são as configurações básicas:
• Rua em “U”: É limitada, de ambos os lados, por edificações coladas nas
divisas, que formam duas barreiras contínuas. A relação entre a altura dos
edifícios e a distância entre fachadas é superior a 0,2. O campo acústico é
parcialmente difuso e as reflexões sobre as fachadas tem grande influência no
nível sonoro total.
Este tipo de configuração protege o espaço interno da penetração do ruído
de fundo urbano (proveniente de outras ruas), resultando numa atenuação de
cerca de 15 dB(A). A atenuação do nível sonoro pela propagação, neste tipo de
rua, é inferior àquela prevista pelos cálculos teóricos: 7-8 dB(A) em lugar de 6
dB(A).

H/L >0,2

Figura VI.13 - Rua em “U”


89

• Rua em “L”: quando a relação entre a altura dos edifícios e a distância entre
fachadas é inferior a 0,2. Aproxima-se, em termos de propagação sonora, do
campo livre ou direto.

H/L < 0,2

Figura VI.14 - Rua em “L”

V.3.4.1. Previsão dos níveis sonoros

O nível de ruído resultante do tráfego de veículos vai depender, entre


outros fatores, do tipo de tecido urbano que envolve a fonte. Abaixo duas fórmulas
simplificadas que podem ser utilizadas para uma avaliação rápida dos níveis
sonoros produzidos por uma via:
• Tecido aberto:

Leq = 20 + 10log(QVL + E . QvP) + 20 log V - 12 log + 10 log


• Tecido fechado:
Leq = 55 = 10 log (QVL + E . QVP) - 10 log l + KH + KV + KD + KC
onde:
QVL é o número de veículos leves, por hora;
QVP é o número de veículos pesados, por hora;
E é o fator de equivalência entre veículos leves e pesados (tabela VI.2)
d é a distância entre o ponto de recepção e a margem da via em questão;
lC é a largura da faixa pavimentada;
θ é o ângulo entre o ponto de recepção e a via;
KH é o fator de correção de altura, pode ser calculado por:

KH =
90

h é a altura do ponto de recepção em relação à via;


KV é fator de correção de velocidade:
• a velocidade de referência é de 60 km/h,
• para velocidades iguais ou inferiores à referência não existe
necessidade de correção a KV = 0
• para velocidades superiores a correção será igual a 1 dB(A) para
cada 10 km/h acima do valor de referência;
KD é o fator de correção de declividade (tabela VI.2) os valores estão na
tabela de equivalência netre veículos leves e pesados;
KC é o fator de correção de cruzamento, quando ocorre o cruzamento
entre duas vias o nível sonoro resultante será igual a:
L total = L1 [L2 - (3+10x)]
L1 é o nível sonoro da via em estudo;
L2 é o nível sonoro da via transversal;
x é a distância entre o ponto de recepção e o cruzamento.

Figura VI.15 - Cruzamento


Certos tipos de pavimentação provocam acréscimo no nível de ruído,
adicionar:
• 3 dB(A) a para revestimentos de alta-aderência;
• 5 dB(A) para revestimentos em blocos (paralelepípedos).

V.3.5. A quadra

A quadra recebe o som que, emitido pela via, propaga-se ao longo da rua.
Para o urbanismo pode ser definida como “a menor unidade do espaço
urbano, inteiramente delimitada pelas vias de circulação”. Nas cidades européias
mais antigas, a forma e as dimensões das quadras são extremamente variáveis.
91

Porém, nas cidades de formação mais recente, principalmente nas das


Américas do Norte e do Sul, o mais comum é que sejam delimitadas por uma
malha viária regular apresentando a forma retangular. A quadra é dividida em
lotes , unidades de tamanhos variados mas que, quase sempre, apresentam
formas quadrangulares e perpendiculares aos limites externos da quadra. Estes
limites podem ser modificados ao longo do tempo sem que isto acarrete,
necessariamente, modificações no parcelamento dos lotes. Edifícios, praças e
jardins são diferentes formas de ocupação do espaço das quadras.

Do ponto de vista acústico, chamaremos de quadra a uma “porção de


espaço urbano limítrofe ao local de emissão do ruído, porém separada da zona de
emissão por um dique que cria uma ruptura para a propagação dos sons”. O
alinhamento dos edifícios estabelece uma muralha que protege os espaços,
privados ou não, situados no interior da quadra.

Figura VI.16 - A Quadra

Deve ser considerada a existência de atividades (fábricas, clubes,escolas),


que representem uma fonte de ruído adicional. O lote é, ele próprio, uma entidade
sonora dotada de uma ambiência sonora característica, produto dos hábitos e
relações dos habitantes e da forma de utilização do espaço.
92

Quando a malha urbana é pouco densa, composta por blocos isolados,


implantados entre grandes áreas livres (circulação de pedestres, áreas de lazer,
estacionamentos) que não constituam uma muralha contínua, a noção de quadra
é mais fluida. No entanto, a quadra permanece, por definição, como o espaço
delimitado pelas vias de circulação.
O estudo da quadra permite qualificar certos espaços externos, que
não a fonte de ruído (via): são os espaços de “proteção” - pátios, jardins. Permite
ainda a ponderação entre ruído de fundo e ruído significativo

V.3.6. O Envelope da Quadra

O envelope da quadra é constituído pela quadra e seu entorno imediato: as


fachadas das quadras adjacentes, as fontes de ruído (vias) e o alinhamento das
fachadas externas da própria quadra.

Figura VI.17 - O Envelope da Quadra

Neste estágio podemos passar do estudo do ruído emitido ao estudo de


sua propagação, e, então, trabalhar a forma urbana de modo a gerenciar essa
propagação. O trabalho sobre o envelope da quadra é feito em dois níveis:
• A modelagem do ruído e controle da propagação acústica, na escala da
quadra;
• O estudo do avanço do ruído que se expande a partir do local da fonte (a
via) para o espaço do ruído atenuado (as quadras adjacentes)
93

V.3.7. Permeabilidade

A permeabilidade de um edifício ou conjunto de edifícios está associada à


existência de “caminhos” por onde o som, proveniente de um determinado ponto,
pode penetra e se propaga, expondo certos espaços a níveis sonoros, muitas
vezes, elevados.

A aplicação do conceito de permeabilidade à análise morfológica do tecido


urbano pode contribuir para uma avaliação mais precisa do comportamento das
diversas tipologias arquitetônicas e urbanísticas diante do ruído.

Este conceito é particularmente importante nas cidades de clima tropical


úmido, onde certos parâmetros de projeto, indicados para garantir bons índices de
conforto higro-térmico (ventilação natural, materiais de baixa inércia térmica)
acabam por resultar em edificações bastante permeáveis ao ruído externo.

V.3.7.1. Permeabilidade do Tecido Urbano

A maior ou menor permeabilidade de um tecido urbano ao ruído depende


do posicionamento dos edifícios em relação às fontes de ruído, principalmente às
vias de tráfego pesado.
Tomemos como exemplo as duas implantações abaixo: um edifício(A),
perpendicular à via, e um edifício (B), paralelo à mesma. As fachadas menores
são empenas cegas e o afastamento em relação à via de tráfego é o mesmo em
ambas as situações.
Na situação (A), se um ponto receptor situado na empena voltada para a
via está exposto a um determinado nível sonoro, o nível sonoro percebido nas
fachadas laterais do edifício sofrerá uma redução da ordem de 3 dB(A). O que
significa que o nível de ruído recebido nas fachadas laterais é igual à metade
daquele a que está exposta a empena.
Na situação (B), a fachada voltada para a rua estará exposta ao mesmo
nível sonoro que a fachada da situação (A). No entanto o ruído percebido na
fachada posterior sofrerá uma redução de cerca de 10 dB(A).
94

Figura VI.18

Comparando as duas situações, negligenciando para efeito de cálculo as


empenas cegas, podemos afirmar que:
• 100% das fachadas no caso (A) estão expostas a um nível sonoro de [L-
3dB(A)];
• 50% das fachadas do caso (B) estão expostas a um nível sonoro de [L
dB(A)] e 50% estão expostas a um nível sonoro de [L-10 dB(A)].
Consideremos agora, os conjuntos de prédios dispostos segundo as
configurações (C) e (D). O afastamento das fachadas em relação à via é o mesmo
nas duas situações.

Figura VI.19
95

Uma rápida comparação do comportamento do ruído nas duas


configurações, nos permite supor que a fachada dos imóveis situados na parte
posterior do lote estão na situação (D) expostas a níveis sonoros inferiores aos
seu correspondentes na situação (C).

Admitindo um nível de referência igual a 70 dB(A), sobre as fachadas


contíguas à rua, a porcentagem de superfície, em relação a área total das
fachadas, expostas a certas faixas de nível sonoro será, simplificadamente, a
seguinte:

Tabela
Tabela VI.7
70 dB(A) 65 a 70 dB(A) 60 a 65 dB(A) 55 a 60 dB(A) Inferior a 55
dB(A)

D 37,5 % - 37,5 % 12,5% 12,5%

C - 75% 12,5% - 12,5%

No exemplo acima, a configuração (C) mostrou-se mais permeável ao ruído


que a configuração (D). Entretanto, dependendo do nível de ruído produzido pela
fonte sonora, a situação (D) pode expor algumas fachadas a níveis sonoros muito
elevados.

A situação (D) é encontrada, com freqüência, em ruas de quarteirões


antigos: as fachadas voltadas para a rua são expostas a ruídos de toda natureza,
mas o próprio edifício atua como uma muralha protegendo os espaços interiores
das quadras. A situação (C) corresponde ao urbanismo contemporâneo, onde os
parâmetros de ocupação são menos rígidos. Existe maior liberdade na
implantação dos edifícios e a ocupação dos terrenos é mais fragmentada. Este
tipo de solução permite que o ruído se espalhe sobre os espaços vazios. No Rio
de Janeiro o tecido urbano tipo (D) é o encontrado, por exemplo, em Copacabana
e o tipo (C) na Barra da Tijuca.

A solução a ser adotada pelo arquiteto ou urbanista deve considerar


também outras variáveis, além das meramente acústicas, tais como a insolação e
a ventilação dos edifícios.
96

V.3.7.2. Permeabilidade do edifício

O estudo do ruído nas edificações em clima quente-úmido deve sempre


considerar a existência de um determinado nível de permeabilidade. Uma das
estratégias mais importantes para garantir bons índices de conforto higrotérmico é
a ventilação natural. As ferramentas clássicas de auxílio ao projeto bio-climático
(tabelas de Mahoney, diagramas bioclimáticos) recomendam utilização de
grandes aberturas e ventilação cruzada. Áo induzir a passagem do ar, é inevitável
que o ruído aéreo também se propague pelo interior da edificação.

A permeabilidade de um edifício ao ruído está associado não apenas à


quantidade e ao posicionamento das aberturas, mas também a certas
características do envelope da construção.

Como foi visto anteriormente, o ruído pode “atravessar” uma parede ainda
que esta não apresente nenhuma abertura. No caso das paredes simples, cujo
comportamento é regido pela “Lei da Massa”, quanto mais pesada a parede,
maior será sua capacidade de se opor à transmissão do ruído. A estreita
amplitude térmica, característica do clima tropical-úmido, recomenda o uso de
materiais leves (baixa inércia térmica) que apresentam, conseqüentemente, mau
desempenho como isolantes.

Figura VI.20 - Permeabilidade do Edifício


97

V.3.8. Espessura

Uma vez que as características deste tipo de clima limitam a clássica


utilização do isolamento como estratégia para proteger o edifício dos ruídos
externos, o conceito de espessura pode ser de grande valia para minimizar o
desconforto causado pelo ruído.
Em um espaço acústico fechado, uma onda sonora é sucessivamente
refletida por uma série de obstáculos. O ruído percebido após este processo é
atenuado e tem seu espectro modificado. A utilização de um espaço “tampão”
entre a fonte de ruído e o receptor pode ser extremamente útil em situações onde
se deseja compatibilizar atenuação sonora e ventilação natural.

V.3.8.1. Espessura da fachada

O conceito de espessura da fachada não está associado apenas à massa


da parede externa, é muito mais amplo. A fachada não é somente uma “pele” que

opõe sua massa à penetração do ruído. Pode-se conseguir a modulação do ruído,


através do uso de elementos de transição, entre interior e exterior: varandas,
arcadas, pórticos, escadas externas. A largura destes elementos, por si só, é
responsável por uma certa redução do nível sonoro.

Figura VI.21 - Espessura da Fachada


98

É como se o edifício possuisse duas fachadas separadas pelo espaço de


transição. A multiplicidade de obstáculos apresenta bom desempenho acústico,
sem que seja necessário o uso de materiais pesados. Quando os espaços de
transição são abertos (varandas, sacadas) oe parapeitos devem ser fechados
calculados de modo a funcionar como barreira acústica.

Estes espaços intermediários, dotados de ambiência sonora própria, não


representam um corte brusco na propagação, e sim um filtro por onde o ruído
passa e é progressivamente atenuado.

O campo acústico nestes espaços é, quase sempre, difuso. A escolha adequada


de materiais de revestimento permite reduzir o nível sonoro e deformar o espectro
de freqüências, modulando a propagação do ruído de fundo, nos espaços que
necessitam de proteção.

V.3.8.2. Espessura do Envelope da Quadra

A barreira representada pelos edifícios protege o interior das quadras do


ruído do tráfego. Estes espaços internos, públicos ou privados, podem ser
apropriados pelos usuários das quadras.

Figura VI.22 - Espessura do Envelope da Quadra

A espessura do envelope da quadra é importante para a gestão do ruído


urbano e a criação de sequências urbanas: é um mundo sonoro dotado de
permeabilidade propria, um espaço tampão que não tem a brutalidade de uma
fronteira, mas sim a virtude da progressividade.
99

VI.4. Estudo sobre Maquetes

O estudo sobre maquetes se baseia no princípio básico da similitude: “a


equação geral do som se conserva se dividimos por um mesmo fator as
dimensões dos obstáculos e os comprimentos de onda.. O que significa que para
representar a freqüência de 1000 Hz numa escala 1./100 é necessário emitir um
som de 100.000 Hz. (ultrason). Evidentemente, que as características dos
materiais utilizados devem também manter a mesma proporção em relação à
situação real.

O método consiste em, numa sala estanque,anecóica, com ar desidratado


de modo a manter as condições atmosféricas similares a uma escala de 1/100
(por exemplo, para uma umidade real de 60% a simulação utiliza umidade do ar
de 6%) explorar o campo sonoro através de um microfone miniatura (menos de
4mm de diâmetro). Um computador monitora o deslocamento do microfone,
registrando e efetuando o tratamento e a edição dos dados acústicos. As
medições podem ser repetidas tantas vezes quanto necessário para comparar o
desempenho das variantes.

Ainda não existe no Brasil nenhum laboratório apto a realizar este tipo de ensaio.
O método acima descrito é utilizado no Centro de Maquetes de Grenoble, França.
Embora caro e, até o momento, não disponível em nosso país o estudo sobre
modelos reduzidos permite grande precisão nos resultados podendo resultar,
quando em obras de grande porte, em considerável redução do custo final.

A utilização de modelos reduzidos para previsão de níveis sonoros se justifica nos


seguintes casos:

• nos estudos de atenuação sonora envolvendo situações complexas, pouco


adaptado aos métodos de cálculo manuais ou computacional, como por
exemplo, nos casos de superfícies curvas ou coberturas parciais;

• quando, após um primeiro estudo realizado através de um software, é


necessário comparar as variantes do projeto de proteção sonora integrando
todos os detalhes de sua forma (plano de massa);

• para o estudo detalhado da forma de um sistema de proteção sonora complexo


(por exemplo, elementos de fachada) na escala arquitetônica.
100

Os cálculos manuais não apresentam precisão, podendo ocorrer variações de


até 2 dB(A). O exemplo da figura VIII. mostra que a 2 dB(A) pode corresponder
acréscimo de um metro na barreira acústica ou a diferença entre um sistema
reflexivo ou difrator.

Figura VIII.23 - Estudo sobre Modelo Reduzido (CMG, p.8)


101

Capítulo VII

CONTROLE DE RUÍDO URBANO


102

VII. CONTROLE DE RUÍDO URBANO

VII.1. Medição de Ruído

O ruído pode ser definido como: “uma vibração errática, intermitente e


estatísticamente aleatória”. O ruído de tráfego flutua enormemente ao longo do
tempo: a fonte se aproxima, o nível sonoro aumenta, passa por um máximo e
decai à medida que esta se afasta. O sinal emitido pelo fluxo de veículos em uma
via de circulação urbana é extremamente complexo.

Figura VII.1 - Medição do Ruído

A caracterização de sons complexos pode ser feita a partir da medição da


pressão acústica eficaz, que corresponde à média quadrática das pressões
instantâneas, em um determinado intervalo de tempo. O valor eficaz da pressão
acústica pode ser calculado pela expressão:
103

(Pef )2=
onde:
Pef é a pressão acústica eficaz
∆t é o intervalo de tempo considerado, entre os instantes t1 e t2
p é a pressão acústica instantânea

VII.2. Análise dos Resultados


Um dos aspectos fundamentais na avaliação do ruído do tráfego e do
incômodo por ele produzido, é a escolha do período de tempo sobre o qual são
registrados os sinais sonoros, de considerável importância para a
representatividade do estudo em questão. Devido ao fato de variar enormemente
ao longo do tempo, a medição instantânea dos sinais sonoros não é suficiente:
somente uma média, obtida após um determinado período de registro, pode ser
considerada significativa.
Diferentes índices podem ser adotados para a análise dos resultados
obtidos, nas medições em campo. Os principais são os índices estatísticos e os
índices energéticos.

VII.2.1. Índices estatísticos


O método consiste em registrar a variação da pressão sonora sobre um
determinado intervalo de tempo e, então, subdividir este intervalo em períodos
menores, registrando o nível atingido em cada um desses instantes. Admitindo-se
como independentes entre si os valores encontrados, podemos utilizar métodos
estatísticos sobre os resultados, e traçar uma curva de distribuição estatística dos
níveis de pressão instantânea.
Podemos, então, definir os seguintes valores:
• nível de ruído de pico (L10), é o nível sonoro que é ultrapassado 10% do tempo
de observação;
• nível médio de ruído (L50), é a média estatística, o nível que é ultrapassado
50% do tempo considerado;
104

• nível de ruído de fundo (L90), ou nível de ruído ambiente: “o nível que é


superado 90% do tempo de observação”, é um dos critérios recomendados
pela norma NBR-10151, para avaliar o ruído de fundo.
Os índices supracitados, particularmente o L50 , calculado entre 6 e 22 horas,
têm seu uso recomendado na França, cabendo, contudo, algumas ressalvas à
sua utilização:
• a amostra estatística deve ser escolhida com cuidado, de modo a
garantir que seja representativa e a distribuição de probabilidades se
aproxime da realidade;
• constituem apenas uma probabilidade de que, em um determinado local,
um certo nível sonoro seja atingido, ou ultrapassado por uma certa
fração de tempo.

VII.2.2. Índices energéticos - Nível Sonoro equivalente (Leq)


Quando a flutuação ao longo do tempo é mais complexa, a NBR-10151
recomenda a adoção do Nível Sonoro Equivalente (Leq), também adotado na
França e na Alemanha, para avaliação dos ruídos rodoviário e ferroviário.
. Nível sonoro equivalente é, por definição, a média da energia acústica
percebida durante um determinado período de observação. Considerando-se um
ruído variável, percebido em um certo intervalo de tempo, o Leq representa o nível
de ruído constante que poderá ser produzido com a mesma energia do ruído de
fato percebido, no mesmo período.
Sua formulação matemática é a seguinte:
• Forma discreta:

Leq = 10 log

onde:
Li é o nível sonoro correspondente ao ponto médio da classe, em dB(A)
ti é o intervalo de tempo (expresso em porcentagem do período de tempo
relevante ou representativo escolhido) para o qual o nível sonoro
permanece dentro dos limites da classe (i)
105

• Forma contínua:

Leq = 10 log
onde:
T é o tempo de observação
L é o nível sonoro, variando ao longo do tempo (T), em dB(A)

O Leq pode ser calculado para diferentes períodos de tempo, como por
exemplo: Leq curto (1, 2, 10 seg,...); Leq de 20 minutos; Leq diurno ou noturno,
representando diferentes realidades acústicas.
Para indicação do período de observação pode ser adotada uma das
seguintes convenções:
• Leq (t1, t2) = x dB(a), onde t1 e t2 representam os limites do tempo de
observação;
• Leq (T) = x dB(A), onde T é o período estudado.

VII.3. Critérios de Ruído


Para que um ambiente possa ser considerado confortável, do ponto de
vista acústico, não deve ser excessivamente silencioso. Como já foi visto
anteriormente, nesta situação, mesmo os sons mais fracos, como o ruído de
passos ou de uma torneira que pinga, podem ser motivos de sobressalto ou
incômodo. Por outro lado, a presença de um ruído de fundo muito elevado pode
vir a prejudicar a execução de determinadas tarefas, impedir a concentração e
dificultar a comunicação.
Outros fatores como o clima, os valores culturais e a paisagem sonora de
cada região também podem interferir no padrão de ruído considerado confortável
pelo usuário. Os estudos existentes são, entretanto, insuficientes para que estas
diferenças possam ser traduzidas em variações nas zonas de conforto acústico.
Atualmente, o nível de ruído de fundo ideal para cada ambiente é determinado em
função do tipo de atividade a que ele se destina.
As Noise Criteria (NC), ou Critérios de Ruído (CR), foram desenvolvidas
por Beranek, nos Estados Unidos. São definidas por valores de NPS, nível de
pressão sonora, em oito faixas de freqüência.
106

Uma segunda curva, denominada Noise Rating (NR), adotada pela ISO,
permite avaliar o incômodo provocado pelo ruído na vizinhança das áreas
industriais.

Para classificar o ruído de fundo de um ambiente, devemos comparar os


valores encontrados nas medições com o das curvas padrão. Os valores de NPS
devem se aproximar da curva sem ultrapassá-la. Uma avaliação rápida pode ser
feita associando-se as curvas NC a um único valor de NPS. O mais correto, no
entanto, é proceder a uma análise espectral do ruído antes de enquadrá-lo em
uma determinada curva.

Figura VII.2 - Curvas NC e NR


107

Tabela VII.1
Valores de NPS (em dB) por Faixa de Freqüência (em Hz) das Curvas NC

Curva 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000

NC - 70 83 79 75 72 71 70 69 68

NC - 65 80 75 71 68 66 64 63 62

NC - 60 77 71 67 63 61 59 58 57

NC - 55 74 67 62 58 56 54 53 52

NC - 50 71 64 58 54 51 49 48 47

NC - 45 67 60 54 49 46 44 43 42

NC - 40 64 57 50 45 41 39 38 37

NC - 35 60 52 45 40 36 34 33 32

NC - 30 57 48 41 36 31 29 28 27

NC - 25 54 44 37 31 27 24 22 21

NC - 20 50 41 33 26 22 19 17 16

NC - 15 47 36 29 22 17 14 12 11

A norma NBR-10152, Nível de Ruído para Conforto Acústico, da ABNT, fixa


os níveis de ruído de fundo compatíveis com ambientes diversos, estabelecendo
valores, em dB(A) e NC. Tais valores (tabela VII.2) são definidos de acordo com a
tipologia do edifício conforme o uso geral (escolas, hospitais, residências,..) e da
atividade desempenhada no ambiente em questão. Os valores mínimos indicam o
nível sonoro para conforto e o máximo o nível sonoro tolerável. A norma NBR-
10152 define níveis de conforto, níveis superiores podem causar desconforto sem
que provoquem, necessariamente, danos à saúde.
108

Tabela VII.2

dB(A) NC
Locais
Hospitais
Apartamentos, Enfermarias, Berçários, Centros Cirúrgicos 35 - 45 30 -40
Laboratórios, Áreas para Uso do Público 40 - 50 35 - 45
Serviços 45 - 55 40 - 50
Escolas
Bibliotecas, Salas de Música, Salas de Desenho 35 - 45 30 - 40
Salas de Aula, Laboratórios 40 - 50 35 - 45
Circulação 45 - 55 40 - 50
Hotéis
Apartamentos 35 - 45 30 - 40
Restaurantes, Salas de Estar 40 - 50 35 - 45
Portaria, Recepção, Circulações 45 - 55 40 - 50
Residências
Dormitórios 35 - 45 30 - 40
Salas de Estar 40 - 50 35 - 45
Auditórios
Salas de Concerto, Teatros 30 - 40 25 - 30
Salas de Conferência, Cinemas, Salas de Uso Múltiplo 35 - 45 30 - 35
Restaurantes 40 - 50 35 - 45
Escritórios
Salas de Reunião 30 - 40 25 - 35
Salas de Gerência, Salas de Projetos e de Administração 35 - 45 30 - 40
Salas de Computadores 45 - 65 40 - 60
Salas de Mecanografia 50 - 60 45 - 55
Igrejas e Templos (Cultos Meditativos) 40 - 50 35 - 45
Locais para Esporte
Pavilhões Fechados para Espetáculos e Atividades 45 - 60 40 - 55
Esportivas
109

VII.4. Meio Ambiente e Poluição Sonora

Na esfera federal, o controle da poluição sonora do meio ambiente é regido


pela Resolução no 001 CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 8 de
março de 1990.
A supracitada resolução, considerando os danos à qualidade de vida,
provocados pela poluição sonora nos grandes centros urbanos estabelece
padrões e critérios de ruído para diversos tipos de atividade, remetendo a normas
existentes:
• No interior das edificações, o ruído deverá estar dentro dos níveis
estabelecidos, para cada tipo de ambiente, pela norma 10152 - Níveis de
Ruído para Conforto Acústico - ABNT;
• A emissão de ruídos por veículos automotores devem obedecer às
normas do CONTRAN, Conselho Nacional do Trânsito;
• O ruído produzido por atividades industriais deverão estar de acordo
com as normas do Ministério do Trabalho.
O impacto sonoro e os métodos de medição recomendados são os estabelecidos
pela norma NBR10151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o
Conforto da Comunidade (ABNT).

VII.4.1. Avaliação do Ruído - NBR 10151


A norma NBR-10151 - “Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o
Conforto da Comunidade” da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas -
Rio de Janeiro/1987), estabelece métodos de medição, fatores de correção dos
níveis medidos e estabelece critérios para avaliação do impacto sobre o
ambiente.
Sobre o resultado das medições pode ser adotada a análise estatística ou,
dependendo da variação temporal do ruído, o nível sonoro equivalente. Podem
também ser necessárias correções nos níveis medidos em função de
características particulares do ruído: duração, composição espectral e fator de
pico.

A norma trata da avaliação da alteração dos níveis sonoros de um local,


devido à introdução de uma nova atividade, definindo dois critérios de ruído,
aplicáveis a duas situações diferentes.
110

O caso geral utilizado, quase sempre, para fins de zoneamento, estabelece


o nível de 45 dB(A) como critério básico de ruído externo para zonas residenciais.
As variações são obtidas através da fórmula:
Nc = 45 + Cp + Cz
onde:
Nc é o nível critério
Cp é a correção para o período do dia (diurno, noturno)
Cz é a correção para o tipo de uso da zona em questão (hospitais,
residencial urbana, centro da cidade, industrial).
No caso particular, quando ocorrem queixas a respeito de uma
determinada atividade, a norma recomenda a adoção de um nível critério
associado ao ruído de fundo do local, a partir do qual será definida a emergência
do ruído produzido pela nova atividade com relação ao ruído de fundo.
Nestes casos, a medição deve ser feita diretamente e não são admitidas
correções nos níveis obtidos. O nível do ruído de fundo será a média dos níveis
sonoros mínimos no local, sem a interferência do ruído perturbador. Caso seja
utilizada a análise estatística, deve ser considerado, como ruído de fundo, o nível
que é superado em 90% do tempo de medição.
Para cada caso a norma relaciona a resposta estimada da população ao
ruído provocado pela nova atividade, conforme tabela abaixo:

Tabela VII.3 - Resposta Estimada da Comunidade

Valor em dB(A) pelo qual o Resposta estimada da comunidade


nível sonoro corrigido Categoria Descrição
ultrapassa o nível critério
0 Nenhuma Não se observa reação
5 Pouca Queixas esporádicas
10 Média Queixas generalizadas
15 Enérgicas Ação comunitária
20 Muito enérgicas Ação comunitária
vigorosa

Do ponto de vista prático, considerando-se que deve ser ultrapassado o


nível correspondente a ”queixas esporádicas”, o nível critério não deverá ser
superior a 5 dB(A).
111

VII.4.2. Alternativas para Controle de Ruído Urbano


Todo o conhecimento relativo ao controle de ruído urbano, inclusive a
legislação acústica urbana, que é um dos instrumentos desse controle, é
originário de países de clima temperado ou frio. Ainda não existe um estudo
sistemático do controle de ruído urbano em clima quente, quer no âmbito da
legislação quer no das soluções arquitetônicas. Esta questão é particularmente
relevante nas cidades de clima tropical-úmido onde, como foi visto anteriormente,
a necessidade de ventilação natural produz edificações extremamente
permeáveis ao ruído.
O ponto de partida para elaboração de uma legislação acústica adequada
pode ser a norma internacional ISO 1996 “Assessment of Noise with Respect to
Comunity Response” e sua contrapartida brasileira, a norma NBR - 10151.
Algumas metodologias para o controle de ruído urbano, em âmbito
municipal, podem ser elaboradas a partir da associação dos critérios, geral e
particular, da norma NBR - 10151:
A metodologia adotada pela NBR 10151 associa os dois critérios de forma
independente. Entretanto, não existe coerência entre os dois critérios e, em uma
mesma situação, os resultados obtidos podem ser significativamente diferentes.
Outras metodologias, baseadas na utilização de apenas um dos critérios,
abandonando o outro, podem ser propostas:
• Metodologia 1: Zoneamento.
• Definir o nível critério geral, que depende do zoneamento e de outros
parâmetros (dia/noite, características do ruído);
• Calcular o nível sonoro equivalente e aplicar sobre este as correções
necessárias.
• Verificar se o nível critério é ultrapassado em mais de 5 dB(A).
• Em caso afirmativo, devem ser tomadas as devidas providências legais.
Este é o método adotado pela legislação do Município de Rio de Janeiro,
que define critérios de ruído em função do zoneamento.
A definição de um nível máximo para cada zona permite que o nível de
ruído suba até saturar a condição em todos os pontos da região. A situação
extrema pode se tornar intolerável. Existe, ainda, a possibilidade de
descontinuidade entre os níveis máximos de duas zonas limítrofes, o que pode
ser evitado através da criação de áreas de transição.
112

• Metodologia 2: Emergência do ruído da nova atividade em relação ao ruído


de fundo.
• Medir o ruído de fundo;
• Medir a emergência do ruído da nova atividade com relação ao ruído de
fundo;
• Verificar se a emergência é superior a 5 dB(A),
• Caso isso ocorra, considera-se a existência de impacto ambiental sonoro
real e, portanto, devem ser adotadas as providências legais cabíveis.
Esta é a tendência geral adotada pelas legislações de controle de ruído nos
países de clima temperado, onde a permeabilidade das fachadas é relativamente
baixa. É uma estratégia mais restritiva, com relação ao ruído, que a anterior.
• Metodologia 3: Associação dos dois critérios, de forma condicional.
• Medir o ruído de fundo;
• Medir a emergência do ruído da nova atividade com relação ao ruído de
fundo;
• Verificar se a emergência é superior a 5 dB(A);
• Em caso afirmativo, considera-se a existência de um impacto ambiental
sonoro real e adota-se as devidas providências legais;
• Caso a emergência seja inferior a 5 dB(A), deve-se passar ao critério
geral.
Esta é uma estratégia ainda mais restritiva que a de n 2, já que estabelece
uma condição suplementar de nível máximo.
A escolha da solução mais conveniente deverá ser realizada, em função
das condições sócio-culturais, econômicas ou climáticas (edifícios mais ou menos
permeáveis) de cada cidade. Por exemplo, em locais onde a ventilação natural é
essencial parece mais aconselhável trabalhar com a alternativa n1. Em outras
zonas, onde existe uma maior necessidade de preservação das condições
sonoras a estratégia n3 deverá ser adotada.

VII.4.3. Critério da Emergência do Ruído

Quando uma nova atividade é implantada, o ruído por ela produzido se


superpõe ao ruído habitual, modificando o ambiente sonoro. Atualmente o critério
do ruído emergente está sendo discutido pela ISO (International Standard
Association).
113

O cálculo da emergência do ruído, produzido pela implantação de uma


atividade em relação ao ruído de fundo preexistente, é realizado comparando-se
os níveis sonoros equivalentes (Leq) na presença da nova atividade e na ausência
da mesma. A emergência do ruído de uma nova atividade com relação ao ruído
de fundo será:
E = Leq(Tativ) - Leq(Tfundo)
onde:
Leq(Tativ) é o nível sonoro equivalente, em dB(A), calculado sobre os
períodos de aparecimento do ruído da nova atividade e cuja duração
acumulada é Tativ
Leq(Tfundo) é o nível sonoro equivalente, em dB(A), calculado sobre os
períodos onde o ruído da nova atividade cessa e cuja a duração acumulada
é Tfundo
Tomando como exemplo o caso mais simples, onde o ruído da nova
atividade é uma função aleatória estacionária multiplicada por uma função de
valores (0) e (1). O valor (1) é utilizado quando a nova atividade está produzindo
ruído e o valor (0) quando a atividade cessa.
Graficamente o nível sonoro, em dB(A), pode ser assim representado:

Figura VII.3 - Evolução do Ruído no Tempo


114

Neste caso, a medida da emergência consiste em determinar os tempos


onde a atividade começa e quando ela é desligada. Em outros casos, o
processamento de sinais pode ser mais adequado. Além da determinação dos
momentos de transição, o Leq deve ser calculado, para cada caso.
115

Capítulo VIII

DIRETRIZES PARA CONFORTO ACÚSTICO


116

VIII. DIRETRIZES PARA CONFORTO ACÚSTICO

Como foi visto nos capítulos anteriores qualquer situação acústica envolve,
necessariamente, três elementos: fonte sonora, meio de propagação e receptor. A
cada um destes elementos corresponde um determinado conjunto de medidas
que podem minimizar os efeitos nocivos da poluição sonora causada pelo tráfego
de veículos. Nem todos os níveis de interferência, entretanto, estão no âmbito do
desenho urbano e da arquitetura. Na realidade, os problemas gerados pelo ruído
do tráfego urbano devem ser estudados por uma equipe multidisciplinar que
inclua, também, especialistas na área de transportes e da indústria
automobilística.

V.1. Emissão
A intervenção sobre o nível de ruído emitido pelas fontes sonoras escapa
ao objetivo central deste trabalho. Vamos, no entanto, resumidamente, listar
algumas medidas que podem contribuir para atenuação do ruído emitido:
• legislações que estabeleçam níveis máximos de emissão de ruído para
os veículos das diversas categorias;
• limtação da velocidade em algumas áreas, o que permite, sem diminuir o
fluxo de veículos, reduzir o nível sonoro em 6 a 8 dB(A);
• estabelecimento de restrições (horário e itinerário) ao tráfego de veículos
pesados;
• adoção de um plano viário e coordenação dos sinais luminosos (onda
verde) objetivando maior fluidez no tráfego. Estas medidas podem
reduzir em até 5 dB(A) o nível sonoro das vias;
• criação de um sistema eficiente de transportes coletivos (metrô, trens,
ônibus). Mesmo os ônibus, individualmente mais ruidosos que os
automóveis, permitem uma relação entre passageiros transportados e
ruído emitido mais favorável, desde seu tráfego se restrinja a pistas
seletivas, com boas condições de escoamento;
• pavimentação com materiais pouco refletores (por exemplo, asfalto
absorvente);
117

• pistas com pequena declividade, o acréscimo de 1% na inclinação da


pista (a partir de 2%) provoca um aumento de cerca de 1 dB(A) no nível
sonoro;
• traçado geométrico homogêneo, evitando acelerações e desacelerações
bruscas;
De todas as medidas acima descritas apenas as três últimas estão dentro
da área do desenho urbano. As demais dependem das autoridades municipais e
estaduais e de especialistas em outras áreas.

VIII.2. Meio de Propagação


A abordagem clássica dos problemas relativos ao ruído urbano adota o
seguinte modelo:
• fontes sonoras a veículos
• meio de propagação a tecido urbano
• receptor a edifício
Entretanto, este modelo, válido para países temperados e frios, deve ser
adaptado para o estudo do ruído em cidades de clima tropical-úmido. Neste tipo
de clima o edifício não funciona como uma “redoma” protegendo seus ocupantes
contra os ruídos externos. Ao contrário, a permeabilidade ao ar é uma das
principais diretrizes de conforto higro-térmico. Não existe a fronteira rígida entre
exterior e interior: as janelas permanecem abertas a maior parte do dia e a
arquitetura utiliza largamente varandas, terraços e espaços semi-abertos. O
interior do edifício funciona, também, como meio de propagação embora o ruído
ao ultrapassar a fachada sofra uma certa atenuação. Por outro lado, as atividades
ao ar livre são frequentes e podem ser desenvolvidas em qualquer época do ano.
Em países tropicais o homem está exposto ao ruído por períodos de tempo muito
mais longos que em países temperados e frios.
Para esta situação climática parece-nos mais conveniente considerar:
• fontes sonoras a veículos
• meio de propagação a tecido urbano (primário) e interior do edifício
(secundário)
• receptor a o homem
118

Como muitas das decisões tomadas em relação ao edifício (implantação,


materiais de revestimento, tratamento do entorno) podem vir a influir no nível de
ruído do meio exterior, as recomendações para conforto acústico que emitiremos
a seguir foram organizadas segundo o princípio que as originou (atenuação pela
distância, efeito barreira,..) e tratadas em duas escalas (tecido urbano e edifício).
De modo geral, em clima tropical-úmido, as intervenções na escala do desenho
urbano revelam-se mais apropriadas. Porém, como na prática, é muitas vezes
impossível alterar um tecido urbano já consolidado devem também ser
consideradas alternativas de atenuação do ruído na escala do edifício.

VIII.2.1. Distância entre a Fonte e o Receptor


Como foi visto nos capítulos anteriores, a atenuação sonora em campo
livre (tecido aberto) é da ordem de 6 dB(A)/dd para fontes pontuais e de 3
dB(A)/dd para fontes lineares (como as vias de tráfego). Foi, também, abordada a
relação entre a altura dos prédios e a distância entre fachadas como fator
determinante para os níveis sonoros em campo reverberante (tecido fechado).
Podemos, portanto concluir que deve ser mantida a maior distância possível entre
o alinhamento dos prédios e as vias de tráfego. Entretanto, outros fatores
(tamanho de terreno, custo do solo) podem inviabilizar esta solução.

VIII.2.2. Implantação
A localização das fontes de ruído é um dos critérios para escolha da
implantação mais adequada para um edifício. Evidentemente que outros fatores,
como insolação e ventilação, não podem ser negligenciados. Em clima tropical-
úmido, particularmente, a disposição dos edifícios deve considerar a direção dos
ventos dominantes para evitar que, a criação de espaços resguardados do ruído,
implique em prejuízo da ventilação natural.
Os exemplos abaixo mostram a importância de uma implantação que
considere a localização das fontes de ruído.
119

Figura VIII.1 - Configurações (A) e (B)

• Configuração (A) a apresenta uma clara definição entre espaço exposto


e espaço protegido, permitindo a locação dos compartimentos mais
sensíveis ao ruido na fachada posterior. Porém, dependendo do nível
sonoro da via e do tipo de tecido urbano (aberto ou fechado) poderá
provocar um acréscimo sensível no nível sonoro percebido pelos
pedestres e pelos ocupantes da fachada frontal.
• Configuração (B) a evita a elevação do nível sonoro, na vizinhança
imediata da pista de rolamento, que poderá resultar das reflexões sobre
a fachada. Entretanto não preserva nenhuma fachada calma.

Figura VIII.2 - Configurações (C) e (D)

• Configuração (C) a é uma solução interessante porque expõe ao ruído


apenas uma das fachadase cria, ainda, um pátio interno protegido do
ruído. As proporções desta área devem, porém, ser bem estudadas para
evitar reflexões desagradáveis.
• Configuração (D) a uma solução infeliz, do ponto de vista acústico, por
preservar apenas uma fachada e expor o pátio interno ao ruído.
120

Figura VIII.3 - Configurações (E) e (F)

• Configuração(E) a protege as fachadas laterais e cria área interna


calma .
• Configuração (F) a expõe excessivamente as fachadas laterais e,
dependendo de suas proporções, pode criar um canal reverberante.
A relação entre a altura dos prédios e a distância entre eles e as
dimensões das áreas internas ser bem estudadas para evitar que, devido às
reflexões sobre as fachadas, os espaços se tornem muito reflexivos.

Figura VIII.4 - Pátio Reverberante

VIII.2.3.Barreiras

VIII. Barreira Simples e Duplas

Muitas vezes é necessária a implantação de uma barreira acústica para


proteger os edifícios ao longo de uma via de tráfego pesado. O cálculo da barreira
pode ser feito de acordo com os métodos simplificados expostos no item VI.2.1.
121

Figura VIII.5 - Barreira dupla

Figura VIII.6 - Transparência em Barreiras

Não deve pode ser esquecido o fato de que as margens da via de tráfego
são habitadas. O uso combinado de barreiras construídas com vegetação se não
tem grande eficiência do ponto de vista acústico permite uma melhoria da
ambiência sonora, pelos efeitos de mascaramento e absorção, e atenua o
impacto visual negativo que muitas vezes a barreira artificial acarreta. Também é
interessante, sempre que possível, dotar a barreira de trechos transparentes.

VIII.2.2.1. Edifício Barreira

A implantação de um prédio, paralelo à via de tráfego pode funcionar como


barreira acústica. O edifício protegido é semelhante ao apresentado na
configuração (D) da figura VIII.2.
122

Figura VIII.7 - Edifício Barreira 1

O método de cálculo da altura do prédio é semelhante ao utilizado para uma


barreira simples. De preferência, o edifício barreira deve ser destinado a
atividades pouco sensíveis ao ruído. Caso isto não seja possível, a fachada
paralela à via de tráfego deve ser tratada de modo a apresentar um bom índice de
isolamento sonoro e o espaço interno hierarquizado em função do ruído.

Figura VIII.8 - Edifício Barreira 2

Outra alternativa é a implantação de um edifício barreira mais alto que as


construções que protege. Esta solução é mais drástica e reduz sensivelmente a
exposição sonora dos espaços protegidos, porém expõe excessivamente a
própria barreira. Portanto, alguns cuidados podem ser tomados: deve ser mantida
a maior distância possível entre a barreira e a via de tráfego, e o edifício só pode
ser destinado a atividades que não apresentem sensibilidade ao ruído como
estacionamento, armazenagem ou locais técnicos. A fachada precisa ser tratada
de modo a oferecer bom índice de redução sonora.
123

VIII.2.3.3. Movimentos de Terra

Os movimentos de terra, naturais ou construídos, podem ser aproveitados


como barreira acústica. O uso de taludes ou pequenos movimento de terra
separando vias rápidas de vias de serviço ou de ruas de pedestres também
apresenta bastante eficiência..

Figura VIII.9 - Barreira Natural


No caso de cortes no terreno, no entanto, deve ser verificada a relação
entre a altura do corte e a largura da via (ver item VI.2.6.1). Dependendo desta
relação pode ser necessário a criação de taludes nas laterais da pista de
rolamento, evitando assim que as reflexões sobre as paredes laterais elevem
excessivamente os níveis sonoros.

Figura VIII.10 - Corte no Terreno

VIII.2.3.4. No Edifício

Certos elementos de fachada como jardineira ou peitoris de varandas e


sacadas podem ter sua altura calculada de modo a funcionar como barreiras
acústicas, provocando a difração da ondas sonoras. Devem para isto ser
executados em material pesado (concreto, alvenaria) e não apresentar frestas
(grades e elementos vazados, evidentemente, não apresentam eficiência).
124

Figura VIII.11 - Peitoril Fechado

O exemplo da figura VIII.11 apresenta a combinação do uso de uma


mureta fechada (efeito barreira) com o revestimento absorvente nas superfícies
internas da sacada.

VIII.2.4. Escalonamento

VIII.2.4.1. Entorno da Via

O escalonamento nada mais é do uma aplicação do efeito barreira. O


príncípio básico do escalonamento é posicionar os edifícios de modo que o
primeiro sirva de barreira sonora para o segundo, o segundo para o terceiro, e
assim sucessivamente. O plano de massa deve definir a posição e a altura dos
prédios, ao longo das vias de tráfego, em função das curvas de isoatenuação.

Figura VIII.12 - Escalonamento - Plano de Massa


125

VIII.2.4.2. No Edifício

Analogamente, em um edifício um pavimento pode funcionar como barreira


para o imediatamente superior, a proteção é obtida pelo simples recuo da parede
da fachada. A borda da laje, provoca a difração do som, protegendo o espaço
interior.

Figura VIII.13 - Escalonamento - Edifício

Na figura VIII.13, no exemplo a direita (tipo duplex) o pavimento inferior


protege o superior, que pode ser destinado às peças mais sensíveis (quartos, por
exemplo). Uma jardineira posicionada na frente da janela representa mais uma
barreira para o ruído da rua. O edifício à esquerda possui varandas com peitoril
fechado, que protegem os compartimentos voltados para a fachada.

VIII.2.5. Hierarquização de Uso

VIII.2.5.1. Entorno da Via

O planejamento urbano pode ser feito hierarquizando o uso do solo em


função do ruído. A seguir um exemplo esquemático:
126

Figura VIII.14 - Hierarquização - Entorno da Via

A primeira faixa é ocupada por edifícios destinados à indústria, comércio e


serviços. A proximidade de atividades desta natureza próximas à auto-estrada
apresentam a vantagem adicional de evitar a penetração do tráfego pesado nas
áreas residenciais. O entorno das vias secundárias deve ter seu plano de massa
estudado em função do ruído.

VIII.2.2.2. Entorno do Edifício

Na figura VIII.15 um exemplo de hierarquização de uso na escala do


edifício e seu entorno: Uma barreira protege o edifício do ruído emitido pela via
rápida. O espaço entre entre a barreira e o edifício é destinado à circulação
restrita de veículos (moradores) e estacionamento. A área situada na parte
posterior do edifício, resguardada do ruído, pode ser utilizada para atividades de
lazer.

Figura VIII.15 -Hierarquização - Entorno do edifício


127

Os espaços interiores também podem ser hierarquizados segundo o


mesmo princípio: as peças menos sensíveis (corredores de acesso, escadas,
áreas de serviço) estão voltadas para as fachadas expostas e as mais sensíveis
(quartos, espaços de estudo) nas fachadas protegidas. O arranjo dos espaços
deve criar a transição - sequência sonora - entre o ruído da rua e os ambientes
calmos sem, no entanto, cortar totalmente a comunicação com o exterior.

VIII.2.6. Fachada

VIII.2.6.1. Isolamento da Fachada

A parede da fachada é a barreira que se opõe à transmissão do ruído, uma


fronteira entre um espaço sujeito à forte exposição sonora e outro em que o som
chega atenuado. Deve, portanto, ser dotada de características que permitam um
bom desempenho quanto ao isolamento em relação aos ruídos da rua.
Em clima tropical-úmido as necessidades de ventilação natural e a
recomendação do uso de materiais leves limitam, consideravelmente, as
possibilidades de isolamento sonoro, entretanto, de qualquer modo, alguns
cuidados devem ser tomados.
A maior dificuldade em trabalhar a parede de uma fachada reside no fato
de que os elementos que a compõem (alvenaria, esquadrias, tomadas de ar, vãos
de ar condicionado) apresentam características acústicas muito diferentes entre
si.
As tomadas de ar devem ser orientadas para as fachadas protegidas ou,
quando isto não for possível, tratadas com materiais absorventes.
Outro ponto fraco da fachada é, geralmente, a janela (ver item V.2.5). O
índice de redução sonora apresentado pelas esquadrias comuns é, em geral, de
cerca de 22 dB(A). O uso de vidros duplos, muito comum em países temperados
e frios, permite melhores níveis de isolamento acústico, porém seu custo é
bastante superior, não se justificando em climas onde as janelas devem
permanecer abertas a maior parte do dia. Caixilhos de boa qualidade, vidros com
espessura mínima de 4mm e boas condições de vedação podem garantir níveis
satisfatórios de redução sonora.
128

Uma vez verificados os pontos fracos das fachadas, devem ser


considerados os elementos de vedação propriamente ditos. Se o edifício é
constituído de paredes portantes, ou de paredes de grande massa específica, a
parede apresentará, naturalmente, um bom índice de redução sonora,
principalmente se a relação entre proporção de superfície ocupada pelas
esquadrias for pequena. Resta então verificar se as transmissões laterais
(ligações das paredes de fachada com painéis e lajes) se opõe satisfatoriamente
à transmissão do ruído e não constituem mais um ponto fraco.
No caso de fachada cortina ancoradas à estrutura, é necessário que os
painéis leves, muitas vezes constituídos de paredes múltiplas, apresentem um
bom índice de redução sonora. Caso isto não ocorra pode-se multiplicar o número
de elementos, aumentar sua massa superficial e verificar a distância e as
condições de ligação entre os diferentes materiais.

VIII.2.6.2. Espessura da Fachada

A utilização de espaços vazados para aumentar a espessura da fachada


pode se revelar uma estratégia bastante eficiente para gerenciar a propagação do
som, sem impedir a penetração do vento.
Nas fachadas voltadas para as fontes sonoras podem ser localizados
espaços de transição: escadas, circulações ou, até mesmo, quando os níveis
sonoros não forem excessivamente elevados, varandas, terraços e sacadas. O
tratamento das superfícies internas destes espaços com materiais absorventes
reforça o efeito de “filtro” entre a rua e os compartimentos que se deseja proteger.
O ruído penetra significativamente atenuado. Em clima tropical-úmido esta é um
solução interessante por que tais espaços podem também (dependendo da
orientação) oferecer proteção contra a radiação solar direta, sem prejuízo da
ventilação natural.
O exemplo da figura VII.16 mostra, no exemplo a esquerda uma fachada
onde foi usado o princípio do isolamento: a fachada reduz fortemente a
transmissão do ruído da via. No exemplo à direita a espessura da fachada,
associada ao efeito barreira da mureta e a absorção dos revestimentos aplicados
sobre as paredes e teto atenua a propagação do ruído, sem impedir a ventilação
dos compartimentos.
129

Figura VIII.16 - Isolamento e Espessura

Abaixo (figura VIII.17) o exemplo de utilização de material absorvente em


uma passagem coberta, sob um prédio. A utilização de materiais absorventes cria
um espaço sonoro intermediário, uma transição entre o ruído da via e a entrada
dos prédios.

Figura VIII.17 -Espaço de Transição


130

RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES
131

CONCLUSÕES
CONCLUSÕES

Os projetos das cidades e dos edifícios tem, muito freqüentemente,


relegado o Conforto Acústico a um plano secundário. Habitualmente, o
comportamento acústico dos espaços só é estudado em ambientes específicos,
como auditórios e estúdios de som. Para justificar este comportamento
argumenta-se que os tratamentos acústicos são excessivamente dispendiosos. O
que, em parte, é verdade: corrigir uma situação acústica desagradável é, de fato,
caro e difícil, prevenir não. A utilização da Acústica Previsional durante o processo
de concepção pode resultar em ambientes bastante satisfatórios, do ponto de
vista de sua ambiência sonora, sem que para isso seja necessário aumentar o
custo final da obra.

Em clima tropical-úmido o conhecimento das estratégias de conforto


acústico é particularmente relevante: o uso da ventilação natural, necessário para
o bem-estar térmico, impede a utilização da clássica solução do isolamento do
interior do edifício com relação aos ruídos externos. Na realidade, as soluções
para conforto acústico em clima tropical-úmido são um pouco mais complexas
porque dependem do entendimento de noções como permeabilidade e espessura,
ainda muito pouco difundidas.

A ocupação do solo deve ser tratada como um elemento capaz de provocar


impacto sonoro. Como foi visto neste trabalho, as formas não são neutras nem
indiferentes ao ruído, pelo contrário, imprimem sua marca aos sons emitidos pelas
fontes. Existe uma clara relação entre níveis sonoros e configuração urbana. As
soluções na escala do desenho urbano mostram-se bastante eficientes. O estudo
criterioso do plano de massa, a implantação e a ocupação do solo em função das
fontes de ruído, são soluções que podem atenuar sensivelmente o ruído da
cidade.

Por outro lado, a ambiência acústica dos espaços deve ser valorizada. Os
arquitetos possuem todo um vocabulário formal associado à tipologia dos
edifícios, uma fábrica, um hospital ou uma residência cumprem funções diferentes
e são visualmente diferentes. Da mesma forma, os espaços devem ter preservada
sua identidade sonora. Em uma escola, se a biblioteca não pode apresentar
132

níveis sonoros elevados, sob pena de comprometer a concentração de seus


usuários, um pátio de recreio silencioso certamente será muito triste...

Este trabalho pretende ser o passo inicial para integrar o Conforto Acústico
aos projetos de Arquitetura e Urbanismo, como já o foram muitos aspectos
relativos aos Confortos Térmico e Lumínico. Alguns dos conceitos nele abordados
merecem ser objeto de pesquisa mais aprofundada.

Cabe aos arquitetos encontrar a melhor maneira de explorar as


possibilidades que, isoladamente ou em conjunto, as recomendações aqui
apresentadas podem oferecer, entendendo a cidade como “... um instrumento
musical, cujas qualidades são condicionadas por sua arquitetura. Os
instrumentistas (fontes sonoras) tocam neste grande instrumento a sinfonia do
ruído urbano...(WOLLOSYN, 1999)
133

BIBLIOGRAFIA
134

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