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Universidade do Minho
Geografia e Planeamento
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Índice
. Agradecimentos
. Prolegómeno 7
I.1. Localização 12
3
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
II.1. O Comunitarismo 53
II.2. O baldio 60
II.2.1. O espaço físico do baldio 61
II.2.2. O espaço social do baldio 66
II.3. A vezeira 69
II.4. A entre-ajuda ou ajuda-por-favor 74
II.4.1. A jeira 76
II.5. O boi do povo 79
II.6. O forno do povo 86
II.7. Os moinhos 91
II.8. Juntamentos ou Coutos 95
II. 9. A Segada 97
II.10. A Malhada 101
. Bibliografia
4
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A. Anexos
1. Rosa Anemoscópica
2. Frequência dos ventos por Estações do Ano
3. Diagrama de Ventos – 1961 / 1990
4. Quadro de Temperaturas e Pressão Atmosférica
4. Quadro de Frequência (%) e Velocidade (Km/h) dos ventos
5. Gráfico Termopluviométrico
6. Quadro de Humidade Relativa; Nebulosidade; Insolação; Precipitação; Evaporação
7. Evolução da População Residente no Concelho de Montalegre – 1864 / 2001
8. Distribuição da População Residente por Freguesias e por Ano
9. População e Densidade Populacional por Freguesias - 1864 /2001
10. Pirâmide Etária do Concelho de Montalegre – 2001
11. Densidade Populacional por Freguesias – 2001
12. Divisão Administrativa do Concelho de Montalegre
13. Bacias Hidrográficas do Concelho de Montalegre
14. Diagrama esquemático dos espaços físicos de uma aldeia-tipo de Barroso
B. Cartas
1. Carta Ecológica
2. Carta de Insolação
3. Carta de Precipitação
4. Carta de Geada
5. Carta de Evapotranspiração Real
6. Carta de Humidade Relativa
7. Carta de Radiação
8. Carta Litológica (Rochas Predominantes)
9. Carta de Bacias Hidrográficas
10. Carta Hipsométrica
11. Carta de Acidez de Solos
12. Carta de Escoamento
5
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Índice de Figuras
5. Carta de Precipitação 23
6. Gráfico Termopluviométrico 24
7. Rosa Anemoscópica 27
9. Bacias Hidrográficas 31
6
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
27. Juntamento 95
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Nota: Todas as fotografias estão devidamente identificadas, na página respectiva, quanto ao seu autor ou
detentor dos direitos de propriedade.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Agradecimentos
Embora este franco rascunho seja por mim perfilhado e fruto modesto do meu trabalho
directo, não posso, de forma alguma, deixar de, com extremo prazer e elevada honra,
lavrar aqui os mais do que merecidos agradecimentos a todos aqueles que, de uma
forma ou de outra, contribuíram para que estas páginas lograssem ver a luz do dia,
marcando de uma forma indelével o culminar de um trajecto e encerramento de um
ciclo, móbil de uma vida futura. Sabendo que todos os agradecimentos serão sempre
poucos, resta-me afirmar que a mais simples lembrança será para sempre acalentada e
acarinhada.
À Ex.ma Sr.ª Professora Virgínia Teles, pelo apoio técnico e excelência da sua
competência e por me ter finalmente demostrado, através da sua paciência, aquilo que
os mais ilustres mestres das ciências matemáticas jamais me conseguiram fazer
vislumbrar: o infinito!
À Ex.ma Sr.ª Professora Maria José Caldeira, pelas sugestões e críticas pertinentes que,
de forma construtiva, contribuíram objectivamente para a prossecução dos propósitos
inerentes a este trabalho;
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Ao Ex.mo Sr. Fernando Pinho e Ex.ma Sr.ª D. Maria Luísa Serra, pela amizade
demonstrada e apoio prestado;
Ao Ex.mo Sr. Dr. Carlos Eiras, pela sã camaradagem nas andanças académicas por terras
minhotas e pelo apoio prestado a todas as solicitações que lhe forma feitas, enquanto
funcionário do Departamento de Geografia;
Ao Ex.mos Srs. Eng.os José Manuel Álvares Pereira e Jaime Valdegas, da Câmara
Municipal de Montalegre, pela disponibilidade demonstrada e por terem facultado o
acesso a elementos de importância estrutural;
Por último, mas de forma alguma, com menor apreço, um agradecimento muito especial
a quem me iniciou de forma brilhante nestas andanças do conhecimento científico,
começando pelas primeiras letras e operações matemáticas, à Ex.ma Sr.ª Professora
Alice Ribas, vulto de competência reconhecida e inquestionável, que só encontrou
paralelo na sua humanidade plena de sentimento, que levou, acima de tudo, muito mais
do que à alfabetização de um grupo de diabinhos, à formação do carácter e à
intensificação de um raciocínio lógico, crítico e observador.
...Muito obrigado, Sr.ª Professora!
10
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Prolegómeno
Onde? - Longe vão os tempos em que a Geografia se resumia a uma palavra, sendo o
seu objecto de estudo dirigido para uma localização de espaços retalhados à sua
plenitude, sem uma ligação efectiva entre eles e com o todo, com a atenção
monopolizada por um ímpeto de descrição documental de todos os fenómenos visíveis,
não se observando uma linearidade de procura, por mais ténue que fosse, da relação
inequívoca dos espaços entre si e, mais importante ainda, do Homem com os “seus”
espaços. O espaço é, de facto, aquilo que procura distinguir a Geografia do resto das
suas irmãs ciências. Mas o espaço só por si, assume uma validade nula, ou, na melhor
das hipóteses, somente uma validade física que, não sendo, de forma alguma,
desprezível, ou desprezável, personifica contornos demasiado simplistas para uma
cultura que desde o início se afirmou como do Homem e para o Homem, para que possa
tentar explicar a complexidade intrínseca às relações humanas, sejam internas (ou
introspectivas), numa abordagem de carácter antropológico ou sociológico, ou externas,
quando se observa a infinidade de relações que a humanidade desde sempre manteve
com o meio envolvente.
Desde cedo que o Homem procurou conhecer e compreender o meio que o rodeava, não
através de uma perspectiva filosófica ou científica, mas numa busca incessante para
melhorar a sua própria condição.
12
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Importa pois, mais do que procurar espaços e seus eventuais limites, analisar toda uma
série de relações que, de forma mais ou menos contínua, se produzem, transformam e
evoluem. Se, como referi anteriormente, a Geografia é a ciência dos espaços, o seu
objecto deverá atender com prioridade às relações que nesses espaços se verificam pois,
se como ciência lhe compete encontrar respostas, é nesse campo que poderá formular as
questões – condição primeira e essencial na busca de respostas.
Este trabalho representa o fim de mais um ciclo. Ciclo esse há muito iniciado e
permanentemente cruzado com séries intermináveis de ciclos, sem que fosse possível
discernir uma sequência lógica ou um padrão que obedeça a algum tipo de parâmetro
preestabelecido que nos permitisse tomar conhecimento do fito de todo este movimento.
Desde sempre o Homem enveredou por caminhos mais ou menos tortuosos, em utópicas
13
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
viagens, reais ou imaginárias, como ser insaciável que é, numa busca de algo que, quase
nunca, se afirma como totalmente definida, aparecendo, não poucas vezes, dissimulado
por trás de um manto diáfano, que, ora nos tolhe a avaliação, ora nos impele, qual força
invisível, para a frente... sempre para a frente. Desde a platónica Alegoria da Caverna
que buscamos em vão os corpos para as nossas sombras, os objectivos das nossas penas,
o Graal que ponha termo às nossas demandas. Porém, os ciclos sucedem-se e, como
ciclos que são, tendem para uma “circularidade” infinita, versão adivinhada do moto
perpetuo.
A segunda razão é de carácter pessoal. Barroso é a minha terra natal com a qual
mantenho laços inquebráveis apesar da distância física que actualmente se verifica. As
dinâmicas sociais de todo o universo comunitário, tiveram em mim um espectador
privilegiado, ao qual, na maior parte das vezes, lhe foi permitida a participação activa
em muitas ou em quase todas as actividades que compõem o Comunitarismo. Durante
anos vivi e convivi com práticas comunitárias ancestrais, das quais actualmente algumas
já só restam em memórias, existindo outras como uns breves resquícios daquilo que
outrora era uma profunda realidade.
Actualmente é difícil levar a cabo um trabalho de campo com vista à investigação destes
fenómenos, pois na maior parte dos casos só se pode contar com entrevistas pessoais
que debitam memórias de tempos idos. A constatação in loco de práticas comunitárias,
embora possível ainda hoje, resume-se a um pequena parte daquilo que realmente era o
Comunitarismo. Essas entrevistas foram feitas no terreno, servindo de complemento a
um trabalho de campo que, quiçá, inconscientemente, fora feito durante anos.
14
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Mas e apesar de ainda hoje essas mesmas capacidades serem passíveis de sofrerem forte
contestação, ficou uma memória bem vincada pelas horas de participação e convívio
dentro do universo comunitário que, de uma forma ou de outra, se traduz sempre em
algum conhecimento, ainda que escasso (característica intrínseca a qualquer tipo de
entendimento).
Resta pois, à laia de introdução e íntimo desejo, um pequeno remate que resume com
arte, todo este trabalho, que, à falta de capacidade discursiva, deixo nas mãos do grande
Cervantes: “Até que o Céu depare quem o adorne de tantas coisas que lhe faltam,
porque me acho incapaz de supri-las pela minha insuficiência e poucas letras.”
15
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
“As terras que chamam de Barroso têm um sítio tão intratável de serras e penedias,
quase sempre cobertas de neve, de picos que se vão às nuvens, de brenhas temerosas,
de vales profundíssimos e passos perigosos, que mais parecem morada de feras e
selvagens que de homens capazes de razão e juízo (...) terra sempre invernosa, sempre
cheia de neve, onde até na força do Verão havia tempestade de ventos e frios de
crudelíssimo Inverno.”
16
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
I. 1. Localização
1
- Bodo Freund – Siedlungs und Agrargeographische Studien in der Terra do Barroso (Nord-Portugal),
Dissertação para obtenção do grau de Doutor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Johann-
Wolfgang Goethe, Frankfurt-am-Main (trad. Port. Dactilografada com o título: Estudos Agrogeográficos
e de Povoamento na Terra de Barroso), 1969.
17
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Montalegre BRAGANÇA
BRAGA
VILA REAL
N
PORTO
0 10 Km 20 Km
Possui uma área de aproximadamente 800 Km2, sendo constituído por 135 aldeias e 36
freguesias. A sua sede de concelho - a Vila de Montalegre – está localizada a uma
altitude de 1000m acima do nível médio das águas do mar, sendo esta altitude, ao nível
concelhio, em valores médios, de cerca de 800m.
18
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
MELGAÇO
ESPANHA
ARCOS DE VALDEVEZ
PONTE DA BARCA
Montalegre
CHAVES
TERRAS DE BOURO
BOTICAS
VALPAÇOS
VIEIRA DO MINHO
N
CABECEIRAS DE BASTO VILA POUCA DE AGUIAR
RIBEIRA DE PENA
FAFE 0 5 Km 10 Km
A sua delimitação apresenta-se bem definida, mesmo sem a presença virtual das
divisões administrativas, sendo bastante individualizada, quer seja pelas condições
fisiográficas e climáticas, quer seja por determinados aspectos socioculturais que
caracterizam a sua população. Se Barroso se encontra integrado na província de Trás-
19
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
os-Montes, a sua inclusão neste espaço geográfico terá mais significado ao nível
administrativo do que propriamente ao nível biogeofísico ou até cultural. De facto, as
diferenças com o interior ou o nordeste transmontano são significativas, encontrando-se
assimetrias de vários níveis e em várias constituintes do universo geográfico. Como
facilmente se constata com uma breve incursão pela região de Trás-os-Montes, esta é,
sem dúvida, a região do país mais heterogénea, desde as condições climáticas,
orográficas ou hidrogeológicas, até à cultura tradicional do povo (ou vários povos) que a
compõem. Neste quadro de heterogeneidade, Barroso assume-se como a mais distinta
de todas as parcelas territoriais transmontanas. De facto, se ainda podem vislumbrar-se
algumas semelhanças com a designada Terra Fria Transmontana elas são praticamente
inexistentes no que respeita à Terra Quente ou ao Douro vinhateiro, com diferenças
estruturais a todos os níveis.
Ao mesmo tempo, as diferenças com a região minhota, com a qual tem desenvolvido ao
longo da História relações estreitas e de vária ordem, ainda se apresentam como muito
significativas, tanto ao nível físico como cultural.
Assim, Barroso apresenta-se como uma espécie de fronteira física e cultural entre o
Minho, por um lado, e Trás-os-Montes por outro, mantendo relações bidireccionais e
estreitas com ambas as regiões, sem contudo deixar de se afirmar como uma quebra na
continuidade geográfica da região, ocupando um lugar muito distinto, que supera o de
uma mera área de transição.
20
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
I. 2. Caracterização Biogeofísica
Não é, de forma alguma, objectivo deste modesto trabalho, fazer uma caracterização
completa e exaustiva das condições biogeofísicas deste território aqui em análise. Não
se pretende uma apreciação profunda nem tampouco uma catalogação exaustiva de
todas as variáveis que compõem o universo físico de Barroso.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
outra, toda a vivência de um Povo e da sua forma de estar. Para isso, apresenta-se como
pertinente uma caracterização, ainda que breve, das condições climáticas, orográficas,
geológicas, pedológicas e até do manto vegetal que cobre toda esta região.
2
- Amorim Girão, Geografia Humana, Porto, 1946
3
- O. Ribeiro, H. Lautensach e S. Daveau, Geografia de Portugal – II - O ritmo climático e a paisagem,
4ª edição, Lisboa, 1999
4
- Op. Cit. pp. 365.
22
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
De uma forma geral pode dizer-se que, em Barroso, o Inverno se antecipa no Outono e
se prolonga adiante pela Primavera. Invernos longos e rigorosos, Outonos curtos e
Primaveras hesitantes, são características do “clima barrosão”.
I. 2. 1. 1. Temperatura
5
- Idem
6
- Op. Cit. pp. 381 e seg.
7
- Idem, ibidem
23
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Como se constata pelo quadro das Normais Climatológicas aqui reproduzido, uma das
características principais do clima em Barroso é o facto de existirem grandes amplitudes
térmicas. As grandes amplitudes térmicas aqui verificadas, ocorrem não só num plano
anual de divisão mensal, como também num plano diário, ocorrendo amplitudes
térmicas diárias, no seu máximo, de cerca de 12ºC.
24
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Relativamente aos valores médios, temos que a temperatura mais elevada se regista
durante o mês de Julho, com 17,6ºC, sendo a temperatura mais baixa observada em
Janeiro, com 3,8ºC. No tocante às temperaturas máximas registadas, é também no mês
de Julho que se observam os valores mais elevados, com 35ºC a assumir o nível mais
alto da subida do mercúrio. Já no respeitante à temperatura mínima mais baixa, ou de
valor extremo, ela regista-se durante o mês de Dezembro, com uns expressivos 11 graus
centígrados abaixo de zero (-11,0ºC).
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Fig. N.º 4 – Evolução dos Valores de Temperatura Média (Estação Meteorológica de Montalegre)
Fonte: Normais Climatológicas 1961/90, Instituto de Meteorologia
25
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
I. 2. 1. 2. Precipitação
26
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
5 ( :
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# *+&; &;
É notória a diferença significativa que existe entre a parte ocidental e a parte oriental do
concelho, variando os valores, nos extremos, entre o 3000mm a oeste e 800mm a este.
Sendo uma área relativamente pequena (800km2) e apresentando uma distância máxima,
medida em linha recta, entre os dois pontos mais distantes, numa direcção W-E de
pouco mais de 39 Km , existem diferenças significativas, quer ao nível dos valores de
temperatura, quer ao nível do valores de pluviosidade, que parecem desdenhar desse
8
- Para uma análise de mais pormenorizada veja-se a mesma carta na III Parte – Anexos, reproduzida à
escala 1:100 000.
27
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
factor de área tão reduzido. Isto poderá ser explicado, quer pelos factores orográficos já
referidos, e que terão uma influência muito importante, mas também pelo facto de esta
área se encontrar localizada numa zona que facilmente poderá ser considerada como de
transição, entre o noroeste continental, com um clima de marítimo, e o nordeste
transmontano, cujo clima é de características mais continentais.
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9
- As escalas do gráfico estão propositadamente proporcionadas numa razão de dobro, por razões de
leitura. Assim, facilmente se destacam os meses secos, que são aqueles cujo dobro do valor da
precipitação é inferior ao valor da temperatura.
28
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Ainda através da leitura do gráfico, pode assinalar-se a existência de dois meses secos,
na circunstância, os meses de Julho e Agosto. Com efeito, neste dois meses, os valores
de precipitação em dobro, são inferiores aos valores médios de temperatura.
A geada é, de todos os meteoros, o que ocasiona mais prejuízos na região. É a geada que
impõe condições limitantes a muitas culturas e, em consequência, dita o reduzido leque
de culturas agrícolas viáveis em Barroso.
10
- Estes valores fazem parte das Normais Climatológicas (1961/1990) da Estação Meteorológica de
Montalegre e referem-se a valores médios mensais das ocorrências totais no período considerado.
29
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A nível do país, Barroso detém o recorde de número médio de dias com ocorrência de
geada (56) sendo mesmo o único sítio do território português em que há probabilidade
de ocorrência de geada em todos os meses do ano.11
As geadas que se formam a partir de Abril – Maio são as mais prejudiciais e não
raramente provocam grandes estragos em searas e batatais.
No que respeita à neve, dada a época em que normalmente cai (Outono – Inverno), a sua
acção sobre as plantas cultivadas não pode considerar-se prejudicial, muito antes pelo
contrário. Actuando como elemento regulador, protege as culturas outono-invernais da
acção nefasta da geada. O adágio popular assim o confirma: “Ano de nevão, ano de
pão”.
I. 2. 1. 4. Vento
Para além da sua acção mecânica de erosão, o vento participa activamente na “(...)
disseminação e distribuição de determinadas espécies vegetais, dessecamento das
plantas (...) [e na] deformação de árvores e arbustos.”12. O vento, quando em
11
- Raposo, José Rasquilho – “A defesa das plantas contra a geada”, Junta de Colonização Interna,
Estudos Técnicos n.º 7, Lisboa, 1967.
12
- Fernando Gusmão - Uma freguesia do Barroso ( Pitões das Júnias). Relatório final (Inédito),
Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1964.
30
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
13
- Idem, ibidem.
14
- Para uma análise mais aprofundada dos valores de frequência e velocidade do vento no período
considerado ver quadro completo dos registos e respectivo diagrama de ventos, na III Parte – Anexos,
deste trabalho.
31
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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Numa divisão por estações do ano, verifica-se que a estação que apresenta a maior
frequência de ventos é o Verão, com os valores médios deste trimestre a atingirem os 22
% no quadrante oeste. No que diz respeito à menor frequência de ventos, ela regista-se
tanto no Inverno como no Verão, com 5,8 % de ocorrências, nos quadrantes noroeste e
nordeste, respectivamente.
I. 2. 3. Caracterização Geomorfológica
32
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Barroso não é uma região fácil de definir morfologicamente, visto o seu carácter misto,
planáltico e montanhoso.
A parte mais plana do concelho de Montalegre é a região oriental, que se estende desde
o sopé da serra do Larouco, indo para além dos limites administrativos, até à bacia de
Bobadela, já no concelho de Chaves.
Os vales não são recentes, visto que os rios actuais se encontram neles encaixados. Na
maioria dos casos, apresentam uma orientação bética (ENE-WSW), muito
provavelmente determinada por acidentes tectónicos. A título de exemplo, podem citar-
se as linhas de água mais importantes de toda a região, o rio Cávado que nasce na Serra
do Larouco e o seu afluente da margem esquerda mais importante – o rio Rabagão.
Ambos os rios iniciam o seu percurso em declive suave, através de amplas zonas de
características planas, durante cerca de 20Km, para seguidamente, num breve espaço de
cerca de 6Km, o seu leito apresentar declives significativos, na ordem dos 80m/Km.
Para além destas duas linhas de água que assumem os lugares cimeiros de
hierarquização, existem múltiplas linhas de água, de diferentes caudais e comprimento
variável, um pouco por todo o concelho.
15
- in Plano Director Municipal, Câmara Municipal de Montalegre.
33
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A esmagadora maioria, se não a totalidade, das linhas de água com alguma expressão
são consideradas perenes, na medida em que apresentam um fluxo hidrológico que se
mantém durante todo o ano. Há, naturalmente, uma diminuição generalizada de caudais
durante a época estival, não se registando, contudo, um interregno do caudal fluvial
durante essa época, a não ser em linhas de água de fraca expressão e cujos caudais não
se apresentam, mesmo no Inverno, como muito significativos.
5 ( :
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# *+&; &;
34
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
No rio Cávado encontram-se duas albufeiras: Paradela e Alto Cávado. Esta última
encontra-se ligada à albufeira do Alto Rabagão através de um túnel, que permite o
abastecimento de água a esta última, já que a albufeira do Alto Cávado se destina a
desviar o caudal do rio Cávado para a albufeira do Alto Rabagão.
O tipo de solos que se nos apresenta na região está, como é natural, em estreita relação
com um conjunto de factores importantes para a sua génese, nomeadamente: o tipo de
rocha-mãe, a topografia e o clima. A rocha-mãe é o granito, caracterizado por afloração
lenta, dando origem, geralmente, a solos com teores de argilas relativamente baixos.
35
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Assim, da interacção dos diversos factores que condicionam o tipo de solos resulta que,
na região, predominem solos ácidos ou muito ácidos, com elevados teores de matéria
orgânica lentamente mineralizável, de profundidade variável consoante a fisiografia,
com texturas ligeiras do tipo arenoso a franco-arenoso e com teores baixos de fósforo e
médios a altos de potássio.
I. 2. 5. Coberto Vegetal
Parte da área florestal, é dominada pelo pinheiro bravo (Pinus pinaster) que, sendo uma
espécie atlântica, foi aqui introduzido em larga escala, aquando dos maciços
florestamentos dos baldios levados a cabo pelo Estado Novo nas décadas de 30 e 40 do
século passado. Actualmente a área de pinheiro bravo encontra-se muito reduzida mercê
dos numerosos incêndios que a assolaram.
Espécies vulgares e características desta área são também o azevinho (Ilex Aquifolium);
a pereira brava (Pyrus Pyraster e Pyrus bourgaena); a aveleira (Coryllus avellana) e a
cerejeira brava (Prunus avium); o salgueiro (Salix atrocinerea); o sanguinho (Cornus
sanguinea); a lamagueira (Sorbus aucuparia). Do manto arbustivo salientam-se o tojo
(Ulex minor); a carqueja (Genistella tridentata); a queiró (Calluna vulgaris); a urze-
36
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
I. 2. 6. Uso do Solo
Assim, a agricultura local apoia-se na cultura do centeio, da batata, do milho para grão
ou para forragens, numa produção hortícola destinada ao autoconsumo – onde
predominam as couves de diversos tipos bem como algum feijão, cebola e alface – e
16
- José M.L. Santos - Práticas pastoris, cargas pecuárias e aspectos organizativos do pastoreio: o
monte de Pitões (Relatório Final), Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural, Instituto
Superior de Agronomia, Lisboa, s.d.
37
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
numa produção pecuária de bovinos, caprinos, ovinos e suínos. Os bovinos têm como
base dos seu sustento a erva e o feno dos lameiros, as pastagens dos baldios, algumas
forragens produzidas nas terras aráveis (milho e ferrã de centeio) e subprodutos das
culturas agrícolas (batata-refugo, palha de centeio, etc.). Os caprinos e ovinos são
alimentados quase exclusivamente nas pastagens dos baldios. Os suínos são alimentados
com subprodutos da exploração, complementados com milho ou centeio durante o
período da ceva. É de referir que a pecuária constitui actualmente a principal fonte de
receita dos agricultores de Barroso.
Deste modo, a carne dos Bovinos de Raça Autóctone Barrosã é reconhecida como
“Denominação de Origem Protegida – DOP” e o Presunto de Barroso, o Cabrito de
Barroso, o Bovino dos Lameiros de Barroso e o Cordeiro de Barroso, reconhecidos
como “Indicação Geográfica Protegida”. Estão também já protegidos como
“Especialidade Tradicional Garantida” os produtos do fumeiro regional.
Retomando o tema da ocupação e usos do solo, importa referir que, em Barroso, dado o
tipo de povoamento concentrado característico da região, a paisagem humanizada
apresenta os seguintes traços fundamentais: as habitações concentram-se nas aldeias, em
aglomerados populacionais muito densificados; em redor da aldeia distribuem-se os
campos agricultados e, mais longe, circundando estes, fica o baldio.17
17
- A propósito desta temática de ocupação de espaços agrícolas e populacionais veja-se o Diagrama
Esquemático dos Espaços Físicos de um Aldeia-tipo de Barroso, apresentado em anexo.
38
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
I. 3. Caracterização Socio-demográfica
18
- Na realidade, esta designação, dada ao tipo de monumentos funerários aqui apontados, refere-se ao
mesmo tipo dos monumentos anteriores. No entanto, é feita a diferenciação pelo facto de estes se
encontrarem ainda soterrados, o que, na opinião praticamente generalizada dos autores e investigadores
das ciências históricas, seria a forma original e acabada do dito monumento. A sua configuração, é
contudo enganosa, na medida em que todos ou a sua quase totalidade se encontram violados, pelo que a
forma primitiva de coberto, bem como o seu espólio arqueológico, há muito se perdeu.
19
- Bodo Freund – Siedlungs und Agrargeographische Studien in der Terra do Barroso
(Nord-Portugal), Dissertação para obtenção do grau de Doutor da Faculdade de
Filosofia da Universidade de Johann-Wolfgang Goethe, Frankfurt-am-Main (trad. Port.
Dactilografada com o título: Estudos Agrogeográficos e de Povoamento na Terra de
39
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Barroso), 1969.
40
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Segundo Freund (1969, Op. cit.), muito provavelmente não se teria verificado “um
povoamento continuado da região com a mesma população”. Como justificação para
este facto, o autor aponta os registos de tradição oral, onde a população local atribui a
construção dos Castros aos mouros. No caso de ter havido um novo povoamento, os
colonos teriam, segundo o mesmo autor, “atribuído por ignorância, estes povoamentos
abandonados aos mouros”. Este facto parece indiciar uma ausência de continuidade no
povoamento da região, sem que haja, contudo, provas irrefutáveis disso mesmo, dada a
inexistência de documentos históricos que permitam uma afirmação cabal de suporte ou
contradição desta hipótese.
I. 3. 2. A ocupação romana
Este processo foi, sem dúvida, potenciado pela abertura da “Via XVII do Itenerarium
Autoninum”, principal ligação entre Bracara Augusta (Braga) e Aquae Flavie (Chaves)
que atravessou Barroso, para além de outras vias secundárias ou alternativas.
Sabe-se que das três “mansio” servidas pela Via XVII entre Braga e Chaves, duas –
Praesidium e Caladunum – localizar-se-iam no actual concelho de Montalegre, sem que
a sua localização exacta não esteja ainda definitivamente assumida. Os povoados
abertos de Ciada (Gralhas), Portelo (Vilar de Perdizes) e Cividades (Salto), seriam
também importantes núcleos romanos, tendo em conta a vasta área de dispersão de
vestígios identificáveis.
41
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Por volta do séc. V d.C. a Península Ibérica foi invadida por povos bárbaros de origem
germânica (Alanos, Vândalos, Suevos e Visigodos), no entanto, da sua passagem por
Barroso, se de facto existiu, pouco se sabe, não havendo vestígios arqueológicos que
permitam uma certeza firmada em provas sólidas.
A posterior ocupação árabe, que terá durado cerca de trinta e sete anos, provavelmente
de 716 a 753, praticamente não deixou vestígios físicos, ficando, no entanto, fortemente
enraizada na tradição lendária bem como em numerosos topónimos.
A reconquista de Barroso ocorre entre 751 e 754, quando Afonso I de Oviedo toma de
assalto Chaves, Braga, porto e Viseu, o que levou a um forte repovoamento de todos
20
- Boa parte da referência documental citada consta da obra “Montalegre e Terras de Barroso”, da
autoria de João Alves da Costa, numa edição da Câmara Municipal de Montalegre, datada de 1987.
42
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A partir do séc. XIII a documentação com referências a Barroso passa a ser mais
abundante. De 1248 existem dois documentos referentes ao Mosteiro de Santa Maria
das Júnias e ao Couto de Vilaça. As Inquirições de 1258 fazem referência a Salto e
vários outros lugares de Barroso.
O facto de Barroso constituir uma região fronteiriça que importava defender das
investidas dos leoneses e castelhanos terá levado os primeiros reis portugueses a adoptar
medidas que intensificassem o povoamento da região, como forma de melhor garantir a
resistência a essas investidas. Com o mesmo objectivo foram construídos os três
castelos em que se apoiava a defesa de Barroso: o Castelo da Piconha, junto a Tourém e
o Castelo do Portelo, junto a Sendim – ambos sobre a linha da raia – e, um pouco mais
tarde, nos reinados de D. Afonso III e D. Dinis, o Castelo de Montalegre. Os dois
primeiros foram destruídos durante a Guerra da Restauração, o de Montalegre mantém-
se ainda, fruto de intervenções várias ao longo dos anos, com uma forma muito
aproximada da que seria a original, assumindo-se como o ex-libris da vila de
Montalegre.
43
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Existe uma referência à pastorícia na serra do Larouco, já no séc. XVI. Paula Bordalo
Lema, cita na sua obra “Tourém, uma aldeia raiana do Barroso”22, A. B. Freire (1909):
“(...) e amtre Fomte do torgo e Bydueiro do Estremo há h a serra e campina que os
Portugueses e Galegos com mistigamente h s e outros, e nam há hy certa divysam
amtre h s e outros”.
21
- Costa, João Gonçalves da - obra citada, pp. 109
22
- Obra citada, pp. 23
44
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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Fig. N.º 10 - Evolução da População Residente no Concelho de Montalegre 1864/2001
Fonte: Instituto Nacional de Estatística
A I Guerra Mundial teve como consequência, não tanto elevados índices de mortalidade
a ela directamente atribuíveis – menos de uma centena de pessoas morreram tendo
como causa directa o conflito – mas, principalmente, um considerável agravamento das
difíceis condições de vida que já imperavam na região.
No mesmo período, o surto de pneumónica que grassou pela região, atingindo todos os
grupos etários, mas registando principal incidência nos jovens e idosos, foi o
responsável directo por índices de mortalidade invulgarmente elevados
45
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A ocorrência dos dois factores citados – redução dos índices de natalidade e o aumento
dos índices de mortalidade – traduziu-se, naturalmente, numa redução significativa da
população residente.
Até 1960 assiste-se a este aumento progressivo da população, período em que atinge o
seu máximo – 32.728 habitantes23. É de salientar que, neste período, foram construídos
na região os grandes aproveitamentos hidroeléctricos. Na sua construção estiveram
envolvidos alguns milhares de trabalhadores, em grande parte provenientes de outras
regiões. Acabados os trabalhos, a maioria abandonou a região, e esse facto reflecte-se
nos Censos de 1970. Desde então para cá, o ritmo demográfico tem observado um claro
decréscimo, estando, à luz dos dados mais recentes, esta tendência a sofrer um
agravamento. Esta diminuição de população, para além da que resultou da finalização
dos empreendimentos hidroeléctricos, está relacionada com dois fenómenos que,
embora de características semelhantes e efeitos análogos, podem ser classificados
diferentemente. Ambos estão relacionados com migrações, embora se possa fazer uma
separação entre eles, quer em termos cronológicos, quer em termos geográficos. Num
primeiro momento assiste-se, principalmente durante as décadas de 60 e 70 do século
passado, a um movimento migratório em massa, direccionado principalmente para a
Europa, nomeadamente para França e Suíça. Só na década de 60, o concelho de
Montalegre sofreu um decréscimo da sua população de cerca de um terço (9.803 hab.).
Certo é que nem todos teriam emigrado, mas que este fenómeno está na base daquele
movimento demográfico, não restam quaisquer dúvidas. Num segundo momento, que
ainda hoje se verifica, observam-se uma série de migrações internas, com os destinos
23
- Tudo leva a crer que será este o número máximo de indivíduos que alguma vez habitou a área que
hoje é definida como o concelho de Montalegre. Embora não tenhamos recenseamentos da população
fiáveis antes de 1864, pelas contagens efectuadas até ali, pelas crónicas até nós chegadas e pelas
circunstâncias históricas que são conhecidas, o mais provável e quase certo, é que nunca se tivesse
registado um número tão elevado de habitantes no concelho de Montalegre.
46
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A pirâmide etária aqui representada, e que reporta aos valores dos Censos 2001,
exemplifica bem a estrutura etária do concelho. Existe um significativo estreitamento da
base, o que traduz uma proporção diminuta dos indivíduos pertencentes às camadas
etárias mais jovens , principalmente dos 0 aos 14 anos, havendo contudo uma proporção
considerável de indivíduos no grupo etário dos 15 aos 25 anos.
47
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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48
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Esta análise pode ser aprofundada no que diz respeito à relação directa dos valores
observados nestes dois grupos etários. Aplicando o Índice de Juventude, podemos
observar as relações de proporção existentes entre os dois grupos, na medida em que o
valor deste índice traduz uma variável de relação directa e que nos identifica o número
total de indivíduos jovens por cada 100 indivíduos idosos. Valores aproximados a 100
indicam um equilíbrio proporcional no número de indivíduos pertencentes a cada grupo.
Uma situação onde se observam valores superiores à unidade (100), diz-nos que existe
49
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Facilmente se constata uma situação de pouco equilíbrio entre os dois grupos, pois
observa-se uma proporção inferior a metade, num contraponto directo. Em termos
objectivos, temos que, por cada 100 idosos, se regista apenas a existência de 47,8
indivíduos com menos de 15 anos. Estes valores traduzem bem o envelhecimento
progressivo da população, já que são o reflexo de uma evolução com efeitos estruturais
e não uma situação pontual onde as causas se encontram próximas, numa perspectiva
temporal.
50
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Desde logo se constata uma diferença significativa entre os valores das duas taxas
consideradas. Com efeito, o valor da Taxa de Natalidade é substancialmente inferior (o
que era previsível e natural), dado que o número de nados-vivos é relacionado com a
população total. Como já foi referido, a população do concelho de Montalegre encontra-
se bastante envelhecida, com uma proporção bastante significativa de indivíduos de
idade mais avançada, o que tem uma influência directa nos valores da Taxa de
Natalidade, diminuindo-os. Daí a necessidade de ser calculada e ponderada a Taxa de
Fecundidade pois, sendo analisados os valores da Taxa de Natalidade isoladamente, a
situação traduzida apresenta-se distorcida, podendo induzir em erro de análise quando,
por exemplo, se registam valores baixos nesta última taxa em situações onde os níveis
de fecundidade são proporcionalmente altos.
I. 3. 4.3. Mortalidade
51
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
óbitos, o que aponta um valor de 16,6‰ para a Taxa de Mortalidade. Durante o mesmo
período, o total de nascimentos não foi além de 69, o que traduz um Saldo Fisiológico
francamente negativo (-141). Em termos relativos verificou-se uma proporção de,
aproximadamente, 3 óbitos por cada nascimento.
Esta situação estará directamente ligada ao facto de estarmos perante uma população
envelhecida o que, em termos gerais, corresponde à ocorrência natural de uma dinâmica
superior na Mortalidade relativamente à Natalidade, ao existir um número superior de
indivíduos em grupos etários onde a ocorrência de óbitos tem uma maior probabilidade
de acontecer, em contraponto ao menor número de indivíduos pertencentes aos grupos
etários onde se regista uma maior probabilidade de ocorrência de nascimentos.
52
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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53
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
No que toca à distribuição da população activa por sectores de actividade, existe uma
clara predominância do número de indivíduos activos nas actividades afectas às CAE24
5 a 9, vulgarmente designada por Sector Terciário, com 45,6% do total de activos. Esta
proporção pode ser explicada pelo facto de existir uma fraca implantação do Sector
Secundário no Concelho (27,3% dos activos empregados), concentrando-se grande parte
dos indivíduos activos empregados numa grande área que poderemos designar como
Serviços, englobando o sector comercial a par do sector tecnico-administrativo
(autarquias, serviços públicos variados, serviços financeiros e bancários, etc.).
A aparente fraca implantação do Sector Primário (27,1%) tem mais a ver com a
ausência de sociedades agrícolas constituídas legalmente e pelo facto de se praticar a
actividade agrícola em larga escala numa economia de autoconsumo, do que
propriamente com um baixo número de indivíduos afectos a esta actividade. Com
efeito, a actividade agrícola enquanto actividade secundária ou de complemento à
actividade principal tem uma forte implantação em Barroso, sendo que este fenómeno,
tem uma importância muito grande, quer sob o ponto de vista social, quer sob o ponto
de vista económico.
24
- CAE: Classificação Portuguesa das Actividades Económicas, CAE – Rev. 2, aprovada pelo Decreto-
Lei n.º182/93, de 14 de Maio, que transpôs para a legislação nacional o constante na Nomenclatura das
Actividades Económicas da Comunidade Europeia, revisão 1 (NACE – Rev.1) de acordo com o
Regulamento (CEE) n.º 3037/90, do Conselho, de 9 de Outubro. Este Decreto-Lei foi revogado já em
2003 pelo Decreto-Lei n.º 197/2003, de 27 de Agosto. No entanto, como os dados disponíveis são do
Censos 2001, as divisões feitas neste trabalho ainda se referem à Rev. – 2 e não à Rev. – 2.1 como
acontece actualmente.
54
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
II. 1. O Comunitarismo
Desde os primórdios de uma existência básica e pouco mais que animalesca que o
Homem procurou transformar aquilo que potencialmente seria adverso à sua existência
ou evolução, de forma a substituir uma contrariedade num factor de proveito,
produzindo sempre mais do que uma simples adaptação às diversas condições
encontradas. A menção de uma “existência animalesca” não pretende aqui observar
patamares qualitativos de progressão tecnológica ou quaisquer comparações entre
etapas de evolução, apresentando-se somente como uma distinção que se pretende óbvia
e absolutamente necessária, entre um mero instinto de sobrevivência e a capacidade
desenvolvida para a organização de espaços físicos e sociais que permitissem uma
estruturação e estabilidade de conjunto à proliferação de comunidades cuja principal
ocupação deixasse de ser a mera satisfação do instinto mais básico.
55
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Após a chamada fase essencial da história das técnicas, hoje apelidada de Neolítico, o
sedentarismo do Homem levou a um emergir de convulsões sociais que originaram um
variado número de formas organizadas ou organizacionais de sociedade. Até então, o
próprio conceito de sociedade não poderia fazer parte de um qualquer vocabulário, pois
a sua consciencialização não tinha sequer ocorrido.
56
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Desta forma, quaisquer semelhanças aparentes que possam ser entendidas com outros
géneros de organização social, de tipo mais ou menos comunitário, são exactamente isso
– aparentes. Têm sido, ao longo dos tempos feitas algumas comparações mais ou menos
felizes com teorias marxistas ou de carácter neo-liberal onde se procuram mais do que
simples semelhanças na organização do espaço social entre estas e o comunitarismo. É
óbvio que as semelhanças existem e, por vezes, são por demais evidentes, o que por si
só pode significar a existência de paralelismos teóricos ou práticas concordantes, mas
não necessariamente uma ligação estreita ao nível da estrutura ou da sua organização
espacial.
O Comunitarismo não tem que ver com uma distribuição de carácter igualitário do
espaço físico total disponível ou com qualquer uma das suas partes integrantes. A
questão de base não se identifica com quaisquer objectivos de justiça social ou com uma
eventual distribuição equitativa dos recursos disponíveis. Esta mesma questão foi já
abordada por Brian Juan O’Neill25 em 1984, quando referia, na obra citada, os
25
- Brian Juan O’Neill - Proprietários, lavradores e jornaleiras: desigualdade social numa aldeia
transmontana, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1984, p.199
57
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
26
- O termo turno foi aplicado pelo autor numa concepção mais alargada da reciprocidade no contexto
comunitário. Assim, assumiu a definição de roda, como sendo “um movimento circular que envolve a
maioria ou a totalidade das casas da aldeia”, definindo turno como sendo “uma «vez» na sequência de
uma roda, ou uma troca dentro de uma rotação mais vasta.”
27
- O termo casa aqui utilizado não se refere, naturalmente, ao edifício propriamente dito, mas sim ao
conjunto família - exploração agrícola.
58
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
que, digamos, levará um dia a concluir a malhada, vai, naturalmente, convocar os seus
vizinhos para que o auxiliem nessa tarefa, dado que o universo familiar nunca, ou muito
raramente, inclui mão-de-obra suficiente para levar a cabo semelhante tarefa. Os seus
vizinhos acorrem à chamada, conscientes de que no dia seguinte chegará a sua vez de
serem compensados com a presença, na sua própria malhada, daquele que hoje os
chamou. Ora, alguns destes vizinhos que auxiliaram a que o cereal ficasse debulhado e
devidamente armazenado num só dia, necessitam de, pelo menos dois dias para que a
totalidade da sua colheita fique convenientemente arrecadada. Nestes termos, a
reciprocidade do trabalho não recai sobre o reembolso do tempo cedido por cada um ao
seu vizinho, mas sim sobre a totalidade da tarefa a realizar. Na prática, o favor que o
vizinho fez ao auxiliar em um dia de trabalho, só fica devidamente pago quando as
tarefas por ele designadas (dentro do mesmo contexto, naturalmente) ficarem
concluídas, no caso concreto, dois dias de trabalho. Assim se verifica que, aquele que à
partida se encontra numa posição menos privilegiada, na medida em que possui uma
colheita menor – que é traduzida por uma exploração agrícola de menor dimensão, logo
ocupando uma posição socio-económica mais baixa - acaba por ser, mais uma vez,
colocado numa posição de reciprocidade injusta. No entanto, convém salientar que esta
prática é comummente aceite e nem sempre vista como um claro exemplo de
desigualdades e muito menos de exploração das camadas sociais colocadas num
patamar mais baixo pelas que se encontram numa posição privilegiada. É tido em linha
de conta, e é notória a ausência de crispação social dentro do universo comunitário
relativamente a esta questão, toda uma série de atenuantes que contribuem para a
aceitação geral desta realidade. Se por um lado as casas mais abastadas beneficiam com
a troca de mão-de-obra dentro deste contexto, também suportam maiores custos em todo
o processo, nomeadamente com a alimentação de todos aqueles que participam nos
trabalhos agrícolas e que nesta altura se traduz em refeições28 substancialmente
28
- Em Barroso, a designação das várias refeições diárias assume algumas diferenças, relativamente a
muitas outras regiões do país. De manhã cedo, ao levantar da cama, toma-se o mata-bicho – refeição
ligeira para quebrar o jejum, não raramente acompanhada (por vezes representando a refeição na sua
totalidade) por um copo de aguardente ou, principalmente de inverno, composta por um Caldo d’ Unto
(espécie de sopa feita à base de água, sal, alho, pão centeio e unto de porco); a meio da manhã toma-se o
almoço – esta refeição já tende a ser mais substancial, composta, normalmente por carne de porco cozida
e já fria, acompanhada com vinho; ao início da tarde, com os trabalhos diários bem encaminhados, toma-
se o jantar – esta sim, a refeição principal, assumindo um carácter especial e quase festivo aquando da
59
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
realização dos grandes trabalhos agrícolas baseados no sistema comunitário, nomeadamente a malhada e
a segada, onde se faz uma refeição mais melhorada do que diariamente é usual, sendo prática
relativamente corrente, o abate de uma cabra para providenciar a carne necessária (uma cabra e, de
preferência já velha, visto que os cabritos não são para comer, mas sim para se tornarem numa fonte de
receita, através da sua venda); ao fim da tarde come-se a merenda – refeição parecida com o almoço, à
base de carnes frias, fumeiro e vinho; à noite, é hora da ceia – última refeição da jornada (pelo menos
para aqueles que tinham possibilidades de comer cinco refeições por dia), sendo esta de carácter mais
leve, normalmente constituída à base de sopa e pão.
60
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
II. 2. O Baldio
61
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
29
- Fernando Gusmão - Uma freguesia do Barroso ( Pitões das Júnias). Relatório final (Inédito), Instituto
Superior de Agronomia, Lisboa, 1964.
62
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
pastoreio, a obtenção de matos com os quais se fazem as camas30 dos animais nos
estábulos para um posterior aproveitamento agrícola sob a forma de esterco e as lenhas
para cozinhar e para as fogueiras do Inverno, que em Barroso se pode dizer que dura
nove meses (segundo o adágio: “Em Barroso há nove meses de Inverno e três de
Inferno”) durante os quais, segundo a sabedoria popular “o fogo é meio sustento”. Com
efeito, é do baldio que provém a maior parte das lenhas que servem de suporte à
manutenção diária do lar.
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30
- Esta prática muito vulgarizada, não só em Barroso, consiste no corte de mato (plantas arbustivas e
herbáceas), nomeadamente o tojo (Ulex minor), a carqueja (Genistella tridentata), a queiró (Calluna
vulgaris) e a urze-cinzenta (Erica cinerea), que são posteriormente depositados na corte do gado. Esta
acção tem uma finalidade dupla: ao mesmo tempo que proporciona conforto aos animais, nomeadamente
durante a estação mais fria, a adição, por estes últimos, dos dejectos, vai fomentar, através de vários
processos de fermentação, a criação de um excelente adubo orgânico, designado esterco, que servirá
posteriormente para adubar os campos, nomeadamente aqueles que irão receber a cultura do centeio e da
batata.
63
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Como foi já referido, a sua localização é periférica, dentro do contexto espacial ocupado
pela aldeia, quer sob um ponto de vista de aglomerado populacional, quer sob um ponto
de vista de ocupação agrícola do território. A sua condição de periferia é afirmada pela
localização relativa e contextual, mas também pela capacidade de produção agrícola que
o seu espaço encerra. A sua importância enquanto área a explorar de forma agrícola é
diminuta.
64
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Como foi referido, as áreas de baldio possuem, normalmente, uma cobertura vegetal
constituída na sua maioria por mato rasteiro, nomeadamente o tojo (Ulex minor), a
carqueja (Genistella tridentata), a queiró (Calluna vulgaris) e a urze-cinzenta (Erica
cinerea), que apresentam níveis de retenção da radiação solar e terrestre muito
inferiores aos registados numa mata de caducifólias ou num terreno cultivado que, para
além da vegetação envolvente está, por norma, localizado em locais de menor
exposição. Nestas condições os níveis extremos de temperatura atingem valores mais
65
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Como se viu, o baldio não apresenta características climáticas próprias ou distintas das
áreas circundantes, mas reúne uma série de factores que dimensionam a questão
climática, relativizando-a, pelo que teria que ter um apontamento próprio.
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66
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Nas cotas mais elevadas é onde se encontram as áreas de baldio, logo após as zonas de
bosque e matas privadas, denominadas touças, normalmente constituídas por um
conjunto vegetal arbóreo que engloba o Carvalho (Quercus rubor e Quercus
Pyrennaica) e o Vidoeiro (Betula Celtiberica), e os tapados, parcelas de terreno de uso
misto, arbóreo e para pastoreio, principalmente durante a época das colheitas.
Enquanto espaço social, o baldio encerra em si mesmo uma magnitude muito superior
aquela que pode ser quantificável ou qualificável sob um ponto de vista dimensional. A
sua grandeza ou importância não se resume à área por ele ocupada ou à amplitude do
seu significado económico no contexto dos ecossistemas produtivos de Barroso.
Existe uma relação intrínseca entre a comunidade enquanto tal e os diversos indivíduos
por si com o baldio. É um sentimento de pertença que vai realçar a importância deste
espaço. Não só o sentir que aquela parcela de território pertence à comunidade, mas
também que a própria comunidade e os indivíduos e agregados familiares que a
constituem se acham parte integrante de um todo coeso e solidário.
67
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
31
- Parcelas de terreno localizadas no baldio que, por meio de arroteamento se tornavam cultiváveis.
32
- Esta junta de compartes é uma espécie de assembleia da aldeia que junta todos aqueles que possuem
direitos sobre o baldio (compartes) e que tomam as decisões sobre tudo o que diz respeito a esta área.
Deste tema falaremos mais à frente, em capítulo próprio, quando forem descritos os ajuntamentos.
68
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Toda este processo, representa muito mais do que uma forma de evitar uma alienação
do baldio sem o consentimento prévio de toda a aldeia. Agindo desta forma, os vizinhos
evitam confrontos directos numa situação de claro conflito, de forma a não perturbar a
coesão social e a estabilidade dentro do grupo.
II. 3. A Vezeira
69
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
33
- Fotografia de Paula Bordalo Lema (1978)
70
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Fig. N.º 16 - Etapa 2: A vezeira iniciando o percurso que irá levá-la até à serra
A vezeira que, normalmente dura entre princípios de Maio e finais de Setembro, não
traduz apenas o conjunto formado pelos vários rebanhos particulares de ovinos e
caprinos que forma um grande rebanho comunitário, mas também toda a organização
que permite o pastoreio em conjunto. Esta organização assenta numa ordem de
rotatividade proporcional que tem em linha de conta o número de cabeças de gado de
cada proprietário. Assim, os dias em que cada uma das famílias tem que providenciar a
saída do rebanho e o seu consequente acompanhamento no pastoreio é definido pelo
João Nuno Gusmão 2004
71
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
O número de dias que cada lavrador tem que pastorear a vezeira, como foi já referido,
varia na proporção directa do número de cabeças de gado que integra no rebanho
colectivo. A mecânica de atribuição desses mesmos dias e as formas de cálculo variam
de aldeia para aldeia, estando sempre dependentes das condições ali verificadas, do
número de cabeças de gado, de proprietários, etc. De salientar que o que existe é a
obrigatoriedade de providenciar, por parte de cada um dos proprietários envolvidos, o
pastoreio do rebanho dentro dos moldes estipulados e nos dias acordados, e não a
presença física dos mesmos durante o acto, conduzindo eles próprios o rebanho até às
pastagens, acontecendo, por vezes que o indivíduo cuja vez de pastoreio se encontra em
72
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
conflito com outra qualquer actividade agrícola ou de carácter mais pessoal, estabelece
um contrato com um vizinho que, mediante um determinado pagamento entre eles
acordado, lhe toma a vez e assume o pastoreio do rebanho nesses mesmos dias.
No dia seguinte, retoma-se a rotina da vezeira, quer seja com o mesmo pastor, quer seja
com aquele que, dentro da mecânica da rotatividade estabelecida, lhe tomará o lugar.
73
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A época de colheitas exige uma quantidade de mão-de-obra muito superior aquela que a
maior parte, se não a totalidade, das famílias dispõem dentro do seu núcleo familiar. Isto
provoca um claro déficit de mão-de-obra difícil de colmatar, ou até mesmo impossível
face à disponibilidade de cada casa. Os indivíduos que compõem o núcleo familiar,
observados sob um ponto de vista de produção de trabalho ou força produtiva, se por
um lado representam um claro excedente de mão-de-obra durante o Inverno, já se
afirmam como manifestamente insuficientes durante a época estival, quando decorrem
as colheitas e toda uma série de trabalhos agrícolas relacionados. Esta discrepância
tornava-se muito mais óbvia quando as tarefas agrícolas eram levadas a cabo com pouca
ou nenhuma mecanização. Tornava-se absolutamente indispensável um número
considerável de indivíduos a trabalharem simultaneamente e com tarefas bem definidas,
de forma a que todas as operações inerentes às colheitas fossem realizadas em tempo
útil.
Ora, se a força de trabalho era, sob um ponto de vista quantitativo, insuficiente na maior
parte ou totalidade das famílias, e se o rendimento não permitia a contratação de
trabalhadores remunerados no exterior, as tarefas a desenvolver ficariam seriamente
74
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
34
- O termo de entre ajuda é muitas vezes substituído pelo termo ajuda-por-favor.
35
- Em Barroso, como na maior parte, se não na totalidade do território português, era comum (e ainda é,
nalguns círculos) o uso da expressão dias de trabalho, que servia e serve para quantificar, quer a
quantidade de trabalho desenvolvido, quer o tempo despendido na execução de um qualquer trabalho, o
que significa, na prática, que se torna mensurável, através desta unidade de medida, a força laboral
dispendida por um determinado indivíduo naquilo que se convencionou apelidar de dia de trabalho. De
salientar que esta medida não é, de todo, exacta, nem para lá caminha, onde quer que se utilize. O dito dia
de trabalho não teria horas certas nem marcadas para o início e término dos afazeres, a não ser que se
tomasse como certo, como era costume, o dia completo desde a hora do nascer do Sol até ao crepúsculo
ou, na melhor da hipóteses, até o trabalho estar concluído.
75
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Convém salientar que, mesmo nos trabalhos de grande monta e que exigem um número
mais elevado de indivíduos, não se verifica uma mobilização total de toda a aldeia em
torno de uma só actividade ou um só local. Podem realizar-se, em simultâneo várias
malhadas na mesma aldeia, embora o mais usual era verificar-se a ocorrência de várias
malhadas, mas de forma seguida e contínua. Este facto tem que ver com o
aproveitamento da debulhadora mecânica que, não sendo, normalmente, propriedade da
aldeia, se alugava com datas muito precisas, tornando-se necessário o seu
aproveitamento máximo dentro das datas estipuladas. Desta actividade falaremos em
capítulo próprio, quando for exposto em pormenor a caracterização das malhadas e das
segadas.
II. 4. 1 A jeira
76
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
não pressupondo nenhum vínculo entre o jornaleiro e o agricultor que o chama para
além do pagamento do montante acordado pela prestação dos serviços, podendo ser a
seco36 ou com alimentação incluída. No entanto, só as famílias mais abastadas poderiam
efectuar este contrato de trabalho e manter níveis de produção superiores aos gastos,
pois a esmagadora maioria das explorações agrícolas não apresentavam rendimentos
que permitissem suportar custos de trabalho remunerado.
Mas, e como foi anteriormente referido, só nas casas mais abastadas, e mesmo nessas só
esporadicamente, se verificava o recurso a trabalho remunerado, observando-se na
maior parte dos casos uma margem de lucro ou manobra tão reduzida que tornava
inviável o uso de trabalhadores à jeira. Por outro lado, a necessidade de mão-de-obra
36
- A jeira a seco implica um pagamento pelos serviços prestados, sem que o contratante assuma
qualquer compromisso relativamente a alimentação do contratado. Neste caso o trabalhador à jeira terá
que providenciar a sua própria alimentação. Entre estas duas situações existe uma diferença clara no que
diz respeito à remuneração, pois um dia de jeira a seco implica, necessariamente um valor remuneratório
mais elevado.
77
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Assim, as práticas comunitárias vieram, mais uma vez, resolver ou, pelo menos,
amenizar um problema de monta que se colocava com uma periodicidade anual e que
punha em causa toda uma dinâmica agrícola e social.
37
- Uma freguesia do Barroso (Pitões das Júnias). Relatório final (Inédito), Instituto Superior de
Agronomia, Lisboa, 1964.
78
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
A base da actividade pecuária em Barroso assenta, quer no gado caprino e ovino (em
maior número), quer no gado bovino. Este último é o de maior importância, não só por
constituir a principal fonte de receitas, como também porque até recentemente constituía
a única força de tracção utilizada em todos os trabalhos agrícolas. A mecanização da
agricultura em Barroso é algo relativamente recente, com apenas algumas décadas. No
entanto, e mesmo assim, ainda hoje se utiliza a tracção animal em algumas
circunstâncias, que seja porque o trabalho em si não justifica o aluguer de máquinas
(nem todos os agricultores possuem tractor e respectivas alfaias), quer seja porque a
localização e topografia do terreno, bem como dos respectivos acessos, inviabilizem o
uso de quaisquer máquinas agrícolas.
38
- Fotografia de José Manuel Arantes (2001)
79
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Por outro lado, a existência de uma raça autóctone de gado bovino (barrosã), produtora
de excelente carne, apreciada há séculos no país e um pouco por toda a Europa,
principalmente no Reino Unido, constituía incentivo à prática de uma actividade que,
apesar das condicionantes existentes na região a todos os níveis, se apresentava como
uma mais valia, muito importante numa agricultura que raramente almejava muito mais
do que a satisfação do autoconsumo.
Quando se refere a existência de gado bovino em Barroso, essa referência é feita, na sua
quase exclusividade, à existência de fêmeas – as vacas. Os bois eram, e são escassos,
sendo o seu número bastante reduzido em toda a região. A explicação é simples e
bastante objectiva. Os animais representavam, como foi referido, uma força de tracção
indispensável ao trabalho agrícola mas, de uma forma genérica, esse mesmo trabalho
tanto podia ser feito por machos como por fêmeas. Existiam, é certo, bois de tracção em
Barroso mas eram muito raros ou, pelo menos, o seu número era muito inferior ao
número de vacas. A principal razão tem a ver com a criação de vitelos, cuja venda
constituía um suporte económico de peso na economia agrária barrosã. Desta forma,
através da posse de vacas, resolviam-se duas questões: possuíam-se animais de tracção e
de criação em simultâneo.
80
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Por outro lado, para a tão desejada produção pecuária, era necessário proceder à
fertilização das vacas, pelo que a existência de um macho reprodutor se assumia como
indispensável. A questão fundamental era que a maior parte, se não a totalidade das
casas agrícolas de Barroso, não possuíam meios que justificassem a aquisição e
manutenção de um macho reprodutor. Tanto mais que este animal teria só uma função –
a procriação – não efectuando nenhum tipo de trabalho de tracção.
Fig. N.º 20 - Torre sineira em Travassos do rio, onde se pode ver esculpida a cabeça de um boi
39
- Jorge Dias refere também a existência da figura do boi do povo em Rio de Onor na sua obra “Rio de
Onor – Comunitarismo agro-pastoril”. No entanto, aqui verificava-se a ausência de uma corte específica
e exclusiva para acomodar o bicho. “No princípio do ano escolhe-se o vizinho que há-de sustentar e
abrigar o touro na sua loja durante todo o ano”; (op. Cit., pp.103)
81
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
O pastoreio do boi do povo é feito nas lamas do boi, parcelas de terreno comunitário,
normalmente localizadas logo à saída da aldeia e para onde é levado, diariamente, pelo
pastor ou tratador. Este pastor é sempre alguém da aldeia, a quem a comunidade paga
para efectuar este serviço, sendo o contrato, geralmente, firmado pelo prazo de um ano.
Era costume que este trabalho fosse assumido por algum cabaneiro já que, não
possuindo gado próprio, poderia dispor do seu tempo para apascentar o boi do povo,
auferindo desta forma um rendimento, que doutra forma seria difícil de conseguir.
Esse rendimento era traduzido em alqueires de centeio, que era a moeda normalmente
utilizada para pagar os serviços do tratador. Numa razão proporcional ao número de
vacas possuídas, os agricultores pagavam anualmente os serviços prestados pelo
tratador do boi. Por norma, estava estipulado o pagamento de meio alqueire de centeio
por cada vaca que o agricultor possuísse.
Já com a sega do feno para o boi a levar acabo no lameiro do boi, o trabalho era da
responsabilidade de todos, assim como o roçar de mato no baldio para estrumar a sua
corte. Nessas alturas, todas as pessoas contribuíam com o seu trabalho (bem como com
40
- Fotografia de José Manuel Arantes (1985)
82
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
as necessárias juntas de vacas para providenciar o transporte) para segar, virar, juntar,
carregar e armazenar o feno. Com o mato para fazer a cama do boi passava-se
exactamente a mesma coisa, sendo que todos teriam que participar na sua recolha,
transporte e posterior deposição na corte.
O esterco proveniente da corte do boi, tirado por alturas de Abril, era vendido a quem
dele necessitasse, revertendo o produto desta venda a favor da aldeia para a realização
de qualquer pequena obra de intervenção comum.
A figura do boi do povo era motivo de orgulho para qualquer barrosão, querendo
sempre que a sua aldeia tivesse o melhor exemplar que se pudesse arranjar. Era mais um
ponto na ancestral competição entre aldeias traduzido nas tradicionais Chegas de Bois,
hoje praticamente transformadas numa espécie de espectáculo circense, onde os
participantes já não são os antigos bois do povo, mas animais pertencentes a privados,
mantidos com o objectivo único de participarem nestas lutas.
Estas lutas entre bois serviam, para além da exposição clara da emulação entre aldeias,
também para que a vitalidade, boa forma e qualidades do boi fossem testadas. Enquanto
um boi fosse ganhando algumas chegas tinha o seu lugar garantido. Por outro lado, se se
visse na pele de derrotado vezes demais, seria sinal da sua velhice, doença ou
incapacidade, pelo que o mais certo era ser vendido e substituído numa próxima
oportunidade. Praticadas ao longo de séculos, as chegas constituíram um importante
elemento de selecção e fixação das características da raça bovina barrosã.
41
- Santos, J. M. Lima – Mercado, Economias e Ecossistemas no Alto Barroso, Câmara Municipal de
Montalegre, 1992
83
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
As regras das chegas de bois são simples. Combina-se o local onde decorrerá a luta e,
com grande acompanhamento dos vizinhos da aldeia a que pertencem, encaminham-se
para lá os dois animais, sendo deixados frente-a-frente sem que, a partir daí, haja
qualquer interferência por parte de alguém. A luta inicia-se entre eles quando bem o
entendem (utilizando, naturalmente a cabeça e os chifres) e termina quando um deles se
afasta, assumindo a derrota. Finda a chega, a aldeia a que pertence o boi vencedor
comemora festivamente, com grande profusão de gritos e surriadas, a vitória do seu
boi, enquanto a aldeia do boi vencido se afasta, tristonha, remoendo, desde logo a hora
da desforra.
42
- Fontes , A. Lourenço - Etnografia transmontana II : O Comunitarismo de Barroso. 1977, pp. 70; 71
43
- Jorge Dias, Rio de Onor – Comunitarismo agro-pastoril, op. Cit. pp. 71.
84
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Se o pão foi durante muito tempo a base da alimentação em Barroso, quase assumindo
personificações de carácter bíblico, numa comunidade de grande religiosidade, então o
forno tem obrigatoriamente de possuir um lugar de destaque no universo comunitário.
Destaque esse que tem início na localização da esmagadora maioria dos fornos
comunitários em Barroso. Ao forno é destinado um lugar central dentro do núcleo
urbano, espécie de prosopopeia da sua própria condição.
44
- Idem, ibidem
45
- O tipo de construção dos fornos comunitários pode observar algumas diferenças entre distintas
aldeias. A discrição aqui feita diz respeito ao formato mais comum e também mais representativo.
46
- Pão de centeio de forma redonda e achatada. Este pão pode ser cozido deforma simples, ou então
com recheio de cebola ou toucinho. Era costume em Barroso, as mulheres que faziam a fornada,
aproveitar pequenas porções de massa que sobejava depois dos pães estarem formados, para cozerem
pequenas bicas, que distribuíam aos garotos que por ali andavam, auxiliando em pequenas tarefas.
85
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
O forno era aceso no início da semana pelo quentador ou quentadeiro, que para além
desta função “(...) tem a de marcar as vezes a que cada casa da aldeia tem direito de
cozer; esta tarefa é distribuída ao longo do ano «à roda do povo».”47 .
47
- Fernanda M. S. Lima - O Comunitarismo em Barroso: Passado, presente e perspectivas de futuro,
Fundação da Juventude, Porto, 2000.
48
- Obra citada, pp. 73.
86
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
§ - Pode porém qualquer vizinho trocar livremente com outro, a sua vez, ou satisfazer
ao encargo, colocando à porta do forno até às 4 horas da tarde de segunda-feira, um
carro de lenha que será utilizado pelo primeiro dos vizinhos que se apresentar a cozer
fornada.”
87
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Assim, conseguia-se uma semana de fornadas sucessivas , onde todos poderiam cozer,
respeitando a sua vez designada pelo quentador. Na próxima vez da roda cabia a outro
acender o forno que, representava muito mais do que o acto de atear o fogo, já que tinha
de contribuir e transportar a lenha para esse efeito. Os cabaneiros, visto não possuírem
vacas para efectuar o transporte da lenha, cozem juntamente com um qualquer lavrador,
havendo lugar, posteriormente, à paga desse favor, normalmente em prestação de
trabalho.
49
- Desenho adaptado de um original de Paula Bordalo Lema.
88
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
lenha que lhes garantisse um mínimo de conforto. Para além disso, se a sua presença
coincidisse com a saída de alguma fornada, eram sempre obsequiados com um canto de
bica ou de bola acabada de cozer.
II. 7. Os moinhos
No contexto da economia doméstica barrosã, o centeio servia algumas vezes para trocas
dentro da comunidade aldeã, mas também para venda ou troca directa no exterior,
quando se tornava necessário aceder a algum bem ou serviço que não pudesse ser
encontrado na aldeia. Parte fundamental era porém o cereal já devidamente
transformado em farinha, mais utilizada no dia-a-dia da casa do que propriamente para
trocas ou venda. O pão tinha uma importância nuclear na dieta barrosã, pelo que todos
os mecanismos relacionados com o seu fabrico detêm uma importância acrescida. O
moinho não foge a esta regra, sendo uma estrutura de reconhecida relevância no
quotidiano barrosão.
A sua construção era feita em granito, excepto o telhado, de colmo, que posteriormente
foi substituído por telhas de argila. De pequena dimensão, alturas há em que passam
despercebidos na paisagem ribeirinha, involuntariamente camuflados pelos vidoeiros e
salgueiros. A sua estrutura é de forma a que no seu interior caiba o mecanismo de
moagem, o moleiro (ou quem faz as vezes dele) e um ou dois sacos de farinha. De
qualquer forma, é o tamanho suficiente, não havendo necessidade para a ocupação de
mais espaço (embora isso não se afigure como realmente importante, já que espaço é
algo que abunda em Barroso) o importante será evitar, o dispêndio de energias e
materiais na construção de um espaço edificado cuja dimensão não se justifique.
89
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Os moinhos de água possuem o cordão umbilical que os liga à terra e que os alimenta –
a levada - espécie de canal através do qual se encaminha a água para o moinho, que
posteriormente será encaminhada para a carrela (10), fazendo com que um jacto de
água se precipite sobre o rodízio (11). A força motriz da água, ao embater no rodízio é
que fará circular a varela (9), que, por sua vez, transmite a força de rotação à mó (6).
50
- Desenho adaptado de Fernanda M. S. Lima, O Comunitarismo em Barroso: Passado, presente e
perspectivas de futuro, Fundação da Juventude, Porto, 2000
90
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
O movimento rotativo da mó é transmitido ao tarambolho (4), que por sua vez transmite
esse mesmo movimento à estrutura constituída pelas traves da moega, que fazem com
que o cereal vá caindo em ritmo certo, através da adelha (3), que é uma espécie de
aparador, também construído em madeira, que vai conduzir os grãos de cereal até ao
cabaço (5), dando entrada, de seguida, na mó, ou melhor, entre as duas mós.
Naturalmente, nem sempre se deseja que o mecanismo de moagem esteja em
funcionamento. Para o fazer parar, sem ser necessário sair do moinho e tornar a água da
levada, activa-se o aliviadoiro (8), que faz parar o rodízio, impedindo assim qualquer
tipo de movimento em todo o mecanismo.
91
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
O uso mais corrente era o da constituição de uma associação de vizinhos, para que
pudessem efectuar a construção do mesmo. A construção de um moinho era levada a
cabo por um conjunto de vizinhos que se constituíam numa espécie de sociedade,
partilhando o usufruto desse equipamento e as despesas ou trabalhos inerentes à
manutenção. À morte destes, sucediam-lhe nesta sociedade os filhos ou herdeiros
legítimos, razão pela qual em Barroso se denominam estes moinhos como moinhos de
herdeiros.
O facto de pertencerem a várias pessoas não significa, por si, uma existência comunal
ou comunitária, estando posto de parte qualquer uso nesse sentido, a partir do momento
que contrarie a vontade de todos ou alguns dos herdeiros.
Os laços que unem os moinhos de herdeiros a todo o universo comunitário são a forma
de funcionamento das próprias sociedades detentoras da propriedade, a rotatividade no
uso do equipamento e a sua calendarização, a par do uso de um bem comum – a água.
92
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
51
- Obra citada, pp. 82.
93
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
II. 9. A Segada
52
- Fernanda M. S. Lima - O Comunitarismo em Barroso: Passado, presente e perspectivas de futuro,
Fundação da Juventude, Porto, 2000.
94
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
linha53, depositavam o centeio cortado no chão para que os atadores54, que progridem
imediatamente atrás, pudessem juntar as hastes em gabelas. Estas gabelas, pequenos
feixes constituídos por diversas hastes, seriam sucessivamente adicionadas uma às
outras até se constituir um molho, o qual era atado com um vencelho55 . Este vencelho,
no entanto, exige uma certa prática de fabrico e manuseamento, para que se produza o
efeito desejado, não estando este trabalho destinado a quem não domine a técnica de
fazer os vencelhos e, muito menos, atar os molhos com eles, como é o caso,
normalmente, das crianças que, embora participando activamente no trabalho
comunitário, têm a sua actividade restringida ao transporte da água ou vinho para dar de
beber a todos, e ao arrastar dos molhos até ao local definido pelos adultos. O acto de
atar os molhos com o vencelho culmina com o entrançar das duas pontas que produz um
aperto suficiente para que o molho de colmo se mantenha como um corpo homogéneo e
impeça o mesmo de se desfazer. Este nó, que possui uma técnica particular, é
vulgarmente conhecido como cornecho do molho ou chave do molho. Normalmente,
por cada cinco segadores era necessário o trabalho de um atador.
53
- Este trabalhar em linha ou levar a eito resume-se à criação de uma linha de avanço do corte do
centeio pelos segadores, que configura uma linha perpendicular às linhas dos regos do centeio, isto é, o
sentido em que foi lavrada a terra aquando da sementeira.
54
- A função destes trabalhadores consiste em amarrar as hastes do centeio em pequenas porções
(molhos), para que posteriormente a sua recolha e transporte se efectue mais facilmente e sem prejuízo
para a colheita.
55
- Um vencelho é uma porção de hastes de centeio, previamente molhadas, com a qual se faz uma
espécie de correia e se atam os diversos molhos. A palha é molhada para que se torne mais flexível e não
se corra o risco de partir, já que nesta altura se encontra no final do ciclo vegetativo e, portanto,
completamente seca.
95
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Logo após os molhos estarem devidamente atados e seguros, juntavam-se num conjunto
de cinco, que perfazia uma pousada. Este acto não tinha apenas o objectivo de encetar o
arrumo da colheita ainda no campo para que o transporte se efectuasse de forma mais
célere e mais ordenada, mas também porque já aqui começava uma espécie de cálculo
que culminava com a contabilidade final do produto da colheita. Isto acontecia porque,
devido ao uso de práticas ancestrais e a um profundo conhecimento empírico de todo o
processo, os molhos eram feitos, não naquilo que actualmente se designa por modelo
standard naturalmente, mas com um tamanho praticamente idêntico entre todos, onde
quer que fossem feitos. Desta forma obtinha-se, não só um objecto facilmente
manuseável (que se afirmava como muito importante aquando do transporte para o local
onde seria debulhado), mas também uma espécie de unidade de medida, já que era mais
do que sabido que um conjunto de cinco molhos, que forma uma pousada, equivalia,
mais ou menos, a um alqueire de centeio.
96
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Com os molhos feitos, é altura de se juntarem num medoucho, que equivale a um total
de oito a dez pousadas. Esta construção feita com os molhos é levada a cabo com a
disposição sucessiva de molhos em círculos, com as espigas voltadas para o interior,
diminuindo em espessura à medida que evolui em altura, até atingir uma forma
piramidal, ou cónica, na medida em que a base é redonda, evoluindo sempre com essa
forma, diminuindo de largura, com as sucessivas camadas, à medida que vai crescendo.
Esta configuração não é, obviamente casual ou aleatória, servindo para que o centeio
que, eventualmente ainda não tenha secado totalmente possa então secar, antes de ser
debulhado. Ao mesmo tempo, serve de protecção, no caso de se verificar alguma
chuvada, que poderia danificar o cereal.
97
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
56
- Jorge Dias - Rio do Onor. Comunitarismo Agro-Pastoril, Porto, 1953.
57
- Idem, ibidem, pág. 112
58
- O termo malhada provém do instrumento anteriormente utilizado para debulhar o centeio,
denominado malho, hoje caído em desuso por substituição, primeiro, pela debulhadora mecânica fixa e
posteriormente pela ceifeira-debulhadora. O malho era constituído por duas partes de madeira de forma
cilíndrica, ligadas entre si por correias de cabedal. A parte inferior do malho, com cerca de dois metros de
comprimento, denominado mangueira é o cabo do utensílio, isto é, é a extremidade por onde o malhador
o empunha. A mangueira é feita de madeira de vidoeiro, madeira bastante macia e leve. A parte posterior,
denominada pirto ou pírtego, com cerca de 70cm, é feita de madeira de carvalho mais densa, resistente e
mais pesada. O acto de malhar, consiste no acto de, sucessivamente, arremessar o pirto de encontro às
hastes de centeio dispostas no chão da eira, por forma a que o grão saia das espigas.
59
- Rascalhos são ramos (ou árvores jovens) de carvalho ou vidoeiro já secos, que servem normalmente
para produzir a lenha miúda. Esta é utilizada, juntamente com carquejas, para acender as lareiras, dada a
sua alta capacidade de combustão e poder calorífero. Também são utilizados para colocar nas paredes
interiores dos palheiros, por forma a impedir o máximo de contacto do feno com as mesmas e evitar que a
forragem se estrague com a humidade.
98
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
terminando em bico, onde remata num corucho, encimado por uma cruz feita em palha,
por forma a servir de protecção contra a humidade e eventuais chuvas que ocorram
antes de se ter efectuado a malhada.
As malhadas eram levadas a efeito em eiras construídas com grandes lajes de granito,
que lhes conferia um piso mais ou menos homogéneo e resistente, sendo de formato
rectangular ou quadrado e de tamanho variável. Poderiam, durante o resto do ano ter
mais utilizações, mas a mais importante, aquela que, de facto, justificava a sua
construção, era a de providenciar um espaço onde se pudesse debulhar o cereal.
No entanto, só as casas mais abastadas possuíam uma eira em pedra, existindo algumas
eiras de herdeiros que, funcionando como uma espécie de sociedade, serviam aos seus
legítimos proprietários, mas raramente entravam ao serviço comunitário. Estas eiras são
posse ou usufruto de várias pessoas, basicamente devido a partilhas. Acontecia com
99
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Não existem, em Barroso, verdadeiras eiras comunitárias. Ou melhor, existem, mas não
são construções de carácter definitivo e permanente. São campos, planos ou com pouco
declive (como convém), normalmente situados no limite da aldeia e quase sempre de
pertença comunitária, que se preparam anualmente para que possam servir os propósitos
das malhadas. Como o centeio não pode ser debulhado no chão, isto é, em contacto com
a terra, é necessário construir uma base suficientemente dura e resistente para que se
possa fazer a malhada em condições satisfatórias.
100
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
um rodo de madeira pelo campo, por forma a constituir uma camada que cubra
completamente o espaço que se pretende utilizar para debulhar o centeio. Com este
processo consegue-se um camada com cerca de dois centímetros de espessura.
60
Fig. N.º 31 – Espalhando a bosta para fazer a eira
Depois é devidamente alisada, utilizando-se para o efeito uma croça61 velha que vai
sendo arrastada sobre a bosta estendida, até se alcançar o efeito pretendido, que é obter
60
- Fotografia de A. Lourenço Fontes (1977)
61
- Uma croça é uma capa utilizada em Barroso e feita de juncos (Juncus effusus ) e que serve,
principalmente para protecção contra a chuva. Normalmente cobria o corpo todo, estando o capuz
incluído na capa, havendo, no entanto algumas croças cujo capuz era constituído por uma peça separada.
A complementar a croça adicionavam-se umas perneiras, feitas do mesmo material, cujo objectivo era a
protecção das pernas, desde os joelhos até aos pés. Esta capa caiu já em desuso, quer porque os artesãos
deixassem, pura e simplesmente, de existir, quer pelo aparecimento de novos materiais, nomeadamente o
polyester, que apresentou novas soluções para problemas antigos. As capas de oleado constituíram as
novas protecções contra as intempéries, devido ao facto de serem bastante práticas no uso diário, mas
também devido ao seu preço, o que facilitou a compra generalizada deste tipo de produtos.
101
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
62
Fig. N.º 32 - Alisando a eira
Após a secagem, feita ao sol, esta pasta endurece e constitui uma base suficientemente
firme para permitir a debulha do cereal sem que o mesmo entre em contacto com o solo.
Pode então dar-se início à malhada e à festa que a ela mesma está indelevelmente
ligada.
62
- Fotografia de A. Lourenço Fontes (1976). Repare-se no acto de alisar a bosta com um dos utensílios
mencionados, enquanto vai sempre sendo mantida molhada para que o resultado final seja uma superfície
o mais homogénea possível. Nesta fotografia (à semelhança da anterior) são visíveis os contornos cónicos
das medas já preparadas para a malhada.
102
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
que têm de ser realizadas no decurso da debulha, de forma coordenada, a fim de não
quebrar o ritmo de cada operação e evitar paragens e tempos mortos.
É uma azáfama constante, que se inicia de manhã – logo que seca o orvalho – e que se
prolonga pelo dia adiante, até que o grão esteja recolhido, apenas interrompida pelos
intervalos dedicados às fartas refeições, em cuja preparação a dona da casa faz ponto de
honra em se esmerar. A comida tem de ser farta e variada e o vinho servido com
progalidade, pois as malhadas, para além do mais, são uma festa, que comemora, não só
o fechar de um ciclo de produção e de muitas canseiras, como também uma ocasião
privilegiada de confraternização e convivência alegre e folgazã entre vizinhos
solidários.
São muitos e de vária ordem os factores que, ao longo do tempo, têm vindo a contribuir
para a progressiva degradação dos laços sociais traduzidos nas práticas comunitárias em
que se apoiava a estruturação e funcionamento da sociedade rural barrosã.
103
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Em 1934 foi concluída a ligação por estrada da sede do concelho com Braga e com
Chaves, rompendo-se o isolamento a que Barroso tinha estado sujeito. A partir daí, e de
forma gradativa, foi-se processando a integração da sociedade rural barrosã na
economia de mercado. Este processo acentuou-se nas décadas de quarenta e cinquenta,
mercê do incremento da produção de batata-semente que, nessa época, foi objecto de
grande procura e valorização, estando na origem de um surto de progresso económico
até então nunca visto em Barroso.
A maioria das famílias barrosãs que, até então, produzia, prioritária quando não
exclusivamente, para satisfazer as necessidades do auto-consumo e, dessa forma
assegurava a sua reprodução social e económica for da esfera mercantil, integrada num
sistema comunitário que quase dispensava o recurso a disponibilidades monetárias
inexistentes ou sempre escassas, passou a dispor de recursos monetários significativos
que, de certa forma, as dispensavam da manutenção das estreitas relações de
interdependência com os vizinhos.
104
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
desamortização que não resultaram até que, durante o período do Estado Novo, foram
adoptadas políticas que provocaram graves convulsões na sociedade rural barrosã.
A florestação indiscriminada e maciça dos baldios, sem ter em conta a função socio-
económica que eles desempenhavam, no contexto da economia agrária das comunidades
que deles usufruíam, contribui enormemente para o descalabro das instituições aldeãs
que, até então, os geriam.
As decisões de florestação foram quase sempre tomadas sem atender às solicitações das
comunidades. Aos guardas florestais foi atribuída autoridade para decidir sobre a
fruição de todo o baldio da aldeia, estivesse ou não a ser objecto de florestação. Eram
eles quem decidia onde podia roçar-se o mato para as camas do gado e cortar as lenhas
destinadas ao aquecimento, sendo responsáveis pelo respectivo licenciamento, na figura
de licenças individuais e obrigatórias, fazendo, quase sempre, tábua rasa dos usos e
costumes tradicionais. Acrescia que nas zonas florestadas era proibido apascentar os
gados.
105
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Pode afirmar-se que o processo de submissão dos baldios ao regime florestal, tal como
foi realizado, constituiu uma grande machadada nas instituições comunitárias aldeãs e
no seu funcionamento.
Do acabado de referir não deve inferir-se, no entanto, que a florestação em baldios não
se justificava. Simplesmente deveria ter-se processado em moldes que excluíssem a
florestação indiscriminada e tivessem em devida conta a função económica e social que
eles desempenhavam, o que poderia ter-se conseguido, promovendo um racional
ordenamento silvo-pastoril que salvaguardaria os interesses das populações.
Entretanto, após o 25 de Abril, a responsabilidade pela gestão dos baldios foi restituída
às comunidades, mas os efeitos dos erros e vícios acumulados no período anterior, não
foram totalmente anulados.
Outro factor importante que contribuiu para a degradação das práticas comunitárias foi
o grande surto de emigração que ocorreu durante as décadas de sessenta e setenta e que
despovoou Barroso.
Resumindo, constata-se que, devido aos factores que têm vindo a ser referidos e que
ocorreram ao longo do último século, na actual vivência quotidiana da sociedade rural
barrosã apenas se detectam, de forma já muito diluída, os traços estruturais que
caracterizavam e, por assim dizer, constituíam a imagem de marca da sociedade agro-
pastoril e dos hábitos e práticas comunitárias que a enformavam.
106
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Em justificação desta afirmação poderá ser citado o caso da gestão dos baldios, que
consideramos um caso paradigmático.
Como já foi referido, a produção pecuária em regime extensivo de pastoreio – com vista
à produção de vitelos, cabritos e cordeiros, cuja carne de qualidade atinge grande
valorização – constitui actualmente a actividade mais importante, sob o ponto de vista
económico, das explorações agrícolas de Barroso.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
Como é obvio, todo este processo implica o envolvimento pleno das instituições aldeãs,
só possível de ser conseguido no quadro das relações comunitárias, visando o reforço da
organização comum para a valorização do espaço comum.
Será isso ainda possível, no âmbito de uma mundivivência marcada por um grande
individualismo? Resta-nos aguardar o futuro e desejar que as comunidades aldeãs de
Barroso mais uma vez estejam à altura das situações e provem ser capazes de enfrentar
e vencer as dificuldades que se colocam ao seu viver quotidiano, recorrendo ao espírito
solidário que sempre as caracterizou.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Bibliografia
ALMEIDA, João F. - Classes sociais nos campos: camponeses parciais numa região do
Noroeste, Lisboa, Edições do Instituto de Ciências Sociais, 1986.
DIAS, Jorge - Las chozas de los Caboçudos y las contrucciones de las citanias
españolas y portuguesas, em: Archivo Español de Arqueologia, Madrid, 1948.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
LEMA, Maria Paula Bordalo - Tourém, uma aldeia raiana do Barroso. Trabalho de
exame de estudo. Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa – Instituto
Nacional de Investigação Científica, 1978.
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo
. Anexos
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
Rosa Anemoscópica
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Fonte: Normais Climatológicas 1961/90, Estação Meteorológica de Montalegre, Instituto de Meteorologia
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Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Fonte: Normais Climatológicas 1961/90, Estação Meteorológica de Montalegre, Instituto de Meteorologia
Quadro de Frequência (%) e Velocidade (Km/h) dos ventos
Anexos________________________________ _______________________________ VI
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Anexos________________________________ _______________________________VIII
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
Anexos________________________________ _______________________________ IX
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Distribuição da População Residente por Freguesias e por Ano
Anexos________________________________ _______________________________ X
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Fonte: Instituto Nacional de Estatística
População e Densidade Populacional por Freguesias - 1864 /2001
Anexos________________________________ _______________________________ XI
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Anexos________________________________ _______________________________XIII
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
Tourém
Santo André
Padornelos
Padroso
Gralhas
Pitões das Júnias Vilar de Perdizes
Mourilhe
Solveira
Donões Montalegre
Meixedo
Sezelhe
Covelães
Cambeses do Rio Meixide
Outeiro Serraquinhos
Contim Chã
Fiães do Rio
Negrões
Covêlo do Gerês Vila da Ponte
Reigoso
Ferral Pondras
Venda Nova
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Salto
Anexos________________________________ _______________________________XIV
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Anexos________________________________ _______________________________ XV
Os Espaços Físico e Social no Comunitarismo em Barroso
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Anexos________________________________ _______________________________XVI