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Introdução: (Paula)
Problematizar:
A região Pan-Amazônica estabelece relações com países como a Guiana, Venezuela, Colômbia,
Guiana Francesa, Suriname, Peru, Bolívia e Equador. Sua diversidade cultural existente é resultante de
possíveis processos de assimilação, reprodução e de construção histórica em diversas áreas culturais,
incluindo a música. Dentre as afirmativas sobre a região norte, presente na Pan-Amazônia, está uma
prerrogativa de unicidade em relação a sua cultura musical, ou ainda, com um imaginário exotizado
sobre as práticas musicais de nossa região (CASTRO, 2018). Ao longo dos anos, percebeu-se a
presença de uma “Amazônia Caribenha” presente no Norte com a justificativa, dentro do discurso
popular, de proximidade com outras regiões da América Latina em relação ao restante do país, esse
discurso caracteriza-se pela escuta e disseminação de músicas que embalaram o público nortista ao
longo dos tempos provenientes do Caribe, demais ilhas e de regiões presentes na própria Pan-Amazônia.
A região norte do Brasil foi uma das primeiras a entrar em contato com os ritmos
caribenhos através de captação das rádios de ondas médias e curtas, na qual transmitia rádios
do Caribe e da Guianas Francesa. Com a popularização das músicas caribenhas através de
rádios, ocorreu a conexão histórica entre as regiões caribenhas e o Pará através do contrabando,
da escuta e disseminação, nas festas dessas músicas. Esses contatos físicos formam o que
Bernardo Farias chama de “Rede de difusão musical transatlântica que ocorre nas áreas
portuárias, zona do meretrício e festas de aparelhagem e gafieira de Belém” (FARIAS, 2011).
Em meados dos anos 1970, ocorreu o processo de influência caribenha, na qual a região
paraense se empatizava e moldova a sua indústria cultural regional, baseando- se em
propagações culturais trazidas pela diáspora da rádio e pelos contatos das redes de difusão.
Processos quais se fortaleceram com os surgimentos de grupos que se responsabilizaram
também com a propagação dos mais diversos gêneros populares, como: carimbó, merengue e
o bolero. De modo que, a lambada, brega e o zouk. Tornaram-se vertentes e somaram para uma
construção de identidade cultural globalizada.
Aspectos musicais:
A força ou a beleza do zouk, em particular, vem de seu ritmo culturalmente rico dessas
contribuições percussivas ancestrais e não das melodias e/ou harmonias dos instrumentos
elétricos ocidentais adicionados.
A clave do zouk se resume a este ostinato ou movimento rítmico repetitivo “tak pi tak
pi tak” reduzido a tak-taktak decodificado em 1-4-7 em 8 batidas em 4/4 (JONAZ, 2021).
Fonte: Michel Beroard, 2018
Os tambores:
O zouk se utiliza dos ritmos e instrumentos preservados pelos antigos escravos nas
bélyas. Um dos mais notórios, é o “Gwoka” de Guadalupe, a qual refere-se a uma família de
tambores de mão e à música tocada com eles, que é uma parte importante da música folclórica
de Guadalupe. O gwoka é praticado com dois tambores diferentes: o acompanhante "Boula",
que pode consistir em dois tambores (ou mais), tocado por "Boulayè", com um som profundo;
e o "makè" (marcador, em crioulo haitiano), mais alto e menor, fazer fraseado livre em diálogo
com a dança, e que é executado solo. O gwoka de Guadalupe, é composto por sete ritmos
fundamentais; “Graj”, “Kaladja”, “Léwoz”, “Menndé”, “Pajembel”, “Tumblak” e “Woulé”.
Dança (Sara)
No zouk, a dança e a música são inseparáveis, como afirma Gabriel Entiope (1996).
Como um mecanismo de resistência, os negros escravizados tiveram de criar diversas formas
para resistir às opressões dos colonos e manter a sua existência cultural como grupo de origens
étnicas distintas. O zouk, assim como outras manifestações culturais que envolvem a dança e
música, teve um papel de unificador cultural da música afro-diaspórica planetária. As claves
são de extrema importância para a parte rítmica que induz a dança, elas são chamadas de
‘claves’ ou de ‘mudança de frases do tambor’ e são feitas apenas para a mudança de passo de
dança, na rodada que é praticada com oito bailarinos formados por dois quadrados de quatro
bailarinos, como em certas danças africanas originais ou danças countries europeias (JONAZ,
2021).
A Música/Dança zouk foi originada nas ilhas caribenhas sofrendo de certo modo
influencias das músicas e dança locais, como também das francesas. Zouk, que quer dizer festa,
possui um ritmo acelerado a princípio, por volta da década 80, sendo uma dança muito utilizada
nos bailes a Lambada e a Kizomba. Já no Brasil, mais especificamente no norte brasileiro, o
zouk foi retardo para um ritmo menos acelerado encaixando perfeitamente na dança kizomba,
já mencionada, que é uma “dança a dois” onde estão bem agarrados dançado lentamente. Além
da lambada e da kizomba, há outras danças encontradas em bailes de zouk como: Tarraxinha,
Cabolove (comum nas músicas de zouk love), Cabozouk, Reggaeton (um pouco voltado ao
estilo de músicas e dança dos USA) e R&B. Todavia, apesar do grande acervo de danças
encontradas ao som de música zouk todas possuem forte ligação a lambada com a uso de giros
de cabelo e do corpo, como é observada nas músicas e danças da banda Calypso, Lady Lu,
entre outros, como exceção da dança Kizomba que é original da Angola-África.
Kassav’ + Belém (Virginia):
Para Gérald Désert (2021), o grupo Kassav’ foi o responsável pela criação dos aspectos
musicais do zouk, caracterizada pelo desejo de identificação e reconhecimento partilhado da
música afro-diáspora dos povos marcados pela escravidão e colonização. O grupo Kassav’ foi
fundado em 1979 pelo irmão Georges Decimus e Pierre-Édouard Decimus (JONAZ, 2021),
porém foi Pierre-Édouard o responsável pela junção de uma grande massa sonora composta
pela harmonia dos tambores tradicionais de Guadalupe (gwoka e bèlè) com sopros, teclado e
guitarra. Além do fraseado e harmonia dos instrumentos tradicionais carnavalescos antilhanos
– principalmente o “mas sem já”, tudo misturado com uma orquestração moderna (BEROARD,
2018). Essas características, além da base dançante, fizeram o zouk ganhar notoriedade
principalmente nos anos 80, com a internacionalização do gênero.
Já Lefrançois afirma que o zouk se divide em duas fases. A primeira, no início da década
de 1970, que se caracteriza pela estabilização e maturação do gênero, com o grupo Kassav.
Enquanto a segunda, nos anos 80, se caracteriza pela crescente internacionalização do gênero,
que se dá pelas características dançantes do zouk (PAULO, Luís. Entrevista VOA 2019). Nesse
mesmo período o zouk chega no Brasil través de captação das ondas curtas e médias das rádios
do Caribe e da Guiana Francesa (BARRETO, 2014), desempenhando grande influência na
região norte do país, especialmente no Pará e Amapá (SOARES, 2010). Em Belém do Pará, o
zouk exerce influência em Pinduca, Mestre Vieira e Verequete (BARRA, 2015), bem como na
música que estava em alta na época - a lambada, que foi substituída pelo zouk após a sua perda
de popularidade.
Referencias:
JONAZ, Jocelyn. Le zouk et ses tambours /Zouk e seus tambores. Revista NaKaN. Publicado:
fevereiro de 2021. Disponível em: <https://nakanjournal.com/le-zouk-et-ses-tambours/>
PAULO, Luís. Entrevista. [set. 2019]. Entrevistador: Pedro Dias. Angola: VOA 2019.
“Gigantes do Zouk” uma história contada por Luís Paulo. Disponível em:
<https://www.voaportugues.com/a/lu%C3%ADs-paulo-conta-a-hist%C3%B3ria-dos-
gigantes-do-zouk-/5103317.html>
AXEL, Samba. Às origens dos escravizados bantu de África central deportados às Américas
dos séculos XVI-XIX. XXIX Simpósio Nacional de História, 2017. Disponível em: <
http://www.pr.anpuh.org/resources/anais/54/1489495731_ARQUIVO_Asorigensdosescraviz
adosBantudeAfricaCentral.pdf >
FLORIÃO, Luís. História do zouk. Colunista Portal – Educação. Publicado: julho de 2013.
Disponível em: < https://pt.scribd.com/document/312118387/Historia-Do-Zouk >
La Riviera Du Levant Officiel. Petit rappel des rythmes du Ka / Os sete ritmos do KA.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iZH9DYL9KTY>. Último acesso em 14
de janeiro de 2022.
SZERMAN, Israel. Documentário: ZOUK .... nosso único remédio. Um breve relato do
desenvolvimento da lambada e do zouk. Disponível em: <ZOUK....Nosso Único Remédio. -
YouTube>
FLORIÃO, Luís. Lambada e Zouk. In: PERNA, Marco Antônio (org.). 200 anos da história da
dança de salão no Brasil. Rio de Janeiro: Amaragão Edições, 2011. p. 70- 89.
ENTIOPE, Gabriel. Negros, dança e resistência. O Caribe a partir do dia 17 ao 19 de século.
Paris, L'Harmattan, 1996.
FARIAS, Bernardo Thiago. Música caribenha e sua influência no norte brasileiro. Disponível
em: . Acesso em: 22 mai. 2008.