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Sebenta DIP
Sebenta DIP
jurídico
comum.
Assim,
fala-‐se
em
DI
geral
para
referir
as
normas
de
DI
que
vinculam
todos
os
sujeitos
da
sociedade
internacional
geral
ou
universal
(toda
a
sociedade
internacional).
Constituem
as
normas
de
DI
geral
as
normas
de
costume
geral
e
os
tratados
ou
convenções
de
alcance
universal.
2.
Direito
Internacional
particular
A
noção
de
Direito
Internacional
particular
prende-‐se
com
a
distinção
entre
sociedade
internacional
geral
ou
universal
e
sociedades
internacionais
particulares.
Com
efeito,
as
sociedades
internacionais
particulares
nascem
de
afinidades
de
natureza
política,
geográfica,
cultural,
religiosa,
etc.,
entre
sujeitos
de
DI,
algumas
delas
materializando-‐se
em
organizações
sociais.
A
UE
ou
a
Mercosul
são
exemplo
destas
sociedades,
que
têm
de
ser
obrigatoriamente
constituídas
por,
pelo
menos,
dois
Estados.
Assim
sendo,
o
DI
particular
refere-‐se
às
normas
de
DI
que
se
aplicam
às
várias
sociedades
internacionais
particulares.
Constituem
as
normas
de
DI
particular
as
normas
de
costume
regional
ou
local
e
os
tratados
ou
convenções
internacionais
particulares.
IV
–
Funções
principais
do
DI
1.
As
origens
do
DI
moderno
É
na
época
pré-‐estadual
que
se
encontram
as
origens
do
DI,
que
nasceu
com
a
Antiguidade
Clássica
e
com
a
Idade
Média.
Contudo,
só
se
autonomizou
enquanto
ramo
da
ciência
jurídica
com
o
aparecimento
do
Estado
moderno,
fenómeno
que
ocorreu
na
Europa
Ocidental
no
século
XVII.
Durante
a
Idade
Média,
houve
dois
factores
que
retardaram
o
aparecimento
dos
estados
modernos:
• O
feudalismo,
que
se
pode
definir
como
um
sistema
de
organização
social
baseado
na
propriedade
da
terra
e
em
laços
de
servidão
pessoal
e
teve
como
consequência
a
inexistência
de
autoridades
centrais
fortes
e
a
fragmentação
dos
centros
de
poder.
Contudo,
esta
concepção
feudal
da
sociedade
legou
aos
futuros
Estados
nacionais
ideais
que
radicam
na
natureza
absoluta
do
poder,
como
o
dever
de
fidelidade
do
súbdito
perante
o
rei
e
o
entendimento
do
governo
como
poder
absoluto.
• A
influência
excessiva
da
Igreja,
que
se
traduzia
num
prevalecer
do
poder
espiritual
sobre
o
poder
político,
facto
que
só
se
alterou
com
o
movimento
da
Reforma
e
consequente
emancipação
do
poder
religioso.
Contudo,
em
1648,
os
tratados
de
paz
de
Westfália,
para
além
de
pôr
termo
à
guerra
dos
Trinta
Anos,
vieram
marcar
o
início
da
emergência
de
entidades
soberanas
e
independentes
colocadas
num
plano
formal
de
igualdade.
Nasceram,
assim,
dois
dos
princípios
mais
importantes
do
ordenamento
jurídico
internacional
–
o
princípio
da
soberania
e
o
da
igualdade
dos
Estados.
O
Renascimento,
contribuiu
igualmente
para
o
nascimento
dos
Estados
modernos,
instaurando
um
clima
cultural
e
intelectual
propício
a
esta
mudança.
Este
ambiente
era,
contudo,
favorável
a
um
clima
de
violência
e
anarquia,
devido
à
falta
de
uma
autoridade
política
superior.
2.
As
funções
do
DI
moderno
Assim,
as
funções
principais
do
DI
são:
• Permitir
a
convivência
e
coexistência
dos
Estados
num
clima
pacífico.
• Promover
a
cooperação
entre
os
Estados,
satisfazendo
as
suas
necessidades
e
interesses
comuns.
No
seio
da
comunidade
internacional,
o
DI
pretende
regular
as
relações
de
reciprocidade,
de
coordenação
e
de
subordinação
que
se
estabelecem
entre
os
vários
sujeitos
de
direito
internacional.
V
–
Os
termos
sociedade
e
comunidade
internacional
Afigura-‐se
como
necessário
distinguir
os
termos
sociedade
e
comunidade
internacional,
que,
apesar
de
serem
muitas
vezes
usados
indistintamente,
não
são
sinónimos.
De
facto,
em
qualquer
agrupamento
humano,
verificam-‐se
entre
os
seus
membros
factores
de
agregação
ou
de
aproximação
e
factores
de
conflito
ou
de
afastamento.
Podemos,
pois,
distinguir
os
termos
comunidade
e
sociedade
com
base
nestes
factores:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Numa
comunidade,
os
seus
membros
estão
unidos
apesar
de
tudo
o
que
os
separa.
Assim,
os
factores
de
agregação
prevalecem
sobre
os
factores
de
separação.
A
união
no
plano
internacional
é
espontânea.
• Numa
sociedade,
por
outro
lado,
os
seus
membros
estão
separados
apesar
de
tudo
aquilo
que
os
une.
Prevalecem
os
factores
de
conflito
ou
afastamento,
sendo
por
isso
a
coesão
artificial
e
a
adesão
à
mesma
voluntária.
Tendo
em
conta
esta
distinção,
podemos
concluir
que
é
mais
correcto
falar
em
sociedade
internacional,
visto
que
os
seus
desequilíbrios
e
factores
de
conflito
são
inegáveis.
Todavia,
após
a
II
Guerra
Mundial,
passamos
a
encontrar
na
sociedade
internacional
a
existência
de
um
núcleo
de
valores
comuns,
como
a
paz,
a
cooperação
e
o
valor
da
dignidade
humana.
A
este
elemento
subjectivo
comum
pode
acrescentar-‐se
ainda
o
facto
de
todos
os
membros
da
sociedade
obedecerem
a
um
mesmo
sistema
jurídico
internacional.
Pode,
como
tal,
afirmar-‐se
que
assistimos
a
um
reforço
dos
laços
comunitários
na
sociedade
internacional
num
período
de
pós-‐guerra.
Esta
distinção
é,
porém,
meramente
tendencial,
visto
que
a
realidade
é
extremamente
complexa.
CAPÍTULO
I
–
EVOLUÇÃO
HISTÓRICA
DO
DIREITO
INTERNACIONAL
I
–
Introdução
Apesar
da
contribuição
dos
Impérios
chinês
e
do
oriente,
da
Antiguidade
Clássica,
de
Roma
ou
do
período
medieval
para
o
DI,
estes
períodos
constituem
uma
pré-‐história,
pois
o
DI
só
se
autonomizou
como
ciência
jurídica
após
a
paz
de
Westfália,
em
1648.
O
conceito
de
DI
moderno
é
contemporâneo
do
conceito
de
Estado
moderno
de
tipo
europeu,
surgido
nos
séculos
XV-‐XVI.
Assim,
podemos
dividir
o
DI
moderno
em
duas
fases:
• 1648
–
1945:
modelo
clássico
ou
de
Westfália
• 1945
–
actualidade:
modelo
moderno
ou
da
Carta
das
Nações
Unidas
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
II
–
Modelo
clássico
ou
de
Westfália
O
modelo
clássico
ou
de
Westfália
corresponde
ao
período
que
medeia
entre
1648,
ano
da
paz
de
Westfália,
e
1945,
o
fim
da
II
Guerra
Mundial.
A
estrutura
da
sociedade
internacional
clássica
assemelha-‐se
a
uma
“vasta
planície
interestadual”,
pois
existia
igualdade
jurídica
entre
os
Estados,
na
falta
de
órgãos
superiores
próprios
dessa
sociedade
capazes
de
os
regular.
Os
órgãos
estaduais
tinham
um
liberdade
quase
total
de
actuação
no
plano
internacional,
verificando-‐
se
um
fenómeno
de
desdobramento
funcional
–
actuavam
simultaneamente
como
órgãos
estaduais
e
órgãos
da
ordem
internacional.
1.
Sujeitos
de
DI
Em
termos
de
sujeitos
de
DI,
a
personalidade
jurídica
circunscrevia-‐se
praticamente
aos
Estados
(com
pequenas
exepções,
como
a
Santa
Sé
e
a
Ordem
de
Malta),
que,
na
estrutura
fortemente
descentralizada
da
sociedade
internacional,
possuíam
uma
liberdade
quase
irrestrita,
numa
concepção
absoluta
da
sociedade.
Até
aqui,
não
constava
das
funções
do
DI
corrigir
possíveis
equilíbrios
ou
injustiças
que
se
verificassem
na
sociedade
internacional.
As
normas
de
DI
visavam
apenas
assegurar
a
repartição
do
poder
entre
os
membros
da
sociedade
internacional,
sem
corrigir
as
disparidades
que
nela
existissem.
Faziam
parte
do
corpus
de
DI:
• Normas
de
soberania
estadual
• Normas
sobre
o
regime
do
alto
mar
• Normas
de
responsabilidade
internacional,
no
que
diz
respeito
ao
tratamento
de
estrangeiros
• Normas
sobre
a
conclusão
de
tratados
e
convenções
• Normas
sobre
a
adopção
de
medidas
de
represália
(visto
que
se
entendia
que
o
recurso
à
guerra
constituía
um
direito
dos
Estados)
2.
Fontes
de
DI
As
fontes
de
Direito
são
mecanismos
de
revelação
de
normas
jurídicas,
compreendendo
a
sua
criação,
alteração
ou
extinção.
No
modelo
clássico,
as
fontes
de
DI
resumiam-‐se
aos
costumes
e
aos
tratados
bilerais.
• Costume:
por
costume
entende-‐se
um
processo
espontâneo
de
formação
de
normas
jurídicas
resultante
da
conjugação
de
dois
elementos:
um
elemento
material
(ou
consuetudo),
caracterizado
pela
adopção
sistemática
de
um
dado
comportamento
ao
longo
do
tempo;
e
um
elemento
subjectivo,
que
se
traduz
numa
convicção
de
obrigatoriedade
jurídica.
• Tratados
bilaterais:
tratados
são
acordos
de
vontade
entre
dois
ou
mais
sujeitos
jurídicos.
Neste
caso,
os
tratados
eram
concluídos
entre
apenas
dois
sujeitos,
cada
um
representando
um
conjunto
distinto
de
interesses.
3.
Preenchimento
das
três
tarefas
da
ordem
jurídica
Constitui
um
traço
distintivo
do
modelo
clássico
o
exercício
descentralizado
das
funções
legislativa,
judicial
e
executiva,
cujo
cumprimento
cabia
a
cada
Estado
per
se.
• Função
legislativa:
a
produção
normativa
constituía
uma
manifestação
da
vontade
dos
Estados,
tratando-‐se
de
um
direito
voluntarista.
Na
falta
de
um
órgão
legislativo
internacional,
as
obrigações
internacionais
derivam,
em
último
termo,
da
vontade
dos
Estados,
existindo
por
isso
um
flagrante
contraste
entre
o
ordenamento
jurídico
nacional
e
o
plano
internacional.
• Função
judicial:
a
cominação
de
sanções
é
efectuada
em
regime
de
auto-‐tutela.
Na
falta
de
órgãos
jurisdicionais
internacionais,
era
o
próprio
ofendido
que
determinava
sanções
para
o
infractor.
• Função
executiva:
o
mesmo
sucede
no
que
toca
à
efectivação
das
sanções.
A
inexistência
de
um
poder
executivo
na
sociedade
internacional
fomenta
as
actuações
individuais
e
descentralizadas
dos
Estados.
4.
Recurso
à
força
Desde
a
paz
de
Westefália
até
ao
século
XIX,
os
Estados
tinham
plena
liberdade
de
fazer
a
guerra,
ou
seja,
possuíam
o
direito
à
guerra
(Ius
Bellum).
Este
direito
constituía
uma
prerrogativa
normal,
implícita
no
conceito
de
soberania
vigente.
Consequências:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Os
princípios
jurídicos
internacionais
não
ofereciam
aos
sujeitos
de
direito
uma
protecção
consistente.
• Predominância
do
princípio
da
efectividade
–
sendo
a
força
o
principal
parâmetro
de
avaliação
dos
factos,
só
as
situações
efectivas
podiam
produzir
efeitos
jurídicos.
5.
Responsabilidade
internacional
Quando
um
Estado
pratica
um
acto
ilícito,
incorre
em
responsabilidade
internacional
para
com
os
outros
Estados.
Neste
modelo,
a
responsabilidade
internacional
constituía
um
mero
“assunto
privado”
entre
os
Estados
directamente
envolvidos,
ou
seja,
a
prática
de
um
acto
ilícito
fazia
surgir
uma
relação
jurídica
nova,
bilateral,
entre
o
Estado
vítima
e
o
infractor,
na
qual
o
primeiro
possuía
o
direito
subjectivo
de
exigir
a
reparação
dos
danos
causados
e
o
segundo
o
dever
de
assegurar
essa
reparação.
Características
da
responsabilidade
internacional:
• Colectiva
–
a
infracção
às
normas
de
DI
determinava
apenas
a
responsabilização
dos
Estados
enquanto
entidades
colectivas,
e
jamais
dos
indivíduos.
O
indivíduo
era
considerado
objecto
do
poder
estadual,
e
não
destinatário
directo
das
normas
internacionais.
• Reparatória
–
o
objectivo
da
responsabilidade
internacional
no
modelo
clássico
era
o
de
assegurar
somente
a
reparação
dos
danos
causados,
ou
seja,
não
existia
uma
dimensão
punitiva.
6.
Sistema
normativo
internacional
O
modelo
de
DI
clássico
era
um
modelo
de
mera
coordenação
das
entidades
soberanas,
visto
que
estas
eram
colocados
num
plano
rigorosamente
paritário.
É
também
legítimo
concluir
que
o
DI
clássico
era
um
direito
axiologicamente
neutro,
ou
seja,
todas
as
normas
de
DI
possuíam
o
mesmo
valor,
a
mesma
dignidade.
A
normatividade
era,
por
isso,
horizontal,
visto
que
não
era
percorrida
por
relações
hierárquicas.
III
–
Modelo
moderno
ou
da
Carta
das
Nações
Unidas
A
partir
da
Segunda
Guerra
Mundial
em
diante,
a
sociedade
internacional
foi
sofrendo
modificações,
e
o
sistema
jurídico
internacional
foi-‐se
aproximando
do
modelo
de
direito
interno.
Enquanto
que
o
DI
clássico
constituía
um
modelo
de
coordenação,
ao
modelo
moderno
adequa-‐se
melhor
o
qualificativo
de
modelo
de
subordinação.
1.
Sujeitos
de
DI
A
partir
de
1945,
o
plano
dos
sujeitos
de
DI
sofre
mutações,
quer
a
nível
qualificativo,
quer
a
nível
quantitativo.
Assim,
assiste-‐se
desde
logo
a
um
aumento
significativo
do
número
de
Estados,
que
hoje
atingem
cerca
de
duas
centenas
e
são,
na
sua
maioria,
não
europeus.
Esta
aumento
deveu-‐se
quer
às
sucessivas
descolonizações,
quer
ao
princípio
da
autodeterminação.
Neste
sentido,
podemos
afirmar
que
o
DI
se
universalizou,
deixando
apenas
de
se
aplicar
a
um
círculo
restrito
de
Estados
europeus
para
regular
também
os
novos
membros
da
sociedade
internacional.
Por
outro
lado,
verifica-‐se
também
um
alargamento
do
elenco
dos
sujeitos
internacionais,
que
no
modelo
clássico
eram
apenas
os
Estados
e
os
insurrectos.
Novos
sujeitos
de
DI:
• Organizações
internacionais:
as
organizações
internacionais
são
associações
voluntárias
de
Estados,
criadas
através
de
um
tratado
constitutivo,
com
uma
estrutura
de
órgãos
próprios
e
com
personalidade
jurídica
internacional.
A
estrutura
orgânica
das
organizações
internacionais
é
habitualmente
tripartida
–
dela
fazem
parte
órgãos
plenários,
órgãos
de
composição
restrita
e
órgãos
de
função
técnico-‐administrativa.
Ora,
apesar
de
já
existirem
organizações
internacionais
no
modelo
clássico,
estas
não
possuíam
autonomia
dos
Estados,
não
constituindo
centros
autónomos
de
imputação
de
direitos
e
deveres.
Como
consequência
do
aparecimento
das
novas
organizações
internacionais,
a
sociedade
internacional
deixa
de
basear-‐se
apenas
no
interestadualismo,
cessando
de
ser
meramente
relacional
e
adquirindo
um
pendor
institucional.
Ao
serem
introduzidas
estruturas
verticais,
deixamos
de
poder
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
falar
numa
“vasta
planície
interestadual”
pois
estabelecem-‐se
vínculos
de
subordinação
entre
as
organizações
e
os
Estados.
• Povos
não
autónomos:
são
povos
ou
nações
subvertidos
a
regimes
colonizadores,
a
regimes
racistas
ou
sob
o
domínio
estrangeiro,
e
que
contra
eles
se
insurgem.
Estes
povos
passam
a
ter
o
direito
à
autodeterminação,
nomeadamente
através
do
ganho
de
independência,
e
os
movimentos
de
libertação
nacional
multiplicam-‐se.
O
direito
da
autodeterminação
pode
também
exercer-‐se
através
da
associação
ou
da
integração.
Assim,
esta
categoria
de
povos
ascende
à
qualidade
de
sujeitos
de
direito
internacional.
• Indivíduo:
também
o
indivíduo,
quer
enquanto
pessoa
física,
quer
enquanto
pessoa
colectiva,
passa
a
figurar
no
conjunto
de
sujeitos
do
DI
moderno.
Com
efeito,
não
é
mais
possível
negar
a
evidência
de
que
certas
normas
de
DI
atingem
directamente
o
indivíduo,
provocando,
assim,
alterações
na
sua
esfera
jurídica.
São
exemplos:
o
direito
comunitários,
os
direitos
humanos,
a
responsabilidade
por
determinadas
infracções
internacionais.
• Minorias:
estreitamente
ligado
à
personalidade
jurídica
dos
povos
não
autónomos
e
dos
indivíduos,
está
ainda
o
problema
dos
direitos
das
minorias.
Apesar
de
ainda
não
se
constituir
como
uma
categoria
autónoma,
tem-‐lhes
sido
vindo
a
reconhecer
personalidade
internacional
jurídica,
apesar
de
esta
verdadeiramente
não
se
autonomizar
da
do
indivíduo.
2.
Fontes
de
DI
Também
no
campo
das
fontes
e
direito
se
verifica
uma
expansão
do
quadro
de
fontes
tradicionais.
Passamos,
pois,
a
ter
as
seguintes
fonte
de
direito
internacional:
• Costume
selvagem
ou
instantâneo:
classicamente,
o
costume
formava-‐se
primeiramente
através
do
elemento
prático,
e
seguidamente
através
da
convicção
de
obrigatoriedade.
Contudo,
rapidamente
se
tornou
clara
a
incompatibilização
entre
a
excessiva
morosidade
do
processo
tradicional
de
costume
e
as
crescentes
exigências
da
nova
realidade
social.
Assim,
verifica-‐se
uma
inversão
do
processo
tradicional
de
formação
do
costume:
surge,
numa
primeira
fase,
um
sentimento
de
obrigatoriedade
jurídica,
e
só
depois,
paulatinamente,
vai
sendo
sedimentado
o
comportamento
conforme
esse
sentido
de
obrigatoriedade.
Esta
inversão
resulta
num
processo
de
formação
mais
célere.
• Tratados
ou
convenções
multilaterais
–
os
tratados
deixam
de
ser
apenas
bilaterais,
passando
a
ser
celebrados
entre
mais
do
que
duas
partes,
acrescendo
o
facto
de
que
muitos
deles
são
tratados
abertos,
permitindo
a
um
Estado
não
contratante
tornar-‐se
parte
deles.
Podemos,
assim,
distinguir
tratados-‐contratos
de
tratados-‐lei.
Os
tratados
bilaterais
inserem-‐se
na
primeira
categoria,
pois
são
tratados
que
visam
a
satisfação
de
interesses
convergentes.
Os
tratados-‐
leis
são,
por
outro
lado,
acordos
colectivos,
visando
a
prossecução
de
interesses
comuns.
Inserem-‐se
nesta
categoria
os
tratados
multilaterais
gerais.
• Actos
jurídicos
unilaterais
–
emanados
pelos
Estados
ou
por
organizações
internacionais.
Os
actos
jurídicos
unilaterais
emanados
pelas
organizações
internacionais
constitutem
–
são
leis
emanadas
pelas
organizações
internacionais,
que
adquirem,
juntamente
com
personalidade
jurídica
internacional,
competência
normativa.
3.
Recurso
à
força
Se,
no
direito
clássico,
o
recurso
à
força
nas
relações
internacionais
era
considerado
legítimo,
passa
a
vigoram
no
DI
moderno
o
princípio
da
proibição
da
força.
Esta
proibição
está
plasmada
na
interdição
geral
do
recurso
à
fora,
na
Carta
das
Nações
Unidas,
no
art.
2º,
nº
4.
O
recurso
à
força
pode,
contudo,
ser
autorizado,
como
uma
espécie
de
ultima
ratio,
pelo
Conselho
de
Segurança
em
casos
extremos.
Consequentemente,
perde
importância
o
princípio
da
efectividade.
4.
Preocupações
ambientais
No
modelo
clássico,
o
problema
da
tutela
dos
bens
ambientais
era
encarado
segundo
uma
perspectiva
antropocêntrica
e
utilitarista.
Contudo,
nos
últimos
anos,
emergiu
uma
concepção
global
da
biosfera,
instaurando-‐se
uma
preocupação
geral
de
tutela
dos
ecossistemas.
O
DI
passa,
assim,
a
vincular
também
as
relações
entre
os
Estados
e
o
ambiente,
passando
o
direito
do
ambiente
a
ser
um
dos
ramos
mais
importantes
desde
direito.
5.
Sistema
normativo
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Com
o
modelo
moderno
ou
da
Carta
das
Nações
Unidas,
estabelece-‐se
na
sociedade
internacional
uma
hierarquia
de
valores,
desaparecendo
a
“aridez
do
direito
positivo”.
Surge
um
conjunto
de
princípios
jurídicos
reputados
de
fundamentais
e
que
os
torna
hierarquicamente
superiores
aos
restantes
princípios.
Dois
valores
adquirem
relevante
proeminência:
o
valor
da
paz
e
o
valor
da
protecção
da
dignidade
humana.
Como
consequência,
o
DI
cessa
de
ser
um
direito
axiologicamente
neutro,
sendo
atravessado
por
considerações
ético-‐morais.
A
uma
hierarquização
de
valores
passa
a
corresponder
uma
hierarquização
de
normas,
e
o
sistema
normativo
internacional
aproxima-‐se
do
modelo
de
direito
interno.
6.
Responsabilidade
internacional
Atendendo
a
esta
hierarquização
de
normas,
compreende-‐se
que
a
violação
das
normas
que
tutelam
interesses
fundamentais
da
comunidade
internacional
origine
um
novo
regime
de
responsabilidade
internacional,
com
as
seguintes
características:
• Assunto
público
–
a
violação
de
uma
norma
superiormente
hierárquica
diz
respeito
a
toda
a
comunidade.
• Individual
–
os
indivíduos,
ao
passarem
a
constar
na
categoria
de
sujeitos
de
DI,
podem
ser
igualmente
responsabilizados
internacionalmente
pela
prática
de
actos
ilícitos.
• Sancionatório
–
os
Estados
são
sujeitos
à
imposição
de
sanções
pela
prática
de
actos
ilícitos.
Contudo,
este
regime
vigora
paralelamente
ao
regime
de
responsabilidade
internacional
de
assunto
privado,
dependendo
ao
grau
de
ilicitude
da
infracção
cometida.
7.
Características
gerais
O
DI
contemporâneo
é,
pois,
um
direito
axiologicamente
fundado
e
materialmente
interessado,
visando
moldar
ou
conformar
a
realidade
a
que
se
dirigem.
Paralelamente
verifica-‐se
um
reforço
do
grau
de
integração
e
de
institucionalização
da
sociedade,
aproximando-‐a
do
modelo
de
comunidade.
Todavia,
certos
autores
consideram
uma
distinção
diferente
dos
períodos
de
DI
(Jorge
Miranda,
Direito
Internacional
Público
I).
Assim,
o
período
do
modelo
de
DI
clássico
compreenderia
o
período
mediado
entre
as
origens
do
DI
moderno,
nos
séculos
XV,
XVI
e
XVII
e
o
final
da
Primeira
Guerra
Mundial;
e
o
modelo
de
DI
moderno,
o
período
desde
1919
até
à
actualidade.
Modelo
clássico:
Podemos
distinguir
três
subperíodos:
• Tempos
anteriores
à
paz
de
Westefália
–
sucederam-‐se
grandes
eventos
históricos,
como
a
quebra
do
poder
do
Imperador
do
Sacro-‐Império
e
do
Papa,
os
Descobrimentos,
o
Renascimento,
a
Reforma
e
a
Contra-‐Reforma.
• Até
à
Revolução
Francesa
e
finais
do
século
XVIII
–
os
Tratados
de
Wstefália
vêm
reconhecer
o
princípio
da
soberania
como
o
princípio
da
independência
dos
Estados
europeu
entre
si
e
da
exclusão
de
qualquer
poder
que
lhes
seja
superior.
Há
um
equilíbrio
de
facto
baseado
na
força
militar,
que
é,
contudo,
vinculado;
e
multiplicam-‐se
relações
políticas
comerciais,
quase
sempre
bilaterais.
O
DI
vai-‐se
projectando,
gradualmente,
na
vida
dos
Estados.
• Até
ao
final
da
1ª
Guerra
Mundial
–
as
grandes
revoluções
do
século
XVII,
a
americana
e
a
francesa,
determinam
sensíveis
alterações.
A
Revolução
Francesa
introduz
o
princípio
da
soberania
popular
e,
assim,
o
DI
já
não
é
o
direito
das
relações
entre
os
soberanos,
mas
sim
o
direito
das
relações
entre
os
povos,
ao
proclamar
que
todos
os
povos
têm
direito
à
autodeterminação.
Modelo
moderno:
O
DI
evolui
a
seguir
à
1ª
Guerra
Mundial
em
duas
fases:
• Até
à
2ª
Guerra
Mundial
–
a
derrota
e
o
desmembramento
dos
Impérios
Centrais
levam
à
reafirmação
dos
princípios
da
autodeterminação
dos
povos
e
das
nacionalidades,
multiplicando-‐se
os
movimentos
anticolonialistas.
Em
anexo
ao
Tratado
de
Versalhes
(1919)
é
criada
a
Sociedade
das
Nações,
a
primeira
organização
internacional
de
carácter
político
e
que,
na
prática,
funcionava
como
uma
espécie
de
conferência
diplomática
destinada
a
prevenir
e
remediar
conflitos.
A
realidade
dos
anos
20
e
30
conduziria
à
falência
da
Sociedade
das
Nações.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Desde
1945
até
aos
dias
de
hoje
–
as
grandes
potências
vencedoras
de
1945
quiseram
implantar
um
novo
sistema
mundial,
e
é
criada
a
Organização
das
Nações
Unidas.
São
também
criadas
outras
organizações
a
ela
vinculadas.
Sob
o
impulso
das
Nações
Unidas
e
de
movimentos
locais,
acedem
à
independência
política
praticamente
todas
as
colónias.
Mais
tarde
(entre
1945
e
1989),
a
queda
do
muro
de
Berlim,
o
desabar
do
comunismo
na
Europa
e
a
desagregação
da
União
Soviética
vêm
alterar
o
estado
de
coisas,
e
surgem
cerca
de
duas
centenas
de
Estados.
Assiste-‐se
a
uma
institucionalização
da
comunidade
internacional,
ou
seja,
a
uma
progressiva
afirmação
da
existência
de
entidades
superiores
aos
Estados,
ou,
por
outras
palavras,
as
relações
internacionais
tornam-‐se
inconfundíveis
com
as
relações
entre
Estados.
Podem
resumir-‐se
as
suas
manifestações:
• Criação
de
organizações
com
vontade
própria;
• Importância
crescente
do
papel
das
Nações
Unidas;
• Codificação
das
normas
preexistentes
de
origem
consuetudinária,
por
parte
das
Nações
Unidas;
• Reconhecimento,
na
Convenção
de
Viena
sobre
Direitos
dos
Tratados,
de
normas
imperativas
de
DI
que
prevalecem
sobre
os
tratados
(arts.
53º
e
64º);
• Personalidade
internacional
do
indivíduo
e
protecção
internacional
dos
direitos
humanos;
• Predisposição
de
espaços
geográficos
à
margem
dos
Estados.
Direito
Internacional
e
Direito
Interno
Uma
das
transformações
a
que
se
assiste
no
DI
moderno
tem
como
consequência
o
esbatimento
significativo
da
distinção
entre
direito
público
e
direito
privado,
podendo
mesmo
falar-‐se
numa
verdadeira
mudança
de
paradigma
do
DI.
Certos
autores,
como
Hobbes,
puseram
mesmo
em
causa
a
existência
de
um
verdadeiro
direito
internacional
em
virtude
desta
transformação.
Principais
características
do
direito
interno:
• Existência
de
instituições
com
competência
legislativa;
• Determinação
constitucional
e
legal
dos
principais
procedimentos
normativos;
• Clarificação
das
regras
de
competência
e
hierarquia
das
diferentes
fontes
de
direito;
• Criação
e
organização
dos
tribunais.
Apesar
de
a
realidade
do
DI
ser
substancialmente
diferente,
este
tende
a
assumir
um
número
crescente
de
características
análogas.
Assim,
podemos
afirmar
que
o
DI,
embora
tendencialmente
fragmentário,
inconsistente
e
ambíguo,
não
é
inoperante
e
tem,
apesar
de
tudo,
logrado
desenvolvimentos
muitos
significativos
ao
longo
dos
últimos
anos.
Características
que
distinguem
o
DI
do
direito
interno:
(Prof.
Dr.
Jónatas
Machado)
• Inexistência
de
órgãos
executivos,
legislativos
e
judiciais
centralizados;
• Inexistência
de
procedimentos
normativos
claramente
definidos;
• Inexistência
de
um
sistema
de
tribunais
dotados
de
jurisdição
compulsória
–
apesar
de,
nas
últimas
décadas,
terem
sido
criadas
várias
instâncias
jurisdicionais
internacionais.
• Inexistência
de
uma
administração
de
polícia
para
prevenir
e
reprimir
violações
do
DI
–
todavia,
assiste-‐se
a
uma
tendência
de
cooperação
internacional
das
políticas
nacionais.
Características
que
distinguem
o
DI
do
direito
interno:
(Prof.
Dr.
Jorge
Miranda)
• Sistema
complexo
e
diferenciado
de
fontes,
com
realce
especial
do
costume
e
do
tratado;
• Diversificação
do
âmbito
das
normas;
• Sistema
complexo
e
diferenciado
de
sujeitos;
• Predomínio,
nos
actos
jurídico-‐internacionais,
da
vontade
funcional
e
normativa,
em
detrimento
das
manifestações
de
vontade
psicológica;
• Prevalência
ainda
das
formas
de
responsabilidade
colectiva
sobre
as
formas
de
responsabilidade
formal;
• Precariedade
dos
meios
jurisdicionais
de
solução
de
conflitos;
• Reduzido
significado
das
sanções.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
II
–
AS
RELAÇÕES
ENTRE
O
DIREITO
INTERNACIONAL
E
O
DIREITO
INTERNO
I.
Soluções
teóricas
No
que
toca
ao
relacionamento
entre
os
dois
ordenamentos
jurídicos
–
DI
e
o
direito
interno
–
podemos
encontrar
duas
soluções
teóricas,
as
teses
dualistas
e
as
teses
monistas.
1.
Teses
dualistas
A
teoria
dualista
tem
as
suas
raízes
na
doutrina
voluntarista
da
vereinbarung
ou
vontade
colectiva,
que
ficou
inicialmente
a
dever-‐se
a
Triepel.
Para
os
defensores
das
teses
dualistas,
existiria
uma
separação
radical
entre
o
ordenamento
jurídico
internacional
e
o
interno,
não
existindo
por
isso
conflitos
entre
eles.
Assim,
para
as
normas
internacionais
se
tornarem
válidas
na
esfera
interna,
teriam
de
ser
transformadas
em
direito
interno.
Esta
separação
entre
o
Di
e
o
direito
interno
é
fundada
numa
tríplice
diferença
entre
eles:
• Origem
do
direito
positivo
–
no
direito
interno,
essa
origem
encontrar-‐se-‐ia
na
vontade
singular
do
Estado,
enquanto
no
DI
proviria
da
vontade
colectiva
de
vários
Estados.
• Sujeitos
das
relações
jurídicas
–
no
direito
interno,
os
sujeitos
seriam
os
indivíduos
e
as
pessoas
morais,
enquanto
que
no
DI
seriam
os
Estados.
• Natureza
jurídica
–
o
direito
interno
apresentaria
uma
estrutura
de
subordinação,
enquanto
que
o
DI
seria
essencialmente
coordenador.
Críticas
às
teses
dualistas:
• A
doutrina
voluntarista
que
explica
a
origem
do
DI
assenta
na
vontade
colectiva
dos
Estados,
inspirada
numa
ideia
de
soberania
absoluta
que
hoje
é
refutada.
Esta
doutrina
falha
também
em
explicar
o
fundamento
do
costume
internacional.
• Verifica-‐se
uma
coexistência
de
normas
com
diferentes
destinatários
em
ambos
os
ordenamentos.
Assim,
há
um
conjunto
de
normas
de
DI
que
se
dirigem
directamente
aos
indivíduos,
como
é
exemplo
o
Direito
Comunitário,
assim
como
abundam
as
normas
de
direito
interno
cujos
destinatários
são
os
próprios
Estados,
como
a
maior
parte
das
normas
que
integram
o
direito
público.
• Hoje,
mais
que
nunca,
cai
por
terra
o
argumento
que
inexistem
conflitos
entre
os
dois
sistemas
por
estes
regularem
relações
distintas.
De
facto,
encontramos
actualmente
relações
de
coordenação
e
coordenação
em
ambos
os
ordenamentos
jurídicos.
• As
normas
internacionais
não
necessitam
sempre
de
um
acto
de
recepção
ou
de
transformação,
como
são
exemplos
a
aplicação
do
DI
geral
ou
comum
pelos
tribunais
internos
e
normas
internacionais
de
aplicabilidade
directa
na
esfera
interna.
2.
Teses
monistas
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
As
teorias
monistas
repousam
na
premissa
de
que
o
DI
e
o
direito
interno
constituem
uma
unidade,
um
sistema
contínuo.
Contudo,
não
há
uma
unidade
de
vistas
entre
os
partidários
das
correntes
monistas.
Podemos
dividi-‐los
em
dois
grupos
–
monismo
com
primado
do
DI
ou
monismo
de
DI,
ou
monismo
com
primado
do
direito
interno,
ou
monismo
de
direito
interno.
2.1.
Monismo
de
direito
interno
Esta
tese
assente
num
voluntarismo
extremo,
sustentando
a
existência
de
apenas
uma
ordem
jurídica,
apresentando
o
DI
como
um
mero
produto
da
autolimitação
ou
autovinculação
dos
Estados,
ou
seja,
como
uma
espécie
de
direito
estadual
externo.
A
doutrina
monista
de
direito
interno
acaba,
por
isso,
por
negar
a
existência
do
DI
enquanto
disciplina
autónoma
da
ciência
jurídica.
Críticas:
• Existem
normas
internacionais
cuja
vigência
e
aplicação
no
plano
interno
não
dependem
da
vontade
do
Estado
(como
é
exemplo
o
DI
geral).
• Os
Estados
não
podem
invocar
as
disposições
do
seu
direito
interno
com
o
intuito
de
se
furtarem
ao
cumprimento
dos
seus
compromissos
internacionais
(art.
27º
da
Convenção
de
Viena
sobre
o
Direito
dos
Tratados,
de
1969).
2.2.
Monismo
de
Direito
Internacional
Por
oposição
ao
monismo
de
direito
interno,
surge
a
concepção
antivoluntarista
do
monismo
com
primado
do
DI.
Podemos
encontrar
duas
versões:
• Versão
radical
–
defende-‐se
a
homogeneidade
da
ordem
jurídica,
que
assenta
no
suposto
de
que
as
normas
internacionais
se
situam
num
plano
superior
às
internas,
resultando
qualquer
contradição
normativa
na
nulidade
das
últimas.
Esta
versão
só
seria
aceitável
caso
a
comunidade
internacional
se
apresentasse
estruturalmente
como
uma
espécie
de
Estado
federal.
• Versão
moderada
–
a
ordem
internacional
delimita
o
campo
de
actuação
da
ordem
jurídica
interna,
ou
seja,
do
legislador
interno,
que
não
fica,
todavia,
sujeito
a
uma
constrição
total
da
sua
liberdade.
2.3.
Posição
adoptada
Nos
últimos
tempos,
tem-‐se
assistido
a
um
esbatimento
da
querela
doutrinal
entre
as
teses
monistas
e
dualistas,
através
do
aparecimento
de
formas
moderadas
com
propósitos
conciliatórios.
Os
mais
moderados
defendem
que
a
opção
pelo
dualismo
ou
pelo
monismo
não
contende
com
os
resultados
práticos
da
vigência
das
normas
internacionais
no
plano
interno.
Assim,
todos
os
Estados
deverão
adequar
o
seu
ordenamento
interno
às
obrigações
internacionais
e,
no
caso
de
incumprimento
desse
dever,
só
excepcionalmente
é
que
a
contradição
entre
uma
norma
internacional
e
uma
norma
interna
resultará
na
invalidade
ou
ineficácia
desta
última.
Contudo,
apesar
disto,
a
posição
adoptada
é
a
de
monismo
com
primado
de
DI,
na
sua
versão
moderada.
Em
primeiro
lugar,
porque
um
número
cada
vez
maior
de
normas
de
DI
são
válidas
no
plano
interno
independentemente
da
vontade
dos
Estados.
Enquadra-‐se
nesta
categoria
as
normas
de
DI
geral
ou
comum,
principalmente
aquelas
que
visam
tutelar
os
dois
valores
fundamentais
da
comunidade
internacional:
o
valor
da
protecção
da
dignidade
da
pessoa
humana
e
o
valor
da
paz.
Existem
também
normas
emanadas
de
organizações
internacionais
dotadas
de
aplicabilidade
directa.
Em
segundo
lugar,
e
devido
ao
fenómeno
da
globalização,
assistimos
a
uma
redução
no
leque
das
matérias
de
domínio
reservado
do
Estado.
II.
Soluções
positivas
1.
Técnicas
de
incorporação
• Recepção
automática
• Transformação
• Recepção
semi-‐plena
1.1.
Recepção
automática
Estamos
perante
uma
cláusula
de
recepção
automática
quando
o
Estado
aceita,
sem
restrições,
a
vigência
do
DI
na
ordem
interna.
As
normas
internacionais
vigoram
internamente
na
qualidade
de
normas
de
DI,
e
não
enquanto
normas
internas.
Contudo,
neste
sistema,
a
Constituição
pode
impor
uma
restrição
ou
condição
–
a
conditio
iuris
da
publicação
no
jornal
oficial
do
Estado.
Apesar
de
alguns
autores
autonomizarem
a
recepção
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
automática
condicionada,
enquanto
recepção
plena,
tal
classificação
não
se
justifica.
Esta
técnica
é
tributária
de
uma
concepção
monista
(com
primado
de
DI).
1.2.
Transformação
Na
transformação,
o
Estado
opõe-‐se
à
vigência
do
DI
na
ordem
jurídica
interna,
e
assim
a
Constituição
exige
que
o
legislador
ordinário
reproduza
a
norma
internacional
através
de
um
acto
normativo
da
sua
competência.
É,
pois,
necessário
converter
as
normas
internacionais
em
normas
internas.
Neste
sistema,
são
visíveis
as
influências
das
soluções
dualistas.
1.3.
Recepção
semi-‐plena
Este
sistema
é
um
sistema
misto.
O
legislador
constituinte
distingue
as
normas
jurídicas
internacionais,
aplicando
a
umas
a
recepção
automática
e
a
outras
a
transformação.
Conjuga
os
pressupostos
monistas
e
dualistas.
III.
Hierarquia
do
direito
internacional
na
ordem
jurídica
portuguesa
1.
Análise
do
art.
8º
da
Constituição
da
República
Portuguesa
“
1
–
As
normas
e
os
princípios
de
direito
internacional
geral
ou
comum
fazem
parte
integrante
do
direito
português.
2
–
As
normas
constantes
de
convenções
internacionais
regularmente
ratificadas
ou
aprovadas
vigoram
na
ordem
interna
após
a
sua
publicação
oficial
e
enquanto
vincularem
internacionalmente
o
Estado
português.
3
–
As
normas
emanadas
dos
órgãos
competentes
das
organizações
internacionais
de
que
Portugal
seja
parte
vigoram
directamente
na
ordem
interna,
desde
que
tal
se
encontre
estabelecido
nos
respectivos
tratados
constitutivos.”
Art.
8.º,
n.º
1
–
DI
geral
ou
comum
• Diz
respeito
ao
direito
internacional
geral,
compreendido
pelas
normas
de
costume
geral,
pelos
tratados
universais
e
pelos
próprios
princípios
gerais
de
direito
reconhecidos
pelas
nações
civilizadas.
O
legislador
constituinte
consagra
uma
cláusula
de
recepção
automática,
pois
o
DI
faz
“parte
integrante”
do
direito
português.
Art.
8.º,
n.º
2
–
DI
particular
• Para
as
normas
de
DI
particular,
a
Constituição
consagra
um
sistema
de
recepção
automática,
ainda
que
condicionada.
A
CRP
exige
que
as
convenções
tenham
sido
regularmente
ratificadas
ou
aprovadas,
assim
como
publicadas
oficialmente
no
Diário
da
República.
No
entanto,
estas
condições
são
condições
de
eficácia,
não
de
validade.
• Por
outro
lado,
as
convenções
internacionais
só
vigoram
na
ordem
interna
“enquanto
vincularem
internacionalmente
o
Estado
português”.
Assim,
o
simples
facto
de
um
tratado
haver
sido
aprovado,
ratificado
e
publicado,
não
constitui
garantia
da
sua
vigência
interna
–
pode
suceder,
por
exemplo,
que
ainda
não
tenha
sido
atingido
o
número
suficiente
de
ratificações.
A
aprovação,
ratificação
e
publicação
são
condições
necessárias
mas
não
suficientes.
• Contudo,
este
artigo
não
menciona
o
costume
regional
e
bilateral.
Por
via
da
interpretação
extensiva,
entende-‐se
que
se
deveria
ter
feito
referência
a
esta
costume
no
n.º
2,
visto
que
este
contempla
o
DI
particular.
Art.
8.º,
n.º
3
–
Direito
das
organizações
internacionais
• Mais
uma
vez,
estamos
em
presença
de
um
regime
de
incorporação
automática,
com
aplicabilidade
directa.
• Este
número
refere-‐se
ao
DI
particular
com
características
especiais
–
o
DI
comunitário,
e
foi
acrescentado
com
a
revisão
constitucional
de
1992.
• O
legislador
constituinte
impôs
duas
condições
para
que
o
direito
das
organizações
internacionais
possa
ter
eficácia
no
plano
interno:
que
as
normas
emanem
dos
órgãos
competentes
e
que
se
encontre
estabelecido
nos
respectivos
tratados
constitutivos
o
regime
da
aplicabilidade
directa.
• O
legislador
constituinte
foi
impreciso
–
nem
todos
os
actos
da
União
Europeia
são
“normas”,
como
as
decisões
e
as
directivas.
Devemos,
pois,
fazer
uma
interpretação
extensiva
e
englobar
também
os
actos
da
União
Europeia,
visto
que
a
jurisprudência
comunitária
se
tem
manifestado
no
sentido
da
admissibilidade
do
efeito
directo
de
certas
decisões.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Conclusões:
• No
ordenamento
jurídico
português,
vigora
sempre
o
regime
de
recepção
automática.
• A
elaboração
desta
lei
constitucional
revela
falta
de
rigor,
visto
misturar
dois
critérios:
o
critério
da
eficácia
geral/particular
e
o
critério
das
fontes
de
direito.
Contudo,
podemos
concluir
que
o
n.º
1
se
refere
ao
DI
geral,
o
n.º
2
ao
DI
particular
e
o
n.º
3
ao
direito
comunitário.
2.
Hierarquia
entre
as
normas
internacionais
e
internas
2.1.
DI
geral
ou
comum
O
DI
geral
ou
comum
tem
um
valor
supralegal
e
supraconstitucional,
prevalecendo
quer
sobre
a
legislação
ordinária,
quer
sobre
a
Constituição.
Razões
para
a
supralegalidade:
• O
DI
geral
ou
comum
é
“parte
integrante
do
direito
português”
(art.
8.º,
n.º1).
Ora,
se
uma
lei
ordinária
pudesse
contrariar
um
princípio
de
DI
geral
ou
comum,
este
artigo
–
e
a
própria
noção
de
DI
geral
–
não
faria
sentido.
Razões
para
a
supraconstitucionalidade:
• As
razões
acima
apontadas
servem
também
para
a
superioridade
sobre
a
lei
constitucional.
O
DI
geral
prescreve
regras
básicas
de
convivência
interestadual,
e,
como
tal,
não
é
possível
permitir
que
um
Estado
possa
derrogar
este
direito,
comum
a
todos
os
Estados.
• Também
se
pode
invocar
o
art.
16.º,
n.º
2
da
CRP,
que
afirma
que
os
preceitos
constitucionais
e
legais
devem
estar
em
harmonia
com
a
Declaração
Universal
dos
Direitos
do
Homem.
Contudo,
este
problema
é
meramente
teórico,
pois
um
Estado
não
promulga
leis
ou
consagra
normas
constitucionais
que
contrariem
os
princípios
de
DI.
2.2.
DI
convencional
(particular)
As
convenções
internacionais
têm
uma
valor
infraconstitucional
e
supralegal.
Razões
para
a
supralegalidade:
• As
convenções
vigoram
no
direito
interno
enquanto
“vincularem
internacionalmente
o
Estado
português”.
Se
as
convenções
tivessem
um
valor
paritário
em
relação
às
leis
ordinárias,
e
segundo
o
princípio
da
lex
posterior
priori
derrogat,
uma
lei
ordinária
posterior
poderia
derrogar
as
convenções.
Assim,
só
através
da
supremacia
do
DI
convencional
é
que
se
garante
a
sua
vigência
interna
enquanto
no
plano
internacional.
• A
atitude
do
Estado
português
em
relação
ao
DI
é
de
grande
abertura,
perceptível
nos
arts.
7.º
e
8.º
da
CRP.
• O
art.
119.º
da
CRP
estabelece
um
critério
de
ordenação
dos
diversos
instrumentos
normativos,
e
as
convenções
internacionais
precedem
a
legislação
ordinária.
• Uma
norma
interna
que
contrarie
uma
convenção
internacional
está
sujeita
a
uma
sanção
de
ineficácia
ou
inaplicabilidade,
ou
seja,
os
Tribunais
não
a
deverão
aplicar.
Razões
para
a
infraconstitucionalidade:
• A
CRP
prevê
a
sujeição
dos
tratados
à
fiscalização
da
constitucionalidade
(arts.
278.º
e
ss.),
pelo
que
é
claro
o
carácter
infraconstitucional
das
convenções
internacionais.
2.3.
Direito
comunitário
(derivado)
O
direito
comunitário
classifica-‐se
em:
• Originário
–
constituído
pelos
tratados
que
instituíram
as
comunidades
europeias,
bem
como
aqueles
que
subsequentemente
as
modificaram.
• Derivado
–
direito
emanado
pelos
órgãos
da
União
Europeia.
O
direito
comunitário
derivado
tem
um
valor
supralegal
e
supraconstitucional.
Razões
para
a
supralegalidade:
• Quando
um
Estado
adere
a
uma
organização
internacional
supranacional,
este
delega
poderes
soberanos
em
favor
da
instituição,
nomeadamente
poderes
normativos
(art.
8.º,
n.º
3
e
art.
7.º,
n.º
6).
Assim,
conclui-‐se
que
o
direito
comunitário
tem
um
valor
supralegal,
sendo
que
uma
norma
legal
que
contrarie
uma
norma
comunitária
fica
sujeita
à
ineficácia
à
inaplicabilidade.
Razões
para
a
supraconstitucionalidade:
• O
princípio
do
primado
do
direito
comunitário
(art.
8.º,
n.º
4)
–
a
União
Europeia
constitui
um
espaço
de
integração,
e
não
de
mera
coordenação,
sendo
uma
condição
da
própria
existência
do
direito
comunitário
a
sua
uniformidade
de
interpretação
e
aplicação,
logo
a
sua
superioridade
sobre
todo
o
direito
interno.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Existem,
contudo,
autores
que
discordam
com
o
princípio
do
primado
do
direito
comunitário,
afirmando
que
a
assunção
deste
princípio
implicaria
uma
alteração
na
compreensão
do
sistema
português
de
controlo
da
constitucionalidade,
em
termos
de
ficaram
excepcionadas
desse
controlo
as
normas
de
direito
comunitário.
• O
Dr.
Cardoso
da
Costa
formulou
uma
posição
conciliatória
–
os
Tribunais
Constitucionais
não
têm
os
mesmos
poderes
de
fiscalização
da
constitucionalidade
de
outrora,
ou
seja,
devem
aceitar
a
superioridade
do
direito
comunitário.
A
sua
tarefa
deve
ser
a
de
somente
averiguar
a
compatibilidade
das
disposições
deste
direito
com
a
Constituição.
Esta
posição
é
consagrada
no
art.
8.º,
n.º
4
da
CRP,
que
admite
o
princípio
do
primado
do
direito
comunitário,
desde
que
respeite
os
princípios
estruturantes
do
Estado.
Esta
questão
tem,
conquanto,
pouca
relevância
prática.
HIERARQUIA
ENTRE
AS
NORMAS
INTERNACIONAIS
E
AS
NORMAS
INTERNAS
1.
Direito
Internacional
geral
2.
Direito
Internacional
comunitário
3.
Constituição
4.
Direito
Internacional
particular
convencional
5.
Legislação
ordinária
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
III
–
AS
FONTES
DE
DIREITO
INTERNACIONAL
I.
Introdução
Fontes
de
DI:
• Materiais
–
base
política,
moral
ou
económica
das
normas
internacionais.
• Formais
–
procedimentos
ou
técnicas
de
criação,
modificação
ou
extinção
das
normas
jurídico-‐
internacionais.
Fontes
formais
de
DI:
No
art.
38.º
do
ETIJ
estão
discriminadas
as
várias
fontes
formais
de
DI:
1.
a. Convenções
internacionais,
gerais
ou
especiais;
b. Costume
internacional;
c. Princípios
gerais
de
direito
reconhecidos
pelas
nações
civilizadas;
d. Decisões
judiciais
e
ensinamentos
dos
mais
altamente
qualificados
publicistas
das
várias
nações.
2.
Faculdade
do
Tribunal
decidir
ex
aequo
et
bono.
Assim,
serão
três
as
fontes
formais
enunciadas
no
artigo,
as
convenções
internacionais,
o
costume
e
os
princípios
gerais
de
direito.
A
alínea
d)
faz
referência
a
dois
modos
auxiliares
de
determinação
das
normas
jurídicas,
a
jurisprudência
e
a
doutrina.
Finalmente
o
parágrafo
segundo
alude
à
possibilidade
de
o
TIJ
decidir
de
acordo
com
critérios
de
equidade.
Conclusões
da
análise
do
art.
38.º:
1. A
lista
de
fontes
formais
não
é
exaustiva,
visto
que
há
outros
procedimentos
igualmente
idóneos
à
criação
de
normas
internacionais
–
como
as
resoluções
das
organizações
internacionais
e
os
actos
jurídicos
unilaterais
dos
Estados
(visto
que
o
ETIJ
foi
elaborado
anteriormente
ao
aparecimento
destas
fontes).
2. Não
há
relações
de
hierarquia
entre
as
fontes
enunciadas.
Contudo,
a
ordem
consagrada
não
foi
aleatória,
devendo
constituir
uma
ordem
sucessiva
de
tomada
em
consideração.
3. Nenhuma
definição
foi
dada
das
fontes,
o
que
resulta
do
facto
de
esta
norma
ser
de
validade
geral,
revelada
consuetudinariamente.
Assim,
o
Tribunal
mais
não
fez
do
que,
sob
a
forma
escrita,
dar
expressão
a
uma
norma
consuetudinária
pré-‐existente.
II.
As
convenções
internacionais
1.
Noção
As
convenções
internacionais
são
acordos
de
vontade
entre
dois
ou
mais
sujeitos
de
DI,
que
se
destinam
a
criar
obrigações
jurídicas
para
as
partes
e
são
regulados
pelo
DI
e
pelo
direito
interno.
São
constituídas
pelos
seguintes
elementos:
1. Acordo
de
vontades
a. Tratados-‐lei
–
quando
os
interesses
que
as
partes
visam
prosseguir
são
idênticos.
b. Tratados-‐contrato
–
quando
os
interesses
são
antagónicos.
2. Dois
ou
mais
sujeitos
de
DI
–
os
sujeitos
de
DI
com
capacidade
de
realizar
convenções
são
os
Estados
e
as
OI.
3. Criação
de
uma
obrigação
jurídica
–
as
convenções
destinam-‐se
a
vincular
juridicamente
as
partes.
4. Regulada
pelo
DI
e
pelo
direito
interno
–
as
convenções
são
reguladas
concorrentemente
pelo
direito
interno
e
pelo
DI.
2.
Classificações
das
convenções
internacionais
2.1.
Classificações
formais
–
atendem
a
determinadas
variáveis
extrínsecas
às
convenções.
1. Critério
da
qualidade
das
partes
a. Celebradas
entre
Estados
b. Celebradas
entre
Estados
e
OI
c. Celebradas
entre
OI
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
i.
Violação
manifesta
–
uma
violação
é
manifesta
se
as
outras
partes
se
aperceberam,
ou
deveriam
ter
apercebido,
dela.
ii. Violação
de
uma
norma
interna
de
importância
fundamental
–
como
estamos
a
lidar
com
normas
constitucionais,
será
difícil
determinar
quais
as
normas
de
importância
fundamental.
Assim,
considera-‐se
que
o
segundo
e
o
terceiro
exemplo
não
cumprem
este
requisito,
devido
à
escassa
gravidade
dos
vícios
em
causa,
enquanto
que
o
primeiro
e
o
quarto
já
permitem
invocar
a
irregularidade
formal
do
consentimento.
c. Consequências
jurídicas
no
plano
interno
–
art.
277.º/2
CRP.
3.5.
Entrada
em
vigor
(art.
24.º
e
25.º
CV)
• Um
tratado
entrará
em
vigor,
ou
seja,
passará
a
fazer
parte
do
direito
positivo,
ou
segundo
o
estipulado
e
na
data
fixada
pelas
suas
disposições,
ou
em
conformidade
com
as
modalidades
acordadas.
• Na
falta
de
disposições
ou
acordo,
o
tratado
em
vigor
logo
que
todos
os
Estados
que
hajam
participado
na
negociação,
manifestem
seu
consentimento
à
vinculação.
• A
aplicação
do
tratado
a
título
provisório
será
possível
em
virtude
de
disposições
dele
constantes
ou
em
resultado
de
um
acordo
prévio
entre
Estados.
• Um
tratado
multilateral,
salvo
disposição
em
contrário,
não
deixará
de
vigorar
pela
mera
circunstância
de
o
número
de
partes
se
tornar
inferior
ao
número
necessário
para
a
sua
entrada
em
vigor.
3.6.
Registo
e
publicação
• No
art.
18.º
do
Pacto
de
constituição
da
Sociedade
das
Nações
estava
consagrada
a
obrigatoriedade
de
todos
os
tratados
serem
registados
e
publicados
pelo
Secretariado
da
organização.
• Por
via
costumeira,
os
Estados
começaram
a
fazer
letra
morta
desta
disposição,
admitindo
a
entrada
em
vigor
e
a
força
obrigatória
de
tratados
não
registados,
sendo
que
a
única
sanção
seria
a
impossibilidade
de
os
invocar
junto
dos
órgãos
da
Sociedade
das
Nações.
• A
Carta
das
Nações
Unidas
e
a
Convenção
de
Viena
vieram
codificar
este
costume,
dispondo
que
um
tratado
que
não
seja
registado
junto
do
secretariado
será
plenamente
válido,
contudo
não
poderá
ser
invocado
perante
os
órgãos
daquela
organização.
4.
Participação
nas
convenções
internacionais
A
tendência
actual
é
a
de
facilitar
a
participação
dos
Estados
nos
tratados
multilaterais,
quase
lhes
sendo
reconhecido
um
“direito
ao
tratado”.
Contudo,
tal
não
é
possível
nos
tratados
fechados,
concluídos
por
um
escasso
número
de
partes,
mas
sim
nos
tratados
abertos,
que
permitem
a
um
Estado
não
contraente
tornar-‐se
parte
deles
através
de
um
simples
acto
unilateral.
Desta
categoria
fazem
parte
os
tratados
multilaterais
gerais.
4.1.
Mecanismos
tendentes
a
facilitar
a
participação
dos
Estados
nos
tratados
1. Assinatura
deferida
–
possibilidade
de
um
Estado,
contraente
ou
não,
diferir
a
sua
assinatura
para
um
momento
subsequente
à
adopção
do
texto,
durante
um
prazo
estabelecido
na
própria
convenção
ou
até
sem
qualquer
limite
de
tempo,
tendo
ou
não
participado
na
fase
da
negociação.
2. Adesão
(art.
15.º
CV)
–
possibilidade
de
um
Estado
aderir
a
um
tratado
depois
de
este
já
se
encontrar
em
vigor.
3. Reservas
a. Definição
–
uma
reserva
é
uma
declaração
unilateral
feita
por
um
Estado
através
do
qual
visa
excluir
ou
modificar
o
efeito
jurídico
de
certas
disposições
(art.
2.º/1/d)
CV.)
b. Num
tempo
não
muito
distante,
apenas
se
permitia
a
um
Estado
formular
reservas
a
um
tratado,
caso
elas
fossem
aceites,
expressa
ou
tacitamente,
por
todos
os
outros
Estados.
Esta
solução
equivalia
a
conferir
a
cada
Estado
parte
um
direito
de
veto.
Contudo,
posteriormente,
convencionou-‐se
que
a
objecção
de
uma,
ou
umas,
das
partes
não
obstaria
a
que
o
tratado
entrasse
em
vigor.
Funciona,
neste
domínio,
um
princípio
fundamental
de
liberdade,
ou
seja,
os
Estados
são
livres
de
permitir,
impedir
ou
limitar
a
formulação
de
reservas
(art.
19,
al.
a)
e
b)
CV).
c. Restrições
à
liberdade
de
formular
reservas
(art.
20.º):
i. Em
caso
se
silêncio
do
tratado,
uma
reserva
será
permitida,
contanto
que
não
seja
incompatível
com
o
objecto
e
o
fim
do
tratado.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
ii. Nos
tratados
multilaterais
restritos,
vale
a
regra
da
unanimidade,
ou
seja,
a
reserva
tem
de
ser
aceite
por
todas
as
partes.
Nos
tratados
constitutivos
das
organizações
internacionais,
será
necessário
a
aceitação
dos
órgãos
competentes
dessas
organizações.
iii. Não
se
aceitam
reservas
em
tratados
bilaterais,
pela
natureza
das
coisas.
iv. Por
incompatibilidade
lógica,
também
não
se
aceitam
reservas
em
disposições
que
codifiquem
uma
norma
costumeira
de
alcance
geral.
d. Efeitos
jurídicos:
i. Através
da
formulação
de
uma
reserva,
modificam-‐se
tão-‐somente
relações
entre
o
Estado
que
dela
se
socorreu
e
aquele
que
a
tenha
aceitado,
permanecendo
inalteradas
as
relações
entre
as
outras
partes.
ii. Nas
reservas
de
modificação,
as
consequências
jurídicas
diferem
consoante
essa
reserva
tenha
sido
aceite
ou
não.
iii. Nas
reservas
de
exclusão,
a
aceitação
e
a
objecção
produzem
a
mesma
consequência,
ou
seja,
a
não
aplicação
da
cláusula.
5.
A
eficácia
das
convenções
em
relação
a
terceiros
5.1.
O
princípio
da
relatividade
dos
efeitos
dos
tratados
• Art.
34.º
da
CV
–
“um
tratado
não
cria
nem
obrigações
nem
direitos
para
um
terceiro
Estado
sem
o
consentimento
deste”.
Esta
norma
veio
codificar
um
costume
já
existente
e
traduz
o
princípio
da
relatividade,
ou
da
eficácia
relativa,
dos
efeitos
dos
tratados.
• Contudo,
existem
situações
em
que
os
tratados
também
se
aplicam
a
terceiros
sem
o
seu
consentimento.
5.2.
A
aplicação
das
convenções
a
Estados
terceiros
com
o
seu
consentimento
1. Acordo
colateral
–
art.
35.º
CV,
mecanismo
de
criação
de
uma
obrigação
para
um
terceiro,
se
este
a
aceitar
expressamente.
2. Estipulação
em
favor
de
outrem
–
art.
36.º
e
37.º
CV,
mecanismo
de
criação
de
um
direito
para
um
terceiro,
que
pode
ser
expresso
ou
presumido.
Se
este
direito
tiver
sido
criado,
não
pode
ser
revogado
ou
modificado
pelas
partes.
3. Cláusula
da
nação
mais
favorecida
–
expediente
técnico
destinado
à
criação
de
direitos
em
benefício
de
terceiros.
Traduz-‐se
na
inserção
de
uma
cláusula,
nos
termos
da
qual,
se
um
dos
Estados
parte
vier
a
celebrar
um
acordo
com
um
terceiro,
versando
a
mesma
matéria
e
com
disposições
mais
vantajosas,
essas
disposições
aplicar-‐se-‐ão
no
tratado
original.
5.3.
Aplicação
das
convenções
a
Estados
terceiros
sem
o
seu
consentimento
1. Extensão
a
terceiros
por
via
costumeira
(art.
38.º)
–
uma
regra
contida
numa
convenção
pode
converter-‐se
em
norma
costumeira
e,
em
resultado,
tornar-‐se
obrigatória
para
Estados
não
partes.
2. Criação
de
situações
objectivas
ou
estatutárias
–
caminha-‐se,
hoje
em
dia,
para
uma
objectivação
do
Direito
Internacional
convencional,
que,
aos
poucos,
se
vai
transformando
em
Direito
Internacional
comum.
Assim,
há
determinadas
convenções
internacionais
que,
destinando-‐se
a
instituir
certos
estatutos
políticos
ou
territoriais,
apresentam
o
carácter
de
direito
objectivo,
fazendo-‐se
sentir
para
além
do
círculo
das
partes
contraentes.
3. Criação
de
um
novo
sujeito
de
direito
–
criação
de
certas
entidades
cuja
existência
é
oponível
a
terceiros.
É
o
caso
dos
tratados
constitutivos
de
organizações
internacionais,
sobretudo
universais,
e
os
que
se
destinem
à
criação
de
novos
Estados.
4. Convenções
de
codificação
–
as
convenções
de
codificação
são
convenções
que
convertem
normas
costumeiras
num
corpo
de
normas
escritas
que,
se
porventura
forem
de
alcance
geral,
são
oponíveis
a
Estados
terceiros.
5. Outras
excepções
–
quando
os
Estados
parte
se
reservam
o
direito
de
exercer
certas
competências
em
relação
aos
nacionais
de
Estados
terceiros
e
os
tratados-‐lei.
6.
Condições
de
validade
das
convenções
internacionais
1. Capacidade
das
partes
2. Regularidade
do
consentimento
3. Licitude
do
objecto
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
6.1.
Capacidade
das
partes
• Sujeitos
com
capacidade
de
celebrar
contratos:
Estados,
organizações
internacionais
e,
nalguns
casos,
os
movimentos
de
libertação
nacional.
• Capacidade
dos
Estados
(art.
6.º)
–
são
raras
as
situações
que
limitam
a
capacidade
dos
Estados:
a. Protectorado
-‐
o
Estado
protector
passa
a
representar
o
Estado
protegido
nas
relações
internacionais.
Contudo,
este
sistema
de
relações
entre
Estados
já
caiu
em
desuso.
b. Participação
de
entidades
descentralizadas,
como
os
Estados
membros
de
um
Estado
federado.
Colocam-‐se,
neste
caso,
dois
problemas
distintos
–
o
da
capacidade
da
instituição
descentralizada
para
celebrar
a
convenção
e
a
imputação
do
tratado
a
esse
sujeito.
O
primeiro
será
resolvido
pelo
direito
interno;
e
quanto
ao
segundo,
deverá
referir-‐se
que,
em
caso
de
incumprimento
da
obrigação,
se
desencadeará
a
responsabilidade
internacional
da
entidade
descentralizada.
• Capacidade
das
organizações
internacionais:
a. Derivada
–
porque
depende
da
vontade
dos
Estados.
b. Limitada
ou
parcial
–
limitada
pelo
princípio
da
especialidade.
• Sanção
para
um
tratado
no
qual
intervenha
um
sujeito
sem
capacidade:
a. Sujeitos
activos
de
Direito
Internacional
mas
sem
capacidade
de
exercício
–
nulidade.
b. Entidades
que
não
são
sujeitos
de
Direito
Internacional
–
inexistência.
6.2.
Regularidade
do
consentimento
1. Irregularidades
formais
–
referem-‐se
à
competência
e
ao
procedimento
para
a
conclusão
das
convenções
internacionais.
Este
problema
já
foi
abordado
aquando
das
ratificações
imperfeitas
–
segundo
o
art.
46.º
da
CV,
o
facto
do
consentimento
de
um
Estado
a
obrigar-‐se
a
uma
convenção
ter
sido
prestado
com
violação
de
um
preceito
do
seu
direito
interno
não
constitui
motivo
bastante
para
que
esse
Estado
alegue
o
vício
ocorrido
e
se
desvincule
(caso
tenha
sido
manifesta
e
de
uma
norma
fundamental).
2. Irregularidades
substanciais
–
havendo
coincidência
entre
vontade
e
declaração,
aquela
não
foi
prestada
de
um
modo
legítimo.
a. Erro
(art.
48.º
CV)
-‐
o
erro
pressupõe
uma
representação
inexacta
da
realidade.
Origina
a
nulidade
relativa
e
só
vicia
o
consentimento
do
Estado
se
se
verificarem
em
simultâneo
duas
condições:
i. Essencial
ou
determinante
–
um
erro
é
essencial
ou
determinando
quando
tenha
incidido
sobre
um
elemento
que
haja
constituído
uma
base
essencial
do
consentimento
do
Estado.
Por
outras
palavras,
deve
demonstrar-‐se
que,
não
fora
esse
erro,
o
Estado
teria
recusado
a
celebrar
a
convenção
ou
tê-‐la-‐ia
concluído
num
sentido
diverso.
ii. Desculpável
–
o
Estado
não
pode
ter
contribuído
para
a
ocorrência
do
erro.
As
situações
mais
frequentes
de
erro
ocorrem
nos
tratados
de
demarcação
de
fronteiras.
É
possível
a
relevância
de
erros
de
direito
e
os
erros
de
redacção
não
afectam
a
validade
do
tratado,
dando
apenas
lugar
à
sua
rectificação.
b. Dolo
(art.
49.º
CV)
–
erro
induzido
ou
provocado
por
um
comportamento
da
contraparte,
que
se
traduza
numa
conduta
fraudulenta.
À
semelhança
do
erro,
também
o
dolo
provoca
a
nulidade
relativa.
c. Corrupção
exercida
sobre
representante
de
um
Estado
(art.
50.º
CV)
–
casos
em
que,
no
decurso
das
negociações,
o
representante
de
um
Estado
recorra
a
determinadas
manobras
ou
artifícios
(oferta
de
vantagens
pessoais),
com
o
intuito
de
levar
a
contraparte
a
celebrar
a
convenção
num
certo
sentido.
Contudo,
é
difícil
de
distinguir
uma
tentativa
de
corrupção
de
um
mero
acto
de
cortesia,
e
por
isso
só
devem
ser
considerados
actos
de
corrupção
aqueles
que
tenham
tido
influência
decisiva
na
expressão
da
vontade
ou
do
consentimento
da
contraparte.
d. Coacção
(art.
50.º
e
51.º
CV)
–
origina
a
nulidade
absoluta.
Existem
duas
formas
de
coação:
i. Sobre
o
representante
de
um
Estado
-‐
o
representante
do
Estado
é
considerado
como
indivíduo,
e
não
como
órgão
estadual.
Em
causa
poderão
estar
actos
de
violência
física
ou
revelações
de
carácter
privado.
ii. Sobre
o
Estado
–
forma
de
coação
mais
frequente
e
também
mais
grave.
As
ameaças
ou
o
emprego
da
força
dirigem-‐se
contra
o
Estado.
6.3.
Licitude
do
objecto
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• O
objecto
de
uma
convenção
é
lícito
quando
não
atenta
contra
a
ordem
pública
internacional,
ou
seja,
quando
não
contraria
o
conjunto
de
princípios
que
estão
na
base
do
sistema
jurídico
internacional.
Com
efeito,
apesar
da
questão
do
reconhecimento
de
uma
ordem
pública
internacional
ser
duvidosa
e
complexa,
a
evolução
do
Direito
Internacional
Público
nos
últimos
anos
aponta
para
a
irreversibilidade
da
emergência
de
um
núcleo
de
normas
consideradas
imperativas.
A
figura
da
ilicitude
origina
a
sua
nulidade
absoluta
(art.
53.º
e
64.º
CV).
6.4.
Regime
das
nulidades
1. Nulidade
relativa:
a. Irregularidades
formais,
erro,
dolo
e
corrupção.
b. Direito
de
invocar
o
vício
–
circunscreve-‐se
às
partes
contraentes,
mas
só
a
parte
vítima
pode
invocar
o
vício.
c. Divisibilidade
extintiva
(art.
44.º
CV)
–
possibilidade
de
ocorrer
divisibilidade
extintiva,
se
se
verificarem
cumulativamente
três
requisitos:
i. As
cláusulas
sejam
separáveis.
ii. A
aceitação
das
ditas
cláusulas
não
tenha
constituído
para
a
outra
parte
ou
outras
partes
uma
base
essencial
do
seu
consentimento
a
estarem
vinculadas.
iii. Não
pode
ser
injusto
continuar
a
executar
o
que
subsiste
do
tratado.
É
obrigatória
no
erro
e
facultativa
no
dolo
e
corrupção,
pois
nos
dois
últimos
casos,
visto
existir
má
fé,
inexistem
expectativas
dignas
de
tutela.
Contudo,
apercebemo-‐nos
de
uma
contradição
no
que
respeita
ao
erro
–
o
seu
requisito
de
essencialidade
é
incompatível
com
o
segundo
requisito
da
divisibilidade
extintiva.
Esta
incongruência
terá
de
ser
resolvida
mediante
um
apelo
ao
critério
da
vontade
hipotética
ou
conjectural
das
partes,
nos
casos
em
que
se
demonstre
que
os
contraentes
teriam
celebrado
a
convenção
na
parte
não
atingida
pelo
erro
se,
no
momento
da
conclusão,
tivessem
podido
saber
que
aquele
vício
iria
afectar,
parcialmente,
a
validade
do
tratado.
Nas
ratificações
imperfeitas,
vale
o
princípio
da
indivisibilidade.
d. Possibilidade
de
sanação
(art.
45.º)
–
existe
a
possibilidade
de
sanação.
Um
Estado
perde
o
seu
direito
de
invocar
o
vício
se,
depois
de
haver
tomado
conhecimento
dos
factos,
aceitou
expressamente
considerar
que
o
tratado
era
válido
(sanação
expressa),
ou,
em
razão
da
sua
conduta,
deva
formar-‐se
idêntica
conclusão
(sanação
tácita).
2. Nulidade
absoluta:
a. Coacção
e
ilicitude
do
objecto.
b. Direito
de
invocar
o
vício
–
qualquer
das
partes
contraentes
pode
invocar
a
causa
da
nulidade.
c. Divisibilidade
extintiva
–
vigora,
nas
nulidades
absolutas,
a
indivisibilidade
extintiva.
d. Sanação
–
impossibilidade
de
sanação.
3. Arts.
65.º,
66.º
e
67.º
-‐
não
há
prazo
de
caducidade
para
as
partes
arguirem
a
nulidade,
absoluta
ou
relativa,
de
uma
convenção
internacional.
4. Consequências
das
nulidades:
a. Uma
declaração
de
nulidade
produz
efeito
retroactivos,
ou
seja,
o
tratado
é
considerado
nulo
desde
o
momento
da
sua
conclusão.
Duas
atenuações
a
este
efeito:
i. Os
actos
aplicados
de
boa
fé;
ii. A
superveniência
de
uma
norma
imperativa
de
Direito
Internacional.
7.
A
interpretação
das
convenções
internacionais
A
interpretação
consiste
em
precisar
o
sentido,
o
conteúdo
e
o
alcance
de
uma
norma
jurídica,
na
sua
aplicação
a
um
caso
concreto.
7.1.
Competência
para
a
interpretação
• Interpretação
autêntica
–
levada
a
cabo
pelas
partes
na
convenção.
Pode
ser
unilateral,
quando
um
Estado,
em
razão
da
sua
soberania,
indica
o
sentido
que
atribui
às
disposições
dos
tratados
que
a
vinculem;
e
colectiva,
a
verdadeira
interpretação
autêntica
e
que
consiste
num
acordo
celebrado
entre
as
partes
da
convenção,
adoptado
em
simultâneo
com
a
sua
conclusão
ou
num
momento
posterior.
• Interpretação
não
autêntica
–
é
fornecida
por
um
terceiro.
7.2.
Métodos
de
interpretação
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Renovação
do
costume:
• Maior
celeridade
do
processo
de
formação,
nomeadamente
através
dos
costumes
selvagens.
• Interpretação
de
normas
consuetudinárias
pelo
TIJ.
• Aparecimento
de
novos
costumes
em
domínios
também
eles
recentes
das
relações
internacionais.
Importância
do
costume:
• Papel
de
destaque
na
formação
de
normas
imperativas.
• Preenchimento
das
lacunas
do
Direito
Internacional.
IV.
Princípios
gerais
de
direito
reconhecidos
pelas
nações
civilizadas
1.
Carácter
directo
e
autónomo
• Os
princípios
gerais
de
direito
são
dotados
de
um
carácter
directo
e
autónomo,
que
foi,
todavia,
contrariado
pelos
partidários
do
voluntarismo.
• Os
partidários
do
voluntarismo
defendiam
que,
embora
não
se
pudesse
contestar
o
valor
jurídico
destes
princípios,
a
sua
aplicação
pressuporia
uma
autorização
prévia
e
expressa,
tese
que
é
revogada
pela
observação
da
prática
internacional.
2.
Natureza
jurídica
e
função
2.1.
Controvérsia
doutrinal
São
três
as
correntes
doutrinais
que
visam
responder
ao
problema
da
natureza
dos
princípios
gerais:
1. Os
princípios
seriam
de
Direito
Internacional
Público;
2. Os
princípios
seriam
de
direito
interno;
3. Os
princípios
tanto
poderiam
pertencer
a
um
como
ao
outro.
A
primeira
e
a
terceira
doutrina
repousam
numa
confusão
entre
os
princípios
gerais
e
os
princípios
fundamentais
de
Direito
Internacional,
que
são
regras
gerais
que
se
deduzem
do
espírito
dos
costumes
e
convenções
em
vigor.
Argumentos
a
favor
da
2ª
tese:
1. Análise
dos
trabalhos
preparatórios
do
ETIJ,
que
nos
revelam
que,
ao
usarem
a
expressão
“princípios
gerais
de
direito”,
querem
reportar-‐se
a
princípios
de
direito
interno.
2. Só
esta
tese
permite
conferir
especificidade
a
esta
fonte.
3. Destinando-‐se
estes
princípios
a
preencher
as
lacunas
do
direito
convencional,
não
faria
sentido
que
tivessem
a
mesma
natureza.
2.2.
Uma
fonte
primária
e
supletiva
• Fonte
primária
–
não
há
relações
de
hierarquia
entre
as
fontes
de
direito,
e
considerar
esta
fonte
como
uma
fonte
subsidiária
ou
secundária
iria
de
encontro
à
posição
rejeitada
dos
voluntaristas
que
defendiam
a
utilização
destes
princípios
mediante
uma
autorização
expressa.
• Fonte
supletiva
–
contudo,
estes
princípios
apresentam
a
natureza
de
uma
fonte
supletiva,
como
se
pode
deduzir
pela
ordem
sucessiva
de
tomada
em
consideração,
do
art.
38.º
do
ETIJ.
Assim,
em
primeiro
lugar,
o
juiz
internacional
deve
recorrer-‐se
das
convenções
internacionais
e
do
costume,
e
só
depois,
comprovada
uma
lacuna,
aos
princípios,
devido
ao
seu
conteúdo
menos
aleatório
e
mais
densificado.
3.
Modo
de
operar
Condições
necessárias
para
a
aplicação
destes
princípios:
1. Generalidade
2. Susceptibilidade
de
serem
transpostos
para
o
ordenamento
jurídico
3.1.
O
requisito
da
generalidade
• Só
se
podem
aplicar
internacionalmente
aqueles
princípios
que
beneficiem
de
suficiente
generalidade,
ou
seja,
que
sejam
comuns
à
maior
parte
dos
sistemas
jurídicos
internacionais.
A
unanimidade
não
é
exigida.
3.1.
A
condição
de
serem
transponíveis
para
o
ordenamento
jurídico
internacional
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Não
basta
estar
preenchido
o
requisito
da
generalidade
para
que
se
possa
fazer
a
aplicação
dos
princípios.
• Assim,
estes
devem
ser
transponíveis
ou
transportáveis
para
o
ordenamento
jurídico
internacional.
4.
Exemplos
• Princípio
do
enriquecimento
sem
causa;
• Princípio
da
boa
fé;
• Princípio
do
abuso
do
direito;
• Princípio
segundo
o
qual
a
lei
especial
prevalece
sobre
a
lei
geral;
• Etc.
5.
Importância
e
autonomia
• Há
autores
que
consideram
esta
fonte
uma
fonte
“transitória
e
recessiva”.
• De
facto,
a
repetida
aplicação
de
alguns
desses
princípios
no
plano
das
relações
internacionais
converte-‐os
em
verdadeiras
normas
costumeiras
de
idêntico
conteúdo,
o
que
faz
com
que
perca
nitidez
a
distinção
entre
princípios
de
direito
interno
e
Direito
Internacional.
• Deste
modo,
os
princípios
perdem
a
sua
autonomia
inicial,
acabando
por
ser
assimilados,
por
via
consuetudinária,
pelo
próprio
Direito
Internacional.
V.
Os
actos
jurídicos
unilaterais
1.
Noção
• Apesar
de
não
mencionados
no
art.
38.º
do
ETIJ,
não
se
pode
negar
que
também
que
os
actos
jurídicos
unilaterais,
para
além
de
contribuírem
para
a
formação
de
normas
costumeiras,
integram
o
elenco
das
fontes
formais
de
Direito
Internacional.
• Definição
–
trata-‐se
de
um
acto
imputável
a
um
só
sujeito
de
DI,
destinado
a
produzir
determinados
efeitos
jurídicos.
• O
aumento
do
número
de
sujeitos
de
DI
provocou
um
aumento
de
actos
jurídicos
unilaterais.
2.
Os
actos
jurídicos
unilaterais
do
Estado
1. Requisitos
da
imputabilidade,
oponibilidade
e
publicidade:
a. Imputabilidade
–
o
acto
unilateral
tem
de
imanar
de
uma
entidade
idónea
a
vincular
internacionalmente
o
Estado,
dentro
do
limite
da
sua
competência.
b. Oponibilidade
a
terceiros
–
existência
de
compatibilidade
entre
o
acto
jurídico
e
o
DI.
c. Publicidade
–
a
vontade
do
Estado
tem
de
ser
exteriorizada
de
forma
suficientemente
clara
e
manifesta.
d. Dispensa
de
aceitação
pelos
destinatários.
2. Características
dos
actos
unilaterais
enquanto
fonte
formal
de
Direito
Internacional:
a. Unilateralidade
–
faz
parte
da
própria
definição.
b. Juridicidade
–
tem
de
produzir
certos
efeitos
de
direito.
c. Autonomia
–
não
pode
estar
ligado
a
qualquer
outra
fonte
de
Direito
Internacional.
3. Tipologia
dos
actos
jurídicos
unilaterais
do
Estado:
a. Reconhecimento
–
um
Estado
comprova
a
existência
de
determinados
factos,
situações
ou
actos
jurídicos,
aceitando
que
lhe
sejam
oponíveis.
b. Protesto
–
acto
de
sentido
oposto
ao
reconhecimento,
o
Estado
exprime
discordância
face
a
determinada
situação
ou
acto
jurídico.
c. Notificação
–
consiste
em
levar
ao
conhecimento
de
um
terceiro
um
facto,
uma
situação
ou
um
documento.
d. Promessa
–
o
Estado
compromete-‐se
a
adquirir,
ou
a
abster-‐se
de
adquirir,
no
futuro,
um
determinado
comportamento.
e. Renúncia
–
um
Estado
extingue
um
direito
de
que,
anteriormente,
era
titular.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
IV
OS
SUJEITOS
DE
DIREITO
INTERNACIONAL
I.
Introdução
• São
sujeitos
de
Direito
Internacional
aquelas
entidades
que
sejam
destinatárias
directas
de
normas
internacionais
e,
por
isso,
titulares
de
uma
situação
jurídica
subjectiva
que
deriva
dessas
normas.
• Até
meados
do
século
XX,
estimava-‐se
que
a
personalidade
jurídica
internacional
se
limitava
aos
Estados.
Contudo,
da
segunda
metade
do
século
XX
em
diante,
a
fisionomia
da
sociedade
internacional
haveria
de
transformar-‐se
radicalmente,
com
o
surgimento
de
novos
sujeitos.
• Contudo,
podemos
reconhecer
maior
importância
aos
Estados,
o
único
sujeito
que
beneficia
da
característica
da
soberania.
Classificações:
• Sujeitos
primários
–
o
Estado,
em
virtude
da
sua
característica
de
soberania
e,
por
isso,
da
sua
capacidade
jurídica
plena.
• Sujeitos
secundários
–
sujeitos
com
capacidade
jurídica
mais
limitada.
• Sujeitos
originários
–
sujeitos
cuja
existência
resulta
de
um
processo
de
facto,
visto
não
depender
de
qualquer
decisão
dos
sujeitos
até
aí
existentes.
São
os
povos
autónomos,
os
insurrectos
e
os
Estados.
• Sujeitos
derivados
–
sujeitos
que
só
se
adquirem
esse
estatuto
em
resultado
de
uma
decisão
dos
sujeitos
primários.
São
as
organizações
internacionais
e
o
indivíduo.
II.
O
Estado
1.
Noção
Um
Estado
é
uma
entidade
que
historicamente
reúne
três
elementos
constitutivos:
população,
território
e
governo.
Contudo,
existem
outras
colectividades
territoriais
que
podem
reclamar
estas
características,
e,
por
isso,
o
Estado
exibe
ainda
outra
característica
fundamental,
a
da
soberania.
2.
Elementos
constitutivos
2.1.
A
população
• Sentido
amplo
–
todos
aqueles
que
vivem
e
trabalham
no
território
de
certo
Estado,
ou
seja,
os
seus
habitantes.
Esta
definição
é
considerada
demasiado
larga,
por
abranger
os
estrangeiros
residentes,
e
demasiado
estreita,
por
negligenciar
os
nacionais
residentes
no
estrangeiro.
• Outro
sentido
–
conjunto
de
indivíduos
ligados
de
forma
estável
e
efectiva
a
um
Estado
através
do
vínculo
jurídico
da
nacionalidade.
Assim,
a
nacionalidade
não
pode
resultar
de
uma
ligação
episódica.
• Nação
e
povo
–
traduzem
uma
realidade
sociológica
e
política,
assente
numa
determinada
homogeneidade
da
população.
• Princípio
das
nacionalidades
–
no
séc.
XIX,
com
o
aparecimento
deste
princípio,
estipulou-‐se
que
a
cada
Estado
deveria
corresponder
uma
e
uma
só
nação.
Este
princípio
deixa
de
ter
uma
refracção
moderna
com
o
direito
dos
povos
à
autodeterminação.
2.2.
O
território
• O
Estado
é
uma
corporação
sedentária
de
base
territorial,
ou
seja,
a
sua
população
acha-‐se
estabelecida
no
interior
de
fronteiras.
• Princípio
da
integridade
territorial
–
as
modernas
condições
de
exercício
do
poder
político
e
administrativo
implicam
a
existência
de
um
território,
pelo
que
se
adivinha
a
importância
deste
princípio.
Tal
não
é
posto
em
causa
se
ocorrerem
mutações
territoriais,
designadamente
através
de
tratados
de
rectificação
de
fronteiras.
• Território
natural
–
no
caso
de
seguir
os
acidentes
naturais.
• Território
artificial
–
no
caso
de
acompanhar,
por
exemplo,
um
meridiano
ou
um
paralelo.
Elementos
constitutivos
do
território:
1. Domínio
terrestre
–
abrange
o
solo
e
o
subsolo
que
se
situam
dentro
das
fronteiras
do
Estado.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2. Domínio
fluvial
–
é
constituído
pelos
cursos
de
água
que
atravessam
um
Estado
ou
o
separam
de
outros.
Assim,
os
rios
podem
ser:
a. Nacionais
–
caso
nasçam
e
desaguem
no
território
nacional.
b. Internacionais
–
quando
atravessam
ou
separam
vários
Estados.
Suscitam
problemas
a
nível
internacional,
nomeadamente
de
carácter
ambiental.
3. Domínio
marítimo:
a. Zonas
de
poderes
de
soberania
(poderes
inerentes
ao
Estado,
essencialmente
ilimitados,
dos
quais
este
exerce
o
título
exclusivo):
i. Águas
interiores
(arts.
5.º,
7.º
e
8.º
CMB)
–
situam-‐se
aquém
da
linha
de
base,
obtida
através
da
linha
de
maré
baixa;
ou
seja,
trata-‐se
de
águas
que
se
situam
entre
aquela
linha
e
o
território
terrestre,
devendo
excluir-‐se
as
superfícies
de
água
doce.
ii. Mar
territorial
-‐
faixa
marítima
adjacente
à
costa
do
Estado,
que
se
estende
desde
a
linha
normal
de
maré
baixa
até
uma
distância
que
a
CMB
fixou
em
12
milhas
marítimas.
A
soberania
é
quase
total,
apenas
ligeiramente
comprometida
pelo
direito
de
passagem
inofensiva
de
navios
estrangeiros.
b. Zonas
de
poderes
de
mera
jurisdição
(poderes
expressamente
atribuídos
pelo
Direito
Internacional,
logo,
muito
mais
limitados),
que
não
integram
o
território
estadual:
i. Zona
contígua
(art.
33.º/2
CMB)
–
zona
marítima
adjacente
ao
mar
territorial,
numa
extensão
de
12
milhas
marítimas
(indo,
assim,
até
às
24
milhas
marítimas
a
contar
da
linha
de
base).
O
Estado
exerce
poderes
de
fiscalização
aduaneira,
fiscal,
sanitária
e
de
emigração.
ii. Plataforma
continental
(art.
76.º
CMB)
–
é
o
prolongamento
subaquático
da
plataforma
terrestre
e
abrange
a
zona
que
se
estende
desde
o
mar
territorial
até
uma
distância
de
200
milhas,
apesar
deste
regime
ser
flexível.
É
uma
zona
rica
sobretudo
em
recursos
minerais,
e
por
isso
o
Estado
exerce
poderes
de
exploração
e
extracção
dos
mesmos.
iii. Zona
económica
exclusiva
–
a
ZEE
é
uma
vasta
faixa
marítima,
200
milhas
marítimas
a
contar
da
linha
de
base,
em
que
os
Estados
ribeirinhos
exercem
também
poderes
de
jurisdição.
À
ZEE
está
subjacente
o
princípio
da
desigualdade
compensatória,
visto
que
deve
ser
partilhada
com
os
Estados
sem
litoral
e
os
Estados
em
vias
de
desenvolvimento
(arts.
56.º
e
ss.
CMB).
c. Subtraídos
tanto
à
soberania
como
à
jurisdição,
encontram-‐se
dois
espaços
internacionais:
i. Alto-‐mar
–
está
aberto
a
todos
Estados,
sem
que
de
qualquer
porção
dele
nenhum
se
possa
apropriar,
e
constitui
um
regime
de
internacionalização
negativa.
ii. Zona
ou
área
–
refere-‐se
aos
fundos
marinhos
e
seu
subsolo
para
além
dos
limites
da
jurisdição
nacional,
sendo
que
a
CMB
prescreve
que
a
zona
e
os
seus
recursos
são
património
comum
da
humanidade
(arts.
137.º
e
ss.).
Reflecte
um
regime
de
internacionalização
positiva
e
os
propósitos
de
igualdade
material
que
presidem
ao
novo
direito
do
mar.
4. Domínio
lacustre
–
respeita
aos
lagos,
que
são
superfícies
de
água
doce
totalmente
circundadas
por
terra.
São-‐lhes
aplicadas
as
mesmas
normas
que
as
dos
mares
internos,
excepto
de
o
lago
em
questão
comunicar
com
o
mar
através
de
um
curso
de
água
que
atravesse
vários
Estados.
5. Domínio
aéreo
–
espaço
aéreo
suprajacente
aos
domínios
terrestre,
fluvial,
marítimo
e
lacustre,
sobre
os
quais
o
Estado
exerce
poderes
de
soberania.
No
espaço
extra-‐atmosférico
vigora,
à
semelhança
do
alto-‐mar,
um
regime
de
internacionalização
negativa,
cuja
separação
assenta
num
critério
funcional.
Serão
submetidas
ao
direito
aéreo
aquelas
actividades
que
se
apoiarem
no
ar
atmosférico
e
ao
direito
do
espaço
atmosférico
as
que
não
utilizarem
o
oxigénio
do
ar
como
combustível
nem
as
correntes
aéreas.
2.3.
O
governo
Em
Direito
Internacional,
refere-‐se
ao
governo
não
em
sentido
estrito,
para
designar
as
suas
autoridades
executivas,
mas
sim
os
seus
diferentes
poderes
públicos,
abrangendo
a
ordem
política,
legislativa,
judicial
e
administrativa
do
Estado.
2.4.
A
soberania
e
respectivos
corolários
• Nos
primeiros
tempos,
considerava-‐se
que
a
soberania
dos
Estados
constituía
um
poder
ilimitado
e
supremo.
Assim,
apesar
de
os
Estados
estarem
vinculados
a
normas
internacionais,
estas
resultariam
sempre
de
uma
auto-‐limitação.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Esta
concepção
absoluta
foi
fortemente
rejeitada,
e,
hoje,
considera-‐se
que
a
soberania
do
Estado
é
limitada
por
idêntico
atributo
de
todos
os
outros
que
lhe
são
juridicamente
iguais.
A
jurisprudência
internacional
tem
vindo
a
identificar
soberania
com
independência.
• O
princípio
da
igualdade
soberana
foi
acolhido
no
art.
2./1
da
CNU.
• Corolários
positivos
–
liberdade
de
actuação
dos
Estados:
a. Ausência
de
subordinação
jurídica
e
orgânica
do
Estado
face
a
outros
sujeitos
de
DI;
b. Direito
dos
Estados
exercerem
jurisdição
sobre
os
respectivos
territórios
e
população.
c. Autonomia
constitucional
e
política
do
Estado.
• Corolários
negativos
–
limitação
da
liberdade
de
actuação:
a. Exigência
de
respeito
pelo
DI;
b. Dever
de
não
ingerência
nos
assuntos
internos
de
outros
Estados
e
o
princípio
da
proibição
do
recurso
à
força
nas
relações
internacionais;
c. Obrigação
de
solução
pacífica
dos
conflitos
internacionais.
3.
Competências
do
Estado
As
competências
são
exercidas
de
forma
plena
e
com
exclusividade.
3.1.
Competências
internas:
1. Territoriais
–
exercício
de
actos
de
autoridade
que
se
revelem
necessários
ao
desenvolvimento
de
todos
o
tipo
de
actividades
no
seu
território.
2. Pessoais
–
atribuição
de
nacionalidade
a
pessoas
singulares
ou
colectivas,
navios,
satélites,
etc.
Também
se
pode
estender
aos
estrangeiros,
sendo
que,
no
direito
dos
estrangeiros,
comum
às
ordens
jurídicas
internas,
vigora
o
princípio
de
equiparação
entre
nacionais
e
não
nacionais.
Este
princípio
estipula
que
o
Estado
deve
tem
de
tratar
os
estrangeiros
segundo
o
princípio
de
“standard
minimum”,
não
sendo
aceitáveis
discriminações
negativas
nem
a
denegação
do
acesso
à
justiça.
3.2.
Competências
internacionais:
1. Ius
tratus
–
direito
de
celebrar
tratados.
2. Ius
legaciones
–
direito
de
enviar
(direito
de
legação
activa)
e
receber
(direito
de
legação
passiva)
representantes
diplomáticos.
3. Ius
ad
bellum
–
direito
de
fazer
a
guerra.
Contudo,
actualmente,
e
fruto
da
proibição
do
recurso
à
força,
apenas
se
admite
a
excepção
do
direito
de
legítima
defesa.
É
agora
um
ius
in
bello,
não
direito
à
guerra,
mas
sim
direito
da
guerra.
4.
Responsabilidade
internacional
do
Estado
• Normas
primárias
–
impõem
determinadas
obrigações
de
conduta
para
os
destinatários.
• Normas
secundárias
–
fixam
as
consequências
jurídicas
da
violação
das
normas
primárias.
É
neste
terreno
que
nos
iremos
colocar.
Responsabilidade
por
factos
ilícitos
4.1.
Pressupostos
1. Prática
de
um
facto
internacionalmente
ilícito
–
o
Estado
tem
de
violar,
por
acção
ou
omissão,
uma
obrigação
internacional
a
cuja
observância
esteja
vinculado.
2. Nexo
de
imputação
do
facto
ilícito
ao
Estado
-‐
o
comportamento
deverá
ser
atribuído
ao
Estado
por
haver
sido
adoptado
por
pessoa
ou
órgãos
que
o
representam.
3. Ocorrência
de
danos
–
a
conduta
do
Estado
tem
de
resultar
em
danos
materiais
ou
morais
na
esfera
jurídica
de
terceiros.
4. Nexo
de
causalidade
–
os
danos
causados
devem
ser
consequência
do
facto
cometido.
Incorrer
em
responsabilidade
internacional
significa
que
se
cria
uma
relação
jurídica
nova,
bilateral,
entre
o
Estado
autor
e
o
Estado
vítima.
Ao
direito
subjectivo
deste
de
exigir
a
reparação
dos
danos
corresponde
o
dever
daquele
de
proceder
à
respectiva
reparação.
4.2.
Graus
de
ilicitude
• Com
o
surgimento
da
teoria
do
“ius
cogens”
e
das
obrigações
“erga
omnes”,
foi
ganhando
forma
a
ideia
de
uma
ordem
pública
internacional.
A
consagração
de
normas
com
valor
superior
resultou
na
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
distinção
entre
crimes
e
delitos
internacionais,
sendo
que
aqueles
resultariam
da
violação
grave
de
obrigações
“erga
omnes”,
e
estas
decorreriam
da
infracção
de
normas
menos
importantes.
No
primeiro
caso,
todos
estariam
habilitados
a
reagir,
enquanto
que,
no
segundo,
só
o
Estado
vítima
ficaria
investido
da
titularidade
do
direito
da
reparação
dos
danos.
• Esta
distinção
entre
crimes
e
delitos
foi
abandonada
–
porém,
subsiste
uma
destrinça
entre
factos
ilícitos
mais
ou
menos
graves.
4.3.
Modalidades
de
reparação
1. Restitutio
in
integrum
–
permite
a
total
obliteração
dos
efeitos
emergentes
do
facto
ilícito,
devendo
ser
usada
sempre
que
possível.
Contudo,
nem
sempre
se
revela
exequível
esta
forma
de
reparação
dos
danos:
a. Quando
ocorre
a
produção
de
efeitos
irreversíveis;
b. Quando
ocorreu
um
prejuízo
definitivo
para
o
Estado
vítima
c. Deve
ainda
afastar-‐se
nos
factos
ilícitos
mais
graves,
quando
envolva
para
o
Estado
autor
do
facto
ilícito
um
prejuízo
desproporcionado
comparativamente
às
vantagens
que
o
Estado
lesado
obtenha.
2. Reparação
por
equivalente
ou
indemnização
–
é
a
mais
frequente
modalidade
de
reparação
de
danos
e
consiste
no
pagamento
de
uma
quantia
pecuniária
ao
Estado
vítima.
O
montante
da
indemnização
deve
cobrir
não
apenas
os
danos
emergentes
mas
também
os
lucros
cessantes,
logo,
o
cálculo
do
montante
deve
reportar-‐se
ao
momento
actual.
Consideram-‐se
como
passíveis
de
indemnização
os
danos
economicamente
valoráveis:
a. Danos
directos
–
causados
directamente
ao
Estado
(aos
seus
navios,
edifícios,
etc.)
b. Danos
indirectos
–
causados
aos
seus
nacionais,
podem
ser
patrimoniais
ou
morais:
i. Órgão
ii. Funcionário
iii. Agente
iv. Cidadão
3. Satisfação
–
modalidade
que
se
aplica
aos
danos
de
carácter
moral,
que
se
pode
consubstanciar
num
pedido
oficial
de
desculpas,
numa
cominação
de
sanções
internas,
ou
numa
simples
declaração
de
ilicitude
proferida
por
um
tribunal
internacional.
Pode
ser
simultânea
com
qualquer
das
modalidades
acima.
4.4.
Causas
de
exclusão
de
ilicitude
1. Consentimento
–
exclui-‐se
a
ilicitude
quando
o
Estado
vítima
dê
o
seu
consentimento,
desde
que
obedeça
a
certos
requisitos:
a. Validade
à
luz
das
normas
de
Direito
Internacional,
ou
seja,
prestação
do
consentimento
sem
vícios;
b. Claro
e
inequívoco;
c. Expresso,
não
podendo
jamais
ser
presumido;
d. Atribuível
ou
imputável
ao
Estado;
e. Invocado
dentro
dos
limites
substantivos
e
temporais
que
o
Estado
o
haja
configurado.
2. Legítima
defesa
(art.
51.º
CNU)
–
direito
inerente
de
legítima
defesa
individual
ou
colectiva,
no
caso
de
ocorrer
um
ataque
contra
um
membro
das
Nações
Unidas.
O
Estado
que
actue
em
legítima
defesa
fá-‐lo
perante
um
perigo
grave
que
ameaça
a
sua
existência.
3. Contramedidas
–
não
podem
envolver
o
uso
da
força
e
classificam-‐se
em:
a. Retorsões
–
actos
inamistosos
mas
lícitos.
b. Represálias
–
actos
inamistosos
e
ilícitos,
mas
cuja
ilicitude
se
encontra
desculpada
em
virtude
de
constituir
uma
resposta
a
um
facto
ilícito
anterior.
A
sua
adopção
está
sujeita
a:
i. Um
prévio
pedido
formal
de
reparação
dos
danos;
ii. Uma
tentativa
de
solução
pacífica
dos
conflitos;
iii. Um
princípio
de
proporcionalidade.
4. Força
maior
ou
caso
fortuito
–
apesar
de
constituírem
modalidades
diferentes,
optou-‐se
por
uma
consideração
unitária,
valendo
como
característica
essencial
a
existência
de
uma
situação
na
qual
o
Estado
se
vê
compelido
a
desrespeitar
uma
obrigação
internacional
por
acção
de
uma
força
irresistível
ou
de
uma
acontecimento
exterior
imprevisto,
que
o
coloca
perante
a
impossibilidade
material
de
actuar
de
outra
forma.
Este
carácter
não
voluntário
ou
não
intencional
da
conduta
permite
apartar
esta
causa
do
perigo
extremo
e
do
estado
de
necessidade.
Devem
estar
reunidas
duas
condições:
a. Força
irresistível
e
acontecimento
imprevisto;
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
b. Que
o
Estado
não
tenha
contribuído
para
a
impossibilidade
de
observar
a
obrigação.
5. Perigo
extremo
–
situação
em
que
um
órgão
do
Estado
adopta
um
comportamento
contrário
a
uma
obrigação
por
não
ter
tido
outro
meio
de
se
salvar
ou
de
salvar
pessoas
sob
a
sua
custódia.
Existe,
ao
menos
teoricamente,
uma
opção,
que
não
o
chega
a
ser
verdadeiramente
na
prática.
A
ilicitude
só
pode
excluir-‐se
se
se
verificar
proporção
entre
o
interesse
protegido
e
o
interesse
sacrificado,
e
se
este
último
se
considerar
inferior
ao
primeiro.
6. Estado
de
necessidade
–
situações
em
que
um
Estado
vê
um
seu
interesse
essencial
ameaçado
por
um
perigo
grave
e
iminente,
não
lhe
restando
outra
alternativa
senão
a
de
adoptar,
em
face
de
outro
Estado,
um
comportamento
que
infringe
uma
obrigação
internacional.
No
estado
de
necessidade,
pelo
menos
do
ponto
de
vista
teórico
e
à
semelhança
do
perigo
extremo,
o
Estado
tem
a
faculdade
de
optar.
A
diferença
do
Estado
de
necessidade
e
do
perigo
extremo
é
que,
enquanto
no
segundo
está
em
causa
a
vida
de
pessoas,
no
primeiro
verifica-‐se
uma
ameaça
à
própria
existência
do
Estado.
Condições
necessárias:
a. O
interesse
do
Estado
ameaçado
deve
ser
essencial;
b. A
violação
da
norma
de
DI
deve
ser
o
único
meio
de
afastar
o
perigo;
c. Não
pode
estar
em
causa
um
interesse
também
essencial
do
Estado
vítima;
d. O
Estado
não
pode
ter
contribuído
para
a
sua
verificação;
e. Não
pode
violar
uma
norma
de
“ius
cogens”;
f. Um
Estado
não
pode
recorrer
ao
estado
de
necessidade
se
tiver
concluído
previamente
um
tratado
que
haja
afastado
esta
possibilidade.
Responsabilidade
internacional
objectiva
A
responsabilidade
objectiva
é
a
responsabilidade
pelo
risco,
derivada
de
actividades
lícitas,
não
proibidas
pelo
Direito
Internacional.
Partindo
da
teoria
do
risco,
quem
utiliza
em
seu
proveito
coisas
intrinsecamente
perigosas,
deve
suportar
as
eventuais
consequências.
Situações
conducentes
a
este
tipo
de
responsabilidade:
• Utilização
pacífica
da
energia
nuclear;
• Poluição
dos
mares
e
cursos
de
água;
• Danos
causados
por
engenhos
espaciais;
• Actos
de
funcionários
que
extravasem
a
sua
competência;
• Risco
anormal
de
vizinhança
–
responsabilidade
do
Estado
por
actos
de
poluição,
com
origem
no
seu
território
e
causadores
de
danos
no
território
de
outros.
Nas
duas
primeiras
situações,
a
responsabilidade
é
objectivamente
imputada
ao
indivíduo.
Nos
danos
causados
por
objectos
espaciais,
a
responsabilidade
é
imputada
ao
próprio
Estado.
III.
As
organizações
internacionais
1.
Evolução
histórica
• As
primeiras
organizações
internacionais
surgiram
em
finais
do
séc.
XIX
e
inícios
do
séc.
CC.
• Após
a
Primeira
Guerra
Mundial,
criou-‐se,
em
1919,
a
Sociedade
das
Nações,
a
primeira
organização
internacional
de
vocação
universal.
• Depois
de
1945,
ganhou
corpo
um
amplo
movimento
internacional
para
dotar
as
instituições
internacionais
de
autonomia.
2.
Noção
São
associações
voluntárias
de
Estados,
criadas
por
um
tratado,
dotadas
de
uma
estrutura
permanente
e
possuidoras
de
uma
personalidade
jurídica
internacional
distinta
da
dos
Estados
membros.
Desta
definição
ressalvam
três
elementos
essenciais:
• A
vontade
dos
Estados
enquanto
fundamento
convencional
das
organizações,
sujeitos
derivados
de
DI.
• Carácter
de
permanência
dos
órgãos
da
organização.
• Personalidade
jurídica
internacional
distinta
da
dos
Estados
membros.
3.
Classificação
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
1. Quanto
ao
âmbito
territorial
de
acção:
a. Organizações
universais
–
estão
abertas
a
todos
os
Estados
da
comunidade
internacional.
b. Organizações
regionais
–
estão
abertas
a
um
reduzido
número
de
Estados,
que
nelas
se
agrupam
por
critérios
geográficos,
geo-‐políticos,
económicos,
militares,
etc.
2. Quanto
à
estrutura
jurídica:
a. Organizações
de
cooperação
ou
intergovernamentais
–
gerem
relações
horizontais,
de
mera
coordenação.
Consequências:
i. Presença
dos
representantes
dos
Estados
nos
órgãos
deliberativos;
ii. Tomada
de
certas
decisões
por
maioria
qualificada;
iii. Ausência
de
aplicabilidade
directa
das
resoluções
emanadas.
b. Organizações
de
integração
ou
supranacionais
–
envolvem,
para
os
Estados
membros,
uma
limitação
da
sua
soberania,
ou
seja,
uma
abdicação
de
determinados
poderes.
Consequências
nos
planos
anteriormente
considerados:
i. Estrutura
assemelha-‐se
à
repartição
clássica
de
poderes,
com
um
poder
legislativo,
executivo
e
judicial;
ii. Exercício
das
funções
pelos
titulares
dos
órgãos
deliberativos
dando
mostras
de
uma
certa
independência
–
expressão
de
uma
vontade
internacional;
iii. Capacidade
de
aprovar
actos
com
força
obrigatória
para
os
Estados
e,
em
simultâneo,
dotados
de
aplicabilidade
directa.
3. Quanto
ao
objecto:
a. Finalidades
gerais
–
incidem
sobre
o
conjunto
de
relações
internacionais
pacíficas
e
sobre
a
solução
de
todos
os
conflitos
internacionais.
b. Finalidades
especiais
–
dirigem-‐se
à
consecução
de
um
determinado
objectivo,
que
pode
ser
variável.
A
Organização
das
Nações
Unidas
1.
Contexto
• Assinatura
e
entrada
em
vigor
no
ano
de
1945;
• Objectivo
essencial
de
assegurar
a
manutenção
da
paz
e
da
segurança
internacionais.
2.
Objectivos
da
organização
1. Manutenção
da
paz
e
da
segurança
internacionais;
2. Desenvolvimento
das
relações
cordiais;
3. Cooperação
internacional
em
ordem
à
resolução
de
problemas
económicos,
sociais,
culturais
e
humanitários,
no
respeito
pelos
direitos
e
liberdades
fundamentais
da
pessoa
humana.
4. Centro
de
encontro
dos
Estados
da
comunidade
internacional.
3.
Princípios
em
que
se
baseia
o
seu
funcionamento
(art.
2.º
CNU)
Princípios
gerais
positivos:
1. Igualdade
soberana
dos
Estados;
2. Boa
fé;
3. Solução
pacífica
dos
conflitos;
4. Proibição
de
recurso
à
força;
Princípios
gerais
negativos:
1. Princípio
do
domínio
reservado
(nº
7)
–
delimitação
do
âmbito
material
da
intervenção
das
NU;
2. Princípio
da
legítima
defesa
(nº
4
e
art.
51.º)
–
constitui
uma
das
excepções
admitidas
ao
princípio
da
proibição
do
recurso
à
força.
4.
A
estrutura:
membros
e
órgãos
Membros
(arts.
3.º
e
4.º
CNU):
1. Membros
originários
–
aqueles
que
assinaram
e
ratificaram
a
CNU;
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2. Membros
adquiridos
–
aqueles
que,
por
decisão
da
Assembleia
Geral
e
sob
recomendação
do
Conselho
de
Segurança,
se
tornaram,
ulteriormente,
membros
da
organização.
4.1.
Competências
dos
órgãos
principais:
1. Assembleia
Geral
a. Órgão
plenário
da
organização,
composto
por
todos
os
Estados
membros
(art.
9.º);
b. Dispõe
de
uma
competência
genérica
(art.
10.º),
com
a
ressalva
do
Conselho
de
Segurança
ter
primazia
em
certas
matérias
(art.
12.º/1);
c. No
âmbito
da
competência
genérica,
a
AG
está
autorizada
a
emitir
simples
recomendações
(art.
11.º/2);
d. Nas
competências
específicas,
as
deliberações
da
AG
são
dotadas
de
força
obrigatória
(arts.
15.º
a
18.º);
e. As
deliberações
são,
em
via
de
regra,
alcançadas
por
maioria
simples
(art.
18.º),
só
as
decisões
sobre
questões
mais
importantes
requerem
maioria
de
dois
terços.
A
identificação
de
novas
questões
importantes
é,
em
si
mesma,
questão
não
importante,
devendo
resultar
da
pronúncia
de
uma
maioria
simples.
2. Conselho
de
Segurança
a. Órgão
composto
por
quinze
membros,
cinco
permanentes
e
dez
não
permanentes.
Estes
últimos
são
eleitos
pela
AG
por
um
período
de
dois
anos,
sem
que
nenhum
membro
possa
ser
reeleito
para
o
biénio
seguinte
(art.
23.º,
ns.
1
e
2).
b. Membros
permanentes:
i. China
ii. França
iii. Rússia
iv. Reino
Unido
v. Estados
Unidos
c. Nos
termos
do
art.
27.º,
o
CS
delibera
por
maioria
qualificada
de
nove
votos.
No
entanto,
este
procedimento
deliberativo
varia
consoante
o
CS
deva
apreciar
uma
questão
processual
ou
uma
questão
material
ou
de
fundo.
i. Questão
processual
–
são
necessários
quaisquer
nove
votos,
pois
todos
os
votos
têm
o
mesmo
valor;
ii. Questão
material
ou
de
fundo
–
continuam
a
ser
exigidos
nove
votos,
cinco
de
entre
eles
deverão
obrigatoriamente
ser
dos
membros
permanentes.
Isto
equivale
a
dizer
que
a
estes
membros
está
reservado,
nas
questões
materiais,
um
direito
de
veto,
que
se
traduz
no
poder
de
paralisar
a
tomada
de
uma
decisão
do
CS;
iii. Quando
se
levantam
dúvidas
sobre
a
natureza
da
questão
a
ser
discutida,
o
acto
de
qualificar
uma
questão
é
considerado
material,
logo,
aí,
qualquer
dos
membros
poderá
fazer
uso
do
seu
direito
de
veto.
Este
é
o
sistema
do
duplo
veto
–
um
Estado
membro
permanente
pode
opor-‐se
a
que
uma
questão
seja
qualificada
como
processual;
e
pode
impedir
que
qualquer
resolução
seja
adoptada.
Não
fora
este
sistema,
os
Estados
ver-‐se-‐iam
desprovidos
do
direito
de
veto,
pois
ficariam
à
mercê
dos
membros
não
permanentes,
que
qualificariam
a
questão
como
processual.
iv. De
acordo
com
o
art.
27.º,
a
ausência
de
voto
positivo
da
parte
de
um
dos
membros
permanentes
equivale
a
veto.
Contudo,
entendeu-‐se
que
só
um
voto
negativo
poderá
produzir
esse
resultado.
d. No
âmbito
da
responsabilidade
de
manutenção
da
paz
e
segurança
internacionais,
nos
termos
dos
arts.
33.º
e
ss.,
o
CS
pode
dirigir
recomendações
aos
Estados
envolvidos
num
conflito;
e,
nos
casos
de
ameaça
de
paz,
instar
as
partes
em
litígio
a
adoptar
medidas
provisórias
ou
adoptar
recomendações
ou
decisões,
susceptíveis,
estas
últimas,
a
desencadear
sanções
não
militares
ou,
nos
casos
mais
graves,
militares.
3. Conselho
Económico
e
Social
a. Órgão
composto
por
cinquenta
e
quatro
membros,
eleitos,
em
sistema
rotativo,
pela
AG
por
um
período
de
três
anos
(art.
61.º
CNU).
b. Dada
a
extensão
das
competências
do
CES,
estas
são
identificáveis
mais
por
exclusão
do
que
por
inclusão.
Assim,
tirando
assuntos
estritamente
políticos
e
administrativos,
este
trata
de
questões
respeitantes
à
cooperação
económica,
social
cultural,
sanitária,
etc.
c. Acerca
de
tais
matérias,
poderá
fazer
recomendações
à
AG,
aos
Estados
membros
e
às
instituições
especializadas
interessadas,
bem
como
preparar
projectos
de
convenções
ou
convocar
conferências
internacionais
(art.
62.º).
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
V
DIREITO
INTERNACIONAL
PÚBLICO
I
Solução
pacífica
de
conflitos
internacionais
1.
Princípio
da
proibição
do
recurso
à
força
Os
Estados
devem
solucionar
os
seus
conflitos
de
forma
pacífica
(também
consagrado
nos
arts.
2º
e
23º
da
Carta
das
Nações
Unidas).
1.1.
Autocomposição
dos
conflitos
internacionais
–
os
Estados
tentam
encontrar
um
ajuste
para
o
conflito,
muitas
vezes
alcançado
sob
influência
de
terceiros.
• Métodos
político-‐diplomáticos
1.2.
Heterocomposição
de
conflitos
internacionais
–
solução
é
decretada,
imposta,
por
um
terceiro
imparcial.
• Métodos
jurisdicionais
O
terceiro
imparcial
pode
ser
um
tribunal
internacional:
• Permanente
–
solução
jurisdicional
• De
constituição
ad
hoc
–
solução
arbitral
(o
tribunal
é
criado
especialmente
para
a
resolução
do
litígio)
1.1.
Métodos
político-‐diplomáticos
Os
métodos
político-‐diplomáticos
tendem
a
ser
privilegiados,
visto
não
atentarem
contra
o
princípio
da
soberania
estadual.
Métodos:
• Negociação
–
não
há
intervenção
de
terceiros.
• Com
intervenção
de
terceiros
o Bons
ofícios
o Mediação
o Inquérito
o Conciliação
Exemplos
de
terceiros:
• Estado
• Órgão
de
organização
internacional
• Personalidade
internacional
reconhecida
• Chefe
de
Estado
• Etc.
1.1.1.
Negociação
–
tem
uma
origem
costumeira,
e
constitui
o
grau
mínimo
do
dever
de
resolução
de
conflitos.
Pode
ter
êxito
ou
fracassar.
Motivos
de
êxito:
• Cedência
de
ambas
partes
–
atinge-‐se
uma
solução
equilibrada.
• Cedência
de
uma
das
partes
–
uma
das
partes
abdica
totalmente
das
suas
pretensões.
1.1.2.
Bons
ofícios
e
mediação:
entre
os
bons
ofícios
e
a
mediação
existem
diferenças
teóricas,
que
tendem
a
diluir-‐se
na
prática.
Têm
ambos
natureza
consuetudinária
e
distinguem-‐se
exclusivamente
quanto
ao
grau
de
intervenção
de
terceiros.
• Bons
ofícios
–
o
papel
do
terceiro
limita-‐se
a
criar
as
condições
para
que
os
Estados
em
litígio
iniciem
conversações
para
resolução
dos
conflitos.
A
sua
intervenção
é
circunscrita
a
esse
momento.
• Mediação
–
o
terceiro
tem
um
papel
mais
activo,
pois
não
só
promove
o
encontro,
como
apresenta
também
propostas
concretas
para
a
resolução
do
litígio.
Esta
distinção
é
apenas
válida
teoricamente.
1.1.3.
Inquérito
–
não
tem
origem
consuetudinária,
como
tal
é
necessário
o
estabelecimento
de
um
acordo
internacional.
O
terceiro
é
um
órgão
colegial,
ou
seja,
constituído
por
várias
personalidades
(alheias
ao
conflito),
e
recebe
o
nome
de
“comissão
de
inquérito”.
A
comissão
vai
averiguar,
com
imparcialidade,
os
factos
que
originaram
o
conflito
internacional
em
causa
e
elabora
um
relatório,
depois
entregue
às
partes
em
litígio.
A
ideia
inicial
do
inquérito
era
o
congelamento
do
conflito
durante
o
tempo
de
elaboração
do
relatório
pela
comissão.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
1.1.4.
Conciliação
–
partilha
algumas
características
com
o
inquérito,
contudo
tem
um
âmbito
mais
alargado.
Também
é
necessário
o
estabelecimento
de
um
acordo,
e
nela
participa
uma
“comissão
de
conciliação”,
que
tem
uma
tarefa
similar
à
de
um
tribunal.
Fases
da
actuação
da
comissão:
• Averiguação
e
investigação
dos
factos
que
estão
por
detrás
dos
conflitos
(semelhante
à
comissão
de
investigação).
• Aplicação
do
DI
a
esses
factos.
Porque
é
que
este
método
não
é
classificado
como
jurisdicional?
Porque
a
actuação
da
comissão
culmina
com
a
apresentação
de
uma
proposta,
sem
força
vinculativa
obrigatória,
sendo
que
cabe
às
partes
em
conflito
a
resolução
do
conflito.
É
um
método
quase
jurisdicional.
1.2.
Métodos
jurisdicionais
As
métodos
jurisdicionais
culminam
com
uma
decisão
de
força
jurídica
obrigatória.
1.2.1.
Solução
jurisdicional
Como
se
intentam
as
acções
no
TIJ?
• Notificação
do
acordo
especial
–
em
casos
de
acordo
especial.
• Petição
escrita
dirigida
ao
escrivão
do
TIJ.
Fases
da
actuação
do
Tribunal:
• Fase
da
instrução
escrita
–
destina-‐se
à
produção
da
prova,
e
o
TIJ
pode
fazer
inspecções,
vistorias,
etc.
o Memórias
o Contra-‐memórias
o Réplicas
Nesta
fase
relevam
três
princípios:
o Princípio
da
igualdade
das
partes
o Princípio
do
contraditório
• Fase
oral
ou
dos
debates
orais
–
o
TIJ
ouve
os
representantes
dos
Estados
(advogados,
consultores
ou
agentes),
testemunhas
e
peritos.
• Fase
da
sentença
–
através
de
decisões
tomadas
por
maioria.
o Princípio
da
fundamentação
da
sentença
–
a
sentença
deve
ser
fundamentada,
devendo
estar
expostas
as
razões
e
os
motivos
para
a
decisão
do
tribunal.
o Princípio
da
publicidade
das
audiências.
A
eficácia
das
decisões
do
tribunal
circunscreve-‐se
ao
caso
concreto
e
às
partes,
não
vigorando
a
regra
dos
precedentes
–
não
está
vinculado
pelas
suas
decisões
anteriores.
Será
possível
recorrer
a
uma
decisão
proferida?
Em
regra,
a
resposta
é
negativa,
visto
que
este
tribunal
é
um
tribunal
de
última
instância
(e
também
de
primeira).
Situações
excepcionais:
(art.
61.º
Estatuto
do
TIJ
–
números
4
e
5:
número
4,
visto
que
o
pedido
de
apreciação
tem
de
ser
feito
no
prazo
de
6
meses
a
contar
da
descoberta
do
facto
novo;
e
número
5)
• Recurso
interpretativo
–
possibilidade
das
partes
solicitarem
ao
tribunal
uma
aclaração,
uma
interpretação
do
acórdão,
quando
este
é
dúbio.
• Possibilidade
de
reabertura
do
caso
com
base
na
descoberta
de
um
facto
novo,
de
natureza
decisiva
(facto
susceptível
de
alterar
o
sentido
da
decisão)
–
desde
que
o
desconhecimento
prévio
desta
causa
não
tenha
sido
negligente.
Ver
arts.
40.º
e
seguintes
do
Estatuto
do
TIJ.
Três
tipos
de
incidentes
processuais:
• Excepções
preliminares
• Medidas
provisórias
ou
conservatórias
• Intervenção
1.1.
Excepções
preliminares
–
incidentes
processuais
que
servem
para
o
Estado
demandado
contestar
a
competência
do
tribunal.
Será,
então,
preciso
resolver
este
problema
de
conflito.
É
o
próprio
tribunal
que
resolve
este
conflito,
sendo
o
juiz
da
sua
própria
competência,
devendo
decidir
acerca
da
sua
competência
no
início
do
seu
processo
(princípio
da
economia
processual).
Argumentos
do
Estado
demandado
para
contestar
a
competência
–
tipos
de
excepções
preliminares:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Ratione
personae
–
em
razão
da
pessoa
(neste
caso,
as
pessoas
serão
os
Estado).
o Quando
entende
que
o
Estado
demandante
não
tem
o
“locus
standi”
(o
direito
de
estar
em
juízo).
o Quando
entende
que
foi
violado
o
princípio
da
consensualidade
/
do
consentimento.
• Ratione
materiae
–
quando
o
objecto
do
litígio
não
é
jurídica
ou
de
carácter
internacional.
• Ratione
in
temporis
–
quando
a
causa
versa
factos
anteriores
à
declaração
de
aceitação
de
competência
do
tribunal,
ou
posteriores
ao
fim
do
prazo
da
aceitação
do
compromisso.
• Inadmissibilidade
do
indivíduo
por
falta
de
interesse
em
agir
–
quando
o
titular
material
já
não
tem
interesse
em
agir.
1.2.
Medidas
provisórias
ou
conservatórias
–
também
chamadas
medidas
cautelares,
medidas
de
urgência
ou
medidas
de
protecção
interina.
Os
procedimentos
cautelares
destinam-‐se
a
salvaguardar
a
utilidade
da
acção,
evitando
que
esta
seja
meramente
platónica
ou
inócua.
O
Estatuto
do
TIJ
não
especifica
quais
as
medidas
cautelares,
e
o
tribunal
só
as
decreta
na
iminência
de
um
dano
irreparável
ou
risco
sério
de
agravamento
de
um
conflito.
1.3.
Incidente
de
intervenção
–
um
Estado
pode
pedir
para
intervir
no
processo,
não
lhe
sendo
automaticamente
concedido
o
estatuto
de
parte.
Contudo,
também
esta
intervenção
de
terceiros
também
pode
ser
suscitada
pelo
tribunal.
1.2.2.
Solução
arbitral
Os
tribunais
arbitrais
são
de
constituição
ad
hoc.
Existem
também
os
tribunais
permanentes
de
arbitragem,
que
são
de
constituição
ad
hoc
mas
possuem
uma
constituição
permanente
de
juízes
árbitros,
aos
quais
os
países
podem
recorrer
para
a
resolução
dos
conflitos
dos
Estados.