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SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO


ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO

Michele Rodrigues dos Reis - Nº 21- Pelotão “A”


Paulo Sergio Vieira das Neves Júnior - Nº 22 - Pelotão “A”
Herbert Albert Obertopp - Nº 23 - Pelotão “A”
Pâmela Nascimento Chaves - Nº 24 - Pelotão “A”
Lucas Batista Taveiros Costa - Nº 30 - Pelotão “A”

A Atuação da Polícia Militar (Polícia de Segurança


e Ordem Pública) e a Promoção da Cidadania, no
Contexto do Estado Democrático de Direito

SÃO PAULO
2022
1. INTRODUÇÃO
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi decretado o atual Estado
Democrático de Direito, instituindo um amplo rol de direitos e garantias individuais ao
cidadão, prevendo ainda responsabilidades ao Estado e à sociedade. E a partir da
promulgação da Carta Magna, o Estado Brasileiro passa a ter um novo conceito de
cidadania, reconhecendo-se o sujeito como ser detentor de direitos e deveres.
Inicia-se assim, a restauração da democracia e do estado de direito no Brasil, e como
consequência a população indaga sobre a verdadeira função das instituições públicas neste
novo contexto, tais questionamentos provocaram mudanças drásticas nessas repartições,
principalmente na Polícia Militar (PM). Diante disso, as PMs que foram endurecidas no
período da ditatura, necessitaram fazer transformações em seus procedimentos operacionais,
visando garantir e efetivar direitos fundamentais dos cidadãos.
Primeiramente, a PM utilizava a força como instrumento de intervenção, de forma
negligente e imprudente, agindo de forma contraria a lei. Desta maneira, é impossível ter
um modelo de polícia, se não à baseada na garantia e efetivação dos direitos fundamentais
dos cidadãos e na interação com a comunidade. Preconizando uma polícia preventiva,
mediadora e negociadora, e que esteja preparada para uma eventual situação em que se faça
necessário o uso da força. Para isso é primordial investimentos na qualificação e
modernização de todas as polícias militares.
Para garantir a segurança e ordem pública a polícia deve compreender que sua
função é garantir os direitos em um ambiente de conflitos social, conforme descrito na
CF/88. E com intuito de assegurar os direitos individuais e coletivos ampliou-se o conceito
de Segurança Pública, atribuindo reponsabilidades àqueles que devem exercê-la.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo esclarecer o papel da Polícia
Militar, no que tange a Polícia de Segurança e Ordem Pública, e a promoção da cidadania no
contexto do Estado Democrático de Direto através da sua atuação. Para isso, ao longo do
texto será trabalhado o conceito de cidadania e de segurança pública para a atividade e
doutrina da policial militar, onde a polícia deve reconhecer o cidadão como um sujeito de
direitos e deveres, ressaltando que o cidadão também possui papel na preservação da ordem
pública.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1 CONCEITO DE CIDADANIA DE ACORDO COM A CARTA MAGNA
O conceito de cidadania evoluiu ao longo dos anos, antigamente estava associado
apenas ao direto do poder político (votar e ser votado), atualmente exerce um caráter
abrangente como exercício de direito e deveres que o sujeito possui. E neste contexto de
mobilização da sociedade pelo reconhecimento dos direitos sociais, que foi promulgada a
Constituição Cidadã.
Conforme descrito na Carta Magna, o estado democrático de direito deve assegurar o
exercício dos direitos individuais e sociais, estabelecendo a cidadania como um de seus
fundamentos conforme se observa em seu artigo 1º “A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a
cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; V – o pluralismo político.

Neste artigo, em seu parágrafo único institui a democracia participativa quando diz
que “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. Ademais, os direitos e garantias fundamentais
estão presentes em todo texto constitucional e destacado no Título II da CF/88. E define
formas de participação direta do cidadão na vida pública. Aprimorando a definição de
cidadania e democracia, influenciando na segurança pública, que está relacionada com a
cidadania e com os direitos humanos.

2.2 SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA

A ordem pública e segurança pública são conceitos atinentes à atividade


desenvolvida pela Polícia Militar, embora sejam conceitos correlatos no âmbito
institucional, tais definições não possuem o mesmo significado.
Primeiramente ao desmembrar a expressão ordem pública, tem-se a palavra “ordem”
e a palavra “pública”. A palavra ordem remete à ideia de regramento, lei, sequência de atos,
observância de preceitos e normas, ou seja, ausência de irregularidades, de distúrbios, de
conflitos; em segundo lugar sucede-se a palavra “pública”, que se relaciona com o que está
ao alcance de todos, sob o domínio geral, relativo a um povo, a uma sociedade. Portanto,
ordem pública pode ser entendida como um conjunto de regras que regem uma sociedade,
com o intuito de manter a harmonia nas relações sociais, assim como as relações entre
cidadãos e o Estado.
O Decreto federal n. 88.777, de 30 de setembro de 1983, que aprova o regulamento
para as polícias militares e corpos de bombeiros militares (R-200), apresenta o conceito de
ordem pública como:
Conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da
Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os
níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência
harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e
constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum
Segundo Lazzarini (2003), o conceito de ordem pública é a ausência de desordem e
apresenta três elementos em sua composição: a salubridade pública, a tranquilidade pública
e a segurança pública, sendo o último o principal elemento constitutivo da ordem pública.
Como visto anteriormente a segurança pública é um fragmento da ordem pública,
sem ela não há o que se falar em ordem pública, ela se revela peça fundamental na
construção da ordem pública, e a cada dia mais, mantém-se no protagonismo das discussões
políticas, que buscam a melhoria nas condições sociais da população, que anseia por viver
com a sensação de estar seguro no seu lar, no seu trabalho, onde quer que esteja.
A segurança pública é um direito fundamental que está esculpido na Constituição
Federal de 1988 (CF/88) em seu art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança...” (grifo nosso).
Além disso a CF/88, no Capítulo III “Da Segurança Pública” trata exclusivamente do
assunto, em seu art. 144:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (grifo
nosso)

Destarte, a segurança pública é um direito inerente a todos os brasileiros, e o Estado,


por meio dos órgãos subordinados, tem o dever de garantir tal direito, principalmente no
tange à aplicação de medidas preventivas, que visem a antecipação do cometimento de
delitos e nos casos de quebra da ordem, aplicar medidas repressivas para o seu
reestabelecimento. Nesta óptica, a Polícia Militar, que é o elo do Estado e dos cidadãos em
termos de segurança pública, tem como função precípua a polícia ostensiva e preservação da
ordem pública, deve sempre buscar o aprimoramento das técnicas e procedimentos e, o
atendimento fiel das leis, normas e regulamentos, a fim de bem servir o cidadão.

2.3 SISTEMA DEMOCRÁTICO DE DIREITO

2.4 ATUAÇÃO POLICIAL DENTRO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO


Partindo-se por princípio da instituição da segurança pública como um dever do Estado
através da CF/88 em seu Art. 144 e assegurando como um direito e responsabilidade de
todos os cidadãos protegidos constitucionalmente, entende-se como fundamento basilar o
pertencimento da instituição aos princípios constitucionais dentro da preservação da ordem
pública e se pressupõe a adoção dos valores do estado democrático de direito uma vez que
se atrela o dever das instituições policiais aos preceitos de uma Carta Magna. Outro fator
que vincula e institui normas para a adequação da atuação policial ao estado democrático é o
seu Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (RDPM), atribuindo não somente uma
deontologia de valores preconizados pela corporação, mas também deveres que disciplinam
e orientam o profissional de segurança pública para que não se viole os direitos do cidadão,
estando o militar regido por uma ética de trabalho sujeito às variadas sanções que implicam
em seu bom condicionamento e atuação.

2.5 CIDADANIA E SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA NA DOUTRINA DE


POLÍCIA MILITAR
O Estado de São Paulo possui, hoje, uma população estimada de mais de 46 milhões de
habitantes que estão espalhados pelos 645 Municípios que são vigiados diuturnamente pela
PM que é composta por menos de 83 mil homens e mulheres.
Com base nestes dados, observa-se um desafio nos modelos de atuação pois manter seu
papel constitucional como mantenedora da ordem pública e garantir o livre exercício do
direito do cidadão exige não só planejamento, mas engajamento. Estreitar os laços com a
sociedade passou a ser estratégia institucional para a melhor atuação e cumprimento de seus
deveres, uma vez que a doutrina militar apregoa a aplicação do “poder de polícia” dentro da
égide do Direito Administrativo.
Levando-se em conta os objetivos estratégicos elencados pela PMESP para o triênio 2020-
2023 , o nº 4, a saber, Ampliar a aproximação da Polícia Militar com a sociedade, tem a
meta de estimular o senso de corresponsabilidade de todos pela preservação da ordem
pública, conforme cita, são utilizados para atingi-los, desde antes de sua criação, ações como
o Programa de Vizinhança Solidária (PVS), instituído (oficialmente) pela Lei Estadual
16.771 de 18 de junho de 2018.
A referida lei determina, em seu artigo 3º, que a PM implemente o programa, que
contará com a participação dos CONSEGS (Conselhos Comunitários de Segurança), os
quais contarão com militares e representantes da comunidade que manifestarem o interesse
em participar. Destarte, a Instituição paulista abrangeu as garantias dos direitos
fundamentais dos cidadãos, pois vem ampliando o alcance do Programa e por conseguinte as
atuações sociais na sua própria manutenção da democracia, bem como diminuiu os vieses
que as lacunas numéricas criaram ao longo dos anos, por conta da defasagem do efetivo.
O Comandante da Escola Superior de Sargentos, Sr. Coronel PM Temístocles Telmo
Ferreira Araújo, aborda em seu livro “Vizinhança Solidária – Instrumento de Prevenção
Social” (Editora Fátima Aparecida Kian. 1ª Edição, 2021) diversos conceitos, dentre eles a
prevenção primária como ferramenta de prevenção social, sob a filosofia de que o caminho
para a prevenção é a informação. O citado PVS, também largamente difundido na obra em
questão, vem de encontro com estes ensinamentos pois mobiliza as lideranças comunitárias
trazendo conteúdo que permitirão, a exemplo, proteção individual diante das ameaças
urbanas.
O direito à cidadania traz responsabilidades, quer passem por um dever institucional, quer
abarquem atenção social, seu livre exercício exige que as garantias e direitos estejam
assegurados, por essa razão polícia e sociedade devem caminhar juntas, valendo-se de ações
conjuntas para a conservação de uma sociedade livre e segura.

3. CONCLUSÃO
Conclui-se que as garantias da CF/88 em relação aos direitos civis, políticos e sociais se
traduziram em importante avanço para democracia do Brasil. E conforme descrito ao longo
do trabalho estabeleceu-se um novo conceito de cidadania, onde além dos direitos políticos,
tem-se os direitos fundamentais e deveres para com o Estado.
Conforme preconiza o Art. 136 da CF/88 “A segurança pública, dever do Estado e
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Assim, o Estado tem como função proteger os
direitos do cidadão. E visando à preservação da ordem pública, a segurança demanda a
participação ativa da sociedade, ou seja, exercício da cidadania.
Deduz-se que para um eficiente exercício da cidadania e da segurança pública, ambas
devem trabalhar em conjunto, pois para existir a primeira é necessário condições de paz
provenientes do exercício da segunda, com participação de todos, de forma organizada, na
formulação de projetos e políticas públicas.
Desta forma, salienta-se que a PM para garantir à promoção dos direitos do cidadão no
contexto da democracia, deve preconizar: admitir o cidadão conforme descrito na carta
magna, devendo respeitar seus direitos e deveres durante a abordagem; o cidadão deve ter
participação na segurança pública, cabendo à PM controlar a participação do cidadão de
acordo com a legalidade; e o policial deve ter consciência que também é um cidadão, para
assim compreender e respeitar a condição de cidadania de todos.
Para finalizar, destaca-se que a sociedade e as instituições policiais militares devem
trabalhar unidas (polícia-comunitária) e assim determinar os valores para um eficiente
exercício da cidadania, da democracia e dos direitos humanos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Biografia, 2017.

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Acesso em: 5 fev. 2022.

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