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CARUARU
2012
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CARUARU
2012
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Catalogação na fonte -
Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE
P918p Praun, Mariana Feitoza.
Um passado sempre presente ou enquanto espero, vivo: um
álbum sobre as memórias fotográficas da velhice. / Mariana
Feitoza Praun. – Caruaru: FAVIP, 2012.
44 f.: il
Orientador(a) : Camila Leite.
Trabalho de Conclusão de Curso (Jornalismo) -- Faculdade do
Vale do Ipojuca.
Inclui apêndice.
Aprovado em:
________________________
Orientador
________________________
Avaliador(a)
_________________________
Avaliador(a)
CARUARU
2012
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Dedicatória
Dedico este trabalho, primeiramente, ao meu pai Rossini e à minha avó Maria
Alice, pela confiança que sempre depositaram em mim e por todas as oportunidades que
me deram de concretizar mais uma caminhada da minha vida. Sei que nunca mediram
esforços para que esta conquista se realizasse, e sem a compreensão, a ajuda financeira e a
confiança deles, nada disso seria possível. A eles, além da dedicatória desta conquista,
dedico a minha vida.
Dedico este trabalho também à memória do meu segundo pai e avô Ivan, que
infelizmente não pode estar de corpo presente neste momento, mas que não poderia deixar
de ser lembrado e homenageado, já que tanto devo a seus ensinamentos e valores passados.
Obrigada por tudo! Saudades eternas dos momentos que passamos quando eu era pequena
e cuidávamos juntos do meu hamster.
Ao meu noivo Orlair, que em muitos finais de semana me proporcionou seu carinho
e sorriso tão lindo, ajudando-me a sentir menos ansiosa e aliviando minhas angústias. Pela
paciência, compreensão e ombro amigo que muitas vezes enchi de lágrimas. Por todas as
vezes que você me ajudou a encontrar as soluções quando estas pareciam não improváveis.
Você é a pessoa que compartilha comigo os momentos de tristezas e alegrias. Além deste
trabalho, dedico todo meu amor a você.
A minha família mais próxima, dedico este trabalho e todo meu carinho. E, é claro,
a minha mãe Jacqueline, que me deu a vida, e que apesar da distancia sempre me ajudou
com suas palavras, confiança e paciência, já que em muitos finais de semana não pude vê-
la para me dedicar a este trabalho. Te amo, mamãe!
Dedico, em especial, este trabalho aos idosos da Casa dos Pobres São Francisco de
Assis por tudo que aprendi com eles, por suas memórias e a força com a qual superam as
duras superações da vida.
A estes dedico meu trabalho, sem a ajuda, confiança e compreensão, todo este meu
trabalho não teria se realizado. Vocês são tudo pra mim! Muito Obrigada por tudo!
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Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, a Deus, não só por esse trabalho, mas por toda a minha
vida. Sem a convicção de seu amor e proteção enfrentar muitas das dificuldades que
encontrei durante minha vida teria sido muito mais difícil.
Aos profissionais da Casa dos Pobres que tão bem me receberam, por terem
permitido o desenvolvimento do projeto e principalmente pelo acolhimento, cuidado e
paciência que eles dedicam aos idosos.
E a cada um dos idosos que tive o prazer de conhecer no Instituto. Por terem aberto
suas memórias, suas vidas, suas dores e reflexões a mim e a todos que tiverem contato com
essa pesquisa.
A minha orientadora Camila, por exigir de mim muito mais do que eu supunha ser
capaz de fazer. Agradeço por transmitir seus conhecimentos, por fazer do meu trabalho
uma experiência positiva e por ter confiado em mim. Ela sempre esteve ao meu lado me
orientando e dizendo “não desista agora!”. Por ter dedicado parte do seu tempo a mim.
Aqui é muito pequeno para agradecer tamanho afeto. Muito Obrigada por tudo, pela
paciência, pela amizade e pelos ensinamentos que levarei para sempre.
Não poderia deixar de mencionar alguns amigos de trabalho que me apoiaram e
estiveram ao meu lado durante esta longa caminhada. Em especial, menciono Águeda e
Vera, amigas fundamentais em minha vida, com as quais compartilhei momentos de
tristezas, alegrias, angústias e ansiedades, mas que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando e me ajudando. Sem vocês o que seria dos meus textos?
“Algumas pessoas marcam a nossa vida para sempre, umas porque nos vão ajudando na
construção, outras porque nos apresentam projetos de sonho e outras ainda porque nos
desafiam a construí-los”. Autor desconhecido.
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“Nosso amor pela pessoa velha não deve ser uma opressão, uma tirania a inventar cuidados
chocantes, temores que machucam. Façam o que bem entendam, cometam imprudências,
desobedeçam conselhos. Libertemos os velhos de nossa fatigante bondade” Paulo Mendes
Campos, 1922, p.24.
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Resumo
Abstract
This research aims to discuss photography as an instrument of personal memories and re-
signification of identity. Therefore, this research found in “Casa dos Pobres São Francisco
de Assis”, in the city of Caruaru, a place to discuss the importance of the image as memory
and forgetting issues.
We propose a study about the private photographs with the intention of verifying the
memories of the elderly who suffer the separation of the family and marriages and how
these images re-signify in time as reflecting about the past allow us to experience it in a
different way.
The concepts that were developed in this research relate to the memory of a past, family
separation, but also to identity, the present record of daily life and about the experience the
elderly chose to save in a photograph and experience this action.
It is intended that the essence of these photo essays go beyond the geographical limits of
the Academy and be used as a file memory imagery of “Casa dos Pobres São Francisco de
Assis”. We propose to build an album which tell part of the story of some people who live
there.
In an effort to provide a methodological tool to think about the memory of the older
people, part of this research is supported by verbal research (derived from interviews) and
visual research (from the photographs on their past). These two communication supports
allowed us to access the life and memory of the elderly.
SUMÁRIO
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1.Introdução.................................................................................................................p.12
2. Justificativa..............................................................................................................p.13
2.1 A Velhice................................................................................................................p.15
3. Objetivos...................................................................................................................p.21
4. Público Alvo.............................................................................................................p.22
6. Produtos Jornalísticos...............................................................................................p.25
7. Cronograma..............................................................................................................p.41
8. Recursos...................................................................................................................p.42
11
9. Conclusão.................................................................................................................p.43
10. Referências.............................................................................................................p.44
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1.Introdução
Quem visita a Casa dos Pobres São Francisco de Assis, na cidade de Caruaru,
depara-se com reflexões relativas à passagem do tempo, ao esquecimento e certo
distanciamento com o passado e com o núcleo familiar enfrentados pelos idosos que lá
residem. Neste sentido, é comum a comoção frente a tantas histórias pessoais guardadas,
evocadas ou sufocadas.
O propósito central desta pesquisa é oferecer uma reflexão sobre a memória pessoal
e propor um espaço para tais reflexões no meio acadêmico. Nesse sentido, teremos como
polo de acesso a tais informações a partir de suportes verbais e visuais. Estes instrumentos
da comunicação permitem o acesso às reflexões e informações necessárias para o
desenvolvimento de dois momentos marcantes desta pesquisa: um centrado sobre o que as
fotografias guardam do passado, do que foi vivido e do que se guarda dessas experiências
vividas; e do presente que se escolhe registrar e lembrar em um futuro.
O tempo que os participantes se encontram separados de suas famílias constitui
uma importante variável com o intuito de averiguar se há uma variação significativa
quanto à percepção de mudança ao longo do tempo.
Durante as entrevistas tentamos verificar como os idosos do asilo se relacionam
com suas famílias e com objetos do passado, em especial a visualidade e a verbalidade a
respeito desse passado, bem como as expectativas que possuem em relação à vida na
Instituição, os amigos e funcionários agora sempre presentes em seus cotidianos.
No primeiro eixo dessa pesquisa, partimos de entrevistas com seis idosos da Casa
em torno de duas perguntas norteadoras: “Quais fotografias você tem ou já teve?”,
avaliando o visual como elo da memória e de histórias de vidas. A partir dessa pergunta
temos acesso a essas imagens (materiais ou não) que despertam o trabalho da memória,
como uma espécie de percurso visual a partir do qual os idosos relembram suas
experiências vividas e suas histórias pessoais. O primeiro ensaio desse estudo objetiva
retratar tais momentos, as emoções, dores e indiferenças frente às memórias suscitadas,
passado que é recriado a cada relembrar.
O segundo momento, de forma inversa da questão a qual nos propomos no primeiro
ensaio, visa construir novos registros fotográficos a partir de reflexões a respeito dos
momentos em que os idosos gostariam de registrar, pistas visuais sobre seus novos amores,
amigos, dificuldades, aprendizados, solidões e etc. Esse ensaio foi resultado de outra
pergunta central: “dos momentos que hoje você vive no seu cotidiano, quais situações e
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2. Justificativa
2.1 Velhice:
pouco discutia. Simone de Beauvoir (1990), na tentativa de romper o silêncio que envolve
esse período da vida que um dia todos nós viveremos, quer dizer, todos os que viverem o
suficiente para tal, faz uma reflexão sobre como a sociedade ocidental trata os idosos como
“párias”, condenando-os à miséria, à solidão e ao esquecimento.
Segundo Beauvoir (1990), o desinteresse e o desprezo às necessidades e bem estar
dos idosos faz parte de uma construção social que autoriza seus cidadãos mais jovens e
adultos ao desinteresse em relação às felicidades e cuidados dos velhos. Sendo, portanto,
reflexo da forma como as relações são construídas nas sociedades capitalistas, em que cada
pessoa é vista como aquilo que ela tem e aquilo que ela pode oferecer em troca. Ou seja,
nos relacionamos de forma a priorizar sempre nossos desejos e aquilo que podemos ganhar
aos nos relacionarmos com alguém. Nesse sentido, as relações que os jovens traçam com
idosos, mesmo que respeitosa, é cercada por um sentimento de que estes são seres
inferiores que não compreendem a vida e as relações da atualidade e que os sobrecarregam
de obrigações.
Elzimar Guimarães (2007) afirma que todos da sociedade têm direitos e deveres de
algo, mas que quando esse discurso parece contrariado pelas informações fornecidas por
economistas e legisladores quando estes falam dos idosos. E que a sociedade ainda não
criou um meio de fazer valer os direitos dos idosos, de os permitirem ser ativos e
produtivos.
Para a autora, tal situação é reflexo do fato de que os sujeitos em sua incessante
busca pela juventude não enxergam com nitidez o suficiente o futuro que os aguardam. E
que se essa conscientização fosse feita, os adultos de hoje lutariam e construiriam algo
melhor para os idosos de amanhã.
Nesse sentido, ficar velho é uma das mais difíceis etapas da vida das pessoas, já
que estas não se preparam para verem seus próprios corpos envelhecidos. Mas, além de
rugas, existe uma história de vida e resultados com os quais os velhos deveriam podem
contar, através de suas experiências.
A partir do estudo de Marcelo Antonio Salgado em “Velhice, uma nova questão
social” ao inverso das sociedades ocidentais contemporâneas, na Na Terra do Fogo, de
modo geral, a velhice era considera digna, de modo que os mais jovens respeitavam aos
mais velhos devido aos seus conhecimentos e experiências, e que estes chegavam a ter suas
posições cobiçadas. Por outro lado, em tribos esquimós, quando os idosos chegavam a um
período em que não mais pudessem suprir suas próprias necessidades, eles eram
culturalmente motivados a se suicidarem. Em certos grupos japoneses, os idosos eram
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sacrificados ao serem levados para lugares distantes para esperar pela morte. (BRUNO,
2003).
Elzimar Guimarães (2007) acredita que quando uma pessoa diz que tem sessenta
com mentalidade de vinte, quer dizer que está pronta para diversas coisas na sociedade sem
se limitar a nada por ser idosa, ou seja, partindo de tal afirmação e disposição esses sujeitos
deveriam ser aproveitados em projetos, que dispensem as limitações físicas, mas que os
permitem usar seus conhecimentos e experiências. Sendo grande parte da tristeza com a
qual eles convivem é pelo fato de serem abandonados à margem da sociedade, de não se
sentirem úteis e de serem subjugados socialmente.
Assim, o problema da velhice é uma questão cultural e caso essa linha de
pensamentos estiver certa, a representação que velhice tem no imaginário ocidental só vai
mudar a partir de um esforço político e social. Segundo Annateresa Fabris (2011), hoje
vivemos um poder político que mudou de natureza, que declarou sua impotência diante dos
mercados e que esta transformou a democracia e um procedimento estético enraizado e
mediado pelos meios de comunicação de massa. Assim, para a autora, na contramão dessa
tendência, o artista contemporâneo deve reaproxima-se das vertentes modernas que
pregavam a integração da arte com a vida.
Segundo Guimarães (2007), o homem existe partir de suas realizações,
profissionais e pessoais, elas lhe dão sentido à vida, mantendo-o motivado para usufruí-las.
O problema que mais agride aos idosos é a solidão e principalmente se o cônjuge ou
pessoas muito próximas a eles morrerem. Com isso, a preocupação e a sensibilidade ao
perigo podem causar depressão, o que afeta ainda mais o quadro de sentimento de solidão.
Nesse sentido, essa luta deve ser travada em nível individual, pessoal e a partir de uma
organização social e coletiva.
Mirian Goldenberg (2011), diz por meio de entrevistas e estudos que as mulheres
brasileiras que estão envelhecendo estão felizes por conquistar a profissão, a
independência, e a condição financeira, mas que o que mais as preocupam é o excesso de
peso, a vergonha em relação aos seus corpos e o medo da solidão. Em sua pesquisa, a
autora constata que esse é um problema social ao entrevistar mulheres alemãs, que por sua
vez se percebem mais seguras ao dizer que aos 60 anos se sentem no auge de suas vidas
produtivas, enfatizam em suas respostas as riquezas dessa fase da vida, não demonstram
haver preocupações relacionadas às preocupações das brasileiras, mas com viagens e
programas culturais. Conclui, assim, que a possibilidade de envelhecer de maneira bem
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3. Objetivos:
4. Público Alvo:
-Local: O estudo foi realizado em uma instituição asilar de longa permanência situada na
cidade de Caruaru, a Casa dos Pobres São Francisco de Assis. A instituição filantrópica foi
criada em 10 de março de 1948 e é mantida pelo Governo do Estado de Pernambuco. A
Casa dos Pobres São Francisco de Assis recebe pessoas a partir dos 65 anos de idade.
Mantendo uma média de 95 internados, estes permanecem na Instituição de forma integral,
mas podem sair acompanhados pela família a qualquer dia desde que retornem até as 19
horas. Na Instituição os idosos realizam inúmeras atividades como fisioterapia, aulas de
desenho, oficinas de artesanato e a integração social por meio de alguns jogos, como
dominó e jogos de baralhos.
O espaço físico da Instituição consiste em quatro partes: a capela, onde são
realizadas as missas nas quartas-feiras e cujo terraço é espaço para os velórios dos idosos
que falecem e não tem mais família; as salas de coordenação, da assistente social, do
diretor do asilo e a farmácia; o bloco dos quartos, dispostos um ao lado do outro, perto de
um pequeno jardim; e a quarta parte é uma sala grande de socialização dos idosos na qual
acontecem as visitas de colégios, igrejas, etc., e na qual encontramos sofás e cadeiras de
balanço.
-Período: Agosto – Novembro de 2012.
-População: O estudo foi feito com idosos de ambos os sexos que permaneciam na
instituição escolhida. Como critério de inclusão os idosos deveriam ser capazes de manter
comunicação verbal e demonstrar capacidade de memória suficiente para responder as
questões norteadoras.
- Procedimento de coleta de dados: O material foi coletado a partir de encontros com os
idosos. Inicialmente se apresentava ao idoso, explicando a idéia do projeto e perguntando
se eles aceitavam colaborar com exposição de suas fotografias. Os encontros se davam em
torno de duas perguntas norteadoras: “Quais fotografias você tem ou já teve que foram
importantes para você?”; “Que fotografias você gostaria de ter da sua vida de hoje para
guardar de lembrança?”.
6. Produtos Jornalísticos:
Este ensaio consiste em 30 fotografias em preto e branco que foram feitas durante a
entrevista com seis idosos da Casa dos Pobres São Francisco de Assis no momento em que
estes refletiam e respondiam a primeira pergunta da entrevista e que motivo este ensaio:
“Quais fotografias você tem ou já teve?”.
Muitos dos entrevistados já não carregavam seus álbuns e fotografias de seus
passados por acharem que não valia mais apenas andar com tais preciosidades ou por terem
perdido-os em suas mudanças, outros, ainda, nunca tiveram fotografias. Mas, de uma
forma ou de outra, todos convivem com imagens de seus passados, imagens da memória e
do coração, lembranças que deixaram marcas em suas reflexões e corpos.
O fator determinante para esse ensaio foi a intenção de preservar esses vestígios e
marcas do tempo, recortes de um passado sempre presente que a cada relembrar se
transforma e se modifica, fazendo com que muitas vezes não saibamos mais se essas
imagens estão na perspectiva do ontem ou do hoje. Nesse sentido, o preto e branco parece
ajudar a percorrer esses “traços”, “marcas” e “manchas” daquilo que já foi, mas que ainda
está tão presente em seus corpos, pensamentos e falas. O enquadramento foi pensado na
tentativa de ressaltar ao acesso dessas memórias, que nunca nos dão a uma compreensão
clara ou total, mas em fragmentos.
Dona Elvira perdeu os pais muito cedo, e desde então foi trabalhar “em casa de
família”. Lá ficou muito tempo, cuidava da comida, da limpeza da casa e, especialmente,
das crianças. Passaram-se os anos e as crianças cresceram.
Interrompida a história sobre família a qual trabalhava e questionada sobre sua
própria família. Ela responde que sua família são seus seis irmãos, já que nunca casou ou
teve seus próprios filhos. Será que ela tem alguma imagem de sua família? Ela responde
que as fotos que teve ficaram com seus irmãos, e que estas se perderam, já que não tem
mais contato com eles, e que nem mesmo sabe onde estão.
Sra. Elvira não apresenta nenhuma imagem mental sobre seus irmãos ou a respeito
dessas fotografias. Então, volta às lembranças sobre a família para a qual trabalhou,
percebe-se, assim, que essas são as imagens de família que ela carrega em suas memórias.
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Nas imagens que Sra. Elvira guarda de sua vida, percebe-se um álbum de família.
Uma família da qual também fazia parte. Assim, quando uma das crianças cresceu e se
casou, ela foi junto. Cuidou da casa dele e de seus filhos.
Sra. Luzinete, não sabe sua própria idade, mas sabe que há dois meses mora no
asilo. Diz lá encontrar pessoas que a escutam, que lhe dão atenção e carinho.
Antes de vir para a Casa dos Pobres São Francisco de Assis teve um derrame e foi
morar com a filha. Sua vida que nunca foi fácil complicou ainda mais. Dona Luzinete se
sentiu mal tratada pelos netos e genro. Foi, então, morar com a irmã, com quem deixou
suas fotos, mas que apesar disso não se lembrava de nenhuma imagem, fixa ou não, de
algum momento bom da vida para se relembrar.
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Seu passado foi difícil, marcado por muitos esforços e trabalhos. O único
detalhamento sobre esse passado se evidenciou quando afirmou que não teve muito estudo
e que trabalhou de garçonete em um bar.
Dona Helena é conhecida por ser uma senhora simpática e bastante esquecida. Será
que é esquecida porque sabe que tem como se lembrar? Que o acesso ao passado, aos
rostos de alguns de seus queridos estão guardados nas fotografias que carrega consigo?
Das imagens de seu passado, possui uma 3X4 de seu falecido marido, com quem se
casou aos dezenove anos. Ele que era doze anos mais velho do que ela, é descrito como um
homem forte, alto, porém muito rude, vindo da zona rural.
Uma fotografia chama atenção: é uma imagem que guarda um pedaço da visão da
juventude de Dona Helena. Ela aparece em pé, vestindo um vestido branco com bolinhas
azuis, na casa onde morava quando casada. Seu corpo, ainda com trinta e cinco anos, ao
lado da filha, que por motivos de brigas pessoais entre as duas, Dona Helena prefere não
mencionar o nome. Entretanto, o que o que mais chama a atenção nessa imagem é que esta
parece representar mais uma relação de amigas ou de irmãs do que mãe e filha. Que
momento foi esse? Que lembranças essa imagem permite? Ela fita a imagem e se cala.
Apenas diz que aquela era a casa de seu marido, onde criou seus filhos. Continua
falando da doença de seu marido, que ele sofreu com muitas dores de cabeça quando
chegou a falecer.
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quando foi para São Paulo pela primeira vez, mas que “estava feio, já estava velho, com
trinta anos”.
Nesse ensaio, todo em cor, foram produzidas 36 fotos que se centram na construção
de um álbum que busca retratar o presente dos seis idosos entrevistados na Instituição Casa
dos Pobres São Francisco de Assim.
A partir da pergunta norteadora “Que fotografias você gostaria de ter da sua vida de
hoje para guardar de lembrança”, foram selecionados alguns momentos escolhidos por eles
para retratar seus cotidianos, as atividades institucionais e os novos laços afetivos que
atualmente estabelecem na Casa dos Pobres São Francisco de Assis. Muitos alguns
momentos escolhidos não aconteceriam em suas vidas, pelo menos no momento em que
estes foram pronunciados. Para estes momentos desejados ora optamos por ficcionalizá-los
e ora registramos o momento em que tais desejos foram pronunciados.
Os anos continuaram passando, mas Sra. Elvira não foi a única que envelheceu. Seus
patrões, já idosos não puderam cuidar dela e a levaram para o asilo. Ela diz gostar de viver
no asilo, e dos momentos que mais gosta, e que gostaria de registrar são os dias de quarta-
feira, o dia da missa. Mas, que apesar de sua vida ter se acostumar com o lugar, já que tem
certeza que seu patrão ainda virá buscá-la.
Perguntei por que ela gosta da missa. Ela respondeu que sua religião é catolicismo,
desde pequena e que lá reza por seus queridos, principalmente pelo ex-patrão.
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A respeito da nova vida que diz adorar, Dona Luzinete não soube dizer algum
momento especial que gostaria de registrar, mas que gosta muito das seções de fisioterapia
e que o jardim interno seria um bom local para representar o novo estágio de sua vida.
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Suas fotografias foi o que sobrou de seu passado. As fotos e alguns móveis, que
vendeu para juntar dinheiro e fugir para o asilo. Foi o que sobrou depois da repartição de
seus bens entre suas sobrinhas, que cuidaram dela quando foi internada no hospital por 2
meses. Depois de 3 anos hospedada na casa de alguns parentes, Dona Helena voltou para
casa e percebeu que a maioria de seus objetos pessoais foram levados, já que seus vizinhos
e suas sobrinhas pensaram que ela iria falecer. Ela se sentiu roubada e decidiu vender o
pouco que sobrou e fugir.
Apesar de suas irmãs não a procurarem, pois sentem vergonha dela optar por viver
na Casa dos Pobres São Francisco de Assis, Dona Helena diz ter encontrado paz no asilo.
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Sr. José Bezerra carrega consigo apenas imagens em seu coração que marcam
instantes, “clichês” que marcam uma vida á dois. Mas um dia, seis anos atrás suas vidas se
foram. José Bezerra se viu viúvo. No dia seguinte ao enterro de sua esposa, seu único filho
o levou para o Asilo Casa dos Pobres São Francisco de Assis, já que não havia mais
ninguém que pudes\se cuidar dele. “Me enterram vivo aqui”, afirmou ele ao deixar claro
seu desgosto pelo rumo que sua vida tomou. O passeio com a família aos fins de semana
iluminam os seus dias e horas que passa na “Casa dos Pobres” momentos que segundo ele
não valem a pena registrar. Como o momento mais feliz de sua semana é quando ele se
arruma para esperar o filho buscá-lo para passear, optou por esses momentos de espera e de
expectativas para registrar.
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Quando questionado sobre qual momento de sua vida no Instituto ele gostaria de
registrar em uma foto, ele respondeu que a foto que ele mais gostaria de hoje poder fazer
seria de uma dele indo embora, “dando tchau para o asilo”. Optou-se, então, por registrar o
momento em que esse desejo foi pronunciado, suas feições, suas falas, suas esperanças e
desesperanças.
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Ao ser questionado a respeito sobre as boas imagens do seu presente no asilo, Sr.
Severino não soube dizer se gostaria de registrar fotograficamente alguma atividade que
realiza por lá, nenhuma experiência e nenhuma das pessoas que hoje fazem parte do seu
cotidiano. Só pediu que eu voltasse lá para conversar com eles outras vezes.
Falou então, que uma despedida da vida que lá teve seria um bom momento para
se registrar. Para realizar esse ensaio, Sr. Severino se propôs a viver um momento
ficcional: seu ultimo dia no asilo. Se vestiu com uma roupa especial para ir embora e
escolheu o caminho gostaria de percorrer pela última vez.
40
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7. Cronograma:
8. Recursos:
9. Conclusão:
Por meio deste trabalho tivemos a oportunidade de conhecer melhor seis moradores
do Instituto Casa dos Pobres São Francisco de Assis, suas angústias, marcas, memórias e
solidões. Conhecemos um pouco, também sobre a realidade da expectativa de vida e laser
deles com o intuito de provocar reflexões a cerca do idoso e da memória pessoal na
contemporaneidade.
Por meio dos ensaios objetivamos expor suas memórias passadas, suas marcas e
seus traços físicos provocados pelo fluir do tempo. Evidenciando seus corpos, seus
cotidianos e uma parte de suas nostalgias.
Através da construção do corpus fotográfico e teórico aqui traçado, tivemos como
resultado dois ensaios documentais denominados “Um passado sempre presente” e
“Enquanto espero, vivo”, na tentativa de produzir imagens que provocassem reflexões
sobre o passado e o presente que se escolhemos registrar e lembrar em um futuro.
Constatou-se que as imagens fotográficas são instrumento de recordações e janelas
de um acesso ao passado, imagens que alimentam as memórias pessoais e coletivas e que,
de certa forma, permitem que pela visualização ou nostalgia do passado se viva o presente.
Sendo assim, a fotografia alimenta uma dor, saudade de um tempo vivido, assim como, um
reconforto de poder reencontrar esse tempo que se foi. Permite, também, expressar
subjetivamente impressões de uma realidade e a ficcionalização desse passado.
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11. Referências:
GUIMARÃES, Elzimar. Reflexão sobre a velhice. In: CES Revista, v.21, Juiz de Fora,
2007.