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Universidade Federal do Oeste do Pará

Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas


Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS BEBEDOUROS DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ – UFOPA, SANTARÉM- PARÁ,
BRASIL

JÉSSICA SABRINA MENDES COSTA


NATÁLIA PEREIRA DOS REIS VIANA

Santarém – Pará
2018
JÉSSICA SABRINA MENDES COSTA
NATÁLIA PEREIRA DOS REIS VIANA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS BEBEDOUROS DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ – UFOPA, SANTARÉM- PARÁ,
BRASIL

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso


Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia das Águas, da Universidade Federal
do Oeste do Pará, para obtenção do título de
Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
das Águas.

Área de Concentração:
Qualidade da Água

Orientador:
Prof. M. Sc. Manoel B. dos Santos Filho

Santarém – Pará
2018
FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome dos autores: COSTA, Jéssica Sabrina Mendes e VIANA, Natália Pereira
dos Reis.
Título: Avaliação da qualidade da água dos bebedouros da Universidade
Federal do Oeste do Pará – UFOPA, Santarém- Pará, Brasil.

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso


Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia das Águas, da Universidade Federal
do Oeste do Pará, para obtenção do título de
Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
das Águas.

Data de Aprovação: ___/___/_____

Banca Examinadora

_____________________________________________Orientador e Presidente
Prof. M. Sc. Manoel Bentes dos Santos Filho
Curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas/Universidade Federal do
Oeste do Pará

______________________________________________Membro Titular
Profa. Dra Sâmia Rubielle Silva de Castro
Curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas/Universidade Federal do
Oeste do Pará

______________________________________________Membro Titular
Profa. M. Sc. Wildes Cley da Silva Diniz
Curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas/Universidade Federal do
Oeste do Pará
Dedicamos este trabalho aos
nossos pais, Leda Mendes e Jones
Castro; Elda Viana e Natanael
Viana, que com todo amor, apoio e
incentivo, não mediram esforços
para qυе chegássemos até esta
etapa das nossas vidas.
AGRADECIMENTO

Primeiramente à Deus por permitir que tudo isso acontecesse, por ter nos concedido
saúde, força, paciência e disposição para chegarmos até aqui.
Às nossas mães, Leda Mendes e Elda Viana, pelo amor, apoio incondicional e
incentivo nas horas mais difíceis de desânimo e cansaço.
Aos nossos pais, Jones Castro e Natanael Viana, que sempre foram fonte de
inspiração, de força e por todo o esforço que fazem para que possamos alcançar
nossos objetivos.
Ao nosso orientador, Prof. Me. Manoel Bentes, pela amizade e empenho dedicado a
elaboração deste trabalho.
Ao professor Dr. Ruy Bessa, pela disponibilização do laboratório de Química
Ambiental.
A todos os professores do curso, que foram tão importantes na nossa vida
acadêmica e no desenvolvimento desse trabalho.
À Universidade Federal do Oeste do Pará, pois foi onde aprendemos a refletir,
duvidar, questionar e nunca encarar a realidade como pronta.
À nossa família, em especial nossos irmãos, Lucas e Naiara, por sempre
acreditarem no nosso potencial e por todo apoio ao longo de nossas vidas.
Aos nossos amigos, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhadas.
À Bárbara Rafaela, pela amizade, incentivo e apoio durante toda essa jornada.
Ao Gabriel Eleres, pelo apoio, companheirismo, paciência e pela ajuda com a
realização das coletas.
À Elba Reis e Alba Reis pelo suporte e prestatividade.
À Andresa Santos por todo apoio, paciência e companheirismo durante todos esses
meses de muito trabalho.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, o nosso muito
obrigado.
A água de boa qualidade é como a
saúde ou a liberdade: só tem valor,
quando acaba.
Guimarães Rosa
RESUMO

COSTA, Jéssica Sabrina Mendes; VIANA, Natália Pereira dos Reis. Avaliação da


qualidade da água dos bebedouros da Universidade Federal do Oeste do Pará
– UFOPA, Santarém - Pará, Brasil. 2018. 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Qualidade da água) - Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia das
Águas, Universidade Federal do Oeste do Pará.

A água é uma das substâncias fundamentais à vida, pois é indispensável ao


metabolismo humano e animal. No entanto, quando poluída ou contaminada
por agentes químico-biológicos, torna-se prejudicial, podendo provocar
doenças. Alterações negativas podem ocorrer na captação, no armazenamento
inapropriado, e/ou distribuição. Os bebedouros são fontes potenciais de
contaminação, pois são utilizados por muitas pessoas com hábitos de higiene
desconhecidos. Nesse contexto, evidencia-se a importância de se analisar a
qualidade da água para consumo humano. Sendo assim, este trabalho teve
como finalidade avaliar a qualidade da água dos bebedouros da Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA) quanto à parâmetros físico-químicos e
bacteriológicos e verificar se a qualidade dessa água está de acordo com os
padrões estabelecidos pela Legislação Brasileira, por meio da portaria nº
2914/2011 do Ministério da Saúde. Os parâmetros físico-químicos temperatura
e pH, foram obtidos através da leitura direta no pHmetro modelo pH221 e para
indicador microbiológico realizou-se testes para Coliformes Totais e
Termotolerantes por meio do kit microbiológico COLIPAPER. Os valores de pH
encontrados variaram de 5.0 a 5.46. O padrão de potabilidade da Legislação
Brasileira agrega valores entre 6 e 9.5. O parâmetro pH, portanto, apresentou-
se em desconformidade com os limites aceitáveis. As análises microbiológicas
apresentaram ausência de Coliformes Totais em todas as amostras, assim
como para E. Coli (termotolerantes), totalizando 100% das amostras, negativas
para contaminação microbiana. De modo geral, a análise da água dos
bebedouros da UFOPA, apresentou resultados satisfatórios evidenciando a
excelência da qualidade da água disponibilizada à comunidade acadêmica. É
imprescindível, ainda, que se continue fazendo um trabalho rigoroso de
manutenção nos reservatórios e bebedouros da Universidade para evitar
riscos de contaminação e se continue a oferecer água segura e de qualidade.

Palavras-chave: Qualidade da água. Contaminação. Bebedouros. Parâmetros


físico-químicos. Análise microbiológica.
ABSTRACT

Water is one of the fundamental substances to life, as it is indispensable to human


and animal metabolism. But when polluted or contaminated by chemical-biological
agents, it becomes harmful and can cause disease. Negative changes may occur in
capture, inappropriate storage, and/or distribution. Drinkers are potential sources of
contamination as they are used by many people with unknown hygiene habits. In this
context, it is evident the importance of analyzing the quality of water for human
consumption. The purpose of this study was to evaluate the drinking water quality of
the Federal University of the West of Pará (UFOPA) in terms of physicochemical and
bacteriological parameters and to verify if the water quality is in accordance with the
standards established by the Brazilian Legislation , through order no. 2914/2011 of
the Ministry of Health.The physical and chemical parameters, temperature and pH,
were obtained through direct reading in the model pH221 pHmeter and for
microbiological indicator tests were performed for Total and Thermotolerant
Coliforms through the microbiological kit COLIPAPER.The pH values found ranged
from 5.0 to 5.46. The potability standard of the Brazilian Legislation adds values
between 6 and 9.5. The pH parameter, therefore, was in disagreement with the
acceptable limits. Microbiological analyzes showed absence of total coliforms in all
samples, as well as for E. coli (thermotolerant), totaling 100% of the samples,
negative for microbial contamination. In general, the UFOPA drinking water analysis
presented satisfactory results evidencing the excellence of water quality available to
the academic community. It is also imperative that strict maintenance work continue
in the reservoirs and drinking fountains of the University to avoid the risk of
contamination and to continue to offer safe and quality water.

Key-words: Water quality, Contamination, Drinking fountains, Physico-chemical


parameters. Microbiological analysis.
LISTA DE FIGURAS

Página
Figura 1. Pontos de Coleta das amostras de água para consumo, proveniente
dos bebedouros da Universidade Federal do Oeste do Pará............................... 25

Figura 2. Bebedouros dos Campus Tapajós (1), Campus Rondon (2), Campus
Amazônia (3) e Anexo Amazônia (4).................................................................... 26

Figura 3: Procedimentos aplicados nas análises microbiológicas das águas


oriundas dos bebedouros da UFOPA. (A) Incubação das amostras; (B) Contagem
das colônias.......................................................................................................... 27
LISTA DE TABELAS

Página
Tabela 1. Padrão Microbiológico da Água para Consumo Humano..................... 22

Tabela 2. Valores obtidos nas análises de Temperatura (ºC), pH, Coliformes


(UFC/mL) e E. Coli (UFC/Ml), realizadas em amostras de águas oriundas de
bebedouros da UFOPA......................................................................................... 28
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APHA American Public Health Association


AWWA American Water Works Association
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COSANPA Companhia de Saneamento do Estado do Pará
CT coliformes totais
CTo coliformes termotolerantes
ETA Estação de Tratamento da Água
HRWS Human rights to safe drinking water and sanitation
IQA Índice de Qualidade das águas
Km³ quilômetro cúbico
m³ metro cúbico
mL mililitro
MS Ministério da Saúde
nº número
OMS Organização Mundial da Saúde
pH potencial hidrogeniônico
PROEN Pró-Reitoria de Ensino e Graduação
s/n sem número
UFC Unidade Formadora de Colônia
UFOPA Universidade Federal do Oeste do Pará
UFPA Universidade Federal do Pará
VPM valor máximo permitido
WEF Water Environment Federation
LISTA DE SÍMBOLOS

% porcentagem
III três
ºC graus Celsius
β beta
± mais ou menos
< menor
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................13
1.1 ÁGUA....................................................................................................................16
1.2 QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO........................................17
1.3 PADRÃO DE POTABILIDADE..............................................................................19
1.4 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E BACTERIOLÓGICOS.............................19
1.4.1 Temperatura.......................................................................................................19
1.4.2 Potencial Hidrogeniônico (pH)...........................................................................20
1.4.3 Coliformes..........................................................................................................21
2 OBJETIVOS.............................................................................................................23
2.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................23
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................23
3 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................24
3.1 ÁREA DE ESTUDO...............................................................................................24
3.2 AMOSTRAGEM....................................................................................................24
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................28
5 CONCLUSÃO..........................................................................................................30
REFERÊNCIAS...........................................................................................................31
13

1 INTRODUÇÃO

A água é uma das substâncias fundamentais à vida, pois é indispensável ao


metabolismo animal e vegetal. “É o constituinte inorgânico mais abundante na
matéria viva: no homem, mais de 60% do seu peso são constituídos por água”
(SPERLING, 2005, p. 17). Um adulto ingere por dia cerca de dois litros de água,
aproximadamente 3% de seu peso corpóreo. Sendo assim, há um contato elevado,
que pode justificar e explicar a facilidade com que elementos indesejáveis, como
parasitas atingem o homem e nele se desenvolvem (RIEDEL, 1992).
Não obstante, quando poluída e contaminada por agentes químico-
biológicos, torna-se prejudicial, podendo provocar doenças. Quando não tratada,
transportada e armazenada de maneira adequada, a água também apresenta riscos,
podendo tornar-se veículo disseminador de agentes patógenos. Dessa forma, de
acordo com Sperling (2005, p.17) “a água é fundamental para a manutenção da
vida, razão pela qual é importante saber como ela se distribui no nosso planeta”.
De toda água distribuída no planeta Terra (1.370.000.000 km³) apenas 1 %
desse volume é de água encontrada em rios, lagos e na atmosfera disponível para o
consumo humano (VICTORINO, 2007).

No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, publicou a


Resolução nº 20/1986, posteriormente revogada pela Resolução nº
357/2005, que classifica as águas superficiais do País em doces, salobras e
salinas, ordenando-as em função das características física, química e
biológica da água dos mananciais, tornando obrigatória a determinação de
dezenas de parâmetros para caracterizar as águas e assegurar seus usos
predominantes. A determinação destes parâmetros tem sido
sistematicamente descumprida devido à falta de recursos humanos,
materiais e financeiros em muitos órgãos federais, estaduais e municipais
que poderiam exercer esta atividade (PÁDUA; FERREIRA, 2006).

A contaminação da água durante sua passagem pela superfície da Terra


pode ocorrer pelos seres humanos e animais. Como é a substância de maior
exigência nos organismos vivos, sua frequência de ingestão é acentuada. Portanto,
a água contaminada é um potente meio de transmissão de doenças. A lista de
agentes patogênicos (microrganismos como vírus, bactérias, fungos, protozoários e
até helmintos) que podem ser veiculados pela água é grande, os quais são capazes
de causar doenças nos organismos hospedeiros (GUIMARÃES; MANIERO, 2012).
14

O ministério da saúde (MS) é o responsável pela legislação que estabelece


padrões de qualidade da água para o consumo humano e interage principalmente
com os prestadores de serviços de saneamento (OECD, 2005). No Brasil, a portaria
nº 2914/2011 do Ministério da Saúde define padrão de potabilidade, como o conjunto
de valores permitidos como parâmetro da qualidade da água para consumo humano
(BRASIL, 2011).
A vigilância da qualidade da água para o consumo humano é definida como
um conjunto de ações adotadas continuamente pela autoridade de saúde pública,
para verificar se a água consumida pela população atende a referida Portaria e para
avaliar os riscos que os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento de
água representam para a saúde humana (PÁDUA, 2006).

Para facilitar a interpretação das informações sobre qualidade da água de


formas abrangente e útil, para especialistas ou não, a partir de um estudo
feito em 1970 pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos, a
Cetesb adaptou e desenvolveu o Índice de Qualidade das Águas- IQA. Tal
índice incorpora nove parâmetros considerados relevantes para a avaliação
da qualidade das águas, tendo como determinante principal a utilização das
mesmas para abastecimentos públicos (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A qualidade da água pode ser representada através de diversos parâmetros,


que traduzem as suas principais características físicas, químicas e biológicas.
Dentre os fatores físico-químicos estão: cor, turbidez, sabor, odor, temperatura, pH,
alcalinidade, acidez, dureza, cloretos, nitrogênio, fósforo e oxigênio dissolvido. Para
o fator biológico, é comum utilizar organismos indicadores de contaminação fecal,
pertencente principalmente ao grupo de coliformes (SPERLING, 2005).
Estes padrões são estabelecidos pela portaria 2914/2011 do Ministério da
Saúde (dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da
água para consumo humano e seu padrão de potabilidade) e pela Resolução
357/2005 do CONAMA (dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento) (BRASIL, 2005, 2011).
As estações de Tratamento de Água (ETA) são responsáveis por
transformarem a água bruta captada de um corpo aquático em uma água potável
(GUIMARÃES; MANIERO, 2012). A água utilizada para abastecimento público pode
ser obtida a partir de extensões superficiais como rios, lagos e riachos. Há também,
águas subterrâneas que podem ser utilizadas através de poços como fonte
alternativa para o abastecimento privado (CASTANIA, 2009).
15

No estado do Pará, a responsável pelo abastecimento público de água, coleta


e tratamento de esgoto é a Companhia de Saneamento do Estado do Pará
(COSANPA). Dessa forma, para que se usufrua com excelência dessa água
previamente tratada e distribuída pela Companhia responsável, é imprescindível que
se faça periodicamente uma higienização dos reservatórios de água, bebedouros,
purificadores, filtros de água e torneiras para evitar contaminação e acúmulo de
sedimentos que venham a comprometer todo trabalho de potabilidade realizado nas
ETAs.
A Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), contudo, é abastecida
exclusivamente através de poços rasos e artesianos, de construção público-privada,
cuja manutenção e responsabilidade pela qualidade da distribuição dessa água à
comunidade acadêmica cabe à administração e supervisão da própria universidade.
Os bebedouros são fontes potenciais de contaminação, pois são utilizados
por muitas pessoas com hábitos de higiene desconhecidos. Nas escolas, estes
aparelhos são acessados principalmente pelos alunos, sendo que, muitas crianças
utilizam os banheiros e bebem água dos bebedouros. Algumas vezes, os hábitos
higiênicos são ignorados, tornando-se um potencial risco à saúde coletiva
(CASTANIA, 2009). Na universidade, esse quadro de risco potencial à saúde torna-
se semelhante na medida em que a frequência de utilização dos bebedouros é
bastante acentuada e a higiene dos usuários é desconhecida, abrindo margem para
possíveis contaminações caso não seja efetuado um trabalho de manutenção
eficiente nos bebedouros que garantam a qualidade da água ofertada.
Tendo em vista os aspectos mencionados, observou-se que é muito
importante conhecer a origem da água utilizada para ingestão humana, como é feita
sua distribuição pelas companhias de saneamento e averiguar se as devidas
manutenções dos bebedouros são realizadas de forma adequada dentro dos prazos
necessários para manter a boa qualidade da água. Diante disso, esta pesquisa
justifica-se pelo fato de que o sistema de abastecimento de água da Universidade
Federal do Oeste do Pará provém de poços rasos e artesianos, e apesar da alta
qualidade da água subterrânea, os poços rasos podem ser mais suscetíveis a
contaminações. A água diretamente enviada à caixa d’água é distribuída aos
bebedouros através de tubulações. Dessa forma, é importante verificar se a
qualidade dessa água está de acordo com os padrões estabelecidos pela Legislação
Brasileira, e com isso não ofereça riscos à saúde.
16

1.1 ÁGUA

A água ocupa aproximadamente 75% da superfície da Terra e é o constituinte


inorgânico mais abundante na matéria viva, integrando aproximadamente dois terços
do corpo humano e atingindo até 98% para certos animais aquáticos, legumes,
frutas e verduras. Como substância fundamental para a manutenção da vida, é
importante saber como ela se distribui no nosso planeta. Os 1,36x10 m³ de água
disponível existentes na Terra distribuem-se em 97% em água do mar, 2,2% em
geleiras e 0,8% em água doce, sendo esta dividida em água subterrânea (97%) e
água superficial (3%) (SPERLING, 2005; LIBÂNIO, 2010).
O Brasil se destaca por contribuir com 12% da água doce mundial e 53% da
produção de água doce do continente Sul Americano. No entanto, a disponibilidade
varia muito de uma região para a outra. O problema é que esse volume é
desigualmente distribuído: 70% estão na Amazônia, região com menos de 7% da
população nacional, 15% no Centro-Oeste, 6% no Sul e no Sudeste e apenas 3% no
Nordeste (SUASSUNA, 2004; BARBOSA, 2008).
O uso de águas subterrâneas está aumentando cada vez mais, devido ao
comprometimento da qualidade das águas superficiais, ao desenvolvimento de
novas tecnologias para a explotação das águas subterrâneas e ao barateamento
dos custos de abertura de poços tubulares. Entretanto, não existe um controle
efetivo da utilização desta água. Estima-se que há no Brasil pelo menos 400.000
poços (ZOBY; MATOS, 2002) e cerca de 15% da população brasileira é abastecida
exclusivamente com água subterrânea (IBGE, 2011).
Na Amazônia, é crescente a perspectiva de exploração da água subterrânea,
por apresentar vantagens práticas e econômicas quanto à sua captação, por
dispensar tratamentos químicos, exceto desinfecção, e ser de excelente qualidade,
além de abundante, justificando sua utilização (AZEVEDO, 2006).
Ao longo da história da humanidade, foram se tornando crescentemente mais
diversificadas e exigentes, em quantidade e qualidade, as necessidades de uso da
água. Do ponto de vista dos recursos hídricos existentes no planeta, tanto os
superficiais quanto os subterrâneos, verificam-se diversos usos demandados pelas
populações e pelas atividades econômicas, alguns deles resultando em perdas entre
o volume de água captado e o volume que retorna ao curso de água (usos
consuntivos) e outros em que essas perdas não se verificam (usos não-
17

consuntivos), têm contribuído para tornar a disponibilidade hídrica em certas bacias


hidrográficas incompatível com as demandas nas suas múltiplas modalidades de
uso (HELLER, 2006).
É importante identificar a qualidade da água e verificar a sua vulnerabilidade à
atividade humana, tendo em vista a necessidade da conservação dos recursos
hídricos, auxiliando no que se refere ao seu gerenciamento sem perder a
perspectiva da análise da bacia hidrográfica. Tundisi et al. (2008) ressaltam que o
conhecimento da qualidade das águas dos rios e o uso e ocupação de suas bacias
hidrográficas é necessária inclusive para traçar estratégias de planejamento e
gestão, projetando cenários futuros, como o aumento da demanda de água,
mudanças nos mosaicos de paisagem decorrente do desenvolvimento da região e
até mesmo as possíveis consequências das mudanças climáticas globais.
A interação continua e constante entre a litosfera, a biosfera e a atmosfera,
acabam definindo um equilíbrio dinâmico para o ciclo da água, o qual estabelece em
última análise as características e as vazões das águas. Dessa forma, qualquer
modificação nos componentes do clima ou da paisagem alterará a quantidade, a
qualidade e o tempo de resistência da água nos ecossistemas e, por sua vez, o fluxo
da água e suas características. Assim, há que se conservar e preservar a água
existente no planeta (BARROS; AMIN, 2008).
A qualidade necessária à água distribuída para consumo humano é a
potabilidade, ou seja, deve ser tratada, limpa e estar livre de qualquer contaminação,
seja esta de origem microbiológica, química, física ou radioativa, não devendo, em
hipótese alguma, oferecer riscos à saúde humana (BRASIL, 2004). Assim, a política
normativa nacional de uso da água, como consta na resolução do CONAMA nº 357,
procurou estabelecer parâmetros que definem limites aceitáveis de elementos
estranhos, considerando os seus diferentes usos.

1.2 QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

A água potável é definida como a água para consumo humano cujos


parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de
potabilidade e não ofereçam riscos à saúde. No Brasil, desde 25 de março de 2004,
o padrão de potabilidade é estabelecido pela Portaria nº 518 do Ministério da Saúde.
Essa portaria estabelece os procedimentos e responsabilidades relativas ao controle
18

e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de


potabilidade (GUIMARÃES et al., 2012).
Por uma questão de princípio e definição, toda a água para consumo humano
deve ser livre de agentes patogênicos e níveis tóxicos de produtos químicos. Para
questões relacionadas com o critério da qualidade/segurança da água estão
referenciadas, como documentos de suporte para os HRWS, as Diretrizes da
Organização Mundial da Saúde para a Qualidade da Água para Consumo Humano
(OMS 201 1ª) (BOS et al., 2017). É impossível eliminar todos os perigos associados
à água e aos seus riscos inerentes para a saúde. Os níveis aceitáveis de risco estão
associados à aceitabilidade social e a capacidade econômica para geri-los (BOS et
al., 2016).
A qualidade da água é avaliada, numa primeira impressão, pelas suas
propriedades organolépticas. Deverá ser clara (incolor), inodora (sem cheiro) e não
ter qualquer sabor desagradável. No entanto, uma água que apresente estas
características pode não ser adequada para o consumo humano, visto poder, por
exemplo, estar contaminada com organismos patogénicos. Para poder ser
consumida sem restrições deverá respeitar muitas outras exigências, não possíveis
de avaliar sensorialmente (PAULOS, 2008).
É importante destacar que, tanto a qualidade da água quanto a sua
quantidade e regularidade de fornecimento são fatores determinantes para o
acometimento de doenças no homem. O mecanismo de transmissão de doenças
mais comumente lembrado e diretamente relacionado à qualidade da água é o da
ingestão, por meio do qual um indivíduo sadio ingere água que contenha
componente nocivo a saúde e a presença desse componente no organismo humano
provoca o aparecimento de doença, de forma que o controle da qualidade da água e
sua vigilância são instrumentos essenciais para a garantia da proteção a saúde dos
consumidores (BRASIL, 2006).
Os hábitos de uso da água, aliados a tradição, cultura e à simples falta de
conhecimento sobre consequências, determinam em grande parte a magnitude dos
benefícios relativos à saúde que uma população pode obter de um investimento em
abastecimento de água (SETTI, 1996).
Pode-se concluir que água para consumo humano tem como requisitos de
qualidade não pôr em risco a saúde, não causar danos nos sistemas de distribuição
19

e possuir características organolépticas que não afetem negativamente a sua


aceitação por parte do consumidor (MENDES; OLIVEIRA, 2004).

1.3 PADRÃO DE POTABILIDADE

No Brasil, a Portaria Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011 é a que dispõe


sobre os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade. O inciso III do artigo 5º da Portaria do
Ministério da Saúde nº 2.914 define o termo padrão de potabilidade como “o
conjunto de valores permitidos como parâmetros da qualidade da água para
consumo humano” (BRASIL, 2011).
O controle da qualidade da água destinada ao consumo humano tem por
objetivo proteger a saúde humana dos efeitos nocivos resultantes de qualquer
contaminação da água destinada ao consumo humano. Com isso foi estabelecido
um conjunto de parâmetros (físicos, químicos e bacteriológicos), aos quais se
atribuem valores mínimos admissíveis e recomendados, por se considerar que
valores superiores a eles seriam prejudiciais à saúde (BRASIL, 1998).
É importante mencionar que a água somente é considerada potável quando
todos os parâmetros obrigatórios obedecem ao padrão de potabilidade previsto na
Portaria nº 2.914/2011 (GARCEZ, 2016).

1.4 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E BACTERIOLÓGICOS

1.4.1 Temperatura

A temperatura pode ser definida como uma medida da intensidade de calor e


apresenta origem natural, ou seja, transferência de calor por radiação, condução e
convecção (SPERLING, 2005).
A temperatura exerce influência marcante na velocidade das reações
químicas, nas atividades metabólicas dos organismos e na solubilidade de
substâncias. Os ambientes aquáticos brasileiros apresentam em geral temperaturas
na faixa de 20°C a 30°C. Entretanto, em regiões mais frias, como no Sul do país, a
temperatura da água em períodos de inverno pode baixar a valores entre 5°C e 15
°C, atingindo, em alguns casos, até o ponto de congelamento. Em relação às águas
20

para consumo humano, temperaturas elevadas aumentam as perspectivas de


rejeição ao uso. Águas subterrâneas captadas a grandes profundidades
frequentemente necessitam de unidades de resfriamento a fim de adequá-las ao
abastecimento (BRASIL, 2006).

1.4.2 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O termo pH – potencial hidrogeniônico é usado universalmente para


expressar o grau de acidez ou basicidade de uma solução, ou seja, é o modo de
expressar a concentração de íons de hidrogênio nessa solução. A escala de pH é
constituída de uma série de números variando de 0 a 14, os quais denotam graus de
acidez ou alcalinidade. Valores abaixo de 7 e próximos de zero indicam aumento de
acidez, enquanto valores de 7 a 14 indicam aumento de basicidade (CARMOUZE,
1994).
As alterações de pH podem ter origem natural (dissolução de rochas,
fotossíntese) ou antropogênica (despejos domésticos e industriais). Em águas de
abastecimento, baixos valores de pH podem contribuir para sua corrosividade e
agressividade, enquanto valores elevados aumentam a possibilidade de
incrustações (BRASIL, 2006).
A sua quantificação é importante para águas destinadas ao consumo humano
por ser um fator preponderante de reações e solubilização de várias substâncias.
Valores fora das faixas recomendadas podem alterar o sabor da água e contribuir
para corrosão dos sistemas de distribuição de água, ocorrendo com isso, uma
possível extração do ferro, cobre, chumbo, zinco e cádmio, e dificultar a despoluição
das águas. Água com pH baixo compromete o gosto, a palatabilidade e aumenta a
corrosão, enquanto que águas com pH elevado comprometem a palatabilidade,
aumentam a formação de crustrações (SPERLING, 2005).
O pH é padrão de potabilidade, devendo as águas para abastecimento
público apresentar valores entre 6,0 e 9,5, de acordo com a Portaria nº 2914 do
Ministério da Saúde (BRASIL, 2011). Este é um dos indicativos mais importantes de
monitoramento de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos. A acidez
exagerada pode ser um indicativo de contaminações, enquanto o excesso de
solubilidade de sais também pode tornar a água imprópria para consumo devido a
elevada dureza (BAIRD, 2004).
21

1.4.3 Coliformes

O grupo coliforme é dividido em coliformes totais e coliformes termotolerantes


ou fecais (MACÊDO, 2001). Os coliformes totais (CT) e termotolerantes (CTo) são
os indicadores de contaminação mais usados para monitorar a qualidade sanitária
da água. As análises microbiológicas irão apontar a presença ou não de coliformes
totais e coliformes fecais, que podem ser ou não patogênicos (BETTEGA et al.,
2006).
A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia,
Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies
pertençam ao grupo (BRASIL, 2004).
Coliformes totais são bastonetes Gram-negativos não esporogênicos,
aeróbios ou anaeróbios facultativos, capazes de fermentar a lactose com produção
de gás, em 24 a 48 horas à temperatura de 35ºC (e podem apresentar atividades da
enzima β galactosidase). O grupo inclui cerca de 20 espécies, dentre as quais
encontram-se tanto bactérias originárias do trato gastrintestinal de humanos e outros
animais homeotérmicos, como também diversos gêneros e espécies de bactérias
não entéricas (SILVA et al., 2005).
A presença de bactérias do grupo coliforme em água potável tem sido vista
como um indicador de contaminação fecal relacionado ao tratamento inadequado ou
inabilidade de manter o desinfetante residual na água distribuída (LECHAVALLIER,
WELCH, SMITH, 1996).
O outro subgrupo dos coliformes são os coliformes termotolerantes ou fecais,
ao qual tem como principal representante a Escherichia coli (E. coli), de origem
exclusivamente fecal. A E. coli é uma bactéria do grupo coliforme que fermenta a
lactose e manitol, com produção de ácido e gás a 44,5 ± 0,2ºC em 24 horas, produz
indol a partir do triptofano, oxidase negativa, não hidroliza a uréia e apresenta
atividade das enzimas ß galactosidase e ß glucoronidase, sendo considerado o mais
específico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de
organismos patogênicos (BRASIL, 2004).
A presença de coliformes termotolerantes em água potável é o melhor
indicador de que existe risco a saúde do consumidor, pois estão restritas ao trato
intestinal (DIAS, 2008).
22

A determinação da concentração dos coliformes totais e termotolerantes


assumem importância como parâmetro indicador da possibilidade da existência de
microrganismos patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças de
veiculação hídrica, tais como febre tifoide, febre paratifoide, disenteria bacilar e
cólera (ROITMAN et al., 1988).
De maneira que, a água potável deve estar em conformidade com o padrão
microbiológico conforme a Tabela 1:

Tabela 1: Padrão Microbiológico da Água para Consumo Humano.


PARÂMETRO VPM¹
Água para consumo humano

Escherichia coli ou Coliformes termotolerantes ² Ausência em 100 mL

Água na saída do Tratamento

Coliformes Totais Ausência em 100 mL

Água tratada no sistema de distribuição (reservatório e rede)

Escherichia coli ou Coliformes termotolerantes ² Ausência em 100 mL

Sistemas que analisam 40 ou mais


amostras por mês: Ausência em 100
mL em 95% das amostras

Coliformes Totais: examinadas no mês;


Sistemas que analisam menos de 40
amostras por mês:
Apenas uma amostra poderá
apresentar mensalmente resultado
positivo em 100 mL.
Fonte: Adaptado de BRASIL (2011).
Nota: 1- Valor Máximo Permitido. 2- Indicador de contaminação fecal.
23

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL


 Avaliar a qualidade da água dos bebedouros da Universidade Federal do
Oeste do Pará em Santarém-Pa através de parâmetros físico-químicos e
bacteriológicos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


 Verificar se a qualidade da água está de acordo com os padrões
estabelecidos pela Legislação Brasileira.

 Obter um diagnóstico de suas condições microbiológicas, físicas e químicas.

 Verificar a qualidade microbiológica da água a fim de detectar, por meio de


análise laboratorial, possíveis alterações nos valores máximos permitidos
(VMP) impostos pela portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde.
24

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi desenvolvido na Universidade Federal do Oeste do Pará,


localizada no município de Santarém, situado ao norte do Brasil, no oeste do estado
do Pará. Sediada em Santarém, possui campus nas cidades de Juruti, Oriximiná,
Itaituba, Monte Alegre, Óbidos e Alenquer.
A UFOPA possui três unidades na cidade de Santarém, sendo a principal o
campus Tapajós, localizado na Rua Vera Paz, s/n, bairro Salé, onde fica a reitoria da
universidade. Além do campus Tapajós, a universidade abrange o campus Rondon
(antigo campus da UFPA Santarém), localizado na Avenida Marechal Rondon, bairro
de Aparecida, e o campus Amazônia, localizado na Avenida Mendonça Furtado,
bairro de Fátima, onde funciona a Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (PROEN).
A universidade atualmente conta com cinco Institutos: Instituto de
Biodiversidade e Floresta, Instituto de Ciências da Sociedade, Instituto de Ciências
da Educação, Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas, Instituto de Engenharia
e Geociências e Instituto de Saúde Coletiva e um centro de Formação
Interdisciplinar.

3.2 AMOSTRAGEM

A coleta das amostras de água para consumo, proveniente dos bebedouros


da Universidade Federal do Oeste do Pará, foi realizada nos três campus do
município de Santarém: campus Tapajós, campus Rondon e campus Amazônia
(incluso o Anexo Amazônia) (Figura 1).
25

Figura 1: Pontos de Coleta das amostras de água para consumo, proveniente dos
bebedouros da Universidade Federal do Oeste do Pará. Fonte: COSTA; VIANA, 2018.

O período amostral abrangeu o mês de Janeiro de 2018, constituindo-se de


coleta no turno matutino, seguida de análise imediata. Para coleta, foi selecionado 1
bebedouro localizado em pontos estratégicos de cada campus, totalizando 4
amostras (Figura 2).
Primeiramente, higienizou-se as torneiras com álcool 70% e abriu-se em
seção máxima por 2 minutos, fazendo o manuseio das mesmas, com luvas
cirúrgicas descartáveis para evitar ao máximo o risco de contaminação. Utilizou-se,
em seguida, frascos plásticos descartáveis estéreis, 500 mL, devidamente
identificados, para armazenamento seguro das amostras.
26

1 2

3 4

Figura 2: Bebedouros dos Campus Tapajós (1), Campus Rondon (2), Campus
Amazônia (3) e Anexo Amazônia (4). Fonte: COSTA; VIANA, 2018.

As amostras foram acondicionadas em caixa de isopor com gelo e enviadas


imediatamente ao Laboratório de Química Ambiental, Campus Tapajós. As análises
seguiram as metodologias analíticas para determinação dos parâmetros previstos na
Portaria nº 2914/11 do Ministério da Saúde, que devem atender às normas nacionais
ou internacionais mais recentes, tais como, Standard Methods for the Examination of
Water and Wastewater de autoria das instituições American Public Health
Association (APHA), American Water Works Association (AWWA) e Water
Environment Federation (WEF).
Os indicadores analisados foram temperatura, pH, coliformes totais e
coliformes termotolerantes ou E. coli. O pH das amostras foi determinado por leitura
direta no pHmetro modelo pH221, devidamente calibrado. A água foi colocada em
um recipiente de aproximadamente 500 mL, onde foi introduzido o eletrodo para
obtenção do valor do pH das amostras.
27

Para determinação da presença/ausência de coliformes totais e E. coli foi


utilizado o kit microbiológico Colipaper, onde continham 10 cartelas com meio de
cultura em forma de gel desidratado que indicavam a presença de coliformes totais,
fecais e Salmonella. Após preparações, as cartelas foram incubadas a 36ºC, no
máximo 37°C por 15 horas. Posteriormente, foi realizada a leitura, considerando os
seguintes dados: coliformes fecais – pontos azuis; coliformes totais – pontos azuis e
vermelhos. (Figura 3).

A B

Figura 3: Procedimento aplicado nas análises microbiológicas das águas oriundas dos bebedouros da
UFOPA. (A) Incubação das amostras; (B) Contagem das colônias; Fonte: COSTA; VIANA, 2018.
28

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos neste estudo foram analisados em comparação com os


limites estabelecidos pela Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde. De modo
geral, os resultados das análises apresentaram-se de forma satisfatória quanto a
sua potabilidade, evidenciando o alto padrão de segurança da água disponibilizada à
comunidade acadêmica.
Na tabela 2, apresenta-se os resultados das análises físico-químicas e
bacteriológicas das águas referentes aos 4 pontos de coleta.

Tabela 2: Valores obtidos nas análises de Temperatura (ºC), pH, Coliformes (UFC/mL) e E. Coli
(UFC/mL), realizadas em amostras de águas oriundas de bebedouros da UFOPA.

Coliformes
Amostra Temperatura pH Totais E. Coli
ºC (UFC/mL) (UFC/mL)
Anexo Amazônia 26 5.0 Ausente Ausente

Campus Amazônia 26.3 5.34 Ausente Ausente

Campus Rondon 26 5.46 Ausente Ausente

Campus Tapajós 26.1 5.0 Ausente Ausente

Quanto ao parâmetro temperatura, observou-se que os valores das amostras


mantiveram-se na faixa dos 26ºC, sem variações significativas. Na portaria nº
2914/2011, não há especificações quanto aos limites de valores permitidos para
temperatura.
Os valores do pH encontrados nas amostras variaram de 5.0 a 5.46. Os valores
impostos pela Portaria nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde encontram-se entre 6 e
9,5. Com isso, valores abaixo de 6 são tidos como pH ácidos, e valores acima de
9,5 são alcalinos. Partindo desse pressuposto, entende-se que a água dos
bebedouros da UFOPA não atende aos limites da legislação vigente.
Na região Amazônica, Estado do Pará, a disponibilidade hídrica subterrânea é
favorecida devido à presença do aquífero Alter-do-Chão (TANCREDI, 1996).
Estudos anteriores já haviam indicado pH < 5 da água subterrânea na região oeste
do Estado do Pará (CPRM, 2012), uma constância que torna a acidez encontrada na
análise deste trabalho, característica da região. Pressupõe-se, com isso, que o fato
de a Universidade ser abastecida inteiramente por meio de poços, tenha ligação
29

com os valores baixos de pH encontrados. Porém, a discussão sobre os efeitos do


consumo de água ácida para a saúde humana ainda é insuficiente.
O Ministério da Saúde através da Portaria nº 2914/2011 estabelece como
padrão microbiológico de potabilidade de água para consumo humano, ausência de
coliformes totais, coliformes termotolerantes ou Escherichia coli em 100 mL de água
(BRASIL, 2011).
Considerado um dos mais importantes parâmetros quanto ao padrão de
potabilidade, as análises microbiológicas apresentaram ausência de Coliformes
Totais em todas as amostras, assim como para E. Coli (termotolerantes), totalizando
100% das amostras, negativas para contaminação por não apresentar pontos azuis
e nem vermelhos que são os indicativos na metodologia adotada. Esse resultado
evidencia a excelência da qualidade da água disponibilizada ao corpo acadêmico da
Universidade Federal do Oeste do Pará. Isso se deve primordialmente aos cuidados
com manutenção e supervisão dos bebedouros.
A limpeza dos mesmos é realizada trimestralmente. Eles são descongelados
e esvaziados, para posterior limpeza com água e sabão. Todos os bebedouros são
abastecidos com filtros de carvão ativado, que são trocados a cada ano. Para o
reservatório (caixa d’água) da água destinada aos bebedouros, proveniente dos
poços, a limpeza é realizada de 6 em 6 meses. É de suma importância, portanto,
que se cumpram todos esses métodos de limpeza para preservação da potabilidade
da água a ser ingerida.
Em termos de avaliação da qualidade da água, os microrganismos assumem
um papel importante dentre os seres vivos, devido a sua grande predominância em
determinados ambientes, a sua atuação nos processos de depuração dos despejos
ou a sua associação com doenças ligadas à água (SPERLING, 2005). Os maiores
riscos microbianos estão associados à ingestão de água contaminada com fezes de
seres humanos ou de animais. As fezes podem ser uma fonte de bactérias
patogênicas, vírus, protozoários e helmintos (WHO, 2018). Quando esses dejetos
atingem a água, esta torna-se um potente disseminador de doenças. Por isso,
mesmo que os resultados das análises mostrem-se satisfatórios é imprescindível
que se continue fazendo um trabalho eficiente de manutenção e se mantenha o
comprometimento da universidade com a qualidade da água oferecida.
30

5 CONCLUSÃO

O presente estudo empreendido neste trabalho buscou investigar a qualidade


da água de consumo humano disponibilizada pela Universidade Federal do Oeste do
Para. A instituição pública de Ensino Superior deve oferecer excelentes condições
de infraestrutura, limpeza e segurança principalmente em relação à água que chega
os bebedouros utilizados por centenas de pessoas por dia, e que pode ser uma
fonte disseminadora de doenças.
Considerando-se o objetivo do trabalho de averiguar a qualidade da água
quanto a parâmetros físico-químicos e bacteriológicos, constatou-se, de modo geral,
resultados satisfatórios, pois os parâmetros analisados encontraram-se em
conformidade com os valores estabelecidos pela Legislação Brasileira, exceto
quanto ao pH. Os valores do pH encontrados nas amostras estavam abaixo de 6,
com valores mínimos de 5 e máximos de 5.46, o que é característico da região um
pH mais ácido. No entanto, os valores impostos pela Portaria nº 2.914/2011 do
Ministério da Saúde variam entre 6 e 9,5. Portanto, o parâmetro pH manifestou-se
em desconformidade com os padrões vigentes.
Para a análise bacteriológica, foi constatada ausência dos grupos Coliformes
Totais e termotolerantes. Resultado muito positivo, já que a detecção do grupo E.
Coli acusa imediatamente contaminação por fezes. Um grave problema, pelo alto
potencial de disseminação de doenças por meio de água contaminada,
principalmente em locais de acesso público, como universidades.
Diante dessas circunstâncias, reafirma-se a importância da periodicidade de
avaliações de qualidade das águas para consumo humano. É preciso também
continuar fazendo um trabalho rigoroso de desinfecção da água proveniente dos
poços, higienização dos reservatórios e de manutenção e limpeza dos bebedouros
para que se mantenha um alto padrão de qualidade da água oferecida e esta não
ofereça riscos à saúde de toda a comunidade acadêmica.
31

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